Cenário de preço e oferta de fertilizantes e insumos para 2022 e 2023 ainda é incerto, afirma presidente do conselho diretor da Andav

Publicado em 29/11/2021 18:53 e atualizado em 15/12/2021 09:19
Conexão Campo Cidade 29/11/21
Alberto Yoshida, convidado do programa Conexão Campo Cidade da última segunda-feira (29), declarou que ninguém está preparado para a safra dos próximos anos e, por enquanto, ainda não é possível precisar como será a situação, principalmente devido as possíveis influências externas

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O agronegócio e os setores urbanos estão intrinsecamente conectados, já que as cadeias produtivas de alimentos influenciam diretamente no cotidiano das cidades. Porém, muitos ruídos de comunicação entre as duas pontas geram discussões e desentendimentos que merecem atenção. Nesse contexto, o site Notícias Agrícolas e a consultoria MPrado desenvolveram o projeto Conexão Campo e Cidade, que visa debater diversas questões relacionadas aos negócios que envolvem os ambientes urbanos e rurais.

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E uma das principais preocupações que envolvem esses dois setores é o preço dos produtos. Os consumidores finais estão sempre à procura dos menores valores, contudo, a rentabilidade dos produtores rurais estará prejudicada no próximo ano, devido aos altos custos de fertilizantes e defensivos. Para falar sobre esse assunto, o Conexão Campo Cidade recebeu o presidente do conselho diretor da Andav (Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários), Alberto Yoshida.

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Cenário de fertilizantes e defensivos para 22/23

Sobre o cenário dos fertilizantes e insumos para a safra do próximo ano, Yoshida revelou que a Andav tem acompanhado a situação com as principais indústrias e essa é uma situação que tem sido acompanhada semanalmente. A escassez de moléculas para a produção de insumos é muito grande. Por isso, a fabricação de alguns defensivos estará afetada até meados de 2022, enquanto que de outros estará normalizada já entre janeiro e fevereiro.

Em relação aos fertilizantes, o problema de abastecimento é muito grande e as empresas que tiverem boas parcerias terão menos dificuldade para gerenciar os estoques. “Alguns clientes e produtores, que ouviram falar sobre a falta anteciparam as compras, o que reduziu ainda mais a oferta. Enfim, existe [a falta de fertilizantes], é fato, e tem gente discutindo e trabalhando para melhorar o sistema”, afirmou Yoshida.

"Isso vai impactar diretamente no consumidor final"

A redução na oferta já tem impactado os preços dos produtos. Como apontou Yoshida, fertilizantes que custavam R$ 80 entre seis e sete meses atrás, agora são comercializados na faixa de R$ 300 a R$ 350. “É uma consequência de custo. A gente tem custo logístico, custo aduaneiro, custo do produto, variação cambial, isso vai impactar diretamente no consumidor final”, alerta o presidente. O impacto para os consumidores será resultante também de a uma possível diminuição na área de plantio. “Eu estava no Cepea semana passada falando sobre hortifrúti e nós achamos que terá uma redução na área de plantio, e se for do jeito que o Cepea vem sinalizando, eu sinto até medo de ter falta de comida pela diminuição dos insumos, porque o custo não vem fechando”, completou.

Contudo, como afirmou Alexandre de Barros, uma situação são os altos preços e outra é a inexistência de oferta. Mas os preços de fretes marítimos, por exemplo, têm registrado queda, o que é importante para importação de insumos. Por isso, ele questionou Yoshida se não é cedo para concluir que haverá falta de abastecimento em 2022. Segundo o diretor, em agosto deste ano ele já observava a curva de oferta. Naquele momento, alguns previam a normalização neste mês de novembro, o que não ocorreu, pelo contrário.

