Mensalao: STF condena e Valério e seus sócios deverão ir para a cadeia.
Por Laryssa Borges e Gabriel Castro, na VEJA.com:
Após 23 sessões de julgamento do mensalão, o Supremo Tribunal Federal (STF) já condenou o publicitário Marcos Valério de Souza, operador e um dos símbolos do escândalo que assolou o governo Lula, a cumprir uma longa pena trancafiado numa cela.
Valério, o “carequinha” que emergiu após o estouro do mensalão em 2005, cumprirá pena pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e peculato. Até o final do julgamento, ainda responderá pelos crimes de formação de quadrilha e evasão de divisas em dezenas de operações fraudulentas. Somadas, as penas imputadas a ele ultrapassam oito anos de prisão, o que obriga o cumprimento em regime fechado. O tempo que ficará trancafiado será muito maior devido aos agravantes – chefiar um núcleo do esquema, por exemplo -, mas esse cálculo só será feito após o término do julgamento, na chamada fase da “dosimetria”.
Além de Valério, classificado ainda na fase pré-julgamento pelo ministro Joaquim Barbosa como “expert em lavagem de dinheiro”, outros réus já julgados na ação penal do mensalão correm o risco de ter de preparar a mudança para um presídio federal. Os banqueiros Kátia Rabello, José Roberto Salgado e Vinícius Samarane, que colocaram o Banco Rural a serviço do esquema criminoso com empréstimos fraudulentos e administração bancária à margem da lei, já foram apenados por gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. As penas mínimas dos dois ilícitos, juntas, chegam a seis anos de reclusão. E eles também podem ser condenados por evasão de divisas e formação de quadrilha.
Os réus João Paulo Cunha, deputado federal, o ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, e os sócios de Valério, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz completam a lista dos já condenados por mais de um crime no julgamento do mensalão e também devem amargar o cumprimento de pena em reclusão.
Elo direto com o núcleo político do escândalo, Marcos Valério deve ter suas atividades ilícitas utilizadas pelo ministro Joaquim Barbosa como argumento na próxima semana para pedir a condenação dos parlamentares que, corrompidos, venderam votos em benefício do governo Lula.
O publicitário mineiro foi apresentado ao PT pelo ex-deputado Virgílio Guimarães, que levou o operador do esquema criminoso diretamente ao então tesoureiro petista, Delúbio Soares. Os tentáculos do publicitário nas repartições da República foram verificados ainda na intermediação dele para que a banqueira Kátia Rabello pudesse se reunir com o então todo-poderoso ministro da Casa Civil José Dirceu e negociar diretamente benefícios da liquidação do Banco Mercantil, de Pernambuco. Esses fatores serão cruciais para os ministros comprovarem a ligação entre o publicitário e parlamentares que, a partir de propinas, venderam seus votos no Congresso.
Por Reinaldo Azevedo
A votação final do Capítulo IV do Mensalão: STF condena oito por lavagem de dinheiro
Por Gabriel Castro e Laryssa Borges, na VEJA.com:
O Supremo Tribunal Federal (STF) condenou nesta quinta-feira oito réus do processo do mensalão pelo crime de lavagem de dinheiro. Todos os acusados são ligados ao Banco Rural ou a empresas do publicitário Marcos Valério. Foram considerados culpados José Roberto Salgado, Kátia Rabello e Vinícius Samarane, vinculados ao Banco Rural, e outros quatro ligados à empresa SMP&B: Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz, Simone Vasconcelos e Rogério Tolentino.
À exceção de Tolentino e Simone, todos os réus já haviam sido condenado por outros crimes em etapas anteriores do julgamento. Por isso, estão agora mais próximo da prisão em regime fechado. O grupo ainda será julgado por outras acusações no decorrer do processo. Por outro lado, as rés Ayanna Tenório, ex-vice-presidente do Banco Rural, e Geiza Dias, ex-funcionária da SMP&B, foram absolvidas: os ministros consideraram que não havia provas suficientes de que as sabiam da ilegalidade das movimentações financeiras.
A ministra Cármen Lúcia deu nesta quinta-feira o voto decisivo para a configuração da maioria pela punição dos seis primeiros réus – entre eles, Kátia Rabello e Marcos Valério. “Todos os itens que comprovam ocorrência dos fatos delituosos estão presentes para fins de configuração do crime de lavagem”, disse a ministra. Carlos Ayres Britto, presidente da corte, ironizou a sequência de crimes cometida pelos acusados: “Parodiando Einstein, o universo e a esperteza humana não têm limites. Sobre o primeiro eu tenho dúvidas”.
Acusação
Para o Ministério Público, os dirigentes do Banco Rural, em conluio com o publicitário Marcos Valério e com seus funcionários, dissimularam a movimentação de recursos da instituição financeira, utilizando empréstimos fraudulentos para omitir do Banco Central os verdadeiros destinatários dos milhões que abasteceram o valerioduto.
Antes de Cármen Lúcia, o ministro Antonio Dias Toffoli já havia condenado oito dos dez réus. Ele livrou Rogério Tolentino e Geiza Dias, mas considerou os outros acusados culpados: “Está devidamente demonstrada a dissimulação da origem espúria dos recursos, o que se configurou através da concessão e renovações de empréstimos ideologicamente fictícios, bem como pela distribuição dos valores sem a identificação dos destinatários reais”, disse Toffoli.
Prejuízo
Na sessão plenária desta quinta-feira, o ministro Luiz Fux lembrou os danos sociais do crime de lavagem de dinheiro que, segundo estatísticas apresentadas por ele, comprometem, em média, 5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Para o magistrado, a mistura do dinheiro honesto com recursos oriundos de crimes representa uma verdadeira “metástase” na sociedade e afronta cidadãos que dependem do bem público.
Ao analisar a situação de Rogério Tolentino, que não é acusado de gestão fraudulenta mas responde por lavagem de dinheiro no mensalão, o ministro Luiz Fux comparou a lavagem de dinheiro com a ocultação de cadáver. Por essa tese, não é preciso ter cometido o crime original para cometer o crime subsequente. A necessidade de um crime antecedente é condição para a caracterização da sanção de lavagem de dinheiro.
A ministra Rosa Weber, que também votou na sessão desta quinta, condenou em bloco os banqueiros do Rural e o núcleo publicitário do esquema criminoso, encabeçado pelo mineiro Marcos Valério. A magistrada, no entanto, disse que não há provas contundentes da culpa da ex-diretora da agência de publicidade SMP&B, Geiza Dias, responsável por enviar mensagens eletrônicas informando os sacadores dos recursos do valerioduto. Na próxima segunda-feira, o STF passa a analisar o trecho da denúncia que trata dos deputados federais acusados de vender o apoio político ao governo do PT.
Por Reinaldo Azevedo
O debate desta quinta na VEJA.com
Por Reinaldo Azevedo
Os novos números do Ibope para São Paulo
Saiu há pouco nova pesquisa Ibope/Estadão/Globo sobre a disputa pela prefeitura de São Paulo. Vejam os números publicados no Estadao.com:
Celso Russomanno (PRB) subiu de 31% para 35% em duas semanas. José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT), oscilaram um ponto porcentual para baixo e ficaram com 19% e 15%, respectivamente, tecnicamente empatados. Chalita subiu para 6% e Soninha manteve-se com 4% das intenções de voto.
Rejeição
No que respeita à rejeição, os números do Ibope são muito diferentes dos do Datafolha, especialmente no que diz respeito a Serra. Diferentes e muito mais verossímeis. Segundo o Datafolha, Serra seria rejeitado por 46% dos paulistanos. No Ibope, a rejeição é de 34%. Por que afirmo que esse número é verossímil? Porque esse tem sido, historicamente, o percentual de eleitores antitucanos.
Por Reinaldo Azevedo
Tolentino condenado
Gilmar Mendes dá o sexto voto pela condenação de Tolentino. Daqui a pouco, debate na VEJA.com. Postarei o link.
Por Reinaldo Azevedo
Vota Marco Aurélio; deve absolver só Vinicius Samarane e Ayanna; ele condena a secretária
O ministro é membro do TSE e tem de participar de sessão daquele tribunal. Por isso, vota antes de Gilmar Mendes, que viria na sequência. Absolve Vinicius Samarane, a exemplo do que fez no caso de gestão fraudulenta, e condena Rogério Tolentino (que recebe o quinto voto). Deve condenar todos os outros, inclusive a secretária Geiza Dias. Só não entendo que se possa condenar a secretária e absolver Samarane, que era vice-presidente do banco.
Por Reinaldo Azevedo
Carmen Lúcia dá voto exemplar e forma a maioria para condenar seis réus: Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Simone Vasconcelos, Cristiano Paz, Marcos Valério e Ramon Hollerbach
Carmen Lúcia, mais uma vez, foi exemplar. Emitiu um voto claro, sereno, sem qualquer ânimo de provocação a este ou àquele, sem pernosticismos. Deveria servir de modelo para a corte neste julgamento. Condenou oito réus, absolvendo a secretária Geiza Dias e, como todos os outros ministros, Ayanna Tenório.
O voto de Carmem Lúcia forma maioria — o 6º — e já estão condenados também por lavagem de dinheiro Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Simone Vasconcelos, Cristiano Paz, Marcos Valério e Ramon Hollerbach.
Por Reinaldo Azevedo
Quem é mesmo Tolentino, absolvido por Lewandowski e Toffoli? É o rapaz que comprou o apartamento de ex-mulher de José Dirceu
Cumpre lembrar quem é Rogério Tolentino, além do sujeito que contraiu o suposto empréstimo no BMG. É o rapaz que comprou o apartamento de Maria Ângela da Silva Saragoça, ex-mulher de José Dirceu, adiantando R$ 20 mil em espécie. Mundo pequeno, né? A ex de Dirceu quer vender um apartamento, assim, de classe média, e, por acaso, quem compra é… Tolentino, um milionário.
Maria Ângela também foi contratada para trabalhar no BMG — banco no qual Tolentino contraiu o empréstimo — a pedido de Marcos Valério. Mais coincidência.
Tomara que eu esteja errado! Sempre que percebo algo que não acho muito bom, penitencio-me pelo que pode ser um mau pensamento. Mas me parece que há um esforço da dupla para tratar Tolentino como mera personagem incidental no imbróglio. Justamente o rapaz que faz o liame mais claro entre Dirceu e Marcos Valério.
Por Reinaldo Azevedo
A fúria de Lula não poupa nem Frei Betto. Ou: Braveza de ex-presidente vale como medalha de honra ao mérito para os ministros do STF
Luiz Inácio Lula da Silva agora faz saber aos seus que está mexendo os pauzinhos para evitar que os mensaleiros condenados sejam presos. Fiquei cá a pensar com quais instrumentos opera esse mago, e não consegui ver nenhum que não seja uma interferência indevida, ilegal e subterrânea no Supremo. Como não dispõe de instrumentos institucionais para fazer essa pressão, de quais outros disporia? Quando tentou intimidar Gilmar Mendes, com uma chantagem sem lastro, deu-se mal. Teria ele condições de se dar bem com outros? Com quais armas?
Lula não se conforma com o fato de o Brasil ser uma República. Considera-se o quarto Poder — acima dos outros Três, claro! — e vai, assim, metendo os pés pelas mãos.
Fiquei sabendo de algo espantoso. O Apedeuta está bravo até com… Frei Betto! Sim, está em litígio afetivo com esse notável pensador, que, à guisa de imaginar o cruzamento entre o catolicismo e o comunismo, também delirou com uma transa (falo sério!) entre Santa Tereza D’Ávila e Che Guevara, o “Porco Fedorento”. E por que a zanga com Frei Betto? Porque foi o primeiro que lhe falou de um certo Joaquim Barbosa para o Supremo.
Lula não estava em busca de um ministro propriamente, mas de um elemento de propaganda. O fato de Barbosa ser negro se lhe afigurou mais importante do que o de ter credenciais, como tem, para assumir o posto. O Apedeuta esperava “fidelidade” daqueles que foram por ele indicados para o STF. E esperava ainda mais de Barbosa. No íntimo, deve achar que fez uma grande concessão.
Ou por outra: o Babalorixá de Banânia não indicou um negro por “zelo de justiça”, como escreveu Padre Vieira, mas por concupiscência politicamente correta. O próprio ministro percebeu isso e afirmou, certa feita, numa entrevista, que esperavam na corte um “negro submisso”. Indaguei, então, a quem estava se referindo; incitei-o a dar o nome desse sujeito indeterminado. Agora já sei.
A própria figura de Barbosa, já apontei aqui, passou por uma drástica mudança naquele submundo da Internet alimentado com dinheiro público. De herói, passou a vilão; de primeiro negro a chegar ao Supremo como evidência da superioridade moral do PT, passou a ser o “negão ingrato”, que cospe na mão de que lhe garantiu tão alta distinção. Sob o pretexto de combater o racismo, esperava-se um… negro submisso!!! Barbosa, convenha-se, está dando uma resposta e tanto à má consciência.
Já discordei muitas vezes do ministro — e o arquivo está aí para prová-lo. Mas nunca ataquei a sua altivez. Altivez que deve ter não porque negro (essa qualidade não tem cor), mas porque ministro do Supremo. Lula também está bravo com outros. Não julgava estar indicando ministros, mas vassalos; não escolhia nomes para a mais alta corte do país, mas procuradores de um projeto de poder. Por isso anda por aí dando murro na mesa, inconformado com a “ingratidão”.
Em meio a tantos males, o mensalão fez ao menos um grande bem ao país: despertou-nos para a existência de uma corte suprema. Os deputados são 513. Os senadores são 81. Ministros de estado, especialmente na era petista, os há a perder de vista. Mas só 11 homens e mulheres na República podem sentar naquelas cadeiras.
Agora, a sociedade já os descobriu. E espera que façam justiça. Um deles, dia desses, foi vaiado por um grupo num aeroporto. Não era uma horda de militantes fardados, de camisas-negras ou de camisas-vermelhas. Eram brasileiros que trabalham, que estudam, que repassam ao Estado, também à Justiça, boa parte dos seus rendimentos. E que cobram dos ministros decoro, decência e coerência.
Lula está bravo com Joaquim e com outros “ingratos”? Vale por uma medalha de honra ao mérito.
Por Reinaldo Azevedo
STF não conseguiu ainda marcar sessões extras. Ou: Qualquer ação ou omissão que venham a impedir Britto de presidir o fim do julgamento é uma sabotagem contra a Justiça e contra o povo
E os ministros do Supremo Tribunal Federal, infelizmente, não conseguiram marcar a sessão extra para as quartas de manhã. Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski são contra. Outros há que, pelas mais variadas razões, não fazem assim tanto esforço. Publicamente, exceção feita a Mello, ninguém se opõe. Intramuros, poucos defendem a ideia com vigor. Como Ayres Britto tem certa paixão pelo consenso… Vamos ver.
O presidente conseguiu o compromisso informal para se votar ao menos um capítulo por semana. Nesta, encerra-se o terceiro. Há mais quatro — ou cinco, a depender de como se leia a coisa. O VI, por exemplo, é dividido em subitens. De todo modo, prosperasse esse compromisso, a votação poderia terminar na segunda ou terceira semana de outubro. Depois viria a fase da dosimetria e pronto! Faltaria a redação do acórdão, mas com tudo definido.
Vamos ver. Como já observei aqui, houve razoável consenso no que se votou até aqui. Quando chegar a vez do núcleo político, aí as sensibilidades tendem a se exacerbar, e isso pode ser traduzido em… tempo. Anotem aí: qualquer ação ou omissão que venham a impedir Ayres Britto de presidir o fim do julgamento é uma forma de sabotagem contra a Justiça e contra o povo brasileiros.
Por Reinaldo Azevedo
O Supremo, o tempo e uma estranha torcida
Há ministro do Supremo que torcia pela saída de Cezar Peluso e que está torcendo agora para que Teori Zavascki participe do julgamento. É claro que o indicado não pode ser responsabilizado pela torcida de terceiros.
Cabe uma observação: Zavascki não precisa pedir vista para atuar no caso. Basta que se diga apto a tanto. Esta, aliás, é uma indagação que lhe tem de ser feita no Senado se o julgamento ainda estiver em curso: “Vossa excelência pretende participar?”. Outra poderia ser emendada: “Ainda que o Regimento lhe confira tal prerrogativa, considera que seria, dadas as circunstâncias, um procedimento prudente?”.
Quero deixar clara uma coisa aqui: afirmei, com base na biografia do ministro, que ACHO que ele não participa. Se vai ou não, isso não posso assegurar. Quem cuida da sua história pessoal é ele, não eu. Que as coisas estão caminhando num ritmo atipicamente acelerado, não há dúvida. Informa a Folha:
‘O PMDB acelerou no Senado os trâmites da aprovação do nome de Teori Zavascki como ministro do Supremo Tribunal Federal. Ontem, dois dias após a presidente Dilma Rousseff indicar Teori para o STF, o líder do partido, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), apresentou à Comissão de Constituição e Justiça relatório favorável à indicação e concedeu vista coletiva do processo. Com isso, não há possibilidade de adiamento quando o assunto for levado à pauta. A sabatina e a votação do nome de Teori na CCJ, controlada pelo PMDB, ocorrerão ou na última semana deste mês ou em meados de outubro, depois do primeiro turno da eleição municipal. A etapa seguinte, que é a votação no plenário, depende do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Há a expectativa de que Teori tome de fato posse cerca de 20 dias depois da aprovação dos senadores.”
(…)
Voltei
A eventual participação do novo ministro, como se vê, depende do ritmo do Senado e, sobretudo, do ritmo do Supremo. Só um dado: há dispositivos que permitem a Sarney submeter o nome do indicado ao plenário imediatamente após a votação na CCJ, sem prazo nenhum.
A minha expectativa e a minha aposta ainda não mudaram, mas não posso deixar de notar o fato atípico: entre a saída de Peluso e apresentação do relatório de Renan, passaram-se apenas 9 dias.
O julgamento é que podia andar com a celeridade da indicação de Zavascki.
Por Reinaldo Azevedo
DO BLOG DE LAURO JARDIM:
Irritada com Deus
Lula: Deus sorri
Ontem, depois de ter ganho um ministério de presente, Marta Suplicy disse que “Lula é Deus”.
Em novembro passado, no entanto, comentou assim na Folha de S. Paulo a decisão de Lula em enfiar-lhe goela abaixo a candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo:
- Foi uma decisão do Lula. Ninguém tinha tido essa ideia brilhante.
Bobagem. Deve ter sido uma frase dita num momento em que a fé em Deus faltou.
Por Lauro Jardim
Apareceu, mas nem tanto
Marta aparece menos que Lula
Apesar de todo o esforço para que Marta Suplicy se esforce para ajudar a eleger Fernando Haddad, o volume de aparições da agora ministra na propaganda de TV do petista é discreta, se cotejado com Lula.
Comparando-se suas aparições entre os dias 5 e 8 com as de Lula no mesmo período, constata-se que o ex-presidente apareceu quatro vezes mais do que Marta.
Por Lauro Jardim
Um inquérito para o Deltaduto

Randolfe: contra a pizza da CPI
Crente que a CPI mista do Cachoeira terminará em pizza, Randolfe Rodrigues foi a Goiânia na terça-feira para conversar com os procuradores Léa Batista e Daniel Rezende. No encontro, os procuradores disseram ao senador que, a partir das investigações já realizadas no Congresso (com base nos requerimentos de quebra de sigilos de empresas laranjas) vão pedir a abertura de um inquérito para investigar o duto de dinheiro público criado a partir da empreiteira de Fernando Cavendish.
Por Lauro Jardim
Rebelião do Requião

Ele quer atormentar o Planalto
O barulhento Roberto Requião resolveu insuflar os colegas de bancada a atacar o plano de Dilma Rousseff para reduzir o preço da energia elétrica. Para Requião, a redução na conta de luz é muito pequena para justificar a renovação das concessões das empresas de energia elétrica por mais trinta anos. O paranaense quer que o governo volte a licitar as concessões ou crie uma empresa pública para geri-las.
Na reunião da bancada do PMDB, ontem à tarde, a fala dura de Requião chegou a ganhar simpatizantes, o que fez Renan adiar a discussão do assunto para o próximo esforço concentrado. De qualquer maneira, as coisas na bancada peemedebista do Senado costumam evoluir de acordo com o humor de Renan e José Sarney. Se os dois não derem ouvidos a Requião, ninguém dará.
Por Lauro Jardim
Tumultos do “Inverno Árabe” se espalham; abriu-se a Caixa de Pandora
O texto abaixo está na VEJA.com, com informações das agências France-Presse e EFE. Nesta noite ou nesta madrugada, voltarei ao assunto. Publiquei na manhã desta quinta um post sobre o que chamo desde abril do ano passado de “Inverno Árabe”, referindo-me à expansão de várias modalidades de fundamentalismo, sob o manto de uma dita “primavera”.
Não caiam na conversa de que tudo isso foi motivado por um “filme”, sobre os quais se têm informações obscuras. Os israelenses e os judeus, claro!, são apontados como os suspeitos de sempre. O filme é mero pretexto. Não por acaso, as “revoltas” tiveram início num… 11 de setembro, dia em que o embaixador americano na Líbia foi assassinado.
Ao apoiar a “Primavera Árabe”, os EUA abriram a Caixa de Pandora. Como no mito, só a esperança ficou presa ao fundo.
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Dois dias após o embaixador dos Estados Unidos ser morto na Líbia como resultado de uma revolta causada contra um filme anti-islamita americano, a onda de revolta atinge cada vez mais países islâmicos. Na sede diplomática americana em Sanaa, capital do Iêmen, confronto entre policiais e manifestantes deixou pelo menos um morto e diversos feridos. Além do Egito, onde os protestos continuam, há registro de distúrbios no Irã e no Iraque. Postos diplomáticos em outros países estão em alerta.
No Cairo, os protestos foram promovidos pelo segundo dia seguido. Uma manifestação diante da embaixada dos Estados Unidos resultou em confronto entre policiais e manifestantes. A população respondeu às tentativas das forças de segurança de dispersar o grupo atirando pedras, garrafas e coquetéis molotov contra os oficiais. Dados das autoridades locais apontam que pelo menos 13 pessoas ficaram feridas.
