BA: Alta no preço do litro do álcool só vai dar trégua a partir de maio
Os motoristas de Salvador estão sentindo no bolso o efeito das chuvas em São Paulo. O mau tempo dificulta a colheita da cana-de-açúcar, e o resultado é um preço médio de R$ 1,94 para o álcool combustível, valor 50,4% maior que o R$ 1,29 encontrado facilmente no início desta safra, em maio de 2009. Apesar da iniciativa do governo de reduzir de 25% para 20% a participação do álcool na composição da gasolina a partir do dia 1º de fevereiro, o mercado aponta a tendência de preços elevados até maio, quando a próxima safra começa a ser colhida.
Para aumentar as dificuldades na hora de abastecer, a gasolina, outra opção para quem tem carros flex, também acompanha o aumento por contar com álcool na composição. O preço médio do produto aumentou 15% desde o dia 19 de dezembro, chegou a ser encontrado por R$ 2,35, de acordo com o levantamento de preços da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), divulgado nesta segunda.
As variações nos combustíveis podem ser percebidas inclusive nos indicadores de inflação. O Índice de Preços ao consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apresentou uma alta de 1,1%, e a despesa Transporte foi o principal componente do aumento, com 2,59% de crescimento. O índice superou até as despesas com educação no período de volta às aulas. O item gasolina contribuiu com 1,7% da alta.
Comparação - Fazendo a comparação de preços, a relação entre os preços médios do álcool e da gasolina é de 71,85%, o que torna o derivado da cana desvantajoso na capital baiana. Isso porque a produtividade do álcool corresponde a 70% da apresentada pela gasolina. “Atualmente o álcool não representa vantagem para os motoristas nem em São Paulo, de onde sai a maior parte do produto”, destaca o consultor do mercado de agronegócios e bioenergia Paulo Costa. “O único local em que ainda vale a pena é no Estado do Mato Grosso”. Em 2009, o produto chegou a ser interessante em 24 estados brasileiros. “Isso indica que os produtores venderam o álcool a qualquer preço”, analisa.
Segundo Costa, a ideia de reduzir por 90 dias a composição do álcool anidro (sem adição de água) na gasolina é positiva, apesar de não resolver o problema. “Com o regime de chuvas em São Paulo, não existem certezas”.
Há três meses, o estudante de engenharia Almir Ribeiro deixou o álcool de lado na hora de abastecer. “A gasolina tem sido mais vantajosa”, acredita, apesar de ter percebido o aumento no preço do produto também. “Comprei a uma semana por R$ 2,55”, lembra. Ontem, a bomba marcava R$ 2,79.
Sem a opção do carro flex, a administradora Ana de Paulla viu no aumento o incentivo que faltava para optar pelo gás natural. “A gasolina está altíssima”, reclama. Os gastos de Ana com transporte subiram de R$ 360 para R$ 410 em pouco mais de um mês. “Preciso do carro para trabalhar. Ou instalo um kit-gás, ou vou comprar um carro que já tenha”, disse. Como ela depende do carro para trabalhar, acredita que o investimento vai compensar.
Preços - Para quem espera uma queda nos preços em fevereiro por conta da redução da composição de álcool na gasolina, o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis (Sindicombustíveis), Walter Tannus de Freitas, avisa que o governo ainda precisa resolver a questão da Cide, contribuição cobrada sobre o derivado de petróleo. Ele espera que a medida coloque mais álcool no mercado. “Ainda temos casos de postos que fazem pedidos de álcool e recebem apenas parte dos produtos”, garante.
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