Produtores rurais batem recorde na produção de grãos plantando em área que corresponde à metade das reservas indígenas

Publicado em 10/08/2012 18:51 e atualizado em 22/08/2013 13:22
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Produtores rurais batem recorde na produção de grãos plantando em área que corresponde à metade das reservas indígenas, onde só se produz mistificação! Ou: 13% do território brasileiro para 0,26% da população

O Brasil é um oximoro. O Brasil é uma piada triste. Sim, conforme o prometido, eu vou falar sobre os índios (leia post anterior). Como vocês veem, cresce o número de pessoas que se declaram de outra etnia, mas que se consideram “indígenas”. Bem, na marcha em que vão as coisas, acima de tudo, é bom negócio ser índio. O que pode destruir uma reputação em Banânia, especialmente nas redações, é ser produtor rural! O sujeito logo ganha um sufixo “ista” e se torna, então, “ruralista”. Faculdades de jornalismo costumam ensinar tudo, menos o essencial. O “ista” é o adepto de um “ismo”. E o que é um “ismo”? Define uma tendência, uma corrente de pensamento, uma teoria, um sistema. Logo, um “ruralista” haveria de ser necessariamente alguém empenhado em, vamos dizer assim, ruralizar o mundo. Mas, é claro, não é empregado com esse sentido. O “ista” do ruralista é visto, na verdade, como o “ista” do egoísta – dedicado apenas aos próprios negócios – epa! Quase fiz poesia concretista

“Que foi, Rei? Fumou a erva do diabo?” Faço isso, não, e sou contra! Só Hollywood, e não me orgulho. É que certas coisas puxam a minha verve melancólica. Aí escolho o caminho do escárnio leve. Por que falei aqui dos “ruralistas”. Ontem, o governo divulgou a safra de grãos prevista para 2012. Bateremos um novo recorde histórico:165,92 milhões de toneladas. Isso tudo foi produzido em apenas 58,81 milhões de hectares. “O que isso tem a ver com os índios?” Já chego lá.

A área destinada à agricultura no país é estimada em 59.846.619 hectares (dados do IBGE). A área destinada só a grãos perdeu espaço. Ainda assim, houve recorde de produção. Quando dona Marina Silva, com seus xales telúricos e sua voz de beata do apocalipse, quer reduzir ainda mais a área plantada no país, recomendando aos agricultores que “produzam mais” em área menor, o que dizer? Isso já está em curso. E não é só esse número que evidencia a minha afirmação. Atenção! Os EUA, que têm uma das agriculturas mais produtivas do mundo, colhem 2,922 toneladas de soja por hectare. O Brasil, 3,106 toneladas. Dona Marina Silva e seus fiéis sabem como gastar o dinheiro produzido pelas commodities agrícolas. Ela não tem aula a dar nessa área, como se vê.

“E os índios, Reinaldo? Volte ao tema, rapaz!”

Volto.

O Brasil tem um total de 851 milhões de hectares. O país produz 165,92 milhões de toneladas grãos em apenas 58,81 milhões de hectares. Vale dizer: alimentamos o país e uma boa parcela do planeta dedicando à agricultura apenas 6,9% do nosso território. Só para que a informação fique completa: pouco mais de 158,7 milhões de hectares estão dedicados às pastagens.

Pois bem, queridos. Vamos pegar todos aqueles que “se consideram” indígenas: são 896.917 pessoas – 0,47% da população. Vivem efetivamente nas áreas indígenas apenas 57% desse total: 511.242 – ou 0,26% dos brasileiros. Bingo! Não obstante, as reservas indígenas somam 106,7 milhões de hectares (e o número pode ser maior; já digo por quê). Entenderam? Sintetizo:
– em 58,81 milhões de hectares, produzem-se 165,92 milhões de toneladas de grãos para alimentar brancos, pardos, pretos, índios, chineses, japoneses, alemãs, indianos, iranianos…
– em 106,7 milhões de reservas indígenas – o dobro da área dedicada à agricultura (13% do país), não se produz um pé de feijão.

Nota à margem: o número que eu tinha sobre reservas indígenas era ligeiramente maior. Falei com a jornalista Cecília Ritto, e a dúvida foi dirimida. O IBGE considerou terras indígenas aquelas já consolidadas, plenamente legalizadas. Caso se levem em conta algumas áreas ainda em litígio ou não plenamente legalizadas, o total pode saltar para 108.629.852 hectares – 12,7% do território para 0,26% dos brasileiros!

Reinaldo exagera!
Enviaram-me há pouco uma coisa interessante. Soninha, candidata do PPS à Prefeitura de São Paulo, participou de um chat (não entendi direito qual é a página), e alguém perguntou o que ela pensa a meu respeito. Já trocamos algumas farpas no passado. Ela foi até generosa comigo; disse que sou “inteligentíssimo”, mas observou: “às vezes tem razão, mas pega mto pesado e perde a razão”. Como se vê, não é exatamente um elogio. Mesmo assim, a rede petralha caiu em cima dela no Twitter. Afinal, ela não me agrediu, não quis comer meu fígado – e os canibais precisam de sangue. Muito bem! Pego pesado? Quando? Em quê? Por quê? Isso é um mito, Soninha, inventado por quem me detesta, a que você, infelizmente, dá curso. Pego pesado porque chamo as coisas pelo nome? Não xingo ninguém, não difamo, não calunio. Bato em ideias. Também não flerto com aquilo que repudio só para ser decoroso.

Vamos ao caso dos índios. Minto quando digo que 0,26% dos brasileiros ocupam quase 13% do território para não produzir uma mandioca, enquanto 165,92 milhões de toneladas são produzidas em metade do território destinado às reservas?

“Ah, mas são coisas diferentes.” Ora, claro que são! O “reservismo” indígena está em expansão, não é? E a área plantada está em processo de redução. As mistificações da Funai e da Pastoral do Índio – ou algo assim (composta de Anchietas às avessas; já explico o que quero dizer) – são compradas bovinamente pela imprensa, com raras exceções; já os produtores rurais – aqueles “istas” – têm de provar todos os dias que não são bandidos. Os “bacanas” do ecologismo e do indianismo querem que se produza cada vez menos em áreas cada vez maiores; os agricultores brasileiros estão produzindo cada vez mais em áreas cada vez menores.

Aloprados
Os aloprados no Brasil foram de tal modo longe na loucura, que o Ipea (sim, o Ipea!), sob o comando de Márcio Pochmann (que agora é candidato do PT à Prefeitura de Campinas), fez um estudo demonstrando que seria preciso reduzir ainda mais a área destinada à agropecuária para preservar o meio ambiente, entenderam? Escrevi um post a respeito em 9 de junho do ano passado. Claro! Os valentes trabalharam com números errados do Incra, segundo os quais há 571,7 milhões de hectares de imóveis rurais. Huuummm… “Imóvel rural” é conceito cartorial. A agropecuária brasileira ocupa, de verdade, 231.461.765 hectares – pouco mais de 27% do país. Atenção! 98.479.628 hectares são dados como propriedade rural, mas se trata de reservas obrigatórias dentro das propriedades. Não se pode produzir nada ali.

Escrevo este texto para que vocês percebam o despropósito em que ecologistas, indianistas e miolo-molistas de maneira geral querem nos enredar. A agropecuária brasileira salva o Brasil do desastre há muitos anos, em especial durante o mandarinato petista e seus agregados esquerdopatas e ecopatas.

Acabar com as reservas?
Será que eu quero acabar com as reservas? Não! Eu quero é que cesse a estupidez! As fraudes antropológicas na demarcação de terras indígenas são frequentes. Cometeu-se o crime de expulsar de Raposa Serra do Sol os agricultores não índios, que ocupavam apenas 0,7% da área e produziam toneladas de arroz. Resultado: aumento brutal da pobreza! Para quê? Para satisfazer as vontades da Fundação Ford e dos padres indigenistas, os Anchietas às avessas. O original buscava catequizar os índios; os de agora aderem à “teologia” indígeno-ongueira.

Essa política estúpida tem de mudar. Não é possível que se reservem 13% do território nacional para pouco mais de 500 mil pessoas que, não obstante, não conseguem cuidar do próprio sustento, tendo de viver do auxílio estatal. Só para comparar: a cidade de São Paulo ocupa 1,9% do Brasil (quase um sétimo das reservas indígenas) e abriga 12 milhões de pessoas (23 vezes mais gente). “Não seja idiota, Reinaldo! Índio caça, pesca, corre pelas matas…” É mesmo, é? Errado! Com raras exceções, índio vive de cesta básica e depende da grana estatal – quando não negocia a exploração da terra com garimpeiros e madeireiros ilegais.

Como sempre, não adianta me xingar. Os descontentes tentem provar que os números estão errados.

PS – Ah, sim: o recorde de safra do Brasil mereceu pouco destaque na imprensa. Mais uma vez, preferiram satanizar os “ruralistas”, que estariam querendo acabar com os rios temporários… Gente má!!!

Por Reinaldo Azevedo

 

É, leitor, cada vez mais, o bom negócio é ser índio. Comece a pensar no assunto

Leia trecho de reportagem de Cecília Ritto, na VEJA.com. Volto ao assunto no próximo post.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira os dados do Censo 2010 referentes à população indígena no Brasil. Trata-se do conjunto mais completo de dados numéricos sobre população, etnias, língua, localização e condições de vida dos índios e daqueles que se declaram como tal – principal contribuição desta fase do censo. Uma mudança na metodologia permite enxergar, com precisão inédita, o tamanho da população que, apesar de declarar outra etnia, simplesmente “considera-se” indígena. Se levadas em conta as respostas positivas à pergunta “Você se considera índio?”, que constava do questionário de 2010 aplicado em terras indígenas, o total de índios brasileiros salta de 817.963 para 896.917 – um acréscimo de 9%, ou 78.954, o equivalente à população da cidade de Ubatuba, no litoral paulista.

As terras indígenas, pelo mapeamento feito pelo IBGE, são o local de moradia de 57% dos índios. Os outros 43% dessa população estão nas cidades ou em áreas rurais fora dos territórios demarcados. De forma global, 36,2% dos índios habitam áreas urbanas, enquanto 63,8% estão em regiões rurais. No entanto, há diferenças regionais marcantes. No Sudeste, 80% dos indígenas estão nas cidades; já no Norte, a situação se inverte: 82% estão no campo.

O IBGE considerou necessária a inclusão da nova pergunta ao questionário a partir do Censo Experimental – a fase de testes com o questionário da pesquisa. “Em muitas situações, pessoas de uma mesma família de indígenas se classificavam em diferentes categorias”, detalha a apresentação de resultados do estudo. Com isso, informações relevantes sobre etnia e língua – aplicados exclusivamente a quem se declarava índio – poderiam ficar de fora da entrevista. A partir da mudança, os pesquisadores puderam, nas terras indígenas, obter respostas mais precisas.

Declarar-se índio, no entanto, não é mera questão de identidade cultural. Como no Brasil as leis atuais permitem que qualquer comunidade seja tratada como indígena, bastando para isso um laudo antropológico nem sempre elaborado com o rigor científico desejável, para alguns grupos passou a ser interessante gozar dessa condição. Dentro das áreas indígenas, só 8,8% (30.691) dos entrevistados não se declaram de etnia indígena nem se consideram índios. Aos olhos da lei, quem é considerado indígena passa a ter acesso garantido a terras demarcadas. O Brasil tem hoje 505 terras indígenas que ocupam uma área de 106,7 milhões de hectares. Dessa forma, os 817.900 índios que correspondem a 0,4% da população controlam 12,5% do território brasileiro – área comparável à de Portugal.

Etnias
O censo de 2010 mostrou um ‘boom’ de etnias. No Brasil existem 305, segundo a pesquisa. “A expectativa da literatura, da antropologia, era de que houvesse cerca de 200 etnias. Estamos chegando talvez à descoberta de um novo recorte de indígena no país”, afirmou a pesquisadora do IBGE Nilza Pereira. Foram entendidas por etnias comunidades definidas por afinidades linguísticas, culturais e sociais. O detalhe que chama atenção é a pessoa que se declarou indígena e sequer sabe o nome da etnia a que pertence. Um total de 16,4% dos índios (a maioria fora dadas terras indígenas) disseram não saber o nome do seu povo e outros 6% sequer mencionaram a etnia.