O presidente do Egito, Mohammed Mursi, disse nesta quinta-feira que condena qualquer difamação ao profeta Maomé, mas assegurou que fará o necessário para garantir a segurança das embaixadas e dos turistas estrangeiros em seu país, afirmando também que o povo egípcio é “civilizado e rejeita tais atos ilícitos”.
Mursi disse que, em conversa por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu o fim deste tipo de comportamento ofensivo ao Isão. Segundo ele, o mandatário americano assegurou que as ações são obra de uma “minoria” que não representa a nação.
Iêmen
Em Sanaa, centenas de manifestantes revoltados com a representação de Maomé como um aproveitador mulherengo que abusava de crianças e incitava matanças no filmeInnocence of Muslims (A Inocência dos Muçulmanos) conseguiram entrar na embaixada americana, mas foram dispersados pela polícia, que fez disparos para o alto e lançou jatos d’água para afastar o grupo. Fontes apontam que os invasores gritavam palavras em defesa de Maomé e tinham como objetivo atear fogo em alguns automóveis estacionados no local. Uma testemunha citada pelo The New York Times disse que a bandeira americana foi queimada, sendo substituída pela iemenita. O número de pessoas feridas não foi revelado.
O porta-voz da representação diplomática do Iêmen em Washington, Mohammed Albasha, disse que seu governo condena o ataque e que irá “honrar as obrigações internacionais para assegurar a segurança dos diplomatas”.
Irã
Em Teerã, quase 500 pessoas participaram de um protesto perto da embaixada da Suíça – que representa os interesses dos Estados Unidos no Irã – contra o filme. Mais de 200 policiais e bombeiros conseguiram impedir a aproximação dos manifestantes da sede diplomática. Os funcionários diplomáticos foram retirados do local por precaução. Os manifestantes gritavam frases como “Morte aos Estados Unidos” e “Morte a Israel”.
Iraque
No Iraque, centenas de simpatizantes do radical xiita Moqtada al-Sadr, que comanda uma milícia que combate
a presença americana no país, protestaram na cidade de Najaf, a cerca de 150 quilômetros da capital Bagdá. Assim como em Teerã, eles gritavam frase de ódio contra o filme, os Estados Unidos e Israel. Najaf, uma das principais localidades sagradas dos xiitas, abriga o mausoléu de Ali, figura central desta corrente religiosa.
Em razão dos protestos, Obama já havia declarado, na quarta-feira, que os Estados Unidos irão elevar imediatamente a segurança de seus diplomatas em todo o mundo. “Eu ordenei à minha administração que forneça todos os recursos necessários para apoiar a segurança de nossos funcionários na Líbia, e para aumentar a segurança de nossos postos diplomáticos em todo o planeta.” Outros postos diplomáticos ao redor do mundo declararam alerta recentemente, como Armênia, Burundi, Kuwait, Filipinas, Sudão, Tunísia e Zâmbia.
YouTube
O governo da Indonésia, país de maior população muçulmana do planeta, solicitou nesta quinta-feira ao site YouTube o bloqueio do filme que provocou manifestações de violência contra americanos no mundo muçulmano. “Este filme é, sem dúvida alguma, um insulto para uma religião e provocou indignação entre os muçulmanos da Indonésia”, disse o porta-voz do ministério da Informação e Comunicações, Gatot Dewa Broto. O governo do Paquistão bloqueou o acesso ao site ontem para evitar uma onda de protestos no país onde uma grande porcentagem da população segue a religião de uma forma extremista.
O filme
Innocence of Muslims, segundo as primeiras informações, teria sido produzido no sul da Califórnia – financiado com doações de judeus – por uma americano de origem israelense, identificado pelo Wall Street Journal como Sam Bacile. A obra provocou manifestações de repúdio em vários países após representar o profeta Maomé como um trapaceiro sem caráter e com fortes instintos sexuais. Para o islamismo, qualquer frepresentação do profeta Maomé é considerada uma forma de pecado, passível de altas punições dependendo do país onde a religião é praticada.
As revoltas tiveram início no Egito e na Líbia, onde o diplomata Christopher Stevens e dos outros três americanos morreram em um ataque ao consulado do país na cidade de Bengasi. O governo líbio reconheceu que perdeu o controle da situação. Segundo o vice-ministro do Interior, Wanis al Sharf, as forças de segurança líbias foram incapazes de interromper os manifestantes que atacaram o consulado.
Por Reinaldo Azevedo
A morte do embaixador americano na Líbia nas brumas do “Inverno Árabe”. Ou: As bobagens de Obama e a pergunta tonta de Hillary. Ou ainda: Não pra culpar o “Joirjibúxi”?
Radicais islâmicos mataram o embaixador americano na Líbia, Jay Christopher Stevens, e três outros diplomatas num ataque ao consulado dos Estados Unidos em Benghazi, epicentro da guerra civil que levou a Otan a derrubar o ditador Muamar Kadafi. Vamos lá.
Empreguei pela primeira vez a expressão “inverno árabe”, numa alusão irônica à suposta “Primavera”, num texto publicado no dia 3 de abril de 2011. E, desde essa data, o fiz muitas outras vezes. Não sou entusiasta da dita-cuja e, nesse particular, estou quase sozinho. Creio que um único amigo, professor respeitadíssimo (e por excelentes motivos!), compartilha dos meus muitos senões. No mais, nesse particular, vivo em quase solidão. Nunca tive e não tenho dúvida de que a dita “Primavera Árabe” prepara o inverno fundamentalista — que já exibe seus sinais nos países que passaram ou estão passando pela “revolução”. Já escrevi muito a respeito. “O País dos Petralhas II — O inimigo agora é o mesmo”, que chega às livrarias amanhã, traz textos sobre o assunto.
Não tinha, obviamente, simpatia pelos ditadores que caíram nem tenho pelos ditadores que restaram — ou pelos que foram entronizados, ainda que possam executar a mímica de um regime democrático. Entre a ditadura laica, que mantenha o terror debaixo de chicote, e um regime autoritário teocrático ou teocratizante, que flerte com terroristas, a escolha mais moral me parece óbvia, ainda que eu não prefira viver nem em um nem em outro. Em momentos assim, alguém sempre se exalta: “Então aqueles povos não têm o direito à democracia?”. Claro que têm! Mas eles a querem? Ela é um valor que eles realmente prezam?
Sob o governo de Barack Obama, os EUA foram vendo cair aliados históricos na região ou, vá lá, “neoaliados”, como Kadafi. Bastaram dez dias de protestos no Egito para que a Casa Branca puxasse o tapete de Hosni Mubarak. Alguém poderia dizer: “É uma ilusão achar que os americanos poderiam fazer alguma coisa…”. Talvez não! Mas não se joga um aliado na boca dos leões com essa facilidade, a menos que se tenha um plano. E Obama não tinha nenhum. O Egito é hoje governado pela Irmandade Muçulmana — que aprendeu a fazer um discurso moderado enquanto vai minando as bases do que havia de laicismo no país. E estamos falando do Egito, celeiro original de boa parte do extremismo muçulmanos. O resultado é evidente. A mim me basta constatar que o saldo da dita Primavera é uma hostilidade hoje maior do que antes aos Estados Unidos e a Israel.
De todos os erros, o cometido na Líbia foi o mais brutal. Erro e, mais do que isso, promoção da desordem internacional. A ação dos EUA e da Grã-Bretanha na Líbia, por intermédio da Otan, desrespeitou a resolução da ONU de maneira vergonhosa. Conforme demonstrei aqui no dia 24 de agosto do ano passado, o documento (íntegra aqui) cobrava um cessar-fogo de Kadafi, mas nada dizia sobre os “rebeldes”. Estes, por acaso, nunca ameaçaram civis? Foi redigida numa linguagem rebarbativa o bastante para permitir quase qualquer coisa. Estava escrito que todos os esforços seriam feitos para proteger a população. “Todos?” Quais? A Otan operou em parceria com os ditos rebeldes. Bombardeios aéreos antecediam os avanços por terra. Mais: a organização entregou armas aos rebelados. Não tinha autorização para fazer nem uma coisa nem outra. Quando a casa de Kadafi foi atacada, na suposição de que era um alvo militar, o objetivo era assassiná-lo, o que também não estava na resolução. Quando ele e seu filho foram caçados e mortos, embora tenham sido presos com vida, a patrocinadora da barbárie foi a… Otan.
Mas quem eram, afinal de contas, os “revolucionários” de Banghazi? Homens que só queriam democracia, liberdades, pluralismo — boas razões, sem dúvida, para que a Otan metesse bala nos partidários dos tiranos? Não! Benghazi era também o centro de resistência — vejam que tragédia! — ao que poderia ser o único aspecto aceitável em Kadafi: o seu viés laico — e isso nada tem a ver com a brutalidade do seu regime.
Os jihadistas lutaram pela “libertação” da Líbia. Sim, senhores! O extremismo islâmico e a Otan estavam do mesmo lado (leia post aqui) para derrotar Kadafi. A última vez que os EUA decidiram se juntar a essa gente para uma ação conjunta foi, deixem-me ver…, no Afeganistão, depois da invasão soviética, ocorrida em 1979. A Al Qaeda começou ali. Um dos homens que foram treinados pelos EUA para combater os soviéticos foi… Osama Bin Laden! Se americanos e jihadistas estão do mesmo lado, quero saber quem é a terceira personagem que justifica essa heterodoxia.
Uma pergunta feita por Hillary Clinton, depois da tragédia de Benghazi, expõe os desacertos da política externa americana de forma clara e inquestionável: “Como isso pôde ter acontecido em um país que ajudamos a libertar, na cidade que ajudamos a salvar?”. É a pergunta de uma tola. Ela quer saber por que os terroristas não são seres gratos e justos. Antes que avance, uma informação: Jay Christopher Stevens negociou pessoalmente com os carniceiros de Benghazi o apoio dos Estados Unidos à “revolução”, contra o carniceiro Muamar Kadafi.
Obama e Hillary, na sua clarividência, trocaram um carniceiro que havia começado a combater o terrorismo por outros que têm os terroristas como aliados. Como trocaram a ditadura laica de Mubarak pela ditadura “suave” da Irmandade Muçulmana.
O extremismo religioso progride na Líbia — país, reitero, que teve o governo derrubado pela Otan, não pelos ditos “rebeldes” — sob o olhar cúmplice do novo poder. Leiam este trecho de reportagem de Lourival Santanna, do Estadão, publicado no dia 9 deste mês. Volto em seguida.
As máquinas fizeram o trabalho à luz do dia, enquanto uma pequena multidão assistia, incluindo agentes do Comitê de Segurança Suprema (CSS) – encarregado de manter a ordem na Líbia pós-Kadafi -, que não fizeram nada para conter a destruição. Em poucas horas, o mausoléu de 500 anos de Sidi Adb as-Salam al-Asmar e uma biblioteca adjacente, em Zliten, estavam arrasados. Sidi foi um santo da seita muçulmana sufista, considerada herética pelos conservadores.
