Dólar fecha abaixo de R$ 5,00 e tem maior queda semanal em 12 anos

Publicado em 05/06/2020 17:16 e atualizado em 08/06/2020 08:01

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O dólar à vista fechou a sexta-feira, 5, em R$ 4,9909, a primeira vez que a moeda americana termina abaixo de R$ 5,00 desde 26 de março. Na semana, acumulou queda de 6,52%, a maior baixa semanal em quase 12 anos, desde os cinco dias encerrados em 31 de outubro de 2008 (-7,35%). Nesta sexta-feira, o peso determinante para o enfraquecimento do dólar no Brasil e perante países emergentes em geral foi o cenário externo, após a surpresa com o relatório de emprego dos Estados Unidos, mostrando criação de 2,5 milhões de vagas em maio enquanto Wall Street previa fechamento de mais de 8 milhões de postos de trabalho. No mercado futuro, o dólar para julho recuava 2,99%, a R$ 4,9745 às 17h45.

Na mínima do dia, o dólar caiu a R$ 4,93 no início da tarde, movimento provocado por rápida desmontagens de posições contra o real e também relatos de entrada de capital externo.

A surpresa com o relatório de emprego dos EUA estimulou busca por ativos de risco mundialmente e as bolsas subiram na Europa e em Nova York. Aqui, o Ibovespa chegou a superar na máxima os 97 mil pontos. Logo após a divulgação do documento, o presidente Donald Trump afirmou que a economia americana vai se recuperar "como um foguete", contribuindo para elevar ainda mais o otimismo dos investidores com a retomada das atividades pós-pandemia.

"O relatório de emprego de maio foi uma surpresa positiva dramática", afirma o diretor do Credit Suisse, Jeremy Schwartz, alertando que o número, apesar da euforia causada nos mercados, pode não representar uma tendência. "O relatório não muda drasticamente nossas perspectivas para o mercado de trabalho americano", escreveu em relatório comentando os números.

O presidente da gestora AZ Quest, Walter Maciel, avalia que o exterior positivo combinado com uma trégua política ajudou a melhorar os preços dos ativos brasileiros. No cenário externo, a perspectiva é de que a China vai voltar a crescer e seguir comprando minério de ferro e alimentos do Brasil, o mesmo paras as economias dos EUA e na Europa, todos parceiros comerciais importantes do Brasil, disse ele. Ao mesmo tempo, com a piora da atividade doméstica, as importações brasileiras devem cair, mas com a manutenção das vendas externas, o saldo comercial se amplia. "Vai começar a sobrar dólar no sistema. O saldo comercial crescente faz com que o dólar tenda a cair", disse ele hoje em live da Genial Investimentos.

No cenário doméstico, o presidente da AZ Quest observa que a tensão política diminuiu após o presidente Jair Bolsonaro sentar com os presidentes da Câmara e do Senado e com os governadores e ainda vetar o aumento de salário de servidores. Apesar da melhora do real, Maciel alerta que se o ambiente voltar a se deteriorar, por exemplo, com piora novamente do ambiente político ou medidas populistas de aumento de gastos públicos, o dólar volta a subir.

 

Real tem melhor semana em mais de 11 anos com exterior ditando ajuste de posições (Reuters)

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Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O mercado de câmbio voltou a ser dominado por uma onda de venda de dólares nesta sexta-feira, que coroou a melhor semana para o real em mais de 11 anos, em meio à disparada da demanda global por risco diante de um crescente otimismo econômico no mundo.

A surpreendente geração de vagas de emprego nos EUA em maio serviu de catalisador para investidores que desde meados de maio têm desfeito posições contrárias ao real, depois de a moeda brasileira ter batido sucessivas mínimas históricas sob pressão adicional de incertezas políticas domésticas.

O dólar interbancário fechou esta sexta em baixa de 2,80%, a 4,9877 reais na venda, menor nível desde o último dia 13 de março (4,8128 reais).

Na semana, o dólar recuou 6,60%, mais intensa depreciação desde outubro de 2008. Esta marcou a terceira semana consecutiva de perdas para a divisa norte-americana no Brasil. No período, a cotação cedeu 14,58%%, maior desvalorização para esse intervalo desde pelo menos o fim de março de 2002.

Na B3, o dólar futuro tinha queda de 2,99%, a 4,9720 reais, às 17h32.

Dados da operadora da Bolsa mostram que investidores estrangeiros venderam dólares nos mercados futuros desde 13 de maio, quando a moeda cravou a máxima recorde nominal.

