Soja recua pressionada por previsões de chuva para Argentina

Publicado em 06/02/2013 07:29 e atualizado em 02/03/2020 09:03
A soja opera em baixa na Bolsa de Chicago nesta quarta-feira (6). Por volta das 8h15 (horário de Brasília), os vencimentos mais negociados no mercado internacional registravam perdas entre 6 e 8,50 pontos. O recuo, segundo Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, é reflexo de uma nova realização de lucros por parte dos fundos de investimentos. 

De acordo com Brandalizze, há notícias da possibilidade de novas chuvas no sul do Brasil e na Argentina e os "grandes fundos de investimentos aproveitam essas informações para garantirem um pouco de lucro", diz o consultor. 

O mercado agora também espera por novas informações sobre o impacto do clima e ainda novas previsões climáticas para conseguir romper algumas resistências técnicas. Como explicou Brandalizze, o mercado, nos últimos dois dias tentou os US$ 15, mas, sem sucesso, acaba devolvendo parte dos ganhos. 

Na sessão desta terça-feira (4), o mercado fechou os negócios em alta na CBOT focado ainda na falta de precipitações que castigam as lavouras argentinas e do sul brasileiro. Além disso, encontrou suporte ainda no excesso de chuvas no Mato Grosso que atrasa a colheita da soja e diminui a qualidade dos poucos grãos colhidos. 

Segundo analistas, essa volatilidade é inevitável, uma vez que os mapas climáticos são inconsistentes, divergentes e muitas vezes as previsões podem não se confirmar. O mercado reflete isso e a cada nova notícia exibe uma realização de lucros ou adiciona novos prêmios de clima aos contratos. 

Para Pedro Dejneka, analista de mercado da PHDerivativos, tamanha é a incerteza sobre os reais impactos que essas adversidades climáticas irão causar no resultado final da produção da América do Sul que o mercado ainda não conseguiu romper, com convicção, a área dos US$ 15 por bushel. Baseado nisso, diz ainda que se o mercado internacional estivesse contabilizando quebras acima de 5% na safra brasileira, os preços estariam mais próximos dos US$ 16 do que dos US$ 15. Leia a seguir uma nota de Pedro Dejneka sobre o atual cenário do mercado internacional da soja:

"Não podemos nos precipitar nas estimativas de perdas (ainda). Pois, levando em consideração o que aconteceu aqui nos EUA ano passado, muitos falavam em quebras de 20 a 25% no início do mês de agosto, quando a seca estava pegando pra valer, e como vimos, a planta oleaginosa se mostrou muito mais resistente a seca e ao calor do que quase todos especialistas pensavam (não só produtores, mas agrônomos, biólogos, professores, analistas, etc...) Me incluo neste grupo, pois eu realmente acreditava que teríamos uma quebra histórica devido a seca histórica. 

Vimos que este não foi o caso. O mercado se precipitou e levou os preços a quase US$18/bushel (de forma correta, pois contava com uma safra quase 10 milhões de tons menor do que recebeu). Quando percebemos que havíamos subestimado a força da oleaginosa e que as chuvas das duas últimas semanas de agosto "salvaram" boa parte da safra, o mercado teve o trabalho de reajustar os preços baseado nos novos dados, e o resultado foi a "despencada" dos US$17,90 para os US$14 em dois meses. 

A época que estamos no calendário da safra Brasileira agora, se equivale ao início de Agosto aqui nos EUA... Ou seja, sim, está seco - sim, está complicando. MAS, levando-se em consideração o que acabei de descrever, e também considerando-se que a umidade do solo pré-seca aí era muito maior do que foi aqui ano passado, acredito que vale a cautela no momento.

Não digo que não haverá quebra, pois acredito que sim, haverá...Apenas aproveito para mostrar qual é a mentalidade atual do mercado aqui em Chicago. Se o mercado aqui estivesse pensando em quebras acima de 5% na safra total brasileira, os preços estariam muito mais perto dos $16 do que dos $15.Percebam que o mercado ainda não consegue penetrar a área dos $15 com convicção, pois falta exatamente isto, convicção. Estejam certos de que se continuar seco até meados de fevereiro, o mercado tratará de colocar este "prêmio de clima" nos preços...Por agora, o mercado nos diz que está atento, mas ainda não pronto para fazer conclusões sobre o tamanho da safra.

O mercado está "preso" entre expectativas de uma enorme safra (acima de 80 MMTs) e a POSSIBILIDADE de uma quebra a lá 2012 aí na América do Sul... Então vamos nessa, com cautela, com atenção, e com perspectiva, entendendo que as variedades de soja hoje em dia são extremamente resistentes a problemas climáticos - não são a prova de bala, mas são bastante resistentes. 

Para reflexão: Uma quebra de 10% na safra total do Brasil traria uma produção de mais ou menos 72 a 74 milhões de toneladas. Uma quebra de 15%, traria uma produção entre 68 e 70 milhões. Se isto acontece, veremos preços nas alturas novamente, pois o mercado ainda conta com uma safra acima de 80 a 82  milhões de toneladas para o Brasil. 

Só saberemos mesmo com maior convicção á partir de meados de fevereiro, quando poderemos ter uma ideia do clima para o final do mês, e saber se teremos chuvas salvadoras...RS está seco e MT está molhado demais... esta tendência tem que mudar, mais ainda há tempo. Até lá, baixas serão compradas e tentativas de altas acima de US$15 serão vistas como oportunidades de venda de curto prazo (realização de lucros).

Apenas um cenário de quebra considerável, e problemas logísticos, assim como contínua demanda para soja EUA, conseguirá elevar preços rumo aos US$16 ou mais. E se tivermos confirmação de uma safra acima de 80 - 82 milhões de toneladas no Brasil e acima de 50 milhões de toneladas na Argenitna, e 8 milhões no Paraguai, o mercado pode muito bem voltar a operar abaixo de US$14, até mesmo abaixo de $13,50". 
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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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2 comentários

  • Liones Severo Porto Alegre - RS

    Se o clima se tornou tão decisivo para o resultados dos negócios de commodities agrícolas, então as empresas agrícolas/tradings não precisam mais de analistas e operadores. Deveriam trocá-los por climatologistas.

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  • Liones Severo Porto Alegre - RS

    O fator mais importante do mercado atual é a falta do produto nos mercados de consumo por oferta reduzida americana de demora de embarques no Brasil. Portanto, a frequente chuva do centro-oeste é mais importante que chuvas na Argentina. Se ninguém acredita que tenha quebra no Brasil, tanto melhor para nossos produtores porque o mercado esta firme por outras razões, do que propriamente pelo clima. Particularmente, acho que o comentários sobre o clima serve apenas para encobrir os verdadeiros fundamentos altista do mercado atual. Ninguém vai dizer `olá produtores brasileiros estamos sem soja e somente vocês podem nos ajudar `. Ou não ?

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