Japoneses voltam a discutir mistura de 10% de etanol
A associação que representa o setor automotivo no Japão (Jama, na sigla em inglês) surpreendeu na última semana ao endossar em sua publicação institucional a adoção de um percentual de mistura de 10% de etanol na gasolina. Desde 2003, a legislação japonesa permite uma mistura facultativa de até 3%. O reconhecimento da associação - equivalente à Anfavea no Brasil - reabre a discussão sobre o potencial do consumo japonês de etanol do Brasil. Uma mistura a 10% significaria um mercado de 6 bilhões de litros por ano para o biocombustível.
Não é de hoje que as empresas brasileiras olham essa perspectiva no Japão. Por isso, quando consideram parcerias internacionais, os japoneses são muito bem-vindos. A ETH Bioenergia, do grupo Odebrecht, tem associação estratégica com a empresa nipônica Sojitz Corporation, que detém 33% da ETH. A multinacional Bunge, que recentemente comprou as usinas do grupo Moema e que tem explícita a estratégia de deter 100% dos negócios que faz, não abre mão, no entanto, da parceria com a trading japonesa Itochu, com a qual tem sociedade na usina Santa Juliana, no Triângulo Mineiro - a Itochu tem 20% da indústria - e também investimentos conjuntos em um projeto em Tocantins.
Apesar de ser permitida a mistura de até 3%, não se sabe quanto o mercado de fato tem praticado no Japão, segundo Alfred Szwarc, consultor em tecnologia e emissões da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). "Algumas pequenas distribuidoras misturam 3%. Mas, a maior parte das exportações de etanol do Brasil para o Japão é para industria química", explica Szwarc. No ano passado, foram 282 milhões de litros, 8,5% do que o Brasil embarcou.
A forte oposição na indústria automotiva do Japão vinha da montadora Toyota, que agora passa por um dos momentos mais difíceis da sua história ao anunciar um recall que envolve milhões de veículos. "Eu acho que as perspectivas começam a melhorar agora com esse posicionamento das montadoras japonesas. Muitos países já usam há alguns anos a mistura de 10%", diz Szwarc.
A posição da Jama, no entanto, não especifica o tipo de etanol, apesar de trazer especificações nas quais o produto do Brasil se enquadra. Ontem, a Mitsui Engineering & Shipbuilding (MES), uma das companhias líderes da indústria pesada do Japão, anunciou a assinatura de um acordo de licenciamento de tecnologia com a Inbicon, empresa dinamarquesa que desenvolve tecnologia de etanol celulósico. Com o acordo, a Mitsui passa a deter o direito de construir refinarias de biomassa no Sudoeste da Ásia com a tecnologia da Inbicon. A Mitsui pretende aplicar a tecnologia na indústria de óleo de palma, onde os resíduos da produção podem ser convertidos em etanol, biocombustível sólido para a produção de energia e ração animal.
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