Soja: A produtividade e o preço da terra no Paraná

Publicado em 19/04/2010 08:11
Às vésperas de finalizar a colheita de uma safra recorde de soja, a agricultura paranaense se prepara para sofrer, também, os efeitos da cultura sobre a economia. Um deles é no preço das terras rurais. À medida que a cotação da soja varia, o valor médio do hectare também costuma oscilar. Mas uma pesquisa divulgada na última semana mostrou que, por mais que o preço do grão esteja em queda, o valor das terras no Estado atingiu um limite mínimo e vem caindo pouco. E, por não ser interessante para a venda, as negociações estão estagnadas.

O levantamento foi feito pela AgraFNP Consultoria, e refere-se ao primeiro bimestre do ano. A pesquisa identificou que os preços médios, no País, estão em R$ 4.599 por hectare, praticamente estáveis (leve alta de 0,12%) em relação ao último bimestre de 2009, mas valorizados em 3,9% na comparação com os valores de um ano antes.

No Paraná, os valores são bem maiores. Em janeiro e fevereiro, a cotação estava em R$ 9.220 por hectare. O valor é 2,07% menor que os R$ 9.415 de novembro e dezembro do ano passado, mas 2,29% superior aos R$ 9.014 identificados pela pesquisa nos primeiros dois meses de 2009.

O último preço levantado é um pouco menor que a média da região Sul - os três estados têm as maiores cotações do País. O valor, de R$ 9.486 por hectare, teve leve queda em relação aos R$ 9.493 cotados nos últimos dois meses do ano passado. Nos últimos 12 meses pesquisados, no entanto, a região teve a maior valorização do País. No período, os preços de terras subiram, em média, 7,5%.

Sacas

A analista do mercado de terras da AgraFNP, Jacqueline Bierhals, explica que, no Paraná, assim como nos outros Estados do Sul, os valores das áreas são indexados em sacas de grãos. No caso paranaense, é a soja que costuma determinar o valor. Porém, ela afirma que, mesmo com as recentes quedas nos preços dos grãos, os preços dos imóveis vêm se sustentando.

"O valor das terras travou [na região Sul]. As pessoas não querem vender por um preço muito baixo", diz a analista. Ela dá um exemplo hipotético de uma área de terra fértil, que vale 500 sacas por hectare. Se uma saca de 60 quilos de soja chega a um pico de R$ 45 na região, cada hectare da propriedade valerá R$ 22,5 mil. Se o preço do grão cai para R$ 31 (valor da última cotação), de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), a cotação da área reduz para R$ 15,5 mil. "A esse patamar, ninguém quer vender", conclui Bierhals.

Estável

De acordo com a analista da AgraFNP, o mercado de terras no Paraná vem apresentando estabilidade, e isso pode explicar a diferença nos preços e variações em relação aos outros estados sulistas. No Rio Grande do Sul, por exemplo, os negócios estão um pouco mais aquecidos devido a um certo rearranjo da produção: produtores de arroz e soja, principalmente, estão empurrando a pecuária para outras terras, o que vem gerando demanda por fazendas com pastagens.

Outro fato comum, segundo Bierhals, é a reavaliação dos valores, no caso da cotação da soja persistir em baixa durante muito tempo. Também é comum não entrar dinheiro algum na operação, sendo tudo negociado em sacas mesmo. "E nesse caso é preciso de liquidez no mercado", afirma, esclarecendo que o vendedor precisa que, no prazo programado para o pagamento, a cotação da soja se mantenha em um bom valor. O comprador, por sua vez, não pode correr o risco de ver os preços do grão dispararem entre o fechamento do negócio e a data do pagamento.
Agora faltam armazéns para produção