Isto foi no dia 25. No dia seguinte, encorajados pelo êxito da operação, os salafistas, corrente radical que prega a “purificação” do Islã, repetiram a cena perto do centro de Trípoli, destruindo o santuário sufista de Al-Shaab al-Dahman. Eles seguiam uma fatwa (decreto religioso) do clérigo saudita Mohamed al-Madkhalee, ordenando a dessacralização de todos os santuários venerados pelos sufistas.
Panfletos circulam nas universidades ordenando que as alunas não usem roupas apertadas e cubram a cabeça. Madkhalee ensina que uma moça não pode ter aulas nem de religião de um professor que não seja seu parente, e nem mesmo de véu, pois “com um olhar ela pode seduzi-lo”.
Aparentemente os salafistas resolveram pôr o decreto em prática após sua derrota nas eleições para o Congresso Nacional, há um mês, nas quais nenhum grupo radical elegeu representantes, e a Irmandade Muçulmana, que tem uma agenda próxima à deles, obteve apenas 17 das 120 cadeiras (outras 80 foram destinadas a independentes). A Aliança das Forças Nacionais, liderada pelo ex-primeiro-ministro interino Mahmud Jibril, que se declara um religioso moderado, venceu com 39 cadeiras.
De acordo com um repórter da revista Newsweek, um agente do Ministério do Interior que acompanhava a demolição em Trípoli disse que tinha recebido “instruções” para executá-la e afirmou que os sufistas praticam “magia negra”: “Limpamos o leste e agora vamos limpar Trípoli.”
O ministro do Interior, Fawzi Abdel-Al, admitiu sua impotência: “Teríamos de usar armas para conter esses grupos. Eles são uma força grande na Líbia em termos de contingente e armas. Não vou entrar numa batalha perdida e deixar que pessoas sejam mortas por causa de um túmulo. Se todos os santuários na Líbia forem varridos e ninguém for morto, é um preço que estamos dispostos a pagar.”
Voltei
Entenderam? A dita autoridade, muito humanista, não vai deixar que pessoas sejam mortas “por causa de um túmulo”!!! O próprio governo se torna agente da intolerância, a serviço do extremismo. Wanis al-Sharif, ministro do Interior da Líbia, pronunciou-se, sim, sobre a morte do embaixador. Nestes termos: “Tiros vindos de dentro do consulado causaram a ira dos manifestantes. Os americanos não tomaram precauções necessárias”. Vale dizer: a culpa é da vítima. E aproveitou para atribuir os assassinatos a partidários de Kadafi…
É só o começo do inverno. E, desta vez, nem dá para culpar o, como era mesmo o nome dele?, “Jorjibúxi”
Por Reinaldo Azevedo
Dilma, Marta e o rebaixamento da vida republicana
Confesso que senti um tantinho de vergonha — certa vergonha, vá lá, de natureza corporativa — ao ler o noticiário que se seguiu à indicação de Marta Suplicy para o Ministério da Cultura. Sim, falou-se do prêmio pela adesão à candidatura do petista Fernando Haddad; apontou-se a grande inteligência de Dilma, que estaria abrindo espaço para que o PR passasse a apoiar, na prática, Haddad na disputa pela Prefeitura de São Paulo, já que o suplente da senadora, Antonio Carlos Rodrigues, é desse partido; viu-se em Marta até aquela que deu a volta por cima, depois de humilhada por Lula durante a fase de escolha do candidato. Ele a tirou da disputa quase na porrada.
Muito bem! Só não se falou de uma coisa: por que Marta é um bom nome para o Ministério da Cultura? Não se tocou no assunto! Ao contrário até: chegou-se a tratar a operação como evidência de astúcia de Dilma, mas nada de falar sobre o cargo para o qual ela havia acabado de ser indicada. Pra quê? Isso não tem a menor importância.
Em cinco dias, Dilma jogou fora boa parte dos créditos daqueles que viam nela uma figura diferente de Lula, que não aposta no tudo ou nada, que tem apreço pelo valor institucional do cargo, que não usa a máquina para fazer baixa política e para atender a interesses partidários. Na quinta-feira, anunciou a redução da tarifa de energia elétrica, que só entrará em vigor no ano que vem. Ao incluir a “estabilidade” como uma das palavrinhas mágicas do Brasil dos “últimos 10 anos”, a criadora da Comissão da Verdade sequestrou a história. Em seguida, veio a nomeação de Marta. Tudo em meio à campanha eleitoral.
“Oh, vejam como Dilma está mesmo aprendendo a fazer política!”
“Oh, vejam como Dilma foi astuta!”
“Oh, Marta está sendo desagravada! É uma vencedora!”
Mas por que Marta na Cultura? Com que especial qualificação? Bem, sobre isso, não se disse nada, e ela própria confessou que precisa estudar o assunto, já que, disse, como membro da base do governo, está “à disposição” da presidente. E os ingênuos que achavam que, eleita senadora, estava à disposição da população de São Paulo.
A vida política e institucional brasileira anda rebaixada. Não raro, setores consideráveis da imprensa perdem seus referenciais e veem astúcia nesse rebaixamento.
Por Reinaldo Azevedo
Russomanno promete uma coisa na rua e o seu contrário em encontro com empresários
Por Ricardo Chapola, no Estadão:
O candidato do PRB à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, recuou ontem, em encontro privado com empresários, de uma promessa feita em público no sábado. Durante passeata na zona leste, na semana passada, Russomanno prometeu rever todos os contratos terceirizados de segurança da administração municipal. Na reunião fechada, ele afirmou a representantes do setor que manterá tudo como está, caso seja eleito.
Russomanno vem fazendo uma série de promessas na área da segurança. Chegou a ser questionado pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD) a respeito de seu plano de aumentar o efetivo da Guarda Civil Metropolitana. Nesse contexto, repórteres perguntaram para o candidato do PRB no sábado se ele iria utilizar os guardas civis em serviços hoje realizados por terceirizados, e com isso rever os contratos de segurança privada. “Mas é claro que vou (rever os contratos). Eu quero a GCM fazendo a segurança da cidade de São Paulo. Eu quero a GCM fazendo a segurança das escolas. Inclusive no entorno das escolas, onde a gente não tem segurança e temos o tráfico e o crack tomando conta das escolas”, afirmou Russomanno.
Num outro evento, já nesta semana, o candidato afirmou aos jornalistas, após encontro com servidores federais na zona oeste: “A Prefeitura está gastando R$ 120 milhões em segurança privada quando poderia estar usando isso na Guarda Civil Metropolitana. O que nós temos aí é desvio de dinheiro”. O candidato do PRB ainda fez uma série de questionamentos: “Por que terceiriza tanto? Por que não faz diretamente? Por que não prestigia o funcionário público? Por que paga mais para o terceirizado do que se paga para o funcionário público?”
Ontem, a assessoria de imprensa de Russomanno chegou a divulgar o evento que teria com empresários de segurança privada de São Paulo, na zona norte da cidade. Horas depois, porém, a assessoria informou que o encontro seria fechado à imprensa. A convite de um empresário, o Estado acompanhou a reunião. Os representantes do setor cobraram o candidato do PRB logo no início. Pediram que ele “olhasse com mais carinho” sua proposta de rever os contratos.
Vice-presidente de um sindicato empresarial, João Eliezer Palhuca afirmou que o serviço prestado pela segurança privada tem papel “suplementar” para a segurança pública. Segundo ele, empresas particulares são responsáveis por 40% dos serviços prestados aos órgãos públicos. “A prefeitura é grande utilizadora do serviço. Nossa atividade funciona como atividade suplementar à atividade de segurança pública à medida que ela não consegue suprir a demanda”, disse.
Russomanno, então, disse ter havido “um mal entendido”. Ressaltou que, se eleito, vai manter os contratos com as empresas. “Existe um mal entendido entre o que tenho dito à imprensa e o que chega aos empresários. (O plano) É conviver pacificamente com todos aqueles que querem fazer segurança pública. Nada a respeito de afastar as empresas de segurança dos trabalhos que estão sendo desenvolvidos”, afirmou.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Marta diz que Lula é um deus!!!!!!!!!!!
Por Maria Lima, no Globo:
Na véspera de assumir o Ministério da Cultura, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) se despediu nesta quarta-feira do Senado elogiada pelos colegas. A petista garantiu que vai participar da campanha de Fernando Haddad (PT) à prefeitura de São Paulo e destacou que o trio formado por ela, Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula pode levantar a candidatura petista.
“O trio Lula , Dilma, Marta é muito forte. O Lula é um deus! Dilma é bem avaliada e eu tenho o apelo de quem fez. Então, com a entrada desse trio, vai dar certo. Eu combinei que ia entrar na hora e agora estou entrando”, afirmou Marta. Marta negou que estivesse se sentindo vingada por ter sido preterida na disputa da capital paulista.
“Não passa por aí. Eu fiquei triste quando aconteceu e não escondi de ninguém. Mas disse: na hora que achar que faço a diferença eu entro. Eu falei com o Haddad: primeiro vai gastar sola de sapato, conhecer a cidade.” A senadora petista disse que vai tentar aumentar o orçamento da Cultura com emendas no Orçamento. Marta vai receber o ministério mais turbinado e não pretende fazer pedidos para mais verbas. “Teve um acréscimo substancial no orçamento (do Ministério da Cultura). Vou tentar ampliar, ver com emendas. Não me debrucei ainda sobre isso. É importante realçar que está satisfatório (o que veio do Governo). Vou ampliar não pedindo para a presidente, vou ampliar com emendas no orçamento.”
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Na origem do PSOL, um terrorista e assassino. Ou: Veja por que este homem expôs a moral fraturada de Marcelo Freixo. Ou: O queridinho da esquerda Moët & Chandon
Berg Nordestino: o nome que movimentou o debate eleitoral por citação no relatório da CPI das Milícias (Cecília Ritto)
O PSOL é realmente um partido encantador. Não por acaso, tem entre os seus fundadores o italiano Achile Lollo. Comprovadamente um terrorista. Comprovadamente um assassino. Jogou gasolina por baixo da porta da casa de um adversário político e meteu fogo. No imóvel, estavam um gari, sua mulher e seis filhos. Dois morreram queimados: Stefano, de 8 anos, e Virgilio, de 22. Tudo porque o socialista Lollo, que hoje mora no Rio, queria um mundo melhor, entenderam? Se, para isso, tinha de meter fogo em pessoas, por que não? No Brasil, ainda preocupado com o bem da humanidade, essa alma generosa resolveu fundar o PSOL. Que bom! Agora os socialistas ricos da cidade já têm em quem votar! Para saber mais sobre Lollo, clique aqui.
A gente vê que esse entendimento particular da Justiça é a raiz de uma decisão recente tomada pelo partido. Há a suspeita de que um candidato a vereador da legenda, chamado Berg Nordestino, seja próximo das milícias. Marcelo Freixo, que disputa a Prefeitura pelo partido, não teve dúvida: impoluto, pediu a expulsão de Nordestino. A ultraesquerda com renda superior a 10 salários mínimos de Ipanema, Leblon e Copacabana aplaudiu aliviada. Atenção! Contra o candidato não existe nada além de uma suspeita. Não existe nem sequer um inquérito. A candidatura de Nordestino foi mantida pelo TRE.
