Na Folha: Brasil importa de coco a óleo de dendê

Publicado em 25/01/2012 08:43 e atualizado em 25/01/2012 11:02
Com dólar fraco, mão de obra cara, carga tributária alta e demanda interna, aumenta compra de produtos típicos do país.. Até feijão passa a ser importado da China; compras de alumínio e de álcool também crescem em 2011

A perda de competitividade do Brasil chegou a produtos nacionais típicos. Em 2011, as importações de óleo de dendê avançaram 414%, as compras de coco seco subiram 172% e as de álcool, 1.058%, segundo o Ministério do Desenvolvimento.

Sem falar nas cargas de feijão chinês e na evolução das importações de alumínio do país que possui a terceira maior jazida mundial de bauxita (minério de alumínio).

O câmbio, que em parte do ano passado esteve entre

R$ 1,50 e R$ 1,60, o aumento do custo da mão de obra e a alta carga tributária explicam a maior concorrência em produtos que têm a cara do Brasil, segundo especialistas.

"O país está muito caro, especialmente na produção. Por isso, perde competitividade até em setores em que tem vocação natural", afirma José Augusto de Castro, presidente em exercício da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).

A força do mercado interno também justifica as maiores importações. "Todo mundo quer vir para cá. Fatalmente, as importações sobem", diz Mauro Moreno, vice-presidente da Abal (Associação Brasileira do Alumínio).

No caso do alumínio, fatores conjunturais, como o alto preço da energia, desestimulam a produção local, o que também contribui para o aumento das compras.

VANTAGENS

Alguns países se aproveitam de acordos comerciais para atingir o hoje cobiçado mercado brasileiro.

É o caso da Colômbia, no óleo de dendê. Terceiro maior produtor mundial, o país, que paga tarifas mais baixas do que os rivais asiáticos, abastece parte da indústria alimentícia. A produção nacional não é suficiente para responder ao consumo.

No caso do coco, o Brasil precisou, há cerca de dez anos, impor salvaguardas para proteger a produção local. Mas, em 2011, as importações superaram em 30% o permitido, que é 6.000 toneladas.

"Não tem como competir com os produtores asiáticos", diz Francisco de Paula Domingues Porto, presidente do Sindcoco (Sindicato Nacional dos Produtores de Coco).

Mas não é só de países emergentes que o Brasil compra. A Suíça respondeu por 83% das importações de café industrializado em 2011.

As importações do produto cresceram 90%, reflexo do aumento da renda e da sofisticação do consumo.

Já a compra de feijão chinês foi um negócio de ocasião, graças à baixa do dólar.

"Não houve necessidade de grandes importações, mas oportunidades de trazer feijão a um preço competitivo", diz Vlamir Brandalizze, sócio da Brandalizze consultoria.

A importação de álcool foi necessária para cobrir a primeira queda da produção nacional em dez anos, em um cenário de forte demanda.

Brasileiros gastam US$ 21 bi no exterior

Despesa com cartão e turismo sobe 30% em 2011, bate recorde e contribui para rombo de US$ 53 bi nas contas externas

Com US$ 66 bilhões, investimento externo na produção financia deficit em transações com outros países

Em 2011, os brasileiros gastaram mais de US$ 21 bilhões no exterior, quase 30% a mais em relação ao ano retrasado e o maior valor da história.

A maior parte desse montante, segundo os dados do Banco Central, é formada por despesas feitas no cartão de crédito (cerca de 60%, com todos os tipos de gastos, incluindo viagens internacionais) e com turismo (quase 38% do total, excetuando os pagamentos com cartão).

O restante é composto por gastos em outros países de funcionários de empresas privadas, do governo e com fins educacionais ou esportivos.

"Até agosto, o crescimento do gasto dos brasileiros no exterior em relação a 2010 ficou na faixa dos 50%, estimulado pelo aumento da renda", afirmou Tulio Maciel, chefe do departamento econômico do Banco Central.

Daí para a frente, apesar de os valores continuarem crescendo, a alta se desacelerou, já que o dólar se tornou mais caro em relação ao real. No mês passado, os gastos no exterior subiram 2,2% em relação a dezembro de 2010.

As despesas dos turistas estrangeiros no Brasil também foram recorde no ano passado: eles gastaram no país US$ 6,7 bilhões no período, o que determinou saldo negativo de US$ 14,5 bilhões em viagens internacionais.

