A metade idiota de Niemeyer colaborou com os nercoterroristas das Farc, chamava de “líder fantástico” o assassino de 40 milhões
A metade idiota de Niemeyer colaborou com os nercoterroristas das Farc, chamava de “líder fantástico” o assassino de 40 milhões, via no tirano Hugo Chávez um grande homem e justificava todos os crimes de Fidel. Bem pensado, sua genialidade ocupava apenas um terço do seu caráter… Se eu tiver de voltar ao assunto, reduzo para um quarto… Ou: “Idoso de esquerda tem problema”
O blog teve ontem 231.646 visitas. É a sua segunda maior marca num único dia. Só perde para 20 de outubro de 2010, às vésperas da eleição presidencial, quando atingiu 235.788. Parte considerável veio ontem em busca dos dois primeiros textos que escrevi sobre Oscar Niemeyer, que ecoavam, de resto, um post que fará seis anos no dia no próximo dia 15. Aqueles em que afirmo (e reafirmo agora) que ele era metade gênio e metade idiota. Em 2006, ninguém chiou. É que, no Brasil, a morte tem o condão de mudar as biografias. Isso nada tem a ver com nosso passado católico, senhores sociólogos! Isso tem a ver com a nossa indigência intelectual. Milhares de pessoas, é evidente, concordaram comigo. Vejam os comentários. Também publiquei discordâncias e só cortei as ofensas. Para me ofender, já existem os blogs dos Reinaldo-dependentes…
Se eu tivesse escrito que Jesus Cristo era metade santo e metade idiota, a reação não teria sido tão violenta. Isso só evidencia uma coisa: trata-se de uma corrente organizada, estimulada, em parte, por alguns notórios ladrões de dinheiro público, que vivem de rapinar estatais – vagabundos, enfim! Ainda me lembro da indignação que tomou conta de alguns “modernos” no Brasil quando a performance de um sedizente artista plástico, com apoio de dinheiro público, foi alvo do protesto de cristãos. Diante da plateia, o rapaz tirava um terço que ou havia introduzido em si mesmo ou nele haviam introduzido, entenderam? Cristãos reagiram mal. Indigentes intelectuais os mais variados acusaram uma tentativa de censura. As pessoas que se manifestavam contra a “performance” eram tachadas de atrasadas, carolas, reprimidas… Isso pode. Já chamar o lado comunista de Niemeyer de “metade idiota”…
Escrevi ontem sobre o que chamei “Irmandade Petralha”, os patrulheiros que pretendem ser donos do pensamento. Esses cretinos nem sequer leram os textos. Atribuíram-me coisas que não escrevi e que não penso. Eu teria dito que Niemeyer não era de nada, que não teria importância nenhuma para a arquitetura e que seria mero chupim de dinheiro público. Atração por grana estatal, essa ele tinha. Mas sustento que fez uma grande obra mesmo assim. E é claro que essa não é uma avaliação acima da contestação. O tipo de arquitetura que fazia está em declínio do mundo, basta estudar um pouquinho. Mas isso não quer dizer que os que o contestam sejam melhores do que ele. Faço essa observação apenas para lembrar que, a exemplo de qualquer autor – suas obras são autorais –, também ele está sujeito à apreciação critica negativa.
Meu texto original, longe de patrulhar o legado de Niemeyer para a arquitetura, fazia justamente o contrário: procurava separar sua ideologia de sua obra. E fui até generoso com ele. Chamei o seu lado comuna de “a metade idiota”. Poderia tê-lo classificado de justificador do homicídio em massa, que é o que lhe confere a sua condição de comunista renitente! Atenção! Ele nunca deixou de ser… stalinista! Nem Krushev, que não matava tanto, servia a Niemeyer!
Reproduzo, em vermelho, trecho de uma entrevista sua publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste, de 9 de dezembro de 2007. Prestem atenção:
Sem um líder da estatura de Stalin, prega Niemeyer, o mundo poderia ter tido outro destino, subjugado por Hitler. Apesar do regime de terror, o massacre de milhões de pessoas que se opunham ao governo, a eliminação de dois terços do Comitê Central do Partido Comunista Soviético, entre outros crimes. O arquiteto perdoa o ditador, morto em 1953. Aposta que a opinião pública mudará de ideia quando descobrir que Stálin foi vítima de uma “campanha odiosa”, movida pelas “forças reacionárias”:
“Stálin era fantástico. A Alemanha acabou por fazer dele uma imagem de que era um monstro, um bandido. Ele não mandou matar os militares soviéticos na guerra. Eles foram julgados, tinham lutado pelos alemães. Era preciso. Estava defendendo a revolução, que é mais importante. Os homens passam, a revolução está aí.”
O elogio não significa que Niemeyer seja um stalinista — ele nem chega a ser um militante comunista clássico. Serve, porém, para revelar um traço de sua personalidade política. Para além da ideologia, ele admira os políticos de personalidade forte. Empreendedores e ousados, como ele. No panteão do arquiteto, Stalin convive com o democrata Juscelino Kubitschek. Luís Carlos Prestes, Gustavo Capanema (ministro da Educação e Saúde Pública no Estado Novo), Darcy Ribeiro, Leonel Brizola, Houari Boumedienne (líder da revolução argelina), Fidel Castro e Hugo Chávez também fazem os olhos do arquiteto brilharem.
Como? “Stálin não mandou matar?” “Eles foram julgados?” Notem que o jornalista tenta limpar a barra do delirante…
Os que foram me atacar na televisão e no rádio por conta do texto que escrevi podem não ser apenas canalhas. Há uma boa chance de que sejam burros também. A opinião acima não é só “idiota”, não! É nojenta mesmo! Stálin matou ou mandou para os campos de concentração – em “comuinistês”, se diz “de trabalhos forçados” – milhares de “artistas” como… Niemeyer. Para ele, tudo necessário: “A revolução era mais importante”! Entre matar e justificar a morte, a diferença é apenas penal, não moral.
“Ah, lá vai o Reinaldo cuidar dessas coisas do passado…” Errado! Niermeyer apoiava – apoio mesmo – alguns assassinos do presente. E não pensem que o terrorismo lhe era um limite ou um constrangimento.
As Farc
Não me ocupei do arquiteto só agora. No arquivo, há muitos textos sobre ele. No dia 16 de março de 2008, escrevi outro post, intitulado “Niemeyer e um artigo abjeto”. Começava assim o meu post:
“Se eu chamar Oscar Niemeyer de múmia moral, acusarão a minha agressividade com o velhinho. Afinal, está no seu pé biográfico: 100 anos. E ele é uma das nossas ‘figuras respeitáveis’, não é?, embora a experiência não o impeça de escrever sandices, que justificam o terror, a tortura, os campos de concentração, os assassinatos. Não desistirei jamais da pergunta: a mídia brasileira abrigaria textos defendendo o fascismo armado? Por que os facinorosos da esquerda e seus prosélitos têm essa licença?”
Por que escrevi o que vai acima? Num artigo publicado na Folha, o arquiteto atacava o governo constitucional e democrático da Colômbia e cantava as glórias dos narcoterroristas das Farc, com quem revela ter colaborado. Segue um trecho:
“Lembro-me do emissário desse grupo que, muitos anos atrás, me procurou em meu escritório de Copacabana, pedindo-me que desenhasse um cartaz contra o Plano Colômbia, que, organizado pelo governo norte-americano, visava intervir nas Farc, ferindo a soberania do país.
Recordo a maneira emocionada como aquele emissário me falava do assunto, da revolta que exibia ao comentar a violência com que o governo colombiano tentava destruí-los. Em poucos dias, desenhei o cartaz que ele havia me pedido -um protesto contra aquele plano odioso. Uma colaboração política que muito me agradou, ao saber ter sido aquele cartaz utilizado até na Europa.”
Viram com que poesia ele trata um grupo que sequestra, mata, trafica drogas, estupra, rapta crianças e mantém campos de concentração da selva colombiana? Quem ler o artigo vai perceber que Niemeyer não gosta mesmo é da democracia. E citava em socorro de sua tese a antepenúltima múmia comunista do planeta: Eric Hobsbawm. Por isso afirmei que a metade genial convivia com a metade idiota. Mas já começo a mudar de ideia. Metade é muita coisa.
“Idoso de esquerda tem problema”
Leiam esta declaração:
“Quem é mais de direita vai ficando mais de centro. Quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata. As coisas vão se confluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos que você vai tendo e de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito. Se você conhecer uma pessoa idosa esquerdista é porque está com problema. Se acontecer de conhecer alguém muito novo de direita é porque também está com problema. Quando a gente tem 60 anos está no equilíbrio porque a gente não é nem um e nem outro”.
Evidentemente, pelo estilo, a fala não é de Reinaldo Azevedo. O raciocínio é de Luiz Inácio Apedeuta da Silva. Quando fez 99 anos – ocasião em que escrevi aquele texto –, Niemeyer reagiu mal à opinião do companheiro. Estava decepcionado. A cachorrada que reagiu agora ao meu texto se calou diante da fala de Lula.
Finalmente
Os que me conhecem sabem que sou do tipo que se comove fácil. Uma notícia me fez refletir profundamente sobre o comunismo de Niemeyer em terras nativas. Ele deu de presente, por exemplo, uma casa a Luiz Carlos Prestes. Entendo. Mas não tinha preconceitos. Também projetou e construiu uma casa para seu motorista de décadas. Na Favela do Vidigal. Desculpem: favela é coisa de São Paulo. No Rio, o certo é dizer “Comunidade do Vidigal”.
Vamos lá, Irmandade Petralha! Reproduza este texto também. Ajude a divulgar o pensamento vivo de Niemeyer sobre humanistas como Stálin, Fidel, Hugo Chávez e os narcoterroristas das Farc. Já começo a flertar com a possibilidade de reduzir a tal genialidade a um sexto…
Texto publicado originalmente às 5h27
Por Reinaldo Azevedo
Lewandowski agora decide apelar até à Revolução Francesa para impedir que STF casse mandatos… Erra no mérito e na história
Vamos tratar um pouco do mundo dos vivos e dos muito vivos. O ministro Ricardo Lewandowski, até a semana passada, vinha fazendo uma sólida carreira no terreno, vamos dizer assim, do jocoso. Neste semana, ele decidiu ser também perigoso. Daqui a dois anos, Santo Deus!, o filho da amiga de Marisa Letícia vai presidir a corte. Se o Supremo não tomar cuidado, da mente divinal de Lewandowski sairá, o que há de assombrar o mundo pelo inusitado, deputado com direitos políticos cassados. Nunca antes na história da galáxia se terá visto algo assim.
Mais ainda: ele sugeriu ontem que, caso não sejam cassados por seus pares (na hipótese de triunfar seu ponto de vista), os ditos-cujos tenham uma licença especial (ou algo assim: ele quer um jeitinho) para participar das sessões legislativas, passando só a noite na prisão. Entendi: de dia, eles votam leis; à noite, cumprem pena. Se estiverem com seus mandatos, estarão também com as devidas prerrogativas, como participar de comissões e disputar cargos na Mesa. João Paulo poderia passar o dia na Comissão de Constituição e Justiça, por exemplo, e, à noite, ser um apenado pela… Justiça!
Se a própria Câmara não tomar cuidado, Lewandowski inventará a figura do deputado-presidiário. Em seguida, será a vez, claro!, de inventar o presidiário-deputado. Marcola e Fernandinho Beira-Mar já podem ir escolhendo o partido de sua preferência… Se bem que escutas telefônicas feitas há alguns anos demonstram que o PCC, por exemplo, já fez a sua escolha.
Sim, senhores! O ministro Ricardo Lewandowski insistiu ontem em que a perda dos direitos políticos se distingue da cassação. Digamos que se distingam como etapas diferentes de uma mesma reação química, compreendem? Se alguém com direitos políticos suspensos não pode se candidatar porque lhe falta esse atributo que é requisito básico da representação, como pode um já representante ter retirado esse requisito e continuar a representar? Trata-se de uma aporia evidente. A tese é insana.
“Ah, mas a Constituição delega aos parlamentares a cassação”. Eu insisto: não é assim, não. Embora o texto constitucional, com efeito, crie confusão, o caminho da solução também está ali. Já expliquei por quê. Combinem-se os artigos 15 e 55, e se verá que bastará à Mesa da Câmara declarar a cassação. Mais: o Artigo 37 cassa os parlamentares condenados por crimes de improbidade. É o caso.
Contradições absurdas
Posso ter entendido errado, mas acho que percebi certo alinhamento entre a ministra Carmen Lúcia, que preside o TSE, e Ricardo Lewandowski… Que coisa! Os ministros que votaram a favor da tal Lei da Ficha Limpa decidiram que são inelegíveis pessoas condenadas por um colegiado – serve até conselho profissional, o que é uma barbaridade! –, antes da sentença ter transitado em julgado, quando ainda cabe recurso. E agora dirão que o tribunal está impedido de cassar o mandato de parlamentares que, caramba!!!, perderam seus direitos políticos??? Ora, sem os ditos-cujos, uma pessoa não pode se candidatar, mas pode ser representante do povo? Não nos façam, senhoras ministros e senhores ministros, passar essa vergonha no mundo!
“Ah, mas a Câmara pode cassar!” É… Mas também pode não cassar. E aí? Num outro tema e apelando a outras leis, há o risco de vivermos a situação estapafúrdia do caso do assassino Cesare Battisti, que acabou ficando no Brasil – Tarso Genro talvez achasse que não temos homicidas em número suficiente circulando por aí… O Supremo decidiu, por maioria, que a concessão de asilo que lhe foi dada era ilegal. Ora, se ilegal, então o asilo não vale; se não vale, então ele teria de ser extraditado. Mas entrou a cascata de que extradição é prerrogativa do presidente da República. É, MAS ELE TEM DE AGIR SEGUNDO A LEI. Aconteceu, então, o inusitado: se a Justiça decidiu que o asilo era ilegal, mas se a extradição, mesmo nessa circunstância, é ato soberano do presidente, então temos um presidente acima da lei. Ora, se o Supremo cassou – e cassou!!! – os direitos políticos dos três deputados (consequência de sua condenação em última instância) e se a Câmara vai conservar o mandato de quem não tem direitos políticos, então teremos uma Câmara acima da lei.
A Revolução Francesa…
Os momentos mais profundos do ministro Ricardo Lewandowski são aqueles em que ele abandona a lei e faz digressões soltas, assim como quem está diante de guarnições de frango com polenta. Na quarta, ele refletia sobre a pena supostamente longa de alguns réus… Dizia, com ar de desconsolo, que eram excessivas e simplesmente ignorava o fato de que há gente lá que foi condenada por oito crimes, por seis crimes. A extensão da pena é decorrência do número de transgressões. Se o ministro acha que assim não pode ser, que não se deve atribuir pena a cada crime cometido (segundo a sua natureza), a hora é agora: renuncie ao Supremo, candidate-se a um cargo no Legislativo e vá lutar pelo Código Penal dos seus sonhos.
Nesta quinta, falando sobre a independência dos Poderes e coisa e tal, Lewandowski resolveu fazer uma leitura criativa da Revolução Francesa, afirmando que nem ela cassou mandatos e coisa e tal… Uau! O Terror francês cassava mandatos junto com a cabeça de seus titulares. E nem o tarado do Robespierre – à diferença de Niemeyer, ele não era só um teórico do assassínio – escapou. O historiador Lewandowski é uma lástima. Já atribuiu a Fídias o que o escultor jamais dissera. E agora, vemos, inventa um Revolução Francesa de veludo…
Tese perigosa
Mas não falei ainda – só esbocei em outro post — o melhor do seu pior. Na quarta, depois de Marco Aurélio ter inventado a sua jabuticaba penal – quase todos os crimes de mensalão estariam em mera continuidade delitiva, inclusive lavagem de dinheiro, o que é um assombro! –, ministros especularam sobre o efeito desastroso que isso poderia ter na primeira instância, por exemplo, muito especialmente, alertou o ministro Gilmar Mendes, nos vários processos derivados do, digamos, processo-mãe.
E aí Lewandowski falou um troço realmente do arco da velha. Segundo disse, o processo do mensalão era tão diferente e se deixava pautar por tantas heterodoxias (isso é falso) que ele achava que o que se decidisse ali pudesse virar jurisprudência! Custa-me crer que tenha dito isso. Ora, e não viraria por quê? Isso não depende da opinião que ele tem a respeito. Mas o pior vem agora: fosse como ele diz, aí, sim, observou o jurista Miguel Reale Jr., estaríamos diante de um julgamento de exceção.
Nunca antes da história da Galaxia!
Por Reinaldo Azevedo
“Economist” chama Dilma de “intrometida-chefe”, chama crescimento brasileiro de “moribundo” e sugere a demissão de Mantega
Como na cantiga infantil, ”o que era doce se acabou”. Texto da revista britânica The Economist chama o crescimento brasileiro de “moribundo”, acusa o intervencionismo malsucedido do governo Dilma e sugere a demissão de Guido Mantega, ministro da Fazenda. Leia texto da VEJA.com a respeito.
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A sucessão de declarações desastradas, a perda de confiabilidade perante os analistas financeiros e a condução desastrosa da política econômica são credenciais suficientes para que a presidente Dilma Rousseff – que quer ser vista como uma competente gestora – demita seu ministro da Fazenda, Guido Mantega. Uma decisão como essa a ajudaria a reconquistar a tão necessária confiança do mercado no país. Os conselhos são da tradicional revista britânica The Economist, que dedicou três matérias à economia brasileira – a qual recebeu o nada elogioso adjetivo de “moribunda” – na edição desta semana.
Na reportagem intitulada “Quebra de confiança: Se quer mesmo um segundo mandato, Dilma Rousseff tem mudar a equipe econômica”, a Economist literalmente “pede a cabeça” de Mantega. “Ela insiste que é tão pragmática. Se é mesmo, deveria demitir Mantega, cujas previsões exageradamente otimistas implicaram a perda de confiança dos investidores”, diz. A Economist acrescenta: “Dilma deve designar uma nova equipe econômica capaz de conquistar a confiança do mercado”.
Novos desafios
A revista relembra seus leitores que a presidente iniciou seu mandato em 2011 com uma economia em forte expansão. De lá para cá, o cenário mudou radicalmente. Após uma forte desaceleração no ritmo de crescimento ao longo do ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) do país encontra-se paralisado em 2012 e custa a recobrar vigor – a despeito dos esforços do ministro da Fazenda, que encerrará este ano com uma renúncia fiscal de 45 bilhões de reais, transformados em estímulos à produção.
A Economist destaca que os motores do crescimento brasileiro na última década estão se esgotando. “Os preços das exportações de commodities, embora continuem elevados, não estão mais em trajetória ascendente. Os consumidores hoje usam mais a sua renda para pagar dívidas por meio das quais conseguiram comprar carros e televisões [do que para continuar consumindo]”, explica. A reportagem argumenta que, diante deste cenário, o Brasil deveria lutar para melhorar sua produtividade e taxa de investimento. Mas aí reside o problema. Mantega e sua equipe parecem perdidos quando o assunto é promover a tão sonhada “redução do custo Brasil”.
A matéria reconhece que Dilma Rousseff tem se mostrado preocupada em ampliar a competitividade brasileira e conseguir desenvolvimento econômico por meio da atração de investimentos – elemento necessário para expandir e aperfeiçoar a capacidade produtiva nacional. Elogia, inclusive, alguns esforços para estimular o crescimento, como o corte na taxa de juros para sua mínima histórica, de 7,25%; as desonerações das folhas de pagamento das empresas; os planos de investimento em infraestrutura etc.
“Intrometida-chefe”
Contudo, a Economist não poupa críticas à forma com que Dilma tem conduzido seu governo, com excesso de intervencionismo estatal, fechamento da economia, entre outras medidas pouco ortodoxas. “A preocupação é que a presidente seja, ela própria, uma intrometida-chefe”, ironiza a reportagem. “Um bom exemplo é o aparente desejo de Dilma de reduzir o retorno sobre o investimento na ‘base do porrete’, não só para bancos, mas também para as empresas de energia elétrica e fornecedores de infraestrutura”, em referência à insistência do Palácio do Planalto em querer convencer empresários a investir ao mesmo tempo em que lhes nega um retorno adequado para participar dos investimentos.
“Ainda mais do que Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff parece acreditar que o estado deve direcionar as decisões do investimento privado. Tais microintervenções derrubam a confiança na política macroeconômica”, sentencia a Economist. Caso ela e seu ministro da Fazenda – com quem parece compartilhar das mesmas ideias – prossigam com a intenção de intervir em tudo, o “espírito animal” do empresariado não retornará. Assim, o que o Brasil mais precisa atualmente, que são investimentos para melhoria da competitividade, não virá nem por milagre.
Reeleição em risco
A Economist finaliza sua reportagem relembrando que Dilma espera ser reeleita em 2014 graças a um cenário de pleno emprego e salários reais em alta. Mas há um risco nessa aposta. Para a revista, essas conquistas podem ser comprometidas se a presidente não for capaz de proporcionar um crescimento econômico mais vigoroso. “Os eleitores terão de julgar se, na tentativa de conciliar tantas ‘bolas econômicos’, ela não teria deixado cair a maioria delas”.
Por Reinaldo Azevedo
Amigo de fé, irmão, camarada – Indiciado é avalista de aluguel de chefe da AGU
No Estadão:
O ex-advogado-geral-adjunto da União José Weber Holanda, indiciado por corrupção passiva pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, é o avalista de um contrato de aluguel da casa em que vive o ministro Luís Inácio Adams, da Advocacia-Geral da União (AGU). Na prática, Weber poderia ser considerado responsável pelas dívidas de Adams, caso ele deixasse de fazer algum pagamento ao proprietário do imóvel. O ministro da AGU mora na quadra QI 9 do Lago Norte, em Brasília.
A informação foi divulgada ontem à tarde no blog do jornalista Gerson Camarotti, no site G1. A AGU confirmou o fato e disse que Adams pediu à imobiliária a substituição de Weber como avalista depois do escândalo. A participação de Weber em um contrato de aluguel de Adams revela uma proximidade entre o advogado-geral da União e seu adjunto – que foi exonerado no dia 26 de novembro depois que a Polícia Federal o acusou de beneficiar empresas de aliados de Paulo Vieira, apontado como chefe do esquema desmantelado na Operação Porto Seguro.
Em nota enviada ao Estado, Adams informou que chegou a frequentar a casa de Weber, mas alegou que a relação entre os dois era “profissional”. “Eu conheci o Weber trabalhando na AGU. Durante esses dez anos de convivência, cheguei a frequentar a casa dele em alguns momentos. No entanto, na maioria das vezes a minha relação com ele era técnica e profissional”, afirmou o ministro.
Anteontem, no Senado, o advogado-geral da União disse que confiava em Weber, mas afirmou que se sentiu traído depois que foi descoberta a participação de seu adjunto no esquema de fraude de pareceres técnicos. “Eu levei um técnico, uma pessoa que acreditava que cumpria uma função, mas infelizmente ele quebrou a confiança e a quebra da confiança é algo que não se recompõe”, afirmou Adams.
A Polícia Federal acusa Weber de ter recebido dinheiro e duas passagens de navio do grupo de Paulo Vieira para beneficiar processos do ex-senador Gilberto Miranda na AGU. O ex-advogado-geral-adjunto nega que tenha recebido propina e diz que pagou pelos bilhetes.
Weber teria mantido contato com Paulo Vieira de abril a novembro de 2012, segundo as investigações. Ele teria produzido pareceres que fundamentariam dois empreendimentos de Miranda em terrenos que pertenciam à União, em São Paulo.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Paulo Vieira pede demissão de diretoria da ANA
Por Laryssa Borges, na VEJA.com:
Apontado como chefe da quadrilha desmontada pela Operação Porto Seguro da Polícia Federal, Paulo Rodrigues Vieira enviou nesta quinta-feira à Presidência da República pedido de demissão do cargo de diretor de hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA). A exoneração deverá ser publicada nesta sexta no Diário Oficial da União.
De acordo com as investigações da PF, Vieira integrava uma quadrilha infiltrada em órgãos do governo federal que praticava tráfico de influência e fraudava pareceres técnicos. Ele estava afastado do posto desde o estouro da operação policial, no dia 23 de novembro. Também faziam parte do grupo Rosemary de Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rubens Vieira, diretor afastado da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), e o número dois da Advocacia-Geral da União (AGU), José Weber Holanda.
Seis pessoas foram presas, e dezenove, indiciadas pelos crimes de formação de quadrilha, tráfico de influência, violação de sigilo funcional, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e corrupção ativa e passiva.
Influência - Nesta quinta-feira, durante audiência no Congresso, o presidente da ANA, Vicente Andreu, afirmou descreveu Paulo Vieira como uma pessoa “ambiciosa”, que almejava cargos no governo e carreira política, mas desprovida de conhecimentos técnicos para ocupar a diretoria de hidrologia do órgão.
Segundo Andreu, Vieira tinha temperamento “difícil” e tinha o hábito citar o nome de Rosemary de Noronha e do ex-ministro José Dirceu. “Era do tipo de pessoa que queria alçar outros voos. Falava muito em ser candidato, tinha pretensões eleitorais, chegava a mencionar que estava sendo cotado para ser ministro. Esse tipo de arroubos que a gente tinha que lidar”, disse. “[Vieira] Mencionava constantemente seu desejo de ser candidato a deputado estadual por outro partido. Mas ele sempre manifestou que ele concorreria por um partido que não era o PT.
