Soja: Colheita de aluguel

Publicado em 06/04/2010 08:22 e atualizado em 08/03/2020 21:03
Terceirização de operações agrícolas ainda é incipiente no Brasil, mas cresce ano a ano, acompanhando a expansão da agricultura na região Centro-Norte.
A tendência de terceirização de serviços chegou ao campo. Para enxugar custos e viabilizar a produção de soja em fronteiras agrícolas, produtores que desbravam o Cerrado brasileiro recorrem ao aluguel de máquinas. A terceirização das operações, que até pouco tempo atrás se resumia a agricultores que alugavam suas máquinas para seus vizinhos, tem se profissionalizado e vem se mostrado um bom modelo de produção.

“O aluguel é muito comum na região. A frota é antiga e sucateada e o produtor está descapitalizado. Como só dá para fazer uma safra por ano, não compensa investir em uma colheitadeira que só vai ser usada alguns meses. Cerca de 30% das máquinas que estão colhendo soja aqui vieram do Sul do país”, observa Wanderlei de Souza, técnico da Cooperativa Agroindustrial do Tocantins (Coapa), de Pedro Afonso. Ele explica que ao invés de imobilizar o capital na aquisição de máquinas o produtor pode investir em outras áreas ou na própria agricultura.

A prática também permite que custos fixos sejam transformados em variáveis. Quando compra uma máquina nova, além do valor do equipamento, o produtor também tem de arcar com despesas como depreciação, manutenção, abrigo, seguro e mão-de-obra . Já quando recorre à locação, esses custos são repassados ao prestador de serviço, que também gasta menos porque dividide as despesas entre várias propriedades.

A terceirização de operações agrícolas é muito utilizada em alguns países, mas ainda está engatinhando no Brasil. Na Argentina, cerca de 75% dos trabalhos são realizados por prestadores de serviço, os chamados contratistas. No Brasil, a prática é incipiente, mas cresce ano a ano, acompanhando a expansão da agricultura no Centro-Norte. 

João Alberto Dall’agnol cultiva 18 hectares de grãos em Medianeira, no Oeste do Paraná, mas ganha a vida fora da porteira. Há dez anos presta serviços de colheita. Começou com uma máquina e hoje tem quatro. Há sete anos, Dall’agnol sobe para o MaToPiBa para colher lavouras de soja no Maranhão e Tocantins. Além das colheitadeiras, leva para o Centro-Norte quatro operadores e dois supervisores, junto com meio caminhão de peças. Aos custos com mão-de-obra e manutenção dos equipamentos somam-se também as despesas de transporte. “Subir e descer com as quatro máquinas custa cerca de R$ 50 mil”, calcula.

O proprietário da área arca com os custos de óleo diesel e paga a Dall’agnol 2,5 sacas de soja por cada hectare colhido. O valor do serviço é fixo, independente do rendimento da lavoura ou da cotação da soja. Por isso, em anos de mercado em baixa como este, a rentabilidade do negócio fica comprometida. “Se for ver pelo preço da soja, na verdade estou recebendo 1,8 saca por hectare pelo serviço. A cotação caiu de R$ 40 no ano passado para R$ 30”, relata.

Ainda assim, vale a pena, considera Dall’agnol. O segredo, afirma, é o planejamento. É preciso se adaptar ao calendário agrícola das diferentes regiões produtoras para potencializar a lucratividade. Até fevereiro, Dall’agnol se ocupou com a colheita de áreas próprias e de vizinhos do Oeste do Paraná. Em março chegou a Pedro Afonso, no Tocantins, onde deve ficar até abril. Em maio, segue para a região de Chapadinha, no Maranhão. “Só não sei se subo com duas ou quatro máquinas. Se for com duas, mando a outras duas de volta para o Paraná para colher a safrinha de milho”, diz.

Paraná
Apesar de ser mais comum em regiões onde a soja ainda está em expansão, como o MaToPiBa, o aluguel de máquinas também ganha espaço em áreas onde a agricultura de grãos já está consolidada. O caso do agricultor paranaense Ernesto Hennipman, é um exemplo.

Para ele, março é uma das épocas mais movimentadas do ano. Além de colher os 320 hectares que cultiva em Tibagi, nos Campos Gerais, ele presta serviço para produtores da região. Começou ajudando vizinhos, há mais de trinta anos. Hoje tem uma frota de nove colheitadeiras e atende “todo tipo de gente, de pequeno agricultor até produtor que tem mais de mil hectares”.

Pelo serviço, recebe entre três e quatro sacas de soja por hectare. “Com o preço que a soja está hoje, vou ficar no vermelho neste ano. Os gastos com encargos trabalhistas pesam muito no bolso”, explica Hennipman, que emprega cerca de dez funcionários efetivos.
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Fonte:
Gazeta do Povo

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