Negócios da nova safra de soja estão travados em todo o Brasil com preços pouco atrativos

Publicado em 03/10/2016 15:13

O plantio da safra 2016/17 de soja se desenvolve ainda de forma bastante irregular nos principais estados do Brasil dadas as atuais condições climáticas. As chuvas não se mostram bem distribuídas, segundo o relato de produtores rurais e consultores de mercado, o que trava não só os trabalhos de campo, mas também a comercialização da nova temporada. Segundo Vlamir Brandalizze, há pouco mais de 30% da soja já comercializada. 

O consultor da Brandalizze Consulting afirma que, nas últimas quatro semanas, os negócios com a safra nova foram bem pontuais, com baixos volumes e mais como resultado de alguns produtores que não tiveram acesso ao crédito buscando ainda as relações de troca nas revendas. E essas operações, com a grande maioria dos sojicultores com seus insumos já comprados, se mostram mais frequentes nos estados centrais. 

Para o consultor Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, há três fatores básicos que travam as vendas neste momento: a taxa de câmbio bem mais baixa do que a observada há alguns meses [quando foram feitos volumes maiores de negócios], um percentual já vendido que dá garantia ao produtor e a espera do mesmo pela confirmação de sua produtividade e, consequentemente, o quanto ainda poderá ser comprometido da nova safra. 

Do dia 2 de maio ao último 30 de setembro, o preço médio da soja na Bolsa de Chicago apresentou um recuo de 8,45%. Ao se considerar o pico atingido em 10 de junho, de US$ 11,79 por bushel, a baixa acumulada é de 18,98%. Nos mesmos intervalos, o dólar registra recuos de 6,83% e 5,23%, respectivamente. 

Dessa forma e focados na semeadura, os produtores esperam momentos mais oportunos para voltar às vendas, travando conforme os preços lhe trazem margens. De acordo com o consultor de mercado Flávio França Junior, da França Junior Consultoria, o último grande pico de negócio aconteceu no início de junho, quando os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago chegaram a se aproximar dos US$ 11,80. 

"Temos agora um momento bem defensivo. Há duas semanas, quando o mercado se aproximou, novamente, dos US$ 10,00, tivemos algumas operações, mas com pouco avanço e bem pontuais", afirma França. 

Soja Chicago

Câmbio

Na região de Querência, em Mato Grosso, por exemplo, há algo entre 20% e 30% da nova safra já comercializada antecipadamente e, nos últimos meses, as vendas perderam bastante ritmo diante dos preços mais baixos, segundo relata o presidente do Sindicato Rural do município, Osmar Frizzo. "Hoje os preços não estão mais atrativos para a fixação", diz.

O mesmo quadro pode ser observado em Sapezal, também no estado mato-grossense. "As comercializações foram há 90 dias, depois disso, não houve nem mais comentários de negociações futuras. Isso porque as commodities caíram e o custo aumentou, então o produtor acabou não fazendo novas fixações", explica José Guarino Fernandes, presidente do Sindicato Rural local. 

Na região, a média da soja convencial, nesses negócios antecipados foi de algo entre R$ 75,00 e R$ 76,00 por saca e as transgênicas entre US$ 20,00 e US$ 21,00. 

Passando para o Paraná, onde o plantio está mais adiantado em função de melhores condições de clima e solo, os produtores também estão se dedicando mais ao plantio do que a novas vendas. Como Segundo explica Silvanir Rosset, presidente do Sindicato Rural de Guaíra, quem vendeu antecipado chegou a fixar preços na casa dos R$ 85,00 por saca na região. "Agora nem se fala em contratos. E os grandes desafios agora são o mercado e o clima", conclui. 

No Mato Grosso do Sul, a mesma situação. O maior volume de negócios saiu, na região de Ponta Porã, quando as cotações variavam entre R$ 75,00 e R$ 80,00 por saca. "Esse é um bom preço para os produtores daqui, quem teve essa possibilidade, fez a venda, mas foi pouco", relata o técnico agrícola João Pedro Roma. 

Novas Oportunidades

Para os três especialistas consultados pelo Notícias Agrícolas - Vlamir Brandalizze, Ênio Fernandes e Flávio França Junior - a atual postura defensiva dos produtores rurais brasileiros em relação à comercialização da nova safra é bastante acertada neste momento e novas e melhores oportunidades deverão aparecer mais adiante. 

Com a colheita da nova grande safra dos Estados Unidos concluída, os preços em Chicago deverão se acomodar um pouco mais e aliviar a pressão sentida nas últimas semanas, ainda de acordo com os consultores. E é quando a atenção começa a se voltar para o clima na América do Sul, especialmente no Brasil, e deverá ser redobrada à movimentação do câmbio. 

Segundo França, diferente do que aconteceu há aproximadamente dois anos e meio, o sojicultor deverá ter de garantir sua renda via preços em Chicago, uma vez que "do dólar não deverá vir nada de especial, parece que o câmbio está encontrando um equilíbrio". No entanto, alerta ainda que esse não é um momento de fortes e consistentes altas na CBOT, já que a pressão da entrada da nova safra americana é inevitável.

E para que o produtor brasileiro se sentisse novamente atraído à novas vendas, o dólar deveria voltar, segundo Brandalizze, a atuar na casa dos R$ 3,50. Afinal, com a moeda americana nos atuais valores - na casa dos R$ 3,20 a R$ 3,25 - a referência no porto de Paranaguá, por exemplo, vai a R$ 78,00 para maio e, consequentemente, a algo entre R$ 63,00 e R$ 64,00 por saca no interior de Mato Grosso. "E nos melhores momentos, os preços se aproximaram de R$ 79,00 na região de Sorriso, por exemplo", relata o consultor da Brandalizze Consulting. 

"Há ainda muita coisa para acontecer. Juntos, Brasil, Argentina e Paraguai plantam 51% de toda a soja do mundo e esses países estão começando a plantar agora. Então, precisaremos acompanhar o clima na América do Sul para saber o que vem pela frente", diz Fernandes. "Assim, o produtor agora tem bastante reticência em vender nos atuais preços", completa. 

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário