Aumento do etanol na gasolina não resolve problemas do setor

Publicado em 20/06/2014 16:13 e atualizado em 21/06/2014 19:12

Está programada para a próxima terça (24) ou quarta-feira (25) uma reunião entre representantes do governo federal, produtores do setor sucroenergético e Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos) para discutir o aumento da concentração do etanol anidro na gasolina, que atualmente é de 25%. O pleito dos produtores é de que o percentual suba para 27,5%, mas a mudança depende da aprovação do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). A Petrobras, o Inmetro e a indústria automotiva deverão fazer um estudo técnico para a definição desse número.

Para os produtores, esse aumento da porcentagem do etanol poderá ajudar a evitar a crise no setor, que vem provocando o endividamento e a interrupção das atividades de diversas usinas. Para João Oswaldo Baggio, presidente da G7 Commodities, a medida deve ser paliativa para que o governo evite perdas maiores da Petrobras, que importa o petróleo a preços altos no mercado internacional e subsidia o valor no mercado interno, com o intuito de evitar a inflação. “É querer apagar um incêndio com um litro de água. O que precisa ser feito é corrigir os preços que estão defasados. Atualmente, estima-se que o litro da gasolina deveria estar a R$ 3,30”, falou Baggio.

Embora alguns produtores vejam essa medida como indispensável, a Anfavea tem se posicionado contra esse aumento do etanol na gasolina, com a alegação de que essa ação prejudique o desempenho e a durabilidade dos motores. “Esse posicionamento vai gerar desconfiança na opinião pública, que deverá ficar contrária aos usineiros”, falou o presidente da G7. Ele lembrou com a quantidade de combustíveis adulterados presentes hoje nas bombas deverá causar impacto nos automóveis e levar os consumidores a culpar os produtores pelo aumento da mistura do etanol.

Baggio fez pesadas críticas às medidas populistas do governo federal e culpou-as pelo fraco desempenho no setor. Até hoje, a preocupação foi com que a população tivesse acesso aos bens de consumo, o que inclui os automóveis. Com essa maior quantidade de carros circulando, o consumo de combustível cresceu de 8% a 10%, o que não se refletiu para os produtores. “Não houve uma melhora na infraestrutura. As refinarias continuam as mesmas e os novos projetos não ficaram prontos. O que seria necessário é que o governo desse condições para que o setor se movesse sozinho, sem congelar os preços do petróleo”, concluiu.

Investimentos no pré-sal
A priorização dos investimentos no pré-sal em detrimento do etanol foi uma política equivocada, segundo o analista. Tal ação requer grandes investimentos que se tornam mais difíceis devido à crise na Petrobras, que teria de bancar essa nova tecnologia. “É uma política mentirosa. Com a Petrobras quebrada de onde vai se tirar dinheiro para o pré-sal?”, questionou.

Com os Estados Unidos prontos para se tornar autodependentes do combustível até 2020 com a utilização do gás de xisto, o preço tende a cair no mercado internacional, chegando a um patamar de US$ 70 o barril. Calcula-se que para compensar a extração do pré-sal brasileiro, o produto teria de ser vendido a US$ 100 o barril para compensar os custos.

Segundo o presidente, 95% do setor de produção de cana-de-açúcar está inadimplente e não há meios para corrigir esse problema a curto prazo. O açúcar está em baixa por existir um excedente no mercado internacional e os conflitos no Oriente Médio deverão provocar uma crise no setor do petróleo. Devido à instabilidade econômica no Iraque com o avanço dos sunitas, os Estados Unidos e o Irã (rivais históricos) começam a traçar um acordo para impedir o avanço do grupo islâmico ISIS (Estado Islâmico no Iraque e no Levante).

Apesar do interesse no combustível do Oriente Médio, os Estados Unidos têm investido cada vez mais na produção do gás de xisto, que deve ganhar um gasoduto entre o país da América do Norte e o Japão nos próximos anos. Tal pensamento a longo prazo não acontece no Brasil.

Crise energética
Junto à crise do setor de combustíveis, outra área que preocupa é a produção de energia elétrica, que segue basicamente o mesmo modelo do petróleo. O governo estaria subsidiando os preços para que não haja aumento na inflação e ao mesmo tempo estimulou nos últimos anos a compra de eletroeletrônicos. “Teremos problemas com o risco de um apagão. Sem um planejamento econômico, perdemos dez anos em todos os setores da economia, com um risco de atingir um PIB negativo no terceiro semestre deste ano”, concluiu.

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Por:
Fernando Pratti
Fonte:
Notícias Agrícolas

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