O Rio de Janeiro é o estado com menor população indígena em terras indígenas, apenas 2,8%. Três estados – Piauí, Rio Grande do Norte e Distrito Federal – não têm áreas demarcadas como terra indígena. E em outros três – São Paulo, Sergipe e Goiás, 90% dos índios estão fora dessas áreas de exploração exclusiva. Dos 14 estados com maior concentração de territórios demarcados, sete estão no Norte, dois no Centro-Oeste, três no Nordeste e dois no Sul.

As terras indígenas com maior população de índios são Yanomami, com 25 mil índios (ou 5% do total de indígenas do país), Raposa Serra do Sol (17 mil), Évare I (16 mil), Alto do Rio Negro (15 mil), Andirá Marau e Dourados, ambas com 11 mil indígenas. No país, em 2010, apenas essas seis terras indígenas tinham população de índios superior a 10 mil habitantes. A maioria dessas áreas (57,6%)- 309 terras indígenas, em números absolutos- abriga uma população entre 101 a mil habitantes.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

A greve dos servidores e o recado do PT sindical a Dilma

Num tempo em que alguns colunistas apostam na memória curta do leitor, procuro — não sou o único; apenas dos poucos — fazer o movimento contrário: aposto na sua memória. De resto, os textos ficam em arquivo, não é? Todos vocês sabem o que penso sobre direito de greve para servidores públicos. Sou contra! Já apanhei e apanho muito por isso, mas não posso fazer nada. A Constituição o garante? Eu sei! Disse que sou contra, não que é inconstitucional. E por que sou? Porque ela é um absurdo lógico, ora essa! Sabem o que é um servidor público? Uma parte de nós que trabalha para… nós! O “patrão” governo não produz um parafuso. Só consome os impostos dos que produzem parafusos, seja com o capital, seja com o trabalho. O único que paga o pato das greves do funcionalismo é o povo.

Vi ontem líderes de grevistas da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária a infernizar a vida dos coitados dos brasileiros nos aeroportos e estradas. Santo Deus! Temos uma das maiores cargas tributárias do mundo para enfrentar esse inferno! Pior: as coisas funcionam de tal sorte de ponta-cabeça em Banânia que há situações absurdas como a que vimos ontem: a greve da PF nos aeroportos consiste em TRABALHAR! Isto mesmo: a operação-padrão consiste em fazer excepcionalmente o que deveria ser feito todos os dias. Mas aí fica claro que faltam agentes. Adiante!

Na TV, uma patética Miriam Belchior tartamudeava uma resposta. Disse uma coisa fabulosa: “Algumas reivindicações são exageradas; outras são justas”. Huuummm…. Entendo que as “justas”, então, já deveriam ter sido atendidas, não é mesmo? Mais: há tempos havia sinais de que o movimento grevista poderia se espalhar. O governo ficou deitado em berço esplêndido.

Não que os salários sejam baixos, não! Ao contrário. Há categorias paradas que têm um rendimento que as coloca do cume da pirâmide salarial do país, lá onde estão não mais do que 10% dos trabalhadores. Curiosamente, os salários médios do setor privado brasileiro são muito distantes dos de países ricos. Mas o nosso funcionalismo, especialmente o federal, não faz vergonha na competição com economias algumas vezes maiores do que a nossa.

A situação se complicou para Dilma também em razão das disputas sindicais. Até outro dia, franjas do PSTU e do PSOL, que tentam consolidar uma central sindical alternativa, conduziam as paralisações que começavam a pipocar no funcionalismo. O esteio da CUT, que só assistia, é o funcionalismo público. Não teve jeito: a central foi levada a aderir. E agora chegamos a esse ponto.

Lula governou num tempo de vacas gordas e concedeu ao funcionalismo tudo o que ele pediu. E sempre fez questão de deixar claro que o fazia porque, afinal de contas, nunca antes na história destepaiz… Vocês conhecem a cascata. A “catchiguria” entende agora que Dilma tem de ceder. A ala sindical do PT hesitou em entrar no movimento porque tinha um receio aqui, outro ali. Se entrou, não duvidem, é porque teve o sinal verde do comando do partido. Também de Lula? Por que não?

Não chega a ser, assim, uma conspiração contra Dilma, mas é um recado. Afinal, essa gente não se conforma de não ter no comando o seu líder natural.

Por Reinaldo Azevedo 

 

Dilma tenta isolar centrais e negociar diretamente com servidores

Por João Domingos, no Estadão:
Pressionada pela série de paralisações pelo País, a presidente Dilma Rousseff pretende isolar a CUT e outras centrais que comandam as greves em 30 setores do governo federal com as negociações em separado com os servidores.

A estratégia é neutralizar o poder de mobilização das entidades.Dentro do governo, as informações de bastidores são de que a presidente está muito irritada com a CUT, braço sindical do PT, por entender que, de todas as entidades representativas de trabalhadores, deveria ser a primeira a compreender o momento de crise econômica mundial e a queda na arrecadação de impostos.

A CUT, porém, “fugiu do controle”, na avaliação de integrantes do governo. A central sindical é ligada à Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), um dos principais pilares da greve. A entidade tem entre seus associados os sindicatos de servidores federais e os que controlam as grandes agências reguladoras.

No caso dos professores e servidores universitários, os primeiros a entrar em greve, ainda em maio, a central que comanda a mobilização é a Conlutas, controlada pelo PSTU e pelo PSOL, partidos de oposição a Dilma.

Por Reinaldo Azevedo

 

11/08/2012 às 5:27

Servidores prometem intensificar greves na semana que vem para pressionar governo

No Globo:
Os movimentos de greve do funcionalismo público que se espalham pelo país já atingem em cheio setores-chave da economia, afetando do comércio exterior à arrecadação de impostos, passando pela emissão de passaportes e o trânsito de passageiros nos aeroportos. Depois dos repetidos recados da equipe econômica de que não será possível ceder aos pedidos dos grevistas, os servidores públicos federais decidiram enfrentar a presidente Dilma Rousseff e avisaram que vão radicalizar na próxima semana, com manifestações ainda maiores.

Preocupados com o prazo para o envio da proposta orçamentária ao Congresso Nacional (31 de agosto), os servidores vão montar acampamento na terça-feira em frente à Catedral de Brasília e, na quarta, prometem parar a Esplanada dos Ministérios. Na segunda-feira, a agenda da presidente abre com uma reunião com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, sobre as greves.

Só a paralisação dos funcionários do Ministério da Agricultura, que começou na segunda-feira, pode ter um impacto de US$ 10 bilhões por mês sobre as exportações, segundo dados elaborados pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) a pedido do GLOBO. Antes mesmo da greve, o mercado já previa queda em comparação a 2011, em função da crise financeira global. O prejuízo mensal equivale a cerca de metade dos benefícios concedidos pelo Executivo ao setor produtivo no programa de estímulo Brasil Maior.

Em vista dessa ameaça, o governo obteve liminar na Justiça obrigando os servidores da Agricultura a voltarem ao trabalho. O sindicato recorreu. Esse setor ainda não havia sido afetado pela greves da Receita Federal e da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), iniciadas há mais tempo. Isso porque 90% das exportações são pelo chamado canal verde e não dependem desses órgãos.

Mas Dilma mostrou que não está disposta a ceder. Em evento em Rio Pardo de Minas (MG), ela lembrou que o mundo enfrenta hoje uma grave crise econômica.

— Hoje estamos enfrentando uma crise no mundo. O Brasil sabe, porque tem os pés no chão, que ele pode e vai enfrentar a crise. O que o meu governo vai fazer é assegurar emprego para aquela parte da população que é mais frágil, que não tem direito à estabilidade, que sofre porque pode e esteve muitas vezes desempregada — afirmou Dilma, em meio a vaias de grevistas de universidades e institutos federais, numa referência ao regime dos servidores.

Sobre as greves, a AEB aponta ainda impacto negativo sobre as importações. Em julho, cerca de US$ 2,3 bilhões teriam deixado de ingressar no país. Isso poderia ajudar a manter o superávit comercial em meio à queda das exportações, mas 65% do que o país importa são bens de capital e matérias-primas para a indústria. A média diária das importações na primeira semana de agosto caiu ao menor nível de 2012: US$ 785 milhões.

Pelas contas do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco), a operação-padrão deve provocar prejuízo de R$ 7 bilhões em apenas um mês — R$ 6 bilhões em autos de infração e R$ 1 bilhão que deixou de ser lançado nas contas do Fisco nas operações de comércio exterior. A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) orientou os dirigentes sindicais nos estados a intensificarem a mobilização. Isso deve prejudicar ainda mais as fiscalizações nos portos e o trânsito nos aeroportos.

— Cobramos diariamente o governo, mas ele ainda não sinalizou com uma proposta. Vamos fazer mais uma semana de protestos — afirmou o secretário-geral da Condsef, Josemilton Costa.

Nas contas dos sindicatos, hoje há 350 mil trabalhadores. Mas o governo calcula que esse número não ultrapassa 80 mil.

Segundo o Sindifisco, dos 11.500 servidores em todo o país, os 2.400 que trabalham nas aduanas não pararam. Mas, com o ritmo menor de trabalho, a inspeção e liberação de uma carga, que levava em média 24 horas, demora até 5 dias. O sindicato garante, porém, que cargas perecíveis, itens hospitalares e medicamentos não entram na fila.

O Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários (Anffa) diz que cerca de 70% dos 3.200 fiscais aderiram à greve e admite que isso pode emperrar as exportações. E, além da inspeção e liberação de produtos nos portos, aeroportos e fronteiras, os fiscais atuam dentro dos frigoríficos e produtores de alimentos, fiscalizando e concedendo o carimbo do Serviço de Inspeção Federal (SIF). Na PF, o sindicato estima que estejam parados 80% dos quase 9 mil policiais federais.

A paralisação dos fiscais agropecuários afeta a produção e causa perdas aos frigoríficos de Santa Catarina, o maior produtor e exportador de aves e suínos do país. O Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados do estado (Sindicarne) estima perdas de US$ 5 milhões ao dia. Há mais de uma semana, apenas 30% dos produtos destinados à exportação das unidades fabris catarinenses estão sendo liberados nos portos.

— Se a situação persistir até segunda-feira, as 23 empresas de Santa Catarina terão de parar a produção — advertiu ontem o presidente do Sindicarne, Clever Pirola Ávila.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

11/08/2012 às 5:25

Ação civil pede bloqueio dos bens do ministro Pimentel

Por Eduardo Kattah, no Estadão:
A Promotoria de Defesa do Patrimônio Público do Ministério Público de Minas Gerais pediu a indisponibilidade dos bens do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel (PT), e do secretário municipal de Segurança Urbana e Patrimonial de Belo Horizonte, Genedempsey Bicalho Cruz, até o limite de R$ 481,3 mil para o ressarcimento de suposto dano ao erário.

O MP estadual ajuizou no dia 25 ação civil por atos de improbidade administrativa contra Pimentel e o secretário por ordenarem, em 2006, a compra de armas de fogo e munições para uso da Guarda Municipal. O atual ministro era na época prefeito de Belo Horizonte e Bicalho Cruz já ocupava o atual cargo.

No pedido de liminar, os promotores que subscrevem a ação solicitam também a quebra de sigilo fiscal para garantir o ressarcimento aos cofres públicos dos valores gastos com 300 revólveres calibre 38, 50 pistolas automáticas modelo 380 e 13.800 unidades de munições. O MP afirma que as munições foram adquiridas com dispensa ilegal de licitação.

Por empecilho legal – previsto no Estatuto do Desarmamento -, porém, os armamentos e as munições foram entregues na época à Polícia Militar mineira, onde permanecem estocadas. A Polícia Federal em Brasília havia autorizado o porte de arma para a Guarda, mas a pedido da PF em Minas a Justiça Federal chegou a deferir um mandado de busca e apreensão contra a instituição por crime de porte ilegal de arma.

A Promotoria aponta na ação que, “inegavelmente”, houve “mau uso dos recursos públicos com a aquisição precipitada de armas e munições para a Guarda Municipal, a qual não detinha e não detém o indispensável porte de arma para uso dos produtos”.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Cotas sociais e raciais nas universidades chegam à fase da estupidez absoluta. Dilma vai endossar um crime contra a educação e contra os pobres. Algumas polianas do cotismo agora se assustam. É mesmo, é? STF responde em parte por absurdo!

Decidi manter este texto no alto na homepage. Há muita coisa abaixo, escrita durante a madrugada.

