J.R.Guzzo: ‘O STF já decidiu que foi cometida no governo Lula uma catarata de crimes, principalmente de corrupção’

Publicado em 06/11/2012 22:11 e atualizado em 24/05/2013 15:44
por Augusto Nunes, de veja.com.br

Direto ao Ponto

J.R.Guzzo: ‘O STF já decidiu que foi cometida no governo Lula uma catarata de crimes, principalmente de corrupção’

Trecho do artigo “O resto é o resto”, publicado na edição de VEJA desta semana: É curioso como os políticos deste país ficam à vontade para falar em “povo brasileiro”. O PT ganhou esta última eleição em 10% dos municípios. E os eleitores dos outros 90%, com 80% do eleitorado, que povo seriam? Esquimós? Leia a íntegra na seção Feira Livre.

 

‘O resto é o resto’, por J.R. Guzzo

PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA DE VEJA

J.R. GUZZO

Nada mais natural que depois de uma eleição para prefeitos e vereadores, como a de agora  ou para governadores, deputados e presidente, como se fará daqui a dois anos, cada um diga o que bem entender sobre o verdadeiro significado do que aconteceu, com os costumeiros cálculos para estabelecer “quem ganhou e quem perdeu”; deveria ser uma tarefa bem simples concluir que ganhou quem teve mais votos e perdeu quem teve menos, mas esse debate é um velho hábito nacional, e não vai mudar. Outra coisa, muito diferente, é acreditar naquilo que se diz.

Trata-se de uma liberdade de duas mãos: cada um fala o que quiser e, em compensação, cada um entende o que quiser daquilo que foi falado. Na recém-terminada eleição municipal de 2012, como de costume, não ficou claro, nem vai ficar, quanta atenção o público deveria realmente prestar a toda essa conversa que está ouvindo agora. É certo, desde já, que está ouvindo coisas que não fazem nenhum sentido — e, por isso mesmo, provavelmente não perderia nada se prestasse o mínimo de atenção a elas.

A fórmula é sempre a mesma. Cientistas políticos  pescados em alguma universidade ou instituto superior disso ou daquilo, aparecem de repente nos meios de comunicação para explicar, depois de encerrada a batalha, como, por que e por quem ela foi ganha ou perdida. É uma estranha ciência, essa, que, em vez de lidar com fatos comprovados, lida com opiniões. Na anatomia, por exemplo, está dito que o homem tem dois pulmões: não pode haver outra “opinião” quanto a isso. Na ciência política pode. Juntam-se a esses cientistas os políticos propriamente ditos, os comentaristas da imprensa e mais uma porção de gente, e de tudo o que dizem resulta uma salada que a mídia serve ao público como se estivesse transmitindo ao vivo o Sermão da Montanha.

Uma demonstração clara desse tumulto mental é a conclusão, por parte de muitas cabeças coroadas do mundo político, de que a vitória pessoal do ex-presidente Lula na eleição de São Paulo, onde levou para a prefeitura uma nulidade eleitoral que ninguém conhecia três meses atrás, apagou as condenações que seu partido e seu governo receberam no julgamento do mensalão. Está na cara que o resultado não apagou nem acendeu nada, pois eleição não é feita para separar o certo do errado, nem para decidir se houve ou não houve um crime ─ serve, unicamente, para escolher quem vai governar. Dizer o que está certo ou errado é tarefa exclusiva da Justiça; no caso, o STF já decidiu que foi cometida no governo Lula uma catarata de crimes, sobretudo de corrupção. Não há, simplesmente, como mudar isso. A Justiça pode funcionar muito mal no Brasil, mas é o único meio que se conhece para resolver quem tem razão ─ assim como eleição é o único meio que se conhece para escolher governos.

Não foi o “povo brasileiro”, além disso, quem “absolveu” o PT─ ou concorda quando o partido diz que seus chefes são “prisioneiros políticos” condenados por um “tribunal de exceção”, e não por corromperem e serem corrompidos. É curioso, aliás, como os políticos deste país ficam à vontade para falar em “povo brasileiro”. O PT ganhou esta última eleição em 10% dos municípios. E os eleitores dos outros 90%, com 80% do eleitorado, que povo seriam? Esquimós? É dado como um fato científico, também, que Lula foi o maior ganhador da eleição, por causa do resultado em São Paulo. Por que isso? Porque ele próprio, o PT e outros tantos vinham dizendo, desde o começo, que só o município de São Paulo, com pouco mais de 5% dos eleitores brasileiros, importava; o resto era apenas o resto.

