Com projeção de maior produtividade, mercado do açúcar enfrenta desafios para sustentar a demanda
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Desde o início da guerra comercial entre China e Estados Unidos, o mercado global de açúcar tem enfrentado dificuldades para sustentar os preços, tanto no cenário internacional quanto no doméstico. No último ano, o adoçante oscilou entre 20 e 16 cents de dólar por libra-peso, intervalo em que o contrato julho/25 é atualmente negociado na Bolsa de Nova Iorque. Diante dessa queda expressiva, o setor monitora atentamente a evolução da safra atual e o comportamento da demanda.
De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção global de açúcar deverá atingir 189,3 milhões de toneladas em 2025/26, um crescimento de 4,73% em relação às 180,8 milhões estimadas para 2024/25. Já o consumo global deve avançar 1,4%, passando de 175,4 milhões para 177,9 milhões de toneladas. Com isso, o excedente global de açúcar deve mais que dobrar: de 5,3 milhões para 11,4 milhões de toneladas.
As condições climáticas favoráveis também colaboram para o aumento da produção nos principais países produtores. A Tailândia deve atingir 10,3 milhões de toneladas, alta de 2%, enquanto a Índia projeta um avanço superior a 25%, somando 35,3 milhões de toneladas.
“No caso da Índia, será difícil repetir o volume de exportação de 2021/22, já que o programa de etanol prevê uma mistura de 20%. O país deve se tornar um pequeno exportador, com algo entre 1 e 2 milhões de toneladas ao ano, isso se houver estoques suficientes e se os preços forem viáveis”, avalia Ana Zancaner, gerente de análises da Czarnikow.
“Na Índia, o governo exerce forte controle sobre o setor açucareiro, limitando a produção das usinas. Por isso, os produtores precisam se organizar via sindicatos para garantir preços mais competitivos”, complementa Maurício Muruci, analista da Safras & Mercado.
Desempenho da safra brasileira
Segundo o relatório mais recente da UNICA, a moagem de cana-de-açúcar no Brasil alcançou 42,3 milhões de toneladas, acima da média dos últimos cinco anos (41,5 milhões de toneladas), mas ainda abaixo da safra 2024/25. No acumulado até 16 de maio, foram processadas 76,7 milhões de toneladas, contra 96,2 milhões de toneladas no mesmo período do ano anterior, uma diferença de quase 20 milhões de toneladas.
A redução é atribuída, em parte, às chuvas registradas em abril no Centro-Sul, que reduziram o ritmo de operação das usinas. A produção acumulada de açúcar soma 3,99 milhões de toneladas, queda de 22,7% frente às 5,16 milhões no mesmo período do ciclo anterior.
De acordo com a Conab, a produção total de cana na safra 2025/26 deve atingir 663,4 milhões de toneladas, queda de 2% em relação ao ciclo anterior. Apesar do leve aumento na área colhida (+0,3%, totalizando 8,79 milhões de hectares), a produtividade média deve cair 2,3%, ficando em 75.451 kg/ha. No Centro-Sul, espera-se uma produção de 602,9 milhões de toneladas, recuo de 2,5%.
Dessa produção, o Brasil deve destinar entre 44 e 45 milhões de toneladas para açúcar, sendo cerca de 35 milhões de toneladas voltadas à exportação. No entanto, o consumo doméstico segue em retração. “O USDA projeta um consumo interno de 8,9 milhões de toneladas para 2025/26, ante os 9 milhões estimados para 2024/25. Já tivemos picos acima de 11 milhões, o que mostra uma tendência de enfraquecimento da demanda local”, destaca Muruci.
Ana ressalta que, com 70% do comércio global de açúcar bruto dependendo do Brasil, qualquer instabilidade na produção pode afetar os preços nos próximos meses. “As usinas devem aproveitar ao máximo a capacidade de cristalização instalada nos últimos anos. No entanto, ainda existem dúvidas sobre a produtividade dos canaviais e algumas projeções apontam moagem abaixo de 590 milhões de toneladas”.
Fatores macroeconômicos pressionam o setor
Além das questões estruturais do setor, há o agravante macroeconômico. As duas maiores economias do mundo apresentam sinais de desaceleração. Nos EUA, instituições financeiras rebaixaram a credibilidade fiscal. Na China, o índice de atividade industrial (PMI Caixin/S&P Global) recuou para 48,3 em maio, ante 50,4 em abril, o que indica contração.
Esse cenário eleva a aversão ao risco entre investidores, que buscam ativos mais seguros. O reflexo é visto no recuo do dólar e na queda do petróleo, atualmente cotado a cerca de US$65 por barril (vencimento de agosto), contra mais de US$80 há um ano.
Tais fatores impactam diretamente as estratégias das usinas, especialmente no mix entre açúcar e etanol. Embora o adoçante esteja pagando, no momento, cerca de 300 pontos acima do etanol, a recente redução no preço da gasolina pela Petrobras pressiona o mercado de biocombustíveis.
“Com o açúcar em ciclo de baixa, devemos ver ajustes no mix produtivo, especialmente em estados de fronteira, que tendem a ser os primeiros a adaptar suas estratégias de produção”, conclui Ana.
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