O Brasil do Ibope e o Brasil das urnas, um dia depois

Publicado em 04/10/2010 10:28
O BRASIL DO IBOPE E O BRASIL DAS URNAS, UM DIA DEPOIS

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O leitor Feliciano Maduro decidiu juntar dois mapas. As áreas vermelhas indicam vitória de Dilma; as azuis, de Serra; o que está em cinza, indefinição.

Pois bem: à esquerda, vocês têm o Brasil como o Ibope disse que ele era no dia 2. À direita, o Brasil que saiu das urnas um dia depois.

Não fosse a estúpida loquacidade dos responsáveis pelas pesquisas no Brasil, que passaram a falar mais do que diziam seus números já perturbados, há esse constrangedor contraste.

Ainda falaremos muito sobre pesquisas nos próximos dias e os analistas que se tornaram contínuos ou do erro ou da má fé. Os “especialistas em pesquisa” do Estadão, Daniel Bramatti e José Roberto de Tolerado, deram o seguinte título para a reportagem sobre os mapas de votação: “Marina tira eleitores de Dilma, que perde em mais estados do que se previa”.

O que faz aí este “se” como índice de indeterminação do sujeito, cara pálida? Quem previa? Preparem-se para a reação corporativista dos institutos. Reivindicarão o direito de continuar declarando que estão certos, mesmo errados. O resultado de seus levantamentos nos estados também é uma tragédia. Daqui a pouco um deles sai da toca para acusar os críticos de “obscurantistas”. Os honestos tratem de rever sua ciência, coisa que os desonestos não farão, é claro! Em qualquer dos casos, os loquazes diretores de instituto devem falar menos e acertar mais.

Tentaram vencer a eleição no berro, com a ajuda de vigaristas disfarçados de cientistas sociais

A eleição de 2010 tem um grande derrotado, vença Serra ou Dilma: as pesquisas de opinião. E nem me refiro especialmente ao resultado, embora todos os institutos tenham errado: uns mais, outros menos. Refiro-me à derrota desse importante instrumento de avaliação da opinião pública. E isso só aconteceu porque o ambiente foi tomado por vigaristas e negociantes — que não vendem um serviço, mas um resultado. As pessoas sérias envolvidas com essa atividade deveriam evitar a defesa corporativa da “categoria”. Os que erram de boa-fé devem procurar afinar seus instrumentos. Os malandros continuarão a fazer malandragens; são pagos para isso. Por isso mesmo, os que procuram acertar — em vez de se acertar — devem evitar as más companhias.

Comecemos pelo óbvio: erraram, sim! Todos! Sem exceção! O Datafolha, mais perto da realidade, dava a Dilma 50% dos votos válidos no dia do pleito. Ela obteve 47,6% — fora da margem de erro. O Sensus via a candidata com 54,7% dos válidos. Para o Vox Populi, a petista estava 12 pontos à frente da soma dos adversários. No dia 29 de outubro, o Ibope atribuía a Dilma 55% dos votos válidos — 7,4 pontos a mais do que ela conseguiu. Os erros se repetiram em boa parte dos estados. Desse bola para os levantamentos, aquele que será, em números absolutos, o senador mais votado da história do Brasil —Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) — deveria ter entregado os pontos.

Vou insistir neste aspectos: embora o resultado não seja irrelevante, inaceitável mesmo foi  o comportamento de alguns “responsáveis” (?) pelos institutos, que resolveram posar de analistas políticos e videntes. Não se contentavam em passar adiante números que, como vimos, se mostraram errados: também faziam perorações a respeito e expeliam sentenças definitivas.

O mais animado deles, sem dúvida, é Marcos Coimbra, o manda-chuva do Vox Populi, instituto que chegou a agonizar e que renasceu com força no petismo. Ele trabalha para e com o PT, embora suas pesquisas e ele próprio sejam vistos em certas áreas, só em certas áreas, como isentos. Coimbra é colunista de uma revista petista e escreve também no Correio Braziliense — como “cientista social”, é claro…

No quarta passada, ele concedeu uma entrevista a um blog. Divirtam-se:
Pergunta - Marina Silva está crescendo sobre votos de Dilma Rousseff?
Coimbra -
Não dá para dizer. Dilma cresceu tanto após o início do horário gratuito da propaganda eleitoral que roubou votos dos outros dois. Agora, esses votos estão, ao que parece, voltando para eles.

Quantos votos, de fato, Dilma precisa perder para que haja segundo turno?
Nos dados de nosso tracking (corroborados por vários outros que temos de pesquisas desenvolvidas em paralelo), a vantagem dela para a soma dos outros estava em 12 pontos percentuais ontem. Se 6 pontos passassem dela para os outros, a eleição empataria e o prognóstico de vitória no primeiro turno seria impossível.  Como cada ponto equivale a mais ou menos 1,35 milhão de eleitores, isso seria igual a 8 milhões de eleitores (sem raciocinar com abstenções).

