Movimento da China de suspender compras nos EUA melhora condições de preço da soja do Brasil

Publicado em 05/08/2019 17:19
A retaliação dos chineses - desvalorizando o yuan - teve reflexos no mercado brasileiro hoje. O dólar subiu 1,60% e fechou a R$ 3,956, sua maior cotação desde 30 de maio. O índice da Bolsa de São Paulo, por sua vez, recuou 2,5%.

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Estável. Foi assim que o mercado da soja fechou o dia na Bolsa de Chicago depois de uma segunda-feira extremamente agitada e volátil em quase todos os mercados. Os últimos movimentos de China e Estados Unidos na guerra comercial chegaram impactando todos os mercados financeiros, de ações e commodities e com a oleaginosa não foi diferente. Mais cedo, o mercado que encerrou os negócios com pequenas variações de nem 1 ponto entre os contratos mais negociados, perdia mais de 10 pontos, levando as cotações aos seus mais baixos patamares desde o final de maio. 

O mercado sentiu, a princípio, o peso das notícias de que a China pediu às suas estatais que suspendam compras de produtos agrícolas norte-americanos e de que o Banco Central chinês teria permitido, pela primeira vez em mais de dez anos, que o yuan rompesse a marca dos 7 por dólar. A medida promoveu uma pressão severa sobre os futuros da oleaginosa, uma vez que sinaliza uma distância ainda maior entre os dois países para que alcancem um acordo. 

Para o analista sênior da INTL FCStone, Darin  Friederichs, em entrevista à agência internacional, "as grandes compras agrícolas norte-americanas são a maior alavancagem" que a China possui agora, sendo essa sua principal carta. Afinal, "isso afeta diretamente o setor agrícola norte-americano ainda mais, que é uma das principais bases eleitorais de Donald Trump. Se eles reagirem antes da eleição, essa é maneira mais óbvia de retaliação", diz. 

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Na sequência, as previsões climáticas atualizadas no meio do dia indicando condições mais preocupantes para o Corn Belt na segunda quinzena de agosto permitiram que o mercado desse uma pausa nas baixas para retomar seu fôlego e recuperar alguns patamares importantes. 

A incerteza sobre a realidade e o futuro da nova safra dos Estados Unidos mantém os preços ainda sem uma direção bem definida e também uma cautela maior por parte dos traders no mercado internacional neste momento. 

"Eu acredito que de hoje e a 12 de agosto, quando chega o novo boletim do USDA, seja difícil o novembro operar abaixo de US$ 8,50", diz Ênio Fernandes, consultor em agronegócio da Terra Agronegócios. "Isso porque não há sinalização da safra americana, qualquer coisa seria um chute", completa. 

O vencimento fechou o dia com US$ 8,68 por bushel, mas mínima do dia, a posição bateu nos US$ 8,54. O contrato janeiro/20 fechou a segunda-feira com US$ 8,82, enquanto o maio/20, que é referência para a nova safra brasileira ficou em US$ 9,04. 

SOJA DO BRASIL

E por falar em soja brasileira, todo essa escalada das tensões entre Xi Jinping e Donald Trump continuam a sinalizar que a demanda chinesa pela soja brasileira segue forte e com sinais de crescimento. Nesta segunda-feira, a Cofco International projetou uma alta de 5% em suas importações de grãos do Brasil ao ano. A informação foi feita pelo chairman do grupo, que é uma das maiores tradings estatais chinesas, Jingtao Chi, durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio) e pela B3. 

“A parceria da nossa empresa com os produtores brasileiros será cada vez mais aperfeiçoada, principalmente agora com um ambiente de negócios mais seguro e estável”, disse Chi em sua participação no evento. Ainda segundo ele, o estreitamento das relações entre China e Brasil é uma realidade que só tende a se intensificar. 

Somente na semana passada, depois do anúncio de Trump sobre novas tarifas de 10% em US$ 300 bilhões em produtos chineses, foram mais de meio milhão de toneladas de soja brasileira à nação asiática, segundo relatou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. 

