Soja: Brasil tem pouco mais de 30 mi de t da safra 20/21 que serão disputadas entre exportação e demanda interna

Publicado em 27/07/2021 18:09

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O mercado brasileiro da soja registra um momento de redefinição de estratégias, com os produtores terminando seus preparativos para o start a ser dado na safra 2021/22 em pouco mais de um mês, atento em como se desenvolve a nova safra norte-americano e monitorando o comportamento da demanda pela oleaginosa nacional, tanto ao que se refere do volume remanescente da temporada 2020/21, quanto da nova.

Como explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, trata-se de um "momento de calmaria, com os produtores esperando, com o setor na retaguarda". Afinal, a tendência é de que neste segundo semestre a demanda interna se intensifique, disputando o montante restrito de soja da safra velha com a exportação, que ainda embarca bons volumes. 

De acordo com o último reporte da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), o Brasil, no acumulado de julho, exportou pouco mais de 7 milhões de toneladas, levando o total do ano a 68,4 milhões de toneladas, o que supera o número de 2020 que, neste período, era de 66 milhões. 

"O acumulado é recorde histórico e, no complexo soja, também temos recorde com 79,4 milhões, contra 77,5 milhões do ano passado. Se fizermos um paralelo, a safra deste ano foi maior e já embarcamos 58% das 136,8 milhões, ano passado era 62% das 125,4 milhões. Seguimos com recorde, o Brasil liderando o quadro mundial da soja e com boas perspectivas também para 2021", diz Brandalizze. 

Também segundo o consultor, o Brasil tem algo entre 30 e 32 milhões de toneladas para serem comercializadas da safra velha e já há pontos do país onde o mercado interno já paga melhor do que a exportação. O mercado nacional vai cada vez mais se descolando de Chicago, com as praças de comercialização refletindo suas realidades de oferta e demanda, com chances de preços ainda bastante remuneradores. 

Todavia, ele reforça que os sojicultores evitam novos negócios agora e optam por entender qual o caminho real que o mercado deve fazer. "O Rio Grande do Sul, por exemplo, ainda tem muita soja, mas o produtor afirma que por enquanto não quer fazer novas vendas e que volta ao mercado só a partir de outubro", relata Brandalizze. De outro lado, Mato Grosso já tem menos volumes agora e os novos negócios para quem tem alguma soja ainda remanescente são ainda mais raros. 

A retomada dos 12% de mistura obrigatória do biodiesel foi definida para o 81º leilão de biodiesel e pode durar, segundo especialistas, pelo menos até o final do ano, o que também poderia ajudar a intensificar a demanda interna, exigindo mais do esmagamento. O percentual vinha sendo de 10% depois da decisão, há alguns meses, do Ministério de Minas e Energia e trouxe preocupação ao setor sobre a quantidade de soja a ser processada nesta temporada, a qual deveria se encerrar com recorde. 

A última estimativa da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) é de que o esmagamento brasileiro de soja seja de 46,5 milhões de toneladas em 2021, contra 46,845 milhões de 2020. Já para as exportações, o número da entidade é de 86,7 milhões de toneladas, 4,5% a mais do que no ano passado. 

Neste quadro, os preços tendem a permanecer elevados, também como explicam analistas e consultores, o que alimenta esse comportamento do produtor brasileiro para segurar os negócios. No mercado disponível, as referências nas principais praças de comercialização seguem acima dos R$ 150,00 por saca, tendo registrado bons ganhos nesta terça-feira, acompanhando o avanço das cotações na Bolsa de Chicago. 

Os indicativos subiram mais de 1% em quase todo Brasil, como em Ubiratã, no Paraná, onde o preço foi a R$ 153,00, com alta de 1,32%; Primavera do Leste, Mato Grosso, com alta de 1,29% para R$ 165,00 ou Brasília, no Distrito Federal, onde o ganho deoi de 2,19% para R$ 163,50 por saca. 

Em Chicago, os futuros da oleaginosa terminaram o dia com ganhos de 1,50 a 5,50 pontos nos principais contratos, com o agosto sendo cotado a US$ 14,18 por bushel, e o setembro, US$ 13,67. Ao lado da CBOT, as altas dos prêmios também são outro ponto de suporte para as cotações da soja no mercado nacional. São referências que variam entre 75 cents e US$ 1,30 por buhel sobre Chicago, o que resulta em bons preços sendo formados também nos portos. 

"Temos indicativos na casa dos R$ 170,00 no mercado de porto, mas sem vendedor, bem como nos R$ 173,00 para setembro. Mercado de poucos negócios", complementa Brandalizze sobre as referências desta terça-feira. "Seguimos com boas cotações e indicativos firmes em função da condição desfavorável da safra americana neste ano", conclui o consultor. 

BOLSA DE CHICAGO

O avanço das cotações continua sendo reflexo das condições de clima adverso nos EUA, o que já resultou em uma correção para baixo nos índices de lavouras em boas ou excelentes condições pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) em seu reporte divulgado no final da tarde desta segunda (26). 

De acordo com o boletim, o índice de lavouras de soja em boas ou excelentes condições caiu de 60% para 58% na semana. Há um ano eram 72%. 30% dos campos estão em condições regulares e 12% em condições ruins ou muito ruins, contra 29% e 11% da semana anterior da semana passada. 

"As áreas produtivas do norte e algumas áreas do centro continuam estressadas pelas elevadas temperaturas e clima predominantemente seco das últimas semanas o que reflete nas classificações", explica o diretor geral do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa.

E os mapas atualizados seguem mostrando chuvas mal distribuídas, ainda limitadas no oeste do país, e temperaturas elevadas, o que pode continuar prejudicando as lavouras caso o cenário se mantenha dessa forma. 

"Os modelos continuam indicando clima predominantemente seco nas Dakotas, Nebraska, oeste do Kansas, sul do Texas, Minnesota e norte do Iowa. Chuvas leves a moderadas nas demais regiões", complementa Sousa.

O que ainda paira de dúvida sobre o mercado da soja na CBOT são as notícias do front da demanda. Com margens apertadas de esmagamento e também para a suinocultura no país, a nação asiática vem fazendo apenas compras pontuais, "da mão para a boca", e ainda concentradas na América do Sul. 

"Agora que o Brasil está esgotado de soja, a China vai voltar a comprar soja dos EUA? O Rio Paraná, na Argentina, está com seu nível nas mínimas em 77 anos. O rio está tão baixo que os navios não podem atravessá-lo, o que encarece ainda mais as despesas logísticas. E esta é a mesma janela de tempo que a China aproveitou para começar a comprar agressivamente soja americana há um ano", diz Al Kluis, consultor americano da Kluis Advisors, ao portal Successful Farming. 

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Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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