O mito da água gasta pelo agronegócio, por Ciro Antonio Rosolem

Publicado em 01/03/2018 11:44
Ciro Antonio Rosolem, Vice-Presidente de Estudos do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e Professor Titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu).

É consenso que o suprimento de alimentos precisa ser aumentado nos próximos anos, se possível com redução de custos. É preciso atender os mais de 800 milhões de seres humanos com alimentação deficiente e o crescimento da população.

Também é verdade que o potencial de expansão da agricultura é limitado. Limitado pela falta de terras agricultáveis em algumas regiões do mundo, ou pelas restrições ambientais, como, por exemplo, no Brasil. Por falar em Brasil, é daqui que se espera o atendimento de, pelo menos, 20% do aumento da demanda. Enfim, se estima que 75% do crescimento na produção de alimentos precisarão vir de terras já em uso.

Mas, como fazer isso? Além do desenvolvimento de variedades de plantas mais eficientes, do bom uso de técnicas de manejo de solo e de culturas, de pragas e doenças, etc., a expansão da irrigação é fundamental. Mas, como assim? Há notícias de que o setor agrícola tem sido o grande vilão, tirando água das cidades! Vamos ainda piorar isso? Uma notícia no jornal dá conta de que o agronegócio consome 83% da já escassa água doce, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA).

Bom, mas o que é água consumida? Modernamente, se separa a água GASTA da água USADA. São coisas muito diferentes. Volta e meia, “especialistas” publicam, por exemplo, que se gasta 5 mil litros de água para produzir 1 kg de milho, ou 1.800 litros para cada kg de soja. Uma picanha de 1,2 kg, do nosso churrasco, gastaria 12 mil de água para ser produzida. Haja água!

Todas as plantas, inclusive as florestas e a grama do jardim, precisam de água para sobreviver. Elas transpiram, e respiram. Para respirarem precisam de orifícios para a entrada de ar, chamados estômatos. Ocorre que, para os estômatos ficarem abertos, é necessária água, que e é evaporada – a transpiração das plantas. Esta é água USADA. Por quê? Porque ela chega com a chuva, ou vem através da irrigação e se infiltra no solo. A parte que não é usada pela planta volta para as nascentes, filtradas pelo solo. A parte absorvida pelas plantas é, na maior parte, transpirada. Para onde? Para a atmosfera, vira nuvem, vira chuva, novamente. Não foi gasta, foi usada.

A água que usamos nas cidades, a mesma que vem dos rios ou dos poços, serve para o banho, na cozinha, nas indústrias, acaba sendo sujada, ou contaminada, com detergentes, com coliformes fecais, etc. Depois retorna aos rios, tratada ou não. Não retorna para as minas, não é reutilizada. É gasta.

Então, meus amigos, para colocar de um modo simplista, o agronegócio USA água, a cidade GASTA água. É ignorância ou má fé chamar o uso da água pelas plantas de água gasta.

Bom, e como fica aquele negócio da Agência Nacional de Águas? Os números são fabricados? Não. Ocorre que quando o agricultor irriga e usa a água, a quantidade é medida da mesma forma que a água que é gasta nas cidades. A Agência não leva em conta que aquela água volta, limpa na maioria das vezes, para a natureza. A medida feita pela ANA serve para fins de cobrança, apenas isto, não deve ser utilizada para outros fins como para a construção de divulgação de mitos.

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CCAS

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2 comentários

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Desde Dezembro de 1972, no dia 5 de junho é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente... Essa é mais uma invenção humana.

    O espécime humano é catalogado na classificação taxonômica como Homo sapiens, que traduzido do latim significa "homem sábio" ou "homem que sabe". Diante dessa característica impar, porque até hoje não se conseguiu deter, através de mecanismos de controle, o desejo excessivo do poder.

    Através da historiografia, são enumerados exemplos do uso da força individual. Com o progresso essa força foi expandida pelo coletivo dos exércitos, ou seja, aquele mais numeroso em soldados vencia, depois vieram os estrategistas e, as "ferramentas", responsáveis pelas vitórias, com exércitos menores.

    No momento, nos encontramos numa situação em que a inteligência humana, está sendo colocada em segundo plano. A Inteligência Artificial (I.A.), está presente em nossas vidas e, ainda não nos demos conta, do perigo que essa ferramenta em mãos criminosas, podem nos afetar.

    NÃO PODEMOS NOS ESQUECER, QUEM TEM O PODER, SE AFASTA DA REALIDADE E, O USO DA I.A. POTENCIALIZA ESSE DISTANCIAMENTO.

    Penso, a classificação taxonômica atual do "novo" homem seria Homo algorithm, cuja tradução do latim é "homem algoritmo". Sim essa é a realidade do momento, pois fomos TODOS "transformados" em algoritmos pela rede ou "web". Você e, os seus, meus, todos,... somos algoritmos num mundo virtual, onde é mais importante um sinal do smartphone do que a pessoa com a qual está-se falando, pois TODOS param a conversa para atender.

    Mas, o que isso tem a ver com o "Meio Ambiente"?

    Tudo, pois é nesse meio que todas as atividades humanas acontecem e, cada vez são alteradas em função das mudanças de valores.

    E qual é o valor primordial da vida?

    RESPOSTA: A perpetuação da espécie!

    Se o espécime da espécie perde o valor, a espécie está fadada ao desaparecimento.

    Espero que esteja, completamente errado e, esses escritos seja mais uma das minhas estórias mal contadas, haja vista, que não se pode exigir muito de um velho matuto e, escrevinhador.

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  • Liliane Fonseca Lunardelli - PR

    Parabéns. Sempre comentamos isso aqui em casa...

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