A Europa continua em perigo

Publicado em 15/05/2010 10:56

Por mais um ano - na melhor hipótese - a economia mundial terá de avançar com seu segundo maior motor quase parado. A produção europeia não crescerá mais que 1% em 2010, depois de uma contração de 4,1% no ano passado, segundo as novas projeções do FMI. Os mesmos números valem para a zona do euro, mas a projeção de crescimento parece otimista quando se examinam os dados preliminares do primeiro trimestre, divulgados pela agência Eurostat. Além disso, permanece a insegurança, nos mercados, quanto à eficácia dos pacotes de ajuda à Grécia e a outras economias em situação de risco. Na sexta-feira, nova onda de pessimismo dominou as bolsas, produzindo um cenário parecido com o de uma semana antes.

Mesmo sem esse novo susto o quadro já seria muito preocupante. Entre janeiro e março o produto bruto dos 16 países da zona do euro foi apenas 0,2% maior que o dos três meses finais de 2009 e 0,5% superior ao de 2008. O melhor desempenho, 1%, foi o de Portugal, mas o país terá de enfrentar um duríssimo ajuste das contas públicas. A maior economia europeia, a alemã, produziu apenas 0,2% mais que no trimestre anterior, de acordo com o governo da Alemanha.

O desempenho geral só não foi pior porque os governos gastaram muito em programas de estímulo e também no socorro a bancos. As contas públicas de muitos países estão em más condições e com dívidas crescentes.

Apesar disso, "tentar estabilizar a dívida pública no curto prazo não é exequível nem desejável, diante do risco de uma recaída na recessão e do tamanho do aperto fiscal necessário", segundo análise do FMI. Mas isso não vale para todos os países: para aqueles "com baixa credibilidade fiscal, uma consolidação mais pronta é indispensável".

O caso da Grécia é apenas o mais notório. Os governos da zona do euro e o FMI montaram um programa de 110 bilhões para salvar o país da insolvência. Um calote grego, hipótese não descartada por vários analistas, poderia desestabilizar o sistema financeiro e alguns dos governos mais endividados. O governo da Grécia já acertou com o FMI um duro programa de ajustes e de reformas. Sua economia deverá encolher 4% neste ano, 2,6% no próximo e em 2012 poderá crescer 1,1%, segundo as novas projeções. O desemprego, de 9,4% em 2009, subirá para 11,8% neste ano, 14,6% em 2011 e 14,8% em 2012. Será o custo da redução do déficit fiscal de 13,6% do PIB em 2009 para 6,5% em 2012.

Mas o governo tentará aplicar o programa em condições políticas muito desfavoráveis. As maiores centrais sindicais convocaram greve geral para o dia 20, contra o corte de gastos, a reforma da Previdência e outros ajustes. Se o governo for incapaz de aplicar pelo menos parte substancial do programa, provavelmente será forçado à moratória.

O calote poderá ser desastroso para outros países. Mas alguns dos governos mais endividados já anunciaram políticas de correção. O espanhol prometeu cortar 5% dos salários do setor público, eliminar o "cheque bebê" de 2.500 concedido às famílias pelo nascimento de cada criança, congelar os benefícios previdenciários e cortar 6 bilhões dos investimentos. O objetivo é reduzir o déficit público de 11,2% em 2009 para 9,3% em 2010 e 6,5% do PIB em 2011. O governo português, também atolado em déficit (9,4% do PIB em 2009 e previsão de 8,8% para 2010), já se comprometeu a arrumar as contas.

Fora da zona do euro, um dos casos mais graves é o do Reino Unido, com déficit fiscal de 11,4% projetado para este ano. A situação desastrosa das contas públicas foi um dos temas centrais da recente campanha eleitoral terminada com a vitória dos conservadores.

Os governos europeus podem tentar, a curto prazo, atenuar os efeitos da crise fiscal. De toda forma 2010 será mais um ano ruim. Mas é possível criar mecanismos contra crises futuras. A Comissão Europeia propôs nessa quarta-feira um esquema de coordenação das políticas orçamentárias. Isso implicará uma intervenção muito maior nos assuntos de cada país. Em contrapartida, haveria também um sistema de apoio financeiro a países com dificuldades. Poderá haver resistência, mas a proposta faz sentido para uma organização como a União Europeia. 

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Fonte:
O Estado de S.Paulo

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