Chega de falar com os peixes! e Peladas, mas covardes

Publicado em 06/02/2013 15:10 e atualizado em 09/03/2020 18:45
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Chega de falar com os peixes!

São tantas e tão monumentais as bobagens ditas nestes dias sobre a Igreja Católica no geral e sobre a renúncia do papa Bento 16 em particular que chega a dar vontade de ficar mesmo batendo um papo com os peixes e deixar que triunfe o besteirol. Como a Igreja não vai mesmo dar bola a quem quer destruí-la, resultará tudo inútil. A dar crédito a algumas análises, parece ter chegado a hora de a Igreja nomear para dirigi-la, finalmente, alguém que a odeie com fúria e dedicação. Não acontecerá. Falaremos muito a respeito, estabelecendo alguns fundamentos para esse debate.

Por Reinaldo Azevedo

 

Peladas, mas covardes

Vocês devem ter lido já. Ontem, algumas peladas do grupo “Femen” — elas se dizem “feministas” — invadiram a catedral de Notre-Dame, em Paris, para comemorar a renúncia do papa. Escreveram no próprio peito e nos seios à mostra expressões como  “Pope no more” e “Pope game over”.

Peladas — algumas até bonitinhas… — e covardes! Gente sem coragem tira a roupa na catedral de Notre Dame. As verdadeiramente corajosas ficam peladas em Teerã ou em Riad.

Por Reinaldo Azevedo

 

NA REVISTA VEJA – Exército apura denúncia de corrupção envolvendo oficiais

Em junho do ano passado, a presidente Dilma Rousseff lançou um programa bilionário com o objetivo de modernizar o aparelho estatal e, de quebra, estimular a economia, que já caminhava a passos lentos àquela altura. Batizado de PAC Equipamentos, esse pacote previa a liberação de 8,4 bilhões de reais para a compra de materiais e maquinário pelos ministérios – incluindo a pasta da Defesa e as forças militares a ela vinculadas, sempre queixosas de um quadro de sucateamento a que estariam submetidas. Ao contrário do que ocorre em outras modalidades do PAC, o novo projeto saiu do papel. Só o Exército gastou 1,8 bilhão de reais em caminhões, veículos blindados e até lançadores de mísseis. Mas, como é, infelizmente, praxe nas empreitadas civis, a corrupção parece ter encontrado uma brecha na esfera militar. Oficiais do Exército estão sendo investigados por terem sido acusados de achacar empresários que venceram licitações para fornecer equipamento à força terrestre. Eles teriam exigido propina em troca da assinatura dos contratos. Reproduziram, assim, um modelo de desvio de verba pública que foi consagrado recentemente nos ministérios dos Transportes e do Trabalho. Resta saber se, como os ministros demitidos daquelas duas pastas, os oficiais corruptos serão responsabilizados. A presidente Dilma Rousseff já determinou a abertura de uma sindicância para apurar o caso, que está sendo investigado sigilosamente pelo alto-comando do Exército.

Para ler a continuação dessa reportagem compre a edição desta semana de VEJA no IBA, no tablet ou nas bancas. 

Por Reinaldo Azevedo

 

Reinaldo vai morrer. Flavinho VE vai morrer. Os dicionários sobreviverão a nós com expressões como “jornalista petralha, jornaleco petralha”

 

 

Viram a imagem acima? Volto a ela depois. Antes, um pequeno passeio.

A palavra “petralhas”, como sabem, já foi dicionarizada. Esta no “Grande Dicionário Sacconi da Língua Portuguesa”. Eu e o Flavinho VE, do Valor Econômico, vamos morrer, mas o dicionário vai ficar. Vejam a acepção nº 1:“Que, ou pessoa que, sem nenhum escrúpulo, não vacila em cometer todo e qualquer ato marginal à lei, como usurpar, mentir, extorquir, ameaçar, chantagear, roubar, corromper, ou que defende com ardor ladrões. Corruptos, usurpadores, mentirosos, cínicos, extorsionários, chantagistas etc. que, porém, posam de gente honesta e defensores intransigentes da ética”. Aí o dicionário dá exemplos do emprego da palavra: “jornalista petralha; jornaleco petralha; há petralhas nesse governo?”

Agora vejam isto.

Em 2011, a Editora Panini publicou essa revista do Batman. O bandidão dessa história, de Grant Morrison (roteiro) e Cameron Stewart (desenhos), é o “Rei Perolado”. Pois bem, num dado momento, uma das personagens se refere ao facinoroso como “petralha”. No original, em inglês, emprega-se “nasty”. Quando uma pessoa é “nasty”, ela pode ser “nojenta, horrível, asquerosa, odiosa, sórdida, malcriada, repelente, vil, desagradável, indecente, torpe” e coisas desse paradigma… Em suma, é uma “petralha”. Uma tradução busca na outra língua não o sinônimo frio, mas o termo que tem, além do significado semelhante, a mesma carga cultural. Não conheço a história, mas suponho que o “Rei Perolado” também deva ser trapaceiro, vigarista, essas coisas. Ou seja: UM PETRALHA!!!

Os petralhas reclamaram: “Como ousam usar uma palavra criada pelo Reinaldo Azevedo?”. Há blogs protestando contra o que seria a “ideologização” da tradução! Besteira! O vocábulo havia fugido ao meu controle e virou sinônimo de gente que não presta. Não é a primeira vez que isso acontece na língua. Outro dia, na fila do supermercado, um rapaz, segurando dois desses pacotes de cerveja presas com plástico (e outro, mais dois), mandou ver: “Pô, véio, o cara é mó 171, mó petralha”. Não cheguei a ter o prazer de ver um poema meu declamado nas ruas, mas me avizinhei desse sentimento.

Tanto encheram o saco da editora que ela divulgou uma nota:
“A Panini considera o termo ‘petralha’ uma gíria que vem se popularizando no Brasil e, independente da origem do termo, não é mais utilizado no linguajar popular apenas com conotação política, mas como sinônimo para ‘asqueroso’, ‘nojento’ etc. A empresa ressalta que não tem qualquer intenção de utilizar seus produtos editoriais de entretenimento para fins políticos.”

Boa. Agora a revistinha lá do alto.

A partir do dia 25 de fevereiro chega às bancas “O País dos Metralhas”, que reúne 10 histórias inéditas envolvendo os ladrões. Todos sabem que a palavra “petralha” foi inspirada na turma, né? Eu fiz eco aos bandidos do gibi, e o gibi faz eco aos livros “O País dos Petralhas” (I e II).

Não! Não foi conspiração. Eu nem sabia. Quem me avisa é um leitor, que enviou a imagem da capa. Eu curtia, quando moleque, a história dos larápios ingênuos que sempre se davam mal no fim. Os petralhas acham que já triunfaram. Tanto é assim que agora resolveram dar início à caça às bruxas.

Eu vou morrer. O Flavinho VE vai morrer. Os dicionários e as palavras sobreviverão a nós. Morrerei brigando por um mundo em que tanto ele como eu tenhamos o direito de falar. Ele morrerá brigando por um mundo em que ele e os seus falem sozinhos porque estão certos de representar a evolução do pensamento, o bem da humanidade e  uma “teologia à moda moderna”.

Leia o texto “Ah, entendi: o Moura é editor da Companhia das Letras, não do Valor; o que muda e o que não muda

Por Reinaldo Azevedo

 

Eu sou a melhor proteção da cabeça de quem quer me mandar para a guilhotina. Ou: Os novos bárbaros

Escrevi ontem alguns posts (às 16h1018h5820h20h55 e 21h55) sobre um texto escrito por um tal Flávio Moura, editor da Companhia das Letras, no jornal Valor Econômico. Ele decidiu decretar a morte de um grupo de jornalistas e articulistas que teriam sido, ele afirma com visível satisfação, vencidos pelas supostas conquistas sociais do petismo. Sugere que formávamos uma espécie de frente antipatriótica para resistir ao PT, mas que a qualidade do governo dos companheiros nos nocauteou. Ao se referir ao destino de cada um dos que ele decidiu fuzilar (além de mim, Diogo Mainardi, Mario Sabino, João Pereira Coutinho e Luiz Felipe Pondé), mistura opinião banal com informação errada, vai metendo os pés pelas mãos, sugerindo, contra os fatos, que essa turma quebrou a cara. Sei menos de Pondé e Coutinho, que me parecem muito bem. Meu blog e meus livros nunca tiveram tantos leitores; Diogo escreveu um livro sem rivais em muitas décadas e em vários idiomas, e Mario está sendo martirizado em Paris… “Mas o grupo se dissolveu”, esganiça Flavinho. Que grupo? Nunca houve um grupo! Não emulamos as comunidades petralhas. Neste texto, quero abordar um outro aspecto desse tema. Como é que se chega a esse ponto? Como é que um “editor de livros” e “doutor em sociologia”, segundo seu pé biográfico, chega a se sentir à vontade para decretar a morte das pessoas de quem discorda? Já demonstrei no post das 18h58 como esse espírito persecutório se casa com a era da “infraestrutura & negócios”. Mas também isso é consequência de algo maior, de natureza institucional.

Cumpre apelar aqui um pouco à memória. Tenho sido, ao longo do tempo, menos esperto do que alguns contemporâneos. Fui um crítico bastante severo do governo FHC, embora seu principal adversário, o PT, não me agradasse. Mas, como editor de site e revista, preferia, mesmo quando atuei no extinto jornalismo cultural, voltar a minha pontaria contra o governo. Gosto da ideia — na verdade, este talvez seja um dos pilares do meu pensamento — de que governos são necessários, mas que nossa tarefa é vigiá-los, criticá-los. Quando o PT chegou ao poder, continuei na oposição. Os mais espertos do que eu ganhavam dinheiro sendo governistas no tucanato e continuaram a ganhar dinheiro sendo governistas no petismo. Mesmo na era da Internet, que facilita a pesquisa, a coerência não tem sido a característica mais visível da profissão. É evidente que as pessoas podem mudar de ideia ao longo dos anos se chegam à conclusão de que estavam erradas. Mas desconfio de quem conclui que estive errado sempre em consonância com o governo de turno. Será que um dia vou concluir que o PT era bom? Quem sabe quando — e se — o partido voltar a ser oposição…

Na verdade, antes como agora, não me pergunto se o que penso é contra o governo ou a favor dele. Penso o que penso. Às vezes, coincide com a política oficial; frequentemente, não. De toda sorte, textos como o de Flávio Moura seriam impensáveis na imprensa brasileira de há 10, 15, 20 ou mesmo 30 anos. O começo da década de 1980, diga-se, estava fortemente pautado pela chamada abertura, a ditadura estava moribunda, e muitos militantes estudantis tinham ido parar nas redações de jornal. Vivia-se até uma certa algazarra libertária. Isso acabou.

