Produção a qualquer custo?, sobre o uso do ractopamina na pecuaria

Publicado em 11/02/2013 06:05 e atualizado em 11/02/2013 08:08
por Rui Wolfart, de Tangara' da Serra (MT)
Como mencionei em meu penúltimo artigo, o orçamento da defesa agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura-MA, está prá lá de baixo. O desaparelhamento institucional é um desaforo ao tamanho e importância da atividade para o país. 

Não bastassem as mazelas das negociações com a Rússia para reabrir o mercado de carne bovina, há poucos meses o Ministério permitiu o uso do ingrediente “ractopamina”, na formulação de alimentos para bovinos em confinamento. Segundo a literatura técnica, o produto é um beta-agonista. Traduzindo, ele desvia os nutrientes de formação da gordura para a produção de tecido muscular. A carne fica mais magra. 

O seu emprego é controverso, tanto que a União Européia, China, Malásia o proíbem e limitam a aquisição das carnes dos que o utilizam. Recentemente, apesar das manifestações do MA quanto à elaboração de protocolos e outros cuidados que seriam tomados no emprego do produto, a Rússia embargou lote de carne bovina por conter a substância. 

O Brasil insiste em nadar contra a correnteza. É o famoso tiro no pé. As ressalvas quanto aos beta-agonista, caso da ractopamina, é pela possibilidade de causarem efeitos colaterais graves como o aumento da pressão arterial, tontura, taquicardia, hiper ou hipoglicemia. Também é dito que podem provocar efeitos carcinogênicos e danos cromossômicos. 

Esse ingrediente ativo tem em sua molécula o núcleo benzênico, também presente nos produtos clorados (DDT, BHC), de triste memória e que foram banidos nos anos 70, não só pelos riscos de provocar câncer, mas também pelas conseqüências da cumulatividade na cadeia alimentar e alta persistência no solo. 

Exemplificando, todo agricultor que tenha aplicado 10 kg de DDT em 1970, tem ainda em sua terra 5 kg do produto, poluindo e provocando danos à saúde, mas não mais fazendo efeito sobre as pragas que atacam as suas atuais lavouras. 

Esse é o libelo moral quanto à permissividade nas relações entre governo e a indústria química. Diz o professor Giovanni Berlinguer: “com a evolução da ciência, os danos à saúde são identificados de forma cada vez mais precisos colocando por terra conceitos de segurança que prevaleceram às vezes por décadas.” 

É sob essa ótica que o nosso governo deveria agir, fazendo uso do conhecimento, estrutura laboratorial e legislação adequada ao contexto mundial, pois afinal, o país além de consumidor é um fornecedor global de alimentos. 

Respeitar o “Codex Alimentarius” pode não ser suficiente, pois há países com legislação mais restritiva, lembrando os casos da avermectina em carnes e carbendazim em suco de laranja, quando lotes foram barrados pelos Estados Unidos por se encontrarem em desacordo com a sua legislação. 

 A visão do governo e sua imobilidade ficam patentes quanto ao cenário de 2014, quando a União Européia fará uma limpa de produtos químicos utilizados em sua agropecuária, sobrando apenas 20% deles. 

O ativo mais importante do Brasil em suas relações de comércio é o do agronegócio. Que o governo trate de cuidar melhor dele.
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Rui Wolfart

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