De tanto repetirem isso, virou verdade. Mas é falso: não dá para dizer que não houve eleição em Salvador ou Fortaleza, no Recife, em Belo Horizonte e Porto Alegre, onde o PT apresentou candidatos com pleno apoio de Lula e da presidente Dilma Rousseff, e perdeu em todas ─ nas três últimas, inclusive, não sobreviveu nem ao primeiro turno. No mapa mental de Lula é como se nenhuma dessas cidades estivesse em território brasileiro; o Brasil, em sua geografia, começa e acaba em São Paulo. Cinco das principais capitais brasileiras, por esse modo de medir as coisas, são tratadas como se ficassem em Marte.

O que Lula e seu partido fizeram foi construir a ideia de que São Paulo, sozinha, vale mais que todo o restante do Brasil somado ─ e nisso, realmente, tiveram sucesso, pois nove entre dez “profissionais” da política dizem mais ou menos a mesma coisa. Assim é, se lhes parece. Mas o público não tem a menor obrigação de acreditar no que estão dizendo.

 

Direto ao Ponto

O poste da prefeitura ficou mais caro que o do Planalto. Para instalar um terceiro no Palácio dos Bandeirantes, a seita lulopetista topa fechar negócio até com o PCC

É mais barato e menos desgastante instalar um poste no Palácio do Planalto do que na prefeitura de São Paulo, descobriu nesta primavera o ex-presidente Lula. Para transformar Dilma Rousseff em sucessora, o chefe da seita só precisou promovê-la a Mãe do PAC em 2007, comunicar aos devotos  que  fora ela a escolhida e sacar do coldre a caneta que nomeia e distribui verbas. A afilhada quase foi eleita no primeiro turno. A vitória no segundo sobre José Serra viria mesmo se o padrinho resolvesse tirar uma improvável folga dos palanques.

Bem mais caro e trabalhoso foi eleger Fernando Haddad prefeito da maior cidade do país. Para que o poste não desabasse já no primeiro turno, só o apoio de Paulo Maluf custou uma secretaria de alta rentabilidade no Ministério das Cidades, uma constrangedora sessão de fotos no jardim da mansão e, como acaba de revelar o procurado pela Interpol, duas ou três siglas que lidam com habitação. Maluf sempre soube explorar o setor.

Marta Suplicy cobrou um Ministério da Cultura para acordar num palanque ao lado de Maluf e ajudar a manter o poste de pé. Gabriel Chalita, candidato do PMDB no primeiro turno, também cobrou um ministério para ajudar a carregar o poste na etapa final. Tudo somado, não teria sido salgado demais o preço pago para que o invento de Lula vencesse? “O importante é que conquistamos um reduto tucano”, fantasia o ex-jornalista Rui Falcão, presidente do PT.

Coisa de mitômano. Desde a ressurreição das eleições diretas em 1985, quando Jânio Quadros venceu Fernando Henrique Cardoso, o PSDB só foi vitorioso em 2004, com José Serra. Em contrapartida, Haddad será o terceiro prefeito petista, depois de Luiza Erundina (1988-1992) e Marta Suplicy (2000-2004). No período que separou as duas administrações companheiras, a cidade ficou sob o domínio de Paulo Maluf, que conseguiu um segundo mandato com o codinome Celso Pitta.

O histórico das eleições na cidade informa que São Paulo nunca foi reduto de partido nenhum. O poste de Lula derrotou um adversário do PSDB, certo, mas será alojado no gabinete ocupado por Gilberto Kassab, que em 2008, depois de completar o mandato de Serra, elegeu-se pelo DEM e hoje comanda o PSD. No “reduto tucano”, nenhuma sigla teve mais prefeitos que o PT. E Haddad não reconquistou nenhum território antigovernista: o PSD já faz parte da base alugada. Kassab mal esperou o fim das apurações para oficializar a aliança costurada nas sombras com a seita que faz qualquer negócio e aceita qualquer parceiro para garantir-se no poder.

