Fala Produtor - Mensagem
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Eduardo Lima Porto Porto Alegre - RS 03/08/2016 19:55
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Roberto Cadore
Cruz Alta - RS
Sr. Eduardo Lima Porto, agradeço sua contribuição com este excelente texto, que sem dúvida exigirá que façamos uma boa reflexão sobre o assunto.
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Roberto Cadore
Cruz Alta - RS
Senhor Cadore, peço licença para contribuir nesse debate. Produzir no Brasil é uma tarefa hercúlea, literalmente coisa pra Macho, com todo o respeito às Mulheres que atuam muito bem no Setor! Quero dizer que é uma atividade para gente preparada tecnicamente, com vontade de trabalhar e com nervos de aço. Não é coisa pra frouxos. Quando não são os impostos escorchantes, as distorções no mercado de insumos que tornam os preços mais elevados do que outros países competidores pagam, os juros excessivos, a falta de uma malha logística decente, a insegurança jurídica causada pelo Governo ou pelos \"Movimentos Sociais\", vivemos numa eterna incerteza se amanhã estaremos vivos ou não. Temos ainda por cima que saber como nos virar com os Caprichos do Clima. Acho que independentemente do Governo que assuma, essas questões continuarão em maior ou menor grau sempre presentes. No que se refere ao Seguro Rural, me parece que essa ferramenta essencial está sendo desvirtuada há muito tempo no Brasil, na tentativa nobre, mas inviável, de se estabelecer um \"Prêmio Justo\" que cubra as expectativas de Renda dos Produtores do Oiapoque ao Chuí. A dificuldade técnica disso é absurda. Imagine que uma Seguradora ganha dinheiro quando a quantidade de Sinistros ou de Coberturas que ela deve indenizar for menor do que os valores arrecadados na forma dos Prêmios. É assim que funciona no Mundo inteiro. Ao se pensar numa Política Brasileira de Seguro Agrícola que não leve em consideração os fatores de risco regionais, estaremos diante de Preços ou valores de Prêmios que apresentarão distorções muito sérias. Nos locais de baixo risco, os Prêmios simplesmente não serão interessantes para o Produtor porque estarão muito acima da sua capacidade de pagamento ou do prejuízo potencial que pode vir a ocorrer. Nos locais de alto risco de Sinistros, a disposição das Seguradoras sempre será menor de participar se elas não contarem com uma reserva bancada por outras fontes. A dificuldade de implementação do Seguro Agrícola olhando apenas por essas duas razões já é grande, sem falar quando se incluem outras questões na Balança. Por isso que me posiciono sempre contrário a tentativa de uma \"Cobertura de Renda\" a nível nacional, mesmo entendendo que a intenção é ótima, porque entendo que é uma Utopia. Na minha visão e (abordei isso num Artigo publicado aqui ontem), o Seguro Rural deveria ter um foco bem definido sobre o Custo de Produção determinado no somatório dos desembolsos dos Insumos, mais os outros componentes como Combustível, Mão de Obra e até o Pró-labore do Produtor. Dessa forma, se elimina o Risco do Agricultor ficar insolvente por falta de capacidade de honrar seus compromissos com terceiros, dito de outra forma, se evita a falência do Produtor e também de quem lhe forneceu Insumos ou Serviços. O Prêmio sobre essa exposição de Risco deve necessariamente ser menor do que é cobrado nas Apólices que levam em conta o Faturamento, pois se elimina a variável incontrolável desse cálculo que é o comportamento dos Preços e a variabilidade dos rendimentos agrícolas, de região para região e de propriedade para propriedade. De maneira simplificada, a Apólice seria semelhante a de um veículo que é proporcional ao valor de mercado do mesmo, no caso Rural se contemplaria o valor desembolsado individualmente pelo Produtor (que pode variar muito numa região) e levaria em conta a incidência de problemas climáticos de cada local. O Seguro sobre os Preços que afeta o Lucro do Produtor pode ser feito diretamente na Bolsa de Futuros & Opções, seja BM&F ou Chicago. Aí existem mecanismos eficientes e que podem ser operados a valores acessíveis para se garantir um nível adequado de Preços, conforme o plano de cada Produtor. Outra confusão conceitual que muita gente comete está relacionada a remuneração sobre os investimentos como um fator agregado dos custos. O \"Custo de Oportunidade\" é uma medida que todo Investidor ou Agricultor deve levar em conta quando avalia a conveniência ou não de plantar, comparando com outras opções de maior ou menor Risco. Decidir não plantar em anos desfavoráveis ou quando se está completamente descapitalizado é muito melhor do que planta de qualquer jeito. Ninguém obriga o Agricultor a plantar e tampouco diz o que ele deve fazer dentro da sua Propriedade, assim como não importa a absolutamente ninguém o Lucro que alguém tenha numa atividade lícita e muito necessária como a Agricultura. Dessa forma, me parece que também não podemos culpar a Sociedade quando os resultados não saem como esperado, tampouco exigir-lhes que participem do nosso Risco através de subsídios, subvenções ou medidas do gênero. Se o Lucro é sagrado e pertence a quem o gerou, o mesmo vale para o Prejuízo. Do contrário, estaremos fomentando a instauração de um Regime Comunista que irá interferir no quanto, como e quando iremos plantar e a que preço teremos que vender. Provocará o que o MST tanto deseja que é o extermínio do conceito de Propriedade. Deixo essas reflexões.