"A mídia contra Paulo Guedes", por CAIO MESQUITA, da Empiricus

Publicado em 14/09/2019 18:52

Na semana passada, o ministro Paulo Guedes falou a empresários do Ceará. A apresentação fez parte do seminário “A Nova Economia do Brasil – o impacto para a região Nordeste”, promovido pelo site Poder360, do jornalista Fernando Rodrigues.

Da fala do ministro, provavelmente você só ficou sabendo dos seus comentários sobre a aparência física da esposa do presidente francês, Emmanuel Macron, e toda a aborrecidíssima polêmica que decorreu nos dias seguintes.

Ironicamente, a menção de Guedes à senhora Macron estava no contexto de crítica justamente ao apego da imprensa ao irrelevante. O ministro mencionava a atenção dada às polêmicas declarações do presidente Jair Bolsonaro, deixando de lado o que está sendo articulado para atualizar nossa economia aos padrões competitivos modernos.

Tudo mais na interessantíssima apresentação de Paulo Guedes foi olimpicamente ignorado pela imprensa, cujo único interesse parece ser fustigar fofoquinha internacional superficial e chata.

Recomendo fortemente que você separe um tempo neste fim de semana para assistir ao vídeo completo da apresentação. Não se assuste com sua duração (mais de duas horas), pois, assim como quando assistimos a um bom filme ou a uma partida de futebol empolgante, o tempo vai voar.

Além de uma já esperada aula de liberalismo econômico e história econômica brasileira recente, Guedes faz uma análise primorosa da atual crise de credibilidade envolvendo a imprensa e por que as pessoas se desconectaram dos meios tradicionais de comunicação.

E, como representante da Acta, faço aqui o meu agradecimento aos elogios do ministro ao nosso site de jornalismo político, O Antagonista, citado por Guedes ao final do vídeo (mais precisamente em 2h18m45s).

Destaco aqui um trecho da fala do ministro:

“A mídia que foi tão brilhante durante 30 anos, e ajudou a construir a democracia, se perdeu. Dormiu no volante. (...) Perderam credibilidade, perderam leitores. Na mesma hora a mídia alternativa subiu, e falou: ‘Olha, ninguém é dono do Brasil’.”

À semelhança dos meios de comunicação, os grandes bancos também tiveram uma brutal dominância sobre as finanças dos brasileiros nas últimas décadas. Se, por um lado, o setor se fortaleceu com a concentração observada desde a implementação do Plano Real, por outro, o oligopólio resultante age justamente conforme sua natureza oligopolista, apropriando-se de ganhos fenomenais.

De fato, nossa tecnologia bancária é invejável. Recentemente, fui fazer uma “wire transfer” (equivalente a uma TED) entre contas de Estados diferentes nos Estados Unidos e tive que esperar inacreditáveis cinco dias para a confirmação. Por lá, ainda se paga contas com cheques postados no correio.

Aqui tudo é rápido, simples, eficiente. Mas toda essa comodidade tem preço.

O que falar da pessoa física que recorre ao crédito no Brasil? Exceto pelo financiamento imobiliário, a dívida por aqui é o caminho mais rápido para a ruína financeira. 

Aos pouco começam a pipocar alternativas de crédito desintermediado de instituições financeiras, mas ainda é tudo muito pequeno e “nichado”. A ver.

Nos investimentos, porém, a revolução já começou.

Mesmo antes das condições macroeconômicas permitirem a redução dos juros e abrirem as portas para o “financial deepening” (falo sobre ele mais adiante), o cartel dos bancos começou a balançar.

De um lado, novas plataformas surgiram nos últimos anos, lideradas e inspiradas pela XP.

De outro, publicadoras de conteúdos de investimentos e casas de análise inspiradas na Empiricus deram acesso à pessoa física a ideias de investimento independentes de vieses e conflito de interesses.

Não há nada que possa ser feito pelo sistema que possa reverter o processo que estamos vivendo.

Assim como os libertos da caverna de Platão não podiam mais acreditar nas sombras, nunca mais o Jornal Nacional terá a mesma relevância de outrora.

Da mesma forma, estamos gradualmente substituindo a figura do gerente de banco como nossa fonte de aconselhamento de investimentos.

Todavia, se na mídia o processo está sendo rápido e dramático, a revolução na indústria de investimentos ainda está apenas começando.

Enquanto, nos Estados Unidos, apenas 10% dos investimentos das pessoas físicas estão nos bancos, aqui a proporção é exatamente a inversa, com 90% das aplicações dentro dos grandes bancos brasileiros.