Reduto tucano sem aspas, isto sim, é o estado de São Paulo, administrado desde 1994 por governadores tucanos. Lula não admite morrer sem ver o fim do reinado que vai completar 20 anos em 2014. A batalha pela retomada da capital foi só o prelúdio da guerra pela conquista do território paulista. Se fez o que fez na eleição municipal, o que não fará o fabricante de postes para instalar um Alexandre Padilha no Palácio dos Bandeirantes?

A tomada da sede do poder estadual é um sonho obsessivamente perseguido por Lula desde 1982, quando naufragou na disputa do governo paulista. Com o apoio de 5,2 milhões de eleitores, o vitorioso Franco Montoro teve o dobro dos votos de Reinaldo de Barros, o triplo dos atribuídos a Jânio e estabeleceu uma vantagem colossal sobre o concorrente do PT, quarto colocado com pouco mais de 1 milhão de votos. A frustração sofrida há 30 anos vem sendo ampliada a cada dois.

Neste novembro, por exemplo, o PT venceu em apenas 68 cidades, mais de uma centena abaixo do PSDB. Como se verá em outro texto, a brigada de 174 prefeitos tucanos é um dos muitos trunfos que, usados com competência, prolongarão pelo menos até 2018 a aflitiva espera dos devotos. O mestre já está à caça de aliados que lhe permitam enfrentar com chances o governador Geraldo Alckmin, candidato declarado à reeleição.

Para o homem dos postes, vale qualquer parceiro. Até o PCC.

 

Direto ao Ponto

Havia um mensalão no meio do caminho imaginado pelos sete risonhos companheiros

As anotações manuscritas no verso não identificam o autor nem informam a data da foto que documenta o iminente início de uma reunião na Casa Civil da Presidência da República, no quarto andar do Palácio do Planalto. Apenas registram que a imagem foi congelada no primeiro semestre de 2003, pouco depois da chegada ao coração do poder dos sete risonhos companheiros sentados à mesa.

Na cabeceira, José Dirceu, chefe da Casa Civil, é o mais velho do grupo ─ e nem completou 60 anos. Tem ainda 57 e o sorriso de quem só precisa esperar mais oito para instalar-se no gabinete presidencial.  É o superministro que comanda simultaneamente as articulações políticas e as ações administrativas. É o líder do núcleo duro, o capitão do time de Lula. O Sucessor.

À direita de Dirceu, o deputado federal Nelson Pelegrino tem 42 anos e o sorriso de quem está convencido de que vai vencer a próxima eleição para a prefeitura de Salvador. Fracassara em 1996 e 2000, mas conseguira em 2002 uma vaga na Câmara e é um dos vice-líderes da bancada do PT.

À esquerda do anfitrião, o senador Aloizio Mercadante tem 49 anos e o sorriso de quem acha que valeu a pena sacrificar-se pelo partido. Em 1994, o deputado federal paulista trocara uma reeleição sem sobressaltos pela candidatura a vice-presidente na chapa de Lula. Fora recompensado em 2002 com a vaga no Senado. Líder da bancada do PT, sonha com o Palácio dos Bandeirantes.

No meio da mesa, o deputado federal João Paulo Cunha tem 45 anos e o sorriso do ex-metalúrgico de Osasco que virou presidente da Câmara. Sentado à sua frente, Tião Viana, vice-presidente do Senado, tem 42 anos e o sorriso de quem foi escolhido pelo destino para conferir dimensões nacionais aos domínios da família que governa o Acre.

Em primeiro plano, completam a mesa José Genoino e Delúbio Soares. O companheiro cearense tem 57 anos e o sorriso de quem fora consolado pela derrota na disputa do governo paulista com a presidência do PT. O companheiro goiano tem 48 anos e o sorriso de quem desde 2000, quando se tornara tesoureiro nacional do partido, é chamado por Lula de “nosso Delúbio”.

Nesta primavera de 2012, a imagem parece velha de muitos séculos. Em menos de 10 anos, José Dirceu, por exemplo, perdeu a chefia da Casa Civil, perdeu o mandato de deputado e, condenado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção ativa e formação de quadrilha, está prestes a perder a liberdade.

