Os chineses mais ricos escondem 1 trilhão de dólares
Essa "economia cinzenta" de que fala o relatório equivale a quase 30% do PIB de 2009. A maior parte dessa quantidade fora dos livros-caixa é dinheiro "ilegal ou quase ilegal". O estudo comparou estatísticas oficiais com 4 mil entrevistas em 64 cidades chinesas. Para averiguar os ingressos de uma família, os entrevistadores perguntaram a seus amigos, colegas e parentes, garantindo o anonimato. Depois compararam os dados com os que a família havia declarado ao Birô Nacional de Estatística. "A boa notícia é que, segundo o resultado, o consumidor na China tem mais poder aquisitivo", explica Ben McLannahan, colunista do Financial Times Lex. "A ruim, que segundo os dados aumentou a disparidade entre ricos e pobres." Quase dois terços do dinheiro não declarado fica com 10% da população. E isso aumenta ainda mais a diferença entre ricos e pobres: segundo o estudo, os que ocultam alguma parte do que ganham recebem 65 vezes mais que os 10% dos cidadãos mais pobres na China. As cifras oficiais estimavam a diferença em 23 vezes.
De onde sai esse dinheiro cinzento? Principalmente de especulações em bolsa, compra e venda de propriedades imobiliárias, bônus de monopólios estatais ou de presentes caros de casamento. "É um dinheiro normalmente relacionado com corrupção, abuso de poder, investimento público, desenvolvimento imobiliário e outros interesses monopolísticos", declarou Wang Xiaolu, economista da Sociedade Chinesa de Reforma Econômica, principal autor do estudo, ao diário Beijing Wan Bao.
Muitos especialistas se referem à corrupção como um mal endêmico na China. A abundância de "dinheiro do avô", como se chama no país às entradas obtidas por vinculação direta ou indireta com o Partido Comunista, não é segredo. Desde 2006, os altos cargos públicos devem declarar seu patrimônio e de seus cônjuges e filhos. Pequim leva a cabo campanhas periódicas contra os funcionários corruptos, ainda que a cada poucos meses um novo escândalo relacionado com malversação de fundos, tráfico de influência ou nepotismo saia à luz. No Índice de Percepção da Corrupção Internacional da ONG Transparência Internacional, a China figurava no ano passado no posto 89, entre 170 países.