Pois é… Ah, a alegria “democratista” dos inocentes, dos bem-pensantes, dos tolos. Algumas almas que se queriam e se querem generosas acreditavam que, se flertassem “só um pouquinho” com o cotismo, estariam contribuindo para a justiça social. Jamais se deram conta de que o papel das universidades, por exemplo, não é acabar com a desigualdade — tampouco perpetuá-la. Ou elas se orientam exclusivamente segundo os critérios de competência ou desempenho — vale dizer: mérito —, ou estarão assumindo um papel que não é o seu. Nem cumprirão a sua função primordial nem se desincumbirão com eficiência da nova tarefa que lhes é atribuída. Quando declararam constitucional a aplicação de cota racial — contra, entendo eu, a Carta Magna —, os ministros do Supremo não imaginavam o que estava por vir. Modestamente, eu imaginava isso e antevejo coisas piores. Pois bem, a presidente Dilma Rousseff está prestes a fazer uma grande besteira. E vai fazer. Porque é da natureza da corrente de pensamento a que ela pertence. A que me refiro?

A deputada Nice Lobão (PSD-MA), mulher do ministro Edson Lobão (Minas e Energia), tem dois grandes feitos na carreira: é a campeã de faltas às sessões da Câmara em 2011 e é autora de um projeto, já aprovado também no Senado — só falta agora a sanção de Dilma — que determina que as universidades e os institutos técnicos federais reservem 50% das vagas para alunos oriundos das escolas públicas. Mas não só isso! Nice Lobão resolveu transformar o ingresso na universidade num misto de charada grega com luta de classes e racialismo (sabem como são esses marxistas radicais da família Lobão, né?). A estrovenga aprovada no Senado está aqui.

Como funciona?
1 – Os alunos das escolas públicas serão selecionados segundo o seu “Coeficiente de Rendimento” no ensino médio. Para eles, o Enem, por exemplo, não terá a menor importância.
A ESTUPIDEZ ESPECÍFICA – Já aqui se abre a primeira e escandalosa porta para injustiças. Dentro da ruindade geral das escolas públicas, há diferenças brutais de qualidade. O aluno que tiver um bom desempenho numa escola relapsa e pouco exigente levará vantagem ao competir com o que tiver um desempenho médio numa escola séria. Mais: sabemos que inexistem critérios objetivos para avaliar se o currículo oficial foi mesmo ministrado. Aliás, não existe um currículo nacional!!! Não encontrei na lei nenhuma referência sobre estado de origem do estudante e vaga pretendida. Como se trata de ensino federal, entendo que o candidato de um estado pode concorrer a uma vaga na federal de outro. O ensino médio é uma lástima no país inteiro, é fato. Mas sabemos que, mesmo dada a ruindade geral, há disparidades regionais brutais. Não só isso: os negros e pardos de Santa Catarina somam pouco mais de 11%; na Bahia, chegam a 78%. Um negro ou pardo de Santa Catarina que disputasse uma vaga na Universidade Federal da Bahia certamente seria selecionado segundo a cota baiana, mas carregando o “Coeficiente de Rendimento” da escola catarinense.

2 – Atenção para a loucura: metade daqueles 50% de vagas reservadas a escolas públicas terá de ser preenchida por alunos oriundos de famílias com renda per capita de até 1,5 salário mínimo.
A ESTUPIDEZ ESPECÍFICA – A lei é omissa sobre a forma como se vai fazer essa verificação. Será com base apenas na declaração do candidato? Cada universidade federal terá de investigar a renda familiar do aluno para saber se ele fala a verdade? Ora… Não há estrutura para isso. Fingir pobreza passará a ser um bom negócio. Será um critério de seleção superior ao conhecimento de matemática e língua portuguesa. Tão logo isso esteja em vigência, é evidente que haverá uma inflação de candidatos com renda per capita inferior ao limite estabelecido, certo? E a lei que convida à fraude.

3 – Deputados e senadores avançaram ainda mais na sandice. Essa metade da metade que tem de pertencer a famílias com renda per capita inferior a 1,5 mínimo tem der ser preenchida por autodeclarados negros, pardos e indígenas, segundo o percentagem apontada pelo IBGE na unidade da federação em que está a universidade.
A ESTUPIDEZ ESPECÍFICA – Um pobre branco da escola pública leva desvantagem ao competir com um preto pobre ou mestiço pobre da escola pública, ainda que os dois tenham, então, o mesmo perfil social. A propósito: no caso do candidato indígena, o seu Coeficiente de Rendimento no que concerne ao domínio da língua terá como referência o português ou o idioma da sua tribo? Nesse caso, quem avalia?

4 – E aqueles outros 25% — a metade da metade oriunda da escola pública, mas que pode pertencer a famílias com renda per capita superior a 1,5 mínimo? Também para eles vale o critério da cor da pele.
ESTUPIDEZ ESPECÍFICA – É a mesma do item 3.

A estupidez geral
A senhora Dilma Rousseff, que apoia o projeto, está botando os últimos pregos no caixão das universidades e institutos federais de ensino. Por quê? Só porque está abrindo as portas aos alunos da escola pública? NÃO!!! PORQUE METADE DAS VAGAS DESSAS INSTITUIÇÕES NÃO TERÁ MAIS NENHUM COMPROMISSO COM O DESEMPENHO DOS ALUNOS.

Notem que nem mesmo se exigirá deles uma nota aceitável no Enem — um exame que já é comprovadamente fraco. O único critério associado a desempenho é o tal Coeficiente de Rendimento, auferido em escolas distintas, provas distintas, segundo critérios distintos. Cria-se, obviamente, uma pressão sobre o professor da escola pública — que já padece, como diria o poeta, de diabólicos azares — em favor da facilitação. Ele e seus alunos terão clareza de que uma prova mais severa pode concorrer para criar dificuldades futuras ao aluno.

A escola pública vai melhorar?
A proposta, longe de democratizar o ensino universitário, concorre para democratizar a ignorância e para rebaixar o ensino universitário. Como se está assegurando ao aluno o ingresso na universidade segundo critérios que nada têm a ver com desempenho e competição, o que se tem, na prática, é uma pressão contrária: quanto mais relapso e “bonzinho” for o professor, tanto melhor.

Conheço e convivo com professores universitários, alguns meus contemporâneos da universidade. Atestam que a quantidade de semianalfabetos que chegam ao ensino superior é assustadora. Em vez de concorrer para melhorar a escola pública — sim, eu sei que é um processo demorado, mas não há outra saída —, essa lei vai usar a baixa qualidade como facilitador para o acesso ao ensino superior — vale dizer: quanto pior a escola de ensino médio, melhor!

Eis aí. Reitores das universidades federais incensavam as políticas de cotas. Também eles, mesmo sendo quem são, houveram por bem mandar os critérios acadêmicos para a ponta do pavio e aderir à demagogia. E os cotistas avançaram. A deputada Eunice, da grande família Lobão, pegou carona no debate e resolveu levar a coisa a sério, a seu modo. Pimba! Elio Gaspari, o maior propagandista das cotas no Brasil — para ele, quem se opõe à ideia é a turma do “andar de cima” —, deve estar satisfeito.

Agora os cotistas pretendem que o mesmo modelo seja aplicado ao mercado de trabalho público e privado. Chegará a hora em que alguém proporá que o Congresso, as Assembleias, as Câmaras de Vereadores e os tribunais obedeçam a critérios dessa natureza — por que não? Teremos uma democracia que não será feita dos mais votados e dos mais competentes, tudo em nome da… Justiça!

Ao votar a favor da proposta, o senador Pedro Taques (PDT-MT), que costuma ser sério, evocou a experiência americana como exemplo de política bem-sucedida de cotas. Acho que ele deveria estudar melhor o assunto — e não vou me alongar agora sobre esse particular. Noto, no entanto, que cota social e racial, com essa precisão na divisão da cor da pele e com esse número de vagas garantidas ao cotismo, não foi aplicada em lugar nenhum do mundo, nem na África do Sul pós-apartheid.

Agora, os reitores das universidades federais e os professores estão assustados. Sabem o que os espera. Anos de incúria e de desastre no ensino público vão cair inteiros no seu colo. Em muitas universidades, já se discute a criação de cursos especiais para os alunos, algo que os capacite minimamente em matemática e língua portuguesa. Eu estou falando sério.

O desastre já está em curso
Não é que se vá produzir o desastre. Ele já está em curso. Será agravado. Entre os estudantes do ensino superior, 38% não dominam habilidades básicas de leitura e escrita, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela ONG Ação Educativa. Vejam quadro.

Em 2001-2002, 2% dos alunos universitários tinham apenas rudimentos de escrita e leitura. Em 2010, essa porcentagem havia saltado para 4%. Vale dizer: 254.800 estudantes de terceiro grau no país são quase analfabetos. Espantoso? Em 2001-2002, 24% não eram plenamente alfabetizados. Um número já escandaloso. Em 2010, pularam para 38%. Isso quer dizer que 2.420.600 estudantes do terceiro grau não conseguem ler direito um texto e se expressar com clareza. É o que se espera de um aluno ao concluir o… ensino fundamental!

O quadro já era ruim, como se nota, e foi agravado pela dupla Lula-Haddad. Agora, a lei da dona Lobão, aprovada na Câmara, acolhida por ampla maioria no Senado e a ser sancionada por Dilma, vai se encarregar de liquidar o que resta.

Minhas homenagens ao senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que lutou brava e quase solitariamente contra essa estupidez no Senado. Foi inútil. Em nome da proteção aos pobres e aos vulneráveis, a maioria dos senadores mandou os pobres e os vulneráveis para a ponta do pavio. O que esses valentes fizeram foi condenar os ensinos fundamental e médio públicos à eterna ruindade. E essa ruindade, que já havia se alastrado para o ensino universitário, lá se instalará de vez!

Espero um texto de Elio Gaspari demonstrando por que isso é bom para os brasileiros e por que os críticos da proposta da dona Lobão são “demofóbicos”. Eu sempre presto muita atenção aos argumentos dos “demofílicos”.

PS – Ah, sim: Câmara, Senado e Dilma vão pisotear a autonomia universitária. Bem feito, senhores reitores! É nisso que dá ter o nariz marrom, viver de joelhos para o Executivo, subordinar a inteligência a um ente de razão. Vocês pediram chicote e vão ter chicote! Serão os coveiros das universidades federais.

Texto originalmente publicado às 18h40 desta quinta

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma quer o ITA fora do sistema de cotas que ela deve aprovar. A picaretagem intelectual está comprovada! Qual é a tese, presidente? Seria só covardia?

Ai, ai…

O Instituo Tecnológico da Aeronáutica, o famoso ITA, é uma das escolas mais seletivas do país. Não por acaso. O Brasil avançou bastante nessa área, e muito se deve, sim, ao ITA, que valoriza de modo obsessivo o mérito. Trata-se de uma instituição federal. Como tal, deveria, então, reservar 50% de suas vagas a alunos das escolas públicas — segundo a lei que Dilma quer sancionar —, metade das quais para alunos que pertençam a famílias cuja renda per capita é de até 1,5 salário mínimo. Tanto esses 25% de vagas quanto os outros têm de ser preenchidos segundo a cor da pele do estado em que a escola se encontra. O ITA fica em São José dos Campos, São Paulo. Segundo o Censo de 2010, o estado tem 41.262.199 habitantes. Do total, 63,9% se autodeclaram brancos, 29% se dizem pardos e 5,5 se dizem negros.

Durante a tramitação da lei, o Ministério da Defesa, ao qual o ITA (que é da Aeronáutica) é administrativamente ligado, deu um jeitinho de negociar o texto (íntegra aqui). Estarão sujeitas às cotas apenas as instituições de ensino “vinculadas ao Ministério da Educação”. Ocorre que o ITA, lamento, é vinculado, sim, ao MEC — ou não é esse Ministério que dá fé aos diplomas lá expedidos?

É agora? O ITA conta, sim, com alunos oriundos do ensino público: 30% estudaram em escolas estaduais, e 7,3%, em federais. Mas passaram no concorridíssimo vestibular da instituição — QUE TAMBÉM NÃO USA O ENEM PARA ADMITIR ALUNOS, A EXEMPLO DO QUE FAZEM AS UNIVERSIDADES FEDERAIS.