Muito bem! Sabe-se agora que o mesmo PSOL tinha como candidato a vereador ninguém menos do que um homem condenado pela Justiça, que está cumprindo pena em regime condicional: Valdinei Medina Machado da Silva. Sua candidatura foi cassada pela Justiça Eleitoral. No caso de Machado da Silva, a decisão de Freixo é outra: ele fica no partido.
A conclusão é uma só: Freixo não reconhece a “Justiça” burguesa como referência aceitável, entenderam? Um candidato sobre quem pesa não mais do que uma suspeita tem de ser expulso; um condenado, que cumpre pena, pode ficar. A moral superior de Freixo não é menos encantadora do que a de seu partido. Agora eu entendo por que a esquerda que bebe Moët & Chandon, enquanto debate a “poesia” de Chico Buarque, está com Freixo. É por seu impecável senso de Justiça. É uma decisão à altura de um partido que tem Achille Lolo entre seus fundadores.
Leia reportagem de Cecília Ritto, na VEJA.com.
Rosenberg Alves do Nascimento, o Berg Nordestino, não é vingativo. Se fosse, poderia dizer que o castigo vem a cavalo. Como não guarda mágoa, prefere manifestar sua vergonha com o fato de ter sido execrado pelo PSOL, partido que escolheu para disputar a eleição para vereador no Rio de Janeiro. Berg é acusado de ter ligação com milicianos e, na semana passada, o candidato à prefeitura do PSOL, Marcelo Freixo, pediu a expulsão dele. A Justiça Eleitoral manteve o registro de Berg. Nesta quarta-feira, ao saber que o Tribunal Regional Eleitoral impugnou a candidatura de Valdinei Medina Machado da Silva, também candidato a vereador pelo PSOL, condenado por assalto a mão armada em 2006 Berg procurou o site de VEJA. E desabafou.
“Ele (Freixo) pediu a minha expulsão. Agora, vem à tona que existe um cidadão ficha-suja, por assalto a mão armada, candidato a vereador. E o candidato a prefeito vem dizer que não vai expulsar. O Dinei é o contrário de mim, que sou um ficha-limpa”, afirmou, decepcionado. Berg disse que usará as redes sociais para tratar do assunto. E, por enquanto, mantém o apoio a Marcelo Freixo. “Continuamos com as oito pessoas da minha campanha na rua: eu, minha esposa, filha, três irmãos e dois amigos”, disse.
Berg Nordestino foi o assunto da eleição na semana passada. Ele foi citado no relatório da CPI das Milícias, presidida por Freixo em 2008. Quando Freixo foi informado sobre a situação do candidato, afirmou que Berg seria expulso do partido por envolvimento com a milícia. Na segunda-feira, o juiz eleitoral Murilo Kieling manteve a candidatura de Berg. Nesta quarta-feira, o Radar On-line, do site de VEJA, mostrou que a Justiça Eleitoral impugnou a candidatura de Valdinei Medina Machado da Silva, também candidato a vereador pelo PSOL, condenado por assalto a mão armada em 2006 e que cumpre pena na condicional.
“Eu me sinto envergonhado. Isso é prejudicial para a campanha do candidato a prefeito (Freixo). Acredito que os outros candidatos do PSOL vão discordar de ter uma pessoa condenada dentro do partido”, afirmou Berg, apostando que a maré finalmente comece a mudar entre os colegas de legenda. Desde que a Justiça manteve a candidatura de Berg, o PSOL trata o tema com luvas.
Freixo informou que o PSOL já estava ciente da condenação de Dinei, mas que não esperava a impugnação da candidatura. E afirmou que Dinei continuará no partido, decisão diferente da tomada com Berg. “Passo a entender que há discriminação com o nordestino. O outro cidadão é condenado pela Justiça e continua no partido. A palavra certa para o caso é discriminação”, disse Berg.
Popularidade
O episódio com Berg rendeu a Marcelo Freixo alguns aborrecimentos. Mas, desde que o caso veio à tona, a candidatura cresceu: a pesquisa Datafolha divulgada na noite de terça-feira indicou que Freixo subiu de 13% para 18% das intenções de voto. Berg também ganhou fama. “Pode ter certeza: o assédio agora está grande demais. Três vezes maior do que antes. Hoje estava descendo a Avenida Maracanã e as pessoas diziam ‘É isso aí, Berg. Estamos com você’”, contou. O fenômeno Berg, por Berg: “Minha candidatura agora é vista como coisa séria. O ficha-suja é outro candidato. E querem por o ficha-limpa para fora?”, questiona.
O candidato recebeu na manhã desta quarta uma notificação da executiva nacional do PSOL. Ele tem 72 horas para apresentar sua defesa. Berg e os sete voluntários dedicaram a tarde a elaborar a argumentação. “Vou informar na minha defesa que o ficha-suja é o Dinei”, adiantou o candidato, resumindo sua linha de raciocínio. Domingo de manhã, o candidato vai à feira de São Cristóvão, onde há concentração de nordestinos, para dar uma resposta às acusações feitas contra ele.
Por Reinaldo Azevedo
Após bate-boca, Lewandowski condena seis por lavagem de dinheiro
Por Gabriel Castro e Laryssa Borges, na VEJA.com:
Após mais um bate-boca com o relator Joaquim Barbosa, o revisor do processo do mensalão, Ricardo Lewandowski, votou nesta quarta-feira pela condenação dos principais dirigentes do Banco Rural – os executivos Kátia Rabello e José Roberto Salgado. O magistrado também se manifestou pela penalização do publicitário Marcos Valério, de seus sócios Ramon Hollerbach e Cristiano Paz e da diretora financeira da agência de publicidade SMP&B, Simone Vasconcelos.
Todos foram acusados pelo Ministério Público pelo crime de lavagem de dinheiro ao simular empréstimos entre o Rural e as agências de publicidade e, na verdade, aplicar os recursos na corrupção de parlamentares no esquema do mensalão.
“Está bem claro que Marcos Valério foi um dos artífices de toda essa trama”, resumiu o ministro, que se apegou em testemunhos e provas evidenciais para pedir a condenação dos réus. “Não há nenhuma ordem escrita ou evidência material dessa cooperação ilícita, mas existem essas menções, esses testemunhos. Para mim, como juiz, serve de conforto por imaginar que estou trilhando a senda mais adequada ou mais justa”, disse.
No mesmo voto, Lewandowski, ao contrário de Joaquim Barbosa, defendeu não haver provas contra outros réus citados por lavagem e votou pela absolvição da ex-funcionária da SMP&B Geiza Dias, do advogado Rogério Tolentino – esses dois ligados a Marcos Valério – e dos executivos Vinícius Samarane, atual vice-presidente do Banco Rural, e Ayanna Tenório, ex-funcionária da instituição financeira.
Para absolver Geiza Dias, o ministro revisor afirmou que a ré era uma simples “batedeira de cheques”, que desconhecia a ilegalidade de repasses a partidos políticos. Ele citou ainda uma entrevista do delegado Luís Flávio Zampronha, responsável pelo inquérito do mensalão, ao jornal Folha de S. Paulo. Na ocasião, ele afirmou que Geiza não tinha conhecimento do esquema do mensalão.
A argumentação de Lewandowski irritou Joaquim Barbosa. “Um delegado preside um inquérito. Quando esse inquérito, que já se transformou em ação penal, está às vésperas de ser julgado, o delegado vai à imprensa e diz o seguinte: ‘Fulano de tal não deveria ter sido denunciado, ciclano deveria ter ficado de fora’. Isso é um absurdo. Em qualquer país decentemente organizado, um delegado desses estaria no mínimo suspenso”, disse o relator.
À diferença do caso Geiza, Ricardo Lewandowski não viu na outra funcionária de Valério, Simone Vasconcelos, a mesma “ingenuidade”. Conforme a acusação, Simone chegou a contratar um carro forte e seguranças armados para transportar os recursos do valerioduto. “Não há nada de ingenuidade. Ela tinha ciência de que estava fazendo coisa errada. Sabia que estava agindo de modo ilegal e persistiu nos atos delituosos”, revelou o ministro.
Em sua análise dos autos, o revisor também disse que o Banco Rural, comandado por Kátia Rabello na época do escândalo do mensalão, omitiu transações financeiras, dissimulou transferências de recursos e permitiu retiradas de grandes quantias por pessoas que, oficialmente, não constavam na lista de sacadores. O procedimento ajudou a colocar em funcionamento o esquema de compra de deputado. “Pouco importa o destino dado ao dinheiro para caracterizar o crime de lavagem”, enfatizou o ministro.
“José Roberto Salgado tinha pleno conhecimento da origem do dinheiro e, por participar diretamente da condução dos negócios do conglomerado financeiro rural, não desconhecia a lavagem”, completou Lewandowski, ao votar pela condenação do banqueiro.
O revisor explicou ainda que houve um conluio entre Marcos Valério e o Banco Rural no esquema criminoso. “Restou comprovado ao meu ver, evidente intenção subjetiva partilhada entre os réus que comandavam as empresas de publicidade e a cúpula do Banco Rural de ocultar o destinatário dos recursos distribuídos em espécie em distintas praças bancária do país”.
Joaquim Barbosa havia votado pela condenação de nove dos dez acusados nesse trecho da denúncia. Ele livrou apenas Ayanna Tenório, que fora absolvida do crime de gestão fraudulenta.
Por Reinaldo Azevedo
Assistam ao debate desta quarta na VEJA.com. Ou: “Lewandowski além dos limites”
Por Reinaldo Azevedo
Lula está furioso, dando murro da mesa, chutando o lixo… E Lewandowski decide ser o eco da fúria no tribunal. Atua como agente provocador. É um comportamento inaceitável, só isso!
Preparem-se! O julgamento ainda vai pegar fogo! Esperem chegar o julgamento do chamado “núcleo político”…
O ministro Ricardo Lewandowski, tenha ou não a intenção — pouco me importa sua subjetividade porque não sou seu psicanalista —, está se comportando com um agente provocador. Ecoa, na prática, a frenética movimentação de Lula nos bastidores para tentar se fazer presente no tribunal.
Ao começar a dar o seu voto sobre Geiza Dias, o ministro fez o inacreditável: evocou uma entrevista concedida pelo delegado Luís Flávio Zampronha, que conduziu o inquérito do mensalão, segundo a qual Geiza é inocente. Nunca antes da história destepaiz um ministro do Supremo recorreu a uma informação COMPLETAMENTE FORA DOS AUTOS para embasar o seu voto.
O relator, Joaquim Barbosa, protestou e considerou um absurdo que o delegado que conduziu a investigação tenha concedido aquela entrevista. Não entro nesse mérito. A questão essencial foi lembrada pelo ministro Gilmar Mendes: é um procedimento heterodoxo recorrer ao que está fora dos autos.
E como reagiu Lewandowski? Disse que o julgamento — DE QUE ELE É REVISOR!!! — está pleno de heterodoxias, o que ecoa, mais uma vez, a acusação do petismo, segundo a qual se está num tribunal de exceção.