Essas notícias e esses movimentos têm promovido um espaço de recuperação e retomada dos prêmios no mercado brasileiro, porém, ainda de forma limitada. Ainda como explica Brandalizze, os chineses têm forçado menos nos prêmios observando a compensação que os preços brasileiros têm encontrado no câmbio. 

O dólar voltou, nos últimos dias, a superar os R$ 3,90 e dar boas oportunidades de comercialização para o Brasil. 

Nesta segunda, somente nos portos, os preços da soja subiram mais de 1%. Ainda segundo Vlamir Brandalizze, foram registrados indicativos de até R$ 83,00, enquanto na última sexta-feira (2), as referências variavam entre R$ 81,00 e R$ 81,50 por saca. 

No interior do país, os ganhos chegaram a bater em 3,97%, como foi o caso de Castro, no Paraná, onde o preço da saca foi a R$ 78,50 por saca. A maior parte das principais praças de comercialização registraram ganhos de mais de 1% neste início de semana. 

"Com as notícias de que os Estados Unidos deverão impor uma nova tarifa de 10% sobre US$ 300 bilhões em produtos chineses, vendedores brasileiros têm expectativa de maior demanda externa. Esse cenário, que aumentou a liquidez, e a valorização cambial elevaram os preços domésticos nos últimos dias", disse o Cepea em seu alerta desta segunda-feira.

Entretanto, o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz Pereira, alerta para os efeitos desse conflito que estão às suas margens. 

"Enquanto os dois gigantes estão brigando, nós aqui ficamos nessa incerteza, sem saber o que fazer nesse momento. Temos dificuldade de ter a referência na Bolsa de Chicago, e esse é um dos problemas. Se a nossa referência é essa e a soja está represada nos EUA por conta disso, ela começa a jogar os preços para baixo e temos os prêmios aqui (no Brasil) que nem sempre compensam", diz Pereira. 

E dessa forma, "o chinês está comprando a soja barata, o produtor brasileiro, por uma dificuldade ou outra, tem que vender, os custos de produção estão muito altos, e eles já está planejando a próxima safra, mas nesse momento o produtor está um pouco incerto, do que fazer e como fazer". 

No link a seguir, veja a entrevista do presidente da Aprosoja Brasil na íntegra, direto do Congresso Brasileiro do Agronegócio, dada a João Batista Olivi. 

>> Aprosoja Brasil diz para produtor segurar vendas e aguardar o desenrolar do embate China x EUA

Chinesa Cofco prevê ampliar aportes no Brasil e aponta maiores compras de soja brasileira

Logo da Cofco na sede da empresa em Pequim, na China
  • Logo da Cofco na sede da empresa em Pequim, na China 

SÃO PAULO (Reuters) - A negociante chinesa de commodities Cofco planeja aumentar os investimentos em suas operações no Brasil, uma vez que o ambiente de negócios local deve melhorar após a aprovação de importantes reformas econômicas no país, disse o presidente do conselho da empresa, Johnny Chi, nesta segunda-feira.

Ao falar durante evento do agronegócio em São Paulo, Chi afirmou que a Cofco está avaliando investimentos como novos armazéns e melhorias em sistemas de transporte no Brasil.

"Nós esperamos ter um ambiente de negócios mais previsível e seguro. É um bom momento para pensar em como nós podemos aprofundar essa parceria", disse ele, durante sua apresentação.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil e a maior compradora de commodities junto ao país. A Cofco é importante comercializadora de soja e milho no país, assim como uma grande produtora de açúcar e etanol.

O governo brasileiro está buscando promover diversas reformas, incluindo a da Previdência e a tributária, com o objetivo de melhorar o equilíbrio fiscal do país e aumentar o interesse de investidores.

Chi, que falou em mandarim e teve a ajuda de intérprete, disse que a companhia, que comprou as rivais Nidera e Noble Agri em 2014, ainda está em busca de oportunidades de crescimento, mas não especificou áreas ou alvos em potencial.

Ele disse esperar que os negócios entre a Cofco e produtores brasileiros sejam fortalecidos nos próximos anos.