Se faltasse alguma coisa para evidenciar a má-fé, a pilantragem intelectual e a demagogia da lei, já não falta mais nada. O próprio governo Dilma Rousseff, que quer instituir esse aloprado regime de cotas sociais e raciais nas universidades federais, na proporção estratosférica de 50% das vagas — ignorando até mesmo a nota do Enem (serão usadas as médias obtidas no segundo grau) —, está a dizer: “Ah, gente, no curso que consideramos realmente sério e importante, o do ITA, não vamos mexer; continuará com o seu vestibular de sempre. Afinal, engenharia aeronáutica é coisa muito complicada!”

É inacreditável! Essa estupidez passou pela Câmara. Essa estupidez passou pelo Senado! Parlamentares hoje se borram de medo dos ditos “movimentos sociais” e mesmo de setores engajados da imprensa. Elio Gaspari deveria, agora, oferecer uma resposta no caso do ITA. E aí?

Porque recebe alguns dos alunos mais preparados do país — e, infelizmente, há mais candidatos do que vagas —, o ITA pode ministrar um curso de alta performance. A coisa por lá é tensa no que respeita ao desempenho intelectual. E assim é nos centros tecnológicos mais avançados do mundo. Ao ITA, recebendo, por óbvio, alunos muitos menos preparados, restaria, caso aderisse ao modelo, uma de duas alternativas:
a) rebaixar o seu padrão de exigência, o que significaria, por óbvio, queda da qualidade num tempo muito curto e migração das melhores cabeças, então, para cursos privados de alta performance — existem;
b) manter o seu padrão de exigência e excluir, na prática, logo no primeiro ano, os menos preparados. A escola manteria a excelência, mas formaria menos engenheiros aeronáuticos.

Escolha, Gaspari: formar o atual número de bons engenheiros, formar o mesmo número de engenhos mais ou menos; formar menos engenheiros preparados. Qual a melhor alternativa, visto o mundo à luz daquela sua teoria da luta de classes, relida à luz dos Elevadores Atlas (andar de cima, andar de baixo…)? 

E tudo para atender a esse aloprado critério de “justiça social e racial”, que delegou às universidades públicas o papel de acabar com as desigualdades. Ainda que Dilma venha a sancionar aquela porcaria, o ITA deve ficar de fora, o que denuncia a desfaçatez da proposta.

Por que há de valer para os demais cursos do país o que não vai valer para o ITA? Só porque, administrativamente, ele está subordinado à Defesa? É medo da farda? Dona Dilma Rousseff tem certeza de que 25% das vagas do curso de Medicina da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), um dos mais concorridos do país, devem ser ocupadas por estudantes oriundos do ensino público e de famílias com renda per capita de até 1,5 mínimo? Mas atenção: nesse grupo, 29% têm de ser pardos, e 5,5% negros. Na hipótese de haver mais gente do que vagas, aí se recorre à nota (não ao Enem, reitero!) que eles tiveram no ensino médio. Quem pegou a escola mais chulé, que exigia menos, sai na frente.  É o milagre da seleção dos menos aptos. Pergunta óbvia: um aluno com esse perfil, fazendo um curso em tempo integral, vai se sustentar como? Tem de morar, comer, se vestir, tomar um Chicabon de vez em quando…

“Ah, Reinaldo quer perpetuar a desigualdade!”, diz o idiota. O idiota, por alguma razão, se considera mais humanista do que eu! Não! Reinaldo acha — e eu sei que demora! — que é preciso qualificar a escola pública para dar aos mais pobres condições de competir. E acha, adicionalmente, que mesmo as universidades públicas precisam cobrar mensalidade de quem pode pagar, ora essa! Não! Eu não quero me conformar com o quadro atual é pronto! E qual é ele? Na média, os ricos estão em cursos gratuitos de alta performance, e os pobres estão pagando (ou o ProUni paga por eles) para estudar em faculdades de terceira ou quarta linha — lá onde só se usam culpe e giz — e olhem lá.

É claro que é preciso pensar políticas públicas que mudem essa situação. Para tanto, não é necessário destruir o ensino público federal com a vigarice política, a má-fé intelectual e a demagogia arreganhada!

Ou o ITA participa dessa patuscada — e aí quero ver o resultado —, ou a pilantragem está consumada, senhora Dilma Rousseff, senhor ministro Aloizio Mercadante!

Vocês estão onde estão também para contrariar a militância organizada quando suas reivindicações atentam contra os interesses do povo brasileiro. E é o caso. Deixem de ser covardes!

Por Reinaldo Azevedo 

 

Governanta, até quando o ITA e o IME continuarão a ser redutos da competência de direita? É preciso levar pra lá a incompetência generosa das esquerdas!

Ah, sim: também o IME (Instituto Militar de Engenharia), que pertence ao Exército, está fora do regime de cotas, segundo os mesmos critérios que vai excluir o ITA (ver post anterior).

A propósito, o IME também não recorre ao Enem e a outros facilitários, não, tá? Quem quiser se candidatar tem mesmo é de fazer vestibular. Os interessados devem clicar aqui. As inscrições foram abertas no dia 16 de julho e vão até 3 de setembro. A primeira fase será realizada no dia 15 de outubro. O IME chama a seleção de “Exame Intelectual”. Daqui a pouco, alguém no governo vai pedir para mudar o nome porque cheira a preconceito, né?

No post anterior, esqueci de publicar o link para quem quiser concorrer ao vestibular do ITA. Está aqui. A propósito: as inscrições foram abertas nesta sexta e se estendem até o dia 15. As provas já estão com datas marcadas: 11/12 (física); 12/12 (português e inglês); 13/12 (matemática); 14/12 (química). O ITA informa que a nota final é definida mesmo pela média aritmética das várias provas. Nada daquelas charadas gregas do Enem. Uma parte é teste, a outra é dissertativa.

O IME e o ITA, em suma, assumiram um estranho critério para selecionar seus alunos. São tão esquisitos, mas tão esquisitos, que, por lá, eles consideram que sabe quem sabe e não sabe quem não sabe!!! Na hora de escolher entre os que sabem, são ainda mais estranhos: ficam com os que sabem… mais!!! A nota de corte no ITA, no vestibular passado, numa escala de zero a 10, foi de 7,05! É muita injustiçaçoçial, né, governanta?

Pô, o ITA e o IME ficam formando engenheiros competentes em vez de produzir igualdade? Isso precisa acabar! Eles deveriam é formar prosélitos da justiça social, ainda que os aviões despencassem, as pontes caíssem, o país afundasse.

O ITA e o IME não podem continuar a ser esses redutos de competência “de direita”, dona Dilma! É preciso levar pra lá a metafísica da incompetência de esquerda, mas com um graaande coração! Afinal, quem a matemática pensa que é para desafiar as boas intenções, governanta?

Por Reinaldo Azevedo 

 

Fazendo perguntas regimentais, objetivas e técnicas, Joaquim Barbosa desmonta defesa de Pizzolato e, se querem saber, complica a situação de muitos outros réus. Vejam por quê

Escrevi ontem um texto criticando a maneira como se desenvolve o julgamento do mensalão. Não sugeri que seja por cálculo ou má-fé, não. Convenham: um processo como esse é inédito. Achou-se a forma que está aí, longe de ser a melhor. Entre outros motivos porque o procurador-geral teve cinco horas para ler a sua peça acusatória e ficará mais de 30 debaixo de vara. E os fatos vão se misturando aos não fatos.

Ontem, o ministro Joaquim Barbosa fez uma coisa até agora inédita nesse julgamento. Dirigiu perguntas ao advogado Marthius Sávio Cavalcante Lobato, que defende Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil.

No debate de que participei na VEJA, afirmei que um dos pilares da defesa (ou das defesas) é sustentar o que a CPI e o Ministério Público já demonstraram ser insustentável: a) que os empréstimos do BMG e do Rural a Marcos Valério realmente existiram (eles têm documentação, o que nunca se negou, mas eram de fachada); b) que o dinheiro do fundo Visanet era apenas privado. Esse item “b” é importante porque, se verdade fosse, descaracterizaria outra das acusações: “lavagem de dinheiro”. Afinal, para que ela exista, é preciso o crime antecedente — peculato, por exemplo. E se apropriar de dinheiro do Banco do Brasil é peculato! Pois bem!

Ao fazer perguntas ao advogado, além de tornar o julgamento mais dinâmico, Barbosa conseguiu algo muito interessante. Com questões muito objetivas, que não embutiam nenhuma análise ou opinião, as coisas se complicaram não só para Pizzolato, mas para outros réus, cujas defesas estão ancoradas na tese de que o dinheiro da Visanet era apenas privado. E não era!

No Globo Online, André de Souza e Evandro Éboli fazem uma excelente síntese do episódio. Noto: Barbosa não fez nada que o Regimento não lhe permita. Os ministros não têm interrompido os advogados, mas podem fazê-lo para tirar eventuais dúvidas. E o ministro fez isso. Ele não contraditou ou contestou o advogado. A pertinência de sua atuação consistiu exatamente em apenas fazer indagações objetivas. Tenho pra mim que a defesa desmoronou. Leiam.
*
Na primeira intervenção do relator na parte reservada às defesas do processo do mensalão, o ministro Joaquim Barbosa acabou expondo contradições na defesa apresentada pelo advogado de Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil. Sem emitir opinião, mas fazendo perguntas diretas, Barbosa cobrou do advogado Marthius Sávio Cavalcante Lobato explicações sobre a origem dos recursos do Fundo Visanet que foram destinados à agência de publicidade DNA, de Marcos Valério e, depois, repassados para políticos ligados ao governo. No centro dos argumentos do Ministério Público Federal está a acusação de que o mensalão usou recursos públicos, supostamente desviados do BB.

Por quase uma hora, o advogado tentou sustentar que seu cliente não tinha autonomia para autorizar sozinho repasses milionários do Visanet para a DNA. Tudo era feito, segundo ele, por decisões colegiadas da diretoria do BB. O defensor ainda insistiu que os recursos liberados para a agência não eram públicos. Já tinha acabado de falar quando o relator pediu que ele retornasse à tribuna para esclarecimentos.

— Como se dava o mecanismo de transferência do dinheiro, desse Fundo Visanet para a agência de propaganda (DNA)? Quem determinava, o momento que determinava, e o montante? Quem dizia? Havia algum comitê, algum órgão que tinha esse poder de dar ordens para que o dinheiro fosse transferido para a agência de propaganda?, indagou o relator.

— O Banco do Brasil, quando pensava em fazer uma divulgação de sua bandeira, ele fazia o projeto como está aqui (…). E citava qual era o projeto”, disse o advogado.

— Quem era o responsável por isso dentro do Banco do Brasil?

— Naquela época, era o comitê de marketing todo, era aprovado dentro do próprio comitê. Não era aprovado individualmente. Era aprovado no comitê, que fazia institucionalmente essa propaganda e era direcionado ao fundo.

O advogado só não deu detalhes sobre como funcionava esse comitê. Em 2003 e 2004, o comitê de marketing era composto por seis gerentes-executivos da Diretoria de Marketing do BB e pelo diretor, que na época era o próprio Pizzolato. Barbosa ainda quis saber da origem dos recursos repassados para a DNA:

—  De onde saía esse dinheiro para a propaganda dos cartões de bandeira Visa, inclusive o do Banco do Brasil, o Ourocard?

— Cada banco tem sua bandeira Visa. Então, quando Vossa Excelência usa seu cartão Visa, faz uma compra, um percentual dessa sua compra é destinada a esse fundo, vai compor esse fundo para essa propaganda. Por isso, é eminentemente privado. Porque esse dinheiro é composto por dinheiro privado. Ele não tem aportes financeiros de nenhum dos acionistas — disse o advogado ao ministro.

Laudo feito por peritos da Polícia Federal, porém, dá outra explicação: “Os recursos destinados ao Fundo de Incentivo Visanet foram disponibilizados pela própria Visanet e eram compartilhados pelos ‘incentivadores’ de acordo com a participação acionária de cada um na empresa. Nesse sentido, é possível inferir que o Banco do Brasil, na condição de acionista e quotista do Fundo, era o titular dos recursos da quota a ele disponibilizada”.

Em outras palavras, havia recursos públicos do BB no Fundo Visanet. Para arrematar, o relator indagou ao advogado qual era a relação jurídica entre a agência de propaganda e o Visanet. O advogado não respondeu. Na verdade, o vínculo contratual da DNA não era com o Visanet. A agência era contratada pelo Banco do Brasil. Barbosa se deu por satisfeito e chegou a perguntar se outro ministro queria mais algum esclarecimento. Ninguém quis e o advogado foi dispensado.

Antes dos pedidos de esclarecimentos do relator, Lobato insistiu que seu cliente não tinha poderes para tomar sozinho decisões no BB. O advogado ainda apresentou documentos para dizer que Pizzolato não fazia parte do Visanet e que o BB havia indicado na época um servidor para representar o banco no fundo. E citou o nome de Léo Batista dos Santos, que teria assinado as ordens de pagamento para a DNA.

No laudo da PF, é dito que Pizzolato, “na condição de diretor de Marketing e Comunicação do Banco do Brasil, aprovou repasses de recursos do Fundo Visanet à agência de publicidade DNA Propaganda Ltda. nos montantes de R$ 23.300.000,00 (vinte e três milhões e trezentos mil reais) em 06/05/2003 e R$ 35.000.000,00 (trinta e cinco milhões de reais) em 22/01/2004”.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Advogado de Dirceu, que usou apenas 45 minutos dos 60 que tinha, entrega um novo texto ao Supremo insistindo na inocência do cliente

Ai, ai… Eu tinha achado fraca, como sabem, a defesa que José Luís de Oliveira Lima fez de José Dirceu. Pelo visto, ele também — só alguns de seus muitos amigos na imprensa a consideraram o “ó” do borogodó. Ele dispunha de uma hora para defender seu cliente. Usou apenas 45 minutos. E agora fez o quê? Resolveu entregar ao STF um novo texto com refutações — que poderiam ter sido feitas diante dos ministros, ora essa!

Ele conhece o processo e conhecia a peça acusatória do procurador-geral. A parte que diz respeito a seu cliente em particular não tomou mais do que sete ou oito minutos de leitura. Ele teve uma hora para rebater o que lhe concernia. E apresentou aquilo que se viu. Passados alguns dias, decidiu redigir a sua “Defesa do B”. Tomo isso, claro, como reconhecimento de um mau desempenho. Mas também como mais uma maneira de pressionar o Supremo não com o que está nos autos, mas com o que está fora dele. Esse documento adicional é uma forma de tentar chamar a atenção para o que seria uma grave injustiça com Dirceu.

Ah, sim: no documento, destaca-se mais uma vez que Delúbio tinha autonomia no PT. Olhem para o ex-tesoureiro… Ele não leva jeito mesmo de ser o grande cérebro da turma? Leiam o que informa Fausto Macedo no Estadão.

A defesa de José Dirceu protocolou na quinta-feira, 9, no Supremo Tribunal Federal um apelo derradeiro contra os argumentos da Procuradoria-Geral da República nos autos do mensalão. Os advogados do ex-ministro-chefe da Casa Civil – réu pelos crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa – tentam, nesse texto, refutar ponto a ponto os indícios apontados pela acusação. Eles sustentam que trechos do memorial entregue pela Procuradoria aos ministros da Corte contêm “omissões incompreensíveis”.

A petição dos defensores de Dirceu, também denominada memorial, chega às mãos dos 11 ministros do Supremo na etapa mais importante do julgamento, a apenas uma semana do início da votação —  no próximo dia 16 os magistrados começam a ler seus votos. O primeiro será lido pelo relator, Joaquim Barbosa.

José Dirceu é apontado pela Procuradoria-Geral como mentor de “sofisticada organização criminosa” que teria sido montada para cooptação, mediante pagamentos mensais a parlamentares, em troca de apoio na votação de reformas promovidas pelo governo Lula.

“Basta notar que, contra José Dirceu, o único testemunho judicial que consta dos memoriais da PGR é o de Virgílio Guimarães (ex-deputado PT-MG), que de tão vago e genérico nem sequer pode ser considerado um elemento indiciário dos fatos em apuração”, assinala o documento, subscrito pelos criminalistas José Luís Oliveira Lima e Rodrigo Dall’Acqua.

Segundo a defesa do ex-ministro, “praticamente todo o memorial da PGR é constituído por citações de material probatório sem nenhuma relação com José Dirceu, como laudos contábeis, depoimentos de sacadores e recibos de saques”. Os advogados buscam desqualificar o peso do relato do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), delator do mensalão, arrolado como testemunha-chave pelo Ministério Público Federal contra o ex-ministro. “Os memoriais da PGR elencam pequenos trechos de interrogatórios de alguns corréus, como por exemplo, Roberto Jefferson”.

A defesa insiste na tese de que a procuradoria amparou seu memorial quase exclusivamente em dados obtidos fora do âmbito judicial, ou seja, na fase de inquérito da Polícia Federal e durante a CPMI dos Correios. “A PGR ignorou sumariamente toda a farta prova testemunhal, construída sob o crivo do contraditório (instrução do processo no STF), que rebate e infirma todos os trechos dos interrogatórios citados.”
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Ofereço este documento ao Supremo: o dia em que Zé Dirceu confessou! Podem agregar aos autos! Foi dado o direito ao contraditório! É ele próprio falando!

José Luis de Oliveira Lima, advogado de José Dirceu, mandou um novo texto ao Supremo asseverando a inocência do seu cliente. Teve uma hora para fazê-lo, usou apenas 45 minutos, mas decidiu, de novo, ser notícia. A presunção de sempre é a de que, como chefe da Casa Civil, o Zé, não sabia o que ia pelo partido — e, bem…, nem pelo governo. Em 2007, ele concedeu uma entrevista à revista Playboy — que está reproduzida em seu próprio site.

Destaco três trechos em vermelho e comento em azul:

PLAYBOY – O senhor não parece muito à vontade ao falar da sua atividade de consultor.
José Dirceu –
 A lei me obriga ao sigilo e à confidencialidade, tanto no escritório de advocacia como aqui. Fazem campanha para me prejudicar. A minha vida é pública, eu continuo fazendo política, então é natural que escrevam e falem de mim. A minha atividade como consultor está totalmente legal, faz dois anos que saí do governo. Eu esperei um ano e meio. Posso fazer qualquer atividade.

PLAYBOY – Ter passado pelo governo que continua no poder não ajuda?
José Dirceu -
 O Fernando Henrique pode cobrar 85 mil reais por palestra, e eu não posso fazer consultoria? No fundo, o que eu faço é isso: analiso a situação, aconselho. Se eu fizesse lobby, o presidente saberia no outro dia. Porque no governo, quando eu dou um telefonema, modéstia à parte, é um telefonema! As empresas que trabalham comigo estão satisfeitas. E eu procuro trabalhar mais com empresas privadas que com empresas que têm relação com o governo.

Comento
Viram só? “No governo, quando eu dou um telefonema, modéstia à parte, é um telefonema!” O sentido parece claro a qualquer leitor, não? O Zé deixou confessou que, mesmo como consultor — lobista é o nome —, era especialmente ouvido. Ora, no governo e no partido, um “telefonema do Zé sempre foi… um telefonema!” Numa democracia um pouco mais avançada e decorosa do que a nossa, Dilma Rousseff, que era, então, a chefe da Casa Civil, teria sido chamada ao Congresso para explicar a fala deste senhor. Em seguida, ele emenda que as empresas que trabalham com ele estavam satisfeitas. Por que não estariam, não é mesmo?

Nota: não sei se FHC cobrava aquilo por palestra — nem interessa. De toda sorte, ex-presidente da República, satanizado permanentemente por petistas, os que o convidavam certamente não estavam interessados em favores oficiais. Afinal, um telefonema do tucano NÃO ERA um telefonema! Lula, como ex-presidente, passou a cobrar R$ 500 mil por palestra. Por que cobrava muito mais do que o antecessor? Os petralhas vão dizer que é porque ele é mais amado, mais competente, mais inteligente. Bem, se um telefonema do Zé é um telefonema, um telefonema de Lula é uma ordem. Vale, pois, R$ 500 mil. 

Vejam, pois, senhores ministros do Supremo, como esses pobres coitados nunca sabem de nada. Mas calma! Há dois outros trechos da entrevista.

PLAYBOY – Ainda sobre alianças: o presidente Lula errou ao dizer que daria um cheque em branco ao Roberto Jefferson (PTB-RJ)?
José Dirceu -
 Nem sei se ele disse isso. Essas coisas viram dito pelo não dito. Mas o Lula não dá cheque em branco pra ninguém. Não é da natureza dele. Pelo contrário, ele delega, mas controla, cobra. Ele é um presidente da República que tem controle sobre tudo o que está acontecendo. O Lula trabalha, chega cedo e sai tarde. E quem acha o contrário, ótimo. Porque vai subestimar o Lula e vai nos subestimar.

PLAYBOY – Mas então ele sabia do caixa dois, do dossiê fajuto contra os tucanos, não?
José Dirceu –
[Irritado.] - Não está sob atribuição da Presidência da República. Isso não era matéria de governo, era de partido. Tanto é que o país reconheceu isso, o TSE reconheceu. Presidente da República não pode ser responsabilizado. Aliás, eu não posso ser responsável como ministro da Casa Civil por nada que aconteceu no PT, nada que aconteceu no Congresso. Por isso que eu sou inocente. Não há como me responsabilizar.

Voltei
Entenderam? Reconheceram ali a defesa de Oliveira Lima? Ela repete a ladainha de 2007. A tese, no fundo, é a seguinte: como ele era chefe da Casa Civil e não tinha responsabilidade funcional no PT, então é inocente. Como Lula era presidente da República, então é inocente. Trata-se de uma inversão perniciosa do sentido de um fundamento do direito. NINGUÉM PODE SER RESPONSABILIZADO POR ISSO OU POR AQUILO SÓ EM RAZÃO DO CARGO QUE OCUPA. Certo!  No caso do Zé, ficou claro que o exercício desse cargo convivia com o estrito controle do PT. As duas coisas estavam imbricadas. Eis o ponto. Era ele quem operava e sacramentava as alianças — justamente com os partidos (e seus parlamentares) que estavam recebendo o dinheiro do mensalão.

Zé Dirceu é um tipo muito particular: ele quer que lhe reconheçam o poder, o prestígio e a influência nas coisas que lhe servem para estufar o peito. Quando se trata de responsabilidades, ele pula fora. Agora vamos ao terceiro trecho:

PLAYBOY – O senhor disse que o presidente Lula não passa cheque em branco pra ninguém. E o senhor?
José Dirceu -
 Pra ninguém.

PLAYBOY – Nem pra sua mãe?
José Dirceu -
 Pra ela eu dou dinheiro vivo.

Comento
O comandante-geral do PT, aquele que cuidava de tudo, o que sacramentava as alianças, bem, ele não dava cheque em branco para ninguém. Lula também não! Certo! Então quem dava um “cheque em branco” para Delúbio? Vejam que coisa fabulosa! Lula não sabia de nada. Dirceu não sabia de nada, embora ambos sempre fizessem questão de saber de tudo!. É um enigma.

E uma ironia: considerado que o mensalão foi o espetáculo por excelência do dinheiro vivo, a gente nota que o Zé não teme mesmo a piada, né?

Para encerrar
A defesa de José Dirceu anda a reclamar que a Procuradoria Geral da República usou testemunhos da CPI, que não teriam sido submetidos ao contraditório etc. e tal. Sei. Ofereço essa entrevista do Zé ao Supremo, para que seja agregada aos autos. Afinal, ninguém poderia falar melhor pela defesa do que o próprio réu, não é? E, como se nota, o que se tem acima é uma confissão.

Por Reinaldo Azevedo

 

Uau! Eu anuncio a existência de uma professora jovem, inteligente, independente e da USP!!!

Janaina Conceição Paschoal é advogada criminalista e livre-docente da USP. Dá aula de direito penal. Os anjos tocam harpas! Temos uma jovem professora — apenas 38 anos — que escreve coisas sensatas. Prova mais uma vez (já elogiei outros artigos seus) que a esquerdopatia vigente na academia não a deixou de miolo mole. Refiro-me a um artigo seu publicado na Folha de hoje. Ela demonstra também independência intelectual. Poderia fazer média com seus colegas advogados. Mas não! Uma professora tem de ter responsabilidade e decoro acadêmico. E ela os tem — coisa raríssima hoje em dia. A militância partidária tem levado alguns mestres a perder mais do que o decoro: também sacrificam o pudor no altar d’O Partido.