Por Reinaldo Azevedo
Homem que denunciou esquema cita ajuda de Sarney a esquema de pareceres
Por Fábio Frabrini e Bruno Boghossian, no Estadão:
Delator do esquema de venda de pareceres em órgãos federais, o ex-auditor Cyonil Borges disse que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), teria posto sua influência a favor dos interesses da organização no Tribunal de Contas da União (TCU). Em denúncia enviada ao Ministério Público Federal (MPF), ele relatou que o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira teria conseguido alterar a tramitação de processo em favor da empresa Tecondi após acionar Sarney. O senador nega.
De acordo com o inquérito da Operação Porto Seguro, Vieira fazia lobby no TCU para beneficiar a Tecondi em auditoria que discutia irregularidades em contrato de arrendamento de áreas do Porto de Santos. A Polícia Federal sustenta que o ex-diretor ofereceu propina de R$ 300 mil para que Cyonil elaborasse parecer favorável à empresa.
Em 2007, o ex-auditor se manifestou contra a permanência da Tecondi no terminal paulista. O processo foi remetido ao gabinete do então relator, Marcos Vinícius Vilaça, hoje aposentado. Entre 2008 e 2010, Vieira teria operado para que o TCU determinasse nova inspeção pela Secretaria de Controle Externo (Secex), em São Paulo. Com isso, haveria a chance de outro parecer, favorável à empresa, ser elaborado.
Na representação, de 15 de fevereiro de 2011, Cyonil relata conversas com Vieira, nas quais o ex-diretor teria citado o senador. “Paulo Vieira disse que pediria a José Sarney, que indicara, à época, o ministro Vilaça, para reencaminhar o processo à secretaria de São Paulo e, assim, autorizasse a inspeção.” Rejeitado pelo Senado, Vieira só foi nomeado para a diretoria da ANA após manobra de Sarney.
Vilaça relatou o processo até junho de 2009, quando se aposentou. No primeiro semestre daquele ano, o ministro enviou o caso a São Paulo para que técnicos se pronunciassem sobre informações apresentadas pelo Ministério Público e pela Companhia Docas de São Paulo (Codesp), responsável pelo porto.
Nova inspeção. O caso voltou a Brasília. Em outubro, José Múcio assumiu a relatoria e determinou a inspeção em São Paulo. Pelos registros do TCU, houve nova manifestação da Codesp, o que teria motivado a remessa para o Estado para avaliar as condições “atualizadas” do contrato. A inspeção ficou a cargo de Cyonil, que, segundo a PF, recebeu propina para elaborar o relatório. No documento, ele muda de posição: defende a manutenção do contrato com a Tecondi e abre brecha para que a empresa assuma novas áreas no porto.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Niemeyer, a obra e o pensamento. Ou ainda: Por que ser “poeta da curva” é superior a ser “poeta da linha reta”?
Que coisa!
Quando Oscar Niemeyer fez 99 anos, publiquei um post neste blog sobre tão notável personagem. E expliquei ali por que o considerava metade gênio e metade idiota. Isso foi em 15 de dezembro de 2006 – no primeiro ano do blog. O texto foi bastante comentado e coisa e tal, mas os jegues militantes, tudo indica, não o haviam descoberto até agora. O que fiz ontem, no primeiro texto, foi escrever uma pequena introdução e anunciar que repetia aquele texto. Qualquer pessoa que o tenha lido sabe que fiz um elogio à obra de Niemeyer. Mais do que isso: sustentei que a qualidade do trabalho de um homem e a qualidade de seu pensamento nem sempre andam juntas, são proporcionais ou têm o mesmo sentido.
Num segundo texto, sustentei, e sustento, que, na raiz da ambiguidade que eu apontava, estavam, sim, as escolhas ideológicas que fiz. Um liberal conservador, acho eu, tem de, nesse particular também, pensar e se comportar diferentemente das esquerdas, que demonizam artistas – isso é histórico – por conta, eventualmente, de seu pensamento ou de suas escolhas ideológicas. Não raro, basta que ele não seja um militante e se dedique apenas à sua obra para ser considerado um “reacionário”.
Notem: não toquei na obra de Niemeyer, QUE, NÃO OBSTANTE, NÃO ESTÁ ISENTA DE CRÍTICAS POR SUA PRÓPRIA NATUREZA. É perfeitamente possível, legítimo e intelectualmente desafiador que se tentem, por exemplo, estabelecer relações entre o que criou e sua ideologia. É perfeitamente possível que se leia a sua obra à luz de suas relações com governos – ele sempre foi um arquiteto do poder: no Brasil e fora. O “comunista” Niemeyer sempre foi um cortesão.
Independentemente disso, reconheci, é autor de uma grande obra. E até fiz algumas considerações sobre a proximidade ente arte e poder. Boa parte dos que me atacam o faz movida por ignorância. Não têm a menor ideia dos assuntos de que tratei.
Inaceitável
Inaceitável, aí sim, é que se fale da obra de Niemeyer ignorando quem ele era, ainda que seja para fazê-lo como fiz: para distinguir uma coisa de outra; para estabelecer a fronteira entre o arquiteto e o ideólogo. Lembro que Niemeyer, vejam que mimo!, defendeu o golpe dado pela burocracia comunista contra Gorbachev!!! Tenham paciência!
Mas atenção! EU, REINALDO AZEVEDO, O QUE CLASSIFICOU NIEMEYER DE METADE GÊNIO E METADE IDIOTA, O QUE REAFIRMO, SEPAREI O SEU COMUNISMO DE BEIRA DE PISCINA DE SUA OBRA. O que leio por aí, no entanto, é outra coisa.
Delinquentes intelectuais das mais variadas colorações e com variados teores de convicção, ASSOCIAM SUA IDEOLOGIA À SUA OBRA. Acham que a propaganda comunista que fazia era parte das suas utopias, que teria sido expressa também em sua obra. Qual a diferença, em essência, no que concerne ao humanismo, entre o comunismo e o fascismo? Nenhuma! Qual a diferença na espécie? O comunismo matou muito mais.
Ora, então Niemeyer morre, e até o comunismo passa a ser coisa boa? Então Niemeyer morre, e até a sua ideologia homicida se torna parte de sua grandeza? Quando Leni Riefenstahl morreu, felizmente não li – se houve, desconheço – nenhum artigo sustentando algo assim: “Alto lá! Afirmar que ela serviu ao nazismo corresponde a não reconhecer a qualidade de sua obra”… Ora, vão plantar batatas! Niemeyer, uma personalidade, com efeito, conhecida no mundo inteiro emprestou seu apoio a tiranos, a notórios homicidas.
E eu lembrei isso TAMBÉM, tendo o que considero o bom senso, reitero, de preservar a sua obra, que, INSISTO, NÃO ESTÁ ISENTA DE UM EXAME CRÍTICO POR AQUELES QUE DELA NÃO GOSTAM. E HÁ MUITOS.
Amor pela tirania
Eu estou me lixando para o que zurram a meu respeito. Os meus leitores sabem que não sou movido nem mesmo a elogios. Fiquei quase isolado aqui quando me opus ao aborto de anencéfalos ou quando fiz restrições à pesquisa com embriões. Muitos leitores que costumam gostar do que escrevo disseram: “Ah, Reinaldo, nessa você errou…” E eu não mudei de ideia, embora fossem ponderações gentis, generosas, humanistas, sim… Imaginem se, agora, vou me intimidar porque algumas bestas ao quadrado resolveram que o “comunismo” de Niemeyer era parte de sua genialidade. Não vejo nada de genial em defender um modelo que matava por indústria.
Mas entendo, claro… Este é, afinal, um país em que um tirano como Getúlio Vargas, cuja polícia matou e torturou nos porões, foi transformado em herói nacional porque, mais tarde, metendo o país numa crise institucional, resolveu dar um tiro no próprio peito. E por que o amor ao tirano? Ah, porque as esquerdas e os nacionalistas decidiram transformá-lo num herói anti-imperialista. Vão caçar sapo!
Niemeyer era metade gênio e metade idiota. E há, por óbvio, inclusive no Brasil, quem o achasse cem por cento idiota. E, como se vê, muitos pensam que era cem por cento gênio. Estão calados porque os “democratas” do debate decidiram que é possível, sim, discutir a sua obra e o seu pensamento, desde que se concorde com ambos.
Poeta da curva
Entendo todas as metáforas sobre a sua obra como o “poeta da curva”. Só noto que isso nem mesmo chega a ser um juízo de valor. É só um brocado retórico. Até porque se pode ser também um poeta da linha reta. E o juízo de valor estaria em dizer por que o poeta da curva é estética ou moralmente superior ao da linha reta.
Encerro
Escrevi ontem um texto sobre a Irmandade Muçulmana. Vejam lá. Eu não me intimido com irmandades… Tampouco com a Irmandade Petralha.
Por Reinaldo Azevedo
Morre Oscar Niemeyer, metade gênio e metade idiota
Morreu o arquiteto Oscar Niemeyer, aos 104 anos. Pensava e escrevi coisas detestáveis. Dele se pode dizer o que disse Millôr Fernandes sobre um colega seu de Pasquim: “Metade é gênio, e metade é idiota”.
Não tenho nada a acrescentar ao que escrevi sobre ele, neste blog, quando fez 99 anos – teve tempo de escrever e de dizer muitas tolices depois. Mas nada disso, acho, macula a sua obra. Reproduzo aquele texto. Volto para encerrar.
*
Um homem não é sua obra. Céline — Louis-Ferdinand Céline — era um idiota político e um antissemita delirante. E, no entanto, escrevia como um príncipe. Cumpre não usar o seu belo texto para justificar seu cretinismo. Ezra Pound era um fascistoide do miolo mole, mas um poeta admirável (embora não do meu gosto pessoal) e um homem de cultura. Os textos sobre política de Fernando Pessoa não servem nem para catar cocô. E foi, a meu ver, um dos maiores poetas de todos os tempos em qualquer língua. A lista seria gigantesca. Há cretinos políticos de esquerda também. O meu romancista predileto no Brasil, Graciliano Ramos, era comunista, mas São Bernardo, Angústia, Vidas Secas ou mesmo Memórias do Cárcere — relato de quando foi preso pela ditadura de Getúlio justamente porque era comunista — não são.
Os meus amigos sabem o que penso: artistas jamais deveriam se ocupar de política — não em sua arte. Não acredito em obra engajada, a não ser naquela que expressa melancolia, desespero e saudosismo. A boa arte política é sempre reacionária, voltada para o passado. Artistas que se dobram a utopias finalistas se transformam em prosélitos. Desconheço se Churchill escreveu algum verso ou disse algo relevante sobre a condição humana. Mas, em política, foi o maior entre os, chamemo-lo ainda assim, contemporâneos. Cada coisa em seu lugar. É típico do obscurantismo e da burrice — fascista ou leninista — satanizar a obra deixada por um artista por conta do seu alinhamento ideológico. Seria como censurar Churchill porque mau poeta.
Respeito, como quase sempre, opiniões contrárias e até entendo a natureza da crítica. Pessoalmente, no entanto, acho Oscar Niemeyer um gênio, embora deplore as suas escolhas políticas e enxergue em sua trajetória de vida o principal desvio de caráter dos comunistas: o oportunismo nos meios com o totalitarismo no fim. Mas e daí? Vou dizer, por isso, que não vislumbro no seu trabalho a centelha do gênio? Vislumbro. Não sei quanto tempo ainda dura esta nossa aventura. Pelo tempo que durar, o seu trabalho restará como bom exemplo do que pode produzir o gênio humano.
Assim como, sei lá eu, o gótico foi a expressão material do espírito de um tempo, acho que Niemeyer conseguiu dar forma à cultura moderna, com a leveza do seu concreto, o que já é quase um clichê. A Catedral de Brasília, templo de oração projetado por um ateu militante, consegue a síntese perfeita entre o mundo horizontal e igualitário — o espírito do tempo moderno — e o apelo ao divino, a memória cultural que uma igreja, qualquer uma, evoca. Acho descabidas as críticas a seus prédios brasilienses — “desconfortáveis”, “ignoram a natureza”, sei lá o quê… Mas tudo bem: essa crítica é pertinente e aceitável.
O que censuro mais em Juscelino Kubitschek do que nele, aí, sim, é a vocação para achar que a sociedade obedece a regras que cabem num projeto. Brasília foi, em muitos aspectos, um delírio caro, desnecessário e megalômano, que, ademais, afastou a política da vida dos cidadãos comuns. A concepção, em si, é autoritária, menos pelo que possa haver de “comunismo” embutido do que de descolamento de certa elite da realidade do país. Cidades só nasciam por atos administrativos na vontade de imperadores e déspotas. Elas são construções coletivas, como, aliás, a Brasília cheia de defeitos de hoje prova à farta.
Voltei
A estupidez política de Niemeyer, que defendia regimes homicidas, não condena a sua obra. Mas a sua obra também não absolve a sua estupidez política.
Texto publicado originalmente às 23h22 desta quarta
Por Reinaldo Azevedo
Niemeyer e os zurros dos 100% idiotas
Ai, ai, grande revolta no Twitter e também aqui porque me referi, num post publicado no fim da noite (abaixo), a Oscar Niemeyer, que morreu ontem, como “metade gênio e metade idiota”, na pista de Millôr Fernandes, que assim definiu um de seus parceiros de “Pasquim”. Os mais revoltados, como sempre, não leram o que escrevi. Os ainda mais revoltados leram e não entenderam zorra nenhuma. Escrevo para quem lê com o cérebro, não com o fígado militante. De fato, trata-se um de um artigo elogioso ao trabalho do arquiteto, não o contrário. A metade idiota ficou por conta de sua adesão estúpida ao comunismo chique.
Ora, vão plantar batatas! Fiz com ele, aliás, o que os comunistas não costumam fazer com seus adversários políticos: reconhecer a grandeza da obra, independentemente das escolhas ideológicas do autor. Niemeyer pode ter sido tudo – inclusive o arquiteto de primeira grandeza –, menos o “poeta” humanista que está sendo exaltado nas reportagens de TV. Muito pelo contrário.
Não houve tirano comunista – a começar do próprio Stálin, de quem era devoto – que não tenha incensado; não houve regime de força de esquerda que ele não tenha aplaudido. Reconhecer, a despeito disso, a sua obra é coisa que, data vênia, liberais conservadores como eu costumam fazer. Com os comunas, é diferente. Aqueles de quem Niemeyer puxava o saco mandavam e mandam seus desafetos para a cadeia ou para a morte. Perguntem se a Cuba de Fidel Castro reconheceu a poesia de Cabrera Infante ou de Reinaldo Arenas. Perguntem se as esquerdas admitiram a grandeza de Jorge Luis Borges.
Niemeyer como expressão humanista? Não mesmo! Tinha, sim – e também acho besteira negá-lo –, um talento imenso, que transcendeu sua indigência política. É bem verdade que, aqui e lá fora, contou com amplo financiamento de governos – muitos deles eram ditaduras – para realizar seus monumentos. Mas nem isso me faz mudar de ideia. Mesmo os artistas “da corte”, se genuinamente bons, conseguem superar a contingência de estarem atrelados ao poder. Não que esteja comparando, mas é o caso do maior poeta de todos os tempos, Virgílio. É o caso de toda a arte renascentista. A produção não precisa ser marginal ou contestar valores dominantes para ser grande. No ensaio “O que é um clássico?”, Eliot empresta essa condição a Virgílio justamente porque o vê como a síntese de uma civilização triunfante.
Na verdade, fiz um elogio ao Niemeyer arquiteto, não o contrário. E deplorei uma vez mais sua ideologia, que justificava os piores facínoras. Mas a turma que zurra e escoiceia, sem entender uma linha do que leu, mandou brasa.
Entendo a razão. Andei lendo alguns perfis derramados que já estão nas redes e nos jornais. Curiosamente, fala-se pouco do arquiteto e muito do suposto humanista. A sua adesão ao comunismo (ou a defesa que fazia do regime, já que militante propriamente nunca foi; dava dinheiro para a causa), curiosamente, é apontada como um dos traços de seu… humanismo! Ora, tenham paciência! Isto, sim, é nauseante e evidencia uma crise de valores que toma conta de setores consideráveis da imprensa.
O que há de glorioso em defender tiranias?
O que há de generoso em apoiar ditaduras?
O que há de humanista em apoiar homicídios em massa?
Se Niemeyer fosse um fascista, estaria a merecer essas considerações? Não! E seria justo que não! Por que um fascista deveria ser elogiado por sua ideologia? Mas me respondam: e por que deve um comunista? Leio coisas assim: “Ele amava a vida!”. Certamente não a dos que morreram nos gulags. Qual é?
Ao arquiteto Niemeyer, a metade genial, o meu aplauso. Ao comunista Niemeyer, a metade idiota, reitero o meu desprezo. Abaixo, um pequeno apanhado dos zurros (conforme o original):
O André Mortatti escreve:
“Que triste lê-lo, Reinaldo. És um completo idiota. triste testemunhar tua imensa ignorância.”
Onde está a minha “ignorância”? Ele não disse. Só não refreou o desejo de me ofender.
O Rodrigo, à diferença de Niemeyer, acredita em Deus e, segundo entendi, decidiu encomendar a minha alma, como faziam os inquisidores quando condenavam alguém à fogueira para o seu próprio bem:
“Deus há de aplacar essa animosidade delirante que você têm dentro de você e te dar paz.”
O José Natalino, que não tira as duas mãos do chão por convicção, escreve isto:
“O Sr. é de extrema direita. Tenho nojo… felizmente pessoas como o Sr. são vistas como lunáticos… ninguém o leva a sério… claro que esxistem os debeis mentais que lhe adoram.. mas são isso… débeis mentais insignificantes… sem o salario do psdb o Sr nao seria um mero idiota falando bobagens”
O Natalino esqueceu que era Niemeyer quem levava dinheiro dos governos, de qualquer partido, para erigir seus monumentos.
O Fernando Freitas já acha que a crítica só deve ser feita por celebridades. Segundo o seu critério, uma opinião de Tiririca sobre filosofia é mais importante do que a de Schopenhauer:
“Esse Reinaldo Azevedo é o famoso quem mesmo?
Para a maioria do povo brasileiro ele é um ilustre desconhecido metido a intelectual sem passar de um mero “IMBECIL”, só tenho um adjetivo para esse senhor. DESQUALIFICADO!!!!!”
O Luiz Gonzaga ficou sem palavras:
“que desespero de ler isso”.
O Thiago escreveu o texto impossível:
“Ainda bem que ninguém liga para o que você pensa.”
Ninguém, exceto o… Thiago!
A Maria da Piedade Peixoto dos Santos, veio com todos os seus sobrenomes:
“Reinaldo há muito tempo não tenho o desprazer de ler um texto tão fora de propósito como esse seu amontoado de bobagens. Um gênio com Niemeyer prescinde de ser unanimidade, já que a unanimidade é burra, como pontificava Nelson Rodrigues. Aceito que vc ache isso que disse dele. Mas hoje, só hoje … porque não te calas, Reinaldo?”
Não sei se entendi direito, mas acho que ela me pediu para ser burro só por um dia…
O Ney Torres parece que andou consumindo ideias pesadas. Ou comeu muita banana Leiam:
“Que me desculpe a revista VEJA mas este “jornalista” só podia está bêbado ao escrever tamanha idiotice…chamar de idiota os defensores do anticapitalismo só pode vir de alguem que não enxerga q o capitalismo está se destruindo.É nítido que esse câncer está agonizando…”
Agora que sei que o capitalismo vai acabar, vou me preparar para ser um chefe comunista…
A Catarina decidiu fazer uma digressão sobre a língua portuguesa. Vejam com que graça:
“Caramba, que tristeza…
A língua portuguesa, nos presenteada por tantos poetas e escritores, retorcida e deformada para tomar a forma de um texto deplorável.”
Se eu verter o que ela escreveu para o português, talvez entenda…
O Fábio Oliveira acha que o comunismo não é coisa deste mundo:
“Cuidado! O céu com certeza é mais comunista que capitalista. Quando você chegar lá, esses idiotas vão te pegar! corre cabeçudo!ah ah ah!”
Alguém me explica por que ele riu?
A Anelisa já é, assim, mais visceral:
“Nojo de cada palavra que você escreve.”
Retomo
E assim segue uma parcela da humanidade, zurrando com desenvoltura. Tive a delicadeza – não que devesse isso a ele; devo à cultura – de distinguir a obra de Niemeyer dos regimes homicidas que ele defendeu. Apontei a metade idiota de um vivo (não de um morto!!!), reconhecendo o que chamei de “metade genial”. Ele próprio considerava que a morte de 40 milhões na União Soviética ou de 70 milhões na China era o justo preço que se pagava por uma utopia.
A sua metade idiota era também asquerosa. Nunca se preocupou com os poetas, os músicos, os bailarinos, os escritores e os arquitetos que a União Soviética e os demais países comunistas mandavam para os campos de trabalho forçados. Se chamado, iria lá e ainda construiria um de seus monumentos para abrigar os “reacionários”. Em nome do povo!
Vá estudar, cambada de 100% de idiotas!
PS – Viram só de quanta coisa eu os livro impedindo essa gente de tomar conta dos comentários? Aqui não! Eles até podem me ler porque são viciados em mim. Mas sem direito a voz e a voto na nossa casa. Há milhares de blogs por aí precisando de gente assim, certo?
Por Reinaldo Azevedo
Direitista ou não petista casados têm “amante”; Lula tem “amiga íntima”. Ou: José Eduardo Cardozo me dá vergonha alheia
É espantoso! Conservadores, reacionários e até governistas não-petistas, quando mantêm relações fora do casamento, têm “amantes”, segundo o que definem os dicionários. Mas como empregar esse termo para Luiz Inácio Lula da Silva, Santo Deus? Não! Dados os muitos serviços que ele prestou à nação, a sua amante, flagrada praticando, entre outras coisas, tráfico de influência e corrupção ativa, há de ser chamada de “amiga íntima”. José Eduardo Cardozo, que já pode ser considerado um dos queridinhos da imprensa companheira, aparece no melhor de sua forma. Suas ginásticas vocabulares põem no chinelo o Márcio Thomaz Bastos do mensalão, em 2005, que propagou a tese do “simples” caixa dois… Leiam o que vai no Estadão Online. Os negritos são meus. Volto em seguida.
Envolvimento de Lula em esquema está “desmentido”, diz Cardozo
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, negou o envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas irregularidades investigadas na Operação Porto Seguro. A suspeita foi levantada pelo deputado Anthony Garotinho (PDT-RJ), pelo fato de Lula ser amigo íntimo de Rosemary Noronha e de tê-la nomeada chefe do escritório da Presidência em São Paulo desde seu primeiro governo.“Imaginar que o ex-presidente estivesse envolvido por trás disso está ao meu ver desmentido”. Rose, como é conhecida, foi indiciada na operação por corrupção, tráfico de influência e falsidade ideológica.
Em depoimento na Comissão de Segurança da Câmara, Cardozo disse que a suspeição sobre Lula foi construída a partir de uma interpretação forçada em cima de e-mails pinçados seletivamente pela imprensa do inquérito, que soma 11 mil páginas. Ele disse que as autoridades que conduziram o inquérito são sérias, agiram tecnicamente e nada indica que Lula teve qualquer relação com os fatos. “Os delegados não sofreram nenhuma injunção política e, à luz da lei penal, não havia como enquadrar Rose por formação de quadrilha, nem Lula com os fatos apurados”, garantiu.
O que se sabe sobre a amiga do ex-presidente é que “ela tinha contatos ilegais, relações indevidas e foi duramente enquadrada em três tipos criminais, mas não participava do núcleo central da quadrilha, ao contrário, foi escanteada pelos seus membros, como mostram alguns diálogos interceptados”, explicou. “O que ela fazia era, usando sua condição de chefe do escritório, facilitar contatos de membros da quadrilha em troca da favores”, acrescentou.
Cardozo minimizou o e-mail em que Rose, falando com um membro da quadrilha, o manda “se aproximar do PR” e lhe promete que depois disso “eu caio matando”. Segundo ele, os delegados “foram extremamente criteriosos” e teriam dado outra interpretação se assim entendessem.
Adams
Cardozo também defendeu a permanência no cargo do advogado-geral da União, Luís Adams. Ele rechaçou a suspeita, levantada pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), de envolvimento de Adams no esquema de venda de pareceres em órgãos do governo, pelo fato de ter nomeado como seu adjunto o advogado José Weber de Holanda Alves, um dos indiciados pela Operação Porto Seguro. “Não podemos jamais ser tão implacáveis. As escolhas humanas geram situações que nos decepcionam. Até nas nossas famílias ocorrem decepções”, afirmou.
Segundo o ministro, quando Adams nomeou Weber, “certamente avaliou que fosse uma pessoa séria”, observou. “Não posso fazer imputações a Luís Adams, ele escolheu alguém em quem confiou e foi traído”, emendou. Cardozo disse que se confiasse em Weber como Adams, também o nomearia. “Eu já nomeei pessoa sob processo por engano”, acrescentou. “No caso do Weber, nem condenação ele tinha. Às vezes nos enganamos com escolhas. Seria injusto condenar o chefe da AGU por isso”, defendeu.
Acusado pela oposição de ter agido seletivamente em favor da chefe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, que não foi indiciada em formação de quadrilha, nem teve o sigilo telefônico quebrado, Cardozo afirmou que a decisão foi técnica e submetida ao crivo do Ministério Público e do Judiciário. “Se errou a PF, erraram também o MP e a juíza que presidiu o inquérito”, afirmou.
