Mercado de Açúcar - DA ESCASSEZ À ABUNDÂNCIA, NUM PASSE DE MÁGICA?
Com exceção dos vencimentos maio e julho de 2010, os dois primeiros do mercado de açúcar em NY que fecharam, respectivamente, com queda de 8 e 6 dólares por tonelada na semana, os demais meses até outubro de 2012 fecharam com altas entre 6 e 26 dólares por tonelada. Confirma-se, portanto, o que já foi falado aqui. Os preços altos vistos a partir do segundo semestre do ano passado até o primeiro bimestre desse ano fizeram com que o mercado trabalhasse com a perspectiva de melhora na safra indiana deprimindo os preços ao longo da curva.
Com os preços mergulhando de cabeça para até 15,76 centavos de dólar por libra-peso no maio, os compradores/importadores se afugentaram e agora vão consumir o que possuírem de estoques antes de pensar em fazer novas compras. Vão lamber as feridas e comprar somente da mão para a boca. Quando essa percepção domina o mercado, a curva de preços passa a ser de custo e carrego, ou seja, os preços com vencimento mais longo são maiores do que os preços com vencimento mais curto. E os compradores não se importam em pagar mais lá na frente, pois os preços refletem apenas o custo de se carregar o estoque. Mercado com essa configuração ocorre quando não há problemas na oferta e demanda do produto. Ou seja, num passe de mágica passamos da escassez à abundância.
Se analisarmos todos os fechamentos do açúcar desde janeiro de 2005 até sexta-feira, temos como preço médio 13,47 centavos de dólar por libra-peso. Nesse período, de mais de 1.300 pregões, em apenas 15% das vezes o mercado fechou acima de 18,29 centavos de dólar por libra-peso e em apenas 15% das vezes, o mercado fechou abaixo de 8,64 centavos de dólar por libra-peso. Se abstrairmos o período incandescente de dezembro de 2009 a janeiro de 2010, a média cai para 13,02 e os limites de 15% mencionados passam a ser 17,20 e 8,85. Portanto, 18 centavos de dólar por libra-peso não é preço desprezível levando-se em consideração o custo de produção estimado pela Archer Consulting em 15,53 centavos de dólar por libra-peso, sem custo financeiro.
Os spreads deram e dão o tom ao mercado. Quando atingimos a máxima em fevereiro, o spread maio/julho chegou a negociar a 210 pontos de prêmio. Na semana passada chegou à baixa de 41 pontos de desconto. É jogo de cachorro grande. Mas é observando de perto o spread que se tem um melhor sentimento do que o mercado físico está fazendo.
Existem sinais de que as renegociações (os defaults por parte dos compradores) estão chegando ao seu ponto final e que o mercado parece ter exorcizado seus fantasmas. Como prudência não faz mal, fique de olho e se tiver ainda vendas para fixar no maio/2010 ou julho/2010, utilize os stops (níveis de preço de realização). Os consumidores de açúcar do mercado interno podem respirar aliviados. O período é propício para se fechar preços para longo prazo. A curva de preços vai para o custo e carrego. Se o seu custo de carregar estoque é menor do que o do mercado, compre agora. Se não for, compre da mão para a boca. A alta correlação entre NY e ESALQ mostra que o indicador deve cair a partir de maio. O modelo da Archer Consulting estima ESALQ média de R$ 45 no ano, com pico de R$ 62,75. Use esses números com responsabilidade e sem paixões.
A bandeira vermelha para esse mar revolto é se as chuvas no interior atrasarem o início da moagem e prejudicarem a produção nesse início de safra. Esse sentimento refletiu-se diretamente nos preços do etanol, anidro e hidratado, que pularam em uma semana R$ 0,05 e R$ 0,15 por litro, respectivamente. Uma tal de lei da oferta e procura.
A volatilidade do mercado futuro continua na estratosfera, batendo 60% a histórica de 20 dias anualizada e 56% a de 45 dias. Nas opções, no entanto, houve uma queda acentuada. As opções para vencimento em julho chegaram a negociar com volatilidade de 50% e fecharam a semana com 43%. Bom para quem vendeu opções nas últimas 2-3 semanas. Um grande volume de compra de calls (opções de compra) de preço de exercício de 25 centavos de dólar por libra-peso para vencimento em outubro/2010, financiado com a venda de calls (opções de compra) do mesmo preço de exercício para julho, mostra o que muita gente está pensando: a curva fica mais no custo e carrego no começo da safra (óbvio) mas existe o perigo dos preços recuperarem em outubro (melhor visão da safra indiana 2010/2011).
No Fundo Fictício, a queda abrupta da volatilidade das opções fez com que as posições que temos vendidas: 2711 puts (opções de venda) de preço de exercício 16 centavos de dólar por libra-peso e 1636 calls (opções de compra) de preço de exercício 20 centavos de dólar por libra-peso, perdessem valor substancialmente. Assim, ganhamos na semana US$ 1.739.999,82 (ufa!) elevando o acumulado do ano para 4.363.804,98 com retorno anualizado de 276,24%. É como diria um conhecido trader do mercado: a volatilidade é volátil mesmo. Fechamos a semana comprados no delta em 686 lotes. Vamos reduzir a posição (com futuros) para 500 lotes se o julho negociar 16,75 centavos de dólar por libra-peso.
Boa semana para todos.
Arnaldo Luiz Corrêa
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