Não! Não estou elogiando Janaina porque ela seja conservadora ou de direita. Eu nem sei o que ela é. Não a conheço. Estou elogiando sensatez, inteligência e objetividade. Leiam o seu artigo.

A lei, para amigos e inimigos

Propaga-se a ideia de que os réus, no processo do mensalão, tiveram garantias desrespeitadas, foram cerceados em suas defesas, acusados por meio de denúncia inepta, não sendo raro ler que estão submetidos a um tribunal de exceção.

Independentemente de haver ou não prova suficiente para a condenação, alguns esclarecimentos precisam ser feitos.

A denúncia ofertada pelo Ministério Público Federal é clara e responsável, na medida em que procura atribuir a cada um dos envolvidos a sua parcela de culpa, tomando o cuidado de estabelecer núcleos de atuação.

Tivesse o órgão acusador realmente adotado a teoria de que os líderes da organização criminosa respondem por todo e qualquer crime por tal organização praticado, certamente os principais réus, além de serem acusados por corrupção ativa, quadrilha e peculato, teriam sido denunciados por lavagem de dinheiro e evasão de divisas, pois, ao estruturar a organização, sabiam como o suposto esquema iria funcionar.

Igualmente parcimonioso foi o STF ao rejeitar algumas das imputações já no momento do recebimento da denúncia. Na maior parte dos processos criminais, o magistrado recebe a denúncia em sua íntegra para ao final dizer se absolve ou condena.

O fato de ter recusado parte das imputações no nascedouro da ação mostra que o STF não está julgando com ira, com gana de condenar ou de dar respostas à sociedade.

Também não procedem as ilações de que os réus estão tendo menos condições de defesa que outros acusados. É justamente o contrário.

A ação penal referente ao mensalão tramitou por um bom tempo, todos os requisitos previstos na lei e no regimento estão sendo observados. E aos acusados foram garantidos meios de defesa que a maior parte dos réus, no Brasil, não consegue.

Cito como exemplo o fato de terem obtido a expedição de carta rogatória para ouvir testemunhas de defesa no exterior. A lei assegura tal direito, mas dificilmente outros acusados conseguem ter deferido o mesmo meio de prova.

É insustentável a alusão de que o ministro relator, Joaquim Barbosa, estaria impedido de presidir a ação penal por ter conduzido o inquérito.

Procedesse esse argumento, todas as ações originárias estariam sob suspeita, e todos os casos em que houve quebra de sigilos se tornariam nulos, pois as decisões mais interventivas, durante qualquer investigação, são tomadas pelo juiz que normalmente preside a ação penal subsequente.

O foro privilegiado, como o próprio nome diz, a vida toda foi tido como uma benesse. Agora, estranhamente, passa a ser apresentado como sinônimo de tortura.

Se a ação referente ao mensalão for nula e se as cortes internacionais precisarem intervir em prol dos réus, todos os outros processos criminais em trâmite no país devem ser imediatamente encerrados.

Que a defesa precise usar algumas figuras de linguagem, ao apresentar suas teses, é compreensível. Difundir, entretanto, que a maior corte do país está procedendo a um julgamento de exceção constitui desrespeito com o STF e com o Brasil.

Por Reinaldo Azevedo

 

Fernando Haddad, o irresponsável! Ou: Baixaria chega junto com Lula

O candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, não nega o seu partido em todos os seus aspectos mais nefastos. A turma que cuida da sua campanha decidiu que era hora de ele ser notícia e de polarizar com José Serra — na marcha em que ia a coisa, a turma começou a temer que pudesse ficar fora do segundo turno. Então tiveram uma ideia: “Por que não partir para a baixaria? A gente já fez isso antes!”. E partiram! Levaram ao ar um vídeo em que um rapper dirige insultos absurdos a Serra, associando-o até a Hitler. Se o assunto é antissemitismo,demonstro que é Haddad quem anda mal acompanhado.

Muito bem! Haddad já tirou o vídeo do ar. O objetivo era apenas aparecer no noticiário como o outro polo da candidatura Serra. E, claro!, espalhar o lixo na rede, matéria em que o partido é especialista. Para tanto, conta com seus esbirros na esgotosfera, financiados por estatais e por administrações petistas, inclusive o governo federal. A campanha preconceituosa contra Kassab, diga-se, está de volta (ver post). Não pensem que se trata de inocência. Em tudo isso, há cálculo.

Kit gay
O candidato petista diz que não pedirá desculpas pela baixaria. Alegou ignorância. Uma informação objetiva: um troço assim sempre conta com a aprovação do candidato. Muito bem! Eis Haddad. Ele também não sabia de nada sobre os kits gays que estavam sendo preparados para distribuir nas escolas. Oficialmente, o material se destinava a combater o preconceito — objetivo meritório. De fato, tratava-se de proselitismo de quinta categoria. Haddad sumiu e largou a explicação para os assessores.

Enem
Os sucessivos fiascos do Enem — três anos seguidos — não viram o rosto angelical de Haddad. O rapaz desaparecia e botava os prepostos para falar. Os culpados eram sempre os outros. No caso do vazamento de questões do exame — elaborados por uma empresa escolhida a dedo, sem licitação —, inventou a teoria da “quebra controlada de sigilo”. A exemplo do que se deu com a campanha suja e com os kits gays, ele não podia se responsabilizar pelo Enem.

Caos nas universidades federais
Haddad comandou, sob a batuta de Lula, a dita fantástica expansão das universidades federais. No ano passado, os professores ficaram quatro meses em greve. Neste ano, já caminham para concluir o terceiro. Há campus com esgoto a céu aberto; em outros, faltam água e luz; há os que não contam com prédios para abrigar os cursos; mais adiante,  faltam laboratórios; acolá se estuda veterinária, mas sem o hospital para os bichinhos, que é onde os estudantes têm de praticar; os hospitais universitários de gente são um descalabro… Mas é claro que Haddad está alheio a isso tudo. A exemplo do que se deu com a campanha suja, com os kits gays e com o Enem, ele também não pode se responsabilizar pelas universidades federais.

Esse rapaz pretende, em suma, administrar a maior cidade do país dizendo sempre um solene “Não tenho nada com isso!”.

E podem esperar: vem mais baixaria por aí. A rede suja — financiada, reitero, com dinheiro público — está pronta para fazer o serviço. Essa gente toda aprendeu a não ter limites com Lula. Há mais do que coincidência no fato de a baixaria vir a público quando o Apedeuta toma as rédeas da campanha.

Por Reinaldo Azevedo

 

Homofobia, antissemitismo, vigarice política e burrice pura e simplesmente

A nojeira da homofobia, do racismo, do preconceito rombudo — da ignorância, enfim — precisa de um pretexto para aparecer, e os estúpidos o chamam, então, de “motivo”. O jornalista Carlos Brickman escreveu um artigo no “Observatório da Imprensa” chamado “Homofobia eleitoral”. Como vocês verão, um blog hospedando na Folha — chamado “Blogay” —, escrito por um gay, publica um post que soma especulações sobre a orientação sexual do prefeito Gilberto Kassab com críticas à sua administração. O que uma coisa tem a ver com a outra? Fosse escrito por um heterossexual, seria um deus nos acuda. Tenho dúvidas se a Folha permitiria a sua publicação. Como o autor é gay, então tudo lhe é permitido — inclusive exercitar o que é uma expressão óbvia de… homofobia! O autor associa aspectos da administração que ele rejeita com uma suposta repressão sexual do administrador. Um lixo!

Ah, mas, nesse caso, ela é ideologicamente orientada. Então pode! Isso é o que chamo de “sindicalismo gay”. Não é que essa gente cobre respeito a todos os seres humanos, inclusive aos gays. Nem mesmo cobram respeito a todos os gays. O que exige é que se respeitem os gays que têm uma pauta determinada, que carregam bandeira — MUITO ESPECIALMENTE A BANDEIRA PARTIDÁRIA. Trata-se de um exercício de burrice e preconceito às avessas.

Antissemitismo
O texto de Brickman trata ainda de outro tema: o antissemitismo. O mal vive por aí, apenas adormecido, mas não morto. Ao menor pretexto, a canalha se revela. Bóris Casoy e Alberto Dines andaram trocando alguns insultos na rede. Não entrarei na polêmica neste post, embora destaque que Bóris foi inicialmente alvo de um ataque infeliz — mais um! —, motivado por outro preconceito: o ideológico. Brickaman conta o que aconteceu.

Os asquerosos estão em marcha. Leiam o texto.
*
O tema da eleição anterior (aquele anúncio nojento, segundo o qual não se sabia se o prefeito paulistano Gilberto Kassab, então candidato, era casado, tinha filhos, etc.) está de volta. E, desta vez, mais explícito: na eleição anterior, insinuava-se que alguma coisa estava equivocada na sexualidade do prefeito, como se alguém tivesse algo a ver com isso. Agora, usando a Internet – o blog Blogay, abrigado no maior portal do país, o poderoso UOL – a baixaria é mais direta. Já no título, surge a pergunta: “Gilberto Kassab é gay?”

De onde surgiu o título? Segundo o autor do texto, “várias pessoas, vira e mexe”, fazem a pergunta. E têm, sempre segundo o autor, mais curiosidade sobre a orientação sexual do prefeito do que de atores de novela ou estrelas de Hollywood. Na verdade, o objetivo do texto é outro, e aparece logo depois: é dizer que a orientação sexual de Kassab não importa, mas que ele é autoritário.

Truque baixo: se a orientação sexual não importa ao autor, por que está no título? Porque o objetivo, além de chamar a atenção do público, é explicar os defeitos que vê em Kassab pela orientação sexual que lhe atribui. “Alguma coisa deve ter de errado, alguém que só sabe dizer não. ‘Pode ser gay ultra reprimido’, devem pensar muitos que me perguntam sobre sua orientação sexual. Mas este não é o caso nem a explicação muito menos a desculpa, o que existe de verdade e fato é um governo municipal repressor.”

Vale a insinuação, portanto, para atacar o Governo, sem ter de falar em política ou administração. A crítica política é livre, mas tem volta; as criticas administrativas podem ser rebatidas; as críticas sobre posturas municipais são frequentemente injustas e a população o percebe. Mas como as insinuações sobre orientação sexual muitas vezes são ignoradas, para que não ganhem corpo, servem para proteger de contestação e resposta as afirmações eleitorais do texto. Falta coragem para afirmar que o alvo é gay, é lésbica, é bissexual, é seja lá o que for. Troca-se isso pela insinuação covarde, cobrindo uma iniciativa eleitoral, partidária, com o manto da fofoca. Pior: com a fofoca que se repete a cada quatro anos, periodicamente, sempre na época das eleições.

É inominável: busca-se o que há de pior na natureza humana, a intolerância, para tentar ganhar alguns votos. O cavalheiro é gay porque alguém disse que é gay; e, se é gay, seu comportamento é sempre nocivo, idêntico ao de todos os gays. São fofocas autoconfirmantes: a informação é verdadeira porque alguém disse que é verdadeira, independentemente do que aconteça. Nos Estados Unidos, onde há bolsões fundamentalistas de grande influência, as mudanças boas aconteceram rapidamente: um católico, John Kennedy, se elegeu presidente, um negro, Barack Obama, está hoje na Casa Branca. 

Aqui no Brasil, perde-se tempo discutindo se “x” ou “y” é veado ou não — não por preconceito, naturalmente, que o fofoqueiro tem muitos amigos gays, mas porque o homossexual reprimido, seja ele quem for, tem sempre comportamento socialmente inaceitável.

Que feio! Depois esse pessoal reclama quando perde as eleições.

A união de estrelas
Um ex-jogador de futebol dos mais importantes, apontado como novo par de um conhecido apresentador de TV, conseguiu obrigar judicialmente uma colunista de televisão a retirar de seus arquivos na Internet todas as referências que fez à ligação que disse haver entre ambos. Nada mais justo: é um problema que diz respeito apenas aos dois. Se são apenas amigos, se se conheceram numa festa, foram fotografados juntos e nunca mais se viram, se são mesmo um par homossexual, que é que nós temos com isso? Vale pela fofoca, pelos comentários em mesa de bar; não é um assunto que deva ser tratado pelos meios de comunicação, a menos que os parceiros, ao menos implicitamente, concordem com o uso de sua imagem pública.