Cardozo pontuou que Rose está indiciada em três crimes graves: falsidade ideológica, tráfico de influência e corrupção ativa. Mas não foi indiciada por formação de quadrilha, a seu ver, por uma avaliação estritamente técnica de quem conduziu a investigação. “Não posso dizer o que o inquérito não revela. Ela (Rose) não era membro da quadrilha. Essa é a conclusão de quem avaliou tecnicamente as tipificações. Não se pode pensar politicamente quando se fala de crime”, observou.
Voltei
A investigação ainda nem foi feita, mal começou, e José Eduardo Cardozo já anuncia atestados de inocência. Os indícios que há apontam na direção oposta à de sua fala. As traficâncias de Rosemary aparecem, apontam os e-mails, frequentemente associadas à proximidade que tinha com o então presidente, seu então amante. Se romperam, não sei. Lula diz que não fala sobre “questões privadas”. Como assegurar que ele não sabia de nada se nada ainda foi devidamente investigado? O que se tem é a fase inicial da apuração, ora essa.
Pegue-se o caso do petista Paulo Vieira, que estava na ANA por vontade de Lula e com intermediação de Rose: ele só foi aprovado numa terceira votação. Havia, como se vê, a determinação de nomeá-lo e ponto final! Por quê? Competência técnica? Importância política? Nem uma coisa nem outra.
A avaliação que Cardozo faz do comportamento de Adams é igualmente constrangedora. Faltou informar que o Advogado Geral da União nomeou o seu segundo, a quem deu plenos poderes, contra a vontade da Casa Civil. Mais: já não havia mais processo judicial contra ele por mera questão formal – prazo expirado –, não por uma questão de mérito.
Cardozo não foi ao Congresso prestar esclarecimentos. Foi lá, conforme o previsto, para adensar a cortina de fumaça.
Ah, sim: por que mesmo Lula não tem nada a ver com as lambanças de sua “amiga íntima”? Porque não, ora! Pela mesma razão porque não se emprega, no seu caso, a palavra “amante”. Lula não está apenas acima da lei. Ela está acima até da linguagem. Quando estourar algum escândalo com um direitista que misture interesse público e folguedos de alcova, aí, então, se poderá empregar a palavra “amante” sem interdições.
O Google está aí. Vejam quantas vezes a dita grande imprensa usou a palavra “amante” para Mõnica Veloso, que havia sido, afinal, amante de Renan Calheiros. “Ah, com o Renan, tudo bem!!!” Lula nem mesmo comete adultério, só “ato político”.
Texto publicado originalmente às 20h07 desta segunda
Por Reinaldo Azevedo
A situação de Luís Inácio Adams continua insustentável. Ou: Cardozo, homem que confunde alhos com bugalhos
Luís Inácio Adams, advogado-geral da União, está tentando encontrar a quadratura do círculo no que diz respeito à ética pública. A melhor coisa que faria para o país seria afastar-se enquanto durar a apuração do que realmente se passou na Advocacia Geral da União. E não tem de ser assim em razão de alguma acusação que lhe imputam. Ninguém o acusa de nada, a não ser de uma coisa, uma só!, que está autocomprovada: José Weber Holanda era o segundo da AGU por decisão sua. Mais do que decisão: foi uma insistência, uma determinação, uma teimosia.
Não havia outra pessoa na República habilitada para o cargo? A resposta, certamente, é sim. Não havia outra pessoa que gozasse de igual confiança do chefe (Adams)? Pelo visto, não! E é aí que está o problema, senhor advogado-geral; é por isso que Vossa Excelência tem de sair ou de ser saído.
Quando era chefe da Casa Civil uma certa senhora chamada Dilma Rousseff, Adms tentou fazer de Weber Holanda o seu segundo. A Casa Civil disse “não”. E disse porque o senhor em questão estava envolvido em alguns casos nebulosos, inclusive com processo na Justiça, de quando ainda era procurador-geral do INSS. Considerou-se, ora vejam!, que tinha bens incompatíveis com os seus rendimentos. Pois bem.
Dilma deixou a Casa Civil para se candidatar à Presidência. Em seu lugar, assumiu Erenice Guerra – cujo destino é conhecido. E o que fez Adams? A exemplo do Pequeno Príncipe, que nunca desistia de uma pergunta, Adams decidiu não desistir de sua indicação: voltou ao nome de Weber Holanda. E, aí, emplacou. É de se indagar, claro!, como a presidente aceitou o funcionário que a Dilma da Casa Civil havia rejeitado. Talvez não tenha prestado atenção.
Notem bem: Adams, está evidente, FEZ QUESTÃO DE TER WEBER HOLANDA. Como nada indica, fazendo um gracejo, que se trate de uma “relação íntima” do tipo que Lula mantinha com Rosemary, a insistência não encontra justificativa nem mesmo no que tenho chamado de “amores ancilares”. Qual é a raiz da atração fatal de Adams? A notável capacidade intelectual do rapaz? Não parece que seja pra tanto. Ao tentar se justificar, tivemos pistas de um intelecto não muito atraente.
Adams conhecia esse processo. Insistiu em Weber Holanda mesmo assim. Afirma que a investigação já havia sido arquivada, o que é fato. Mas o fora porque houve perda de prazo, não porque se tenha analisado o mérito. Sem condenação judicial, com efeito, todo mundo é inocente. Assim é no direito penal. Mas estamos aqui a falar de política. Não se pode aplicar pena a ninguém sem condenação.OCORRE, SENHOR ADAMS, QUE NÃO CONTRATAR ALGUÉM PARA A AGU EM RAZÃO DE UM PROCESSO DESSA NATUREZA NÃO É APLICAÇÃO DE PENA! Trata-se apenas de prudência. Deixar de lisonjear alguém com um cargo não é uma punição, senhor advogado-geral!
Em audiência pública no Senado nesta quarta, Adams alega agora que não sabia de alguns casos aos quais aparece ligado o nome de seu ex-braço-direito, ao qual ele conferiu amplos poderes. Bem, isso só piora a situação e torna ainda mais pessoal e personalista a indicação de Weber Holanda. São muitos os casos importantes em que este senhor atuou. Um deles, envolvendo uma ilha do interesse do ex-senador Gilberto Miranda, remete a uma operação verdadeiramente bilionária.
Falácia de Cardozo
Presente à audiência, José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça – também um convidado –, tentou sair em socorro do advogado-geral, afirmando que nem sempre é possível saber de tudo etc e tal. E usou como exemplo o ex-senador Demóstenes Torres, que foi cassado pelo Senado. Todos o tinham na condição de pessoa respeitável e acima de qualquer suspeita, citou Cardozo, lembrando que ele próprio o recebeu algumas vezes.
Vamos lá. Pra começo de conversa, petista que é, Cardozo já se reuniu na vida com gente bem pior do que Demóstenes. Logo, não adiante ele tentar tomar o ex-senador como o pior exemplo de pessoa com a qual já dividiu o teto porque isso é obviamente falso. Em segundo lugar e não menos importante, Demóstenes foi eleito pelo povo de Goiás; Weber Holanda foi eleito por Adams. Agora que o povo conhece a ficha de Demóstenes, duvido que seja eleito para alguma coisa. Adams elegeu o seu braço-direito conhecendo muito bem a sua ficha e dando de ombros pra ela, ignorando, inclusive, a restrição que havia sido feita pela Casa Civil.
A situação de Luís Inácio Adams é, no que concerne à ética da coisa pública, insustentável. Quando menos, deveria se afastar ou ser afastado enquanto se apura o que de fato aconteceu na AGU. De uma coisa o sr. Adams não pode escapar: ao nomear Weber Holanda, ele decidiu correr o risco. Ou melhor: ele decidiu fazer o Brasil correr o risco!
PS – De modo um tanto patético, Adams afirmou que, doravante, qualquer nomeação feita por seu gabinete terá como exigência prévia um “nada consta” da corregedoria do órgão. Sei… Aquele que ignorou o veto da Casa Civil agora promete se subordinar a uma departamento da CGU.
Por Reinaldo Azevedo
Cemig vai à Justiça para renovar concessões sob regra atual, diz Anastasia
Na VEJA.com:
A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) recorrerá à Justiça para tentar renovar as concessões de três de suas maiores usinas nos mesmos termos dos atuais contratos. Foi o que afirmou nesta quarta-feira o governador do estado, Antonio Anastasia (PSDB), a quem a empresa está subordinada. De acordo com ele, os contratos das usinas de Jaguara, São Simão e Miranda foram “violentados” pelas novas normas definidas pelo governo federal que levaram à renovação antecipada dos ativos de geração e transmissão de energia do Brasil.
“Evidentemente (a Cemig) vai a juízo”, disse o governador, lembrando que os contratos das três hidrelétricas preveem uma nova renovação “nos termos e nos moldes atualmente vigentes”. “Pela medida provisória (579) isso não está sendo respeitado. Então, é claro que a Cemig vai tomar as medidas necessárias a salvaguardar seus direitos”, salientou.
Nesta terça-feira – prazo final para as empresas assinarem as concessões antecipadas –, a estatal mineira renovou contratos de cerca de 5 mil quilômetros de linhas de transmissão, mas desistiu da renovação pelos novos termos de outras 18 hidrelétricas, além das que vão ser discutidas na Justiça, cujas concessões também vencem até 2017. “Num exemplo hipotético, o custo de operação é 40 e a remuneração seria dez”, justificou.
Segundo Anastasia, no caso desses outros ativos, a Cemig ainda tem esperança de negociar com o governo federal antes do fim dos contratos – a maior parte termina em 2015. “Nenhum dos lados encerrou o diálogo. Se não houver mudança, a Cemig participa das licitações normalmente”, observou, ressaltando uma possível vantagem nessas disputas devido à “expertise” da empresa.
Decisão técnica
Durante encontro com a imprensa no Palácio da Liberdade nesta quarta, Anastasia negou qualquer influência política na decisão da Cemig de desistir da renovação das concessões dos ativos de geração. Além da estatal mineira, a Companhia Energética de São Paulo (Cesp), a Companhia Paranaense de Energia (Copel) e a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) também se negaram a renovar contratos. No caso da última, a Justiça concedeu liminar permitindo o adiamento da decisão.
Três das quatro estatais são comandadas por governadores de partidos de oposição ao governo federal – os tucanos Geraldo Alckmin, em São Paulo, e Beto Richa, no Paraná, além de Anastasia. A exceção é Raimundo Colombo (PSD), em Santa Catarina. O mineiro admitiu que manteve diálogos a respeito da questão com Alckmin (com quem disse “conversar sempre”) e “com a Copel”, mas afirmou que as decisões foram estritamente “técnicas”. “Querem politizar uma questão técnica”, declarou.
De acordo com Anastasia, é uma “coincidência” o fato de as recusas terem partido de empresas ligadas a opositores da presidente Dilma Rousseff. “Os valores propostos pelo governo federal são muito baixos. Foi demonstrada a inviabilidade de adesão, o que aconteceu também com outras empresas. Que, por uma coincidência, são estatais de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina”, ressaltou.
“Mas como não há nenhum critério político nisso, nós aderimos à transmissão. Se houvesse qualquer questão de ordem política, não haveria adesão. Aderimos integralmente porque o governo federal reconheceu a necessidade de melhorar a proposta”, concluiu o tucano, salientando ainda que a renovação dos ativos de transmissão foi feita “na confiança” porque “as normas não foram aprovadas ainda”.
Por Reinaldo Azevedo
Supremo diz “não” à autodesmoralização por 7 a 2; Marco Aurélio e Lewandowski ficam isolados
O Supremo Tribunal Federal se transformou, em quatro meses, numa referencia de justiça – ou passou a alimentar a expectativa de milhões de brasileiros de que a Justiça é possível. E o fez, atenção!, seguindo a lei, não o contrário. A proposta de Marco Aurélio Mello (ver abaixo), secundado por Lewandowski, se acatada, jogaria no lixo esse fio de esperança. Mais do que isso, zeraria quatro meses de julgamento.
Em suas considerações, Lewandowski faltou escandalosamente à verdade quando disse que o Supremo tomou decisões que inovaram a jurisprudência. Isso não aconteceu. O revisor foi além, pedindo que os ministros considerassem que as penas são excessivas. Mas não disse por quê.
Ora, por que Marcos Valério foi condenado a mais de 40 anos? Porque ele foi condenado por OITO CRIMES!!! Se a soma das penas chega a tanto, paciência! Que responda pelo que fez. A pena de José Dirceu, embora considerado o chefe da quadrilha, chega a 10 anos e 10 meses porque foi condenado por apenas dois – acho que deveria ser mais, mas não é assim.
Ora, quando o tribunal aceitou a denúncia –- inclusive Marco Aurélio e Lewandowski –, aceitou com a especificação dos crimes. O que pretendem Marco Aurélio e Lewandowski? Revogar também aquela decisão?
Em 2007 era a hora de recusar, então, a denúncia. E o tribunal, em vários casos, fez isso. José Genoino e José Dirceu, por exemplo, eram acusados pelo Ministério Público de “peculato”. Os ministros disseram “não”. E por unanimidade! Por que Lewandowski e Marco Aurélio, então, não recusaram a denúncia na hora certa?
Mais: alguns réus cometeram, por exemplo, vários atos de evasão de divisas. O MP via nisso concurso material (o que agravaria as penas). O tribunal, no entanto, considerou, aí sim, continuidade delitiva.
Não dá! Esse debate é escandaloso! Se há alguém que não pode censurar a divergência, esse pessoa é este escriba. Ocorre que a divergência não pode ser um mero brocado, uma paixão viciosa, um sestro. Quando um ministro do STF decide ignorar escancaradamente a lei e faz dessa opção o elogio da divergência, quem perde é a divergência — em favor da mera vaidade do divergente.
PS – Só para deixar claro: eu não acho que o problema de Lewandowski seja mera vaidade, não, como é o de Marco Aurélio. Sob certo ponto de vista, acho que ele é o menos vaidoso dos ministros do tribunal. Eu diria até que ele perdeu completamente qualquer senso de vaidade…
Recusaram a proposta de Marco Aurélio e Lewandowski os ministros Joaquim Barbosa, Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toffoli, Carmen Lúcia e Gilmar Mendes. Celso de Mello também dirá “não”.
Por Reinaldo Azevedo
Populismo elétrico de Dilma, agora está claríssimo, se combina com plano para aniquilar a oposição
A presidente Dilma Rousseff está tomando um caminho que lhe pode ser útil eleitoralmente, mas que é muito ruim para o país. Dilma está querendo jogar nas costas da oposição seu óbvio insucesso na política econômica.
Sob o silêncio cúmplice de vários setores da economia e de parte considerável da imprensa, Dilma resolveu atuar como se o país não fosse uma federação e como se o Poder Executivo central pudesse impor prejuízos gigantescos às unidades membros sem nem mesmo uma conversa. É o caso do que tentou fazer com o setor elétrico.
Na manhã desta quarta, numa solenidade com empresários, ela deu a entender que o governo buscará mecanismos para garantir a redução de 20% na tarifa de energia para as empresas. Até aí, bem! Não custa lembrar que o governo federal não tem de cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal, por exemplo, a que se submetem estados e municípios.
Em seu discurso, afirmou o seguinte disparate:
“Reduzir o preço da energia é uma decisão da qual o governo federal não recuará apesar de lamentar a imensa falta de sensibilidade daqueles que não percebem a importância disso (…). Somos a favor da redução de custos e faremos isso”.
É um péssimo jeito de governar porque opõe o necessário ao racional. É claro que é preciso baixar o preço da tarifa de energia. É uma coisa necessária. Mas a forma como se fez apela à mais estúpida irracionalidade. Para tanto, o governo federal não quis nem saber se estaria quebrando empresas estaduais geradoras de energia.
Atrevo-me a dizer que o governo federal contava com as respectivas recusas de CESP, Cemig e Copel; tomou a decisão sabendo que haveria reação. Bom para o projeto de poder da presidente, que poderia, então fazer rigorosamente o que está fazendo.
É claro que o setor empresarial está com ela, não é? Quem não quer energia mais barata? Como é impossível arbitrar caso a caso o peso que esse fator tem no custo final do produto ou serviço, as empresas ficam com um fator a mais de ajuste do caixa e do lucro. Também haverá queda no preço da energia residencial. Nesse caso, esperava-se algo em torno de 16%. Ficará ao redor de 10%, não por causa da reação das geradoras estaduais, mas porque o governo está tendo de recorrer à termelétricas, a custos astronômicos – cinco vezes mais que as hidrelétricas, e a oposição não tem nada com isso.
Dilma já está fazendo campanha eleitoral. Infelizmente, reitero, amplos setores da imprensa conhecem o truque no detalhe, sabem que a presidente armou uma cama de gato para os governos de São Paulo, Minas e Paraná, mas tratam disso como se fosse apenas a versão de um dos lados.
Vejam que curioso. São Paulo é, desde sempre, a joia da Coroa, não é? Conquistar o governo do estado tem, para o PT, a mesma importância que tem a reeleição de Dilma. De Minas, sai um dos possíveis adversários da presidente em 2014. No Paraná, dá-se como certo que a dilmista Gleisi Hoffmann, que participa do núcleo duro do governo, enfrenta o tucano Beto Richa.
A questão da energia elétrica, assim, se tornou um “projeto estratégico” que também serve ao esforço de aniquilamento da oposição. Todo mundo tem o direito de tentar vencer disputas eleitorais. O que não é legítimo é tentar quebrar três empresas para criar uma plataforma eleitoral.
Por Reinaldo Azevedo
“Ele é meio idiota, mas pra trabalhar no serviço público tá bom…”
Ai, ai… Leiam este post publicado por Lauro Jardim na página Radar, aqui na VEJA.com. Volto em seguida.
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Rubens, um dos agora notórios Vieira Brothers, era dado a tentar grandes negócios, mas não se descuidava de ajudar a família. Se puder ser com dinheiro público, melhor ainda.
Em junho de 2011, Rubens Vieira conseguiu a nomeação de um sobrinho para exercer um cargo em Comissão de Assessor na Diretoria de Infraestrutura Aeroportuária – ou seja, nomeou um sobrinho para ser seu subordinado.
O sobrinho, André Vieira, 27 anos, notabilizou-se (na família, claro) por participar do reality show Minha Praia, exibido pelo Multishow, em 2010.
Quem for ao site do programa aprenderá que André tem como “qualidade” a “alegria e o “defeito”, a “teimosia”. Suficientes para o posto? Então, saiba que “a música de sua vida” é “Beijo Em Alto Mar”, do Chiclete Com Banana.
O tal sobrinho formou-se em direito, mas não exerce: foi reprovado na prova da OAB. Ainda bem que a Anac o acolheu.
Voltei
Então…
Outro dia, um político com mandato me contava, meio desconsolado, ser alvo – é inescapável! – de pedidos de emprego desse ou daquele. Pouco importa a condição social do solicitante, o sentido da abordagem varia pouco: “Olhe, Fulano de Tal (filho, sobrinho, genro, primo, simples amigo…) é meio idiota, mas pra trabalhar no serviço público dá…”
Não estou dizendo que seja o caso do tal rapaz. Com as credenciais exibidas, talvez seja mesmo um gênio, né? Tranquiliza saber que ele está na agência que, em último caso, cuida da segurança dos voos…
Por Reinaldo Azevedo
Jesus multiplicou pão e peixe; Dilma acha isso pouco; como os mágicos do faraó, ela multiplica casas. Um pouco de matemática na discurseira da Soberana
Jesus multiplicou o pão e o peixe. Dilma Rousseff, como o faraó diante de Moisés e Aarão, acha que isso é mágica que qualquer um faz, entenderam? Chamou os seus próprios feiticeiros e mandou brasa: multipliquem aí as casas. E os magos da Sacerdotisa disseram algumas palavras arcanas, e um milhão de casas brotaram do chão. Uma coisa verdadeiramente espantosa! Dilma participou ontem da cerimônia de entrega da casa de nº UM MILHÃO! É mesmo, é? Vênia máxima à Cleópatra de todos os Nilos, mas eu não acredito. Como casa não é mera matéria de convicção, de opinião, de achismo, eu terei de chamar aqui o concurso da história e da matemática. Algo de profundamente errado há nessa conta. Por quê?
Comecemos com um pouquinho de história. O programa Minha Casa Minha Vida foi criado em julho de 2009. Lula, então, presidente, prometeu construir 1 milhão de casas até o fim de 2010. Tinha um ano e meio para fazê-lo. Alguns meses depois, mudou o discurso. Disse que faria, sim, um milhão, mas sem data para entregar.
Muito bem, meus caros. Consultem os arquivos de todos os veículos de comunicação no Google. Até junho do ano passado, haviam sido efetivamente entregues apenas 238 mil imóveis (entre casas e apartamentos). Notem bem: em dois anos, entregaram-se, de verdade, 238 mil casas. E se anunciava, então, que o governo havia contratado 1 milhão.
Fizeram a conta de subtrair? Em dois anos, entregaram-se 238 mil, e, em um ano e meio, nada menos de 763 mil!!! Nada menos de 1.395 casas por dia, contando sábados, domingos e feriados? Viramos a China! Fosse assim, Dilma não faria outra coisa na vida que não sair por aí entregando casas. Onde estão as evidências desse ritmo desenfreado de construção e entrega? Eu não vou me dedicar a tanto porque não tenho tempo, mas acho que os repórteres deveriam correr hoje ao TCU para ver como se deu essa explosão.
De todo modo, ainda que fosse verdade, uma coisa é certa: a Dilma presidente ficará devendo as casas prometidas pela candidata Dilma. Antes que prossiga, peço que vocês leiam com atenção trecho de reportagem publicada ontem na Folha Online. Vejam como a Senhora de Todos os Egitos dá um olé em Moisés (em vermelho).
A presidente Dilma Rousseff afirmou na tarde desta terça-feira (4) que o próximo governante do Brasil terá que dar continuidade à nova etapa do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
No mesmo dia em que lançou pacote de desoneração para baratear os custos da construção civil, governo anunciou que pretende expandir o programa, contratando até o final de 2014, quando termina o mandato de Dilma, a construção de mais 1,4 milhão de casas.
“Isso significa ainda que nós vamos conceber outra etapa do Minha Casa, Minha Vida. Deixaremos ela [a etapa] pronta para viger nos anos seguintes. Seja quem seja que governe esse país, terá que cumprir, dar continuidade”, disse Dilma, em discurso durante cerimônia de entrega da milionésima unidade do Programa Minha Casa, Minha Vida, no Palácio do Planalto.
Dilma, que tenta costurar a própria reeleição em 2014, disse que não “foi fácil” construir 1 milhão de casas e contratar número equivalente. Ela lembrou que o programa foi chamado de eleitoreiro e desacreditado por muitos quando foi lançado, em 2009.
“Para a gente chegar a esse ponto de contratar mais de 1 milhão é algo que nós devemos comemorar. A gente não pode ficar conformado com o que já conseguimos”, disse a presidente, ao anunciar que até o final de seu mandato pretende assinar contratos para erguer mais 1,4 milhão de moradias.
Voltei
Já disse que não acredito na entrega desse milhão e expus os meus motivos. Mas digamos que seja verdade e digamos ainda que o ritmo frenético (???) continue. Ao número prometido por Lula, a Dilma candidata acrescentou mais dois milhões. No ano passado, aumentou em 400 mil. Logo, até 2014, assegurou a presidente, seriam entregues 3,4 milhões de casas.
Atenção para os truques.
A presidente diz agora que o governo pretende, até o fim de 2014, CONTRATAR mais 1,4 milhão de casas. Casas contratadas, por óbvio, não são casas entregues. Aí, vejam lá, sobraria, segundo ele, o outro lote de 1 milhão para o governo que começa em 2015. Vocês entenderam como as casas de saliva de Dilma se multiplicam?
Na hipótese de que tenha sido mesmo entregue esse primeiro lote de 1 milhão, foram necessários, para tanto, três anos e meio. Façam aí uma regrinha de três: os outros 2,4 milhões tomarão mais oito anos, quatro meses e oito dias. O que Dilma prometeu para o fim de 2014 só se realizará em abril de 2021. Por alguma razão mágica, no entanto, ela anteviu ontem que a promessa estará zerada em 2016
Então vejam quanta mágica se vai acumulando:
– O governo jura ter construído 238 mil casas em dois anos e nada menos de 763 mil em um ano e meio; quero provas;
– ainda que isso seja verdade, a promessa que ela deveria cumprir até o fim de 2014 se arrastaria, mantido o ritmo, por um tempo superior a oito anos;
– caso Dilma se reeleja, o que prometeu em 2010 só será cumprido pelo presidente que for eleito em 2018 – e no segundo ano do seu mandato;
– Dilma trata suas promessas não cumpridas como prova de sua fidelidade à palavra empenhada.
E, claro!, não há nenhuma ONG petista avaliando o que ela prometeu e o que efetivamente realizou.
A imprensa já se interessou mais por matemática.
Por Reinaldo Azevedo
A situação de Luís Inácio Adams continua insustentável. Ou: Cardozo, homem que confunde alhos com bugalhos
Luís Inácio Adams, advogado-geral da União, está tentando encontrar a quadratura do círculo no que diz respeito à ética pública. A melhor coisa que faria para o país seria afastar-se enquanto durar a apuração do que realmente se passou na Advocacia Geral da União. E não tem de ser assim em razão de alguma acusação que lhe imputam. Ninguém o acusa de nada, a não ser de uma coisa, uma só!, que está autocomprovada: José Weber Holanda era o segundo da AGU por decisão sua. Mais do que decisão: foi uma insistência, uma determinação, uma teimosia.