O que antes era alternativa agora é poder. O que antes se calava pela força bruta agora se busca silenciar por intermédio do falso consenso. Enquanto estiveram na oposição — até dezembro de 2002 —, as esquerdas seguiram o que é, de fato, seu padrão histórico: usaram a causa da liberdade de imprensa e de crítica a seu favor. Ocorre, e isto também é de sua natureza (e foi uma das causas de eu ter passado a repudiá-las), que não se veem como um pensamento possível entre outros. Ao contrário: os “companheiros” de hoje não abandonaram a tara dos “camaradas” de ontem e se entendem como uma etapa posterior e superior da civilização. Não é por acaso que Flávio Moura define o pensamento de Luiz Felipe Pondé como “teologia à moda antiga”. Devemos concluir que há uma “teologia à moda moderna”. As esquerdas, mesmo na sua expressão mais grotesca, caricatural e primitiva, como é o tal Moura, continuam partidárias do fim da história — que é uma tese hegeliana, não do Fukuyama, como sugeriu outro dia no Jornal da Globo o Arnaldo Jabor. Vencidos, então, os adversários, aí se trataria de cuidar das pendengas lá deles, das contradições existentes num lado só. Não passa pela cabeça dessa gente, acreditem, perder eleições porque isso significaria um retrocesso, uma volta ao período em que ainda havia história…

Textos como o de Moura não seriam publicados há 10, 20 ou mesmo 30 anos porque as forças capazes de fazer esse juízo ainda não estavam no poder e não eram donas do novo consenso. Ao contrário. Era necessário fingir-se de plural para chegar ao que diziam ser o “horizonte socialista”. Os que defendíamos a diversidade de pensamento éramos obviamente úteis àqueles que tinham nessa diversidade apenas uma etapa da conquista do estado. Em outros tempos, as revoluções devoravam seus filhos de maneira cruenta, como o Saturno no quadro de Goya. Nos novos tempos, busca-se desqualificar a divergência e provar a sua obsolescência. Em qualquer dos casos, antes e agora, os altos interesses do povo e as conquistas sociais servem de maquiagem para a eliminação do adversário. Um texto como o de Moura sai num jornal como o Valor porque também o Valor está interessado, como Deng Xiaoping, em gatos que cacem ratos, pouco importando a sua cor.

Se, nessas décadas passadas, alguém se atrevesse a pedir o banimento de um pensamento considerado divergente, haveria, por certo, protestos. O texto nem seria publicado. A direita liberal jamais o faria porque, de fato, não é de sua natureza — muito pelo contrário; e as esquerdas, mesmo as autoritárias, não eram tolas de entregar o serviço. Já demonstrei aqui que a “anistia ampla, geral e irrestrita”, por exemplo, era uma reivindicação delas (à época, posso dizer “nossa”). É também delas a reivindicação de hoje para rever a Lei da Anistia. Antes, a causa servia à proteção de seus assassinos. Agora que estão a salvo, querem dar um jeito de pegar os assassinos “do outro lado”. Por quê? Porque um esquerdista sempre acha que mata por bons propósitos. Leiam, continua atualíssimo, recomendo de novo, “O Zero e o Infinito”, de Arthur Koestler, que foi, vamos dizer assim, bem mais esquerdista do que eu na juventude.

A questão política
E há, claro, a questão política propriamente. Mesmo quando minoritárias no Parlamento, as esquerdas sempre foram, do processo de redemocratização a esta data, muito mobilizadas, contando, antes como agora, com forte apoio da imprensa. Em muitos aspectos, já tratei do assunto aqui, foi o jornalismo que inventou Lula — antes até que ele inventasse a si mesmo. Ao menor sinal de “retrocesso”, lá estavam os valentes a botar a boca no trombone.

Nestes tempos, esses jornalistas que Flávio Moura decidiu fuzilar — e há outros tantos que ele não citou, talvez por ignorância — acabaram sobressaindo, o que é um absurdo, como “a oposição” do Brasil pela simples, óbvia e até macabra razão de que não há oposição no Brasil — não como voz institucional e alternativa viável de poder federal. É claro que há valorosos parlamentares que se opõem ao governo. Reitero: refiro-me a uma força organizada e viável como alternativa de poder.

Moura segue a trilha aberta pelos blogs sujos e decide demonizar pessoas, mas o que está em pauta, de fato, é a imprensa independente, aquela que faz o seu trabalho e chama desmando de “desmando”, roubalheira de “roubalheira”. Como inexiste, então, a força organizada para obrigar o governo a se explicar, o que é próprio das democracias, o jornalismo que cumpre a tarefa de informar e o colunismo que não está alinhado com o poder acabam sendo tomados, lembrando o presidente do PT, Rui Falcão, como a “verdadeira oposição”, que não se manifesta como partido. Eu duvido que o tal Moura seja um interlocutor de Falcão. Eu duvido que o rapaz obedeça diretamente às ordens desse ou daquele. Os dois falam a mesma coisa porque o que os une não é uma relação de hierarquia, mas o espírito de um tempo. O que Moura tentou fazer é demonstrar que estamos sozinhos na crítica, que aquela abordagem, com aqueles valores, perdeu sentido porque vencida pela história. Como, com efeito, expressamos pontos de vista que não se ouvem nem no governismo nem na oposição, então fica fácil apontar o dedo e gritar, como a Rainha de Copas: “Cortem-lhes a cabeça!”.

Não estou pedindo nem apoio nem penico para as oposições. Em primeiro lugar, porque, de fato, isso não é necessário. Em segundo lugar, porque seria inútil. A imprensa independente e os cabras marcados por Moura para morrer jamais poderão fazer pelas oposições o que os blogs sujos fazem pelo petismo. Nesse caso, uns entendem de comprar, e o outros entendem de vender. Deste outro lado, não sei se haveria gente disposta a comprar; o que sei é que NÃO há gente disposta a vender. Até por uma questão de lógica elementar. Se for para “entregar a mercadoria” no balcão do “jornalismo & negócios”, mister é fazer a transação com o poder, que certamente pode pagar mais, não é mesmo? Entre ser mercenário em favor do vitorioso e sê-lo em favor dos derrotados, as duas opções são igualmente imorais, mas uma é mais estúpida do que a outra. Convenham: ninguém é crítico de governos por pragmatismo.

Finalmente
Eu não tenho a ambição de que Moura me leia. As considerações ligeiras e idiotas que faz a meu respeito, diga-se, provam que não me lê. Segundo escreve,“Azevedo assumiu a linha de frente da indignação moral com a corrupção”. Não que a corrupção, com efeito, não me indigne — sim, e muito! —, mas os milhares de leitores desta página sabem que esse nem é o tema mais frequente dos meus textos. Os posts que tratam de ilegalidades cometidas por políticos, no mais das vezes, fazem parte do clipping do noticiário.

As 800 e poucas páginas de “O País dos Petralhas I e II” debatem outros temas. Se Moura tivesse dito que assumi a linha de frente do debate — ou do embate — ideológico, aí estaria falando a verdade. O segundo volume do livro, por exemplo, passa longe da roubalheira, petista ou não. Ele tem todo o direito de não ler o  meu blog e os meus livros, mas tem o compromisso de falar a verdade para aqueles que eventualmente o leem. Ocorre que esse espírito persecutório parece ser também preguiçoso. Ouviu dizer isso a meu respeito por aí e repete sem ao menos verificar se essa opinião coincide com os fatos. Eu não me importaria nem um pouco em ser uma espécie de archote da “indignação moral com a corrupção”, só que o meu trabalho e o meu texto têm outro objeto.

Eu não acho que um dia o Brasil ficará livre dos Mouras como ele crê que possa ficar livre dos Reinaldos. Aliás, espero que não ocorra nem uma coisa nem outra. O paraíso dos iguais pelo qual ele parece ansiar seria, pra mim, a experiência viva do inferno. A única razão de ser de um embate intelectual é a existência do adversário. A minha ética, se posso chamar assim, é a de uma guerra sem vencidos. “Ah, mas, então, o mundo não sai do lugar.” Sai, sim. É que o jogo não tem fim. Eles é que querem sair babando a sua vitória, saqueando e incendiando casas, violando as virgens, sacrificando as crianças. Para quê? Para que possam gritar: “Venceeemos!”. E depois? Tudo saindo conforme o esperado — não sairá —, começariam a se matar em seguida. Os Mouras seriam os primeiros da fila. No mundo pelo qual ele luta, não há lugar para editores de livros. Enquanto existirem os Reinaldos, os Diogos, os Sabinos, os Pondés e os Coutinhos, gente como Moura pode nos odiar, que estaremos a proteger o seu nobre pescocinho.

É isto: a “direita liberal”, no fim das contas, protege esses babacas de suas próprias utopias. Ou terminariam todos com uma picareta enfiada no crânio ou no paredão, para onde seriam enviados pelos próprios ex-companheiros. Enquanto eu existir, Flavinho VE, a minha cabeça sempre estará à frente da sua na lista de prioridades do regime. Entendeu ou agora quer que o Tio Rei desenhe?

Por Reinaldo Azevedo

 

Guido Mantega, o “fortão” do Bairro Peixoto da “Infraestrutura & Negócios”, continua a fazer lambança

Agora entendi por que começou essa história de Guido Mantega como suposto candidato ao governo de São Paulo… Dilma Rousseff deve estar torcendo para que o improvável aconteça para ver se consegue se livrar do provável: mais uma trapalhada de Mantega, o “fortão” do Bairro Peixoto do caderno “Infraestrutura & Negócios”, do Valor, aquele jornal que abriga textos que chacinam jornalistas não alinhados com a metafísica influente dos negócios, com ou sem infraestrutura. Leiam o que informa a VEJA.com:

Em apenas dois dias, o governo brasileiro conseguiu minar de maneira preocupante a credibilidade da economia aos olhos mercado num momento em que o Brasil tenta atrair investidores de longo prazo para os projetos de infraestrutura. Há duas razões primordiais para a piora da percepção externa em relação ao Brasil. Primeiro, a inflação de janeiro recém divulgada. E, em seguida, pela política de câmbio falsamente flutuante que está em curso. Não bastassem esses dois fatores, ainda há o desalinho de mensagens emitidas pelo Banco Central e o Ministério da Fazenda para justificar a deterioração dos pilares econômicos que sustentam a economia. O mercado não sabe o que esperar do Brasil. Segundo o jornal britânico Financial Times, o país se tornou “um enigma”. Já o Wall Street Journal publicou um artigo nesta sexta-feira afirmando ser impossível encontrar um meio termo entre as informações desencontradas enviadas pelas autoridades brasileiras.