Nelson Pelegrino convalesce do quarto fiasco como candidato a prefeito. Aloizio Mercadante lambe no Ministério da Educação as feridas abertas por duas derrotas consecutivas na disputa do governo de São Paulo. Condenado por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro, o mensaleiro João Paulo Cunha perdeu a chance de candidatar-se a prefeito de Osasco. No momento, luta para preservar o mandato e escapar da cadeia.

Tião Viana é o único do grupo que pode sorrir, mas só em casa ou no gabinete de governador do Acre. Em público, ele é obrigado a caprichar na cara de velório recomendada aos Altos Companheiros pelo julgamento do mensalão. José Genoino perdeu a presidência do PT, perdeu a vaga na Câmara e foi condenado pelo STF por corrupção passiva e formação de quadrilha.

Antes de ser enquadrado nesses mesmos crimes, Delúbio Soares perdeu o cargo de tesoureiro do PT, perdeu a carteirinha de militante e, readmitido no ano passado, está ameaçado de só conviver com os amigos no pátio do presídio. Ele achava que as bandalheiras descobertas em 2005 dariam uma boa piada de salão. Deram cadeia.

No dia em que a foto foi feita, os sete sorrisos já podiam enxergar nitidamente um mensalão no meio do caminho. O brilho do poder ofusca a vista.

(por Augusto Nunes)

 

Bruno Daniel, irmão de Celso Daniel, conta tudo o que pensa e sabe do caso do prefeito de Santo André assassinado há dez anos

PARTE 1

Na primeira parte da conversa, o irmão de Celso Daniel reconstitui o assassinato do prefeito de Santo André e fala sobre a motivação do crime consumado em janeiro de 2002.

PARTE 2

Bruno Daniel comenta as investigações sobre o crime, diz que houve mais de um mandante e informa que continua intrigado com tantas mortes vinculadas ao episódio.

PARTE 3

Bruno lamenta a fragilidade das instituições brasileiras e descreve o esforço feito por dirigentes do PT para impedir o esclarecimento da execução de Celso Daniel.

PARTE 4

O irmão do prefeito assassinado anos destaca o papel de Gilberto Carvalho, hoje secretário-geral da Presidência, na trama montada para forjr a tese do “crime comum”.

PARTE 5

No último bloco, Bruno Daniel fala das ameaças que o forçaram a exilar-se na França durante cinco anos e diz o que acha do tratamento dispensado ao caso pela imprensa.

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Fonte:
Blog Augusto Nunes (veja.com.br)

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1 comentário

  • Maurício Carvalho Pinheiro São Paulo - SP

    Só para esclarecer: Uma perua como a de onde foi sacado o Celso, além de blindada, tem um sistema de segurança completo e sofisticado. Não destrava as portas ao parar !

    Tem um sistema de bloqueio que até dispara um alarme e sirene. e o motorista que o dirige recebe treinamento ou "direção defensiva" que o orienta até em caso de abordagem criminosa e fuga !!! Semelhante ao que foi usado pelo motorista na defesa contra a tentativa de sequestro da filha do Paulo Lehman, lembram-se ???

    Outro pequeno detalhe do comentário acima !! São compradas ou encomendadas pesquisas falsas para induzir o voto dos 70% de seminalfas eleitores obrigados a votar "dizendo" que o poste tem 60, 70 ou até 80% de aprovação (??) ou popularidade (??).

    E que também entrevistam 1.000 a 2.000 pessoas onde existem 8.600.000 eleiotres !! Ou 0,0116279.. % ou 0,0232558 %... % do eleitorado ! Ou ainda 1/86 de 1% !! Ou ainda 1/43 de 1% (UM POR CENTO !!).

    Está tudo dominado e ou comprado !! E ninguém detona !! Vão lá no TRE para ver se estão arquivados os resultados com os detalhes exigidos pela Lei 9.504/97

    e o seu formulário padrão !!!! O número que citam como "registro" é apenas o da "Solicitação de Autorização".

    A TV Globo, o Estadão, simplórios que são ou não sabem de nada, até bancam e dão credibilidade para essa mais uma safadeza !! Como os 45% de rejeição mesmo assim tendo o cara ganho o 1º turno !!! Esperem que vai acontecer o mesmo com o Kassab em 2014 se êle for candidato a governador !!! Um festival de sacanagem !!!

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