''Rei da soja'' toma coroa do primo
Aparando um punhado de pés de soja, barba por fazer e coberto de pó, Eraí Maggi Scheffer, 51 anos, se confunde com trabalhadores empenhados na colheita do grão, em Rondonópolis, sul de Mato Grosso, a 202 km de Cuiabá. O homem que segue o rastro da colheitadeira catando as vagens que ficam para trás acaba de consolidar sua posição como o maior produtor de soja do Brasil e, provavelmente, do mundo.
Scheffer plantou nesta safra 223 mil hectares da oleaginosa, a maior extensão já cultivada no País por um único produtor. Com produtividade de 54 sacas por hectare, maior que a média do Estado, ele fechará o ano agrícola 2009/10 com produção de 11 milhões de sacas, ou 662,5 mil toneladas, grãos suficientes para encher 17 mil carretas duplas. A área plantada equivale à metade de todo o cultivo de soja do Estado de São Paulo e sua produção corresponde a 60% da produção paulista. A renda anual com o grão chega a R$ 300 milhões.
Eraí divide os méritos dos negócios com os irmãos Elusmar e Fernando e o cunhado José Maria Bortoli, seus sócios, mas é ele quem está no comando do grupo Bom Futuro, um império formado por 36 fazendas. Além da soja, planta 74 mil hectares de milho e 51,5 mil de algodão - 6% da área de plantio do Brasil.
O novo rei da soja tomou a coroa que pertencia ao primo Blairo Maggi, governador do Estado. O grupo André Maggi plantou 168 mil hectares e continua crescendo, mas não acompanha a incrível taxa de expansão das áreas cultivadas por Eraí. Na safra 2003/04, ele plantou 78,7 hectares de soja. Três anos depois, a área saltou para 113,4 mil e, nos três anos seguintes, praticamente dobrou, com crescimento superior a 20% ao ano. Nas épocas áureas, Olacyr de Moraes, o primeiro a receber a alcunha de rei da soja, plantava 50 mil hectares.
Filho de pequenos agricultores de Torres (RS), Eraí começou a trabalhar na lavoura ainda menino, em São Miguel do Iguaçu, Paraná, para onde a família se mudou. Terceiro de sete filhos, cultivava com os irmãos uma área de 65 hectares. "Não tinha máquina, era tudo na mão."
Quando o pai morreu, em 1976, assumiu os negócios. Sem dinheiro para comprar mais terras, passou a arrendar dos vizinhos, uma novidade na época. "Tínhamos comprado um trator, o que era um diferencial", lembra. Com o aluguel de terras, expandiu o cultivo para 240 hectares. No início da década de 80, vendeu o sítio no Paraná e migrou com os irmãos para Mato Grosso do Sul, em busca de terras mais baratas. Foi quando descobriu a soja. "Arrendei 2 mil hectares e pagava o aluguel com o próprio grão." Em 1993, tinha o suficiente para comprar a primeira fazenda, a Bom Futuro.
Hoje, as fazendas se espalham pelas regiões de Rondonópolis, Sapezal, Campo Verde, Diamantino e Canarana. A frota de colheitadeiras, com mais de 300 unidades, ganhou 60 novas máquinas este ano. A pulverização das lavouras é feita com aviões próprios. O grupo desenvolveu um sistema de integração lavoura-pecuária que permite manter um rebanho de 40 mil bois em rotação com as culturas. Também produz sementes e energia elétrica - a primeira hidrelétrica própria funciona na região de Diamantino.
A atual menina dos olhos de Eraí é um projeto de piscicultura para criação de espécies como matrinxã, pacu, piraputanga, tambaqui, pintado e tilápia. "Também estou construindo um frigorífico para abater até sete toneladas por dia." O número de funcionários pulou de 1,2 mil em 2005 para 3,8 mil este ano.
Na cidade, conserva a fama de homem simples. "Nem parece ter a fortuna que tem", diz o frentista Genivaldo Costa, do posto que Eraí frequenta. "Ele entrega a chave do carrão e conversa com os funcionários enquanto toma um café." Com três filhos - dois rapazes e uma jovem que o ajudam na empresa -, raramente se permite alguma ostentação, como no ano passado, quando reuniu 2 mil convidados na festa dos 50 anos. Para animar o evento, contratou a dupla Chitãozinho e Xororó. Nas fazendas da região, as porteiras se abrem para Eraí. "É um bom parceiro nos negócios", diz o produtor Joel Strobel, da fazenda Guarita. Ele ouve os conselhos do amigo. "Se tiver armazém, segure a soja, que o preço vai subir."
Política. Empresário rural bem-sucedido, Eraí acabou entrando na política. É um dos principais líderes do PDT em Mato Grosso. Em 2002, indispôs-se com o primo governador ao integrar a chapa do então governador Dante de Oliveira (PSDB), já falecido, na disputa do Senado contra o grupo de Blairo. Ele não se elegeu, mas a rusga com o primo durou vários anos. Recentemente, se reaproximaram. Cotado para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados, desconversa e elogia o primo: "Vai ficar na história como o governador das estradas e das casas populares".
Eraí participou de uma parceria de empresários com o governo do Estado para a pavimentação de uma rodovia na região de Sapezal. Entrou com 2 mil sacas de soja. Culpa a falta de obras federais pelo apagão logístico que atrapalha a safra, mas é ouvido pelas autoridades quando se trata de infraestrutura. Há duas semanas, participou de reunião com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o governador.
Aos produtores que se queixam, costuma dizer que a agricultura não dá prejuízo: "Tem de produzir sempre e bem, dando tudo o que a planta precisa". Ele segue à risca sua lógica. Assessorado por uma legião de técnicos e agrônomos, tira duas safras cheias por ano na mesma área. Mal colhe a soja, planta algodão ou milho. "Estamos longe dos portos, mas numa região privilegiada." Para Eraí, o Brasil não demora a ser o maior produtor de grãos do mundo. "Vou continuar fazendo a minha parte."
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