A inflação (de 0,86% em janeiro) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quinta-feira mostrou-se acima das estimativas, elevando a preocupação do mercado em relação à capacidade de o governo conseguir domar a alta dos preços. No acumulado de 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 6,15%, o que mostra que o governo deixou de mirar o centro da meta de inflação, que é de 4,5%, e tem admitido porcentuais maiores na expectativa de impulsionar o crescimento econômico. “Há uma clara tolerância em relação à inflação no Brasil. Já começa pelo nível alto que está no centro da meta (de 4,5%), enquanto em países como o Chile, Colômbia e México, é de 3%, e no Peru, 2%”, afirmou o economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos, em comunicado enviado na última semana.

Na mesma quinta-feira, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, demonstrou inquietação com a alta persistente do indicador, mas avisou que não prevê utilizar a taxa de juros como forma de equalizar esse mal. “A inflação nos preocupa a curto prazo, está mostrando uma resiliência forte, mas não é o caso de descontrole inflacionário. A nossa expectativa é que ela continue pressionada no primeiro semestre”, disse Tombini em entrevista à jornalista Miriam Leitão.

Com a queda da Selic descartada no curto prazo, uma forma lógica de viabilizar a desaceleração do IPCA seria a desvalorização do dólar – ideia que ganhou força em meados de janeiro quando o BC começou um movimento intensivo de venda de contratos de câmbio no mercado futuro, fazendo com que a moeda americana saísse do patamar de 2,10 e recuasse para menos de 2 reais em duas semanas. Na manhã desta sexta-feira, após a fala de Tombini sobre a Selic e a inflação, o dólar chegou a bater 1,95 real (menor cotação em mais de nove meses), incomodando o ministro da Fazenda, Guido Mantega – indivíduo que, em teoria, não tem como função atuar na política cambial, e sim na fiscal.

Mantega, em seguida, veio a publico dizer que não deixará o dólar cair para algo próximo de 1,85 real – ignorando que a flutuação cambial é a política oficial adotada pelo governo desde a gestão de Fernando Henrique Cardoso. O ministro ameaçou ainda retomar todas as medidas de protecionismo alicerçadas no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que fizeram o capital estrangeiro fugir do Brasil no último ano e que estavam sendo desfeitas pelo próprio governo devido, justamente, ao baixo nível de investimento verificado na economia brasileira em 2012. “O ideal é que não houvesse intervenção, mas isso é sonho. Agora, se houver de novo uma tendência especulativa, se o pessoal se animar: ‘vamos puxar esse câmbio para 1,85′, aí estaremos de novo intervindo”, disse o ministro. “Posso comprar mais reservas e posso reconstituir os IOFs (que foram reduzidos)”.

Segundo o analista da Economist Intelligence Unit (EIU), Robert Wood, tal movimentação desconexa amedronta ainda mais o investidor estrangeiro – exatamente quando o governo quer estimular o oposto. “As empresas que estavam esperando um período de estabilidade na taxa de câmbio em torno de 2 reais, agora se deparam com incertezas. E os últimos dados de inflação também devem atrasar ainda mais as decisões de investimento no Brasil”, afirma.

Por Reinaldo Azevedo


Marina Silva, Quincas Borba, as batatas e o emplasto anti-hipocondríaco

Ai, que pregui…

O partido de Marina Silva, se for mesmo criado, deve incorporar a palavra “rede” ao nome. Huuummm… Os “marineiros”, como se autodenominam os fiéis da Igreja Marinista, querem evitar o nome “partido” porque consideram a palavra desgastada… Ah, bom. Leio isso em texto de Daniel Roncaglia, na Folha Online.

Entendi. Estamos diante de uma operação de marketing que busca fazer de conta que um partido não é um… partido. E vejo isso ser tratado em nossa imprensa com simpatia.  A “rede”, que partido não é, embora submetida, se criada, à mesma legislação das demais legendas, está sendo formada com o propósito de Marina se candidatar à Presidência. Com que programa ou aspiração? Pouco importa! Se é Marina quem lidera, é claro que só pode ser coisa boa. Qualquer outro que fizesse esse movimento e que tentasse esse truque descarado de marketing apanharia impiedosamente e seria tratado com certo desdém pela imprensa. Com Marina, é diferente! Ela só não é um Lula de xale e com vocação ainda mais messiânica porque boa parte das coisas que fala é incompreensível mesmo para pós-doutorados em abstrações e outras folias metafísicas. O discurso do Apedeuta, como sabem, é chão… Mesmo quando ele considera os eventuais benefícios que adviriam caso a Terra fosse quadrada, não redonda, como já fez, obedece, por incrível que pareça, à ortodoxia estrutural da língua… Se querem saber, Marina ter estudado é uma sorte danada… Adivinhem por quê.

Leio também que seus admiradores chamam a si mesmo “sonháticos”. Seja lá o que isso queira dizer, e os imagino bem acima de nossa “melancólica humanidade” — é a segunda vez que cito Quincas Borba, de Machado de Assis, nesta semana. Aliás, Marina me parece uma espécie de formuladora de “neo-humanistismo” destinado a convencer a raça humana que esse negócio de disputar as batatas é uma besteira e só esquenta o planeta. Ela já tem seu emplasto anti-hipocondríaco, buscado por Quincas Borba: essa tal sustentabilidade…

Então tá bom. Os “sonháticos”, do não-partido, querem criar “a rede” para eleger Marina presidente. Se ela chegar lá, vai nos contar como, com quem e com que propósitos governará.  Entendi. Partido é coisa  a que se adere de caso pensado, conscientemente. Com a rede é diferente. Você pode ser pescado e nem se dar conta. Por alguma razão, tentam me provar que isso é uma coisa boa.

O messianismo ilustrado é potencialmente mais danoso do que o messianismo tosco. Se consegue saltar o muro e ganhar as massas, tem-se uma espécie de racionalização da violência, que poderia ser uma das definições do fascismo. Hora dessas, volto ao assunto.

Os sonháticos estão em marcha.

Por Reinaldo Azevedo


Inflação em alta pode brecar novos reajustes na gasolina

Na VEJA.com:
A aceleração da inflação em janeiro acima das expectativas do governo torna o cenário ainda mais difícil para novos reajustes da gasolina e do diesel ao longo deste ano, reduzindo as esperanças de um novo – e necessário – aumento dos combustíveis para o caixa da Petrobras, avaliam especialistas. O IBGE divulgou nesta quinta-feira alta de 0,86% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em janeiro, a maior variação mensal em quase 8 anos. “A janela de oportunidade para o reajuste dos combustíveis é a que se abriu com a queda nos preços de energia. Se mesmo com a redução nas tarifas o IPCA veio pressionado, é improvável um novo aumento da gasolina e do diesel”, disse Lucas Brendler, analista da corretora Geração Futura.

Para o analista, o temor do governo com a escalada da inflação é maior do que as preocupações com o caixa da Petrobras, que vem tendo prejuízo com a venda de combustíveis no país nos últimos dois anos, por importar a preços mais altos que os de revenda no mercado interno. O preço da gasolina foi reajustado em 6,6% na refinaria, em 30 de janeiro, enquanto o diesel subiu 5,4%.

Cálculos do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (Cbie), feitos nesta quinta-feira, mostram que a gasolina nas refinarias no Brasil é vendida com defasagem de 13,8% ante os preços dos Estados Unidos, e o diesel, de 21,7%, mesmo após os reajustes concedidos no fim de janeiro. O governo estima uma alta menor para o consumidor, de cerca de 4 por cento para a gasolina na bomba. Para cada 1 por cento de alta no posto, o impacto da alta da gasolina no IPCA é de 0,03 ponto percentual, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

Segundo o IBGE, apenas um quarto da queda da tarifa de energia elétrica foi captada em janeiro. Em fevereiro, a contribuição da energia deve ser de menos 0,40 ponto percentual no IPCA.

Por Reinaldo Azevedo

 

Governo Dilma acumula fiascos, mas o fiasco da oposição, em ritmo de ziriguidum, consegue ser maior. Alalaô, ô, ô, ô…

Preste bem atenção, leitor amigo!

No dia 3 de setembro do ano passado, escrevi um texto afirmando que a oposição estava em greve havia sete anos — agora, quase oito. Quando decidiu que não iria tentar o impeachment de Lula mesmo depois de Duda Mendonça ter confessado que a campanha eleitoral de 2002 fora paga em moeda estrangeira, no exterior, com “recursos não contabilizados” e já no curso do mandato do Apedeuta, renunciava a seu papel. No dia 2 deste mês, publiquei o postTucanos pra quê?. No dia 4, Onde está a oposição que vai dizer: ‘isso não’? Para dizer ‘isso sim’ já existe a situação! Um leitor até afirmou que ouviu de um tucano, amigo seu, a informação de que eu, na verdade, seria um perigoso esquerdista cumprindo o papel de excitar a militância vermelha. Pois é… Pelo visto, se não sou eu a fazê-lo, em companhia de mais uns dois ou três, morreremos no Brasil mais de tédio do que de bala ou de vício…

Os números da inflação de janeiro demonstram que as coisas não vão bem. Houve um aumento generalizado de preços, o que é ruim. Os preços dos alimentos, em particular, dispararam, como sabe quem vai ao supermercado. Dilma está conseguindo conjugar inflação alta, baixo crescimento e investimentos medíocres. Sabe-se agora que a contabilidade criativa de Guido Mantega teve de recorrer a uma grana do FGTS para conseguir fechar as contas. A Petrobras, a cada dia, tem uma má notícia nova, herança maldita da dupla José Sérgio Gabrielli-Luiz Inácio Lula da Silva. E, no entanto, cadê a oposição?