"Vamos fazendo o discurso com as informações de mercado, mas às vezes faço reunião na segunda-feira e na sexta-feira já não tem mais validade"

Portando, como disse Yoshida, é muito difícil precisar qual será a situação nos próximos anos e diversos fatores podem mudar completamente a situação. “Ninguém estava preparado para a safra 22/23 ainda. Nós estamos fechando 20/21 e já falando em 22/23. Não temos infraestrutura nenhuma para antecipar a nova safra. É muito difícil de tomar uma conclusão. Vamos fazendo o discurso com as informações de mercado, mas às vezes faço reunião na segunda-feira e na sexta-feira já não tem mais validade. Fatores externos não estão nas projeções das empresas”, concluiu.

José Luiz Tejon questionou se a procura por bioinsumos pode ser acelerada com a falta de insumos químicos. “Eu acredito que os bioinsumos já são uma tendência no agronegócio brasileiro. Mas não acredito que ele vai substituir 100% o químico, mas vai haver uma sinergia entre o manejo o biológico, microbiológico, macrobiológico e químico”, respondeu Yoshida. Para ele, esse equilíbrio vai se fortalecer com a baixa oferta de defensivos.

 

Proibição da União Europeia de importar produtos relacionados ao desmatamento

A União Europeia apresentou neste mês uma proposta para proibir a importação de produtos agrícolas associados ao desmatamento, tema que foi destacado no programa por Roberto Rodrigues: “A Europa vem com novidade estranha de interferir na legislação interna brasileira, se vão discutir no parlamento europeu se não comprarão produtos agrícolas originados de desmatamento a partir de 2022. É uma forma arbitrária da União Europeia interferir no nosso sistema legal”, avaliou. Para ele, essa é uma forma de usar a bandeira da produção sustentável como uma forma de pagar menos tributos de importação.

Rodrigues ressaltou também que na COP-26 o Brasil conseguiu melhorar a posição que tinha anteriormente possuía, com uma participação relevante nas discussões. O país assinou documentos importantes, relacionado à redução da emissão de CO2 e metano, o que terá custos, mas que são necessários. Em relação ao mercado de carbono, o Brasil também teve participação importante nas discussões, mas ainda não ficou estabelecida uma estrutura para cuidar do assunto, estabelecendo métricas de medição.

Sobre as medidas sustentáveis, Alexandre de Barros chamou a atenção para o fato de que no Brasil sequer é feito corretamente o cálculo de quantos bovinos existem no país. “Quando vou fazer análise de mercado do boi, que pedem para acertar se a arroba vai R$ 310 ou R$ 320, mas têm dúvida se o rebanho é formado por 170 milhões ou 250 milhões de cabeças. Essa diferença é praticamente o rebanho da Argentina, do Paraguai e do Uruguai juntos. Só isso”, brincou Barros.

"Estamos baseando certas verdades analísticas do agronegócio brasileiro em cima de dados precários"

Por esse motivo, ele acredita que não tem como mensurar a emissão de metano pelo gado no Brasil, sendo que as estáticas são imprecisas. “Não tem como a gente se posicionar se não tem bons números. Estamos baseando certas verdades analísticas do agronegócio brasileiro em cima de dados precários”, completou.

 

Panorama agrícola da safra 21/22

Outro momento de destaque da edição foi o panorama agrícola feito por Barros. Segundo ele, o Brasil caminha para ter uma grande safra no próximo ano. O plantio já é recorde e na maior parte do país, principalmente na região do cerrado, as chuvas estão sendo favoráveis. Ele ressalta que há alguns problemas pontuais, como irregularidade das chuvas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, além de São Paulo e Mato Grosso do Sul, mas isso não deve prejudicar a produção.

Outro produto em destaque é o café, um mercado que tem alcançado ótimos preços e na semana passada atingiu as cotações mais altas dos últimos 10 anos. O bom desempenho também vem sendo registrado no mercado do açúcar, que mesmo tendo cedido após a queda do petróleo nesta semana, ainda mantém patamares de preços elevados.

De forma geral, o que mais preocupa é o baixo volume de vendas antecipadas. A soja, sobretudo, deve registrar colheita recorde, no entanto, o ritmo de vendas está lento. Isso poderá provocar problemas logísticos, tema que terá destaque nas discussões do próximo ano.

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Tags:
Por:
Igor Batista
Fonte:
Notícias Agrícolas

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