É o fim da picada! Volto ao ministro no próximo post.
Por Reinaldo Azevedo
Lewandowski: duas páginas e meia só para dizer “concordo”
Recomeça o julgamento do mensalão, com 40 minutos de atraso. A palavra está com o revisor, Ricardo Lewandowski. Ai, ai… O próprio relator, Joaquim Barbosa, já havia considerado Ayanna Tenório inocente, uma vez que a corte a havia absolvido do crime de gestão fraudulenta.
Lewandowski começa a votar e anuncia que começará por Ayanna, um voto, diz, de “apenas” duas páginas e meia. Desculpem! Para concordar com o relator, basta um “sigo o relator com base na lei tal”. E fim! Agora, ele vai falar sobre Geiza Dias dos Santos, a “funcionária mequetrefe”, como a classificou seu advogado.
Por Reinaldo Azevedo
Lewandowski, o suposto “orteguiano”, atua como agente provocador. E olhem que eu também inocentaria Geiza… Ou: Hora de voltar a Ortega y Gasset
Ricardo Lewandowski está atuando como provocador, sim, e conta com o temperamento mercurial de Joaquim Barbosa para ser bem-sucedido. Isso prenuncia grandes confusões. Barbosa tem de se controlar, embora eu possa compreender, sem endossá-los, os motivos de sua reação.
Lewandowski decidiu atuar, nesta quarta, como mestre, dando “lições” aos demais colegas, evocando, ora vejam!, a sua condição de ex-professor. Se é assim, falo o que sei: a sua reputação como professor não é lá essas coisas. Se ninguém lhe disse isso nos bancos escolares por temor, eu lhe passo essa informação. Dá-se como certa que a sua ascensão, substituindo o professor titular e militante petista Dalmo de Abreu Dallari, passou pelas afinidades eletivas, que não são nada estranhas à academia. Note, ministro, que trago um fato, digamos assim, “fora dos autos”. Mas eu não sou ministro do Supremo.
Lewandowski levou uma hora — UMA HORA — para absolver a secretária Geiza. Ele vote como quiser. Eu noto, leitores, que eu também tenderia a absolver Geiza. PERCEBERAM? As minhas críticas ao ministro revisor nada têm a ver com o conteúdo do voto! De jeito nenhum! Inaceitável é o ânimo para a provocação.
Ao declarar a inocência da secretária, afirmou coisas como: “Muitos aqui podem estar perplexos, mas eu falo de fatos da vida…” — como se os demais ministros, o relator muito especialmente, não alcançassem a profundidade do seu voto ou não estivessem atentos aos mesmos cuidados. Mais adiante: “A gente precisa sempre falar sobre a defesa; procurar sempre falar do contraditório para sopesar os argumentos. Há aqui alunos de direito, que precisam saber…” Sim, mais uma vez, estava presente a ilação de que ele, um professor!, era cuidadoso; já o relator…
Joaquim reagiu, e uns bons 15 minutos foram consumidos com arengas. Com ar cínico — com todo respeito, viu, ministro? —, Lewandowski indagava: “Os argumentos da defesa devem ser ignorados?” Como se alguém ali houvesse sugerido algo semelhante. Não dá!
O orteguiano
Mais uma vez, Lewandowski evocou a perspectiva “orteguiana”, segundo a qual “eu sou eu e minha circunstância”. Ai, ai… Ouso inferir que o ministro entende do filósofo espanhol Ortega y Gasset o que entende da Antiguidade Clássica. Aliás, ele está devendo aos brasileiros uma correção, não é? Atribuiu ao escultor Fídias uma frase que é do pintor Apeles. Sigamos.
Ou Lewandowski leu mal Ortega y Gasset, ou o Google acabou sendo mais impreciso do que foi no caso Fídias-Apeles. Na leitura de Lewandowski, a circunstância — a realidade vivida pelo indivíduo — entra como uma espécie de fator determinante das escolhas do sujeito, como se Ortega y Gasset fosse um desses filósofos naturalistas “mequetrefes”, para ficar numa palavra influente nesse julgamento, que expropriasse o homem de suas vontades. O “e” é uma palavrinha de apenas uma letra, mas seu sentido é muito amplo.
O revisor havia vazado para a imprensa que daria um voto mais breve etc. e tal. Não parece que vá fazê-lo. Neste exato momento, lê um trecho de seu voto que parece concordar com o relator. Não obstante, para endossar o voto do outro, esmera-se em minudências e detalhes.
Encerro
O ministro Lewandowski, na provocação rasteira feita a Barbosa, afirmou que tinha certeza de que o relator havia, sim, se colocado no lugar dos réus, sugerindo ser essa uma obrigação — e entendeu que isso é viver na prática a “perspectiva orteguiana”. Pois é… Eu acho que cabe a um juiz, que não é ator nem Deus, colocar-se apenas no papel de intérprete eficiente da lei. Julgamento do Supremo não é psicodrama.
Por Reinaldo Azevedo
Delegado evocado por Lewandowski acusa Dirceu de lavagem de dinheiro
O ministro Ricardo Lewandowski resolveu recorrer a uma entrevista do delegado Luís Flávio Zampronha para contestar um voto de Joaquim Barbosa. Pois é… O link está aí.
Segundo o delegado, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares poderiam ter sido denunciados também por lavagem de dinheiro – o que não foi feito pelo Ministério Público Federal. Na ação a que respondem no STF, os dois são acusados de corrupção ativa e de formação de quadrilha (com penas máximas de 12 anos e 3 anos, respectivamente). Para Zampronha, as provas mais robustas contra eles são por lavagem de dinheiro (até dez anos de prisão). Sobre Dirceu, o delegado da PF diz: “Há vários elementos que indicam que ele sabia dos empréstimos e dos repasses para os políticos”.
Por Reinaldo Azevedo
E Monteiro Lobato, acreditem, ainda não foi “absolvido” pelo STF. Ou: Vamos trocar Monteiro Lobato por Gabriel Chalita, Shakespeare por Chico Buarque, Dante por Paulo Coelho, Alexandre Herculano por Emir Sader e Fernando Pessoa pelo pagodeiro Netinho!
Não! Nada de acordo por enquanto. Monteiro Lobato ainda não foi, digamos, “absolvido” pelo Supremo. Vocês não sabem a vergonha e o constrangimento que sinto ao escrever isso. Leiam o que informa Tai Nalon na VEJA.com. Volto em seguida.
A audiência de conciliação proposta pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux para decidir se libera o uso do livro “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, na rede pública de ensino terminou nesta terça-feira sem acordo. Com a participação de representantes do Ministério da Educação, da Advocacia Geral da União e do Ministério Público Federal, a audiência, que durou cerca de três horas, foi convocada depois de o Supremo receber mandado de segurança impetrado pelo Instituto de Advocacia Racial (Iara) e pelo técnico em gestão educacional Antônio Gomes Neto. A alegação é de que a obra possui elementos racistas.
Embora juridicamente o assunto não tenha se resolvido, o Iara sinalizou que pode desistir do pedido de nulidade de um parecer do Ministério da Educação que revoga a proibição do livro na rede pública de ensino. Em 2010, depois de denúncia da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, o Conselho Nacional de Educação (CNE) determinou que a obra fosse banida das escolas. A repercussão do infeliz episódio fez com que o Ministério da Educação (MEC) pedisse ao CNE para reconsiderar a questão. O veto, então, foi anulado. O mandado de segurança pretende agora derrubar a anulação do parecer.
O instituto afirma que “não há como se alegar liberdade de expressão em relação ao tema quando há [no livro] referências ao negro com estereótipos fortemente carregados de elementos racistas”. Diz ainda que o livro é utilizado como “paradigma” e, por isso, as regras adotadas para ele devem nortear a aquisição também, pela rede pública, de qualquer obra literária ou didática que tenha “qualquer forma de expressão de racismo cultural, institucional e individual”.
Publicado em 1933, o livro faz parte do acervo do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE). “Vou fazer 60 anos. Já fui criança. Estudei no Colégio Pedro II, fiz primário e maternal. Me lembro desse e de todos os livros”, afirmou o ministro Fux.
Uma nova reunião será realizada no próximo dia 25, no Ministério da Educação, para discutir a adoção medidas concretas. O Iara condiciona a retirada do mandado de segurança à implantação de medidas como a capacitação de professores e a veiculação de uma nota técnica com o livro que explique o contexto das expressões contestadas pelo instituto.
A ideia de incluir a explicação, segundo Humberto Adami, diretor e advogado do Iara, é apelar para o mesmo procedimento adotado em relação a crimes ambientais na obra de Lobato. Segundo ele, editoras embutiram no mesmo livro nota que explica que caçar onças, embora costume da época em que o livro foi escrito, hoje em dia não se faz. “Por que se faz na questão de crimes ambientais e não se faz em relação ao negro? Por que a onça é mais importante do que o negro que sofre com esse tipo de assunto na escola?”, questionou.
Os representantes do Iara querem também capacitação docente para questões raciais em sala de aula. Negam censura. “Não quer dizer que [as obras] sejam tiradas, é ter alguém dizendo ‘é errado fazer isso’, ‘não pode fazer isso com colega’, ‘isso vai ferir outra pessoa’. É o que se pretende. Até pouco tempo, as pessoas achavam que podiam brincar à vontade com respeito e dignidade de outros seres humanos.”
Voltei
Com todo o respeito ao ministro Fux, essa audiência é um completo despropósito. E se aquele procurador que decidiu tirar o Aurelião de circulação porque não gostou da definição da palavra “cigano” resolver levar adiante o seu pleito? E se outros tantos decidirem censurar Shakespeare porque antissemita; Alexandre Herculano porque anti-islâmico e Dante Alighieri porque antissemita e anti-islâmico? E se os católicos decidirem censurar parte da obra de Eça de Queiroz porque anticlerical? E se os democratas decidirem censurar Fernando Pessoa porque escreveu um texto em defesa da ditadura militar? E se as feministas decidirem censurar a Torá e a Bíblia?
As obras de Monteiro Lobato trazem mesmo a tal “tarja preta” ambiental, afirmando que é incorreto caçar onças??? Eu não sabia. Se isso for verdade, então a barbárie já está entre nós. Por que só com Lobato? Todo livro, pois, deveria contar com um guia de interpretação, informando qual é a leitura correta, quem é o mocinho, quem é o bandido e qual deve ser o juízo correto sobre a obra. Viveríamos, assim, num presente eterno.
Esse episódio é vergonhoso! É parte do processo de educação situar uma obra em seu devido contexto, entender em que tempo o texto foi escrito e que tempo o livro retrata — já que podem não ser os mesmos. É espantoso que alguém suponha que obras, agora, possam ser submetidas a comitês ambientais ou raciais para que se decida se há nelas “impropriedades”. No Irã, os livros passam pelo crivo de uma sessão do Conselho da Revolução Islâmica para que os paus-mandados dos aiatolás decidam o que pode e o que não pode ser publicado. Teremos no Brasil os aiatolás do racialismo, os aiatolás da ecologia, os aiatolás da igualdade…
Ministro Fux, Vossa Excelência se dá conta de que uma audiência dessa natureza, ainda que pareça democrática, nada mais faz do que relativizar a liberdade de expressão e limitar o livre exame de textos que já têm dimensão histórica? Há muitos anos associo a patrulha politicamente correta a uma forma particular de fascismo. Eis aí.