Não havia outra pessoa na República habilitada para o cargo? A resposta, certamente, é sim. Não havia outra pessoa que gozasse de igual confiança do chefe (Adams)? Pelo visto, não! E é aí que está o problema, senhor advogado-geral; é por isso que Vossa Excelência tem de sair ou de ser saído.
Quando era chefe da Casa Civil uma certa senhora chamada Dilma Rousseff, Adms tentou fazer de Weber Holanda o seu segundo. A Casa Civil disse “não”. E disse porque o senhor em questão estava envolvido em alguns casos nebulosos, inclusive com processo na Justiça, de quando ainda era procurador-geral do INSS. Considerou-se, ora vejam!, que tinha bens incompatíveis com os seus rendimentos. Pois bem.
Dilma deixou a Casa Civil para se candidatar à Presidência. Em seu lugar, assumiu Erenice Guerra – cujo destino é conhecido. E o que fez Adams? A exemplo do Pequeno Príncipe, que nunca desistia de uma pergunta, Adams decidiu não desistir de sua indicação: voltou ao nome de Weber Holanda. E, aí, emplacou. É de se indagar, claro!, como a presidente aceitou o funcionário que a Dilma da Casa Civil havia rejeitado. Talvez não tenha prestado atenção.
Notem bem: Adams, está evidente, FEZ QUESTÃO DE TER WEBER HOLANDA. Como nada indica, fazendo um gracejo, que se trate de uma “relação íntima” do tipo que Lula mantinha com Rosemary, a insistência não encontra justificativa nem mesmo no que tenho chamado de “amores ancilares”. Qual é a raiz da atração fatal de Adams? A notável capacidade intelectual do rapaz? Não parece que seja pra tanto. Ao tentar se justificar, tivemos pistas de um intelecto não muito atraente.
Adams conhecia esse processo. Insistiu em Weber Holanda mesmo assim. Afirma que a investigação já havia sido arquivada, o que é fato. Mas o fora porque houve perda de prazo, não porque se tenha analisado o mérito. Sem condenação judicial, com efeito, todo mundo é inocente. Assim é no direito penal. Mas estamos aqui a falar de política. Não se pode aplicar pena a ninguém sem condenação.OCORRE, SENHOR ADAMS, QUE NÃO CONTRATAR ALGUÉM PARA A AGU EM RAZÃO DE UM PROCESSO DESSA NATUREZA NÃO É APLICAÇÃO DE PENA! Trata-se apenas de prudência. Deixar de lisonjear alguém com um cargo não é uma punição, senhor advogado-geral!
Em audiência pública no Senado nesta quarta, Adams alega agora que não sabia de alguns casos aos quais aparece ligado o nome de seu ex-braço-direito, ao qual ele conferiu amplos poderes. Bem, isso só piora a situação e torna ainda mais pessoal e personalista a indicação de Weber Holanda. São muitos os casos importantes em que este senhor atuou. Um deles, envolvendo uma ilha do interesse do ex-senador Gilberto Miranda, remete a uma operação verdadeiramente bilionária.
Falácia de Cardozo
Presente à audiência, José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça – também um convidado –, tentou sair em socorro do advogado-geral, afirmando que nem sempre é possível saber de tudo etc e tal. E usou como exemplo o ex-senador Demóstenes Torres, que foi cassado pelo Senado. Todos o tinham na condição de pessoa respeitável e acima de qualquer suspeita, citou Cardozo, lembrando que ele próprio o recebeu algumas vezes.
Vamos lá. Pra começo de conversa, petista que é, Cardozo já se reuniu na vida com gente bem pior do que Demóstenes. Logo, não adiante ele tentar tomar o ex-senador como o pior exemplo de pessoa com a qual já dividiu o teto porque isso é obviamente falso. Em segundo lugar e não menos importante, Demóstenes foi eleito pelo povo de Goiás; Weber Holanda foi eleito por Adams. Agora que o povo conhece a ficha de Demóstenes, duvido que seja eleito para alguma coisa. Adams elegeu o seu braço-direito conhecendo muito bem a sua ficha e dando de ombros pra ela, ignorando, inclusive, a restrição que havia sido feita pela Casa Civil.
A situação de Luís Inácio Adams é, no que concerne à ética da coisa pública, insustentável. Quando menos, deveria se afastar ou ser afastado enquanto se apura o que de fato aconteceu na AGU. De uma coisa o sr. Adams não pode escapar: ao nomear Weber Holanda, ele decidiu correr o risco. Ou melhor: ele decidiu fazer o Brasil correr o risco!
PS – De modo um tanto patético, Adams afirmou que, doravante, qualquer nomeação feita por seu gabinete terá como exigência prévia um “nada consta” da corregedoria do órgão. Sei… Aquele que ignorou o veto da Casa Civil agora promete se subordinar a uma departamento da CGU.
Por Reinaldo Azevedo
Cemig vai à Justiça para renovar concessões sob regra atual, diz Anastasia
Na VEJA.com:
A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) recorrerá à Justiça para tentar renovar as concessões de três de suas maiores usinas nos mesmos termos dos atuais contratos. Foi o que afirmou nesta quarta-feira o governador do estado, Antonio Anastasia (PSDB), a quem a empresa está subordinada. De acordo com ele, os contratos das usinas de Jaguara, São Simão e Miranda foram “violentados” pelas novas normas definidas pelo governo federal que levaram à renovação antecipada dos ativos de geração e transmissão de energia do Brasil.
“Evidentemente (a Cemig) vai a juízo”, disse o governador, lembrando que os contratos das três hidrelétricas preveem uma nova renovação “nos termos e nos moldes atualmente vigentes”. “Pela medida provisória (579) isso não está sendo respeitado. Então, é claro que a Cemig vai tomar as medidas necessárias a salvaguardar seus direitos”, salientou.
Nesta terça-feira – prazo final para as empresas assinarem as concessões antecipadas –, a estatal mineira renovou contratos de cerca de 5 mil quilômetros de linhas de transmissão, mas desistiu da renovação pelos novos termos de outras 18 hidrelétricas, além das que vão ser discutidas na Justiça, cujas concessões também vencem até 2017. “Num exemplo hipotético, o custo de operação é 40 e a remuneração seria dez”, justificou.
Segundo Anastasia, no caso desses outros ativos, a Cemig ainda tem esperança de negociar com o governo federal antes do fim dos contratos – a maior parte termina em 2015. “Nenhum dos lados encerrou o diálogo. Se não houver mudança, a Cemig participa das licitações normalmente”, observou, ressaltando uma possível vantagem nessas disputas devido à “expertise” da empresa.
Decisão técnica
Durante encontro com a imprensa no Palácio da Liberdade nesta quarta, Anastasia negou qualquer influência política na decisão da Cemig de desistir da renovação das concessões dos ativos de geração. Além da estatal mineira, a Companhia Energética de São Paulo (Cesp), a Companhia Paranaense de Energia (Copel) e a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) também se negaram a renovar contratos. No caso da última, a Justiça concedeu liminar permitindo o adiamento da decisão.
Três das quatro estatais são comandadas por governadores de partidos de oposição ao governo federal – os tucanos Geraldo Alckmin, em São Paulo, e Beto Richa, no Paraná, além de Anastasia. A exceção é Raimundo Colombo (PSD), em Santa Catarina. O mineiro admitiu que manteve diálogos a respeito da questão com Alckmin (com quem disse “conversar sempre”) e “com a Copel”, mas afirmou que as decisões foram estritamente “técnicas”. “Querem politizar uma questão técnica”, declarou.
De acordo com Anastasia, é uma “coincidência” o fato de as recusas terem partido de empresas ligadas a opositores da presidente Dilma Rousseff. “Os valores propostos pelo governo federal são muito baixos. Foi demonstrada a inviabilidade de adesão, o que aconteceu também com outras empresas. Que, por uma coincidência, são estatais de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina”, ressaltou.
“Mas como não há nenhum critério político nisso, nós aderimos à transmissão. Se houvesse qualquer questão de ordem política, não haveria adesão. Aderimos integralmente porque o governo federal reconheceu a necessidade de melhorar a proposta”, concluiu o tucano, salientando ainda que a renovação dos ativos de transmissão foi feita “na confiança” porque “as normas não foram aprovadas ainda”.
Por Reinaldo Azevedo
Supremo diz “não” à autodesmoralização por 7 a 2; Marco Aurélio e Lewandowski ficam isolados
O Supremo Tribunal Federal se transformou, em quatro meses, numa referencia de justiça – ou passou a alimentar a expectativa de milhões de brasileiros de que a Justiça é possível. E o fez, atenção!, seguindo a lei, não o contrário. A proposta de Marco Aurélio Mello (ver abaixo), secundado por Lewandowski, se acatada, jogaria no lixo esse fio de esperança. Mais do que isso, zeraria quatro meses de julgamento.
Em suas considerações, Lewandowski faltou escandalosamente à verdade quando disse que o Supremo tomou decisões que inovaram a jurisprudência. Isso não aconteceu. O revisor foi além, pedindo que os ministros considerassem que as penas são excessivas. Mas não disse por quê.
Ora, por que Marcos Valério foi condenado a mais de 40 anos? Porque ele foi condenado por OITO CRIMES!!! Se a soma das penas chega a tanto, paciência! Que responda pelo que fez. A pena de José Dirceu, embora considerado o chefe da quadrilha, chega a 10 anos e 10 meses porque foi condenado por apenas dois – acho que deveria ser mais, mas não é assim.
Ora, quando o tribunal aceitou a denúncia –- inclusive Marco Aurélio e Lewandowski –, aceitou com a especificação dos crimes. O que pretendem Marco Aurélio e Lewandowski? Revogar também aquela decisão?
Em 2007 era a hora de recusar, então, a denúncia. E o tribunal, em vários casos, fez isso. José Genoino e José Dirceu, por exemplo, eram acusados pelo Ministério Público de “peculato”. Os ministros disseram “não”. E por unanimidade! Por que Lewandowski e Marco Aurélio, então, não recusaram a denúncia na hora certa?
Mais: alguns réus cometeram, por exemplo, vários atos de evasão de divisas. O MP via nisso concurso material (o que agravaria as penas). O tribunal, no entanto, considerou, aí sim, continuidade delitiva.
Não dá! Esse debate é escandaloso! Se há alguém que não pode censurar a divergência, esse pessoa é este escriba. Ocorre que a divergência não pode ser um mero brocado, uma paixão viciosa, um sestro. Quando um ministro do STF decide ignorar escancaradamente a lei e faz dessa opção o elogio da divergência, quem perde é a divergência — em favor da mera vaidade do divergente.
PS – Só para deixar claro: eu não acho que o problema de Lewandowski seja mera vaidade, não, como é o de Marco Aurélio. Sob certo ponto de vista, acho que ele é o menos vaidoso dos ministros do tribunal. Eu diria até que ele perdeu completamente qualquer senso de vaidade…
Recusaram a proposta de Marco Aurélio e Lewandowski os ministros Joaquim Barbosa, Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toffoli, Carmen Lúcia e Gilmar Mendes. Celso de Mello também dirá “não”.
Por Reinaldo Azevedo
As teses absurdas de Marco Aurélio, que resultariam em impunidade; João Paulo e Pizzolato agradecem; PCC está de olho no que se passa no STF e apoia a tese; ministro extingue, na prática, a Lei de Lavagem de Dinheiro
O Supremo Tribunal Federal discute a eventual reavaliação das penas dos condenados do mensalão. Coube a Marco Aurélio Mello, dada a generosidade do revisor, Ricardo Lewandowski, que lhe deu precedência, fazer a proposta. Assim, considerando que todos já fizeram a sua dosimetria, pode-se afirmar que Marco Aurélio se coloca como o líder de uma dissidência. Vamos ver se será seguido. Lewandowski vai agora propor a redução das multas.
Pois bem: se o voto do dissidente formar a nova maioria, poderemos dizer, sem medo de errar, que o direito penal brasileiro – quiçá o mundial – se dividirá em “a.MA” e “d.MA”: “antes de Marco Aurélio” e “depois de Marco Aurélio”. Quem deve estar acompanhando com muito interesse a tese do ministro são os líderes do PCC. Se ela triunfar, não se pode dizer que não existe mais pecado abaixo do Oiapoque, mas todos os pecados terão penas bem leves. Será a festa do crime organizado. Explico por quê.
O ministro decidiu considerar quase todos os crimes do mensalão mera continuidade delitiva. Excluiu dessa leitura apenas nove dos 25 condenados, a saber: José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Jacinto Lamas, Enivaldo Quadrado, José Borba, Breno Fischberg, Emerson Palmieri e João Claudio Genu. Segundo entendi, nesse caso, ele propõe que as penas fiquem como estão. No resto, há uma redução generalizada – beirando o escândalo. Os principais beneficiados por sua tese seriam Marcos Valério, cuja pena cairia de mais de 40 anos para pouco mais de 10 (menos de dois anos em regime fechado), João Paulo Cunha, cuja pena seria reduzida dos atuais nove anos e quatro meses para… três anos e 10 meses, e Henrique Pizzolato: de doze anos e sete meses, sua pena cairia para cinco anos e 10 meses (regime semiaberto).
Trata-se de uma leitura escandalosa, com desdobramentos práticos não apenas para os réus do mensalão. Pensemos no caso do PCC. Então a bandidagem, vamos ver, assalta um banco; na fuga, mata uns dois ou três, rouba um carro e depois dá um jeito de lavar o dinheiro. O que se tem aí? Crimes em continuidade delitiva? Convenham, afinal de contas, as coisas estão todas, de algum modo, ligadas.
A proposta de Marco Aurélio é de tal sorte especiosa que joga no lixo a Lei de Lavagem de Dinheiro, tornada mais severa neste ano justamente para impedir que os larápios busquem mecanismos para escapar. Sim, na visão de Marco Aurélio, a lavagem se torna continuidade delitiva do peculato, por exemplo. No caso do núcleo banqueiro, gestão fraudulenta, lavagem e evasão são crimes em continuidade
Agora fala Lewandowski, que, por óbvio, endossa as teses de Marco Aurélio e vai além. Já falo a respeito. É um acinte à inteligência e ao direito penal.
Por Reinaldo Azevedo
O PCC está de olho no Supremo…
Daqui a pouco explico por que o PCC está interessadíssimo no que está em debate no Supremo. Se o ministro Marco Aurélio formar a maioria no tribunal, não existirá mais pecado abaixo do Oiapoque. E o crime organizado poderá comemorar com muitas salvas… Já, já…
Por Reinaldo Azevedo
Populismo elétrico de Dilma, agora está claríssimo, se combina com plano para aniquilar a oposição
A presidente Dilma Rousseff está tomando um caminho que lhe pode ser útil eleitoralmente, mas que é muito ruim para o país. Dilma está querendo jogar nas costas da oposição seu óbvio insucesso na política econômica.
Sob o silêncio cúmplice de vários setores da economia e de parte considerável da imprensa, Dilma resolveu atuar como se o país não fosse uma federação e como se o Poder Executivo central pudesse impor prejuízos gigantescos às unidades membros sem nem mesmo uma conversa. É o caso do que tentou fazer com o setor elétrico.
Na manhã desta quarta, numa solenidade com empresários, ela deu a entender que o governo buscará mecanismos para garantir a redução de 20% na tarifa de energia para as empresas. Até aí, bem! Não custa lembrar que o governo federal não tem de cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal, por exemplo, a que se submetem estados e municípios.
Em seu discurso, afirmou o seguinte disparate:
“Reduzir o preço da energia é uma decisão da qual o governo federal não recuará apesar de lamentar a imensa falta de sensibilidade daqueles que não percebem a importância disso (…). Somos a favor da redução de custos e faremos isso”.
É um péssimo jeito de governar porque opõe o necessário ao racional. É claro que é preciso baixar o preço da tarifa de energia. É uma coisa necessária. Mas a forma como se fez apela à mais estúpida irracionalidade. Para tanto, o governo federal não quis nem saber se estaria quebrando empresas estaduais geradoras de energia.
Atrevo-me a dizer que o governo federal contava com as respectivas recusas de CESP, Cemig e Copel; tomou a decisão sabendo que haveria reação. Bom para o projeto de poder da presidente, que poderia, então fazer rigorosamente o que está fazendo.
É claro que o setor empresarial está com ela, não é? Quem não quer energia mais barata? Como é impossível arbitrar caso a caso o peso que esse fator tem no custo final do produto ou serviço, as empresas ficam com um fator a mais de ajuste do caixa e do lucro. Também haverá queda no preço da energia residencial. Nesse caso, esperava-se algo em torno de 16%. Ficará ao redor de 10%, não por causa da reação das geradoras estaduais, mas porque o governo está tendo de recorrer à termelétricas, a custos astronômicos – cinco vezes mais que as hidrelétricas, e a oposição não tem nada com isso.
Dilma já está fazendo campanha eleitoral. Infelizmente, reitero, amplos setores da imprensa conhecem o truque no detalhe, sabem que a presidente armou uma cama de gato para os governos de São Paulo, Minas e Paraná, mas tratam disso como se fosse apenas a versão de um dos lados.
Vejam que curioso. São Paulo é, desde sempre, a joia da Coroa, não é? Conquistar o governo do estado tem, para o PT, a mesma importância que tem a reeleição de Dilma. De Minas, sai um dos possíveis adversários da presidente em 2014. No Paraná, dá-se como certo que a dilmista Gleisi Hoffmann, que participa do núcleo duro do governo, enfrenta o tucano Beto Richa.
A questão da energia elétrica, assim, se tornou um “projeto estratégico” que também serve ao esforço de aniquilamento da oposição. Todo mundo tem o direito de tentar vencer disputas eleitorais. O que não é legítimo é tentar quebrar três empresas para criar uma plataforma eleitoral.
Por Reinaldo Azevedo
Dilma quer arrombar os cofres de São Paulo, Minas e Paraná com o seu “populismo elétrico”, e boa parte da imprensa lhe serve de porta-voz! É o fim da picada!
Dilma Rousseff, sedizente especialista em energia, juntou seus mágicos em torno do caldeirão e inventou um modelo de intervenção no setor elétrico que resultaria numa queda de 20% no valor das tarifas. A Soberana foi à TV e anunciou a novidade à tigrada. O dado nada irrelevante, nesse caso, é que a presidente deveria ter negociado o seu pacote com geradoras estaduais de energia, como Cesp (São Paulo), Cemig (Minas) e Copel (Paraná). Eu sei que não parece, mas ainda estamos numa federação. Não houve negociação. A “especialista” Dilma não quis conversar com ninguém.
Essas empresas negociam ações na Bolsa de Valores; têm investidores. Só isso recomendaria cuidado. Os maiores acionistas são os respectivos governos estaduais. O prejuízo que seria imposto à CESP, por exemplo, seria gigantesco: da ordem de R$ 5 bilhões. Há mais: o faturamento da empresa despencaria e seria inferior a seu custo operacional. As três empresas não aderiram ao programa. A redução de tarifa tende a ficar abaixo dos 20% (pode ficar em 16,7%), e o governo federal, sob o silêncio cúmplice de boa parte da imprensa, já encontrou os culpados: os respectivos governos tucanos de São Paulo, Minas e Paraná. Não por acaso, as ações da CESP, que haviam despencado quase 40%, a exemplo do que aconteceu com as demais elétricas, subiu mais de 9% diante da recusa.
Atenção! As contas feitas pela CESP são matemática, não feitiçaria. O governo federal não tem o direito legal – como está óbvio – de impor uma solução. É um disparate que Dilma tenha ido à TV, como se fosse a Kim Jong-un (aquele ser estranho que governa a Coreia do Norte) do setor, anunciar seu populismo elétrico com o chapéu alheio. Com que então, para baratear a energia, o governo federal decide quebrar três empresas e mandar o espeto para os governos estaduais – curiosamente, ou nem tanto, geridos por um partido de oposição!? A determinação do governo petista de explodir São Paulo chega a ser comovente pela obsessão.
O secretário executivo de Minas e Energia, Márcio Zimmerman, numa fala espetacular pela delinquência intelectual e política que revela, resolveu fazer política partidária aberta, arreganhada: “A decisão dessas empresas, principalmente as companhias de São Paulo e Minas Gerais, de não renovar seus contratos sob novas bases, é a causa de, hoje, não podermos anunciar o corte na conta de luz pretendido pelo governo federal”. Não se deu por satisfeito: “Essas companhias privilegiaram seus acionistas, e não a população brasileira”.
É estupefaciente! A melhor maneira que empresas têm de cuidar do povo brasileiro, enquanto empresas, é, sim, cuidar dos interesses de seus acionistas. Essa oposição é coisa de vigaristas. Se as geradoras estaduais de energia quebram – como parece ser a proposta de Zimmerman e Dilma –, quem vai pagar o pato é Tesouro dos respectivos estados e, por consequência, a sua população.
Isso já é campanha eleitoral antecipada. O petismo já anuncia uma das “pegadas” da campanha de 2014: “tucanos impediram a queda da tarifa de energia elétrica”. Até uma parcela de mineiros, paulistas e paranaenses, que seriam, indiretamente roubados pelo projeto do governo federal, tenderá a acreditar na mentira.
Até outro dia – o primeiro mandato de Lula –, esse tipo de procedimento contaria com o repúdio quase unânime da imprensa. Mas houve mudanças importantes em vários veículos de comunicação, que resolveram cair de boca no populismo – e não só o elétrico. Não sei, não… Tenho a impressão de que, hoje em dia, o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal correriam riscos… Leiam o noticiário: as evidências – matemáticas, reitero – de que a CESP, por exemplo, quebraria são tratados apenas como versão de um dos lados. Contabilidade virou agora matéria de mera opinião! O que foi parar nas manchetes é mesmo a acusação feita pelo governo federal.
E se essas empresas topassem e fossem para o buraco? Ora, nesse caso, bastaria acusar a incúria dos governos tucanos na gestão do setor, não é mesmo?
Mas que fique a lição ensinada por Zimmerman: empresas que pensam em seus acionistas devem ser satanizadas, levadas ao paredão, desmoralizadas. Seu papel é quebrar para que Dilma possa impor suas generosidades.
Para encerrar
Quando ministra das Minas e Energia, depois da Casa Civil e posteriormente candidata, Dilma parecia ter a receita mágica para o setor elétrico. Falou-se muito e se fez muito pouco. A sua grande ideia para a área, vê-se agora, era quebrar três geradoras estaduais de energia e, por meio de Zimmerman, fazer proselitismo político da pior espécie.
As três empresas deveriam se cotizar para comprar tempo na televisão, em horário nobre, informando, com todas as letras, o que de fato está em curso. Se continuarem no meio do ringue, tomando porrada, ainda acabarão sendo consideradas as culpadas pela lambança que o governo federal está fazendo no setor.
Por Reinaldo Azevedo
Rosegate – Planalto manda, e comissão da Câmara decide nem fiscalizar nem controlar
A Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara nem fiscaliza nem controla. Os deputados Vanderlei Macris (PSDB-SP) e Mendonça Filho (DEM-PE) fizeram o óbvio e apresentaram requerimentos para ouvir as principais personagens do “Rosegate”, a saber: Rosemary Nóvoa de Noronha, ex-chefe de Gabinete Regional da Presidência da República; José Weber Holanda, ex-advogado-geral-adjunto da União; Paulo Vieira, ex-diretor da ANA (Agência Nacional de Águas) e Rubens Vieira, ex-diretor de Infraestrutura da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).
A orientação para evitar a convocação dessas pessoas partiu do Palácio do Planalto, que, de fato, não quer investigar coisa nenhuma. A Câmara, assim, se coloca como mero quintal das manobras do Executivo.
Por Reinaldo Azevedo
Medo de grampo
Celular perigoso
Grampeados pela PF na Operação Porto Seguro os irmãos Paulo e Rubens Vieira foram flagrados numa conversa telefônica, em abril, falando justamente sobre o medo de terem seus telefones monitorados.
Ao verem que nem mesmo os telefones de José Sarney estavam a salvo (ele caiu num grampo da Monte Carlo conversando com Raimundo Costa Ferreira, o Ferreirinha, ex-porteiro do Palácio do Planalto e funcionário da Infraero, suspeito de facilitar, para Carlinhos Cachoeira, a entrada e saída de mercadorias contrabandeadas no aeroporto de Brasília), começaram a debater:
Rubens: Paulo, pra você ver quanto o telefone é uma m…, eu acabei de ligar pra você agora, caiu na caixa postal e ai me passou um recado que tava na sua caixa postal.
Paulo: Não entendi, dizendo o que?
Rubens: Liguei pra você, tocou, tocou e quando veio o recado da caixa postal veio alguém assim, doutor Paulo por favor ligar para dr. Marco Aurélio.
Paulo: Ou seja, isso aí.
Rubens: Rapaz mas é uma m…, telefone é uma m…, uma m…, uma m… quadrada.
Paulo: Eu fiquei morrendo de, eu ando morrendo de medo, você viu Sarney mesmo naquela operação, hoje saiu telefone grampeado do Sarney.
Rubens: Na qual Paulo?
Paulo: Na do Cachoeira.
Rubens: Eu não vi não.
Paulo: Saiu Sarney falando com o tal Ferreirinha da Infraero.
Rubens: Rapaz mas é coisa comprometedora?
Paulo: Não, tava discutindo cargo da Infraero aquelas coisas. E pra você ter uma ideia, Rubens olha o Bica, o Bica conversa bastante com os meninos e tudo,
Rubens: Puta que pariu, tá em que jornal isso? Eu não vi não.
Paulo: Tá na Folha, Rubens chegou os documentos pra você?
Rubens: Vou chegar na Anac agora Paulo.