Ainda que os Estados Unidos tenham uma longa tradição de pessoas físicas no mercado de capitais, foi a queda da taxa de juros do final da década de 1980 em diante que acelerou a entrada dos americanos em instrumentos de maior risco e retorno, como ações e afins. Isso é o financial deepening e é o que está se apresentando por aqui também.

Caio Mesquita, da Empiricus.

Um país quebrado, MERVAL PEREIRA (em O Globo)

O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga traçou um quadro dramático das contas públicas brasileiras na entrevista que deu ao programa Central da Globonews, na quarta passada. Segundo ele, o problema hoje é que 80% do gasto público do Brasil vêm de duas grandes contas, a do funcionalismo público e a da Previdência. “É preciso mexer nelas, sob pena de não sobrar dinheiro para nada”. Os demais gastos estão muito comprimidos, inclusive os investimentos públicos, que estão perto de 1% do PIB, quando nas últimas décadas chegou a um pico de cerca de 5% do PIB.

Arminio destacou que o volume de investimentos do setor público no Brasil nos últimos 4 anos não foi suficiente sequer para repor a depreciação. “Não à toa estamos assistindo a episódios frequentes de quedas de viadutos, pontes etc”.

Segundo Arminio Fraga, comparações internacionais mostram que os gastos com funcionalismo e previdência no Brasil estão muito acima dos observados em países de renda média. Ele vê como necessária a redução desses gastos de 80% para 60%, o que proporcionaria uma economia de 7 pontos do PIB, a ser buscada ao longo de dez anos.

Tanto como proporção do PIB quanto como do gasto total, o Brasil gasta bem mais com funcionalismo do que a maioria dos países do Ocidente, destaca Arminio Fraga. Parte desse excedente vem do fato de que temos 20% de participação de empregos públicos no total de empregos do país, um total relativamente alto se comparado a outros países.

O economista Arminio Fraga mostra também, em trabalho recente, que há um elevado prêmio salarial, de cerca de 60%, que recebem os funcionários do governo federal, em comparação a assalariados do setor privado com qualificações semelhantes, como estima o economista Naércio Menezes.

Os gastos com Previdência mostram resultados semelhantes aos do funcionalismo: o Brasil gasta relativamente muito, o que surpreende, sobretudo, dada à demografia relativamente jovem do país.

Essa mesma constatação levou o deputado federal do Rio (DEM) Pedro Paulo a apresentar uma emenda constitucional que limita o crescimento de despesas obrigatórias, quando gatilhos serão acionados a cada momento em que os gastos passarem de limites predeterminados. Até chegar a uma série de medidas mais drásticas ao atingir o estágio de descontrole grave, como a redução da jornada de trabalho temporária, até que volte o equilíbrio.

No diagnóstico do deputado Pedro Paulo, que trabalha no desdobramento da emenda constitucional com técnicos do ministério da Economia e da Câmara, o Estado brasileiro quebrou há algum tempo. "Já quebramos todas as metas fiscais, e estamos a caminho de quebrar as que restam, com o teto de gastos", alerta.

Para ele, é preciso conter crescimento exponencial dos gastos públicos, em especial os obrigatórios, que consomem 96% do orçamento, não sobrando nada para investimentos.

Emitir títulos e aumentar a dívida para pagar despesas correntes, o que o parlamento permitiu esse ano dando ao governo autorização para aumentar a dívida pública em R$ 248 bilhões (7% do PIB) sem uma medida sequer para resolver o problema, é cavar mais o buraco.

O problema central do desequilíbrio fiscal brasileiro, para Pedro Paulo, é o tamanho e o descontrole da despesa obrigatória, e a enorme rigidez orçamentária. A reforma da Previdência, ainda que seja a maior das despesas, é necessária, mas não suficiente para resolver o desequilíbrio fiscal.

Seus efeitos são de longo prazo, e faltam muitas outras despesas obrigatórias, vinculações e indexações. Se adotados, esses mecanismos de controle do gasto público podem garantir, em dois anos, a manutenção do teto dos gastos até 2026, quando a lei completa 10 anos, e proporcionar economia que poderia ser aplicada, em parte, em investimentos públicos. “Não seria apenas um programa de contenção de despesas, mas de estímulo ao investimento”, explica do deputado Pedro Paulo. (Merval Pereira, em O Globo)

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Fonte:
Empricus/O Globo

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