Soja: Prêmios sobem no Brasil em dia turbulento em Chicago; negócios travados no mercado interno

Publicado em 06/05/2019 16:40 e atualizado em 06/05/2019 17:11
Orientação é de que produtores evitem novas vendas e esperem próximas definições entre China x EUA

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A mais recente participação de Donald Trump no Twitter sobre as relações da China com os Estados Unidos bagunçou ainda mais o mercado de commodities nesta segunda-feira (6), e os preços da soja vão terminando o dia com perdas de mais de 1% na Bolsa de Chicago, ou mais de 11 pontos nos principais contratos. 

O Bloomberg Grains Subindex Total Return, um índice da agência internacional para os preços dos grãos no mercado global, caiu para sua mínima desde 1997, ou seja, seu mais baixo patamar em 42 anos. 

"Um único tweet de Donald Trump acaba com qualquer otimismo de um acordo, principalmente nesta semana. Esperamos que a volatilidade continue bastante elevadada até que tenhamos alguma clareza sobre esta situação", diz Jacob Christy, trader da consultoria internacional The Andersons Inc, à Bloomberg. 

Ao longo do dia, as baixas foram ainda mais intensas na CBOT, com o contrato maio/19 batento na mínima de US$ 8,04 e o julho, o mais negociado neste momento, batendo em US$ 8,16 por bushel. 

Na contramão, os prêmios subiram no Brasil na tentativa de amenizar parte do recuo no mercado internacional. Somente nesta segunda-feira, as principais posições de entrega registraram ganhos de 4,17% a 14,29% em relação à última sexta-feira (3), e variam de 25 a 50 cents de dólar sobre os valores praticados ao longo do dia. 

Nos melhores momentos do dia para os pêmios, os valores chegaram a marcar algo até perto de 70 a 90 cents contra referências anteriores de 55 e 60 cents, com os vencimentos julho e agosto. Para o spot, conversas do lado vendedor de algo entre 55 e 60 pontos e do comprador, entre 40 e 42. 

"Isso aconteceu mesmo apesar de muitas tradings terem ficado ausentes do mercado e esperando pelo que virá pela frente. Se não houver nenhuma nova reviravolta e o governo dos EUA efetivamente elevar a tarifa de importação de 10% para 25% sobre o lote de produtos chineses, aí teremos certeza que os prêmios irão se firmar ainda mais", explica o economista e analista de mercado Camilo Motter, da Granoeste Corretora de Cereais. 

No entanto, o especialista afirma que é importante aguardade a efetivação desta medida. A alta, de acordo com os tweets de Trump e que ainda não foi oficialmente informada pelo governo norte-americano, aconteceria nesta sexta-feira. 

"Mas, de maneira geral, podemos falar em alta, ainda muito nominal, de algo entre 15 e 25 pontos nos prêmios em relação à semana passada", completa Motter. "Estes novos indicativos de prêmios acabaram compensando - até com vantagens - as perdas verificadas na CBOT. Mas, tudo isto é ainda muito no calor das palavras do Trump. Precisamos ver o que vai efetivamente acontecer", conclui. 

Subida dos prêmios ainda não compensou a queda em Chicago

No Brasil, o ritmo de novos negócios ficou ainda mais travado, com os compradores e vendedores redefinindo suas estratégias diante dessa reviravolta. E apesar dessa melhora nos prêmios, ela ainda não acontece na mesma medida em que caem os futuros na Bolsa de Chicago. 

"Para confirmar uma explosão dos nossos basis (prêmios) tem que haver um enxugamento das ofertas, deixar o mercado rodar, consumindo soja, o Brasil exportando soja e os chineses comprando soja aqui esses prêmios podem se fortalecer bastante, mas não tanto quanto aconteceu em 2018, por conta de uma produção na Argentina de praticamente 20 milhões de toneladas a mais este ano, e também a peste suína fazendo a China consumir pelo menos 6 milhões de toneladas a menos. Então, o mercado está aí fazendo seu papel", explica o analista de mercado Marcos Araújo, da Agrinvest Commodities.

Ainda segundo o executivo, uma soja com prêmio custo e frete China com 130 cents acima de Chicago registrou uma alta desse valor para algo próximo a 155. 

Os próximos movimentos dos prêmios agora irão, como explicaram analistas e consultores de mercado, depender dos próximos movimentos da China e dos Estados Unidos. Fato é que se a China voltar-se com força ao mercado brasileiro, esses valores serão, inevitavelmente maiores. 

Araújo explica também que os chineses têm ainda mais de 7,5 milhões de toneladas de soja compradas no mercado norte-americano, que poderiam ser canceladas ou revendidas por lá. "Fazendo essa compra vir para a América do Sul, poderia ficar no Brasil e temos também a oferta da Argentina, que hoje corre por fora, e que poderia limitar essa escalada dos prêmios aqui no Brasil", diz. 

Com a nação asiática trazendo essas compras para o mercado brasileiro, as exportações de soja do Brasil, de acordo com a análise da Agrinvest Commodities, passariam de algo entre 65 a 68 milhões de toneladas para um volume entre 72 e 75 milhões de toneladas, com compras de 7 a 10 milhões. 

Isso confirmado provocaria uma redução nos estoques nacionais de estimados 8 milhões para algo perto de apenas 1 milhão de toneladas. "Se a China voltar pesadamente a comprar no Brasil, acima de 7 milhões de toneladas, os estoques passam de 8 mi para 1 milhão de toneladas. Se comprar acima de 7 milhões, podemos ter um racionamento e esse racionamento vai se dar via alta dos prêmios, ou seja, um mercado descolado de Chicago", diz. 