RECORDES

O Banco Central ressaltou também que o aluguel de equipamentos estrangeiros por empresas brasileiras, impulsionado pelo aumento nos investimentos no país, foi de US$ 16,6 bilhões em 2011, o maior valor da história.

Esses resultados ajudaram a que o deficit nas transações correntes chegasse ao recorde de US$ 52,6 bilhões.

As contas externas reúnem balança comercial, serviços (setor em que entram viagens e aluguel de equipamentos) e remessas enviadas por pessoas físicas ao Brasil.

Já a conta financeira e de capital (onde estão os investimentos feitos por estrangeiros no Brasil) foi positiva em US$ 111,8 bilhões, principalmente pelo chamado investimento produtivo, o IED (Investimento Estrangeiro Direto), que chegou ao total de US$ 66,6 bilhões.

"Os estrangeiros foram atraídos ao Brasil pelos fundamentos da economia brasileira, que são considerados sólidos. O IED, que também foi recorde, financiou o nosso deficit em transações correntes", disse o técnico.

2012

Para este ano, a expectativa do Banco Central é que o deficit continue crescendo e chegue a US$ 65 bilhões. Já o investimento produtivo (IED) deve cair para US$ 50 bilhões, segundo o BC.

No caso de gastos de brasileiro no exterior, o crescimento deve continuar, mas de forma mais moderada, prevê o Banco Central. "Vamos partir de uma base de comparação bem mais elevada, que é 2011. O câmbio e a incerteza do cenário internacional devem contribuir para que o turista seja mais cauteloso", disse Tulio Maciel.

Em janeiro, segundo ele, o investimento estrangeiro direto deve alcançar US$ 4,5 bilhões (somente até ontem, já havia entrado US$ 4 bilhões em investimento produtivo no mês).

Já o deficit em transações correntes deve fechar o mês em US$ 6,7 bilhões, alta ante os US$ 6 bilhões observados no mês passado.

Etanol tem longo caminho a percorrer

POR THAÍS MARZOLA ZARA

O ano de 2011 foi particularmente difícil para a cana-de-açúcar.

Em 2011, segundo a Conab, a produção de etanol foi 17,2% menor do que a do ano anterior.

Enquanto o etanol anidro respondeu por 39,7% do total (aumento de 13,1% em relação à safra anterior), a produção de etanol hidratado recuou 29,6% (o equivalente a 5,8 bilhões de litros).

A razão é simples: com o preço do etanol hidratado competindo com um teto imposto por seu principal substituto (a gasolina), a produção deste recuou, abrindo espaço para aumento do etanol anidro (que é adicionado à gasolina).

Ao mesmo tempo, a renovação da área plantada ficou aquém do previsto, por conta das adversidades climáticas e pelas dificuldades financeiras dos produtores.

Por isso, ainda existem muitas lavouras com mais de dez cortes -quando o ideal é que a renovação ocorra após o quinto corte-, reduzindo o crescimento da produtividade por hectare.

Mas, para a safra 2012/13, há algumas boas novidades.

Em primeiro lugar, tivemos a concretização do livre acesso do etanol brasileiro ao mercado norte-americano, o que abre novas oportunidades para o setor.

Também as conclusões da COP-17 colocam o etanol como fonte alternativa limpa aos combustíveis fósseis, trazendo à mesa, mais uma vez, a consolidação do etanol como commodity no mercado internacional, a exemplo do que ocorreu com o açúcar.

Ainda assim, a produção brasileira precisaria avançar muito para atender esse potencial de demanda internacional, se tem encontrado dificuldades para suprir até a demanda doméstica.

Nesse quesito, a boa notícia é o Prorenova, novo programa do BNDES com recursos de R$ 4 bilhões, que visa incentivar a produção de cana por meio de financiamentos para a renovação dos canaviais antigos e para a ampliação da área plantada.

Apesar disso, grandes empresas do setor, como a Raízen, anunciaram a redução da previsão de crescimento para os próximos anos.

Ou seja, as perspectivas são um pouco melhores para o etanol em 2012, com aumento da safra e continuidade da renovação dos canaviais.

Mas, pensando no médio e longo prazos, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que o setor possa aproveitar as oportunidades tanto no mercado doméstico quanto no externo.

THAÍS MARZOLA ZARA é economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados e mestre em economia pela USP

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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