Quanto astros populares se encontram em locais públicos, frequentam a praia juntos, viajam um em companhia do outro, implicitamente aceitam o noticiário a seu respeito. Investigá-los, porém, é outro tema: espionar duas pessoas para saber se estão namorando é inaceitável. No caso do ex-craque e do apresentador, não se expuseram em qualquer momento à curiosidade pública. 

Se estão ou não namorando, que sejam felizes, e que fiquem livres do patrulhamento alheio.

Os rabichos do racismo
Na troca de adjetivos entre Alberto Dines e Bóris Casoy, um fato chamou especialmente a atenção deste colunista: a matéria do jornal virtual Brasil247 abriu espaço para comentários (aparentemente livres de qualquer moderação). E o que se viu foi um festival de antissemitismo — a mesma intolerância que se tenta levantar também contra os gays. Em 74 comentários, há onze virulentamente antissemitas (mais um ou outro com piadinhas sobre judeus). Os onze,naturalmente, assinam com pseudônimo. Um, dizendo chamar-se Mano, escreve:
 “Boris, Boris, Boris, seu judeuzinho de merda.. tô loko pra te mandar pros 5º dos infernos.. Ah! se eu te pego…” 

Outro, que se assina Zullu Amarelo, acredita que nos meios de comunicação todos sejam judeus (texto original, sem correções): “grande parcela de apresentadores da televisão são da comunidade judaica. essa comunidade não tem nem 300mil pessoas no brasil, mas são bem representados na area de comunicação. Só na Globo, no Jornal Hoje, Sandra Annemberg, no Jornal Nacional William Bonner, no Jornal da Noite, William Waack e Cristiane Pelajo, na area de esportes Tiago Leifert, cujo pai é diretor, Tande, na area de entretenimento Luciano Huck, Pedro Bial, Serginho Groissman, atores também muitos, enquanto estão fazendo o bem nada de anormal, mas quando se propõem a difamar e destruir governos eleitos legitimamente pelo voto popular ai já é demais, esses ancoras de jornais poderiam pelo menos respeitar o povo brasileiro, a raça judaica considerada inteligente há seculos, deviam pelos menos serem imparciais nas reportagens,”

É impressionante como, anônimos, certos personagens se tornam corajosos. É impressionante como são tolerados, em veículos de Internet, comentários anônimos que são flagrantemente contrários à lei. É impressionante como, ainda hoje, a intolerância – contra quaisquer minorias – não tenha sido percebida como aquilo que realmente é, uma manifestação clara e límpida de imbecilidade. 

Por Reinaldo Azevedo

 

Haddad fala bobagem sobre coleta seletiva e é corrigido por catador de lixo

Na Folha:
O candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, prometeu ontem aumentar de 1% para 10% o alcance da coleta seletiva de lixo na cidade, mas uma de suas ideias para atingir essa meta foi chamada de “bola fora” pelo presidente de uma cooperativa de catadores. O petista fez a promessa durante visita à cooperativa, no centro, onde ouviu críticas à política da prefeitura para os resíduos sólidos.

Ele afirmou que uma das possibilidades para ampliar a coleta seletiva é usar caminhões com dois compactadores -um para processar o lixo orgânico e outro para os materiais recicláveis. O catador Sérgio Bispo, presidente da cooperativa, disse, após a saída de Haddad, que ele deveria “estudar melhor para não dar bola fora”. Afirmou que o compactador mistura materiais diferentes, como vidros e plásticos, e diminui o aproveitamento para a reciclagem.

Consultado pela Folha, o diretor-executivo da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), Carlos Silva Filho, disse que a compactação não é o procedimento mais adequado para coleta seletiva, mas o equipamento pode ser ajustado para reduzir a pressão,preservando o material para reciclagem.

Por Reinaldo Azevedo

 

Russomanno opera rádio sem autorização

Por José Ernesto Credendio, na Folha:
Apesar de não possuir concessão do Ministério das Comunicações para exercer a radiodifusão, o candidato do PRB à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, opera ao menos desde 2011 uma rádio no interior do Estado. O candidato declarou à Justiça Eleitoral ser dono de empresa de rádio em Leme (SP), em sociedade com familiares, mas a concessão pertence a uma empresa de Cametá, cidade do interior do Pará. A Rede Brasil FM 101,1, que funciona no endereço da empresa de Russomanno, usa a concessão dada em novembro de 2010 à Amazônia Comunicações, que está registrada em nome de um médico de Cametá, João Batista Silva Nunes.

Segundo o Ministério das Comunicações, não existe nenhum processo de pedido de autorização de transferência da concessão da Amazônia para a Rede Brasil, o que seria obrigatório. E, mesmo que houvesse esse pedido de transferência, ele também não estaria, agora, amparado pela lei. O decreto 52.795/63, que regulamenta os serviços de radiodifusão no país, prevê que todo processo de transferência da outorga só pode ocorrer após cinco anos da data de expedição da licença, o que só ocorreria em 2015.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Haddad se nega a pedir desculpas por baixaria porque, afinal, ele não sabia de nada…

Por Bernanrdo Mello Franco, na Folha Online:
O candidato do PT a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira (9) que não deve desculpas ao adversário José Serra (PSDB) pela veiculação, em seu site, de um vídeo que ligava o tucano ao ditador Adolf Hitler. Haddad culpou um profissional do marketing petista que, segundo ele, foi afastado depois da descoberta do caso pela Folha.

“A pessoa é que tem que pedir (desculpas). A pessoa responsável, que foi afastada”, disse Haddad, após caminhada em Itaquera, na zona leste. “O que a campanha podia fazer, fez. Penso que a conduta foi correta”, acrescentou. O candidato classificou o uso do vídeo em sua campanha como um “erro”, mas rechaçou comparação com a eleição de 2008, quando o programa eleitoral de Marta Suplicy (PT) fez insinuações sobre a vida pessoal do prefeito Gilberto Kassab.

“O erro foi identificado rapidamente, e o responsável, afastado. Penso que está bem assim, né? Se todo mundo tiver esse tipo de postura, se todo mundo agir rapidamente…”, disse. Haddad também negou que o colaborador afastado de sua campanha tenha participado da produção do vídeo, gravado pelo rapper MC Mamuti 011. “Não foi ele que produziu o vídeo. Cometeu o erro de veicular. Foi um erro, profissionais erram”, disse.

Por Reinaldo Azevedo

 

Absolvição no mensalão servirá de “manual da corrupção”, dizem entidades

Por Nádia Guerlanda, na Folha Online:
Diversas organizações sociais que lutam contra a corrupção se reuniram nesta quinta-feira (9), em Brasília, para discutir o processo do mensalão. Participaram do encontro entidades como Contas Abertas, Transparência Brasil, Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e Congresso em Foco. A iniciativa foi do Movimento 31 de Julho, do Rio, e do Instituto de Fiscalização e Controle, do Distrito Federal.

À tarde, parte deles foi assistir à sessão de julgamento no Supremo Tribunal Federal, que ouviu a defesa de mais cinco dos 38 réus no caso. Para Altamir Tojal, um dos coordenadores do Movimento 31 de julho, caso haja absolvição dos réus do mensalão, será criada uma espécie de “manual da corrupção”. “Se forem absolvidos, vai ser um tipo de manual: se fizer desse jeito, nada acontece, pode seguir em frente’”, afirmou.

Tojal afirma que o julgamento não é só dos 38 réus que foram acusados. “É também para saber se a sociedade brasileira tolera certas práticas. O brasileiro está percebendo que o dinheiro que vai para a corrupção deixa de ir para o hospital, para a escola.”

Para ele, a sociedade está atenta e acompanhando o julgamento. A ausência de manifestantes em frente ao tribunal, afirma, não significa apatia da população com relação ao caso. Tojal aponta o alto número de comentários nos sites de notícia e nas redes sociais como uma medida do interesse dos brasileiros. “O mensalão está disputando a atenção do público com a novela e ganhando das Olimpíadas”, disse, referindo-se a outros acontecimentos atuais.
(…) 

Por Reinaldo Azevedo

 

Ooops! Aécio contesta afirmação de advogado de réu do mensalão, e defensor admite confusão

Por Natália Peixoto, na Folha:
Citado no plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) durante o julgamento do mensalão anteontem, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) negou que tenha usado serviços da IFT, empresa do jornalista Luiz Costa Pinto. Na quarta-feira (8), o advogado Alberto Zacharias Toron, que defende o deputado e ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, afirmou que a IFT era prestadora de serviços desde a gestão de Aécio, antecessor de Cunha. Ele negou que a empresa tenha sido contratada para prestar serviços pessoais ao deputado, como afirma o Ministério Público. Para corroborar sua versão, o advogado mostrou o pagamento da subcontratação da IFT pela Denison, empresa contratada para publicidade da Câmara em 2001, durante a presidência de Aécio.

“Não se pode falar em peculato porque o trabalho foi contratado e prestado, um trabalho que vinha da época de Aécio Neves”, falou o advogado no STF. Confrontado com a versão de Aécio, Toron admitiu que pode ter sido “confuso” ao citar a gestão do tucano na Câmara para livrar Cunha da acusação de peculato. ”O que precisa ficar bem claro é que a IFT prestou serviços unicamente na gestão João Paulo Cunha, mas que a primeira agência a contratá-la foi a Denison, que vinha do período Aécio Neves”, afirmou. Os serviços prestados pela IFT nos documentos usados por Toron são datados de março e abril de 2003, já no período em que Cunha comandava a Casa. ”Não houve solução de continuidade”, admitiu Toron. “A questão central é saber se a IFT prestou ou não serviço à Câmara, e o que eu afirmei é que ela prestou serviços à Câmara”, disse.

Por Reinaldo Azevedo

 

Em matéria de teses nazistas, Haddad é que anda mal acompanhado!

A campanha de Fernando Haddad agora deu para identificar adversários com o nazismo, numa baixaria calculada. Nazismo, é? Pois é. Em São Paulo, Haddad é aliado do PC do B. No dia 20 de junho de 2012, analisei aqui um texto escrito por um dirigente nacional do PC do B, o mais caro aliado de Haddad. Nádia Campeão, vice do petista, pertence ao partido.

Há muito tempo eu não lia na imprensa brasileira uma boçalidade daquele tamanho contra Israel — e, entendo, na prática, contra os judeus —, ecoando argumentos, estes sim, que remontam às teses mais asquerosas do nazismo. Entre outras barbaridades, judeus brasileiros são tratados como se fossem forasteiros. O autor é José Roberto Carvalho, secretário nacional de comunicação do partido. Ele estava inconformado com um anúncio publicado pela Conib (Confederação Israelita do Brasil), que protestava contra a presença em nosso país de Mahmoud Ahmadinejad, o negador do Holocausto que promete varrer Israel do mapa.

E o que escreveu Carvalho, o aliado de Haddad? Reproduzo só um trecho. Quem quiser conhecer o lixo inteiro e a contestação que fiz pode recorrer ao post (link acima). Leiam. Volto depois.

Sionistas incitam o ódio ao Irã no Brasil
Os sionistas, que em tudo se assemelham aos nazistas, utilizaram-se nesta quarta-feira (20) do seu enorme poder econômico para destilar seu ódio e sua intolerância racistas contra o Irã, por meio de um anúncio publicitário veiculado nos principais jornais do país, os panfletos impressos do PIG.
O anúncio é assinado pela Confederação Israelita do Brasil (Conib), um dos famigerados lobbies do movimento sionista internacional. Agride o chefe de Estado da República Islâmica do Irã que visita a partir de hoje o Brasil para participar da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, a Rio+20.
Em sua peça mal ajambrada, os sionistas homiziados na Conib propagam seus valores racistas e anti-islâmicos, utilizando os recursos que aprenderam com seus êmulos goebelianos – a mentira mais deslavada.
Ignorando que estão instalados em um país democrático e tolerante, como o Brasil, que mantém relações amistosas com o Irã, e onde todas as confissões religiosas professam suas crenças livremente (…), os sionistas da Conib tentam incitar o ódio de outras religiões contra a fé islâmica.
(…)

Voltei
Chega! Acho que já sujei o post o que basta. Viram? Os judeus “estão instalados” no Brasil, entenderam? Em matéria de ecoar teses nazistas, parece que é Haddad quem anda mal acompanhado. Bem, é uma companhia compatível com o próprio Haddad, segundo quem fuzilar pessoas depois de ler livros é uma posição superior a fuzilá-las antes da leitura.