Marina Silva pode ultrapassar José Serra?
É muito pouco provável, no conjunto do país. Possível em alguns lugares, como a região Norte e o DF. Talvez se consolide no Rio, onde ela já está na frente.

Qual o quadro que o senhor acha mais provável?
Vitória de Dilma no primeiro turno.

Voltei
Está muito claro, não? Em quatro dias, seria preciso uma migração de oito milhões de eleitores. Concordo com Coimbra: isso não aconteceu! É que seus números estavam, para ser simpático, errados. O curioso é que sua entrevista, claramente passada por e-mail — nunca vi alguém falar entre parênteses — foi “concedida” a dezenas de blogs de esquerda, inclusive àqueles com financiamento estatal.

Um dos blogueiros da turma, o mais circense deles — é mentira que estejam pensando em usá-lo naquele número do canhão —,escreveu a propósito dessa entrevista:
“O responsável pela Vox Populi, Marcos Coimbra, deu corajosa entrevista (…). Coimbra diz o que o tracking da Vox diz há 28 dias: não mudou nada e a Dilma vence no primeiro turno. Ou seja, Coimbra desmoralizou a última ‘pesquisa’ do Datafalha. Faltam 5 dias para a eleição. Coimbra joga a credibilidade de seu passado profissional e a integridade de sua empresa nessa afirmação: Dilma venceria no primeiro turno.”

Como se nota, segundo tal raciocínio, a integridade se desintegrou.

O Sensus faz pesquisa para a CNT (Confederação Nacional dos Transportes), presidida pelo dublê de empresário e político Clésio Andrade. É aquele instituto que me encanta particularmente por sua precisão decimal. No dia 29, Dilma teria 54,7% dos votos; Serra, 29,5%, e Marina, 13,3%. A previsão não ficou para Ricardo Guedes, diretor técnico do instituto, mas para o “especialista” Clésio: “Num período de quatro dias, é muito difícil reverter essa vantagem”.

Anteontem, o Ibope divulgou uma pesquisa: 51% dos válidos para Dilma, número reiterado na boca de urna realizada ontem. Ok, errou, paciência, certo? Mais ou menos. Carlos Augusto Montenegro, depois de fazer uma previsão temerária há alguns meses assegurando a vitória de Serra, passou a asseverar a vitória de Dilma no primeiro turno com a mesma convicção. E até chegou a sugerir que a oposição estava fazendo baixa exploração dos escândalos e não respeitava a democracia. São comportamentos inaceitáveis.

Pesquisas interferem no processo político
Pesquisas de opinião não são irrelevantes. Interferem no processo político: facilitam ou dificultam doações; facilitam ou dificultam a formação de palanques regionais; geram ondas de notícia positiva ou negativa; ajudam a plasmar a expectativa dos eleitores sobre o possível vitorioso etc. Tornam-se, pois, parte do jogo político.

O segundo turno está aí. Não pensem que os malandros desistiram de malandragens só porque foram flagrados. Ser flagrado é parte do seu ofício. está no preço. Sabem que os números que “apuram” acabarão divulgados de um modo ou de outro. Então que as pessoas eventualmente sérias envolvidas com essa atividade saibam fazer a diferença. Um bom caminho é não se sentir patrulhado por essa vizinhança incômoda, procurando ajustar os próprios números à metafísica influente da canalha.

A disputa dos estados: PSDB e DEM podem governar 53% dos brasileiros

Ainda não sei dizer como ficou a composição da Câmara Federal. A do Senado não é lá muito animadora para a oposição — depois escrevo a respeito. Mas atenção: qualquer um dos eleitos, Serra ou Dilma, pode fazer uma maioria tranqüila por ali. Quero chamar a atenção para o quadro dos governos dos estados. Tende-se a dar menos importância aos os governadores porque nenhum deles se aventura a confrontar o chefe do Executivo federal, dada a força que ele tem no Brasil. Mas isso não os impede de fazer política desde que saibam o que pretendem.

O PSDB governa hoje seis estados: São Paulo, Minas, Roraima, Alagoas, Rio Grande do Sul e Santa Catarina — nesse caso, Leonel Pavan, que era vice, assumiu com a renúncia de Luiz Henrique (PMDB), que decidiu concorrer ao Senado. Pois bem: junto com o PMDB, o PSDB é o partido que, neste domingo, elegeu mais governos no primeiro turno: Paraná, São Paulo, Minas e Tocantins. Disputa o segundo turno em cinco outros: Alagoas, Goiás, Pará, Roraima e Piauí, com grande chance de vencer nos quatro primeiros. Com oito ou nove estados, pode ser o partido com o maior número de governos.

O PMDB também elegeu quatro, mas perde feio no PIB: Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rio de Janeiro. Disputa o segundo turno em três outros: Goiás, Paraíba e Rondônia; pode chegar, no máximo, a sete. O PT, que hoje é governo em cinco estados ê Bahia, Sergipe, Acre, Piauí e Pará — foi reeleito nos dois primeiros, deve fazer o governador no terceiro, apóia o PSB no quarto e tem tudo para perder o Pará para o PSDB. Disputa o segundo turno no Distrito Federal e venceu no Rio Grande do Sul. A situação do Acre segue indefinida. Tem cinco, elegeu três, pode chegar, no máximo, a seis.

O PSB é o partido pequeno que mais cresce; já é uma força média: fez (ou reelegeu) três governadores no primeiro turno — Pernambuco, Ceará e Espírito Santo — e disputa o segundo turno em outros três: Amapá, Paraíba e Piauí. O DEM elegeu em primeiro turno os governos de Santa Catarina e do Rio Grande do Norte.

Atenção!
Os quatro estados em que o PSDB já elegeu governadores reúnem mais de 73 milhões de pessoas. Ainda que não vencesse mais nenhuma disputa, já não seria alcançado por nenhum outro partido nesse quesito. Caso vença os outros cinco embates, esse número ultrapassa 93 milhões: METADE DO BRASIL. Se somarmos os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Norte, onde o DEM venceu, chega-se a quase 103 milhões de brasileiros — 53% dos brasileiros e mais da metade do PIB.

Se o PSDB decidir se organizar para vencer o segundo turno da eleição presidencial, é evidente que a tarefa está longe de ser impossível, com Lula e tudo. Ainda que isso não  aconteça, é evidente que a base material para resistir ao lulo-petismo está dada. A questão é saber com quais valores e com quais propósitos. Para os que se opõem ao lulo-petismo, o quadro está longe de ser desanimador.

Pé quente - Mercadante dá a segunda vitória aos tucanos no 1º turno em SP

Estou fazendo textos curtos porque paramos a cada pouco para fazer intervenções no canal de vídeo do site da VEJA. Adiante! E o PT não conseguiu tomar São Paulo de novo! A petralhada vem com história: “Quase!” Quase nada! Quase houve segundo turno - não quer dizer que o PT vencesse a disputa. Lembro que, desde a instituição do segundo turno, a disputa havia se decidido uma única vez na primeira rodada no estado: em 2006. Esta é a segunda vez. Nas duas, quem garantiu a vitória de um tucano no primeiro turno foi Aloizio Mercadante.


SEGUNDO TURNO NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

Como não cansei de escrever aqui, eu nunca soube se iria haver segundo turno ou não; continuo a não saber quem vai vencer as eleições presidenciais. “Eles” sempre souberam, não é mesmo? Eles sempre estiveram convictos de tudo.

Depois escreverei com mais vagar a respeito disso tudo, mas os arquivos estão por aí: as previsões dos “especialistas” falavam em até 20 pontos de vantagem para Dilma. Institutos de pesquisa chegaram a se comportar como verdadeiras quadrilhas.

“Violação de sigilo não tem importância”, dizia um. “Erenice não muda nada”, dizia outro. Agora, muitos estão em busca de uma desculpa: os evangélicos e a opinião de Dilma sobre o aborto teriam definido o segundo turno… Talvez fosse mais prudente admitir: erramos.

Aqui e ali, as pesquisas acertaram. Na média, houve um naufrágio. É preciso pensar sobre as causas. Teremos tempo de falar sobre essas coisas todas. O fato é: “eles” erraram.

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Fonte:
Blog do Reinaldo Azevedo

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3 comentários

  • Luis Fernanando de Azevedo Campo Grande - MS

    Pensando bem,sera que as pesquisas do Ibope e Vox Populi sobre a popularidade do Presidente Lula são idoneas ou compradas pra satisfazer o ego do Presidente.

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  • maria luisa elias Franca - SP

    muito bom este artigo, pena que pouquissimos brasileiros tem acesso a este tipo de informaçao, espero que o votos da marina váo para o Serra, porque 8 anos de governo Lula, mais 4(Dilma) e depois se candita novamente, e neste pais de Tiricas,vamos ser como cuba!!!!!!!!!!!! tudo menos Dilma, nao consegue se quer terminar uma frase com raciocinio logico, ela se perde, enrola, mas o norte e dnordeste, por um par de botinas e o bolsa famila, jamais vao pensar que iráo ser eternamente pobres e o pior de espirito.

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    "Numeros bem torturados confessam qualquer coisa"... já não bastava o Chutômetro do IBGE, agora o IBOPE também anda envolvido com a arte da chutometria? Em portugês bem claro, a Dona DILMA teve apenas 1 voto entre cada 3 eleitores e se a gente fosse perguntar aos brasileiros que não estão inscritos para votar, manter-se-ia a proporção? IBOPE, CNT Census, DataFolha e Data Não sei o quê?...recebem muitas respostas onde o entevistado na maioria das vezes apenas DIZ quem "ele acha" que será eleito mas não necessariamente ele, entrevistado, votará naquele candidato... É ou não é assim?

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