Paulo: Meu Deus se não chegou, você tá aonde? Eu to na aula, sai pra te atender.
Rubens: Não, não, eu vou, daqui meia hora eu já te falo, eu to chegando.
A propósito, do final do diálogo: Bica? Quem é o Bica de quem a dupla fala?
Por Lauro Jardim
Liminar de Marco Aurélio suspende julgamento de “Sombra”, uma dos acusados pela morte de Celso Daniel
Por Carolina Freitas, na VEJA.com:
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu, nesta terça-feira, suspender o júri popular que definirá o destino de Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, apontado como mandante do assassinato do então prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), em janeiro de 2002. O Ministério Público tinha a expectativa de que o julgamento pudesse acontecer no primeiro semestre de 2013, embora nunca tenha sido marcado oficialmente. Sombra chegou a passar sete meses preso em 2003, mas foi libertado.
Marco Aurélio aceitou a argumentação da defesa de Sombra, de que os advogados podem interpelar, durante interrogatório judicial, os corréus. O direito foi negado aos defensores durante o andamento do processo. A decisão liminar foi concedida em resposta a um habeas corpus apresentado em novembro pela defesa de Sombra, comandada pelo advogado criminalista Roberto Podval. O deferimento da liminar foi confirmado pelo Supremo Tribunal Federal. A decisão suspende a tramitação do processo até o julgamento do mérito do HC.
“Compõe o devido processo-crime a defesa técnica. Esta é inafastável. O interrogatório dos acusados insere-se na instrumentalidade própria à elucidação dos fatos, valendo notar a possibilidade de haver discordância nas defesas. Os defensores podem questionar fato não bem esclarecido no interrogatório, formulando as perguntas correspondentes e pertinentes”, afirma o ministro Marco Aurélio na decisão.
Além desse pedido, a defesa do réu tem conseguido adiar o júri com um outro habeas corpus no STF, em que contesta o poder do Ministério Público de conduzir investigações criminais – ainda sem decisão da Suprema Corte.
Se a liminar desta terça-feira for confirmada no julgamento do mérito do habeas corpus, o juiz da primeira instância, do Fórum de Itapecerica da Serra, onde corre o caso, terá de tomar providências para que a defesa de Sombra ouça, em juízo, os corréus do caso. Na prática, o processo pode ter de voltar à fase de interrogatórios antes que seja marcada uma data para o júri popular de Sombra. Ele é o único réu, entre os sete do caso, que ainda não foi julgado após uma década do assassinato.
Sombra responde por homicídio qualificado, mediante pagamento de recompensa, com recurso que impossibilitou a defesa da vítima e para assegurar a execução de outros crimes. A promotoria sustenta que ele planejou e encomendou a morte de Celso Daniel para garantir a execução de delitos contra a administração municipal de Santo André.
De acordo com o Ministério Público de São Paulo, Celso Daniel foi morto por causa de um esquema de desvios de recursos em sua gestão. O dinheiro era desviado para o caixa dois do PT, com o conhecimento do prefeito. O esquema funcionava bem até Celso Daniel descobrir que parte do dinheiro era embolsado por participantes da trama. Entre eles estava Sombra, empresário e ex-segurança de Celso Daniel. O prefeito protestou contra os desvios para fim particular e entrou na mira de Sombra, que, segundo o MP, contratou um grupo para matá-lo.
Em novembro, Itamar Messias dos Santos, acusado de participar do sequestro e morte do prefeito, foi condenado a vinte anos de prisão. As penas dos outros cinco réus já condenados variam de 18 e 24 anos e foram aplicadas em diferentes júris realizados entre 2010 e agosto de 2012.
Por Reinaldo Azevedo
Correção – Craniectomia. Ou: “Pô, cara! É muito ‘loco’!”
Eu gosto de precisão, especialmente em matéria de opinião. Eu havia dito num post abaixo que a cirurgia a que fui submetido em 2006 se chamava “craniostomia”. Não poderia ser porque isso nem existe. Meti, sem querer, um “s” indevido na palavra. O nome correto, fosse essa a cirurgia, é “craniotomia”. Mas está errado. Eu passei por uma “craniectomia”, que consiste na extirpação de parte do crânio. Aquele cara que virou blogueiro do Lula diria que não fumar maconha dá nisso… Prometo não começar. Já estou velho pra isso, né? Véiomaconheiro é uma coisa muito triste – sem querer ferir sensibilidades, é claro! Até porque não se deve escrever “maconheiro”, mas “consumidor de substâncias consideradas ilícitas”… Eu, hein!? Será que isso dá barato? Os véio macoheiros poderiam começar a consumir Stendhal, Flaubert, Musil… “Pô, cara!, é muitoloco!”
Ainda se diz “é muito loco”??
Ah, as desventuras de um homem inatual!!!
Por Reinaldo Azevedo
Oposição começa a recolher assinaturas para “CPI da Rosemary”
Por Gabriela Guerreiro, na Folha Online:
A oposição começou nesta terça-feira (4) a recolher assinaturas para tentar instalar CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Senado para investigar o esquema de venda de pareceres e tráfico de influência desmontado pela Operação Porto Seguro, da Polícia Federal. São necessárias assinaturas de 27 senadores para que a CPI seja criada.
A oposição soma apenas 15 senadores, mas a expectativa de parlamentares do DEM e PSDB é conseguir o apoio de governistas da chamada ala “independente” do Senado.
“Sabemos que teremos dificuldades para conseguir 27 assinaturas. O governo entra em pânico quando vê a possibilidade da Rosemary Noronha [ex-chefe do gabinete da Presidência em São Paulo] falar no Congresso. Mas o objetivo é mostrar quem está de um lado, quem está do outro”, disse o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR). O tucano já tem o apoio das bancadas do PSDB e do DEM.
Apesar de integrar a base de apoio da presidente Dilma Rousseff, o senador Pedro Taques (PDT-MT) disse que vai assinar o pedido de CPI. “Eu assino pedidos de criação de CPI porque é obrigação do Congresso investigar denúncias”, afirmou.
Para que a CPI seja instalada no Senado, a oposição precisa reunir assinaturas de 27 senadores favoráveis à comissão. Depois, o pedido de criação da CPI precisa ser lido pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), em sessão do plenário.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Reinaldo Azevedo, portador de deficiência, acusa a vaia injusta que Dilma recebeu; eu poderia vaiá-la também, mas por outros motivos. Ou: Deficientes, como eu, também podem ler Platão e Descartes! Mal não faz!
É complicado viver em tempos politicamente corretos e intelectualmente estúpidos. Grupos sociais, minorias, correntes organizadas de opinião etc. se consideram donas da linguagem e das palavras. Danem-se a etimologia, a gramática, o dicionário, qualquer coisa que remeta ao universo objetivo da linguagem. Se eles acharem que determinado vocábulo tem sentido pejorativo, então tem. Não lhes basta reivindicar proteção, direitos especiais ou reparação, tudo compreensível e só raramente ilegítimo. Apropriam-se também do domínio da linguagem e passam a impor a sua vontade – ainda que contra os fatos, a história, a etimologia, a gramática, o dicionário… Viram juízes das palavras. A PLC 122, a tal lei contra a homofobia, também tem este aspecto absurdo: cria uma polícia da linguagem sob o pretexto de proteger direitos.
Vamos ver. Este que lhes fala é “portador” de dois buracos no crânio – ou, se quiserem, sou um não portador de dois pedaços de ossos correspondentes que deveriam estar lá; deveriam, bem entendido, segundo o que se dá com a maioria, que tem o crânio intacto.
Apareceram dois tumores no meu cocuruto, e lá se me foram dois pedaços da cabeça, numa cirurgia simpaticamente chamada de “craniectomia”. Uma das falhas de que sou portador é coberta pelo cabelo; a outra é visível, no alto da testa, no centro da cachola. Nos debates da VEJA.com, ele se mostra em seu esplendor. Pode lembrar um golfinho. Mas não me peçam para fazer momices, como Flipper, hehe… Não rola. Depois de dois uísques, talvez eu declame alguma coisa, mas só a pedidos… insistentes!
Há até uma história curiosa sobre isso. Um senhor, já coroa, desses leitores que não gostam de mim – é raro, mas os há, rá, rá, rá – enviou-me certa feita uma mensagem eivada de ofensas, coisas grotescas mesmo. Num dado momento, ele afirmou que os tumores só apareceram na minha cabeça porque eu não fumava maconha. A história está em arquivo. Mais tarde, ele se tornou, acreditem!, blogueiro oficial do Planalto, na gestão Lula. Sim, o sujeito que me acusou de ser o responsável pelos meus próprios tumores (por não fumar maconha) virou blogueiro de Lula. Essa gente pode me espantar, sim, mas não me surpreende. Volto ao ponto.
Nesta terça, a presidente Dilma Rousseff participou da Conferência Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiências. Eu poderia, por óbvio, estar lá. Mas estou aqui… Dilma decidiu exaltar a tecnologia inclusiva que dá “melhores oportunidades para portadores de deficiências”. Foi vaiada. É proibido falar assim, fiquei sabendo hoje. Dilma também só descobriu isso nesta terça.
O jeito correto, senhores leitores, de vocês se referirem a nós é outro. Ela foi alertada a tempo pela assessoria e mandou brasa:
“Desculpa, eu quis dizer ‘pessoas com deficiência’. Eu entendo que vocês tenham esse problema. Portador não é muito humano, né? Pessoa é”.
Aí foi aplaudida! Pois é… Os petralhas dizem que os médicos arrancaram um pedaço do meu cérebro quando extirparam os dois tumores do crânio, mas acho que dizem isso só porque não me amam, embora sejam viciados em mim. Euzinho aqui, “a nível de pessoa com deficiência” (hehe…), não gostei mesmo foi da segunda intervenção de Dilma. A primeira me pareceu ok, ué. Que filólogo, etimologista, gramático ou especialista em linguagem decidiu que “portador” é coisa negativa? Se há alguma diferença entre “portador de deficiência” e “pessoas com deficiência”, eu diria que a balança pode pesar a favor da primeira expressão.
Ora, nada impede portadores de deficiência de ler Platão ou Descartes, por exemplo. Eu leio sempre, mesmo portando buracos extras na cabeça. Procuro dar eficiência máxima ao que me resta de dois dos orifícios regulares, os olhos – que nunca prestaram, com uma miopia de fazer inveja ao Mr. Magoo. Ora, aquilo que “porto“ não sou eu em essência, não me define. Aquilo que porto é só uma realidade contingente, uma expressão, digamos, do mundo das sombras. No mundo das ideias, hehe, sou perfeito, como qualquer um. Ou minha alma já teve acesso à verdade, e tudo o que aprendo são reminiscências (Platão) ou, melhor ainda, já nasci com algumas verdades inatas, postas na minha mente por Deus (Descartes). Assim, pouco importa se me falta a perna, se me falta o braço, se me faltam pedaços do crânio, defino-me como humano.
Portar uma deficiência, pois, é bem menos definidor do que sou do que me apresentar como uma “pessoa com deficiência”. Nesse caso, essa preposição mais esse substantivo se juntam para formar uma locução adjetiva e alterar a própria natureza do substantivo. A pessoa a quem falecem características que assistem a maioria só será igual, sendo diferente, se “portar a deficiência”, não se for uma “com deficiência”. Portar uma deficiência é um acidente no sujeito, que não muda a sua essência, que será sempre completa; ser um “com deficiência” integra a essência do sujeito. O que querem os deficientes e toda gente que se mobiliza contra preconceitos?
Os portadores de deficiência ou pessoas com deficiência não são donas da linguagem, não! Não são donas da palavra. Nem essa minoria, que agora integro, nem outra chamada “minoria sociológica” qualquer: mulheres, gays, negros etc.
Eu poderia vaiar Dilma por uma porção de motivos – por esse, jamais! “A nível de pessoa” com deficiência, eu não gostei foi de sua segunda intervenção. Parece-me, aí sim, que ela optou por infantilizar o público que a ouvia, por tratá-lo com certa condescendência piedosa, usando, o que não lhe é raro, as palavras de maneira mais ou menos desastrada. Depois da vaia injustificada, para triunfo da lógica, veio o aplauso injustificado.
Ninguém, pessoa com deficiência ou não, tem o direito de impor ao outro a sua ignorância como medida de correção política.
Por Reinaldo Azevedo
No país da Operação Porto Seguro, MEC aplica uma prova que traz uma tirinha retratando sexo oral! É o Brasil assombrando o mundo!
Há muito tempo, como vocês sabem, venho alertando para a progressiva delinquência intelectual das provas oficiais aplicadas pelo MEC e seus entes subordinados. Há dias, apontei – e ainda falta tratar de outras questões da prova – a patrulha ideológica explícita, arreganhada, no exame do Enade (o provão) para os estudantes de jornalismo. A prova de redação do Enem era pura feitiçaria dita “progressista”. Também tenho destacado a obsessão dos examinadores por tirinhas de jornal, charges, quadrinhos… Trata-se de uma suposta tentativa de modernizar a linguagem das provas de seleção ou de avaliação, na suposição de que se está a usar o “universo do educando”. É uma das heranças malditas de Paulo Freire na educação brasileira. Não é o único lixo intelectual que ele deixou, não, que ajuda a manter a educação brasileira no buraco. Há outros. Pois bem. Some-se a tudo isso o ódio que os fazedores de prova têm ao capitalismo, à propaganda e à “mídia” e acrescentem-se pitadas de, deixem-me ver como chamar, “moral alternativa”. A mistura é explosiva. Cedo ou tarde se chegaria ao que aconteceu na prova da seleção do Instituto Federal de Educação do Espírito Santo (IFES). Uma tirinha, de maneira inequívoca, clara, insofismável, retrata o… sexo oral. Vejam.
Se as provas de história e geografia já viraram terra de ninguém (pode-se perguntar qualquer coisa sob o pretexto de incentivar o “espírito crítico”), nada se equipara, no entanto, ao que está em curso nas provas de língua portuguesa. As questões sobre “interpretação de texto”, como é o caso, costumam apelar ao mais escancarado proselitismo. E o próprio instituto confessa isso. Pais e estudantes protestaram contra a questão. A escola emitiu a seguinte nota oficial, que combina várias formas de delinquência intelectual. Prestem atenção (os destaques em vermelhito são meus).
Quanto ao “Texto 02” da prova de Língua Portuguesa do Processo Seletivo para Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio do Instituto Federal do Espírito Santo – Ifes, realizado neste domingo (2), a Banca Elaboradora da prova esclarece que os quatro textos selecionados, bem como as questões de 1 a 15, abordavam estratégias publicitárias e mensagens textuais utilizadas pela propaganda, questionando a influência dessas. A Banca afirma que não viu a tirinha selecionada com “olhar pornográfico”, mas deteve-se no foco textual, que faz uma crítica a algumas abordagens realizadas pela Publicidade. Nas palavras da Banca Elaboradora, “o último quadro é uma sequência dos primeiros, que sugerem o tipo de leitura pretendido”.
A Gerência de Processos de Seleção do Ifes esclarece que as questões de prova dos processos seletivos são elaboradas por profissionais do quadro efetivo do Instituto, indicados pela coordenadoria (setor que reúne docentes de uma mesma área de conhecimento) responsável pela disciplina da prova em questão. Após a elaboração, as questões são encaminhadas à Gerência de Processos de Seleção apenas para formatação da prova, tendo em vista a necessidade de manter o conteúdo restrito ao menor número possível de servidores, para garantir o sigilo dado às provas até o momento de sua aplicação.
O Instituto Federal do Espírito Santo está analisando quais são as providências possíveis neste caso.
Voltei
Entendi. Nada menos de 15 questões são dedicadas ao ódio ao capitalismo e à publicidade. Boa mesmo era a Alemanha Oriental, onde só existia a propaganda oficial. Sociedades comedidas, sem esse apelo ao consumo, são Cuba e a Coreia do Norte, por exemplo. Por lá o ideal de equilíbrio e sobriedade da civilização se realiza.
Mais: essa crítica à propaganda, feita de modo tão bucéfalo, Deus meu!, é velha, ultrapassada, da década de… 60! A publicidade, hoje em dia, ao contrário da caricatura estúpida feita acima, descobriu a eficiência da metalinguagem. Ela deita um olhar crítico sobre si mesma. É, com raras exceções, politicamente correta a mais não poder. Uma propaganda de desodorante que está no ar, diga-se, mostra, sim, um monte de mulheres aos pés do rapaz. Trata-se, evidentemente, de uma peça de humor, que brinca com o ridículo. Os publicitários são bem mais inteligentes do que esses pterodáctilos de esquerda, que ficam atormentando nossos jovens nas escolas públicas e privadas e nas universidades.
A coisa mais parecida com os esquerdistas infiltrados no ensino é o Taleban…
Despropósito
Essa prova é destinada a alunos que pretendem fazer o curso técnico integrado ao ensino médio. Foi aplicada, então, também a quase crianças, que acabaram de sair do ensino fundamental. Voltem à nota estúpida. Segundo o instituto, a prova seria séria porque, afinal, foi aplicada por gente séria… Ah, bom! A direção do IFES, no entanto, se isenta de qualquer responsabilidade.
Diz o IFES que a banca que elaborou o exame não viu o sexo grupal e oral com “olhar pornográfico”. Ah, bom! Só existe pornografia quando a imagem busca o deleite. Quando se faz uma crítica ao capitalismo e à sociedade de consumo, então o que se tem é só exercício da inteligência.
Penso no mais recente escândalo do Brasil, com suas peripécias que misturam assuntos públicos, embargos e desembargos de alcova e ladroagem… Tudo bem pensado, por que o MEC não aplicaria uma prova com uma tirinha retratando sexo oral? Faz sentido!
Não será fácil tirar a educação brasileira do abismo em que se encontra. À diferença do que imaginam alguns, o problema principal não é a falta de recursos, mas a estupidez militante que tomou conta da área. Todos os “inimigos do capitalismo” – amigos do próprio rancor e da própria incompetência – se juntaram nesse nicho. Destroem gerações de alunos.
A área sempre foi ruim. Com a chegada do petismo ao poder, atingiu-se o estado da arte. As bestas ao quadrado estão convictas de que o socialismo no Brasil começará pela… educação!
Por Reinaldo Azevedo
Cardozo diz receber apenas dados “genéricos” de operações sigilosas
Por Laryssa Borges, na VEJA.com:
Após a Operação Porto Seguro da Polícia Federal (PF) ter atingido o escritório da Presidência da República em São Paulo e causado preocupação no Palácio do Planalto, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou nesta terça-feira que não toma conhecimento prévio de investigações policiais em sigilo. O ministro afirmou que recebeu “informações genéricas” na véspera da deflagração da operação, no último dia 23, que resultou no indiciamento da ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha. A operação desarticulou uma quadrilha que fazia tráfico de influência e vendia pareceres de órgãos públicos.
Em audiência pública na Câmara dos Deputados, Cardozo disse que o protocolo da PF permite que, em um primeiro momento, ele seja informado apenas com dados “genéricos” sobre operações policiais. O objetivo, justificou, é evitar vazamentos e “blindar” instituições de focos de corrupção. “Se pudesse o ministro de estado da Justiça saber daquilo que tramita no inquérito sobre sigilo, bastava alguma situação que uma informação vazasse para dificultar as investigações e ele seria o primeiro suspeito”, justificou o titular da pasta que comanda a PF.
Reportagem de VEJA revelou, no entanto, que a presidente Dilma Rousseff soube da Operação Porto Seguro a partir de um telefonema de Luís Inácio Adams, advogado-geral da União. Adams havia sido acordado momentos antes por seu número 2, José Weber Holanda, um dos investigados. José Eduardo Cardozo, a quem a Polícia Federal é subordinada, não foi encontrado pela presidente para dar explicações. Três dias depois, ainda não conseguia dizer à chefe com segurança se havia ou não escutas telefônicas envolvendo Rosemary e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Grampos
Assim como já havia feito a PF, o ministro negou aos deputados que conversas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem Rosemary Noronha era próxima, tenham aparecido em grampos telefônicos em poder dos policiais. E disse que não há uma quadrilha instalada na Presidência da República. De acordo com ele, cinco pessoas, entre elas o diretor afastado da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Vieira, integravam o bando criminoso e, em relação a Rose, “não há diálogos gravados entre ela e quaisquer terceiros”.
“Isso (nome de Lula) não existe porque a interceptação telefônica foi pedida por critérios técnicos, e os interceptados foram algumas pessoas, membros da quadrilha e investigados, e não pessoas que não precisavam. A interceptação telefônica não existe para você devassar a vida das pessoas. É feito com objetivo claro de pegar investigações em curso”, afirmou Cardozo.
Blindagem
Ao ser cobrado pelos parlamentares sobre o conhecimento que tinha da Operação Porto Seguro, Cardozo voltou a afirmar que as regras da Polícia Federal foram cumpridas à risca. “Fui informado na hora em que deveria ser: de forma genérica na quinta (véspera da operação) e momentos antes de iniciar a execução, como mandam as regras”, explicou. “Não tenho absolutamente nada a me queixar. As regras mais uma vez foram cumpridas.”
Cardozo observou que a “blindagem institucional” promovida pela confidencialidade das informações policiais permite que o ministro da Justiça só atue para eventualmente coibir abusos de policiais. Além da garantia de que não haverá interferências políticas, essa situação ainda permitiria verdadeira blindagem institucional das autoridades superiores. Diante dessa realidade, seja o sigilo, seja com blindagem institucional de autoridades, o ministro da Justiça só deve tomar ciência das operações para cumprir seu papel de fiscalização”, explicou.
Cardozo negou que tenha perdido o controle da PF e negou que a operação tenha tido motivações políticas – o que também foi negado pelo diretor-geral da PF, Leandro Daiello, e pelo superintendente da PF em São Paulo, Roberto Troncon, que acompanham Cardozo na audiência.
“Agora que pessoas que ocupavam cargos públicos no governo são investigadas e têm uma identidade política maior com a base de sustentação governista, o que se afirma é que o ministro perdeu controle e sequer tinha sido informado. As operações da Polícia Federal não são fruto de instrumentalização do ministro da Justiça nem de descontrole”, afirmou. “Seja um sigilo decretado judicialmente em cumprimento da lei seja no caso de blindagem institucional, o ministro da Justiça só deve tomar conhecimento das operações no momento em que isso se faz necessário”, afirmou Cardozo.
Por Reinaldo Azevedo
Logo vão pedir que a gente aplauda Lula e o governo por mais um escândalo. Ou: Eduardo Campos precisa ler um dos Diálogos, de Platão
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, irá nesta terça ao Congresso Nacional para falar à Comissão de Controle e Segurança e à de Fiscalização sobre a Operação Porto Seguro. Pode parecer uma atitude de respeito ao Parlamento e ao povo, mas é o contrário: a ida de Cardozo é parte da operação abafa. O que, afinal de contas, ele tem a dizer sobre o caso, além de nada?
Quem tem de prestar contas à polícia, ao Congresso e, na hora adequada, à Justiça, é Rose Nóvoa Noronha, a namorada de Lula flagrada em pleno escritório da Presidência da República fazendo, quando menos, tráfico de influência. Como deixam claro os e-mails interceptados pela Polícia Federal, ela recebia por isso. Quem tem de falar aos congressistas e José Weber Holanda, o ex-número dois da Advocacia Geral da União, aquele que Luís Inácio Adams fez questão de nomear APESAR da biografia no serviço público. Quem tem de dar explicações ao Poder Legislativo e o tal Paulo Vieira, apontado pela PF como chefe de quadrilha. Ocorre que a base governista se mobilizou para que essas pessoas não fossem convidadas. Há um esforço para despolitizar a questão, como se estivéssemos diante de meros episódios de desvio de conduta.
Não é assim. A Operação Porto Seguro traz à luz, mais uma vez, evidências da corrupção sistêmica que toma conta do estado brasileiro. Por certo, os petistas e seus agregados não são os únicos corruptos do Brasil, mas a gente nota que não há caso de corrupção em que não se encontrem um companheiro ou um preposto como protagonista. Há uma diferença entre uma elite política que pratica desmandos na margem e outra, como é o caso, em que marginais são os cumpridores da lei.
Rosemary, reitero, está longe de ser apenar uma personagem jocosa de um imbróglio. Ela se torna um verdadeiro símbolo do jeito lulo-petista de fazer política. As necessidades do líder não se distinguem das do partido, que não se distinguem das do governo, que não se distinguem das do Estado. Cardozo certamente destacará a presteza de Dilma em afastar os suspeitos, como se o governo que demite e afasta também não fosse aquele que contratou ou manteve essa gente em funções estratégicas.
A reação do país, como se percebe, não é proporcional ao tamanho do escândalo. O único líder oposicionista que emprestou à questão a sua real gravidade foi o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que diz a coisa certa: seria, sim, caso para uma CPI – que, sabemos, não acontecerá. Se criada fosse, serviria, mais uma vez, à pantomima petista, que agora deu para usar comissões de inquérito para proteger larápios e perseguir pessoas de bem. Parece uma caricatura de contrastes, mas assim é.