Vamos trocar Monteiro Lobato por Gabriel Chalita, Shakespeare por Chico Buarque, Dante por Paulo Coelho, Alexandre Herculano por Emir Sader e Fernando Pessoa pelo pagodeiro Netinho!
Depois, ministro Fux, só faltará trocar o STF por um tribunal de rua.
Por Reinaldo Azevedo
PT de Recife evidencia o caráter eleitoreiro do pronunciamento que Dilma fez no dia 6
Por Fábio Guibu, na Folha:
A propaganda de TV do candidato a prefeito de Recife Humberto Costa (PT) exibiu nesta quarta-feira (12) parte do pronunciamento oficial da presidente Dilma Rousseff, em que ela anuncia a redução da tarifa de energia elétrica no país. O anúncio, às vésperas da eleição, de uma medida que só entrará em vigor em 2013 foi criticado pelo PSDB nacional, que classificou o discurso da presidente como “indevido e eleitoral”.
No trecho reproduzido pela campanha petista, Dilma afirma que a queda “tornará o setor produtivo mais competitivo”, e que os ganhos “serão usados tanto para a redução de preços para o consumidor brasileiro como para os produtos de exportação”. Costa mostrou ainda no seu programa discursos antigos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que ele, ainda com barba, exalta a política social do seu governo. Humberto Costa citou o principal programa de combate à miséria do PT, o Bolsa Família, lembrando que 130 mil famílias recebem o benefício em Recife.
Na tentativa de neutralizar o discurso do candidato do PSB, Geraldo Julio, que diz ter coordenado as grandes obras do Estado, o petista afirmou também que, só em recursos orçamentários, “os governos Lula e Dilma repassaram a Pernambuco R$ 50 bilhões”.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Russomanno vai para o segundo turno em SP. E é bom que se tenha claro por que a disputa não será fácil. A imprensa “progressista” responde em grande parte por esse monstrengo eleitoral
Publiquei ontem à noite um texto que me parece “redondo”, como dizem, sobre a resistência da candidatura de Celso Russomanno (PRB) à Prefeitura de São Paulo. A esta altura, é remotíssima a possibilidade de que ele não vá para o segundo turno. A expectativa de muitos — jamais foi a minha (os arquivos estão aí) — de que a onda se desfizesse não se concretizou. E há motivos para isso. É o que procurei mostrar no artigo.
Seja o tucano José Serra a enfrentá-lo no segundo turno, seja o petista Fernando Haddad, a batalha não será fácil. O PT sabe muito bem que o resultado dessa pesquisa Datafolha (ver nesta página) não lhe é especialmente favorável. Dilma e Lula agora estão no horário eleitoral. Já não restam dúvidas sobre o nome do candidato do partido. Mesmo assim, o resultado é pífio. Tenho cá meus motivos para inferir que a diminuição de dois pontos na diferença que separa o petista (de 17 para 18) do tucano (de 22 para 21) é coisa de “ajuste”, nada além disso! Os resultados costumam ser fracionados, como sabem todos os especialistas. Como Serra vinha de uma queda na semana passada, a sua fração foi ajustada para baixo. Como Haddad havia subido um pouco, a sua fração agora foi ajustada para cima. De fato, os dois estão onde estavam. Nem o petista oscilou para cima nem o tucano oscilou para baixo.
A simulação de segundo turno dá conta da dificuldade que tanto Haddad como Serra terão para enfrentar Russomano. Hoje, o rapaz venceria o tucano com uma diferença de 27 pontos, e o petista, com uma de 23. Sim, uma disputa em segundo turno pode mudar o rumo da história, mas não se está diante de uma equação muito simples, não. É justamente o que procurei demonstrar no texto que publiquei às 20h25 de ontem. Nele evidencio, entre outras questões, como a imprensa dita “progressista” responde, em parte, por esse monstrengo eleitoral. Segue o texto.
Russomanno resolveu baratear o progressismo e o conservadorismo. E a imprensa “iluminista” não sabe o que fazer com ele. Bem feito!
Pois é!
A campanha obscurantista contra o tucano José Serra, movida com o apoio de setores consideráveis da imprensa paulistana, gerou um mostrengo chamado Celso Russomanno (PRB). O esforço sistemático para destruir a gestão Kassab — que está longe de ser um desastre — e para inviabilizar o nome de Serra acabou concorrendo para fortalecer outro “nome novo”, mas nem tão novo porque já estava ancorado em programa de televisão da Record e era conhecido pela suposta defesa dos consumidores. Em vez de Fernando Haddad disparar nas pesquisas — vamos ver as próximas; amanhã deve ter novo Datafolha —, Russomanno passou a demonstrar uma inesperada (para a “imprensa boa e progressista”, não para mim) resistência.
O que se chama “fenômeno” não tem nada de misterioso ou inexplicável, já escrevi aqui. O rapaz que é incapaz de manter um diálogo consequente sobre a cidade, além das frases de efeito, conseguiu se tornar o beneficiário tanto do sentimento de rejeição à gestão Kassab — meticulosamente cultivado pelos supostos bem-pensantes ao longo de quase quatro anos — como da rejeição, vejam que coisa! — ao próprio petismo.
Num caso, basta-lhe a) fazer críticas fáceis e erradas à administração; caso vença e ponha em prática tudo o que promete, aí, sim, conheceremos o caos na cidade. No que concerne à rejeição ao petismo, b) basta-lhe exercer o que costumo chamar de “conservadorismo rancoroso e desinformado”, e pronto! A imprensa, esmagadoramente pró-Haddad, não sabe lidar com isso. Algumas das “denúncias” que faz contra Russomanno só contribuem ou para fortalecê-lo para consolidar sua posição. Nem por isso têm de ser evitadas. Apenas registro um fato.
Abordo o item “a”. Existe restrição à circulação de caminhões em determinadas áreas da cidade — uma prática corriqueira em várias capitais do mundo? Sim! E está correta! Mas Russomanno promete acabar com ela. Os únicos eventuais beneficiados pela medida seriam os caminhoneiros e as empresas de entrega. A esmagadora maioria dos eleitores de Russomanno — e de qualquer outro candidato — pagaria o pato. Mas a turma aplaude. Acha a ideia boa. A Prefeitura combate o comércio irregular de camelôs ou feiras clandestinas? Russomanno promete pôr um fim ao que chama “perseguição”. A indisciplina nessa área liquida com a qualidade de vida nas cidades. E daí? Existe um disciplinamento para a construção e a operação de templos religiosos? Tem de haver — e deve valer para qualquer atividade. Com Russomanno, tudo será diferente! Faltam creches na cidade? Ele promete a verticalização das escolinhas, o que é uma bobagem sob qualquer ponto de vista que se queira. A cidade reclama de segurança, embora São Paulo seja a capital mais segura do país (mas a imprensa paulistana passou a impressão de vivemos no caos)? Não tem problema: Russomanno diz que vai contratar mais 14 mil (!!!) guardas municipais — um desembolso extra de R$ 3 bilhões por ano aos cofres públicos — e incorporar vigias particulares ao grupo, o que se assemelha à criação de milícias.
Trato agora do item “b”, do tal “conservadorismo rancoroso e desinformado”. Existe a progressão continuada em quase todas as escolas públicas do Brasil? Existe! Inclusive na cidade de São Paulo. Foi introduzida, aliás, pelo petista Paulo Freire, quando secretário de Educação de Luíza Erundina. Foi adotada, depois, infelizmente, pelo Estado e se tornou uma diretriz da educação no país. Todos sabem que sou crítico desse modelo e da forma como foi aplicado. São Paulo, cidade e estado, por iniciativa de Serra, percebeu o óbvio: introduzido o sistema, não poderia ser mudado da noite para o dia. O melhor seria tentar qualificar a escola, com a introdução de um segundo professor na fase de alfabetização. Essa foi apenas uma de séria de medidas corretas.
Quando candidato ao governo de São Paulo, em 2010, o agora ministro da Educação, Aloizio Mercadante, prometeu acabar com o que chamava de “aprovação automática”. No MEC, não vai mover uma palha para fazê-lo porque não é besta — a bestagem servia apenas para a campanha eleitoral. Russomanno adotou a tese. Se vencer e acabar mesmo com a prática, por decreto, vai punir as crianças da rede municipal, que migrarão para a estadual. A progressão continuada, na forma como foi aplicada, é uma tolice, mas a abordagem do candidato é bronca, desinformada, grotesca. E daí? Como, a rigor, não há candidatos conservadores na disputa, que possam fazer esse debate em seus justos termos, ele ocupa essa área.
Também é conservadorismo burro que está sendo exercitado quando ele promete pôr policiais dentro das escolas, prática que está em desacordo com os fundamentos da educação. Não que ordem e pedagogia sejam termos antitéticos. Ao contrário: eles podem e devem se combinar. Mas não é com a introdução da farda no ambiente escolar que se vai resolver o problema. Mas isso parece aos pais e mães pobres, preocupados com a segurança dos filhos, uma medida saneadora.
O candidato entrevistador
Trecho de uma reportagem da Folha, de Paulo Gama, diz um tanto sobre a candidatura Russomanno. Leiam:
(…)
O candidato irritou-se ao ser questionado sobre uma ação movida pelo Ministério Público Eleitoral por suposta compra de votos. O órgão questiona o fato de Russomanno ter orientado eleitores a procurar sua ONG de defesa do consumidor durante a campanha.
“A ONG trabalha gratuitamente. Fazer o bem agora é proibido? Responda para mim: garantir um direito individual e coletivo é compra de voto? Eu fiz uma pergunta para você, me responda por favor.”
Depois, disse à jornalista que o questionou que queria que um dia ela precisasse da ajuda de sua ONG.
Viram só? É possível que ele realmente não veja nada de errado em ser candidato e, ao mesmo tempo, ter uma ONG que “resolve” problemas dos eleitores, sustentada, segundo ele, com seus próprios recursos. Quais recursos? Do aluguel ao pagamento de água, luz, telefone e funcionários, quanto custa a benemerência?
Respondamos as suas perguntas:
Fazer o bem agora é proibido?
Não!
Garantir um direito individual e coletivo é compra de voto?
Não!
A menos, senhor Russomanno, que esse bom coração seja candidato. Aí, com efeito, trata-se de uma forma indireta de compra de voto porque o candidato está oferecendo ao eleitor um bem estimável em dinheiro. Se a repórter não soube responder às questões, respondo eu. O senhor está infringindo o Artigo 299 do Código Eleitoral (Lei 4.737), a saber:
Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita:
Pena – reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa.
Encerro
Russomanno resiste porque está sabendo baratear o conservadorismo. E tem sido igualmente hábil em baratear o “progressismo”. O sonho dourado da imprensa haddadista é ver o petista a disputar um segundo turno com o rapaz do PRB. E aposta que os “iluministas” de araque, então, conseguirão conjurar as suas forças contra o atraso. Prefiro, é óbvio, que essa história tenha outro desfecho porque estaríamos diante do confronto de dois atrasos, que, de resto, estão de mãos dadas no governo federal.
