Logística: Caos na infraestrutura limita competitividade da soja brasileira

Publicado em 01/02/2013 12:02 e atualizado em 01/02/2013 14:06
O Brasil deverá exportar na safra 2012/13 cerca de 52 milhões de toneladas do complexo soja, sendo 36 milhões de toneladas do grão; 14,5 milhões de toneladas de farelo e 1,5 milhão de toneladas de óleo. O volume é 10 milhões de toneladas maior do que o registrado na temporada anterior. Entretanto, esse expressivo crescimento da produção brasileira – tão esperado pelos países importadores após as perdas com a seca nos EUA – evidenciam mais cedo do que em outros anos a fragilidade da infraestrutura logística do país. 

Nos principais portos brasileiros, Santos e Paranaguá, já há congestionamento e inúmeros navios aguardam para embarcar os grãos. Hoje, a espera dos navios no Porto de Santos é de, em média, 35 dias e, no de Paranaguá, de cerca de 15 dias. O custo da diária de cada uma dessas embarcações varia de US$ 20 mil a US$ 40 mil, segundo Luiz Antonio Fayet, consultor de logística da CNA (Confederação Nacional da Agricultura).

Segundo um levantamento da empresa Unimar Agenciamentos Marítimos, cerca de  126 navios estavam agendados para carregar 6,2 milhões de toneladas de soja e milho até o último dia 29. Há um ano, neste mesmo período, eram 72 embarcações carregando 2,8 milhões de toneladas. Em 2011, esse número era ainda menor com um volume de 1,5 milhões de toneladas e 47 embarcações. 

Nesta safra, a soja que deveria estar sendo embarcada divide espaço com o milho. O grão brasileiro encontra um bom momento da demanda mundial e suas exportações já indicam um expressivo aumento em relação ao ciclo anterior.  O volume embarcado em janeiro registrou, até a última semana, um aumento de 15% em relação às vendas de dezembro.  Com isso, a soja – geralmente de variedades mais precoces que já foram colhidas, começa a chegar nos portos e não tem como ser embarcada. 

O cenário que já pode ser observado neste início de fevereiro, e teve início em meados de janeiro, é típico dos meses de abril e maio, quando a colheita começa a ser concluída e a entrada da nova safra de soja no mercado passa a ser mais expressiva. “Porém, estamos sofrendo com esse problema dois meses antes, e a tendência é de que piore. Com isso, infelizmente, a renda do produtor brasileiro poderá ser menor já que seus custos com o transporte da sua soja serão maiores”, diz o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. Para o pico da colheita, o especialista estima que o atraso nos portos possa chegar a 45 dias. 

O impacto dos gargalos logísticos já começa a ser refletido nos preços da soja no mercado interno brasileiro. No oeste do Paraná, por exemplo - onde a colheita está concluída em quase 30% - o frete por caminhão passou de R$ 4 / R$ 4,50 por saca, em meados de janeiro, para R$ 6,50 a R$ 7,50 por saca hoje em dia. Com isso, como explica o economista Camilo Motter, da Granoeste Corretora, há uma redução do valor na origem do produto. "No mercado de lotes, os negócios estavam em R$ 60 a R$ 61 por saca de soja há 10, 15 dias, e hoje se fala em R$ 57", explica.

Além da situação dos portos, a logística, principalmente na questão dos fretes, sofre ainda com a recente alta dos combustíveis. De acordo com uma associação que reúne as transportadoras do Brasil, o aumento no preço do diesel deverá provocar uma alta de 2,16% no custo do frete de produtos agrícolas. Na terça-feira (29), a Petrobras anunciou um aumento de 5,4% para o diesel e de 6,6% para a gasolina nas refinarias. Cálculos da empresa NT&C Logística apontam que os gastos com diesel correspondem a 40% no custo do frete de produtos agrícolas. Os caminhões que fazem esse transporte percorrem longas distâncias, já que as principais regiões produtoras do país estão distantes dos principais pontos de escoamento da produção. 

"Esse crescimento das exportações brasileiras tem um complicador. O agronegócio nasceu e se criou no sul e no centro-oeste do Brasil. Por isso, o custo de transporte desde “a porteira” até o porto de embarque no Brasil é quatro vezes maior do que nos EUA e Argentina. Sendo assim, fatalmente teremos dificuldades na deslocação terrestre e congestionamento nos portos de Paranaguá e Santos", afirmou o consultor da CNA.

Mercado Internacional – A infraestrutura insuficiente do Brasil tem, porém, um efeito positivo para os preços da soja negociada no mercado internacional. Essa foi uma semana positiva para os futuros da oleaginosa na Bolsa de Chicago, com os investidores observando não só o clima adverso na América do Sul, principalmente na Argentina e no Sul do Brasil, mas também um possível atraso da nova safra brasileira. Há expectativas de perdas por conta da seca em importantes regiões produtoras e, além disso, um atraso na chegada do produto.  Paralelamente, a demanda mundial segue se mostrando muito aquecida e o ritmo das compras dos principais importadores mundiais deve continuar aumentando, segundo analistas. 

Atualmente, a única oferta disponível de soja é a dos Estados Unidos. Por conta disso, o ritmo das exportações norte-americanas está, segundo analistas, "alucinante", e muito mais acelerado do que em anos anteriores. Até o último dia 17, os exportadores dos EUA já haviam negociado o embarque de 33 milhões de toneladas de soja desde o início do ano comercial, em setembro. O volume corresponde a 90% do total estimado pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) de 36,6 milhões de toneladas. Em relação à temporada anterior, as vendas externas estão 27% mais altas. 

O cenário atual em que se encontram as cotações da soja no mercado internacional, portanto, é marcado pelo confronto entre a alta velocidade em que se desenvolve a demanda e a real capacidade do mercado mundial em atendê-la. 

 “Estamos, neste tempo, nos aproximando do confronto entre a capacidade de atender o consumo e a capacidade de oferecer a fluidez operacional de colocar nossa safra à disposição dos mercados consumidores, o que sabidamente a logística sul-americana não será capaz de atender, no tempo e na velocidade que precisam da soja para sua utilização imediata, como pontualmente estão precisando no atual cenário do fluxo do abastecimento mundial. Atualmente, existe uma enorme fila de navios para carregar soja, nos portos brasileiros e, também um número estupendo de navios para carregar farelo de soja. Ao que me confere,  indica que os  mercados consumidores foram complacentes em esperar o suprimento sul-americano e, principalmente, brasileiro para se abastecer do produto que não consegue chegar aos portos por deficiências de logística interna, de difícil entendimento pelos mercados consumidores globais”, disse o consultor de mercado Liones Severo, em um artigo publicado no Notícias Agrícolas.

Dois lados – Para Fayet, esse caos logístico tem dois lados. “O lado bom é que três países são responsáveis pelo abastecimento de 86% do mercado internacional de soja: Brasil, Argentina e Estados Unidos. EUA e Argentina praticamente já esgotaram as suas áreas de expansão rural, então, isso tudo vai sobrar para o Brasil e talvez alguns outros países da América Latina. E a crise econômica internacional não afetou a demanda por comida. Porém, o lado ruim é que estamos sofrendo com uma grande defasagem na nossa infraestrutura logística. Primeiro, por conta da inércia governamental, que agora está sendo rompida tanto na área terrestre quanto na área portuária. Essa inércia, porém, leva muitos anos para fazer com que os resultados comecem a aparecer efetivamente".
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Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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