Ontem, lembra reportagem de Maria Lima, no Globo, era dia de a oposição deitar e rolar no Congresso. É o que a minoria faria em qualquer democracia do mundo. O governo foi acumulando notícias ruins. Mas cadê oposição? Foi pular o Carnaval antes da hora, que ninguém é de ferro, pô! Era só o que faltava, né? O Brasil em ritmo de ziriguidum, de balacobado, de telecoteco, e os oposicionistas vão ficar debatendo assuntos aborrecidos como inflação, crescimento, investimento, contabilidade criativa? E olhem que Mantega já começa a fazer inveja a Cristina Kirchner em matéria de manipulação de números, mas nada se diz por aqui. Alguém se espanta que senadores da oposição tenham traído Pedro Taques (PDT-MT) na eleição para o Senado?

Leiam um trecho do texto do Globo. Volto depois.

Quinta-feira de anúncio de novos números negativos da inflação seria, como avaliou um líder governista, dia de a oposição ocupar as tribunas e “nadar de braçada” nas críticas ao governo. Mas, no Senado, nenhum senador ou líder do PSDB ou do DEM apareceu para faturar. Só os governistas ocuparam o espaço da tribuna, com transmissão ao vivo pela TV Senado. Além da criticada omissão em relação às eleições de Renan Calheiros (PMDB-AL) e Henrique Alves (PMDB-RN) para os comandos do Senado e da Câmara, esta quinta-feira foi só mais um exemplo de como, num período em que o governo da presidente Dilma Rousseff enfrenta dificuldades de gestão e na condução da política econômica, a oposição se encolhe e silencia, em vez de partir para o ataque.

Ausentes desde a quarta-feira — alguns desde terça — para uma folga carnavalesca de duas semanas, os líderes da oposição fazem um mea-culpa da desarticulação, mas prometem unificar a atuação depois do carnaval. “A constatação é: o processo eleitoral do ano passado provocou um distanciamento da oposição. Mas nós do DEM, o PPS e o PSDB já superamos essas dificuldades e nos entendemos, e o diálogo voltou a ficar lubrificado. Vamos nos reunir depois do Carnaval para retomar uma ação unificada. O governo está errando e surfando sozinho porque nos distanciamos”, admitiu ontem, por telefone, o líder do DEM, senador Agripino Maia (RN).

Em conversas esta semana com colegas da oposição, o ex-líder do PSDB no Senado Álvaro Dias (PR) admitiu que o partido se perdeu na eleição do Senado. E culpa a eterna briga entre as alas ligadas ao senador Aécio Neves (MG) e ao ex-governador José Serra (SP). Ele chegou a defender que o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) abrisse mão da 1ª Secretaria da Mesa para reduzir o estrago no partido. Sem sucesso.
(…)
O professor de Filosofia Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Roberto Romano lembra que, na História recente do país, a oposição quase sempre foi minoria no Congresso Nacional, mas considera que nunca foi tão dramática a sensação de sua inexistência como na atualidade. “Em troca de um cargo na Mesa do Senado Federal, eles traíram, em sigilo, a palavra de ordem oposicionista. Essa oposição não diz a que veio, ela não tem uma alternativa de curto, médio e longo prazos para a economia do Brasil. A oposição nunca foi tão insignificante do ponto de vista político e legal como neste momento”, afirmou.

Os líderes governistas comemoram a ausência de ação do campo adversário. No plenário quase vazio do Senado, ontem, o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), subiu à tribuna para defender o governo Dilma. “Hoje seria um prato cheio para a oposição, com esses números da inflação, que é uma preocupação nossa. Mas é a cabeça de cada um, né?”, comentou Eunício.
(…)

Voltei
Viram só a que ponto chegamos! O próprio líder do PMDB no Senado admite que a oposição tinha motivos para botar a boca no trombone. Mas já estava no “esquenta”, preparando-se para o alalaô… Uma oposição ausente, que não dialoga com os eleitores e que não politiza os temas que têm de ser politizados vai ser considerada alternativa de poder por quê?

Ora, se a oposição não constrói uma narrativa, não consegue contar nem a própria história. O Chile teve no ano passado uma inflação de 1,5% e cresceu quase 6% (5,4%). O Brasil cresceu 1% com uma inflação de 6,15%. Naquele país, o mandato é de quatro anos, sem reeleição. É grande a chance de Sebastián Piñera não fazer seu sucessor na eleição de dezembro. A oposição não lhe deu trégua — e isso com um baita terremoto em 2010, do qual o país se levantou de maneira notável. “Ah, mas é que lá não há os programas sociais, e os pobres estão descontentes…” Escolham o indicador social que vocês quiserem, e o dos chilenos é bem melhor. Acontece que, no Chile ou nos EUA, oposição se comporta como… oposição. Exótico, não? Podemos ir longe? A da Tunísia ou a do Egito são bem mais presentes do que a nossa, num cenário bem mais adverso…

Por Reinaldo Azevedo

A contabilidade criativa de Mantega – Tesouro contou com R$ 7,2 bilhões que deveria ter repassado ao fundo de garantia para fechar suas contas no ano passado

Por Sheila D’Amorim, na Folha:
Além da reserva extra que estava no Fundo Soberano e de dividendos dos bancos públicos, o Tesouro também contou com R$ 7,2 bilhões do FGTS -fundo que pertence aos trabalhadores- para fechar as suas contas em 2012. O montante foi obtido de duas formas diferentes. Primeiro, o Tesouro não quitou uma dívida que tem com o fundo relativa à parcela dos subsídios concedidos no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (MCMV), de responsabilidade da União. Além disso, reteve a arrecadação proveniente de contribuição adicional de 10% que as empresas são obrigadas a fazer para o FGTS quando demitem sem justa causa. A dívida com o fundo vem se acumulando como uma espécie de esqueleto que terá que ser quitado um dia.

Técnicos do governo negam que isso seja um novo esqueleto que impactará a dívida pública. Argumentam tratar-se de “uma obrigação” que entrará na programação financeira do Tesouro e irá se reduzir ao longo do tempo. Dizem, ainda, que a legislação permite que essa “equação financeira” seja usada com responsabilidade e que o dinheiro voltará ao FGTS na “forma estabelecida pela lei”.

Por Reinaldo Azevedo

 

O bom de não ter US$ 34 bilhões é não perder US$ 24 bilhões…

É, leitor, pense bem!

Você nunca teve uma fortuna estimada em US$ 34 bilhões, como Eike Batista, nem foi um dos 10 homens mais ricos do mundo. Lado bom disso: você também nunca perdeu US$ 24 bilhões em menos de um ano.

Leio na VEJA Online:
Após as consecutivas perdas das empresas do grupo EBX na bolsa de valores, o empresário Eike Batista deixou, nesta quinta-feira, a lista dos 100 homens mais ricos do mundo, de acordo com ranking da Bloomberg, atualizado diariamente. Eike ocupava o 10º lugar na lista em março de 2012, quando o ranking foi criado.  O empresário despediu-se do rol dos mais ricos depois de perder 300 milhões de dólares na bolsa na quarta-feira, quando as ações da OSX (empresa do setor naval) caíram 11,6%. Com isso, sua fortuna passou a ser avaliada em 10 bilhões de dólares.
A OSX – junto com a empresa de logística LLX – é a firma responsável pela construção do Porto de Açú, em São João da Barra, no Rio de Janeiro – cujas obras estão atrasadas. No final de janeiro, as duas empresas receberam ainda uma multa bilionária por danos ambientais causados na área do porto. 
Outra razão para a queda das ações foi o fato de a companhia ter anunciado a intenção de fazer um novo aumento de capital equivalente a 250 milhões de dólares – que poderá diluir a participação dos investidores na empresa.
Na terça-feira, Eike ainda ocupava o 93° da lista, com fortuna avaliada em 11,4 bilhões de dólares. O valor é menor que um terço do verificado em março de 2012, quando a fortuna de Eike era calculada em 34,5 bilhões de dólares, segundo a Bloomberg.

Voltei
Caramba! Na terça, ele tinha US$ 11,4 bilhões. Hoje é quinta, e houve a evaporação de US$ 1,4 bilhão? Então aquela dinheirama de US$ 34 bilhões, vamos dizer assim, não era bem dele, né? Qual é o tamanho da riqueza de Eike? Meu pai, que era operário — trocava mola de caminhão —, achava que a riqueza de alguém era definida pelo quanto o sujeito podia gastar de seu, sem dar bola pra ninguém. Incluía, numa linguagem que ele não falava, bens imóveis que pudessem ser convertidos em dinheiro. “É por isso que seu pai morreu operário, e ele é Eike Batista.” É…, faz sentido.

Eu estou achando esse mundo dos bilionários muito inseguro, estressante e volátil. Há 10 meses, Eike estava entre os 10 mais ricos do mundo; agora, não está nem entre os 100? Isso quer dizer que, há dez meses, se ele se desfizesse de todas as suas ações, arrecadaria US$ 34 bilhões no mercado?

Sei não… Sou tentado a achar que Charles Lutwidge Dodgson faria sucesso escrevendo sobre esse mundo… Quem é esse? Pesquise, leitor amigo, pesquise!

Por Reinaldo Azevedo


Existe um lugar no Brasil em que roubar dinheiro público, corromper e corromper-se transformam as pessoas em heroínas. E não é no PCC!

Existe um lugar no Brasil em que roubar dinheiro do Banco do Brasil, comprar a consciência alheia, vender a própria consciência, usar dinheiro público em benefício pessoal e formar uma quadrilha para cometer crimes transformam as pessoas em guias morais, em celebridades, em referências positivas. E não é numa das “comunidades” a que as UPPs ainda não chegaram. Nada disso! O lugar em que o crime compensa e em que criminosos já condenados pela Justiça são disputados para uma fotografia é o PT. Não fosse a sujeição, nesse caso, voluntária e não fossem os fãs e seus ídolos formados pela mesma têmpera moral, eu juro que iria sugerir a Dilma que mandasse uma UPP para o partido. O objetivo seria libertar aquela pobre gente de seus algozes espirituais. Mas não há inocentes por ali. Todo mundo sabe o que todo mundo sabe. E, mesmo assim, o clima é de festa, de euforia, de algazarra.

A Folha informa que lideranças do partido fizeram em São Paulo, nesta quarta, uma festa em homenagem aos 78 anos de Ricardo Zarattini. Os convidados de honra eram José Dirceu, Delúbio Soares e os deputados José Genoino e João Paulo Cunha. Quando estão juntos, os patriotas somam exatos 36 anos de cadeia.

