Prêmios para soja do Brasil quase dobram ante safra passada

Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - Os prêmios oferecidos por compradores de soja nos portos brasileiros para embarque do grão em fevereiro estão 90 por cento acima do registrado no mesmo período da temporada passada, apesar da perspectiva de uma chegada antecipada de carregamentos ao mercado e de uma safra recorde no país.
Segundo especialistas, os prêmios oferecidos estão mais elevados numa tentativa de estimular as vendas de produtores, que têm ocorrido em volumes abaixo da média dos últimos anos, e refletem também uma boa demanda pelo grão do Brasil.
Compradores ofertaram prêmio de 0,57 dólar por bushel sobre o primeiro contrato da bolsa de Chicago para carregamento em fevereiro no porto de Paranaguá na quarta-feira, ante oferta de 0,30 dólar por bushel no mesmo período da safra passada, segundo dados da Thomson Reuters.
"Se jogassem um prêmio muito abaixo, não conseguiriam originar nada. Tem demanda firme e do outro lado o produtor está reticente em vender", destacou o diretor de commodities da INTL FCStone, Glauco Monte.
O Brasil está começando a colher uma safra recorde de mais de 100 milhões de toneladas em 2016/17 e os trabalhos deverão ser acelerados em janeiro, colocando no mercado grandes volumes em um período em que normalmente ainda seria de final de entressafra.
Contudo, as vendas antecipadas por parte dos produtores rurais estão muito baixas nesta temporada. Até dezembro, apenas 34 por cento da produção nacional já havia sido negociada, ante 44 por cento no mesmo período da temporada anterior e 40 por cento da média histórica, segundo levantamento da consultoria AgRural.
"A expectativa é uma safra muito boa no Brasil... e que a gente tenha uma colheita precoce. Os compradores estão aparecendo e os exportadores estão tentando tirar mais soja da mão do produtor", disse o analista Pedro Dejneka, presidente da AGR Brasil, em Chicago.
A retração dos agricultores deve-se aos preços relativamente baixos da soja em real, que são resultado de uma combinação entre os preços internacionais, a cotação do dólar e o prêmio no porto.
A soja foi negociada no porto de Paranaguá a 74,52 reais por saca na quarta-feira, segundo o indicador Cepea/BM&FBovespa, quase 24 por cento abaixo do pico do ano passado, registrado em junho e quase 9 por cento abaixo do registrado em 4 de janeiro de 2016.
As cotações da soja no mercado nacional estão pressionadas principalmente por uma queda no câmbio --o dólar era negociado a mais de 4 reais em janeiro de 2016, ante patamar atual de 3,20 reais.
Neste cenário, a melhora nos prêmios oferecidos no porto têm tido pouco efeito para destravar a comercialização.
"Está fraco de negócios... O produtor ficou com olho maior do que a cabeça lá atrás, quando a soja estava a 90 reais à nível de produtor e 100 reais no porto. Ele não aceita vender nesses níveis", disse um operador de soja de uma trading asiática.
Por outro lado, a perspectiva é de forte concorrência e de queda nos preços em geral, com prêmio acompanhando, à medida que um grande volume de soja chegue ao mercado.
"Essa menor venda do produtor está concentrando uma venda maior para a safra (quando esta estiver disponível). O prêmio vai cair. O preço à vista em fevereiro e março deve ser pressionado", projetou Monte, da FCStone.
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