Soja: Formação do preço da nova safra do Brasil está sem referência

Publicado em 01/08/2018 12:39

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Os produtores brasileiros de soja deverão iniciar a safra 2018/19 com um cenário de combinadas incertezas que já afetam sua tomada de decisões, principalmente em relação à comercialização. As vendas antecipadas da temporada 2018/19 não fluem como deveriam dada uma falta de referência para a formação dos preços em meio a tantas situações que ainda precisam ser definidas. 

Entre elas, a que mais tem pesado para os sojicultores é a questão dos fretes. Com a incerteza sobre o custo logístico que irão assumir, tanto a ponta vendedora, quanto a compradora estão bastante cautelosas na hora de definirem e firmarem novos contratos, mantendo os negócios ainda bastante travados. 

Como relatou o presidente do Sindicato Rural de Querência, em Mato Grosso, Osmar Frizzo, os negócios não só com a soja da safra nova, mas também com o milho safrinha estão travados na região por conta dos fretes, e os negócios são apenas pontuais. A situação se repete em todas as regiões produtoras do Brasil. 

"Tem que ter cautela ainda, é preciso resolver essa questão do frete que está pegando agora. Temos um dólar alto, que traz um preço razoável para a soja, mas o frete está tirando isso", explica Frizzo. 

Na região, há apenas cerca de 20% de fixação da safra nova, um número baixo para esta época do ano em relação aos anteriores e o quadro preocupa. "O produtor precisa fixar um pouco mais para garantir os custos da lavoura. Então, ele está, com certeza, preocupado com isso", diz o presidente do sindicato. 

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Complementando o cenário de incertezas, ha ainda as expectativas para as eleições presidenciais que ocorrem em outubro deste ano, os impactos que podem exercer sobre o andamento da economia e, principalmente do dólar, e a famigerada guerra comercial entre China e Estados Unidos com a soja no centro das disputas entre dois players gigantes deste mercado. 

Há rumores de que China e Estados Unidos estariam prestes a voltar a se reunir para discutir as questões tarifárias, porém, as informações ainda não se confirmaram por fontes do governo Donald Trump. A fragilidade da informação, porém, já provoca uma baixa de mais de 1% nos preços da soja em Chicago após ganhos de mais de 3% na sessão anterior e máximas de um mês. 

"A ARC lembra que as possibilidades de reabertura de negociações entre Trump e Xi Jinping ainda são apenas boatos. Nenhuma fonte do governo norte-americano nos confirmou tal inclinação", diz o boletim diário da AgResource Mercosul. 

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Assim, as próximas decisões dos produtores brasileiros deverão ser tomadas ainda com cautela e com perspicácia para que as pontuais oportunidades sejam bem aproveitadas. Essa é a máxima comum entre seis especialistas ouvidos pelo Notícias Agrícolas. 

Steve Cachia, Cerealpar e Kordin Grain Terminal, de Malta

"O mercado é soberano. Era para ser um ano atípico, mas talvez não tanto. Guerra comercial e eleições complicadas no Brasil aliados à confusão provocada pela greve dos caminhoneiros e o que era para ser um ano cheio de opções para alongar a comercialização está vendo opções limitadas. Mais do que nunca é o momento de estar bem atento ao que a comercialização está oferecendo em termos de opções. Podem surgir oportunidades pontuais e, diante das dificuldades, é nisto que temos que estar atentos. Independentemente de qualquer coisa, a demanda está lá fora e os compradores vão ter que dar um jeito de colocar a mão no produto e teremos que dar um jeito de escoar". 

Camilo Motter, Granoeste Corretora de Cereais

Existem fatores estimulantes para aumento de plantio na safra 2018/19, dentre eles, destaco a forte presença da China no mercado brasileiro. Isto fez com que, apesar das perdas na CBOT, os preços no Brasil ficaram em patamares elevados por causa dos expressivos ganhos nos prêmios. Por esta razão, o preço internacional - somatória entre CBOT e prêmios - ficaram praticamente nos mesmos níveis de antes das tensões comerciais entre as duas principais economias do mundo. Além disto, a taxa de câmbio tem sido e tende a continuar favorável para uma boa formação do preço doméstico. Mas, existem fatores limitantes e o principal deles é a elevação de custos por causa do aumento dos preços dos fretes. Além do atraso na entrega dos insumos, eles impactam as atividades do campo nos dois sentidos: tanto no transporte dos insumos para as propriedades, quanto no custo da remoção do produto, soja, milho, para as fábricas e portos. Apesar de fatores limitantes, acredito em aumento de área da ordem de 2 a 3%. As projeções climáticas indicam retorno das chuvas com mais normalidade do que no ano passado. De qualquer maneira, o tabelamento do frete paralisou as negociações de soja da próxima safra e gerou um desequilíbrio geral no setor, que busca lentamente readequar-se ao mesmo tempo em que luta para restabelecer a livre negociação neste elo da cadeia. Acredito que os produtores vem concentrando as vendas na safra velha. Safra nova tem que esperar melhores oportunidades. Além da confusão com o frete, os prêmios futuros estão completamente fora  dos níveis negociados para a safra velha".

Mário Mariano, Novo Rumo Corretora

"Estou viajando pelo Mato Grosso esta semana, estive por Rondonópolis, Campo Verde e Primavera do Leste nos 2 últimos dias e o que ouvi até momento das tradings e produtores é o silêncio, pois a construção de preços, com destino exportação é insustentável. Produtores estão recebendo lentamente os insumos adquiridos, quer dizer, ambas as partes estão sem norte para a formação de preços. Oportunidades pontuais somente acontecerão bem futuramente, quando o produtor já instalou sua semeadura, pois saberá ao certo o valor de custo da lavoura. Acredito que teremos uma safra com vendas antecipadas bem lentamente este ano, devido à incerteza dos preços do transporte para fevereiro e março".

Marlos Correa, Insoy Commodities

"Realmente está complicada a definição de preço para safra nova. Para as empresas, a formação dos fobbings dificulta pela dificuldade de travar o frete. Para as cerealistas e produtores que possuem silo e vendem no disponível uma opção que eu indico é trabalhar com as posições em separado. Travar os prêmios agora, aproveitando as indicações de prêmio de até 70 pontos sobre CBOT, travar uma operação de venda em Chicago, garantindo um  preço mínimo em dólar e mantendo a oportunidade de participar das altas e considerar fazer o hedge de câmbio, além de colocar na conta o frete tabelado para pelo menos ter uma referência ao produtor que queira travar seus custos. Estas operações proporcionam uma possibilidade de compensar um pouco a pressão que o frete está ocasionando neste momento. Para o produtor que entrega a safra para terceiros e queira se garantir no preço e está em dúvida, continuo falando para eles travarem pelo menos referente ao custo de produção e aguardar para que estes impasses comerciais  se definam um pouco mais. O mercado vai responder à pressão comercial de Trump e a China acaba voltando suas compras para o produto americano a partir de setembro/outubro, quando começa a entrar a safra nova americana. Acontecendo isso, os prêmios para soja brasileira recuam mais, movimento que já estamos vendo nesta última semana, e a tendência na CBOT é uma valorização pela retomada das compras chinesas". 

Luiz Fernando Gutierrez, Safras & Mercado

"Os preços estão abaixo do que se esperava para esta época do ano. Há um prêmio de risco muito grande sobre a soja, mas as tradings não oferecem isso porque ainda há muitas incertezas - eleições, dólar, os fretes - e essas incertezas deverão durar, pelo menos, até outubro. Assim, o produtor terá que aproveitar as oportunidades pontuais, principalmente os repiques do dólar".  

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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