Mesmo assim, conta a reportagem, os quatro eram muito assediados para tirar fotografias. Imagino. Uns queriam sair ao lado do condenado a 10 anos e 10 meses por corrupção ativa e formação de quadrilha — Dirceu. Outros, quem sabe não se sentindo à altura do chefe do grupo, escolhiam a corrupção passiva, o peculato e a lavagem de dinheiro e reservavam seu melhor sorriso para posar ao lado dos 9 anos e 4 meses de João Paulo. Delúbio rivalizava nos crimes com Dirceu, mas sua pena foi menor: 8 anos 11 meses. É o bastante para deixar honrado quem posa a seu lado. Genoino, com os mesmos crimes desses dois, levou apenas 6 anos e 11 meses. Sabia de tudo, participou de tudo, mas parece que o STF não o considerou  esperto o bastante para estar no comando — embora fosse presidente da legenda.

No morro, os bandidos provam o seu poder, impõem a ordem e mobilizam um séquito de admiradores exibindo suas pistolas e seus fuzis. Os  mensaleiros, em pleno regime democrático e de direito, exibem suas penas quase como galardões conquistados por seu amor à causa. Não é de espantar que os valentes agora comecem a mobilizar a delinquência política latino-americana para vir em seu socorro, a exemplo do embaixador da Venezuela no Brasil, o tal Maximilien Sánchez.

Na festa, João Paulo aproveitou para desfilar seu humor inteligente e sua picardia, dando uma pista de qual será seu destino quando for oficializada a cassação de seu mandato e a suspensão dos direitos políticos: “Dirceu, Genoino e Delúbio foram condenados sem provas. Eu fui condenado contra as provas. Isso não é mensalão, é ‘mentirão’”. O piadista, nesse momento, acusava o Supremo Tribunal Federal de promover uma mentira. Até Marcola é mais respeitoso com a Justiça, não é mesmo?

Por Reinaldo Azevedo

 

Afronta! Embaixador da Venezuela anuncia que continuará a participar de atos como aquele promovido por Dirceu, diz que isso faz parte de suas atribuições e ataca as oposições brasileiras

Maximilien Sánchez Averláiz, embaixador da Venezuela no Brasil, está confundindo o baguncismo institucional em seu país  — uma ditadura — com a institucionalidade brasileira, que ainda é uma democracia. Militante fanático do chavismo, um dos formuladores do “bolivarianismo”, Averláiz se mostra também um cínico. Na prática, ele diz que continuará a desafiar as leis brasileiras e que se insurgirá contra os Poderes Constituídos quando lhe der na telha. Por quê?

Ele emitiu uma nota respondendo às críticas da oposição. Lá está escrito:
“Faz parte das atribuições de um embaixador conhecer os acontecimentos políticos do país no qual está alocado (….) Inclusive tenho aceitado e continuarei aceitando qualquer convite que me façam os partidos signatários”.

O que ele está dizendo é que continuará a ignorar os limites das leis e do decoro que marcam a relação entre os países. “Conhecer os acontecimentos” não inclui participar de um ato contra o Poder Judiciário e contra a oposição — era disso que se tratava o encontro desta terça. O embaixador quer se encontrar com “partidos”? Até pode. A questão é saber para quê.

Arrogante, Averláiz foi adiante e criticou os partidos de oposição. Segundo informa a Folha, ele considera a nota das oposições uma “coerção da representação diplomática da Venezuela” e “uma tentativa imprópria de usar um país irmão para disputas políticas internas”.

Com a palavra, o Itamaraty e a presidente Dilma Rousseff. 

Eis aí… Como Dirceu não encontra aliados internos para a sua causa, convoca os bate-paus do bolivarianismo. No caso, chamou o representante de um governo hoje ilegítimo, que golpeou até a Constituição que ele próprio impôs ao país. Acrescente-se, ademais, que o embaixador venezuelano tem experiência com esse negócio de oposição: é especialista em eliminá-la.

Texto publicado originalmente às 21h10 desta quarta

Por Reinaldo Azevedo

 

A publicidade para crianças, a resolução do Conar e o autoritarismo fofo de Eugênio Bucci, o doce pensador da Irmandade Petista

Então vamos, conforme o prometido, ao texto que Eugênio Bucci, o petista de bom coração e dono de um pensamento que as minhas filhas definiriam como “fofo”. A expressão vem sempre na forma exclamativa, carregada de ironia. Um “Que fofo!” tem sentido em aberto, sempre definido pelo contexto, mas nunca em sinal de aprovação. Pode significar: “Que bobagem!”. Ou ainda: “Que coisa mais trapaceira!” — na hipótese de o receptor identificar a intenção secreta do emissor, contrária à pretensão declarada ou em contraste com a sua história. Vamos, então, ao texto fofo de Bucci.

No Estadão de hoje, ele escreve um artigo intitulado “A publicidade afasta-se das crianças. Que ótimo”. Elogia a decisão do Conar — Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária —, que vetou ações de merchandising estreladas por crianças e jovens ou dirigidas a esse público. Acesse a página doConar, clique no botão “Código” e depois no link “Capítulo II – Princípios Gerais”. Leia a Seção 11, que trata da publicidade voltada para crianças. Ela receberá agora um acréscimo com o veto — não é proibição legal, mas as decisões do órgão são respeitadas — ao merchandising para crianças.

Todos sabem que, há alguns dias, entrei aqui numa porfia com uma ONG chamada Alana, que fez pressão para que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), não vetasse projeto de lei do deputado estadual Rui Falcão, também presidente do PT, que simplesmente proibia a veiculação de anúncios, entre 6h e 21h, de alimentos de baixo teor nutritivo. Além de inconstitucional — dois artigos da Carta estabelecem que a competência para legislar sobre o tema é federal —, tratava-se de uma estrovenga notoriamente autoritária. Não vou repisar argumentos. Basta recorrer aos arquivos. Saibam: há centenas de propostas circulando no Congresso criando óbices à publicidade. Os valentes querem os meios e comunicação reféns da Petrobras, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e congêneres.

Voltando ao pensamento fofo
Bucci escreve alguns parágrafos elogiando a medida, que também apoio, e afirma como se anunciasse uma novidade (em vermelho): “Atenção: o Conar admite, com todas as letras, que os públicos infantis são “vulneráveis” e precisam de proteção. Que bom que o próprio mercado publicitário – representado pelo Conar – dê mais esse passo.” Tiro n’água. Atenção! O Conar não passou a admitir isso agora. Na já citada Seção 11 do Código da entidade, há esta nota (em azul): “Nota: Nesta Seção adotaram-se os parâmetros definidos no art. 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90): “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.” Logo, essa vulnerabilidade estava, desde sempre, admitida.

Nesses parágrafos, emite alguns conceitos com os quais não concordo, mas que não merecem resposta porque se trata de lateralidades, de irrelevâncias. Vou me fixar a trechos em que ele, com efeito, faz uma lambança dos diabos, embora possa passar por esperto. Vamos lá. Agora ele segue em vermelho, e eu, em azul.

A segunda razão para comemorar as novas regras é que elas ajudam a esclarecer que a liberdade de anunciar produtos não é exatamente igual à liberdade de expressão do pensamento. As duas têm status distinto na democracia. A liberdade de manifestação, de externar opiniões, assim como a liberdade de imprensa, compõe um direito fundamental inviolável. Um cidadão tem o direito pleno de, digamos, escrever um artigo em jornal defendendo a legalização da maconha e de sugerir um projeto de lei para legalizá-la. Com a publicidade é diferente. Uma agência de publicidade não tem o direito de fazer uma campanha enaltecendo o consumo da maconha do tipo A ou do tipo B. Não porque os publicitários, que também são cidadãos, não tenham liberdade de se manifestar – isso todos temos. Essa agência não pode fazer anúncio de maconha de nenhum tipo porque a maconha não pode ser legalmente comercializada – e a comunicação publicitária está subordinada às leis que regulam o mercado.
Bucci é formado em Direito. Foi presidente do 11 de Agosto… Nem parece. Acima, temos um misto de Dialética da Confusão com Dialética da Bobagem, que vai desaguar na Dialética do Autoritarismo Fofo (já chego lá). Vamos ver. Sim, na democracia, a liberdade de expressão é um direito fundamental. Ocorre que ela não é um sinônimo de “liberdade de informar”, como quer o articulista. Tanto a de informar como a de anunciar estão sob o guarda-chuva da liberdade de expressão e se equivalem, sim! Provo. A liberdade de expressão não confere a ninguém, por exemplo, o direito de caluniar terceiros. Sabe por que não, Bucci? Porque a calúnia é um crime tipificado. Um articulista que queira escrever um texto pregando o assalto a mão armada, a pedofilia ou o peculato não está protegido pela “liberdade de expressão”, que também não fornece licença para a apologia do crime. Você está errado, Bucci. Os meios de comunicação não podem veicular um anúncio de maconha NÃO POR CAUSA DA DIFERENÇA DE STATUS ENTRE A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E A LIBERDADE DE ANUNCIAR, mas porque as leis que temos regulam, meu senhor, a liberdade de expressão. E, por óbvio, não se pode vender maconha na televisão tanto quanto não se pode defender a pedofilia nos jornais (e em lugar nenhum!). Se não ficou claro, posso pedir a alguém um desenho.

Ocorre, meus caros, que essa confusão deliberada de Bucci — burro, ele não é; é até bastante esperto — prepara o triplo salto carpado para a Dialética do Autoritarismo Fofo, que vem agora.

A publicidade comercial é uma extensão do comércio devidamente legal. Assim, só se podem anunciar as mercadorias e os serviços cuja comercialização não conflite com a legislação vigente. Portanto, a liberdade de anunciar não se enquadra no rol das liberdades fundamentais de informar e de ser informado. A publicidade veicula ideias e conceitos, ou algo próximo a isso, mas não realiza o direito de expressão do pensamento. Ela é uma atividade acessória do comércio, subordinando-se, logicamente, às leis do comércio.
Eita! Que habilidade! Bucci é meu candidato a Conselheiro Bonzinho do Autoritarismo Perfeito. Notem: se a publicidade não se enquadra no rol das liberdades fundamentais e é só uma expressão “do comércio”, sempre que uma entidade, como a Alana, ou um deputado, como Rui Falcão, quiser proibir a propaganda disso e daquilo, não se falará, então, de liberdade de expressão, mas de mero disciplinamento das atividades do comércio.

