Mercado de açúcar: A CATARSE DO SETOR

Publicado em 26/05/2013 20:11
por Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting

O mercado de açúcar viveu mais uma semana de preços baixos na onda baixista que já dura mais de 18 meses, mas que dá a impressão de ser uma eternidade. No final, o mercado fechou quase que inalterado comparativamente à sexta-feira anterior, com o vencimento julho de 2013 encerrando a 16,84 centavos de dólar por libra-peso com queda de 1 dólar por tonelada. No geral, a quadro continua pessimista.

O mercado interno de açúcar nos dá uma ideia que como a coisa anda devagar. O consumo de refrigerantes, por exemplo, segundo fontes do mercado, caiu 5,5% no primeiro trimestre do ano em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Grandes consumidores industriais de açúcar querem pagar a matéria prima com prazo de 150 dias. Pelo menos é isso que estão colocando na mesa de negociações. Mais um motivo para que as usinas virem tudo que puderem para o etanol. A impressão que se tem é que a coisa vai piorar de tão maneira e a situação vai ficar tão crítica para as usinas, que poderemos ter paradoxalmente uma alta explosiva de preços na próxima safra. Explico mais a seguir.

Setor endividado, preços baixos do açúcar no mercado internacional, mercado físico interno passando por extrema dificuldade de liquidez, necessidade de caixa imediata por parte das usinas descapitalizadas, são alguns dos fatores que vão elevar substancialmente o percentual do mix de produção pró-etanol. A pobre e esquelética geração de caixa do setor vai acelerar a busca por recuperação judicial como única tábua de salvação e evaporar qualquer possibilidade de investimento no plantio e renovação para o ano que vem por parte de pelo menos 40% das usinas do país. Se temos 30% do setor em situação confortável em termos financeiros que podem crescer 8% no ano que vem e mais uns 25% que podem expandir 4-5%, por outro lados temos 45% cujo crescimento pode ser negativo.

Evidentemente, que a situação financeira apertada em nada ajuda a recuperação de preços internacionais. Nem tampouco importa ao mercado lá fora que o custo de produção hoje no CS seja – pelo modelo da Archer Consulting – de 17,12 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos, sem custo financeiro. O mercado internacional pouco se lixa para o custo de produção. No entanto, para um robusto mercado consumidor interno que precisa a cada ano o equivalente a 30-35 milhões de toneladas de cana adicionais para atender apenas à demanda interna potencial de combustível, baixo preço vai causar falta de produto. Um enxugamento significativo daquele extraordinário superávit com o qual o mercado internacional tem trabalhado e pode ser mais tênue do que parece.

Quanto mais envergamos o galho da árvore, com maior velocidade ele volta ao seu lugar original se o soltarmos. Isso se ele não se quebrar, dirão alguns. Aí está a questão, um setor que tem um número grande de empresas em dificuldades financeiras só se fortalece quando ocorre uma catarse, na definição de Aristóteles, quando houver uma purificação, uma descarga emocional de altíssima intensidade provocada por um drama. Enfim, uma purgação. Empresas deixarão de produzir, serão vendidas ou incorporadas por outras com mais competência e fluxo de caixa, fortalecendo o setor, purificando-o. E esse é o meu ponto: quanto mais dramática for essa catarse (quanto mais depreciados forem os preços), mais afetada negativamente será a próxima (ou próximas) safra, menos produção será disponibilizada e mais rapidamente e fortemente os preços reagirão. Por enquanto, é claro, com os fundos sentados numa posição de 124.000 contratos vendidos e mais poder de fogo com a diminuição da margem inicial a partir do de terça-feira próxima, não parecem se preocupar com nada disso. 

A catarse pode ser 15 centavos de dólar por libra-peso? Tudo é possível num mercado que, segundo um experimentado corretor de açúcar nova-iorquino agora se dedicando a outras atividades, “tem muito pouco de fundamento nos dias de hoje”. O maior argumento que se ouve sobre as quedas acentuadas é que o percentual de volume de fixações de preço por parte das usinas estava bem abaixo do que o mercado estimava. O modelo da Archer dava conta que no início de maio o volume fixado girava em 14,94 milhões de toneladas, ou seja, se estimarmos as exportações brasileiras em 26 milhões de toneladas, estamos falando num percentual de 57,46%. O histórico das exportações de açúcar no Brasil nos últimos anos mostra que ao longo de uma safra, em média, 25-30% do volume é fixado contra a tela de maio, 35-40% contra a tela de julho, 20-25% contra a tela de outubro e 10% contra a tela de março. Considerando que maio já saiu da tela, o percentual não parece tão fora de propósito embora modelos não sejam perfeitos.

Interessante notar que mais de 6.000 calls de julho de preço de exercício de 1750 centavos de dólar por libra peso foram negociadas na quinta passada. Fundos se protegendo de uma eventual onda altista do mercado ou tentando capturar um aumento da volatilidade que tem andado bem perto da superfície. Enquanto isso, a bolsa reduz a margem inicial por contrato (valor fixo que precisa ser depositado como garantia das operações de futuro) a partir da semana que vem, o que pode dar mais munição para os fundos, ou seja, eles podem aumentar suas posições vendidas e colocar o mercado já fragilizado para níveis mais baixos. Alguns traders mais desanimados acreditam que vamos ver 15 centavos de dólar por libra peso antes de entrega de julho. 

Bom final de semana para todos.

Arnaldo Luiz Corrêa

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Fonte:
Archer Consulting

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