Por Reinaldo Azevedo
Serra teve votações maiores do que apontavam pesquisas até um dia antes da eleição
Não vai aqui ilação de nenhuma natureza — menos ainda de desconfiança sobre a honestidade do Datafolha. Se e quando discordo de alguma abordagem, escrevo. Já fiz isso algumas vezes. E ponto! Abaixo, constato alguns fatos.
Em 2010, um dia antes da eleição, o Datafolha apontou Dilma com 47% das intenções de voto; nas urnas, ela obteve 46,91%. Quase na mosca. No caso de Serra, a diferença fez diferença: o instituto apontou 29%, e ele obteve 32,6% — acima da margem de erro, que era de 2 pontos para mais ou para menos. Marina Silva, que aparecia com 16%, obteve 19,33%.
Em 2004, um dia antes do primeiro turno para a Prefeitura de São Paulo, o Datafolha apontou o tucano com 40% das intenções de voto; ele obteve 43,56% — acima da margem de erro, que era de dois pontos para mais ou para menos. Marta Suplicy (PT) aparecia com 37%, mas obteve 35,82% — nesse caso, dentro da margem de erro. Ocorre que a diferença de apenas três pontos na pesquisa se revelou de 7,74 pontos — 158% maior — nas urnas.
Por Reinaldo Azevedo
HADDAD TEM O PIOR DESEMPENHO DE UM PETISTA EM SP EM 20 ANOS NESTA ETAPA DA DISPUTA
Os petistas sabem que não têm rojões para soltar. Ao contrário. A situação não é nada boa para seu candidato. Se Fernando Haddad vai ou não ser eleito, isso não tenho como prever. Que o quadro não é dos melhores, isso se pode afirmar com certeza.
Procurei alguns dados no site do Datafolha que justificam a minha afirmação. Haddad tem o pior desempenho de um petista nesta etapa da disputa em 20 anos. Vamos ver?
1992 – No dia 16 de setembro, Eduardo Suplicy tinha 24% das intenções de voto. Paulo Maluf foi eleito.
1996 – No dia 28 de agosto (não há pesquisa em meados de setembro), Luíza Erundina tinha 21%. Celso Pitta se elegeu.
2000 – No dia 15 de setembro, Marta Suplicy tinha 32%. Foi eleita contra Paulo Maluf no segundo turno, com o apoio dos tucanos.
2004 – No dia 10 de setembro, Marta tinha 33%. Foi eleito o tucano José Serra.
2008 – No dia 13 de setembro, Marta (mais uma vez) tinha 37%. Elegeu-se Gilberto Kassab, então no DEM.
2012 – No dia 12 de setembro, Haddad tem 18% (índice ajustado para cima). Num eventual segundo turno contra Russomanno, a pesquisa dá ao rapaz do PRB uma vantagem de 23 pontos.
Ainda que o pior aconteça e seja Haddad a enfrentar Russomanno no segundo turno, o retrospecto não é nada favorável ao petismo.
Por Reinaldo Azevedo
SP é a esperança do PT para se livrar de um vexame nas capitais; em Recife, candidato de Lula corre o risco de ser humilhado; em BH, “Operação Patrus” não está dando resultado
O PT aposta tudo em São Paulo para se livrar de um vexame eleitoral nas capitais. Também por aqui, como se pode ver nesta página, a situação não é das melhores. Das 17 capitais onde é cabeça de chapa, o partido só lidera as pesquisas em Goiânia. O vexame retumbante é Recife.
Na capital pernambucana, Lula decidiu medir forças com seu “aliado”, o governador Eduardo Campos, do PSB, e lançou o senador Humberto Costa, um capa-preta do partido, como candidato. Campos inventou como candidato um secretário de estado, Geraldo Júlio. Há pouco mais de um mês, Júlio tinha 4% das intenções de voto, e Costa, 29%. Agora, o candidato do governador aparece no Datafolha com 34%, e o petista com 23%, em empate técnico com o tucano Daniel Coelho, do PSDB, que avançou de 12% no fim de agosto para 19%. Em Pernambuco, conta-se agora com Lula para impedir ao menos o vexame de Costa chegar em terceiro lugar, o que seria um derrota humilhante. A rejeição ao petista chegou a 38%.
Em Belo Horizonte, o esforço do PT igualmente não está sendo bem-sucedido. Segundo o Datafolha, o prefeito Márcio Lacerda, também do PSB, que disputa a eleição com o apoio dos tucanos, tem 49% das intenções de voto, contra 31% de Patrus Ananias.
O curioso é que, nas duas cidades, os adversários do PT empregaram estratégias parecidas, acusando o lulo-petismo de ingerência na política local. Tanto o lançamento da candidatura de Costa, em Recife, como o da de Ananias, em Belo Horizonte, foram tratados como ações artificiais da cúpula do PT para impor às respectivas cidades a sua vontade. E a onda pegou.
Lula — o santo, o mago, o mito — pode, sim, como se vê, ser contestado, enfrentado e vencido.
Por Reinaldo Azevedo
O Rio e Freixo, que chega a 18%: é o voto limpinho da má consciência
Ai, ai, os socialistas de Ipanema, Leblon e Copacabana continuam animados. Marcelo Freixo, o candidato do PSOL à Prefeitura do Rio, subiu cinco pontos em duas semanas, passando de 13% para 18% no Datafolha. O caso é de tal sorte ridículo que a maioria de seus eleitores está entre os mais escolarizados e entre os mais ricos, com rendimento acima de 10 mínimos. O Datafolha não especifica uma faixa superior a essa. Deveria. O socialismo à moda PSOL, hoje em dia, costuma seduzir, deixem-me ver, os com rendimento acima de 30 mínimos… No mínimo!
O crescimento ainda não ameaça a reeleição de Eduardo Paes (PMDB) no primeiro turno, que aparece com 54%. Num eventual segundo turno, o prefeito venceria por 63% a 28%. Pensar que quase 30% dos cariocas poderiam sufragar o partido que comandou o caos da greve dos transportes em São Paulo não deixa de ser espantoso.
Andei conversando com alguns cariocas, que resumem o pensamento dos eleitores de Freixo. A coisa é mais ou menos assim: “Já que a gente acha que Paes vai ganhar, então a gente vota em Freixo porque acha que ele é mais ético”. Ah, bom! É o voto limpinho como expressão da má consciência. Entendo, pois, que, caso houvesse a possibilidade real de ele vencer, então não seria o escolhido. O candidato se tornou uma espécie de bibelô dos bem-pensantes, dos politicamente corretos, dos engajados.
Não deixa de ser um conforto para Eduardo Paes, não é mesmo? Tem um adversário cuja principal força é não ter força para vencer, servindo apenas como receptáculo da consciência culpada e engajada dos ricos.
São Paulo, em muitos aspectos, sempre teve mesmo menos imaginação do que o Rio mesmo! Por aqui, no geral, os votas mais à esquerda estão mesmo na periferia, vem dos mais pobres — embora pobre de esquerda também seja minoria. A elite carioca, pelo visto, decide ter a “consciência social” que os reacionários dos morros se negam a ter, né?
A trilha sonora é de Chico e Caetano.
PS – Eu fazendo campanha para Paes? Não! É meu amigo — nada a ver com política, como já revelei —, mas não estou, não! Ao escrever isso, talvez até tire dele alguns votos. Todos sabem, de resto, o que penso sobre Sérgio Cabral e o PMDB. Mas PSOL??? Tenham a santa paciência! O petismo, mesmo com seu esquerdismo chulé, já está além do que considero o bom senso. Ainda que Freixo fosse o santo que talvez pense ser, estaria, como está, a serviço de um partido que é uma soma de disparates.
Por Reinaldo Azevedo
Candidato de Tarso e Lula não sai dos 7% em Porto Alegre. Fortunatti, do PDT, poderia se reeleger no primeiro turno
Porto Alegre também está mandando um recadinho ao PT. Adão Villaverde, o candidato do governador Tarso Genro, mesmo com o apoio de Lula e de Marina Silva, continua empacado nos 7% segundo o Datafolha. Em segundo lugar, está Manuela Dávila, do PCdoB, com 30%. O atual prefeito, José Fortunatti, do PDT, se distanciou da comunista e tem agora 41%. Há duas semanas, estavam tecnicamente empatados. Se a eleição fosse hoje, ele poderia ser reeleito no primeiro turno.
Tarso Genro, o governador que não quer pagar o piso salarial dos professores, vai amargando uma surra eleitoral e tanto. Uma ironia e tanto para quem, mesmo estando no governo, fez parte da tropa de choque que ajudou a destroçar o governo da tucana Yeda Crusius.
Por Reinaldo Azevedo
Zavascki emite sinais de que não deve julgar mensalão mesmo que haja tempo para isso
Quando gosto, digo “sim”; quando não, então “não”. O meu “sim” vai para Teori Zavascki, ministro do STJ, indicado pela presidente Dilma para o STF. Indagado ontem pelos jornalistas se participaria ou não do julgamento do mensalão, afirmou que sua decisão seria anunciada só depois da sabatina no Senado — a propósito, nada impede que um dos senadores lhe faça a pergunta; aliás, acho que é uma obrigação.
Deu, no entanto, uma declaração à Folha que parece ser evidência de sensatez: “Nem estudei o assunto [mensalão]; é prematuro falar sobre isso. Não cogito nada antes de ser nomeado. Não quero falar sobre exercício do cargo no STF antes de completar o ciclo de nomeação.”
Ótimo! Precisamos mesmo de ministros que falem menos fora do tribunal e dos autos. A declaração de que não estudou o processo parece indicar um caminho: afinal, parece impossível que consiga estudar as 50 mil páginas do processo num prazo razoável, não é mesmo? O ministro dá, assim, uma resposta bastante objetiva sem, no entanto, botar o carro adiante dos bois.
Como já se escreveu aqui, uma vez nomeado ministro, cabe apenas a Zavascki decidir se participa ou não do julgamento.
Por Reinaldo Azevedo
Tarso não é padrinho de ministro indicado para o Supremo coisa nenhuma! É só jactância do governador petista
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), andou espalhando por aí que teve influência na indicação do nome de Teori Zavascki para o Supremo. Bem… A palavra sinônima para essa afirmação é aquela que define o oposto da verdade.
A influência do governador petista é inferior a zero.
Tarso já havia espalhado a mesma onda por ocasião da nomeação da ministra Rosa Weber. Também nesse caso, a afirmação não corresponde à realidade. Rosa foi uma escolha pessoal de Dilma. E Teori é pré-candidato ao cargo, com o endosso de várias figuras do Supremo e da Procuradoria-Geral da República, desde a indicação de Luiz Fux.
Por Reinaldo Azevedo
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Angelo Miquelão Filho Apucarana - PR
O Lula e seus comparsas deveriam ser condenados a devolver tudo que subtraíram do Brasil e não apenas priva-los da liberdade! O chefão (Lula) não vai em cana? Esta Marta é mesmo uma piada de mal gosto, se Lula é deus, certamente ela é a cobra do paraíso, vive dando o bote e falando besteira...