"A onda antitecnológica na agricultura", por MARCOS SAWAYA YANK

Publicado em 13/05/2017 11:02
Aos 102 anos, a inteligência e lucidez de Fernando Penteado Cardoso são fenomenais... (artigo publicado neste sábado na FOLHA DE S. PAULO)

O Dr. Fernando Penteado Cardoso, fundador da Manah, é o decano dos engenheiros agrônomos brasileiros. Aos 102 anos, sua inteligência e lucidez são fenomenais.

Comentando a minha coluna anterior, sobre os erros do Índice de Sustentabilidade de Alimentos da EIU-Barilla, no qual fomos punidos por usar fertilizantes e defensivos em demasia, ele me lembrou de que, sem correção de solos e adubação química, nunca teríamos ocupado os cerrados brasileiros, originalmente ácidos e muito pobres em nutrientes.

Ele me enviou um texto incrível escrito por Norman Borlaug, o pai da "Revolução Verde", que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1970 em reconhecimento pelo seu trabalho no desenvolvimento de tecnologias para aumentar a produtividade da agricultura nos países em desenvolvimento.

O texto "Agricultura, ecologia e a onda antitecnológica" foi escrito por Borlaug em março de 1996, mas não poderia ser mais atual. Ele critica o maniqueísmo dos ecofundamentalistas daquela época que defendiam velhos sistemas de baixa produtividade da agricultura de subsistência como mais "sustentáveis". A onda antitecnológica seria baseada em adubação orgânica, variedades nativas propagadas pelos próprios agricultores e nenhum uso de defensivos.

Vinte anos depois, o mercado e a competição selecionaram os agricultores mais eficientes. Milhões de produtores não tecnificados acabaram migrando para as cidades, o que transferiu boa parte da pobreza rural para o meio urbano. Mas a onda antitecnológica não desapareceu e hoje ganha novos contornos.

Capitaneada por influentes grupos europeus, a nova onda vem de consumidores com maior poder aquisitivo que valorizam alimentos produzidos localmente com menor intensidade tecnológica, próximos dos centros de consumo e com mínimo impacto ambiental. Ela é composta por um vasto cardápio de sistemas alternativos de produção: orgânicos, free-range (criação de animais soltos, sem instalações), veganos, sem uso de defensivos, livres de transgênicos e de antibióticos, com baixa emissão de gases de efeito estufa, entre outros.

Nessa toada, os vilões passam a ser as commodities e os alimentos importados, o uso de insumos modernos, os produtores de grande escala, os biocombustíveis e o consumo de carnes. Atacam-se os arrotos dos bovinos que causariam o aquecimento global, sem conhecer o ciclo das pastagens de alta produtividade que reduz emissões.

Ataca-se a produção de soja e milho destinada à produção de rações, que supostamente alimentariam modelos "insustentáveis" de pecuária. Nas raias da loucura, afirma-se que a solução para alimentar o nosso planeta hiperpopuloso estaria em fazendas verticais em zona urbana e na produção caseira de proteínas à base de insetos comestíveis.

Não tenho nada contra consumidores dispostos a pagar o dobro ou o triplo por alimentos com essas características. Trata-se de um segmento importante do mercado, principalmente nos países ricos.

Meu problema está na afirmação de que essas opções seriam o "certo" e que tudo que se avançou em tecnologia e sustentabilidade da agricultura no último século estaria "errado".

Uma das maiores questões do século 21 é: como criar cadeias de suprimento eficientes para alimentar mais de 10 bilhões de pessoas, num contexto de recursos naturais escassos? O professor Borlaug dedicou a sua vida à única resposta plausível para essa pergunta: produtividade.

É ela que gera segurança alimentar. É ela que reduz o desmatamento e que gera alimentos mais baratos que podem reduzir drasticamente a fome. É ela que evitaria as migrações maciças de pessoas a que temos assistido no mundo. É ela que gera a paz.

E é nesse item que o Brasil avançou mais do que qualquer outro país, graças às tecnologias tropicais e à competência dos nossos agricultores.

(*) Marcos Sawaya Jank é especialista em questões globais do agronegócio. Escreve na FOLHA aos sábados, a cada duas semanas.

75% do crescimento da atividade econômica virá da agropecuária (por MAELI PRADO, Na FOLHA)

  Mauro Zafalon/Folhapress  
Plantação de soja em Nova Mutum (MT)
Plantação de soja em Nova Mutum (MT)

Sem a agropecuária, o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil teria alta de 0,12% em 2017, em vez do já modesto 0,47% projetado pelo mercado. O setor deve ter uma fatia de 75% do crescimento da atividade econômica neste ano, maior peso em 18 anos.

O número foi calculado pela consultoria Tendências a pedido da Folha com base nas projeções feitas por analistas de mercado ouvidos pelo boletim Focus, do Banco Central, para o PIB dos diferentes setores da economia.

Essa alta participação, a maior desde 1999, quando o PIB agrícola representou 77% do total, ocorre tanto pelo bom momento para o campo quanto pela dificuldade de recuperação dos outros setores. Beneficiada pelo clima favorável, a safra de grãos será recorde e subirá mais de 26%, segundo o IBGE.

Os analistas apostam em altas de 6,4% e 0,88% para a agropecuária e a indústria, respectivamente, e uma queda de 0,06% em serviços.

"A criação de empregos no setor agropecuário auxilia no desenvolvimento do consumo interno, ajudando a impulsionar, de forma defasada, o varejo. É uma boa notícia em meio a um cenário de retomada gradual da atividade", diz o economista Bruno Levy, da Tendências.

A consultoria tem uma estimativa mais conservadora para a fatia de agro no PIB do que a da MB Associados, que projeta participação de cerca de 90%. Os cálculos diferem pois dependem do peso que se atribui à agropecuária dentro da atividade econômica.

O economista-chefe da MB, Sérgio Vale, destaca que o cálculo é só "até a porta da fazenda". Se a agroindústria e serviços repetirem esse desempenho, segundo ele, essa expansão pode se espalhar pelo restante da economia.

O economista lembra que o peso que o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP (Universidade de São Paulo), considera para toda a cadeia, incluindo a agroindústria e serviços, é de 22% do PIB.

Quando se leva em conta somente a agropecuária, o percentual é de cerca de 5%.

"Supondo que o crescimento do setor como um todo seja semelhante ao que se vê no início da cadeia, o impacto [sobre o PIB como um todo] pode ser muito maior", afirma Vale.

VAGAS NO INTERIOR

Economistas apontam que dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho, dão uma ideia de como vem sendo distinto o comportamento do emprego no interior e nas capitais.

No primeiro trimestre do ano, o interior dos Estados que abrigam as nove maiores regiões metropolitanas criou mais de 41 mil empregos formais, enquanto as capitais e arredores eliminaram 92,89 mil postos de trabalho.

Além disso, das 20 cidades que mais criaram vagas entre janeiro e março, aparece somente uma capital, Goiânia.

Na avaliação de Igor Velocico, do banco Bradesco, a produção agrícola e a inflação em baixa, que aumenta o poder de compra, são as duas boas notícias para a economia brasileira neste ano. "Você gera mais incentivo para produzir, e esse efeito passa para o restante da economia."

A força do campo em 2017 também está tendo efeitos positivos, ainda que incipientes, sobre o comércio de cidades ligadas ao agronegócio.

"Está melhor do que o ano passado, mas ainda está ruim, porque há muito desemprego", diz Mário Gazin, dono da rede de imóveis e eletrodomésticos Gazin, com unidades do Acre ao Paraná, passando pelo Centro-Oeste.

"Estamos voltando aos níveis de 2014, um ano bom."

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