Campos e a trilha perigosa
O Brasil caminha numa trilha perigosa. Ontem, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), participou de um seminário promovido pelo jornal Valor Econômico sobre os “novos ventos” da política ou coisa assim. O “vento” como metáfora de coisa boa merecia um estudo. Originalmente, essa novidade era sinônimo de inconstância, de insegurança. O poeta latino Catulo, lamentando um dos muitos chifres que lhe punha a amada Clódia, escreveu, por exemplo, que as promessas das mulheres são escritas na água com o vento… Se o Valor acha que eventuais líderes promissores são “novos ventos”, então basta esperar que passam… Mas volto a Campos. Leio o que segue em vermelho no Estadão:
Indagado se Lula deve explicações à sociedade, Campos afirmou: “Vamos compreender o papel de Lula como o do ex-presidente FHC na história, de líderes que têm imperfeições, que cometeram erros, todos os dois, mas que legaram ao Brasil, cada um a seu tempo, algo que é importante para a vida brasileira até hoje [a democracia]. O presidente Lula merece, do Brasil, respeito.” Campos destacou que pode até ter algumas divergências com Lula, mas é fundamental compreender o papel que ele teve na construção do País.
Apesar da defesa de Lula, o governador de Pernambuco disse que é preciso punir “com o rigor da lei” as pessoas que usaram cargos públicos para tráfico de influência. “É preciso que se apure tudo e os responsáveis [por práticas ilegais] sejam punidos com o rigor da lei. O Brasil tem mudado, não se aceita mais que uma carga tributária de quase 36% possa ser administrada por práticas patrimonialistas”, frisou, citando como exemplo dessa mudança a independência que algumas instituições, como a Polícia Federal, têm para agir.
Campos disse ainda que o petista prestou ao Brasil um papel de grande relevância: “Ele, como um líder popular, viveu momentos difíceis na história, na ocasião em que faltava democracia ao País. Depois, chegou à Presidência da República e teve o equilíbrio de garantir um rumo seguro para a economia brasileira, ganhou prestígio, inclusive no exterior. Além disso, legou independência à Polícia Federal, como se vê até hoje, nomeou oito ministros para o Supremo Tribunal Federal que decidiram com isenção sobre um episódio que, no passado, jamais seria objeto de julgamento no Supremo. E estamos vendo um Ministério Público que não engaveta mais e que denuncia. Este é o legado que eu vejo do presidente Lula.”
Voltei
Os juízos de Campos (que criticou, no seminário, a condução da política econômica do governo Dilma), no que concernem a Lula, são tortos de várias maneiras. O passado do petista, por mais virtuoso que tenha sido, não lhe dá licença especial para praticar ou para permitir que se pratiquem desmandos. São falsas as considerações de que devemos ao Demiurgo a independência do Supremo ou da Polícia Federal. O que quer o governador de Pernambuco? Que sejamos gratos ao ex-presidente por aquilo que nos assegura a Constituição? De resto, já se sabe, a esta altura, que Lula se sente traído pelos ministros que indicou para o tribunal. Não é que ele não esperasse subordinação. As coisas só não saíram conforme o planejado.
É preciso parar com essa bobagem de, a cada lambança que esbarra em Lula, lembrar a sua contribuição ao Brasil, como se isso lhe desse uma espécie de salvo-conduto. Não há vento mais velho do que esse. Então terá sido Lula tão bom para o Brasil, mas tão bom, que isso o coloca acima da lei? Vou enviar ao governador um dos diálogos de Platão, em que Sócrates explica a Críton por que enfrentará a sentença de morte que lhe fora imposta, sem fugir. Em síntese: se ele, Sócrates, acreditava na lei e na Justiça, teria de se submeter a seus ditames.
Encerro
Vamos ver o que dirá Cardozo ao senhores congressistas. Uma coisa é certa: chega desse absurdo muito brasileiro de usar os escândalos para exaltar, ora vejam!, as virtudes dos envolvidos!!! O flagra, senhor ministro, não depõe a favor do governo, não, mas contra. O flagra, senhor governador Eduardo Campos, não releva as virtudes de Lula, não, mas seus defeitos.
Essa conversa, senhores, é velha nestepaiz como o desmando, o autoritarismo e a impunidade.
Por Reinaldo Azevedo
No país da Operação Porto Seguro, MEC aplica uma prova que traz uma tirinha retratando sexo oral! É o Brasil assombrando o mundo!
Há muito tempo, como vocês sabem, venho alertando para a progressiva delinquência intelectual das provas oficiais aplicadas pelo MEC e seus entes subordinados. Há dias, apontei – e ainda falta tratar de outras questões da prova – a patrulha ideológica explícita, arreganhada, no exame do Enade (o provão) para os estudantes de jornalismo. A prova de redação do Enem era pura feitiçaria dita “progressista”. Também tenho destacado a obsessão dos examinadores por tirinhas de jornal, charges, quadrinhos… Trata-se de uma suposta tentativa de modernizar a linguagem das provas de seleção ou de avaliação, na suposição de que se está a usar o “universo do educando”. É uma das heranças malditas de Paulo Freire na educação brasileira. Não é o único lixo intelectual que ele deixou, não, que ajuda a manter a educação brasileira no buraco. Há outros. Pois bem. Some-se a tudo isso o ódio que os fazedores de provada têm ao capitalismo, à propaganda e à “mídia” e acrescentem-se pitadas de, deixem-me ver como chamar, “moral alternativa”. A mistura é explosiva. Cedo ou tarde se chegaria ao que aconteceu na prova da seleção do Instituto Federal de Educação do Espírito Santo (IFES). Uma tirinha, de maneira inequívoca, clara, insofismável, retrata o… sexo oral. Vejuam.
Se as provas de história e geografia já viraram terra de ninguém (pode-se perguntar qualquer coisa sob o pretexto de incentivar o “espírito crítico”), nada se equipara, no entanto, ao que está em curso nas provas de língua portuguesa. As questões sobre “interpretação de texto”, como é o caso, costumam apelar ao mais escancarado proselitismo. E o próprio instituto confessa isso. Pais e estudantes protestaram contra a questão. A escola emitiu a seguinte nota oficial, que combina várias formas de delinquência intelectual. Prestem atenção (os destaques em vermelhito são meus).
Quanto ao “Texto 02” da prova de Língua Portuguesa do Processo Seletivo para Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio do Instituto Federal do Espírito Santo – Ifes, realizado neste domingo (2), a Banca Elaboradora da prova esclarece que os quatro textos selecionados, bem como as questões de 1 a 15, abordavam estratégias publicitárias e mensagens textuais utilizadas pela propaganda, questionando a influência dessas. A Banca afirma que não viu a tirinha selecionada com “olhar pornográfico”, mas deteve-se no foco textual, que faz uma crítica a algumas abordagens realizadas pela Publicidade. Nas palavras da Banca Elaboradora, “o último quadro é uma sequência dos primeiros, que sugerem o tipo de leitura pretendido”.
A Gerência de Processos de Seleção do Ifes esclarece que as questões de prova dos processos seletivos são elaboradas por profissionais do quadro efetivo do Instituto, indicados pela coordenadoria (setor que reúne docentes de uma mesma área de conhecimento) responsável pela disciplina da prova em questão. Após a elaboração, as questões são encaminhadas à Gerência de Processos de Seleção apenas para formatação da prova, tendo em vista a necessidade de manter o conteúdo restrito ao menor número possível de servidores, para garantir o sigilo dado às provas até o momento de sua aplicação.
O Instituto Federal do Espírito Santo está analisando quais são as providências possíveis neste caso.
Voltei
Entendi. Nada menos de 15 questões são dedicadas ao ódio ao capitalismo e à publicidade. Boa mesmo era a Alemanha Oriental, onde só existia a propaganda oficial. Sociedades comedidas, sem esse apelo ao consumo, são Cuba e a Coreia do Norte, por exemplo. Por lá o ideal de equilíbrio e sobriedade da civilização se realizam.
Mais: essa crítica à propaganda, feita de modo tão bucéfalo, Deus Meu!, é velha, ultrapassada, da década de… 60! A publicidade, hoje em dia, ao contrário da caricatura estúpida feita acima, descobriu a eficiência da metalinguagem. Ela deita um olhar crítico sobre si mesma. É, com raras exceções, politicamente correta a mais não poder. Uma propaganda de desodorante que está no ar, diga-se, mostra, sim, um monte de mulheres aos pés do rapaz. Trata-se, evidentemente, de uma peça de humor, que brinca com o ridículo. Os publicitários são bem mais inteligentes do que esses pterodáctilos de esquerda, que ficam atormentando nossos jovens nas escolas públicas e privadas e nas universidades.
A coisa mais parecida com os esquerdista infiltrados no ensino é o Taleban…
Despropósito
Essa prova é destinada a alunos que pretendem fazer o curso técnico integrado ao ensino médio. Foi aplicada, então, também a quase crianças, que acabaram de sair do ensino fundamental. Voltem à nota estúpida. Segundo o instituto, a prova seria séria porque, afinal, foi aplicada por gente séria… Ah, bom! A direção do IFES, no entanto, se isenta de qualquer responsabilidade.
Diz o IFES que a banca que elaborou o exame não viu o sexo grupal e oral com “olhar pornográfico”. Ah, bom! Só existe pornografia quando a imagem busca o deleite. Quando se faz uma crítica ao capitalismo e à sociedade de consumo, então o que se tem é só exercício das inteligência.
Penso no mais recente escândalo do Brasil, com suas peripécias que misturam assuntos públicos, embargos e desembargos de alcova e ladroagem… Tudo bem pensado, por que o MEC não aplicaria uma prova com uma tirinha retratando sexo oral. Faz sentido!
Não será fácil tirar a educação brasileira do abismo em que se encontra. À diferença do que imaginem alguns, o problema principal não é a falta de recursos, mas a estupidez militante que tomou conta da área. Todos os “inimigos do capitalismo” – amigos do próprio rancor e da própria incompetência – se juntaram nesse nicho. Destroem gerações de alunos.
A área sempre foi ruim. Com a chegada do petismo ao poder, atingiu-se o estado da arte. As bestas ao quadrado estão convictas de que o socialismo no Brasil começará pela… educação!
Por Reinaldo Azevedo
Cardozo diz receber apenas dados “genéricos” de operações sigilosas
Por Laryssa Borges, na VEJA.com:
Após a Operação Porto Seguro da Polícia Federal (PF) ter atingido o escritório da Presidência da República em São Paulo e causado preocupação no Palácio do Planalto, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou nesta terça-feira que não toma conhecimento prévio de investigações policiais em sigilo. O ministro afirmou que recebeu “informações genéricas” na véspera da deflagração da operação, no último dia 23, que resultou no indiciamento da ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha. A operação desarticulou uma quadrilha que fazia tráfico de influência e vendia pareceres de órgãos públicos.
Em audiência pública na Câmara dos Deputados, Cardozo disse que o protocolo da PF permite que, em um primeiro momento, ele seja informado apenas com dados “genéricos” sobre operações policiais. O objetivo, justificou, é evitar vazamentos e “blindar” instituições de focos de corrupção. “Se pudesse o ministro de estado da Justiça saber daquilo que tramita no inquérito sobre sigilo, bastava alguma situação que uma informação vazasse para dificultar as investigações e ele seria o primeiro suspeito”, justificou o titular da pasta que comanda a PF.
Reportagem de VEJA revelou, no entanto, que a presidente Dilma Rousseff soube da Operação Porto Seguro a partir de um telefonema de Luís Inácio Adams, advogado-geral da União. Adams havia sido acordado momentos antes por seu número 2, José Weber Holanda, um dos investigados. José Eduardo Cardozo, a quem a Polícia Federal é subordinada, não foi encontrado pela presidente para dar explicações. Três dias depois, ainda não conseguia dizer à chefe com segurança se havia ou não escutas telefônicas envolvendo Rosemary e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Grampos
Assim como já havia feito a PF, o ministro negou aos deputados que conversas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem Rosemary Noronha era próxima, tenham aparecido em grampos telefônicos em poder dos policiais. E disse que não há uma quadrilha instalada na Presidência da República. De acordo com ele, cinco pessoas, entre elas o diretor afastado da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Vieira, integravam o bando criminoso e, em relação a Rose, “não há diálogos gravados entre ela e quaisquer terceiros”.
“Isso (nome de Lula) não existe porque a interceptação telefônica foi pedida por critérios técnicos, e os interceptados foram algumas pessoas, membros da quadrilha e investigados, e não pessoas que não precisavam. A interceptação telefônica não existe para você devassar a vida das pessoas. É feito com objetivo claro de pegar investigações em curso”, afirmou Cardozo.
Blindagem
Ao ser cobrado pelos parlamentares sobre o conhecimento que tinha da Operação Porto Seguro, Cardozo voltou a afirmar que as regras da Polícia Federal foram cumpridas à risca. “Fui informado na hora em que deveria ser: de forma genérica na quinta (véspera da operação) e momentos antes de iniciar a execução, como mandam as regras”, explicou. “Não tenho absolutamente nada a me queixar. As regras mais uma vez foram cumpridas.”
Cardozo observou que a “blindagem institucional” promovida pela confidencialidade das informações policiais permite que o ministro da Justiça só atue para eventualmente coibir abusos de policiais. Além da garantia de que não haverá interferências políticas, essa situação ainda permitiria verdadeira blindagem institucional das autoridades superiores. Diante dessa realidade, seja o sigilo, seja com blindagem institucional de autoridades, o ministro da Justiça só deve tomar ciência das operações para cumprir seu papel de fiscalização”, explicou.
Cardozo negou que tenha perdido o controle da PF e negou que a operação tenha tido motivações políticas – o que também foi negado pelo diretor-geral da PF, Leandro Daiello, e pelo superintendente da PF em São Paulo, Roberto Troncon, que acompanham Cardozo na audiência.
“Agora que pessoas que ocupavam cargos públicos no governo são investigadas e têm uma identidade política maior com a base de sustentação governista, o que se afirma é que o ministro perdeu controle e sequer tinha sido informado. As operações da Polícia Federal não são fruto de instrumentalização do ministro da Justiça nem de descontrole”, afirmou. “Seja um sigilo decretado judicialmente em cumprimento da lei seja no caso de blindagem institucional, o ministro da Justiça só deve tomar conhecimento das operações no momento em que isso se faz necessário”, afirmou Cardozo.
Por Reinaldo Azevedo
O email de Rose
Endereço cortado
Depois de Rui Falcão dizer que o caso Rosemary Noronha é uma exceção que não envolve a estrutura do partido, o PT resolveu até mesmo cancelar o endereço de email que ela usava.
Quem tenta entrar em contato com ela através do [email protected] recebe uma mensagem automática de erro dizendo que o usuário é desconhecido da base de endereços do PT.
Por Lauro Jardim
Currículo de peso
André: 27 anos de praia
Rubens, um dos agora notórios Vieira Brothers, era dado a tentar grandes negócios, mas não se descuidava de ajudar a família. Se puder ser com dinheiro público, melhor ainda.
Em junho de 2011, Rubens Vieira conseguiu a nomeação de um sobrinho para exercer um cargo em Comissão de Assessor na Diretoria de Infraestrutura Aeroportuária – ou seja, nomeou um sobrinho para ser seu subordinado.
O sobrinho, André Vieira, 27 anos, notabilizou-se (na família, claro) por participar do reality show Minha Praia, exibido pelo Multishow em 2010.
Quem for ao site do programa aprenderá que André tem como “qualidade” a “alegria e o “defeito”, a “teimosia”. Suficientes para o posto? Então, saiba que “a música de sua vida” é Beijo Em Alto Mar, do Chiclete Com Banana.
O tal sobrinho formou-se em direito, mas não exerce: foi reprovado na prova da OAB. Ainda bem que a Anac o acolheu.
Por Lauro Jardim
Após desdobramentos da ação da PF, Álvaro Dias sugere criação de CPI
Por Maria Lima , no Globo:
Sem maioria sequer para vencer a blindagem do governo e aprovar a convocação dos envolvidos no escândalo da Operação Porto Seguro, da Polícia Federal (PF), o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), anunciou nesta segunda-feira a disposição de defender, na bancada do seu partido, a criação da CPI de Rosemary Noronha, para investigar as denúncias sobre a venda de pareceres fraudulentos por autoridades do governo federal. No discurso, fez duros ataques também ao governo da presidente Dilma Rousseff. “ Esse é um governo desonesto! Esse é um governo desavergonhado! Esse não é um governo, mas é um desgoverno para a infelicidade do Brasil!”, disse o senador.
O PSDB decidiu apertar o cerco aos envolvidos depois do encontro da Executiva do partido com prefeitos e lideranças políticas liderados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em Brasília. Dias disse que chegou a hora do Congresso cumprir sua parte na Operação Porto Seguro. Quando estourou o escândalo do mensalão, o PSDB e outros partidos de oposição foram criticados por não ousar pedir o impeachment do ex-presidente Lula.
“Nós não estamos cumprindo o nosso dever. Sem dúvida esse escândalo vergonhoso, que emporcalha a imagem do Brasil no exterior, já com repercussão na imprensa internacional, esse escândalo de baixo nível, que expõe uma postura descabida de quem preside o País, antes e agora. Porque os fatos são anteriores, mas se repetiram durante esses últimos anos em que está na Presidência da República a senhora Dilma Rousseff. Ensejaria, sim, a instalação de uma CPI no Senado Federal”, defendeu Álvaro Dias, atacando também a presidente Dilma, nova estratégia do partido.
O próprio Alvaro Dias reconhece a dificuldade de aprovar a criação de uma CPI desta natureza, e pode ser acusado de estar buscando holofotes. Se for uma CPI só do Senado, o tucano precisará do apoio de parlamentares da base para conseguir as 27 assinaturas de apoio a seu requerimento. “Vamos buscar dos governistas dignos a sua assinatura para que possamos instalar a comissão. Ou dizer à opinião pública quem concorda com esse macro sistema promíscuo onde se instalou um balcão de negócios para governar, onde se premiam desonestos, e mostrar aqueles que não concordam com isso”, discursou o líder, completando: “Teria essa quadrilha – é suposição, não é afirmação – contaminado o processo de privatização dos aeroportos brasileiros? Seria essa quadrilha responsável pelo resultado da licitação? O desdobramento das investigações deve, certamente, levar em conta essa suspeição. É preciso investigar.”
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Esquema atuou por mais três empresas
Por Alfredo Junqueira, no Estadão:
Acusado de chefiar quadrilha que vendia pareceres técnicos e fazia tráfico de influência, o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Vieira, atuou para beneficiar mais três empresas com processos administrativos e judiciais no Porto de Santos e no Ministério dos Transportes – aponta relatório da Operação Porto Seguro da Polícia Federal. Trocas de e-mails interceptadas na investigação mostram Paulo Vieira orientando o advogado Marco Antônio Martorelli, também preso na operação, a como agir para favorecer a Hipercon Terminais de Carga Ltda, a Cargill Agrícola e o Estaleiro Mauá.
O ex-diretor da ANA não se limitou a dar conselhos. Mensagens eletrônicas coletadas pela PF a partir de fevereiro de 2010 mostram que Paulo Vieira redigiu petições que foram apenas assinadas por Martorelli. No último dia 12 de junho, o servidor federal chegou a enviar e-mail para o então adjunto da Advocacia-Geral da União (AGU), José Weber Holanda, com o número de uma ação na vara federal do Distrito Federal e o nome do representante da AGU num processo de interesse do grupo.
Tratava-se da solicitação de preferência de compra da Hipercon Terminais de um imóvel da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA) em Santos junto à Superintendência do Patrimônio da União em São Paulo (SPU-SP). Paulo Vieira procurou Weber depois de saber que o advogado da União Luiz Palumbo Neto havia sugerido o indeferimento da causa.
“Importante ressaltar que Paulo Vieira, como funcionário público com atuação nas áreas portuárias (conselheiro fiscal da Codesp) e de Hidrologia (ANA), deveria defender com exclusividade os interesses da União, diferentemente do que apontam os elementos colhidos até o presente momento”, afirma a PF.
A investigação mostra que os contatos entre Paulo e Martorelli eram frequentes. Além de atuarem em favor de empresas com problemas jurídicos e administrativos na esfera federal, os dois falavam com frequência sobre depósitos e pagamentos. A PF identificou ordens de pagamento feitos pelo ex-diretor da ANA ao advogado entre 2010 e 2011 – totalizando R$ 245 mil.
Martorelli também se relaciona com outra personagem importante no esquema. Ele é advogado em processo de divórcio de João Batista de Oliveira Vasconcelos, marido de Rosemary Noronha – ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo e ex-assessora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Investigado na Operação Porto Seguro é afastado dos Correios
No Globo:
Investigado pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, o vice-presidente jurídico dos Correios, Jefferson Carús Guedes, afastou-se nesta segunda-feira do cargo. O afastamento deverá ser de 15 dias, “para o levantamento de processos com participação da empresa LM Negócios Inteligentes, por auditoria determinada pela presidência da ECT”, segundo nota desta segunda-feira dos Correios.
Jefferson é citado no inquérito por ligações próximas com o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira, acusado de chefiar a quadrilha. Segundo a PF, a LM Negócios Inteligentes seria usada para participar de concorrências e disputar a franquia de uma agência dos Correios em São Paulo. Segundo os Correios, a LM Negócios Inteligentes não foi beneficiada nos Correios, participou de três licitações e não venceu nenhuma.
Segundo a PF, Vieira tentou acionar Guedes para rediscutir o caso. Ao GLOBO, Guedes afirmou que sua relação com Vieira era “institucional e acadêmica” e que não favoreceu a LM.
“O vice-presidente destacou que a LM participou de três concorrências nos Correios e foi inabilitada ou desclassificada em todas, não tendo nenhum contrato firmado com a ECT. Guedes reiterou que, mesmo não tendo sido convocado ou intimado, sempre esteve à disposição da Polícia Federal para esclarecer os fatos”, diz a nota divulgada ontem pelos Correios.
Razões de foro íntimo
Investigado na Porto Seguro, o ministro do Tribunal de Contas da União José Múcio Monteiro não quis revelar nesta segunda-feira os motivos “de foro íntimo” que o levaram a se declarar impedido de relatar o processo no TCU contra a Tecondi, que atua no Porto de Santos e tinha interesses defendidos por Paulo Vieira.
O impedimento de Múcio interessava à organização, segundo e-mail interceptado pela PF. Ao GLOBO, José Múcio disse ter recebido Vieira duas vezes em seu gabinete para tratar de assuntos relacionados a “processos em tramitação no Tribunal”.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Joaquim Barbosa derruba supersalários do Tribunal de Contas da cidade de SP
Por Carolina Brígido, no Globo:
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, derrubou nesta segunda-feira uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, de novembro, que autorizava o pagamento de salários acima do teto constitucional para 168 servidores do Tribunal de Contas do município de São Paulo. Na mesma decisão, o tribunal paulista também havia determinado o pagamento, em parcela única, da diferença acumulada de fevereiro a novembro entre o teto constitucional e o contracheque original dos servidores. As vantagens retroativas somavam prejuízo de R$ 11 milhões aos cofres públicos.
Os servidores do Tribunal de Contas tiveram os salários superiores ao teto do funcionalismo do município, de R$ 24,1 mil, reduzidos em fevereiro, por decisão do presidente do órgão, Edson Simões. Havia contracheques com valores superiores a R$ 50 mil. Simões justificou a decisão na Constituição Federal, que define o teto do funcionalismo, e em lei municipal de 2011 que estabeleceu R$ 24,1 mil como o valor máximo a ser pago a servidores da cidade. O valor corresponde ao salário de prefeito.
Os 168 funcionários que ganhavam acima do teto recorreram ao Tribunal de Justiça, alegando que os salários eram “direito adquirido” e, por isso, o grupo não poderia ter os valores dos contracheques reduzidos. A Justiça deu ganho de causa aos servidores. Mas o Tribunal de Contas recorreu ao STF. Na decisão desta segunda-feira, Joaquim derrubou a autorização até que o plenário do Supremo discuta o mérito da questão. O ministro deu prazo de dez dias para que o tribunal paulista preste informações sobre o caso.
“A medida liminar que ora se concede é precária e não poderá ser invocada para estabilizar expectativas, nem para consolidar situações”, escreveu Joaquim em sua decisão.
Por Reinaldo Azevedo
Execução da punição a réus pode ficar nas mãos do STF
Por Felipe Seligman e Márcio Falcão, na Folha:
A execução das penas dos condenados no julgamento do mensalão pode ser feita pelo presidente do Supremo Tribunal Federal e relator do caso, Joaquim Barbosa, em vez de ser enviada para os juízes da primeira instância. Nos bastidores do Supremo, essa tese vem ganhando força e foi apresentada aos colegas pelo decano da corte, o ministro Celso de Mello.
A ideia inicial, manifestada por Barbosa, era que os juízes nos Estados ficassem com a tarefa de determinar onde as penas serão cumpridas e quem teria direito a eventuais benefícios, como a progressão de um regime fechado para um semiaberto. Alguns ministros entendem que delegar essa função tiraria um trabalho extra do tribunal, que já ficou metade do ano de 2012 se dedicando quase que exclusivamente à análise do mensalão. Além disso, os magistrados especializados em execução penal conhecem a realidade e especificidades dos locais onde os condenados cumprirão suas penas.
O problema é o que determina o artigo 21 do regimento do STF. O texto diz que cabe ao ministro relator “executar e fazer cumprir os seus despachos, suas decisões monocráticas, suas ordens e seus acórdãos transitados em julgado, bem como determinar às autoridades judiciárias e administrativas providências relativas ao andamento e à instrução dos processos de sua competência”.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
O dia em que Falcão, do PT, fez uma aterrissagem mais desengonçada do que a de um urubu
Pode não parecer por causa do seu ar sempre meio enfezado, mas o fato é que Rui Falcão, presidente do PT, tem senso de humor. Às vezes, falcão que é, consegue ser mais engraçado do que um urubu quando dá aquelas corridinhas ou quando aterrissa, com aquele jeito notavelmente desengonçado…
O presidente do partido que conta com estrelas notáveis como José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino – condenados à prisão; o último em regime semiaberto – decidiu comentar o mais recente escândalo da República, que põe no centro das atenções Rosemary Nóvoa Noronha, amante de Lula quando nomeada chefe da gabinete da Presidência em São Paulo. Leiam o que disse, segundo informa a Folha Online:
“São exceções que têm ocorrido no PT que não envolvem nossa estrutura partidária (…). Lamentamos que alguém que estava num posto de representação federal possa ter cometido os fatos revelados pela imprensa a partir da investigação da Polícia Federal. O PT não compactua com isso”.
