Mercado de açúcar: QUEM SEGURA ESSE MERCADO?

Publicado em 07/02/2015 13:29
por Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting

Bom ano a todos os leitores. Esse é o nosso primeiro comentário semanal de 2015 comemorando, com ele, nove anos de existência.

As medidas adotadas pelo governo, como a alteração na mistura de anidro na gasolina de 25% para 27%, somadas ao potencial de crescimento do consumo de etanol no estado de Minas Gerais com a redução do ICMS daquele produto e o crescimento no consumo de combustível em nível nacional a despeito da crise econômica, podem elevar de maneira significativa a quantidade de cana que será destinada a atender essas demandas adicionais.

A alteração do percentual de mistura eleva o consumo mensal de anidro em cerca de 75 milhões de litros. Minas, que é o estado com a segunda maior frota, com 10.6%, deve ganhar consumidores de hidratado favorecidos pela paridade alcançada com a redução do imposto estadual. O ganho de consumo não é automático apenas pela paridade favorável. Há de se mudar os hábitos do consumidor que leva tempo para perceber as vantagens financeiras do etanol. Mas, de qualquer forma, sendo conservador, Minas pode contribuir com o acréscimo de 1.4 bilhão de litros anuais. Além desses, a frota brasileira terá uma adição (veículos novos menos veículos sucateados) este ano de pelo menos 2 milhões de veículos que devem consumir juntos mais dois bilhões de litros de etanol anidro e hidratado no ano. Com isso, temos potencialmente um acréscimo de 4.3 bilhões de litros que vão consumir 50 milhões de toneladas de cana.

Difícil prever qual será a safra de cana do Centro-Sul para este ano. Os números oscilam entre 540 e 590 milhões de toneladas, como tem ocorrido recentemente. Os mais pessimistas apontam a seca como grande vilã e acreditam que o verdadeiro estrago ainda não teve sua magnitude avaliada corretamente. De qualquer sorte, o fato é que haverá menor disponibilidade de açúcar. Algumas tradings jogam a safra de açúcar para acima dos 34 milhões de toneladas, mas não consigo ver esse número muito longe dos 32.4 milhões (que deve ser provavelmente o número de previsão da Archer, ainda não encerrado).

Esses pontos analisados acima se não são altistas, pelo menos devem dar um razoável suporte ao mercado de açúcar. Não fossem as turbulências políticas internas no Brasil que colocam o dólar na cotação mais alta dos últimos 10 anos e o derretimento do preço do petróleo no mercado internacional, hoje nós estaríamos falando de 20 centavos de dólar por libra-peso. Mas, a história é outra.

Alguns outros fatores, no entanto, inibem o aparecimento de altistas nesse mercado inundado de baixistas. O real, por exemplo, vai continuar sofrendo com a crise política nacional que está apenas se iniciando. O crescimento da economia mundial põe o consumo em espera. A China desacelera. O preço declinante do barril do petróleo, embora promova a sobra de dinheiro no bolso das famílias, leva para baixo outras commodities. Em seis meses, vimos o petróleo despencar 46.7%, o gás natural 34.2%, soja 12%, açúcar e café 11% e por aí afora. Nenhuma commodity agrícola escapou.

No rol das dificuldades e mostrando que existem pontos vulneráveis ainda para uma recuperação do mercado é o número apurado pelo modelo desenvolvido pela Archer Consulting que aponta o volume de fixação das usinas para a safra 2015/2016. Esse número é considerado baixo, portanto deixa as usinas atrasadas extremamente vulneráveis caso ocorra um recrudescimento da situação. Na apuração do modelo até 31 de janeiro, o percentual de fixação estava em 27.27% ao preço médio de 17.34 centavos de dólar por libra-peso. Coincidentemente, esse é o mesmo valor que as usinas há um ano tinham na média de suas fixações para a safra 2014/2015, só que naquele momento o percentual era bem maior: 40.88%. O que ocorreu?

Falta de crédito por parte das corretoras que cada vez são mais seletivas na escolha de seus clientes, inibindo a antecipação de hedge que demanda garantias a serem depositadas. As tradings, que não tiveram um ano muito bom em virtude da deterioração dos prêmios no mercado físico, diminuíram – com razão - o apetite para contratos de longo prazo, a menos que os descontos fossem generosos e confortáveis. Assim, muitas usinas acabam fixando da mão para a boca, ou seja, gradualmente conforme vai negociando o físico. Esses ingredientes refletem na queda de 13 pontos percentuais do volume que nesse momento já deveria estar fixado. Também explica a média relativamente alta para um ano como esse, de preços decadentes, pois somente as empresas bem capitalizadas e estruturadas tem sido capaz de fixar os preços quando houve boa oportunidade.

E o fundo desse poço, qual seria? Sem nenhuma vocação para pitonisa nem Nostradamus, prefiro me ater nos valores negociados em reais por tonelada que é o ponto em que muitas das empresas do setor se balizam. A média de fixação para 2015/2016 é de R$ 971 por tonelada. O mínimo visto foi R$ 880 por tonelada. Vamos imaginar o pior cenário com o dólar a 3.000 devido a um eventual agravamento do cenário político. Isso coloca NY equivalente a 12.78 centavos de dólar por libra-peso na mínima do ano. Na média, estaríamos em 14 centavos de dólar por libra-peso. Com o dólar a 2.7000 estamos falando em 14 centavos de dólar por libra-peso como mínima e 15.70 como média. Para onde pode ir esse mercado depois que a tempestade perfeita acabar? Ou ainda, os fundos teriam o mesmo apetite de ter uma enorme posição vendida nos níveis atuais?

Imagine que você tenha US$ 1 milhão que deve ser obrigatoriamente apostado numa opção digital, ou seja, você tem que apostar que o mercado ou chega a 12 centavos de dólar por libra-peso ou que chega a 18 centavos de dólar por libra-peso. Onde você apostaria? Mande sua opinião.

A Petrobrás estima que o valor subtraído do seu patrimônio pode chegar a R$ 88 bilhões. Dinheiro que foi usado para o pagamento de propinas, para encher o bolso de partidos políticos, empresários, apadrinhados e outros meliantes. Como deve se sentir o empresário honesto ao ver tamanho descalabro. A quantia surrupiada pelas gangues que infestam a vida política brasileira é 20% maior do que toda a receita estimada do setor sucroalcooleiro no ano de 2015.

O Demarest Advogados com o apoio da Archer Consulting promove no dia 25 de fevereiro das 13:30 às 20:30 horas o Seminário Agronegócio: Agenda Regulatória. As inscrições são gratuitas. Para mais informações [email protected].

Arnaldo Luiz Corrêa

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Archer Consulting

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