Argentina: 1/3 da área de soja e milho pode sofrer com aumento da falta de chuvas

Publicado em 21/11/2017 11:24

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Embora nas última semanas o mercado internacional da soja esteja ainda caminhando de lado, sem mostrar muitas mudanças, o foco dos investidores e dos traders permanece sobre a questão climática da América do Sul neste momento, em especial a Argentina. E as especulações têm crescido sobre o país, uma vez que as áreas produtoras do país podem sentir os impactos do La Niña previsto para esta temporada.  

Nas zonas de Córdoba e San Luis, por exemplo, o plantio da soja foi paraslido nesta semana em função da falta de chuvas adequadas para o desenvolvimento dos trabalhos de campo. Em toda a província, o avanço da semeadura é o mais lento das últimas três safras. 

Gráfico do plantio de soja em Córdoba

Gráfico mostra o avanço do plantio da soja em Córdoba - Fonte: Bolsa de Cereais de Córdoba

Chuvas Córdoba

Acumulado de chuvas em Córdoba - Fonte: Bolsa de Cereais de Córdoba

Segundo informações apuradas pelo site Agrovoz junto a produtores rurais locais, preciso uma chuva entre 70 a 80 milímetros para que o plantio fosse retomado na localidade.

Em outro boletim, a entidade informa que, entre 10 e 16 de novembro, caíram apenas 10mm em algumas zonas pontuais da província e adverte que "essas milimetragens escassas não teriam impacto nas reservas de água útil nos primeiros centímetros de solo; situação que seria desfavorável para os cultivos recentemente plantados". 

No Twitter, Nicolás Ríos Centeno, que se define como agricultor e é da província de San Luís, publicou uma foto acompanhada do seguinte texto: "Último lote que possui umidade superficial suficiente para o plantio. Todas as plantadeiras vão parar até uma nova chuva".

Plantio de soja em Córdoba - Novembro 2017

Em todo o país, segundo dados da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, o plantio da soja já passa de 23% da área prevista para este ano, que é de 18,1 milhões de hectares - 5,7% menor do que a do ano anterior. No entanto, a preocupação com essas adversidades climáticas se estende por boa parte da zona produtora. Como explica o diretor da Labhoro Corretora, Ginaldo Sousa, cerca de 37% da área vem registrando poucas chuvas. 

"Essas áreas ainda não estão sob risco, mas recebendo chuvas menores", explica Sousa. "Os mapas mostram hoje que, nos próximos dias, essas regiões (produtoras) terão chuvas menores. Mas, a Argentina, a gente conhece: às vezes não tem previsão e no dia seguinte apareceu chuva. Esse é um fenômeno que temos que levar em consideração, e a Argentina também tem temperaturas menores, um solo mais rico, tudo isso tem que ser levado em consideração", completa. 

Informações da Bolsa de Comércio de Rosário mostram que "apesar do céu com nuvens negras e das tempestades de vento, as chuvas foram muito escassas, com valores inferiores a 10 milímetros. O problema dos excessos hídricos diminuiu no norte de Buenos Aires, mas em Córdoba a condição hídrica se agrava, já com alguns setores entrando na classificação de seca". 

A bolsa acrescenta que "se não fosse pela falta de água, o plantio de soja na região já seria coisa passada. São cerca de 735 mil hectares à espera de novas chuvas".

As previsões do Commodity Weather Group (CWG) mostram as chuvas ainda muito pontuais para a Argentina nos próximos dias, trazendo apenas um alívio limitado. São previstas precipitações esparsas no oeste e vem ao extremo norte do país no começo da próxima semana. 

"Mas, pelo menos um terço da região produtora de soja e milho da Argentina deverá presenciar um 'crescimento' da seca nas próximas duas semanas, particularmente no sul de Santa Fe e no norte de Buenos Aires. Temperaturas mais amenas, porém, prevalencem em toda a nação, com pequenos aumentos podendo ser observados no centro e noroeste da Argentina nos próximos 6 a 10 dias", informa o boletim diário do CWG.  

Clima América do Sul - CWG

Previsão de chuvas para a América do Sul para até 15 dias - Fonte: Commodity Weather Group

 

Clima América do Sul - CWG

Previsão de chuvas para a América do Sul nos próximos 16 a 30 dias - Fonte: Commodity Weather Group

La Niña

O escritório de meteorologia da Austrália, BOM na sigla em inglês, divulgou alerta nesta terça-feira (21) em que eleva para aproximadamente para cerca de 70% as chances do fenômeno climático La Niña acontecer a partir de dezembro deste ano. Na última atualização, os australianos apontavam 50%. O NOAA (Centro de Previsão Climática da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos) tem uma estimativa de 75%. 

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Reação do Mercado

O mercado da soja e de seu complexo na Bolsa de Chicago ainda reage, porém, pontualmente à essas informações de clima e parece esperar pela confirmação de problemas mais 'sérios' daqui em diante na safra argentina.

"As previsões, agora, não estão ideais para as próximas duas semanas, mas a maior parte das áreas poderão receber algumas chuvas e registrar temperaturas na média ou abaixo dela, o que poderia contribuir com o plantio", diz a Benson Quinn Commodities. 

A opinião da consultoria internacional se assemelha a de outras casas, mostrando que o impacto dessas preocupações, portanto, ainda é restrito. E o comportamento dos preços - à exceção da última sexta-feira (17), quando subiram quase 20 pontos - corroboram para o momento. 

"O mercado se antecipa, tanto na venda, quanto na compra. Sempre foi assim e vai continuar sendo assim (...) E, nesse momento, o mercado depende essencialmente de clima", acredita o diretor da Labhoro. 

Mais do que os futuros da soja grão, o farelo de soja deverá também refletir essa situação da Argentina, já que o país é o principal produtor e exportador mundial do derivado. 

"E há muitos modelos climáticos diferentes indicando a presença de um La Niña. Na medida, em que o fenômeno se aproxima, pode haver condições de mais seca na Argentina. E é isso que estamos começando a ver", diz o diretor da CRM AgriCommodities, Benjamin Bodart. 

O executivo complementa dizendo que são necessárias chuvas mais abrangentes e volumos chegando, pelo menos, até meados de dezembro no centro da Argentina, ou o mercado começará a analisar e refletir uma produção menor no país. 

Na última semana - considerando de 13 a 20 de novembro - os futuros do farelo de soja subiram mais de em Chicago. O contrato dezembro/17 passou de US$ 311,30 para R$ 319,80 por tonelada curta - uma alta de 2,73% -, já o março/18 registrou uma alta de 2,65% para US$ 325,30, contra US$ 316,90. 

Movimentos como este têm, inclusive, motivado os fundos de investimento a continuarem fortemente posicionados na compra no farelo de soja. 

"Não podemos mais ser complacentes com os preços do farelo neste momento. Lembramos do ocorrido em 2016 - com as cheias na Argentina entre março e abril - com as cotações subindo mais de 50% nos dois meses subsequentes. Assim, já temos recomendado as compras, mas com cautela, para que estejam bem protegidos, se antecipando a qualquer evento climático", orienta Bodart. 

O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), em seu último reporte mensal de oferta e demanda, estimou a safra argentina de soja em 57 milhões de toneladas, contra 57,8 milhões da temporada anterior. Ainda assim, projeta um aumento no esmagamento - de 43,25 para 4484 milhões de toneladas da oleaginosa - e uma produção maior também de farelo, a qual poderá subir de 33,27 para 34,42 milhões de toneladas. 

Com informações dos sites Agrovoz e FeedNavigator.

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Tags:
Por:
Carla Mendes e Izadora Pimenta
Fonte:
Notícias Agrícolas

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