Memorial “Eu Me Amo”, de Lula, será erguido com dinheiro público em terreno público... (Reinaldo Azevedo)

Publicado em 28/06/2012 07:31 e atualizado em 03/09/2013 13:41
do blog de Reinaldo Azevedo, em veja.com.br

Quando falta vergonha, não há limite — Memorial “Eu Me Amo”, de Lula, será erguido com dinheiro público em terreno público. É a privatização da história, da democracia, do patrimônio coletivo e do dinheiro dos pobres!

Lula, o sem-limites, agora quer dinheiro público — incentivo da Lei Rouanet — para erguer o seu “Memorial da Democracia”. Ele já ganhou um terreno em São Paulo. É a privatização de uma área pública, da nossa grana e da história. Lembram-se quando afirmei que era errada a ideia de que ele e Paulo Maluf são seres constrastantes? Leiam. Debatam. Passem adiante.
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Se o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), fundador do PT e autor de “Raízes do Brasil”, vivo fosse, estaria diante de uma excelente oportunidade para refletir sobre as relações de compadrio, familismo e patrimonialismo que remanescem na política brasileira, só que agora sob o comando e o controle do partido que ele ajudou a criar. Talvez se deprimisse: se um dos filhos, Chico Jabuti, compôs, por assim dizer, a trilha sonora da mistificação partidária, uma das filhas, Ana de Hollanda (com dois “eles”) será a operadora de um assalto aos cofres públicos.

Bernardo Mello Franco informa na Folha de ontem que a ministra da Cultura decidiu que o Instituto Lula poderá captar recursos da Lei Rouanet para criar o tal “Memorial da Democracia”. É aquela iniciativa para a qual o prefeito Gilberto Kassab, atendendo a um pedido expresso do Babalorixá de Banânia, doou um terreno no centro de São Paulo, com aprovação da maioria da Câmara dos Vereadores.

O tal memorial vai reunir elementos que estejam ligados, ora vejam!, diretamente à trajetória de… Lula! Isto mesmo: a história do Apedeuta é agora a história universal. Privatiza, assim, um terreno que pertence ao povo de São Paulo, o dinheiro público e a própria democracia! Ana de Hollanda estava entusiasmada. Acusada de ser imprecisa e hesitante, ontem ela se mostrou direta e firme ao garantir que será o dinheiro público a irrigar o “Memorial Eu Me Amo”, orçado, inicialmente, em R$ 100 milhões. “Claro que vai poder ter captação pela Lei Rouanet. Pode sim, claro! Nada impede. Abri todas as possibilidades institucionais possíveis”, disse a improvável filha de Sérgio, mas certamente irmã de Chico.

É uma vergonha! Lula já havia anunciado que seu instituto seria construído sem dinheiro público. Não é o caso, e nunca foi, de confiar nas suas palavras.

O que haverá no acervo?
Já escrevi sobre esse memorial algumas vezes. Acrescento a perguntas antigas algumas novas. Lula vai reunir no acervo as evidências de que tentou chantagear um ministro do Supremo Tribunal Federal para livrar a cara dos mensaleiros? Lembrará que decidiu criar uma CPI com o propósito único de intimidar o Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria Geral da República e a imprensa? A foto ao lado de Paulo Maluf fará parte da “história da democracia”? Num post do dia 15 de fevereiro, já havia feito algumas perguntas.

Constituição — A negativa dos petistas em participar da sessão homologatória da Constituição de 1988, uma das atitudes mais indignas tomadas até hoje por esse partido, fará parte do “Memorial da Democracia”, ou esse trecho será aspirado da história?

Expulsões — A expulsão dos três deputados petistas que participaram do Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves, pondo fim à ditadura — Airton Soares, José Eudes e Bete Mendes — fará parte do “Memorial da Democracia”, ou isso também será aspirado da história? Em tempo: vi dia desses Soares negar na TV Cultura que tivesse sido expulso. Diga o que quiser, agora que fez as pazes com a legenda. Foi expulso, sim!