Huuummm… Entendi. Está tirando o corpo fora. Já a turma do mensalão é defendida com unhas e dentes – e isso quer dizer, por raciocínio lógico, que o PT, então, compactua com aquilo. Eu já sabia, claro! Só aguardava uma confissão de Falcão.
É curioso porque Falcão está fazendo digressões sobre o silêncio. Ele está a afirmar, na verdade, que Rose não é um problema do partido, mas uma “questão particular” de Lula, repetindo, aliás, o que disse o próprio Babalorixá. Entendi: a “questão particular” era paga com o nosso dinheiro. É o que se chama de custos públicos para benefícios privados.
Ocorre que Paulo Vieira, apontado pela PF como chefe da quadrilha, também é petista. Por insistência de Lula, foi provado pelo Senado só na terceira votação – na primeira houve empate; na segunda, ele foi rejeitado. Vieira, no entanto, tinha uma fada madrinha muito ativa: Rose. E aí deu tudo certo para eles e tudo errado para a República.
Ainda imitando a aterrissagem desengonçada do urubu, Falcão evocou o estatuto do PT para acenar com a eventual expulsão de Vieira caso de prove judicialmente que é mesmo culpado:
“Ele provavelmente será processado, terá direito a defesa, e o PT, no momento propício, se houver condenação, seguirá o seu estatuto [apuração, suspensão e desfiliação], concedendo ampla defesa ao acusado”.
Ah…
O estatuto do PT prevê a expulsão de militantes condenados em processos criminais, sem chance de recurso. É o caso dos mensaleiros. O partido, no entanto, rasgou o dito-cujo e decidiu dar início a uma campanha pública contra o… STF!
Falcão, o engraçado!
Por Reinaldo Azevedo
Como um sururu num hospital federal do Rio me fez lembrar da “Primeira Meditação”, de Descartes. Ou: Se está bom para o povo do Butão, está excelente para mim, metafísica à parte!!!
Fila, reclamações e confusão para marcar consulta (Márcia Foleto/AgênciaOGlobo)
O Brasil é mais atrasado do que propriamente pobre. Se não me engano (não consultei o Google), a frase é de FHC. Se não for, talvez ele a endosse – algum leitor, como de hábito, colocará as coisas nos eixos.
Pamela Oliveira, da VEJA.com, conta uma história – real!!! – do arco da velha no texto baixo! É como é velha a dona do arco! Tem a idade do desrespeito! Abaixo, vai um retrato da capacidade de planejamento do governo federal e de como anda a área de saúde no país. Mas consta que o índice de felicidade da população anda superior àquele colhido entre os analfabetos e desdentados do Butão. Se o povo do Butão está feliz, então eu também estou – e limito as minhas contraditas às questões de cunho metafísico, não é?
Vai ver as dificuldades disso a que chamam povo não existem, e, a exemplo da hipótese levantada por Descartes na sua “Primeira Meditação”, o que vejo é só obra de um “gênio maligno”, que me faz ter impressões erradas da realidade, afastando-me da verdade das coisas, não é?
Leiam o texto da VEJA.com.
Referência nacional em cirurgias ortopédicas de alta complexidade, o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), no Rio de Janeiro, amanheceu com uma fila quilométrica nesta segunda-feira. Era o primeiro dia de marcação de consultas para o ano que vem – prazo que se estende até sexta. Sem querer contar com a sorte de vagas remanescentes, centenas de pacientes – muitos com dificuldade de locomoção e alguns usando muletas – enfrentaram horas de espera para conseguir um agendamento na moderna unidade inaugurada em novembro do ano passado pela presidente Dilma Rousseff.
A fila começou a se formar ainda na madrugada, tanto por pessoas que desejavam marcar sua primeira consulta quanto por aquelas que já se tratam no local mas queriam garantir atendimento em 2013. Ou seja, mesmo pacientes antigos, que já poderiam ter agendado seu retorno, enfrentaram a aglomeração que seguia pelo quarteirão no Caju, Zona Portuária da cidade.
A previsão inicial era marcar 400 consultas neste primeiro dia, e outras 1.600 até o final da semana. Mas antes das 7h, horário previsto para início das marcações, já havia tumulto. Em 20 minutos, as 400 senhas reservadas se esgotaram, e outras 450 foram distribuídas. Esse último grupo, no entanto, terá de retornar à unidade na terça-feira.
Telefone
Depois da confusão, o diretor da unidade, Naasson Cavanelas, determinou que os agendamentos sejam feitos somente por telefone, a partir de agora. E pediu paciência. “As marcações valerão para todo o primeiro semestre do ano que vem. Nossas telefonistas devem conseguir marcar 2.000 consultas por dia. Recebemos algumas reclamações do call center, mas peço por favor que, mesmo com as linhas congestionadas, as pessoas continuem ligando, porque uma hora elas vão conseguir.”
O atendimento será feito pelo telefone (21) 2134-5000, das 7h às 19h. O agendamento presencial não será mais necessário, informou o Into por meio de nota à imprensa. Para marcar a consulta, o paciente deve apresentar o número do prontuário e o nome do médico.
Cavanelas admitiu que o instituto não estava preparado para a intensa procura desta segunda. ”Há seis meses, fizemos este mesmo modelo de marcação e não houve este tamanho de fila. Tínhamos entendido que esta seria a maneira mais correta de organizar as senhas. No entanto, acabamos nos surpreendendo com tamanha demanda. Só quero deixar bem claro para a população que este tipo de coisa não vai se repetir”, declarou.
Por Reinaldo Azevedo
Bancadas dos estados não produtores tentarão derrubar veto de Dilma à lei dos royalties; na sexta, eu havia dito que o governo abusava do Congresso…
Pois é… Escrevi na sexta um artigo evidenciando os absurdos que os governos Lula e Dilma cometeram na negociação sobre os royalties do petróleo. Entre outras questões, destacava a heterodoxia da relação do governo com o Congresso. O Parlamento aprova uma proposta, Dilma veta, e, antes mesmo que o veto possa ser apreciado, lá vem uma Medida Provisória… Muito bem. Há os risco de as coisas se complicarem, como informa Cecília Ritto, na VEJA.com.
O veto parcial da presidente Dilma Rousseff ao projeto de lei que prevê uma nova distribuição dos royalties e participações especiais, comemorado no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, desagradou aos estados não produtores. O ponto central da intervenção de Dilma foi impedir alterações nas regras de distribuição dos recursos oriundos de campos já licitados. A partir de terça-feira, a bancada de Minas Gerais tentará obstruir as votações, como forma de pressionar o governo. O deputado Fábio Ramalho, do PV, coordenador da bancada mineira, enviou um comunicado para os gabinetes de seus conterrâneos para que o plano seja colocado em ação. Nesta segunda-feira, Ramalho também passou um aviso para os parlamentares de todos os estados não produtores, por email e por escrito, para garantir que o recado seja dado e que todos estejam preparados para impedir votações. Rio e Espírito Santo, claro, ficaram de fora da lista. São Paulo, que também tem perdas, também está fora da articulação até o momento.
Ramalho também ligou para os coordenadores de bancada dos estados não produtores para agendar uma reunião. “Mandei um comunicado a todos para que iniciemos o movimento, que não tem conotação partidária. O Congresso está desmoralizado”, disse o deputado. “A nossa questão será exigir que se coloque o veto em votação e que ele seja derrubado”, afirmou.
A reunião entre as bancadas dos não produtores servirá para encaminhar ao presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, o pedido para que o veto de Dilma seja votado – e derrubado – o quanto antes. “Ela foi muito dura na caneta”, argumentou Ramalho.
O deputado federal Daniel Almeida, do PC do B, coordenador da bancada da Bahia, adiantou que integrará o pedido para que o veto seja apreciado o mais brevemente possível. “As chances de derrubar são muito grandes. Há vários parlamentares da Bahia dando respaldo. Buscarei contato com o presidente do Congresso (José Sarney) para ele ajudar a agilizar isso”, afirmou Almeida.
A bancada da Paraíba também ficou insatisfeita com a presidente. Os parlamentares se reunirão na noite de terça-feira para elaborar um documento com a posição do estado em relação ao veto parcial. “Se a maioria concordar, assinaremos um documento indicando que tentaremos derrubar o veto em plenário. Depois, vamos encaminhar ao Marco Maia”, afirmou o coordenador paraibano, Manoel Junior, do PMDB.
Os estados não produtores queriam receber um quinhão dos royalties e das participações especiais dos poços leiloados – tanto os em exploração como os em prospecção. Isso implicaria em perdas bilionárias, já em 2013, para os estados do Rio e do Espírito Santo. No Rio de Janeiro, a capacidade de investimento ficaria comprometida. Como no estado a grande parte dos royalties é aportada no Rioprevidência, o fundo de previdência, o dinheiro investido em programas sociais e obras de infraestrutura teria de ser desviado para pagar os aposentados.
“Respeitamos o Rio e o Espírito Santo que conseguiram obter, ao longo de todo esse tempo, os pagamentos de royalties. Mas royalties não são privilégio dessas populações. Não estávamos esperando o veto. É um contrassenso trocar 24 estados por dois”, defendeu Junior.
O deputado federal Laurez Moreira, do PSB, é o coordenador da bancada do Tocantins no parlamento e parece um dos poucos dispostos ao diálogo. “Estamos preferindo dialogar. Vamos ver o que dá para ser feito. Do outro lado, sabemos que o Rio e o Espírito Santo teriam impacto. Nossa bancada deve esperar a movimentação desta semana”, disse.
Por Reinaldo Azevedo
Se a oposição tiver o que dizer na semana que vem, já é um bom começo; não precisamos de planos para 20 anos
FHC e Sérgio Guerra lançaram, como se informa no post abaixo, a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência em 2014. O mineiro, como Tim Maia, entoou um “faz de conta que ainda é cedo” e coisa e tal. E depois sugeriu que é preciso ouvir a sociedade para criar uma plataforma para os próximos 20 anos… Os governantes brasileiros andam mais ambiciosos sobre o futuro do que Stálin. Já chego lá.
Nesta manhã, comentei uma entrevista de FHC à Folha (ver post). Alguns tucanos estão muito bravos comigo. Compreendo seus motivos, embora eles pareçam não compreender a história e, segundo notei, o que escrevi.
Candidatura à Presidência não pode ser uma personagem em busca de um roteiro. O roteiro tem de vir primeiro: candidato (seja lá quem for) em nome do quê? De quais propostas? De quais valores? Acenando a quais setores da sociedade em particular para, depois, buscar o apoio geral? Sem isso, pouco importa se o escolhido é Schopenhauer ou uma besta ao quadrado; um encantador de multidões ou um poste – desses com os quais Lula vem, segundo ele, “iluminando” o país. A ideia tem precedência sobre o nome. Nesse particular, é evidente, o PT está muito à frente dos tucanos. Ainda que suas formulações e prefigurações sejam falsas como notas de R$ 3 (esse é outro problema), o fato é que os petistas perceberam que a construção da narrativa deve vir primeiro.
É quase tautológico, mas tem de ser dito. Política se faz fazendo. Inexiste essa instância de, sei lá como chamar, recolhimento de expectativas para, então, numa fase posterior, elaborar uma proposta e, na sequência, seduzir as multidões. Eu não sei onde os tucanos colheram esse modelo trifásico de fazer política. Se existir, é coisa que só dá no Brasil, como jabuticaba e pororoca (não estou certo de que a pororoca seja apenas nossa, não; algum geógrafo –se é que ainda os há ocupados da geografia física – me conte nos comentários…).
A realidade política está em curso. Não vai se lembrar de acontecer só a partir de meados de 2013 ou de janeiro de 2014. As coisas já estão aí. O que os tucanos – e Aécio em particular – pensam, sei lá, das cotas raciais nas universidades federais, do amplo programa de socorro dos bancos oficiais à economia, da presença crescente do estado em determinadas áreas, da corrupção desbragada, até – sim, até isto!!! – do novo técnico da Seleção?
Ora, fazer política é apresentar-se como alternativa permanente de poder e de visão de mundo, não apenas quando as urnas aparecem no horizonte. Isso reproduz uma visão ultrapassada do confronto de ideias. Se os tucanos silenciam quase sempre sobre quase tudo, por que os brasileiros deverão acreditar que são mesmo uma alternativa de poder a esses outros, que falam pelos cotovelos e são capazes de politizar até os ataques do PCC?
Sim, não sendo a alternativa ainda pior do que o petismo – e Aécio Neves não é; vamos ver se haverá outras -, eu votarei no adversário do PT. Não havendo nada melhor, então anularei gloriosamente meu voto, deixando claro que nada me serve. Logo, a possibilidade de eu condescender com a turma que aí está é nenhuma!
Mas este sou eu. Meu voto – sobretudo as minhas recusas — tem um matiz fortemente ideológico. É necessário que um partido de oposição, como o PSDB, escolha, inicialmente, uma parcela da sociedade brasileira para dizer por que é preciso mudar de rumo. Tão logo deixe isso claro para si mesmo, aí é o caso de conquistar mais gente. Não vejo nada disso em curso. O que ouço é silêncio e equívoco – como a tentativa canhestra de emular com o petismo em certas abordagens politicamente corretas (tratei do assunto nesta manhã). Se a polarização for Aécio-Dilma, certamente votarei em Aécio. A questão é saber, dado o andar da carruagem, quantos votarão comigo…
Unidade
O PSDB precisa acenar com um fato novo à população brasileira – e esse fato novo tem de corresponder à realidade: construir a unidade partidária, o que não existe desde a disputa de 2002. Em 1994 e em 1998, essa questão não se colocava porque o elemento que garantia a tropa compacta se chamava “Plano Real”.
Serra teve a sua candidatura sabotada internamente em 2002 e em 2010; Alckmin, em 2006. Haverá unidade em 2014? Eis o ponto. Se não começar a ser construída já – e não acho que esteja sendo –, lá se vai repetir o número de sempre, desta feita tendo Aécio no papel do “cristianizado”.
As circunstâncias concorrem para que seja ele o candidato do partido à Presidência. Essa questão me parece resolvida – desde que ele queira, de fato, ser o candidato e que as contingências mineiras não o façam desistir. Nesse sentido, FHC e Sérgio Guerra fazem bem em anunciar o seu nome como o provável presidenciável do partido. Mas não há roteiro e narrativa; só personagem.
Vinte anos?
Os políticos brasileiros precisam ser mais modestos, não é? Se for o caso, que tenham a modéstia de Stálin, que fazia, no máximo, planos quinquenais de governo. Por aqui, já se vai logo pensando, como fez Aécio, nos próximos 20 anos. É muito tempo. Trata-se, na verdade, de uma bobagem.
Vejam o Chile. O presidente tem mandato de quatro anos e não pode se reeleger. Seus planos têm, pois, quatro anos! Nos EUA, um presidente pode ficar oito no poder, mas passa por uma espécie de referendo depois de quatro. Um democrata ou republicano que dissesse estar elaborando um plano para os próximos 20 seria tido como um lunático.
Ninguém precisa de tanto tempo. Fazer oposição a partir da semana que bem já é um bom começo.
Por Reinaldo Azevedo
Sergio Guerra e FHC lançam Aécio Neves candidato à Presidência da República em 2014
Leiam o que informam Fernanda Krakovics e Paulo Celso Pereira, no Globo. Comento no próximo post:
O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lançaram nesta segunda-feira o nome do senador Aécio Neves (MG) para candidato à presidente da República nas eleições de 2014. O ex-governador mineiro, no entanto, disse que ainda é cedo para assumir essa condição.
Guerra também anunciou que Aécio deve assumir a presidência nacional do PSDB, em maio do ano que vem. “O senador Aécio é o candidato da grande maioria do PSDB. Ele deve ser o presidente do partido, é o chefe de que precisamos e o líder que desejamos. Não estamos diminuindo ninguém, mas Aécio é o candidato que o PSDB tem para presidente da República”, disse Sérgio Guerra.
Fernando Henrique foi muito claro sobre o momento de o PSDB lançar seu candidato: “A hora é já, é agora. O nome do PSDB, hoje, é do Aécio. A meu ver, desde já, ele tem de assumir suas responsabilidades, não de candidato, mas de líder do partido, para ele poder começar a percorrer o Brasil”, afirmou o ex-presidente.
Aécio, no entanto, foi cauteloso: “Não vou antecipar etapas, porque não acho que seja produtivo”, disse o senador. “Antes de ser candidato a presidente da República, temos que apresentar ao Brasil uma nova agenda para os próximos 20 anos”, afirmou.
O líder do PSDB na Câmara, deputado Bruno Araujo (PE), reforçou a aposta em Aécio para a disputa nas eleições de 2014. Para ele, é o “estilo mineiro” que faz Aécio dizer que ainda é cedo para o lançamento da candidatura.
“É só o estilo mineiro, para não perder a tradição mineira. Todos apostamos no Aécio para presidente do PSDB e como nosso candidato à Presidência em 2014”, disse Bruno Araújo.
Por Reinaldo Azevedo
Gilberto Carvalho tem razão: corrupção agora não está debaixo do tapete; é exibida com orgulho na sala de visitas!
Há, é evidente, uma outra leitura para a fala de Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência. Segundo ele, a corrupção, agora, “não está mais debaixo do tapete”.
No que concerne ao petismo, ao menos, ele não deixa de ter razão. As pessoas varrem pra debaixo do tapete o que sabem que não deveria estar na sala de visitas, aos olhos de toda gente, não é isso?
Quem esconde a sujeira conserva, ao menos, certo senso herdado de vergonha, ainda que não consiga viver segundo os valores que sabe serem os corretos. Um governo que, numa atitude detestável, tente esconder a corrupção não é tão detestável a ponto de tentar naturalizá-la.
No petismo, como a gente nota, as coisas são diferentes. Muitos já nem se ocupam mais de esconder as ilegalidades. Os petistas querem transformar a corrupção num modo de fazer as coisas. Por isso já nem mais s envergonha.
Querem ver?
Lula foi convidado a falar sobre os folguedos de sua amante (não sei se ainda é) no escritório da Presidência em São Paulo. Respondeu o quê? Que não se pronuncia sobre assuntos particulares. É um escracho! “Assuntos particulares”? Ninguém queria ouvi-lo sobre sucessos de alcova, que tudo tem limite nessa vida (menos o Lula, claro…)
Voltemo-nos uma vez mais para esta foto, publicada a edição de VEJA desta semana.
Rosemary, a “madame” de Lula, decorou o escritório da Presidência em São Paulo com um painel de seu benfeitor e estampou sua imagem nas almofadas. Nós estamos falando de uma sala que é extensão da Presidência, órgão executivo de um Poder da República, que tem de ser, por lei, impessoal porque de todos.
A corrupção não é só a do dinheiro público.
A corrupção não é só a de costumes.
Há também a corrupção do caráter.
Gilberto Carvalho tem razão. Não se varre mais a corrupção pra debaixo do tapete. Agora ela é exibida como conquista e troféu na sala de visitas. Eles, de fato, se orgulham dela.
Por Reinaldo Azevedo
As bobagens autoritárias de Gilberto Carvalho e a resposta de FHC: quase chega ao ponto!
Leiam esta declaração:
“Tenho 81 anos, mas tenho memória. Este senhor precisa pelo menos respeitar o passado, até o dele, para não continuar dizendo coisas levianas. Estou cansado de ouvir leviandades de quem está no governo. Aproveita posição do governo para jogar pedra no passado. Herança maldita está ai, recebida pela presidente Dilma”.
É uma reação, quase inteiramente correta, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a uma porção de bobagens ditas pelo espião de Lula no governo federal, Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e segundo homem mais poderoso no partido, depois do próprio Barbalorixá. Os dois estavam em seminários. FHC fez essa declaração no início de um seminário que o PSDB promove em Brasília sobre as eleições municipais.
Por que a fala de FHC é QUASE inteiramente correta? Já chego lá. Vamos ao que afirmou Carvalho, segundo a Folha, para ter provocado uma reação mais dura do ex-presidente – alguns tons acima da entrevista ruim que concedeu à Folha.
Disse o chefão petista:
“Os órgãos todos de vigilância, fiscalização, estão autorizados e com toda liberdade garantida pelo governo. Eu quero insistir nisto: não é uma autonomia que nasceu do nada, porque, antes, não havia essa autonomia. Nos governos Fernando Henrique, não havia autonomia; agora há autonomia, inclusive quando cortam na nossa própria carne (…)”Antes havia engavetador geral da República. Com o presidente Lula nós começamos a ter um procurador com toda liberdade”.
Estupidez
Carvalho confunde a República com uma monarquia absolutista. Não é o “governo que garante” a autonomia da Polícia Federal e do Ministério Público, mas a lei. O secretário-geral da Presidência pretende transformar numa generosidade do lulo-petismo aquilo que a Constituição nos assegura. É uma piada! Quanto ao passado, notem que ele se refere especificamente ao governo FHC. Certamente nas gestões dos agora aliados Collor e Sarney, a República andava nos eixos, certo?
É impressionante que um ministro de estado, que exerce um dos cargos mais importantes da República, se dê a tal desfrute, especialmente quando se descobre um cancro corruptor no coração do governo. Tanto mais constrangedor quando o caso envolve alcovistas, alcoviteiros, alcovitagem, alcovetas, alcovetos… O PT tanto respeitou a autonomia do procurador-geral da República que tentou destruir a sua reputação com uma CPI, que é um instrumento de Estado, já que se trata trata de prerrogativa de um Poder: o Legislativo.
A reação de FHC
A reação do ex-presidente foi mais contundente do que a sua entrevista meio boba à Folha (ver post a respeito), mas ainda está eivada de senões e considerandos, que se combinam com a dificuldade que tem o PSDB de fazer oposição. Voltemos a dois trechos de sua resposta:
“(…) Este senhor precisa pelo menos respeitar o passado, até o dele, para não continuar dizendo coisas levianas (…). Herança maldita está ai, recebida pela presidente Dilma”.
Duas coisas
Que “passado” respeitável tem Gilberto Carvalho, que o próprio petista deveria ter honrado agora? Ter sido braço-direito de Celso Daniel? Que herança Dilma terá recebido que não tenha ajudado a construir, de sorte que o governo que tem também é fruto do governo ao qual serviu como “gerenta”?
O PSDB precisa começar por redescobrir o vocabulário da oposição. Se vai ganhar eleição, eu não sei. Mas ao menos se diz a coisa certa. É melhor do que perder dizendo a coisa errada.
Por Reinaldo Azevedo
Entrevista de FHC é mais um sintoma de que o PSDB está perdido e de que pode não ser mais alternativa de poder
A Folha publica nesta segunda uma entrevista concedida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a Fernando Rodrigues. Reputo o tucano, todo mundo sabe, o governante mais importante do Brasil em muitas décadas. Em razão de valores que nem são os dele, mas são os meus, ele ocupa um lugar superior na minha galeria ao de Getúlio Vargas. Não aplaudo políticos que põem o país em risco quando matam ou quando se matam. Não tolero nem ditadores nem mártires porque as instituições sempre pagam o pato. O grande valor de FHC foi ter deixado instituições melhores do que encontrou. E há, claro!, o Plano Real, que teria naufragado sem a sua habilidade política.
Não gosto da obra de alguns políticos, mas gosto de sua visão de futuro e de suas prefigurações. De FHC, prefiro a obra. Ainda que seja notavelmente inteligente – e é, como poucos –, acho que erra bastante quando faz análise de conjuntura e quando pensa os próximos passos da oposição. É um erro pessoal que reflete as indecisões e indefinições do seu partido, o PSDB. Vai aqui uma constatação e uma mirada de futuro: ou esse partido se dá conta das suas dificuldades e de seus erros (que não são, a meu ver, os que ele aponta) e cria um fato político novo – QUAL??? –-, que corresponda uma real mudança interna, ou as coisas ficarão muito difíceis.
Deu-se de barato, até as eleições presidenciais de 2010, que é o PSDB a alternativa de poder ao PT. Não são poucos os que consideram, e essa questão começa a tomar corpo também para mim, que a chance de o PT ser apeado do poder está não numa candidatura tucana, mas num racha do bloco hoje governista. E a entrevista de FHC explica por que, a cada dia, menos gente aposta que os tucanos terão condições de desalojar os petistas do poder. Comento em azul alguns trechos de sua entrevista, que seguem em vermelho. No fim, volto para arrematar.
Folha/UOL – A crise econômico-financeira internacional colocou na defensiva as ideias liberais. Essa onda muda a abordagem de partidos como o PSDB?
Fernando Henrique Cardoso - Os que estão no governo passaram a ter uma espécie de perdão para utilizar recursos públicos para reativar a economia.
O PSDB nunca foi um partido que tivesse muito amor pelo mercado. Como todos os partidos brasileiros, as pessoas gostam mesmo é de governo, é de Estado. Isso desde Portugal, da Península Ibérica. O grande ator, querido, é o governo.