Com mais de 92% da safra 2009/2010 colhida, no caso da soja, e 79%, no caso do milho primeira safra, a preocupação, em algumas regiões do Paraná, passou a ser a armazenagem dos grãos. O problema está no fato dos locais possuírem capacidade de armazenagem relativamente pequena, se considerada a safra recorde prevista. A situação obrigou cooperativas e produtores a improvisarem na hora de estocar a produção, utilizando ginásios, pátios e até piscinas para guardarem os produtos. Mas, apesar do aperto, a situação, segundo os produtores, já está sob controle. De acordo com as últimas estimativas, a safra paranaense de grãos deve ultrapassar os 30 milhões de toneladas colhidas no ano, sendo cerca de 20 milhões só nas safras de verão de soja e milho. Se somados outros produtos, como o feijão e o arroz, estima-se que estejam sendo colhidos, atualmente, 22,5 milhões de toneladas no Paraná. De acordo com o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Flávio Turra, a capacidade de armazenagem do Estado é de aproximadamente 25,5 milhões de toneladas. O problema é que parte dessa estrutura ainda é usada para estocar milho e trigo provenientes de safras anteriores e que ainda não foram comercializados. "Com a colheita da safra atual, todos os espaços foram ocupados", informa. Turra assegura que a qualidade dos produtos não será afetada pela armazenagem improvisada. "Nessas condições, eles podem ser armazenados por até 45 dias", diz. Como mais de 25% da soja e quase 20% do milho já foram comercializados, a preocupação já não é mais tão grande.

Transporte

Apesar de algumas filas de caminhões ainda se formarem em direção ao Porto de Paranaguá, Turra não vê grandes possibilidades de problemas no transporte dos grãos. Para ele, a não ser que ocorra um período muito grande de chuvas, a safra deve escoar bem este ano. Um dos principais motivos apontados por ele para justificar a tranquilidade é o mercado internacional, que está forçando uma comercialização mais distribuída ao longo do ano. A maior causa disso é um aumento de 40 milhões de toneladas na produção mundial, que passou de 210 milhões para 255 milhões de toneladas. Atualmente, é a produção norte-americana que está no mercado, que está começando a abrir espaço aos grãos produzidos na América do Sul. (HM)
São Paulo e Mato Grosso entre as mais caras

Apesar das terras da região Sul serem as mais caras do País, os destaques do início deste ano, segundo a analista do mercado de terras da AgraFNP, Jacqueline Bierhals, ficaram com São Paulo e Mato Grosso do Sul. Para ela, os estados começaram 2010 com tendência para reverter antigos movimentos de desvalorização.

No caso de São Paulo, Bierhals afirma que o catalisador vem sendo o setor sucroalcooleiro, que vinha amargando prejuízos nas últimas duas safras, pelo menos, mas vem dando sinais de recuperação este ano. Ela diz que os últimos resultados do setor vêm
surtindo efeitos imediatos no mercado da terra, já que os investidores do ramo voltam a ter espaço para investir em propriedades rurais.

Já em Mato Grosso do Sul, as oportunidades estão aparecendo na região de Três Lagoas, próxima à divisa com São Paulo, até a região mais próxima à capital, Campo Grande. Segundo a analista, está se formando, no local, um polo forte de florestas de eucalipto,
destinado à produção de papel, celulose e carvão.

De acordo com a última pesquisa da AgraFNP, o preço médio na região Sudeste teve um ligeiro aumento, passando de R$ 7.844 por hectare, em novembro e dezembro do ano passado, para R$ 7.868 por hectare em janeiro e fevereiro deste ano.

No Centro-Oeste, o preço médio também subiu pouco no período, passando de R$ 3.446 para R$ 3.487 por hectare.

As cotações mais baratas estão nas regiões Nordeste (R$ 2.028 por hectare) e no Norte (R$ 1.423). Esta, porém, teve a segunda maior alta em 12 meses (5,7%), atrás apenas do Sul (7,5%).

No Nordeste, a valorização foi de 4%, no Centro-Oeste, de 3,8% e no Sudeste, de 3,1%.

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Fonte:
Paraná Online

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