A Cofco aumentou fortemente o volume de soja originado no Brasil, exportando quase 11 milhões de toneladas no ano passado, ou quase 20% a mais que em 2017. A disputa comercial entre Estados Unidos e China foi um dos grandes fatores por trás dessa alta.

Questionado por jornalistas sobre sua visão em relação à guerra comercial, o executivo recusou-se a comentar.

O executivo afirmou que a Cofco espera comprar em volume 5% mais soja brasileira por ano pelos próximos cinco anos.

MEIO AMBIENTE

Chi disse que a negociante de commodities chinesa visa favorecer o crescimento sustentável da produção agrícola brasileira. Os comentários acontecem em um momento em que avançam as críticas ao governo brasileiro a respeito do desmatamento.

"Vemos um grande potencial de crescimento na agricultura brasileira. Enquanto isso, o país é bem conhecido por sua beleza e recursos naturais, especialmente na floresta Amazônica. Ambos não são incompatíveis", afirmou.

O presidente do conselho disse ainda que a Cofco está estabelecendo um programa para facilitar o financiamento de longo prazo para a produção de soja em terras abertas no Brasil.

"O Brasil possui mais de 25 milhões de hectares de terra aberta, que são viáveis para a agricultura. Esperamos que nosso programa ofereça incentivo financeiro apropriado para a produção sustentável", disse Chi, acrescentando que a empresa planeja impulsionar suas operações em energia renovável no Brasil, onde já opera quatro usinas de etanol. (Por Ana Mano e Marcelo Teixeira)

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas/Reuters

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1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    O Brasil optou em ser um produtor de commodities primárias e, chegamos no topo. Ou seja, somos o maior exportador de minério de ferro e soja. E agora José?

    No caso do minério de ferro, a empresa pública Vale do Rio Doce foi "privatizada" e, passou a ser chamada Vale. Uma coisa que muitos não entendem é que o governo continuou sendo seu maior sócio e, a influência em sua gestão, como o protecionismo de "compadrio" levou aos desastres de Mariana e Brumadinho.

    Volto a perguntar: E agora José?

    Quanto a soja, ela é uma commodity cujo valor é precificado em dólar. Isso é o que sempre ouvi. E que é um produto facilmente exportável, então "sempre" vai haver uma demanda e, a venda "sempre" vai gerar uma renda em dólares.

    Ocorre que nos últimos tempos, "a porca torceu o rabo" e, a renda virou sinônimo de prejuízo.

    Aí, pergunto novamente: E agora José?

    Se olharmos o globo terrestre, a Ásia e Europa são próximas. A África está aquém do Mar Mediterrâneo desses dois continentes. Ocorre que a China de Xi Jinping, lançou em 2013, um mega projeto "Um Cinturão, Uma Rota", que é amplamente visto como o esforço da China para aumentar sua influência global, principalmente através do financiamento e construção de ferrovias, mar e outras rotas de transporte que vão da Ásia à Europa e à África.

    Todos sabem que a África possui extensas áreas de terras que podem ser exploradas para a produção de alimentos e, já existem alguns países que os chineses estão incentivando a produção de arroz irrigado. É só questão de tempo, os africanos serão adeptos ao Confucionismo.

    E, nós continuaremos a ser "O País do Futuro"!

    Aí, pergunto: ATÉ QUANDO JOSÉ ???

    Alguém já ouviu falar em "agregar" valor a matéria-prima, que no caso são as commodities primárias.

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Sr. Rensi, muito se poderia dizer sobre o futuro, mas mais sobre o passado, pois é sobre e através desse último que chegamos ao presente. A caracteristica que define o que é o futuro é que esse é incerto. Mas quero comentar sobre o maoismo que é o regime que vigora até hoje na china, regime que até hoje ninguém sabe ao certo quantos milhões de pessoas foram assassinadas. Mao Tsé apontava para o partido a necessidade de se enraizar nas condições nacionais... essa é uma citação dele..."um comunista é um internacionalista marxista, mas o marxismo tem que assumir uma forma nacional antes de ser aplicado". Essa é a filosofia do partido comunista chines, e os comunistas chineses nao estão preocupados com o desenvolvimento e enriquecimento do Brasil, a única coisa que interessa a eles é poder.

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