Brinquei, num post anterior, que, se o petismo fosse o islamismo, Bucci jamais seria da Al Qaeda (a Al Qaeda eletrônica o ataca porque não o considera petista ou esquerdista o bastante; é que ela é burra o bastante…). Não! Ele seria um desses “moderados” da Irmandade Muçulmana. Assim, se, um dia, a Irmandade Petista conseguir o consenso necessário para proibir propaganda de biscoito, estaremos tratando de mera questão comercial. Se um dia se decidir proibir a dos bancos, idem. Se for a dos carros, também. Ao reduzir a propaganda a mera expressão das, digamos, “transações capitalistas” — ele não se expressa nesses termos porque não é um desses esquerdistas babões e barbudos; seu pensamento tem colarinho fechado, é fofo! —, Bucci a expõe aos consensos e falsos consensos dos arbítrios militantes. Adiante.

Para sorte do País, a postura do Conar nesse episódio não se deixou confundir com o fanatismo dos fundamentalistas, segundo os quais qualquer senão a um comercial de refrigerante traz em si a mesma violência dos atos que censuram a imprensa. Ora, são matérias inteiramente diversas. Uma não tem nada que ver com a outra. O Conar não censura nada nem coisa nenhuma, apenas zela pela credibilidade do seu ramo de atuação. Anunciar quinquilharias para crianças de 5, 6 anos de idade por meio de subterfúgios e técnicas de dissimulação, por favor, isso, sim, pode ser visto como uma violência inominável. Isso, sim, conspira contra a credibilidade do mercado anunciante, em seu conjunto, e corrói a reputação de todo o setor.
Fanatismo de fundamentalistas? Está falando de quem? Eu me refiro diretamente a Bucci, um fanático do gradualismo fundamentalista… Quem é que trata como se fosse censura “qualquer senão a comercial de refrigerante”? Essa tática de debate não é intelectualmente honesta porque contesta o que ninguém disse para tentar vender uma espécie de agenda oculta. Ora, qual foi o tema em evidência nos dias que antecederam a divulgação da resolução do Conar? A tentativa do deputado Rui Falcão, chefão do PT, de proibir a propaganda de alimentos em São Paulo. Estupidamente, o projeto de lei foi aprovado na Assembleia, e o governador Geraldo Alckmin teve de vetá-lo. Bucci ignora solenemente o assunto. Faz de conta que isso nunca existiu. Faz sentido! Falcão não é um “moderado”, um “fofo”, como Bucci. Por ele, não haveria essa coisa de gradualismo, não!  Mais: quem é que defende o anúncio de “quinquilharias para crianças de 5, 6 anos”? A propósito: quais quinquilharias estão sendo anunciadas na TV?

Quanto ao mais, o uso de merchandising e de anúncios testemunhais para seduzir o público infantil – que é, sim, vulnerável – já não se admitem em diversas democracias. O Brasil também não precisa mais desse primitivismo. E vamos em frente, porque há mais a fazer.
“Há mais o que fazer”? A julgar pela Dialética do Pensamento Fofo, tremo só de pensar, hehe… Eu, um “fundamentalista” da liberdade individual — que não sou fofo e dou nome às pessoas de quem divirjo porque detesto o pensamento covarde —, apoio a restrição ao merchandising e acho que as crianças quase sempre podem ficar longe da propaganda. Aliás, quando critiquei a tal Alana, se bem se lembram, indaguei por que a ONG não enroscava com a propaganda de um banco que adorava usar os infantes. Indaguei e respondi. Não sou fofo.

Eu apoio a restrição do Conar ao merchandising dirigido ao público infantil. Bucci também apoia — tanto quanto a Irmandade Muçulmana queria o fim de Mubarak no Egito, e a oposição laica e liberal também. Só que eu não sou como a oposição laica e liberal do Egito. E, por isso, jamais me juntaria à Irmandade Bucciana porque as nossas diferenças são inconciliáveis. Se ele acha que a liberdade de anunciar é mera franja do comércio, então quer regular essa liberdade segundo os consensos que regulam o comércio, muito mais sujeitos a ondas de opinião pública e ao assalto do alarido militante.

Ocorre que o sr. Eugênio Bucci, o Mohamed Mursi do pensamento publicitário, ignorou em seu texto uma outra questão fundamental, talvez a mais importante de todas: a publicidade, que seria mera derivação do direito de fazer comércio, é quem, de fato, financia a liberdade de expressão, aquela outra, que ele chama de “direito fundamental”. Seria um caso único em que um direito infraconstitucional é esteio do direito constitucional.

Sim, eu e ele estamos juntos na restrição ao merchandising pra crianças. Só que seu pensamento, creio ter demonstrado, tem um horizonte autoritário — embora fofo! —, e e o meu não. Eu continuo a ser um fundamentalista dos… direitos fundamentais!!! No longo prazo, tipos como Bucci são mais perigosos para a democracia do que Rui Falcão. Já que falamos de publicidade, ironizo: o produto “Falcão” não tem disfarces. Só compra quem quer. É um Falcão com cara de Falcão, que pensa como Falcão, que propõe coisas de Falcão, que atua como Falcão. Bucci pratica uma espécie de autoritarismo subliminar. Falcão conquista quem gosta de Falcões. Bucci seduz os trouxas bem-intencionados. Falcão, admita-se, vende o que está no rótulo. Bucci faz propaganda enganosa de apreço pela liberdade. E demonstrou isso ao excluir o direito de anunciar das garantias constitucionais.

Por Reinaldo Azevedo

 

Oposições emitem nota de repúdio à presença de embaixador da Venezuela em ato contra o Poder Judiciário do Brasil. Ou: Uma imprensa escandalosamente omissa!

Com alguma frequência, lê-se na imprensa brasileira que as oposições não dão combate, que evitam o confronto com o governo, que não enfrentam o petismo. Tem sido verdade. Mas o que dizer dessa mesma imprensa?

A Caravana do Delírio de José Dirceu, que percorre o país, estacionou nesta terça em Brasília. O chefão petista vociferou à vontade contra a imprensa e o Judiciário. Estava presente ao ato ninguém menos do que Maximilien Sánchez Averláiz, embaixador da Venezuela no Brasil. É um escracho e um acinte. Escrevi a respeito. O texto ficou como submanchete da VEJA.com durante parte da noite desta terça e manhã desta quarta.

Por incrível que pareça, foi o único veículo de comunicação que atentou para a gravidade do caso. O embaixador de um país estrangeiro se metia numa questão interna, mais precisamente num ato de protesto contra decisão tomada pela instância máxima do Poder Judiciário. Quando menos, é o caso de a presidente Dilma Rousseff cobrar explicações da Venezuela, por intermédio do Itamaraty. No limite, Avarláiz deveria ser expulso do Brasil.

Os três partidos de oposição — PSDB, DEM e PPS — emitiram uma nota conjunta de repúdio à interferência de Avarláiz em assuntos internos e anuncia que vai cobrar explicações de Antônio Patriota, ministro das Relações Exteriores. Até agora, vergonhosamente, o Itamaraty está mudo.

Faz sentido, né? Samuel Pinheiro Guimarães, que foi secretário-geral das Relações Exteriores do Itamaraty entre 2003 e 2009, estava lá. Ele ainda é a eminência pardo-vermelha da política externa brasileira. É quem procura dar alcance teórico aos delírios. Segue íntegra da nota.

NOTA DE REPÚDIO À INTERFERÊNCIA DO EMBAIXADOR DA VENEZUELA EM ASSUNTOS INTERNOS DO BRASIL

O PSDB, PPS e Democratas manifestam de forma conjunta seu protesto e indignação diante da interferência indevida do embaixador da Venezuela, senhor Maximilien Sánchez Averláiz, em assuntos internos do Brasil.

A presença do embaixador venezuelano em ato organizado ontem pelo petista José Dirceu, ex-ministro do governo Lula condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, para tentar desqualificar o resultado final do julgamento do mensalão, definido pelo Supremo Tribunal Federal, afronta a soberania do Brasil e mereceria o repúdio imediato das autoridades brasileiras, a começar pelo Ministério das Relações Exteriores.

Diante disso, exigiremos, no âmbito do Congresso Nacional, explicações do chanceler brasileiro, Antônio Patriota, sobre a omissão do governo da presidente Dilma Rousseff diante de um episódio de tamanha gravidade.

Brasília, 06 de fevereiro de 2012
Deputado Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB
Deputado Roberto Freire, presidente nacional do PPS
Senador José Agripino, presidente nacional do Democratas

Texto publicado originalmente às 20h29 desta quarta

Por Reinaldo Azevedo

 

PSB desautoriza Lula a envolver partido na sucessão de 2014

Por Maria Lima, no Globo:
Do projeto político do PSB para 2014, cuida o PSB. O aviso foi dado ontem por interlocutores do governador pernambucano e presidente do PSB, Eduardo Campos. Enquanto o ex-presidente Lula, como articulador do PT, traça todo tipo de cenário com o intuito de tirá-lo da disputa com a presidente Dilma Rousseff, inclusive acenando com o escanteio de Michel Temer e do PMDB na chapa para acomodá-lo como vice em 2014, o governador madrugou nesta quinta-feira em Brasília para se reunir com a cúpula do partido e traçar sua própria estratégia e um plano de trabalho político para 2013.

Como Lula, que pretende retomar suas caravanas pelo país em maio, e Dilma, que já está na estrada, Eduardo Campos percorrerá estados brasileiros a partir de abril, para participar de seminários e debates com setores diversos da sociedade sobre o que pode ser o embrião de um programa de governo. Nas reuniões internas do partido, estes encontros já foram batizados de “Diálogos do Desenvolvimento”. E os objetivos começam a ser traçados: além do novo federalismo, propor políticas de industrialização e geração de empregos que possam tirar mais rapidamente os pobres da dependência dos programas assistenciais, marca do governo petista.

Eduardo Campos não admite que esteja numa espécie de pré-campanha. Todo esforço, diz, é para consolidar o crescimento do partido. Mas nas reuniões de ontem com o comando do PSB ficou claro o desconforto dele e de outros dirigentes com o que classificam, reservadamente, como uma tentativa de Lula de atropelar e tumultuar o jogo.
(…)
À provocação de que petistas tentam empurrar sua entrada na corrida presidencial para 2018, Eduardo Campos joga a cabeça para trás e responde com um sorriso silencioso de quem quer dizer: não posso esperar tanto tempo. Diplomático e cuidadoso, não diz que sim nem que não. Seus colegas de partido, no entanto, estão autorizados a falar.

“Respeitamos o presidente Lula e não temos como controlar o que ele fala. Mas nosso compromisso é o de fortalecer nosso partido. E o nosso propósito, claro, é fortalecer nosso principal líder: Eduardo Campos”, afirmou Carlos Siqueira, integrante da Executiva Nacional do PSB, após a reunião com o governador.

A avaliação feita entre os integrantes da Executiva é que o PSB capitalizou politicamente as eleições para os presidentes do Congresso, saindo em vantagem em relação ao PT e ao PSDB, que se aliaram para eleger Renan Calheiros (PMDB-AL) presidente do Senado, e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara. O PSB bancou a candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) na Câmara, contra o favorito Henrique Alves — apoiado por 20 partidos governistas e de oposição —, que obteve surpreendentes 165 votos.
(…)
Alfinetando o pré-candidato tucano em 2014, Aécio Neves (PSDB-MG) — que no Senado defendeu o voto em Pedro Taques (PDT-MT), mas não fez discurso no dia da eleição —, Campos lembrou que os quatro senadores do PSB subscreveram um documento público defendendo a renovação e foram à tribuna contra Renan Calheiros.

Por Reinaldo Azevedo

 

PT presidindo Conselho de Ética na Câmara? E que tal Delúbio Soares para a Controladoria-Geral da União?

Pensem um pouco… Quando vocês imaginam um Conselho de Ética e um partido para presidi-lo, que legenda lhes vem à cabeça de bete-pronto? PT, é claro! Quem mais? Afinal, não se esqueçam de que os petistas escolheram o mensaleiro João Paulo Cunha, que já era réu no processo do mensalão, para comandar a Comissão de Constituição e Justiça. De novo: o deputado que teve seu mandato cassado pela Constituição, com a perda de direitos políticos, era quem liderava a turma que avaliava o que era e o que não era constitucional na Câmara. Muito bem. Leiam trecho do que informa Evandro Éboli, no Globo. Volto depois.

*
O PT está articulando para comandar o Conselho de Ética da Câmara a partir deste ano e duas razões o movem: tentar salvar os mandatos dos seus deputados e de aliados condenados no julgamento do mensalão e ter o controle do colegiado num eventual processo que possa levar à cassação do deputado e ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), principal personagem do chamado mensalão mineiro. O PT tem interesse em dirigir o colegiado, mesmo diante da possibilidade de os processos contra os deputados condenados nem passarem por lá.

Integrante do conselho, o deputado Sibá Machado (PT-AC) é um nome do partido para presidir o órgão, mas que pode ser substituído por outro parlamentar de maior densidade política em caso de risco de derrota contra outro candidato num confronto. O indicado, neste caso, seria Nelson Pellegrino (PT-BA), ex-líder da legenda. Árduo defensor da tese de que cabe à Câmara a última palavra sobre o destino dos mandatos de José Genoino (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP), João Paulo Cunha (PT-SP) e Pedro Henry (PP-MT) — os quatro parlamentares condenados na ação penal 470, o mensalão —, Sibá Machado diz estar à disposição do seu partido. Neste caso, o Conselho poderia ter participação importante.

“Só aceito se for uma orientação do meu partido. Vamos ter muita polêmica entre a Câmara e o STF. Já é uma briga pública e notória. E todos sabem que comungo da posição do ex-presidente Marco Maia, de que a Câmara não pode abdicar de seu poder de decidir sobre o futuro dos seus. Se vai aliviar ou não é outra coisa. O que não pode é entregar essa prerrogativa para terceiros”, disse Sibá Machado, nesta quarta-feira.

Dois não petistas postulam também o cargo de presidente do Conselho de Ética. Ricardo Izar Júnior (PSD-SP), filho do falecido deputado Ricardo Izar, que presidiu o colegiado no escândalo do mensalão. Izar Júnior conversou com o novo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), há duas semanas, antes da eleição. Não sentiu ter o apoio de Alves e entendeu que ele já reservou o cargo a outro partido, que se acredita ser o PT. Ainda contra o deputado paulista pesa o fato de ele ter feito campanha aberta para Júlio Delgado (PSB-MG) à presidência do Câmara. Com esse cartel, pode ser considerado um azarão.

“Conversei com o Henrique Alves antes da eleição e não senti vontade nele que fosse eu (o presidente do conselho). Me pareceu destinado a outro partido. Mas esta não é uma vontade da Mesa, mas dos integrantes do conselho, que elegerão o presidente”, disse Izar Júnior, lembrando a atuação de seu pai no órgão: “Ele foi bastante imparcial e atuou com firmeza, como deve ser. Mas não acho que, no caso dos quatro deputados condenados pelo Supremo, o conselho se pronuncie novamente. Já se manifestou sobre o assunto.”
(…)

Voltei
Pela ordem: é pura fantasia essa história de que o Conselho de Ética terá algum poder de mudar a decisão do Supremo. Pura bobagem! Mas notem a disposição deste notável parlamentar chamado Sibá… Ele nem assumiu ainda a função — nem se sabe se será candidato — e já anuncia a disposição de confrontar o Supremo, como se isso fosse possível. Não é. O que a reportagem acaba deixando claro é outra coisa: os petistas estão de olho no Conselho com o intuito de perseguir adversários…

PT no Conselho de Ética? Sugiro agora que se nomeie Delúbio Soares para a Controladoria-Geral da União!

Por Reinaldo Azevedo

 

Depois de inventar a classe média dos R$ 300, PT está prestes a declarar oficialmente o fim da miséria que, a rigor, já não existia. Veja como e por quê

Desde que chegou ao poder, o PT vem se dedicando, com a preciosa colaboração teórica dos chamados “economistas da pobreza”, a erradicar a miséria por decreto. Dilma está a um passo de declarar o Brasil um país “sem miseráveis”. Está por um triz. E como isso foi feito? Inventou-se a existência de milhões de pessoas que estariam na “pobreza extrema”, as famílias com renda per capita de até R$ 70 mensais — R$ 2,33 por dia. Caso se faça um levantamento a sério, vai-se constatar que essas pessoas até podem existir no campo (e olhem lá!) — na cidade, não! Na zona rural, acabam sobrevivendo porque, ainda que precariamente, produzem parte do que comem. Nas cidades, fazendo bico aqui e ali, a renda é maior do que isso. Muito maior! Mesmo a daqueles oficialmente listados entre os extremamente miseráveis. Os pobres desgraçados do crack, que já estão sem casa, sem calçado, quase sem roupa, têm renda superior a R$ 2,33 por dia. Sabem por quê? Cada pedra custa R$ 10! O que estou dizendo é que existe uma economia informal que eleva essa renda.

Na era petista, estamos vivendo uma enorme fantasia e uma confusão desgraçada de números. Daqui a pouco, não restará mais um miserável no Brasil. O sujeito pode morar num barraco à beira de um córrego fétido, sem água nem saneamento, não ter acesso a saúde, educação e transporte, mas miserável não será mais porque, com o dinheirinho de uma das “bolsas”, ele já terá uma renda superior a R$ 70. Milagre do governo Lula! Milagre do governo Dilma! Ocorre, e bastaria um estudo sério de campo para constatá-lo, que ele já tinha uma renda superior a esse piso. E faz tempo! Ou comporia uma horda de famélicos — o que também não existe. Os catadores de papelão que moram nos baixos de viadutos ganham bem mais do que R$ 2,33 por dia. Qualquer pedinte arrecada por dia um valor superior a esse. O PT inventou milhões de miseráveis nessa categoria para poder declará-los extintos.

Nos patamares mais elevados de renda, aí a fantasia é outra. Inventou-se uma tal classe média que já corresponderia a 54% da população brasileira. E que classe média é essa? Segundo a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos, são as famílias com renda per capita, atenção!, entre R$ 300 e R$ 1.000. Um casal cujo marido ganhe o salário mínimo (R$ 678) — na hipótese de a mulher não ter emprego — já é “classe média” — no caso, baixa classe média (com renda entre R$ 300 e R$ 440). Se ela também trabalhar, recebendo igualmente o mínimo, aí os dois já saltarão, acreditem, para o que a SAE considera “alta classe média” (renda per capita entre R$ 640 e R$ 1.020). Contem-me aqui, leitores, como vive e onde mora que tem um renda per capita de R$ 640! O aluguel de um único cômodo na periferia mais precária não sai por menos de R$ 250… 

Segundo a SAE, renda per capita acima de R$ 1.020 já define classe alta. Na minha casa, somos da classe alta os que aqui moramos e a nossa empregada, além de todos os porteiros do prédio. É brincadeira! Estamos em plena fase de surto estatístico. E, como de hábito, não se ouve um pio — da oposição tampouco.

No Globo, o repórter Demétrio Weber começa a desfazer ao menos parte da confusão. Vale a pena ler o texto em que demonstra que o governo usa, a cada hora, um número. Leiam. Volto para arrematar:
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A promessa da presidente Dilma Rousseff de erradicar a miséria até 2014 continua de pé, mas o tamanho do desafio mudou — sem maiores explicações por parte do governo. Quando lançou o programa Brasil sem Miséria, em junho de 2011, Dilma dizia que era preciso resgatar 16,2 milhões de brasileiros da pobreza extrema. O número tinha origem no censo do IBGE, de 2010. Nas últimas semanas, porém, ela tem afirmado que os programas sociais já retiraram da miséria 19,5 milhões de pessoas nos últimos dois anos. Ou seja, 3,3 milhões a mais do que o número informado por ela mesma.

Isso não significa que a pobreza extrema tenha acabado: desde dezembro, Dilma passou a dizer que ainda falta atender, pelo menos, outros 2,5 milhões de miseráveis. O que elevaria para 22 milhões de pessoas o universo de extremamente pobres na mira do governo, no atual mandato. Portanto, 5,8 milhões a mais do que os 16,2 milhões de miseráveis identificados pelo Censo de 2010.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, os números usados por Dilma têm origem no Cadastro Único (CadÚnico), lista oficial da população de baixa renda produzida pelas prefeituras, que são encarregadas de coletar os dados. Diferentemente do IBGE, que obtém informações para fins estatísticos, o CadÚnico é a porta de acesso ao Bolsa Família. Os dados do CadÚnico são chamados de registros administrativos e devem ser atualizados a cada dois anos. De novo, pelas 5,5 mil prefeituras.