Viram só? Eu lido com fatos, não com baixarias, calúnia, injúria e difamação. Deixo isso para quem recebe farto financiamento público.

Por Reinaldo Azevedo

 

09/08/2012 às 21:05

Federação diz que vai à Justiça contra lei de cotas. Ou: Dilma vai sancionar uma lei populista e mixuruca, contra os pobres

Pois é… Elio Gaspari, convertido, tardiamente, no novo Marat do jornalismo brasileiro, um verdadeiro “amigo do povo”, dirá, na sua metáfora de hábito, que mistura luta de classes com engenharia civil, que o “andar de cima” começa a ficar inquieto com as conquistas do povo, vindas, desta vez, de modo improvável, pelas mãos da deputada Nice Lobão (PSD-B-MA). Por que essa introdução? Leiam o que informa a VEJA Online, com Agência Estado. Volto em seguida.

*
A Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) afirmou, nesta quinta-feira, que pretende entrar com uma ação na Justiça para questionar a nova Lei das Cotas para faculdades federais. (ver posts a respeito).
(…)
A presidente da Fenep, Amábile Pacios, disse que a lei desrespeita a igualdade de acesso que deve existir para toda a população. De acordo com Amábile, caso a sanção ocorra, o governo federal vai reconhecer que oferece um ensino público de má qualidade, incapaz de preparar seus alunos para o vestibular. “As escolas particulares deveriam ser uma escolha da família e, no Brasil, é a única opção para os alunos que desejam ser aprovados em vestibulares mais rigorosos, como o das universidades federais. A lei não só desrespeita a igualdade de acesso como facilita a entrada de apenas uma parcela dos estudantes brasileiros”, argumentou Amábile.

A presidente Dilma Rousseff tem 15 dias para sancionar o texto, que também foi rebatido pelos reitores das universidades federais. Eles alegam que a medida fere a autonomia universitária.

Voltei
Pronto! Como? Associação de escolas particulares? Os fiéis de Aiatoelio sentem aí o cheiro da, como é mesmo?, “demofobia”. Que se danem aqueles que decidiram se lascar para pagar ensino privado porque estavam insatisfeitos com a baixa qualidade do ensino público. Muitos estudantes, atenção!, trabalham durante o dia para poder cursar escolas privadas. Não estão de olho exclusivamente no exame vestibular, não! É que pretendem, de fato, aprender mais do que o estado lhes oferece. A lei é asquerosa, presidente Dilma!

É asquerosa porque não procura qualificar a escola pública para que seus estudantes tenham condições de competir com os outros; não qualifica as escolas públicas para, inclusive, atrair de volta os alunos das escolas particulares. Ao contrário: o estudante terá direito especial simplesmente por pertencer à escola pública que há, com todos os seus defeitos — que passarão, com medidas como essa, à condição de insanáveis.

A universidade não vai fazer milagres. Como demonstram os números, em 10 anos, cresceu de maneira explosiva o número de universitários semianalfabetos — santo Deus! — de 2% para 4%. Nada menos de 34% não são plenamente alfabetizados!!! Há 10 anos, eram 21% (já um escândalo).

O nome disso, senhora Dilma Rousseff, é populismo — vagabundo e mixuruca, como todos os populismos. E, a exemplo de todos, prejudica os pobres. Se a senhora sancionar essa porcaria, estará condenando a escola pública ao lixo eterno, além, obviamente, de produzir brutais injustiças e esmagar a autonomia universitária.

Por Reinaldo Azevedo

 

09/08/2012 às 20:39

Baixaria de Fernando Haddad, não se enganem, é cálculo

Fernando Haddad, o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, conseguiu o que queria: ser notícia e polarizar, ao menos nos jornais, sites e blogs, com o tucano José Serra. E como o quarto ou quinto colocado nas pesquisas alcançou essa proeza? Simples: sua campanha, comandada por João Santana — que não é novato em matéria de baixaria —, levou ao ar um vídeo que associa o tucano ao nazismo; um rapper — que diz não ter nada a ver com o PT, como sempre — mostra o dedo médio a Serra, gesto cujo significado é de todos conhecido.

Feito o barulho, os petistas, buscando mais uma vez os holofotes, anunciam que houve um engano, que o vídeo é mesmo reprovável e dizem que ele já saiu do ar. Pronto! Conseguiram tudo o que queriam: polarizar com Serra duas vezes no noticiário (quando fazem a baixaria e quando se desculpam) e divulgar a peça difamatória.

Não caia ninguém na bobagem de achar que se trata de um erro! É uma tática. Serra reagiu nesta quinta. Leiam trecho do que vai na VEJA.com:
Para Serra, uma atitude como essas, partindo do PT, “não é nenhuma novidade”. “Eles (petistas) já faziam isso na campanha presidencial de 2010. Agora eu espero que nesta campanha o nível seja melhor. Espero que isso não se repita”, disse. O candidato afirmou que a campanha deve ser pautada pela troca de ideias e não pelos “insultos pessoais”. “As pessoas querem trocar ideias e críticas às questões concretas e não insultos”, disse Serra.

Não é, de fato, a primeira vez que o petismo recorre a baixarias. Nem Santana. Como lembrei nesta manhã, foi de sua lavra a infame pergunta dirigida a Gilberto Kassab em 2008, na campanha de Marta: “É casado? Tem Filhos?” O petismo é uma expressão do MSL, o Movimento dos Sem Limites.

Nazismo? Perseguição a judeus? Bem, então vamos falar sobre esse assunto daqui a pouco. Vamos ver quem está de que lado e quem pensa o quê. Como sabem, este é um tema de que gosto.

Por Reinaldo Azevedo

 

09/08/2012 às 20:13

Obrigado, José Dirceu! Obrigado, José Genoino! Obrigado, Delúbio Soares! Obrigado, Marcos Valério! Obrigado, Kátia Rabello! Obrigado, Henrique Pizzolato!

Como tem observado o professor Marco Antônio Villa, nos debates que temos feito na VEJA.com (ver vídeo abaixo), o julgamento do mensalão, dada a sua forma, embute desequilíbrios óbvios. O procurador-geral da República falou por cinco horas. Mas vai apanhar por pelo menos 36!!!  Poderiam ser 38 — ele pediu a absolvição de dois. Nunca antes na história destepaiz um procurador foi tão errado, não é mesmo? Nota: cada acusado não ocupou mais de cinco ou seis minutos de sua exposição.

Como cada advogado procura dar o seu melhor — até porque se tem ali uma grande vitrine —, os doutores se esmeram, e é seu trabalho, em provar a inocência dos seus clientes. Sabem como é… Num país como o Brasil, não falta mercado para advogados criminalistas. Mas as causas que realmente valem a pena, aquelas que fizeram a fama e a fortuna de Márcio Thomaz Bastos, não são tantas assim. Aí a gente vê, então, alguns exageros retóricos.

Por isso, fica-se com a sensação de que o processo do mensalão se resume a uma grande conspiração contra uma legião de heróis e mártires. Como observou Augusto Nunes no nosso programa, mais um pouco, e nós ainda cairemos de joelhos aos pés dos acusados, pedindo-lhes desculpas em nome do Ministério Público, da imprensa e de outros malvados que houveram por bem considerar que havia algo de errado naquela lambança toda. Engano! Não havia!

Não só as pessoas cumpriam todas as leis como, em alguns casos, estavam acima da raia miúda, das pessoas comuns. Alguns réus, como José Dirceu, José Genoino e Katia Rabello, estão, assim, numa espécie de promontório da humanidade e só estariam sendo julgadas por conta de sua excepcionais qualidades humanas. Não é, dizem seus defensores, que não tenham cometido crimes; não só não cometeram como pensaram e pensam, o tempo todo, no nosso bem.

É isto: o que se vê ali é um desfile de cordeiros de Deus que tiram os pecados do mundo. O julgamento mais famoso da humanidade tinha apenas um réu e um único inocente. E se cometeu uma só injustiça — embora estivesse prevista já na mente divinal. O julgamento de agora traz pelo menos 36 réus, 36 inocentes, e seus advogados, evocando — ainda que sem tocar na palavra — a injustiça original, gravada na nossa cultura. Alertam em tom quase apocalíptico: “Não mandem este Cristo redivivo para a cruz, senhores ministros!”

Lembrar-me-ei de acrescentá-los em minhas orações, não pelos votos que renovo todos os dias na humanidade e na razão, mas pelo bem que fizeram aos homens, aos brasileiros em particular.

Obrigado, José Dirceu!
Obrigado, José Genoino!
Obrigado, Delúbio Soares!
Obrigado, Marcos Valério!
Obrigado, Kátia Rabello!
Obrigado, Henrique Pizzolato!

O que seria de nós, pecadores, sem vocês?! Suponho, no entanto, que, do Cristo original, vocês só queiram a nossa devoção, mas não o mesmo destino, não é mesmo?

Por Reinaldo Azevedo

 

09/08/2012 às 19:18

Mensalão: advogado diz que Pizzolato não sabia que envelope tinha dinheiro. Ah, bom! Então tá!

Por Gabriel Castro, na VEJA Online:

Advogado de Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, Marthius Lobato afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que não houve desvio de recursos públicos para abastecer o esquema do mensalão, e que seu cliente não tinha poder de decidir sozinho sobre o repasse de recursos à DNA Propaganda, do publciitário Marcos Valério. Lobato foi o primeiro a apresentar sua sustentação oral à corte na sessão desta quinta-feira.

Sobre a acusação de que Pizzolato recebeu propina para favorecer os interesses de Valério, o advogado disse que seu cliente apenas fez um favor a Valério: repassou a um emissário do PT um envelope com os 336 000 reais.

“Ele pegou o pacote e guardou porque iria ser entregue a um mensageiro do PT. Quando ele chegou em casa, toca o telefone e alguém diz: ‘Eu sou do PT e vim buscar essa encomenda’. Ele não tinha conhecimento de que era dinheiro”, disse Marthius. Para reforçar sua tese, ele disse que PIzzolato, por não ter o poder de tomar decisões sozinho, não teria nada a oferecer em troca da suposta propina. “Qual a vantagem que o meu cliente daria? Não há possibilidade”, indagou.

Pizzolato é acusado de pagar irregularmente 73 milhões de reais da parcela do fundo Visanet pertencente ao Banco do Brasil e de ter recebido 336 000 reais de propina para favorecer a manutenção do contrato da DNA com o Banco do Brasil, apesar de irregularidades na execução da parceria. Ele teria ainda permitido que a empresa de Valério se apropriasse indevidamente de 2,9 milhões de reais, pagos sob a rubrica de “bonificação de volume” de publicidade.

“O fundo Visanet é uma empresa privada. Seus recursos são eminentemente privados”, disse o advogado, ao rebater a acusação de peculato. Além disso, Marthius Lobato declarou que seu cliente não tinha ascendência sobre a gestão do fundo. Ao final, foi interpelado pelo ministro relator do processo, Joaquim Barbosa, porque parte do fundo Visanet corresponde a recursos do Banco do Brasil.

O defensor alegou ainda que não houve irregularidades nos pagamentos à DNA e que seu cliente nem mesmo teria o poder de tomar sozinho qualquer decisão: “Para ele assinar o contrato, passou pela análise de todas as diretorias técnicas e jurídicas”, afirmou, ressaltando que as decisões da Diretoria de Marketing eram colegiadas: “‘É ingenuidade imaginar que um banco desse porte tivese um sistema diretivo simples, autônomo”, afirmou.

O advogado também disse que os bônus repassados à DNA não pertenciam ao Banco do Brasil, e por isso não houve crime. “Bonificação de volume é de direito das agências e não é repassado aos anunciantes. É um tipo de incentivo que os veículos de com oferecem para as agências de publicidade”, justificou.

Lobato disse que, se a bonificação era irregular e deveria ter sido devolvida ao Banco do Brasil, a Procuradoria-Geral da República deve ser processada porque se omitiu de acusar também as empresas que, em contratos com órgãos públicos, adotam essa prática: “Não há justificativa para o Ministério Público não ter entrado com ações contra essas empresas”, afirmou.

O STF também ouvirá nesta quinta-feira os advogados de quatro réus ligados ao PP:  Pedro Corrêa (ex-deputado federal pelo PP), Pedro Henry (deputado federal pelo PP), João Cláudio Genu (ex-tesoureiro do PP) e Enivaldo Quadrado (ex-funcionário do PP e sócio da corretora Bônus Banval).  

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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