Dessa forma, reforça-se a orientação de acompanhar quais serão as próximas notícias vindas dos dois lados - China e EUA - e por enquanto, tudo segue no campo das especulações, esperando definições e confirmações. 

Peste Suína reduz compras chinesas

Afinal, na outra ponta, há ainda os fatores negativos, como a redução das compras chinesas em função da epidemia de peste suína que acomete o país neste momento e reduz severamente seu plantel. Além disso, como lembra o analista, ainda é difícil afirmar que toda essa demanda chinesa se voltará para o Brasil. 

Os importadores também ainda não têm demonstrado uma corrida intensa para garantir suas compras diante de uma oferta mais 'confortável' de produt neste momento. "Ainda não bateu um desespero e eu vejo que o poder do mercado ainda está do lado do comprador neste momento", afirma o representante da Agrinvest. 

Diante de todos essas possibilidades de cenários, a orientação é de que o produtor, neste momento, evite novas vendas e observe as próximas definições. Momento é de buscar recomendações e definir, cada vez mais, estratégias de comercialização eficientes, que protejam suas margens de renda. 

"Nesse momento, a melhor estratégia seria o produtor esperar um pouco mais a definição desse mercado, já que temos uma tendência de valorização dos prêmios no curto prazo em função dessa mudança do quadro de oferta e demanda, com essa possibilidade da migração da demanda chinesa voltando a comprar mais ativamente no Brasil e ele fazer suas contas. E lembrando, ficar fora do mercado também é uma estratégia para o comprador e para o vendedor", conclui Araújo. 

Para as cotações na Bolsa de Chicago, as perspectiivas continuam indicando pressão, podendo fazer inclusive o bushel bater nos US$ 7,80 caso as baixas intensas se mantenham. A falta de demanda pela soja americana segue, o programa de exportações norte-americano tem o menor ritmo em sete ano e assim, os estoques finais da safra 2018/19 dos EUA poderiam, inclusive, ficar próximos de 30 milhões de toneladas.

A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, participa de reunião do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).Rovena Rosa/Agência Brasil

Crise comercial da China e EUA é janela de oportunidade, diz ministra Teresa Cristina

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse hoje (6) que um aumento das tarifas de importação dos Estados Unidos para produtos chineses pode beneficiar as exportações brasileiras do agronegócio.

Ontem (5), o presidente norte-americano, Donald Trump, disse pelo Twitter que pretende elevar as taxas de 10% para 25% para cerca de US$ 200 bilhões em mercadorias vindas da China. Nas postagens, Trump reclamou do que considera uma demora por parte da China para negociar um acordo comercial.

“Primeiro a gente precisa saber se foi só um recado durou ou se vai se efetivar. É claro que se os Estados Unidos e a China não entrarem em acordo e essas tarifas não voltarem ao que eram antes, realmente, é uma janela oportunidade a mais para o Brasil”, avaliou a ministra ao participar de reunião do Conselho Superior do Agronegócio na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Viagem para a Ásia

Tereza Cristina vai viajar na próxima madrugada para a Ásia. Ela vai liderar uma comitiva de 98 pessoas que passará pelo Japão, China, Vietnã e Indonésia ao longo de 16 dias.

Outro ponto importante nas relações comerciais entre a China e o Brasil é a peste africana que atacou duramente os rebanhos do país asiático. Segundo a ministra, por um lado, isso deve afetar as vendas de soja do Brasil para os chineses, uma vez que o alimento é usado como ração.

No entanto, há a possibilidade de aumentar as exportações de carne de porco. “A carne os chineses vão ter que importar dos Estados Unidos, do Brasil e de outros países para suprir a sua demanda interna. O Brasil vai poder colaborar um pouco para que esses preços da carne na China possam ter patamares menores do que estão hoje”, ressaltou.

Além da carne suína, Tereza Cristina disse que o Brasil pretende oferecer uma série de produtos para os chineses, como café, frutas e carne de frango. “Nós somos parceiros confiáveis. Nós temos qualidade e temos volume de soja, milho, que fazem parte da dieta dos animais. Nós temos outras proteínas que podem entrar nessa janela de oportunidades”, acrescentou.

No primeiro trimestre de 2019, as vendas de soja triturada do Brasil para China (US$ 4,75 bilhões) corresponderam a 9% do valor arrecadado com o total de exportações (US$ 52,6 bilhões). No período, de cada US$ 100 que o país captou com a venda do produto em todo o mundo, US$ 77,48 vieram da China. (Agencia Brasil)

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas/AgenciaBrasil

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1 comentário

  • Cassiano aozane Vila nova do sul - RS

    Buenas, alguém ai que vive exclusivamente da renda da soja consegue ficar até fim do julho enrolando, sem vender soja ? Conta ai qual é o milagre, porque os boi estão bem na frente da carroça, porem nunca param de comer nem de beber...,.e o boleto maldito é todo mês...

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    • Tiago Gomes Goiânia - GO

      Bom questionamento Cassiano. Sempre tive duvidas quanto a esse percentual de soja que ainda esta para venda. Me parece superestimado, ainda mais nesse cenário de contas apertadas.

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    • GERALDO JOSE DO AMARAL GENTILE Ibaiti, Parana, Brasil - PR

      Não conheço nenhum. Pelo contrário, estamos vivendo uma terrível crise de liquidez com dívidas renegociadas, postergadas à força ou simplesmente executadas. Nunca vi tamanha falta de dinheiro no setor sojeiro. Sobram contas e faltam soja, preço, produtividade e chuva para ajudar o milho safrinha. Se existe algum alento, é que a maioria ainda está respirando. Por aparelhos, mas respirando.

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