Soja: Apesar de prêmios fortes, oferta baixa mantém negócios limitados no BR

Publicado em 13/07/2016 12:56

Os prêmios pagos pela soja brasileira continuam subindo e chegaram a bater, no porto de Paranaguá, nos US$ 2,00 por bushel acima dos preços praticados na Bolsa de Chicago. Os valores são historicamente altos e atuam como um termômetro da relação de oferta e demanda, mostrando que o momento é de ajuste, alto interesse dos compradores e pouca oferta disponível, segundo explicam analistas de mercado. 

As últimas referências de prêmios no porto paranaense é de US$ 1,80 para a posição de entrega julho/16 e de de US$ 1,90 para agosto. Em relação ao mesmo período de 2015, os números registram uma elevação de mais de 200%, já que, na época, traziam apenas US$ 0,47 por bushel. Para a soja da nova safra do Brasil, as referências também são positivas. O mês de abril tem, atualmente, US$ 0,65 sobre Chicago. No último mês, de 16 de junho a 12 de julho, as altas entre as principais posições de entrega variam de 26,67% a 44,44% para os prêmios. 

Prêmios Soja - Junho a Julho 2016

No entanto, com mais de 80% da safra 2015/16 já comercializada, nem mesmo esses prêmios elevados têm sido suficientes para motivar novos negócios de maiores volumes no Brasil. Segundo explica Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting, o mercado está sem vendedores e os produtores vêm apenas a finalizar alguns negócios que já estavam anteriormente programados para este mês de julho. Afinal, as altas dos prêmios refletem ainda outro fator que á baixa registrada para os futuros da oleaginosa na Bolsa de Chicago, no mesmo intervalo de tempo, e que acabou resultando, portanto, em preços menores pagos nos portos em relação aos melhores momentos do ano, em que a soja foi negociada a até R$ 101,00 por saca nos terminais de exportação. 

E essa comercialização antecipada pode ser observada nos números dos bons embarques de soja brasileira. De acordo com os últimos números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil já exportou mais de 36 milhões de toneladas da oleaginosa e, ao alcançar as 7 milhões de toneladas projetadas para este mês, o acumulado no  ano chegaria as 43,7 milhões e deixando mais próximo o objetivo de 55 milhões em todo 2016. "Isso continua mostrando que vem aperto no abastecimento", diz Brandalizze. 

Mercado no Interior

A disputa por essa pouca oferta vem crescendo no Brasil e permitindo, no entanto, que os preços praticados internamente se mostrem cada vez mais descolados do mercado internacional, principalmente no interior do país. Há praças, portanto, em que as cotações da oleaginosa possam continuar acima da paridade de exportação, dada a demanda interna forte, principalmente nas regiões onde a atividade da indústria é mais forte. 

"A disponibilidade de soja é extremamente baixa em quase todo Centro-Sul, sendo que o Centro-Oeste e a região Norte são os mercados com menor volume. Sou amigável a altas para a soja da safra velha, já que a escassez nestas regiões promoverá a valorização da oleaginosa", afirma o consultor da Terra Agronegócios, Ênio Fernandes. 

Na região de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, essa situação já pode ser observado, segundo relata o produtor rural Dilermando Rostirolla. "O mercado da soja, daqui para frente é firme, os preços vão continuar subindo na região", diz. Entretanto, o sojicultor afirma que, com as baixas recentes, os produtores se retraíram nas vendas, já que há menos de 20% da safra 2015/16 ainda para ser vendida e as perspectivas são de momentos melhores. 

"Depois que os preços bateram em R$ 90,00 / R$ 91,00 por aqui, o produtor marcou esse número e só volta a vender quando voltarmos a esse patamar", acredita Rostirolla, afirmando que, no disponível, as referências variam de R$ 86,00 a R$ 87,00 por saca; no mercado de balcão de R$ 76,50 a R$ 78,00 e no de cooperativas, de R$ 73,00 a R$ 76,00 por saca. 

O produtor explica ainda que as indústrias locais de processamento de soja estão, neste momento, desabastecidas, e deverão continuar buscando matéria-prima, principalmente entre o final deste mês e o começo de agosto. "A indústria vai ter que pagar mais", diz. "E eu acredito que, talvez, o Brasil tenha que importar soja", completa. 

O cenário é semelhante na região de Diamantino, em Mato Grosso. O estado é um dos que conta com menor oferta de soja nesse momento, já que tem cerca de 90% de sua produção 2015/16 já comercializada. "Os preços por aqui, no mercado de balcão, chegaram a bater nos R$ 84,00 e agora estão em R$ 71,00, isso fez o produtor se retrair", relata Altemar Kroling, diretor do Sindicato Rural local e conselheiro da Aprosoja MT. 

Dessa forma, nos últimos são apenas negócios pontuais e de baixo volume que vêm sendo registrados. As altas recentes em Chicago ainda não foram suficientes para trazer os preços da soja de volta a níveis que sejam atrativos para os produtores mato-grossenses. Em algumas praças do estado, como Rondonópolis, onde a atividade industrial é forte, os preços ainda chegam a registrar dias em que estão mais altos que o que é pago nos portos, ainda como explica Vlamir Brandalizze.

Na região do Matopiba, a situação é ainda mais grave, uma vez que as perdas causadas pela seca foram bastante agressivas, reduzindo drasticamente a oferta desta temporada. E assim, como acontece nas demais áreas produtoras do país, os negócios também não apresentam um ritmo muito forte dados os últimos recuos e a baixa disponibilidade. 

Em Balsas, no Maranhão, por exemplo, os preços da soja disponível trabalham perto dos R$ 90,00 por saca, mas os negócios são limitados. "Esse preço é para a soja disponível na fazenda, mas quase ninguém tem",  relata o produtor local Valério Mattei. Ele explica ainda que, por conta da estiagem, nem mesmo os contratos firmados com valores perto de R$ 70,00 por saca conseguem ser concluídos e, aumentando ainda mais os prejuízos dos sojicultores. 

No Tocantins, segundo Vlamir Brandalizze, o quadro é parecido e a região acaba não sendo referência, dada as perdas severas ocasionadas pelos problemas de clima. "Os indicativos de preços por lá são de R$ 4,00 a R$ 5,00 mais altos, mas é uma outra situação, a safra foi muito prejudicada e os preços são somente nominais", explica o consultor. 

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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