Diretoria do BC foi unânime em defender política monetária mais contracionista e sem indicação futura, mostra ata

Publicado em 14/05/2024 08:19 e atualizado em 14/05/2024 09:26

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Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) -Todos os diretores do Banco Central defenderam uma política monetária mais contracionista, cautelosa e sem indicação futura sobre os juros, mostrou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da autarquia, apesar da divisão no colegiado sobre a intensidade do corte na Selic este mês.

No documento divulgado nesta terça-feira, o BC ainda afirmou que a tragédia provocada pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul, além dos seus impactos humanitários, "também terá desdobramentos econômicos e o Comitê seguirá acompanhando".

Na última quarta-feira, o Copom anunciou uma redução no ritmo de afrouxamento monetário ao fazer um corte de 0,25 ponto percentual na Selic, para 10,50% ao ano, após seis quedas consecutivas de 0,50 ponto na taxa. Também foi abandonada a indicação para passos futuros da política monetária.

A decisão foi tomada com divergência dos quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defenderam corte de 0,50 ponto, mas a ata destacou que eles compartilharam da percepção de aumento da incerteza e mostraram "firme compromisso" com o atingimento da meta e a reancoragem das expectativas.

Esse grupo minoritário, segundo a ata, propôs debate sobre o custo de não seguir a indicação dada na reunião anterior, questionando se o cenário mudou a ponto de valer a mudança do 'guidance', "o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do Comitê".

"Para tais membros, julgou-se apropriado, tal como em reuniões anteriores, seguir o 'guidance', mas reafirmando o firme compromisso com a meta e com a requerida taxa de juros terminal para que o objetivo precípuo do Comitê de convergência da inflação para a meta seja alcançado", disse.

Os diretores indicados por Lula -- Ailton de Aquino, Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira -- argumentaram que as projeções de inflação eram mais afetadas pela determinação da taxa de juros terminal percebida pelo mercado e que a redução de 0,50 ponto percentual ainda manteria a política monetária suficientemente contracionista.

Esse grupo, segundo o documento, defendeu flexibilidade das decisões nas reuniões a partir de junho, o que permitiria calibrar a trajetória dos juros da forma apropriada.

A ata afirmou que o grupo majoritário, por sua vez, considerou que o cenário esperado não se confirmou em função da desancoragem adicional das expectativas, da elevação das projeções de inflação, do cenário internacional mais adverso e da atividade econômica mais dinâmica do que esperado.

"Para tais membros, o 'forward guidance' indicado na reunião anterior sempre foi condicional e houve alteração no cenário em relação ao que se esperava", disse o documento.

Esses membros, segundo a ata, ressaltaram que muito mais importante do que o eventual custo reputacional de não seguir o 'guidance', mesmo que condicional, é o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas.

O Copom reiterou que, para todos os membros, a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo “firme compromisso” de convergência da inflação à meta.

"A ata do Copom de hoje veio em busca de convergência, não só da inflação, mas dos argumentos dos que votaram por cortes de 25 e 50 pontos-base", avaliou Marco Antonio Caruso, economista-chefe do PicPay.

DIVERGÊNCIA NO BALANÇO DE RISCOS

Apesar de o BC deixar seu balanço de riscos para a inflação inalterado, com fatores simétricos de pressão para cima e para baixo, a ata apontou que parte da diretoria observou “mérito” no debate de um balanço assimétrico para cima -- o que poderia indicar maior possibilidade de alta da inflação.

“Tais membros avaliam que, para além da incerteza persistente e elevada das conjunturas doméstica e internacional, os fatores altistas exibem, nesse momento, peso superior aos baixistas, julgando, portanto, que o balanço de riscos está assimétrico”, afirmou.

Para esses diretores, a resiliência da atividade e a pujança do mercado de trabalho poderia induzir um processo de desinflação ainda mais lento.

Em relação ao quadro fiscal do governo, que recentemente afrouxou suas metas para as contas públicas nos próximos anos, o BC reafirmou que uma política fiscal crível contribui para a ancoragem das expectativas e para a redução dos prêmios de risco, impactando a política monetária.

Para o BC, ainda que as projeções de resultado primário e de trajetória da dívida não tenham se alterado significativamente, houve no período um aumento do prêmio de risco e uma percepção de piora da situação fiscal pelo mercado.

Na análise do comportamento dos preços no país, o BC afirmou que os dados recentes se mostraram benignos, mas fez ponderações. Citou que alguns diretores mostraram preocupação com a inflação de alimentos no curto prazo, enquanto outros seguiram enfatizando o papel da inflação de serviços.

A autarquia ainda ressaltou que o cenário para a inflação se tornou mais desafiador, com aumento das projeções de curto e médio prazos, mesmo condicionadas em uma taxa de juros mais elevada.

Na reunião, o BC apontou como possíveis motivos da desancoragem a piora do cenário externo, os recentes anúncios de política fiscal e uma percepção de agentes econômicos acerca do compromisso da autoridade monetária com o atingimento da meta ao longo dos anos.

"O Comitê unanimemente avalia que se deve perseguir a reancoragem das expectativas de inflação independentemente de quais sejam as fontes por trás da desancoragem ora observada", afirmou.

(Edição de Camila Moreira e Pedro Fonseca)

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Fonte:
Reuters

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