O ministério diz que o cadastro foi modernizado ao longo de 2011, e constitui atualmente uma fonte mais apropriada para medir a “pobreza longitudinal” no país. Assim, quando Dilma afirma que 19,5 milhões de pessoas saíram da miséria, passando a viver com renda familiar per capita superior a R$ 70, está se referindo aos registros do CadÚnico.

Segundo o ministério, antes do lançamento do Brasil sem Miséria, em 2011, havia 22,1 milhões de extremamente pobres, conforme o CadÚnico. Na ocasião, porém, o governo optou por utilizar os números do IBGE, que indicavam 16,2 milhões nessa situação.

O conceito de miséria adotado pelo governo é exclusivamente monetário: famílias com renda por pessoa de até R$ 70 mensais são classificadas como extremamente pobres.
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Em meio à dança de números, Dilma prometeu anteontem que o universo remanescente de 2,5 milhões de miseráveis deixará a pobreza extrema até março. Ela não explicou como isso será feito. Para produzir tamanho resultado em menos de dois meses, só há um caminho: criar uma nova modalidade de repasse do Bolsa Família ou de seu congênere, o Brasil Carinhoso, que dá benefícios adicionais ao público do Bolsa Família.

Ex-economista sênior do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Flávio Comin, atualmente professor na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, diz que os dados sobre miseráveis no Brasil são dissonantes: há divergência até mesmo entre o Censo e a Pnad do IBGE. Ele critica o conceito de miséria adotado pelo governo: “Todas essas estimativas compartilham o mesmo entendimento de que os pobres são aqueles que sofrem de insuficiência de renda. Esquecem, assim, que pessoas que estão acima da linha da pobreza oficial, mas que não dispõem de acesso à saúde ou educação dignas, também deveriam ser considerados pobres”, diz Comin, por e-mail.

Voltei
É o reino da fantasia. Mas quem se atreverá a chamar as coisas pelo nome?

Por Reinaldo Azevedo

 

Caso Lula vai para seção mineira do MP. Pior para o Apedeuta. Vejam por quê

Os lulistas estão rangendo os dentes, a começar do próprio Apedeuta, fanático por si mesmo, como se sabe. Roberto Gurgel, procurador-geral da República já decidiu: as acusações que Marcos Valério fez ao ex-presidente da República serão enviadas para a seção mineira do Ministério Público Federal. E isso pode acontecer ainda nesta quarta. À Folha, Gurgel declarou: “Depois de uma verificação cuidadosa”, constatou-se que já há lá “um desmembramento determinado pelo ministro Joaquim Barbosa que trata de assunto relacionado ao esquema do mensalão e não compreendido na ação penal 470”.

Ô se há! Tanto a primeira instância do Ministério Público como a da Justiça Federal conhecem bem uma parte do processo do mensalão. Ali transita, por exemplo, o caso BMG, um dos bancos que atuaram no esquema. É inquestionável que decisões tomadas por Lula beneficiaram essa instituição financeira. Suas digitais estão no caso. Se quiser detalhes, leia aqui.

Os “empréstimos” do BMG já renderam, não custa lembrar, a condenação, em primeira instância, na Justiça Federal de Minas, de José Genoino, Delúbio Soares, Marcos Valério e quatro diretores do banco. É uma condenação que nada tem a ver com aquela do Supremo.

Não estou afirmando que o ambiente em Minas, do Ministério Público ou da Justiça, seja particularmente hostil a Lula. O que estou afirmando, isto sim, é que ambos conhecem com mais detalhes a lambança do mensalão. E, claro!, quanto mais se conhece esse caso, pior para o Apedeuta.

Por Reinaldo Azevedo

 

Embaixador da Venezuela participa de ato promovido por Dirceu contra decisão da Justiça Brasileira. Se Dilma se calar, estimulará a bagunça. Deputado petista chama jornalistas de “meia-dúzia de canalhas”

Imaginem se o embaixador dos EUA no Brasil decidisse, por qualquer razão, comparecer a uma manifestação contra uma decisão tomada pela presidente Dilma Rousseff. Ele certamente seria chamado a dar explicações e correria o risco de ser expulso do Brasil. No mundo inteiro, exceção feita a períodos de guerra — e, mesmo assim, só excepcionalmente — representantes de governos estrangeiros não se metem em assuntos internos dos países nos quais se encontram, a menos que estejam conspirando. Não custa lembrar antes que sigamos: Lula tentou expulsar do Brasil o então correspondente do New York Times, que escreveu ser consenso que o Apedeuta gostava de uma cachacinha. O Babalorixá considerou uma ofensa grave.

Pois bem! O Judiciário é um Poder da República, como é o Executivo. Em muitos aspectos, é o Poder dos Poderes, porque a ele cabe dirimir as dúvidas, por exemplo, sobre competências do Executivo, do Legislativo e as suas próprias. Um governo estrangeiro que participe de uma manifestação pública de protesto contra uma decisão do Poder Judiciário está, na prática, se manifestando contra o Estado brasileiro, contra o Brasil.

Lembro a vocês que o espírito nacionalista de alguns ficou bastante exacerbado porque o governo italiano recorreu contra o asilo concedido ao terrorista Cesare Battisti. Atenção! O estado da Itália não pregou o desrespeito a nenhum Poder constituído. Ao contrário: recorreu a um deles num caso que lhe dizia respeito diretamente. E contratou advogados brasileiros. Mesmo assim, os petistas consideraram isso um atrevimento. Falou-se até em desrespeito à soberania nacional. E houve alguns cretinos na imprensa que caíram nessa conversa.

Os bolivarianos
Pois bem. A Câmara Distrital do Distrito Federal abrigou nesta terça uma daquelas manifestações comandadas por José Dirceu contra o julgamento do STF. Sim, trata-se de um protesto contra uma decisão da Justiça, acusada de agir de forma parcial, atendendo a interesses subalternos. Nunca antes se viram condenados tão cheios de razão. A Folha informa que o ato reuniu umas 500 pessoas — em Brasília, no lançamento do meu livro, sem apoio do governo de Agnelo Queiroz (PT), havia mais ou menos isso… A máquina oficial foi mobilizada em defesa do ato.

Até aí, qual a novidade? Nada que não esteja à altura do conhecido patriotismo de notório governador Agnelo. No ato, o deputado Distrital Chico Vigilante disse em público o que os petistas costumam falar privadamente quando não estão muito furiosos: “Os jornalistas são trabalhadores, mas a gente não aceita essa meia- úzia de canalhas que não tem o direito de nos atacar”. Se os jornalistas que fazem o seu trabalho são “canalhas”, é claro que Chico Vigilante não é. Se os jornalistas não são, que triunfe a lógica binária.

A sogra do Zé tinha morrido havia pouco. Ele foi ao evento mesmo assim. Não consigo imaginar que grau de parentesco o faria se distrair desta causa tão nobre, que é do interesse de toda a humanidade: “José Dirceu”. Estava lá o homem, de punho cerrado, socialista pra chuchu, “guerreiro e herói do povo brasileiro”, na rima de resistência. Não é o seu melhor moralmente falando. Quando, anistiado, abandonou a primeira mulher porque, afinal, ele era outro — e quem havia se casado com aquela era o codinome —, creio que ele atingiu seu auge.

Nada disso — o Chico Vigilante, que canalha não é; a rima miserável; o apoio oficial a um ato contra o Poder Judiciário; o horror moral do dia — é, no entanto, tão grave como a presença no ato do embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Sánchez. Trata-se de uma óbvia afronta ao Estado brasileiro e a suas leis. O senhor Sánchez estava participando de um ato contra uma decisão do Poder Judiciário da República Federativa do Brasil. Digamos, presidente Dilma Rousseff, que ele não fosse um aliado ideológico seu: caso engrossasse algum protesto contra uma medida do seu governo, o que faria Vossa Excelência?

Há muito José Dirceu perdeu a noção de limites e tenta arrastar o governo para a sua pantomima pessoal. Dilma tem resistido, mas é visível que o Planalto também não tenta coibi-lo. Ao liderar um ato contra o Poder Judiciário, com a presença de Sánchez, Dirceu cria um caso que é, sim, de governo. Se a presidente deixar isso passar em branco, sem ao menos o envio de um protesto formal, então estará incentivando, por omissão, a bagunça. E já passou da hora de mandar o Zé se mancar. O seu circo pessoal começa a exibir atrações mais perigosas.

Espero que Joaquim Barbosa, presidente do STF, encaminhe formalmente o seu protesto à presidente Dilma para que — afinal, a competência é dela — ela, então, que responde, nos limites da lei, pela relação do Brasil com os outros países, exija as devidas desculpas.

Se Dilma não fizer nada, estará a dizer que governos estrangeiros podem meter o bedelho nos assuntos internos do Brasil desde que sejam, claro, aliados ideológicos.

Texto publicado originalmente às 22h43 desta terça

Por Reinaldo Azevedo

 

O estado paralelo do MST, as mortes no campo e as mistificações

Que tal tratar de um tema delicado?

Regina dos Santos Pinho, agricultora do assentamento Zumbi dos Palmares, em Campos, no Rio, foi assassinada. É lá que morava também Cícero Guedes dos Santos, liderança do MST, morto a tiros no dia 26. O movimento se pronunciou nesse caso afirmando que o assassinato era “resultado da violência do latifúndio, da impunidade das mortes dos sem-terra e da lentidão do Incra para assentar as famílias e fazer a reforma agrária”.

Muito bem!

A polícia já prendeu o mandante do assassinato de Cícero. Latifundiário? Não! José Renato Gomes de Abreu, 45 anos, é funcionário público do município de São João da Barra, mas, ATENÇÃO!, morava num acampamento do MST na Usina Cambaíba, em Campos. Vocês entenderam direito: o funcionário público em um município era invasor de terra em outro. E o MST, é claro!, sabia. Cícero foi morto justamente quando voltava de uma reunião em Cambaíba. E por que José Renato mandou matá-lo? Segundo a polícia, ele é aliado de traficantes da “comunidade” Tira Gosto, em Campos, e queria assumir a liderança na invasão.

Uma pausa para a memória
Em 2011, houve cinco assassinatos de pessoas envolvidas em conflitos de terra no Pará. Gilberto Carvalho e Maria do Rosário denunciaram o que seria uma cruzada de extermínio contra os movimentos sociais. De novo, os “latifundiários” — sejam lá quem forem — entraram na mira. Dilma formou uma espécie de gabinete de crise com cinco ministérios e os deslocou para a região. