Soja já acumula alta de 7% em Chicago e pode buscar os US$ 11 com chuvas na Argentina

Publicado em 18/01/2017 11:50

Chuvas na Argentina - 2017

Campos inundados na zona de Arroyo del Medio, próximo a La Emilia, na província de Buenos Aires
Foto de Emiliano Lasalvia, no La Nacion

Do primeiro pregão de 2017 até a sessão desta terça-feira (17) na Bolsa de Chicago, os vencimentos março e maio/17 - os dois mais negociados deste momento - da soja subiram, respectivamente, 7,44% e 7,48%, para US$ 10,69 e US$ 10,78 por bushel. Entre as posições do farelo de soja, os ganhos são ainda mais expressivos e passam de 11%. O primeiro contrato já acumula uma alta de 11,76%, com US$ 348,80 por tonelada e, o segundo, de 11,175, com US$ 350,20. No foco dos negócios e dos players, a situação de calamidade instalada na Argentina em função do excesso de chuvas. 

Para Vlamir Brandalizze, consultor da Brandlizze Consulting, o mercado em Chicago vem absorvendo todo esse quadro na Argentina e poderia, caso a situação se agrave ainda mais ou as perdas chegando a ser ainda mais severas, levar o mercado a novas altas. "No médio prazo, com novas informações chegando, o mercado pode alcançar os US$ 11,00 por bushel. Mas, ele ainda trabalha no intervalo de US$ 10,50 a US$ 10,90 e, acima dos US$ 10,90, o mercado ainda tem muitas ordens de venda", explica. "Há muita história da Argentina ainda para chegar", completa. 

A temporada 2016/17 começou com projeções de uma safra de 57 milhões de toneladas para o país e as perdas contabilizadas até esse momento, por consultorias, já superam 5 milhões de toneladas. Assim, os números esperados começam a cair. O consultor internacional Michael Cordonnier, especializado em produção na América do Sul, baixou sua projeção em 4 milhões de toneladas e espera agora uma colheita de 51 milhões, equanto a consultoria AgriPAC fala em 50 milhões. Ainda otimista, o Ministerio da Agroindústria da Argentina reduziu, em sua última divulgação, a produção do país em apenas 1 milhão de toneladas, para 55 milhões. 

Para Cordonnier, há cerca de, ao menos, 10% da produção de soja da Argentina já comprometida pelas precipitações e cheias e indica que a situção atual pode chegar a ser pior do que o quadro observado em abril de 2016, quando o excesso de chuvas também castigou severamente a produção argentina. Nesse período, a valorização das cotações na CBOT chegou a 12%.  "Os hectares perdidos na Argentina são alguns dos mais produtivos do país e, na medida em que estiveram em melhores condições, será muito tarde para replantá-los. As perdas, portanto, podem ser completas e irreversíveis", diz. 

Assim, como lembra o analista de mercado Marcos Araújo, da Lansing Trade Group, "todos esse excesso de chuvas na Argentina tem reduzido a área de plantio, o mercado trabalhava com uma área inicial de 19,8 milhões de hectares, hoje estamos falando em algo 19,2, talvez, 19 milhões". 

Impacto sobre o mercado 

Atualmente, a Argentina é, além de exportadora de soja em grão, a maior exportadora mundial de farelo e óleo de soja, o que faz com que as especulações do mercado - em Chicago, no Brasil e na Argentina - se estendam por todo o complexo em relação à oferta prevista para essa temporada, o que motiva um avanço ainda mais forte do farelo em Chicago se comparado ao do grão.

"O farelo de soja tem outros substitutos no quadro mundia, como o DDGS e o farelo de canola, que são fontes de proteína para ração animal. China e EUA, porém, estão com uma batalha comercial e isso tem limitado o fornecimento do DDGS americano para a China, fazendo com que o suprimento fique muito concentrado no farelo de soja nas rações animais. E a Argentina exporta apenas 10% de sua produção em grão e todo o restante via farelo de soja, óleo ou biodiesel", explica Araújo. 

A quebra no país, portanto, passa a estimular os importadores a buscar as demais origens exportadoras de soja entre as principais - Estados Unidos, Brasil e Paraguai, E o primeiro produto a ser buscado nesse momento, ainda de acordo com o analista, deverá ser o brasileiro, já que esse é um movimento, sazonalmente, natural agora. Com esse quadro se consolidando e as perdas se agravando, a tendência é de que a commodity siga se valorizando em Chicago. 

Os fundos investidores, também acompanhando o desenvolvimento dessas condições na Argentina e ainda a conclusão também da safra do Brasil, têm ampliado suas apostas positivas nos preços da oleaginosa e voltaram á ponta compradora do mercado nos últimos dias, o que levou as cotações, inclusive, a registrarem suas máximas em seis meses nesta terça-feira (17). 

"Há bastante espaço para os fundos expandirem suas posições mais longas na soja", segundo acredita o analista Richard Feltes, em nota da corretora internacional RJ O'Brien. Entre as posições do farelo, esse movimento pode ser ainda mais intenso. No complexo, ainda de acordo os analistas internacionais, o menos atrativo neste momento parece ser o óleo de soja. De 3 a 17 de janeiro, a valorização que o derivado negociado na CBOT acumula nas posições março e maio/17 é de pouco mais de 2%. 

Um ponto de atenção, porém, é lembrado por Feltes. O rally observado em 2016 em função das cheias na Argentina, porém, teve o combustível também da seca sofrida pelo Brasil, que provocou perdas severas na temporada 2015/16. Além disso, lembra ainda, que as perdas causadas pelo excesso de umidade podem ser "melhor administradas" do que as que resultam da estiagem. "E o mercado sabe disso". 

Ainda assim, o analista internacional acredita que o mercado da soja em Chicago, no vencimento março, tenha potencial para alcançar os US$ 10,96 por bushel nos próximos dias, motivado pela compra de fundos. 

No Brasil. Novas oportunidades?

Chicago parece, portanto, consolidar esse melhor momento dos preços e já traz, ainda segundo Vlamir Brandalizze, um ambiente mais favorável também para os preços no Brasil. As referências observadas nos portos brasileiros já são melhores, e atuam agora na casa dos R$ 82,00 por saca, para maio e junho. O movimento, no entanto, motivou os vendedores a revisarem seus alvos para voltar às vendas. 

"Com patamares mais fortes e alguns negócios comentados, boa parte dos produtores voltaram a posicionar suas intenções de vendas em valores maiores, na casa dos R$ 85,00. Na semana passada, víamos os preços nos portos na casa dos R$ 80,00 e, como este nível foi atingido, os vendedores elevaram seus interesses e seguraram boa parte dos negócios", diz o consultor. "E a tendência é de que o produtor não venda agora, ele deve continuar segurando suas vendas", completa. 

Ao lado dos efeitos da Argentina, portanto, os olhos do produtor brasileiro devem se voltar ao câmbio, que ainda promete volatilidade e incerteza até que Donald Trump tome posse como o novo presidente dos Estados Unidos nesta sexta-feira, 20 de janeiro. 

Preços na Argentina

No mercado argentino, os preços da soja também já começam a refletir os ganhos em Chicago e, principalmente, a perspectiva de uma oferta menor no país. Nos terminais de Gran Rosario, segundo informou o jornal La Nacion, a tonelada subiu 150 pesos nesta terça (17) em relação ao dia anterior, para chegar a 4550 pesos por tonelada, com alguns negócios batendo até mesmo os 4600 pesos, ou seja, algo entre US$ 285,00 e US$ 288,00/tonelada. 

"As fábricas estão oferecendo títulos sobr um acordo contratual (sem a entrega efetiva do produto) e pedem que, se possível, a entrega seja adiada, em função de problemas logísticos", explica a especialista do Departamento de Informaciones y Estudios Económicos de la Bolsa de Comercio de Rosario (BCR), Sofía Corina. 

As condições do clima tem dificultado muito o tráfego dos caminhões e esse tem sido um outro fator de estímulo aos preços finais da soja dentro da Argentina. No mercado a termo em Buenos Aires, os preços também subiram e alcançaram algo entre US$ 265,00 a US$ 275,00 por tonelada. 

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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