Governo Itamar — A expulsão de Luiza Erundina do partido porque aceitou ser ministra da Administração do governo Itamar, cuja estabilidade era fundamental para a democracia brasileira, entra no “Memorial da Democracia”, ou esse fato será eliminado da história?

Voto contra o Real — A mobilização do partido contra a aprovação do Plano Real integrará o acervo do “Memorial da Democracia”, ou os petistas farão de conta que sempre apostaram na estabilidade do país?

Guerra contra as privatizações — As guerras bucéfalas contra as privatizações — o tema anda mais atual do que nunca — e todas as indignidades ditas contra a correta e necessária entrada do capital estrangeiro em setores ditos “estratégicos” merecerá uma leitura isenta, ou o “Memorial da Democracia” se atreverá a reunir como virtudes todas as imposturas do partido?

Luta contra a reestruturação dos bancos — A guerra insana do petismo contra a reestruturação dos bancos públicos e privados ganhará uma área especial no “Memorial da Democracia”, ou os petistas farão de conta que aquilo nunca aconteceu? Terão a coragem, já que são quem são, de insistir na mentira e de tratar, de novo, um dos pilares da salvação do país como um malefício, a exemplo do que fizeram no passado?

Ataque à Lei de Responsabilidade Fiscal — Os petistas exporão os documentos que evidenciam que o partido recorreu à Justiça contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, tornada depois cláusula pétrea da gestão de Antônio Palocci no Ministério da Fazenda?

Mensalão — O “Memorial da Democracia” vai expor, enfim, a conspiração dos vigaristas, que tiveram o desplante de usar dinheiro sujo para tentar criar uma espécie de Congresso paralelo, alimentado por escroques de dentro e de fora do governo? O prédio vai reunir os documentos da movimentação ilegal de dinheiro?

Duda Mendonça na CPI — Haverá no “Memorial da Democracia” o filme do depoimento de Duda Mendonça na CPI do Mensalão, quando confessou ter recebido numa empresa no exterior o pagamento da campanha eleitoral de Lula em 2002? O museu de Lula terá a coragem de evidenciar que ali estava motivo o bastante para o impeachment do presidente?

Dossiê dos aloprados — O “Memorial da Democracia” trará a foto da montanha de dinheiro flagrada com os ditos aloprados, que tentavam fraudar as eleições — para não variar —, buscando imputar a José Serra um crime que não cometera? Exibirá a foto do assessor de Aloizio Mercadante, que disputava com Serra, carregando a mala preta?

Dossiê da Casa Civil — Esse magnífico “Memorial da Democracia” trará os documentos sobre o dossiê de indignidades elaborado na Casa Civil contra FHC e contra, pasmem!, Ruth Cardoso, quando a titular da pasta era ninguém menos do que Dilma Rousseff, e sua lugar-tenente, ninguém menos do que Erenice Guerra?

Censura à imprensa — o “Memorial da Democracia” reunirá as evidências das muitas vezes em que o PT tentou censurar a imprensa, seja tentando criar o Conselho Federal de Jornalismo, seja introduzindo no Plano Nacional de Direitos Humanos mecanismos de censura prévia?

Imprensa comprada e vendida — Teremos a chance de ver os contratos de publicidade do governo e das estatais com pistoleiros disfarçados de jornalistas, que usam o dinheiro público para atacar a imprensa séria e aqueles que o governo considera adversários nos governos dos estados, no Legislativo e no Judiciário?

Novo dossiê contra adversário — O “Museu da Democracia” do Instituto Lula reunirá as evidências todas das novas conspiratas do petismo contra o candidato da oposição em 2010, com a criação de bunker para fazer dossiês com acusações falsas e a quebra do sigilo fiscal de familiares do candidato e de dirigentes tucanos?

Uso da máquina contra governos de adversários — A mobilização da máquina federal contra o governo de São Paulo em episódios como o da retomada da Cracolândia e da desocupação do Pinheirinho entrará ou não no “Memorial da Democracia” como ato indigno do governo federal?

Apoio a ditaduras — O sistemático apoio que os petistas empenham a ditaduras mundo afora estará devidamente retratado no “Memorial da Democracia”? Veremos Lula a comparar presos de consciência em Cuba a presos comuns no Brasil? Veremos Dilma Rousseff a comparar os dissidentes da ilha a terroristas de Guantánamo?

Poderia passar aqui a noite listando as vigarices, imposturas, falcatruas e tentativas de fraudar a democracia protagonizadas por petistas e por governos do PT. As que se leem são apenas as mais notórias e conhecidas.

NÃO! ERRAM AQUELES QUE ACHAM QUE QUERO IMPEDIR LULA — E O PT — DE CONTAR A HISTÓRIA COMO LHE DER NA TELHA. QUEM GOSTA DE CENSURA SÃO OS PETISTAS, NÃO EU! O Apedeuta que conte o mundo desde o fim e rivalize, se quiser, com Adão, Noé, Moisés ou o próprio Deus, para citar alguém que ele deve julgar quase à sua altura. MAS NÃO HÁ DE SER COM O NOSSO DINHEIRO.

A conversa de que o memorial será uma instituição suprapartidária é mentirosa desde a origem. Supor que Paulo Vannuchi — JUSTAMENTE O RESPONSÁVEL POR AQUELE PLANO SINISTRO QUE DIZIA SER DE DIREITOS HUMANOS E QUE PREVIA CENSURA PRÉVIA — e Paulo Okamotto possam ter qualquer iniciativa que não traga um viés petistas é tolice ou má-fé.

Herói é você, leitor!
Espalhe de novo este texto. Herói é você, que sobrevive no Brasil mesmo com a classe política que aí está, não Lula. Ele é só um contumaz sabotador de governos alheios, que agora pretende, com a privatização de terreno e dinheiro públicos, erguer o Museu das Imposturas. De resto, basta que ele estale os dedos, e haverá empresários em penca dispostos a lhe encher as burras de grana.

Por que essa verdadeira compulsão pelo nosso dinheiro, Lula?

Por Reinaldo Azevedo

 

Graça Foster e a Petrobras além da propaganda

Há coisa de dois ou três dias, o inteligente e divertido novelista Aguinaldo Silva reclamava no Twitter, em tom acertadamente debochado, do dinheiro que perdeu com as ações da Petrobras. Não só ele. Os investidores não profissionais — gente que vive do jogo do sobe e desce no mercado — tem se espantado. A nova presidente da Petrobras, Graça Foster, corre o risco de ser vista como o lado mau da novela Petrobras, mas ela pode estar mais para uma mocinha, ainda que não se note à primeira vista. Mas também é uma dessas heroínas pós-Gloria Magadan, com suas culpas no cartório.

O Estadão desta quarta publicou um ótimo editorial a respeito da Petrobras. Leiam. Volto em seguida.

Hora da verdade na Petrobrás

Há duas grandes novidades no plano de negócios anunciado pela presidente da Petrobrás, Graça Foster, para o período de 2012 a 2016. Em primeiro lugar, as novas metas e os cronogramas são mais realistas que os apresentados nos planos anteriores. A produção nacional de petróleo, por exemplo, deverá chegar a 2,5 milhões de barris diários em 2015, meio milhão abaixo da previsão adotada até o ano passado. Em segundo lugar, o novo planejamento consagra uma visão crítica dos padrões da administração passada e implantados no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde o início da gestão petista, como indicou a presidente da empresa, a Petrobrás jamais conseguiu alcançar as metas fixadas. Mais de uma vez, durante sua exposição, ela mencionou o apoio do “controlador” - isto é, do governo Dilma Rousseff - aos novos critérios.

Uma das condições agora levadas em conta é a convergência dos preços cobrados internamente com os preços internacionais dos combustíveis. Esse ponto foi ressaltado tanto pelo diretor financeiro, Almir Barbassa, quanto pela presidente da estatal. O recém-anunciado aumento dos preços da gasolina (7,8%) e do óleo diesel (3,9%) ficou abaixo do considerado necessário por muitos analistas. A diferença foi mal recebida no mercado de capitais e segunda-feira as ações da empresa caíram mais de 8% na bolsa, queda maior que a de novembro de 2008, no pior momento da crise financeira. Prevaleceu entre os investidores, mais uma vez, a visão de curtíssimo prazo. Se a nova administração agir de acordo com os critérios indicados na apresentação do plano, o crescimento da Petrobrás será mais seguro do que seria com os padrões dos últimos nove anos.

Para realizar os investimentos de US$ 236,5 bilhões previstos no plano de negócios a empresa precisará de preços mais realistas e, portanto, novos aumentos serão necessários, como deixaram claro os diretores da estatal. O compromisso com resultados também foi reforçado. Isso explica a revisão de cronogramas, como o do complexo petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e de outras refinarias.

Pela nova previsão, a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, só começará a funcionar em 2014, com atraso de um ano am relação à data prevista no último planejamento. O custo passará de US$ 13,4 bilhões para US$ 17 bilhões. A associação negociada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o colega venezuelano, Hugo Chávez, até agora deu em nada. Nenhum centavo foi pingado pela PDVSA. A presidente Graça Foster mantém, segundo afirmou, a esperança de ver concretizada a participação venezuelana. No entanto, ela mesma descreveu esse projeto como um exemplo a ser analisado para nunca se repetir.

Erros desse tipo só serão evitados, no entanto, se o governo brasileiro abandonar os padrões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele usou a Petrobrás para seus objetivos políticos no Brasil e no exterior. A aliança com o presidente Chávez é parte dessa história, assim como sua reação mansa e cordata quando instalações da empresa foram ocupadas militarmente na Bolívia.

Curiosamente, a nova presidente da Petrobrás defende a política de conteúdo nacional para os equipamentos comprados pela empresa. Essa política, segundo ela, atende às necessidades da empresa. Os riscos, no entanto, são tão evidentes quanto o erro de fazer da Petrobrás, uma das maiores petroleiras do mundo, um instrumento de política industrial. Em março, a presidente Graça Foster declarou-se preocupada com os atrasos na entrega de navios encomendados ao Estaleiro Atlântico Sul e com problemas tecnológicos.

O primeiro navio encomendado a esse estaleiro, o petroleiro João Cândido, foi lançado pelo presidente Lula em maio de 2010. Quase afundou, passou por reformas e só foi entregue dois anos mais tarde. Política industrial baseada em favorecimento e voluntarismo dá nisso. Se reconhecerem esse fato, a presidente Dilma Rousseff e sua amiga Graça Foster talvez consigam se livrar - e livrar o País - de alguns dos piores costumes consagrados no governo anterior, como o aparelhamento da administração, o voluntarismo, o favorecimento a grupos econômicos e a mistificação populista.

Voltei
Começo assim: a questão verdadeiramente de fundo nessa história toda jamais será discutida, todos sabemos: por que precisamos de uma Petrobras com as características que ela tem hoje? A boa resposta é esta: não precisamos. Vejam aí: o país que tem uma das gasolinas mais caras do mundo está com seus preços… defasados! Mas não vou perder meu tempo malhando em ferro frio. Quem sabe meus tataranetos já não tenham mais essa empresa nas costas. Se Marina Silva estiver certa, tiraremos energia da Árvore da Vida, como em Avatar… Adiante.

O que o Estadão relata é uma tentativa de ter uma Petrobras um pouco mais transparente, sem os números maquiados da era Lula, quando a empresa ficou sob o comando de um prosélito como José Sérgio Grabrielli, hoje lotado no governo da Bahia e desde já pré-candidato do PT à sucessão de Jaques Wagner. Quantas foram as vezes que a máquina petista se voltou contra qualquer um que ousasse fazer indagações sobre a verdade dos números da Petrobras? Os críticos ou simples indagadores eram tratados como inimigos da pátria, acusados de defensores da “privatização” da empresa — que, note-se, é de capital misto. Mesmo assim, foi claramente usada para fazer política.

Aplauda-se a decisão de Graça Foster de tentar trabalhar com números mais realistas. E a fantasia não era pequena, não! Até o ano passado, estimava-se que a produção diária de petróleo seria de 3 milhões de barris em 2015. Estamos praticamente no segundo semestre de 2012. Essa expectativa foi reduzida em estratosféricos 500 mil barris, quase 20% a menos. Não é uma correção trivial. Esse tipo de coisa, todo mundo sabe, não obedece à lógica do chute, não! Há gente competente para fazer esse tipo de cálculo. Mas não há cálculo que sobreviva à obstinação da má fé política.

Graça Foster é quem é e vem de onde vem — daí não ser só a heroína do bem. Insiste na tolice do tal conteúdo nacional, que, de resto, visto na ponta do lápis, é menos verdadeiro do que se anuncia. Implica, no entanto, desembolso extra para uma empresa mista, que tem de ser gerida segundo critérios profissionais, que excluem patriotadas. O navio nacionalista do Apedeuta quase afundou (ver próximo post).

As coisas estão ainda um tanto confusas. O preço do combustível produzido pela Petrobras foi corrigido, mas não na bomba, para o consumidor. Isso significa que o consumo de gasolina e óleo diesel está sendo subsidiado, o que já está gerando confusão na cadeia produtiva do etanol. Caiu bastante a frota movida a álcool no país que proclama seus compromissos ambientais…

Aos poucos, os improvisos, contradições e mistificações da era Lula vão aparecendo. Ficarão por aí, produzindo efeitos na economia por décadas. No próximo post, trato do navio apedeuta do apedeuta.

Por Reinaldo Azevedo

 

Aqui, a prova da eficiência da política “de conteúdo nacional” do lulo-petismo

Em agosto do ano passado, VEJA publicou uma reportagem sobre uma patriotada do Apedeuta, que não naufragou por pouco, ao custo de R$ 336 milhões. E a conta pode custar muito mais do que isso. A presidente da Petrobras, Graça Foster, ainda que tenha dito e feito coisas acertadas sobre a Petrobras, revelou-se fã dessa política. Vejam este navio e leiam o texto seguinte.

 

Lula e o navio João Cândido, de casco apedeuta (hehe), em foto de Ricardo Stuckert

Lula e o navio João Cândido, de casco apedeuta (hehe), em foto de Ricardo Stuckert

A foto acima, de 7 de maio de 2010, retrata uma cena explorada à exaustão na campanha de Dilma Rousseff. Com pompa e circunstância, o então presidente Lula, com Dilma no palanque, exibia no Porto de Suape, em Pernambuco, o primeiro navio petroleiro construído no Brasil em catorze anos. Tudo teatro eleitoral. Tão logo a platéia se foi, a embarcação voltou ao estaleiro e de lá nunca mais saiu. O que poucos sabiam até agora é que o vistoso casco do João Cândido - um portento planejado para transportar 1 milhão de barris de petróleo através dos continentes e que custou à Petrobras 336 milhões de reais (o dobro do valor de mercado) - escondia soldas defeituosas e tubulações que mal se encaixavam. Corria o risco de desfazer-se em alto-mar. Concebido para ser o primeiro de uma série de 41 navios, símbolo do renascimento da indústria naval, o petroleiro precisou ser parcialmente refeito. O término da reforma está prometido para as próximas semanas, mas técnicos ouvidos por VEJA afirmam que, dado o histórico de trapalhadas, o calendário pode atrasar.

O João Cândido é o epítome da estratégia petista de privilegiar a todo custo mão-de-obra e fornecedores brasileiros como forma de fomentar os setores petrolífero e naval - a tal política do conteúdo nacional. De acordo com ela, no caso da construção de um navio, pelo menos 65% do valor final deve ser gasto no país. Trata-se de uma regra que despreza a inteligência e o bom uso do dinheiro público, como bem ilustra o episódio do João Cândido.

Foi o governo que patrocinou, por meio do BNDES, a criação do Estaleiro Atlântico Sul, encarregado de erguer esse e mais 21 petroleiros. Seus principais sócios são as empreiteiras Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, que já fizeram todo tipo de obra, mas nunca montaram nem sequer uma lancha. Dada a magnitude do projeto, seria preciso que contratassem mão de obra altamente especializada. Mas quase todos os 2000 operários recrutados - incluídos aí canavieiros, donas de casa e sacoleiros da região estavam montando um navio pela primeira vez. “Com um contingente tão inexperiente, seria impossível não haver erros”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

Todos os países que têm uma indústria naval forte tiveram um dia de destinar subsídios ao setor. Foi assim com o Japão e a Coréia do Sul, hoje os maiores produtores de navios do planeta. Só que lá, ao contrário daqui, estabeleceram-se exigências técnicas e prazos que obrigaram a indústria a ganhar eficiência e a se tornar independente do governo. Na primeira tentativa feita no Brasil de alavancar o setor, nos anos 60 e 70, foram todos à bancarrota assim que a fonte estatal secou. Agora, mais uma vez, é o governo, via Petrobras, que anuncia um investimento de nada menos que 9,6 bilhões de reais na área. Enquanto isso, o João Cândido continua emperrado - um monumento à incompetência a lembrar com que facilidade se pode lançar ao mar o dinheiro dos contribuintes.

Por Reinaldo Azevedo.

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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3 comentários

  • Adoniran Antunes de Oliveira Campo Mourão - PR

    O Reinaldo Azevedo sempre está atual,apesar de que os posts acima já tem dias de publicaçao.No quesito do monumento Lula eu me amo,será que nao deveriam agora também deixar a disposiçao o golpe da triplice aliança contra o Paraguay,suspenso do Merdasul para colocar a Merdenzuela?Desculpem,Venezuela, porque o povo daquele lindo país nao tem culpa,ou será que tem,de haverem eleito um porco de alma e coraçao como presidente.Paraguay sempre afirmou(o senado)que a resistencia de nao aceitar aquele país no mercosul foi exatamente por causa do chavez,cujo ego faz concorrencia acirrada com o do Lula.Sugiro ao povo de sao paulo(non ducor,duco)que respeitem a máxima do quarto centenario,e,se teimarem em construir com o dinheiro dos paulistas a igreja universal do deus lula,nao o permitam,atirem dinamite na construçao,coqueteis molotov,qualquer coisa para mostrar a esse zoofilista abjeto,crapula,ordinario Lula,que sao paulo nao quer isso.E Serra,voce nos deve aos eleitores que votamos em voce para presidente,que despeça teu marqueteiro que te fez perder a eleiçao de 2010 para presidente,que agora nao te faça perder a eleiçao para prefeito.E nao poupar Lula,PT o que seja na propaganda eleitoral que começa em poucos dias.Pau no lombo desta cambada,nesta quadrilha constituida para delinquir no horario politico,tens que expor,desnudar os mitos dilma,lula etc.Se nao fizeres isso Serra,nao mereces vencer.

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  • Anilton Souza Rodrigues Manzano Amambai - MS

    Fica dificil votar em pessoas que governam doando o Patrimonio Publico para outros paises mansa e pacificamente, assim como foi a Petrobras da Bolivia.

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  • Paulo Roberto Espires Maringá - PR

    Sera que se contratarmos um Presidente da Republica, Governadores e Prefeitos no Mercado de Trabalho, assim como e feito em algumas cidade da Europa. Nosso dinheiro seria melhor investido.

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