Os estrangeiros venderam, em termos líquidos, 2,287 bilhões de dólares em contratos de dólar futuro, cupom cambial e swap cambial. Já os fundos locais desmontaram bem menos, 943 milhões de dólares, no mesmo período.

Ambos os grupos ainda mantêm posições líquidas compradas em dólar, mas, dada a pulverização de instrumentos e mercados utilizados para se montar apostas no câmbio, analistas chamaram atenção para as variações de posições, ambas no sentido de venda de moeda dos EUA.

Roberto Motta, chefe da mesa de futuros da Genial Investimentos, disse que boa parte dos fundos multimercados perderam o rali do real nas últimas semanas --pois mantinham o kit "compra de dólar, compra de bolsa"-- e que provavelmente se viram forçados a desfazer posições de hedge (comprados em dólar) a partir do começo desta semana, depois do entendimento de atuação mais firme do Banco Central na segunda-feira.

Ele cita operações de venda de dólar de quem estava "short gama" em opções de moeda na casa de 5 reais, 5,10 reais. Estar "short gama" exige que o preço do ativo-objetivo da opção --no caso, o dólar-- se mantenha estável para evitar que se tenha posição direcional.

Os market makers precisam manter posição neutra nas opções e, conforme o dólar à vista engatou quedas, tiveram de vender divisa no mercado para evitar posições direcionais. "Isso retroalimentou a queda do dólar", disse Motta.

Profissionais de mercado citam de forma unânime a melhora do ambiente externo como fator de destacada relevância para a correção na taxa de câmbio. Mas apontam que uma aparente desescalada nas tensões políticas internas --além da já citada percepção de maior presença do Banco Central no mercado cambial-- também têm tido papel preponderante na recente apreciação da moeda brasileira.

"Não tivemos grandes escândalos políticos nas últimas semanas", disse William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities, acrescentando que o "real é uma moeda que tende a oscilar junto com ativos de risco como ações".

"A julgar pelo desempenho de outras moedas emergentes, em linha com o otimismo do mercado e a menor aversão a risco, pode-se dizer que existe sim algum espaço para continuidade do movimento. Ressalto que, para isso, é fundamental que o cenário político interno não nos traga novas surpresas indesejadas", acrescentou Castro Alves.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, segue com previsão de dólar a 4,70 reais ao fim do ano. "O dólar pode até ter caído quase 1 real das máximas, mas subiu quase 2 reais desde o começo do ano. Foi um processo de depreciação muito forte para o real", disse.

Em junho, o real aprecia 7,07%, depois de ganhar terreno também em maio, quando quebrou uma série de quatro meses de desvalorização. A recuperação da moeda brasileira ocorreu num momento em que o fluxo cambial passou a ficar positivo na margem, o que ajudou a reduzir a pressão sobre o câmbio.

Motta, da Genial Investimentos, lembrou que recentemente o fluxo para emergentes voltou a ficar positivo e que, continuando esse movimento, o real poderá seguir em valorização e mudar o debate a respeito das atuações do Banco Central.

"O mantra do Guedes de câmbio depreciado e juro baixo não mudou", disse, em referência a repetidas falas do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre um câmbio de equilíbrio mais fraco. "Se o BC perceber muito fluxo a caminho e o dólar continuar caindo, podemos ver uma redução das rolagens de swap cambial. Acho que isso poderia acontecer (com o dólar) perto de 4,80 reais", afirmou Motta.

O BC tem disponibilizado lotes diários para rolagem integral de contratos de swap cambial tradicional --derivativo cuja venda equivale a uma injeção de dólar no mercado futuro. Nesta sexta, a autoridade monetária fez colocação integral de todos os 12 mil contratos de swap ofertados para rolagem.

No ano, o real ainda perde 19,54%. Estudo da FGV mostrou que os fundamentos para a taxa de câmbio melhoraram recentemente, depois de a divisa ter fechado abril com nível extremo de desvalorização, comparável aos piores números de 2015 e entre os mais intensos desde a década de 1980.

"A saída de capital aparentemente acalmou, o ajuste no estoque no balanço de pagamentos parece acalmar. Num prazo mais longo, se você não tiver inflação --algo ligado à questão fiscal--, não teria por que o câmbio nominal continuar depreciando", disse Emerson Marçal, autor do estudo e coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EESP).

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Fonte:
Reuters

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