Estamos de volta a “Os Donos do Poder”, de Raymundo Faoro, e a “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda. O “amor” dos brasileiros pelo estado teria sido herdado. É inegável, mas incompleto. Acho que FHC deveria ter sido mais explícito, deixando claro que os tucanos nunca foram (e aqui digo eu: infelizmente!) liberais. Nem ele próprio. A privatização de algumas estatais nunca significou opção pelo neoliberalismo. O ex-presidente perdeu a chance de apontar a grande fraude intelectual petista. Cumpria destacar ainda as privatizações recentemente feitas por Dilma, não é? São diferentes daquelas do passado num única aspecto: o improviso.
(…)
O PSDB nasceu de centro-esquerda. Em eleições recentes, abordou temas morais e religiosos. Deslocou-se para a centro-direita. Por quê?
Por engano eleitoral. Esses temas são delicados. Acho que você tem que manter a convicção. Você pode ganhar, pode perder. Em termos de comportamento e de valores morais, o PSDB tem que se manter progressista. Quando não se mantém, não tem o meu apoio. Eu não vou nessa direção.
Há vários equívocos aí, a começar da pergunta. Se eu pedir a Fernando Rodrigues que aponte uma só peça de propaganda eleitoral do PSDB que toque nos tais problemas morais e religiosos, ele não conseguirá apontar. Não existe. Em 2010 e neste 2012, quem primeiro se ocupou dessas questões, e de maneira preventiva, foi o PT. Isso é apenas um fato. A tática é quase infantil, mas dá certo, como se nota.
FHC endossa a inverdade e segue adiante com esta formulação que dá pano pra manga: “Em termos de comportamento e de valores morais, o PSDB tem que se manter progressista”. É mesmo? E em que o partido poderia ser, sei lá, “conservador”? Em economia?
O ex-presidente não se dá conta de que tenta a quadratura do círculo – ele e os tucanos todos. Foi Dilma quem primeiro levou a questão do aborto para a disputa em 2010. Foi Fernando Haddad quem primeiro levou a questão do kit gay para a eleição neste 2012. O ERRO DO PSDB, NOS DOIS CASOS, FOI TER FUGIDO DO DEBATE.
Questões chamadas nesta entrevista de “morais e religiosas” são tema de disputa eleitoral em todo o mundo democrático – ou será que minto, presidente? E jamais ocorreria a alguém tentar deslegitimá-las. Uma das perdições dos tucanos está, justamente, em tentar fazer um campeonato de “progressismo” com o PT.
O sr. tem dito que o PSDB tem que se aproximar mais “do povo”. Como fará isso?
Os partidos, por causa de uma mudança tão rápida no Brasil, ainda continuam com uma visão de sociedade anterior à atual. A atual é essa do UOL, da pessoa que fica aí navegando o tempo todo, que tem informação fragmentada. Minha tese é a seguinte: é preciso ouvir. Não é pregar. É ouvir. É reconectar com o que está acontecendo com o país.
Não entendi nada! Na entrevista, o ex-presidente cita até a novela Avenida Brasil, a tal nova classe média, o Elio Gaspari, o andar de baixo, o andar de cima… Fiquei com a impressão de que o ex-presidente está tateando a escuridão.
(…)
Como é a capacidade gerencial do atual governo?
Alguém me perguntou a respeito de o PIB ter crescido pouco: ‘Isso quer dizer que a presidente Dilma é má administradora?’. Não. O PIB cresceu pouco por mil razões. O erro, que eu acho que houve, é que o governo se colou ao PIB. Não precisava. Não acho que se deva colar na presidente Dilma [a queda do PIB]. Ela é que pode se colar nisso. Aí fica mal para ela.
Como se cantaria em Avenida Brasil, “Oi, oi, oi…” Se vocês notarem bem, FHC fala como conselheiro de Dilma, não como representante da oposição. Nem mesmo admite que ela é uma má administradora. Bem, se não é, então tudo bem! Trocar pra quê? Na sequência, o entrevistador indaga se a crítica à incompetência gerencial do governo é um bom discurso para a oposição. FHC responde: “A governança está falha. Mas campanha é outra coisa. Isso [falar da governança] pega quem? Por enquanto, não pega o povo.”
(…)
O sr. conviveu com alguns dos réus que foram condenados no mensalão. José Genoino, José Dirceu. O que o sr. achou dessas condenações?
Eles não foram condenados pelo que eles são. Mas pelo que eles fizeram. Uma coisa é você ser um bom homem. De repente, eu fico com raiva, dei um tiro e matei alguém. O que eu vou fazer? Vou para a cadeia.
Nunca vi nada do Genoino. É uma pessoa bastante razoável. O José Dirceu é um quadro. Eu respeito as pessoas que têm qualidade de quadro. Acho um episódio triste. Porque essa gente ajudou muito o Brasil no passado.
Taí! Dirceu estava esculhambando FHC ontem em seu site, mandando, na prática, o tucano ficar calado. Notem: nessa resposta e naquela sobre costumes e religião, quem fala é sociólogo que já foi de esquerda e que, em muitos aspectos, continua a sê-lo, ainda que os anos de governo o tenham empurrado para o pragmatismo. Dirceu e Genoino movem campanhas públicas contra o STF, como todo mundo sabe. O que quer dizer o trecho “José Dirceu é um quadro, e eu respeito pessoas que têm qualidades de quadro?” É próprio de um quadro se reunir com autoridades do governo em quartos de hotel? É próprio de um quadro articular uma CPI para perseguir jornalistas e o procurador-geral da República?
O PSDB está com o discurso afinado para 2014?
Não. Falta o que na esquerda costuma-se dizer “fazer a autocrítica”.
***Xiii, Marquim!!! Autocrítica? Talvez falte. Mas falta mesmo é fazer oposição. O PSDB entrou em greve em 2005, quando decidiu recuar e não articular o impeachment de Lula – estratégia que contou com o apoio de FHC – e não voltou mais ao trabalho.
(…)
Aécio deveria acelerar a busca do discurso? Está na hora?
Acho. [Deve] assumir mais publicamente posições. Falar, fazer conferência, viajar. Nossos políticos precisam voltar a tomar partido em bola dividida. A busca das coisas consensuais mata a política. E mesmo se for o caso de ser candidato, que diga que é. Acho que ele deve assumir.
Pois é… Com isso, concordo. Se Aécio será o candidato, tem de ir já à luta já. Com efeito, “a busca das coisas consensuais mata a política”, mas o que vi nessa entrevista foi um FHC em busca das… coisas consensuais!!!
Cadê a polarização?
Em praticamente todas as democracias do mundo, tem-se, na prática, o bipartidarismo. “Progressistas” disputam as eleições com “conservadores”, em confrontos realmente polarizados. Também o Brasil da redemocratização foi assim. Se o PSDB, em 1994 e 1998, não vestia o figurino conservador – ainda que contasse com o apoio do então PFL –, o PT se encarregava de falar a língua das esquerdas, e o confronto seguia, vamos dizer, o molde corriqueiro dos demais regimes democráticos.
A partir de 2002 (e com mais ênfase de 2006 para cá), o petismo renunciou à cascata socialista, associou o estado às demandas do grande capital – daí que seja hoje o preferido dos potentados da indústria e da área financeira – e acelerou os tais “programas sociais”, que se transformaram em verdadeiras máquinas caça-votos. Atenção! Não há grande novidade nisso, não! Os partidos ditos “progressistas” fazem escolhas semelhantes no mundo inteiro. A rigor, poderíamos dizer que o próprio PT jogou a pá de cal naquele antigo partido de esquerda!
A jabuticaba brasileira é outra. O “partido progressista” está aí. Mas pergunto: onde está o partido conservador? A entrevista de FHC deixa claro, mais uma vez, que não é e que não será o PSDB. Existem conservadores no Chile, na França, na Alemanha, no Reino Unido, nos EUA, na Colômbia, na Índia… Até na Venezuela, no Equador e na Bolívia eles disputam eleições – por enquanto… No Brasil, todo mundo, inclusive o PSDB, é, como se nota, “progressista”… No Brasil, até Paulo Maluf canta “Lu-lá; Lu-lá” em festas do PT!
Caminhando para a conclusão
A quem fala o PSDB e em nome de quais valores? Hoje, pensando no partido em escala nacional, não dá para saber. Eis um erro brutal de FHC: a maioria da população brasileira, em costumes, é conservadora. Se um dos principais formuladores dos tucanos acredita que se deve fugir desse debate como o diabo, da Cruz, então esqueçam. Os republicanos chegaram perto, sim, de fazer de Barack Obama um dos poucos presidentes da história americana a não ser reeleito – a chance de um republicano suceder o democrata é gigantesca. Por lá, conservadores falam com clareza.
A inexistência de uma alternativa conservadora no Brasil – infelizmente, o PSDB ocupa esse lugar estrutural, mas que não lhe pertence – está começando a pôr em risco a própria ideia de alternância de poder. É claro que é ruim para a democracia. Até porque o PT não é mais socialista, mas está longe de ter se convertido à democracia, como estamos cansados de saber.
Conclusão
A única chance de o PSDB se tornar viável eleitoralmente, com Aécio Neves ou outro qualquer, é mandar uma mensagem nova ao eleitorado brasileiro. Que novidade seria essa? Entendo que ela deveria ter dois pilares: a) o primeiro é a efetiva unidade, o que não se tem, é evidente, desde 2002; quais autores se apresentam para construí-la?; b) o segundo pilar é a crítica organizada, estruturada e clara às disfunções do modelo petista de gestão. Sem o primeiro, não se tem o segundo; sem o segundo, pra que o primeiro? Eu me atreveria a sugerir ainda um terceiro, com chances reduzidíssimas de ser erigido: c) o PSDB não deveria ter medo dos eleitores conservadores, mas tem. Afinal, como é mesmo?, os tucanos “têm que se manter progressistas”…
texto publicado originalmente às 5h37
Por Reinaldo Azevedo
Mandato de deputados condenados já está cassado, sim! E decisão cabe ao STF, não à Câmara
Se as palavras que estão na Constituição fazem sentido, caberá ao Supremo Tribunal Federal decidir a cassação dos respectivos mandatos condenados pelo tribunal. Eu, por óbvio, não sou advogado, mas levo a sério o que está escrito, especialmente quando se trata da Constituição. Vamos ver?
Leiam o que estabelece o Inciso III do Artigo 15 da Constituição:
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
(…)
III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos.
Bem, até aqui, não há dúvida, certo? A “cassação” dos direitos políticos se dará em caso de condenação criminal transitada em julgado. Como, no caso em espécie, o STF é a instância definitiva, então se tem o óbvio: os três deputados tiveram seus direitos políticos cassados. Ponto!
Onde começa a confusão? No Artigo 55. Leiam:
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
I – que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;
II – cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;
III – que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;
IV – que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V – quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição;
VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.
§ 1º – É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas.
§ 2º – Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
§ 3º – Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
§ 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise ou possa levar à perda do mandato, nos termos deste artigo, terá seus efeitos suspensos até as deliberações finais de que tratam os §§ 2º e 3º
Voltei
E aí? Perceberam? Não?
Voltem lá ao Artigo 15: quem é condenado em ação criminal em ação transitada em julgado está automaticamente com os direitos políticos cassados. O Artigo 55 estabelece os casos em que um parlamentar perde o mandato. Entre eles, está o Inciso IV: “Perderá o mandato o Deputado ou Senador que perder ou tiver suspensos os direitos políticos”.
Agora prestem atenção ao Parágrafo 2º do Artigo 55 da Constituição que diz em que casos será o plenário da Câmara a decidir a cassação: ELE NÃO INCLUI O INCISO IV!!! Nesse caso, a cassação será anunciada pela Mesa.
E aquele Inciso VI? Pois é… Sobrou ali, reconheço, mas ele não tem o poder de mudar o que está estabelecido no Artigo 15. Parece-me claro que se está diante de uma antinomia, de um conflito.
Há mais
Não fosse a leitura lógica da Constituição a indicar que os mandatos estão cassados, há o Parágrafo 4º do Artigo 37 da Constituição, a saber:
§ 4º – Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.”
Peculato e corrupção, por exemplo, são atos de improbidade administrativa.
Além da Constituição, há também o bom senso. Tenho algumas indagações:
1: alguém que perdeu seus direitos políticos pode conservar o seu mandato?
2: poderemos, então, ter três deputados destituídos de direitos políticos, é isso?
3: ministros do Supremo que votaram a favor do Ficha Limpa teriam, agora, a coragem de votar contra a cassação dos preclaros pelo tribunal? Quer dizer que disseram “sim” a uma lei que cassa direitos políticos de quem nem teve a sentença transitada em julgado, mas se negariam a fazê-lo de quem já teve?
Encerro
É claro que é preciso botar ordem nessa bagunça. Se for o caso, mais uma vez, o Supremo terá de disciplinar a questão. Na forma como está o texto constitucional, um parlamentar poderia, de fato, perder o mandato se condenado por um acidente culposo no trânsito, já que terá seus direitos políticos cassados. Seria um exagero? Parece que sim. Submetida a decisão, no entanto, aos pares, em votação secreta, um deputado condenado por peculato, lavagem e até tráfico de drogas poderia ter o mandato mantido.
Imaginem, ademais, se acontecesse com João Paulo, que começará a cumprir pena em regime fechado. Vão montar pra ele um gabinete na Papuda? Ah, sim: na prisão, continuariam a valer as regras da imunidade parlamentar ou não?
Por Reinaldo Azevedo
Homem acusado de ser chefe de quadrilha foi ao Ibama defender projeto
Por Cleide Carvalho, no Globo:
Intermediário do ex-senador Gilberto Miranda em torno da cessão da Ilha dos Bagres para construção de um porto privado em Santos, Paulo Vieira também foi ao Ibama defender a viabilização do projeto do ex-senador. Para isso, chegou a se reunir com a diretora do Ibama responsável pela área de licenciamento ambiental.
A ilha é ocupada por Mata Atlântica e o projeto, batizado de Centro Portuário Industrial e Naval Offshore de Santos, é estimado em R$ 2 bilhões. O processo começou a tramitar em outubro de 2009 e a licença prévia de instalação foi emitida pelo Ibama no último dia 9. No início de maio, Gilberto Miranda esteve em Brasília para um encontro com Vieira, que fez pelo menos seis telefonemas para órgãos públicos tentando ajudar a concretizar o projeto do ex-senador. Um dos telefonemas foi para Gisela Forattini, diretora de licenciamento ambiental do Ibama, com quem marcou um almoço.
Em um dos telefonemas, Vieira diz para a secretária que combinou com Gisela o almoço, mas que a linha caiu. Pede, então, que ela confirme com a secretária da diretora do Ibama. “…Fala com a secretária que eu propus assim: eu passo lá e pego a Gisela”, diz Vieira, demonstrando intimidade.
No dia agendado para o almoço, às 15h27m, Vieira ligou para Miranda para informar: “Eu fui lá no Ibama naquela reunião que eu ia ter com a moça”. A assessoria de imprensa do Ibama negou que Gisela Forattini tenha participado do almoço com Vieira.
Por Reinaldo Azevedo
Vieira queria ser deputado com apoio de empresa beneficiada por esquema
Por Bruno Goghossian, no Estadão:
Paulo Vieira, apontado como chefe da organização desarticulada pela Operação Porto Seguro, pretendia se candidatar a deputado federal pelo PT. Informações reproduzidas nos relatórios de inteligência da Polícia Federal indicam que a campanha seria financiada por empresas favorecidas pelo esquema de compra de pareceres técnicos de órgãos públicos.
Diretor afastado da Agência Nacional de Águas (ANA), Vieira declarou a intenção de disputar uma vaga na Câmara a pelo menos quatro pessoas que tiveram diálogos grampeados pela operação – entre elas, a ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo Rosemary Noronha. Ele se filiou ao PT em 2003 em Gavião Peixoto (SP).
A campanha de Vieira seria financiada por empresas beneficiadas pelos pareceres encomendados pelo esquema, segundo depoimento do servidor que delatou o esquema à PF, o ex-auditor do TCU Cyonil Borges. ”Afirma o declarante que, segundo Paulo, com a convalidação do processo, a empresa Tecondi o auxiliaria em futuras campanhas políticas para deputado federal”, informam os investigadores, em relatório.
As investigações da Porto Seguro revelaram que Vieira teria oferecido R$ 300 mil para que Cyonil produzisse um parecer favorável à ocupação de áreas do Porto de Santos pela Tecondi. Diálogos sobre as pretensões eleitorais de Vieira foram captados em três telefonemas interceptados pelos investigadores em abril e maio de 2012.
Em uma das conversas, Vieira revelou sua futura candidatura a um homem identificado como José Mendonça. Segundo a PF, os dois “falam sobre política”. Vieira convida o interlocutor para o “encontro do PT em Canoas (RS)” e “declara intenção de se lançar candidato a deputado”. O ex-diretor conversa sobre outros eventos do PT em e-mails e telefonemas. Vieira também tem ligações com o PR e com o deputado Valdemar Costa Neto (SP).
Patrimônio. Outro telefonema indica que Vieira teria registrado parte de seu patrimônio em nome de terceiros para evitar que o acúmulo de bens prejudicasse sua candidatura. Em maio, Rose revelou ter ouvido essa preocupação do próprio ex-diretor.
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Por Reinaldo Azevedo
Relatório da PF cita secretário da área de portos do governo
Por Vinicius Sassine, Danilo Fariello e Cleide Carvalho, no Globo:
O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Portuário da Secretaria Especial de Portos (SEP) da Presidência, Rogério de Abreu Menescal, recebeu na sede do ministério o então diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Rodrigues Vieira, que deixou claro estar na reunião “a pedido do Gilberto”. Vieira e o ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) foram indiciados pela Polícia Federal nas investigações da Operação Porto Seguro. O encontro entre Menescal e Vieira, em 24 de abril deste ano, é descrito na parte do inquérito da PF dedicada às supostas intermediações feitas pelo ex-diretor da ANA para favorecer a instalação de um terminal portuário de uso privativo pertencente a Miranda no Porto de Santos (SP). Menescal não foi investigado pela PF.
Vieira ainda apresentou um dos sócios de Miranda a Menescal e afirmou — numa conversa telefônica no viva-voz com um servidor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) — que o secretário queria a cópia da declaração de utilidade pública de um terminal portuário vizinho. Segundo nota da SEP, Menescal aceitou o pedido de audiência de Vieira enquanto representante de órgãos públicos. O motivo só foi revelado durante a reunião: o empreendimento na Ilha dos Bagres a cargo de uma empresa ligada a Miranda, conforme a própria secretaria.
Depois do encontro, entre maio e novembro, Menescal participou no Palácio do Planalto de pelo menos nove reuniões com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para discutir a elaboração do programa de investimentos dos portos, com valor de mais de R$ 40 bilhões, a ser lançado pela presidente Dilma Rousseff quinta-feira. Segundo a agenda de Gleisi, em apenas duas das nove reuniões Menescal foi como acompanhante do ministro da SEP, Leônidas Cristino. Nas demais, ele representava a pasta.
Também o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, esteve em três dessas reuniões. Com a deflagração da Operação Porto Seguro, Adams negou qualquer participação do então advogado-geral adjunto, José Weber Holanda Alves, indiciado pela PF, na elaboração do programa de portos. Essa tem sido uma preocupação do Planalto: desvincular as investigações do novo pacote para o setor.
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Por Reinaldo Azevedo
Ex-chefe do INSS teve conta paga por homem apontado como chefe de quadrilha
Na Folha:
E-mails e documentos apreendidos pela Polícia Federal mostram que a quadrilha desarticulada na Operação Porto Seguro também mantinha relações próximas com o ex-presidente do INSS Mauro Hauschild, demitido há quase dois meses. Apontado como chefe da quadrilha, Paulo Vieira, ex-diretor da ANA (Agência Nacional de Águas), ordenou a um auxiliar, em novembro de 2011, o pagamento de despesas de Hauschild, no valor de R$ 5.800, junto a uma incorporadora de imóveis. Meses antes, já havia prestado outro favor ao amigo, ao levar para sua diretoria na ANA a mulher de Hauschild.
Durante a gestão do hoje ministro do STF José Antonio Dias Toffoli na AGU (Advocacia-Geral da União), entre agosto e novembro de 2009, Hauschild ocupou o mesmo cargo que pertencia, até semana passada, a José Weber Holanda, um dos indiciados. Com Hauschild no posto de advogado-geral adjunto, com poder de dar pareceres, a AGU teve uma de suas primeiras manifestações em defesa da entrada da União no processo envolvendo a Ilha das Cabras, em Ilhabela (SP), um dos casos centrais do inquérito da operação.
A ilha é ocupada pelo ex-senador Gilberto Miranda. A AGU pediu à Justiça para que a União passasse a participar das decisões sobre o local. Até agora, a PF não coletou provas de envolvimento de Hauschild na produção de pareceres ao grupo. O documento enviado pela AGU à Justiça foi assinado por Evandro Gama, substituto eventual de Toffoli, e também próximo de Hauschild e da quadrilha, segundo a PF.
Em um dos e-mails apreendidos, de julho de 2011, Gama pede a Hauschild e a Paulo Vieira que fizessem as “articulações políticas necessárias” para que ele ocupasse um cargo no governo federal.
TOFFOLI
Procurador do INSS de carreira, Hauschild deve sua ascensão na máquina pública a José Antonio Dias Toffoli. Em maio de 2007, virou coordenador-geral do gabinete de Toffoli. Em fevereiro de 2008, foi promovido a diretor da escola da AGU. Em agosto de 2009, chegou a advogado-geral adjunto. No mesmo dia, foi substituído na escola da AGU por Jefferson Carus Guedes, servidor preso na Operação Porto Seguro. Filiado ao PT até semana passada, Hauschild chegou a presidente do INSS por indicação formal do senador Renan Calheiros (AL), líder da bancada do PMDB.
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Por Reinaldo Azevedo
Governo quer reduzir benefícios em casos de aposentadoria por invalidez
Por Geraldo Doca e Cristiane Bonfanti, no Globo:
O governo quer reduzir as despesas com aposentadorias por invalidez e estuda fixar uma meta de corte de 40% na quantidade de benefícios até 2019. Para alcançar essa meta, está elaborando um plano de reabilitação dos segurados, tanto do ponto de vista da saúde quanto da profissão, que permita a reinserção dos profissionais no mercado de trabalho. De acordo com estimativas da Previdência, a medida levará a uma economia de R$ 25 bilhões por ano, quando todo o sistema estiver funcionando.
Neste domingo, O GLOBO noticiou que, sem uma reforma na Previdência, os gastos só com o pagamento de aposentadorias públicas vão consumir 46% do PIB em 2030. O percentual hoje é de 18,7%. As projeções levam em conta o envelhecimento da população, que ocorre em ritmo mais intenso que o previsto.
Em relação às aposentadorias por invalidez, o cálculo do governo inclui, além dos gastos com trabalhadores da iniciativa privada, os funcionários públicos e ações específicas na concessão de auxílio-doença por prazos mais longos, entre quatro e seis meses.
Dados da Previdência mostram que o gasto com trabalhadores afastados definitivamente do serviço em função de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais mais que quadruplicaram entre 2002 e 2011, de R$ 8,2 bilhões para R$ 34,8 bilhões. As concessões de aposentadorias subiram quase 30%, de 2,4 milhões para 3,1 milhões, no mesmo período. E as despesas com auxílio-doença aumentaram de R$ 5,4 bilhões em 2002 para R$ 18,1 bilhões em 2011.
Um grupo de trabalho formado pelos Ministérios da Previdência, Saúde, Planejamento e Trabalho tem até 10 de janeiro para concluir o projeto, que será apresentado à presidente Dilma Rousseff. Na prática, a proposta é fazer uma triagem no universo dos aposentados por invalidez para verificar a possibilidade de reabilitação, com doação de próteses, por exemplo, e encaminhamento a curso de qualificação e treinamento para inserção no mercado.
“Todos ganham com política de reabilitação”
Quem der entrada a pedido de auxílio-doença também será reavaliado dentro da perspectiva de troca de função, caso a previsão seja de afastamento prolongado. A proposta prevê integração dos ministérios com o setor privado, via sistema “S”, e a inclusão do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), que reserva 5% das vagas para deficientes.
A legislação atual já prevê revisão das aposentadorias por invalidez a cada dois anos, mas dificuldades na implantação de um sistema de reabilitação e falta de entrosamento entre órgãos públicos dificultam o cumprimento da exigência. Desta vez, segundo o secretário de Previdência Social, Leonardo Rolim, há disposição de pôr em prática uma política de reabilitação e de fazer controle mais rigoroso dos benefícios. “Estamos trabalhando numa proposta concreta para reabilitar os trabalhadores e reduzir os gastos com aposentadoria por invalidez.”
Segundo ele, as aposentadorias por invalidez no Brasil representam 18% do total de afastamentos definitivos pagos pelo INSS, e a ideia é reduzir essa proporção para 10%, patamar semelhante ao de países que executam políticas de reabilitação, como Espanha e Holanda.
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Por Reinaldo Azevedo
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salvador reis neto Santa Tereza do Oeste - PR
as ideias comunistas de niemeyer eram so dele nao a impos a ninguem e nem obrigou ninguem a seguilas,ele era um cara simples nao ligava pro dinheiro que tinha,era um artista apaixonado pela sua profisao,suas obras falam por ele e estao por toda parte. ele mesmo disse:sou um homem como outro qualquer.
Anilton Souza Rodrigues Manzano Amambai - MS
Não adianta o PT vir com desculpas esfarrapadas como sendo justificativas a cada novo escandalo, não convence mais, O PASSADO OS CONDENA, por isso, não convence mais.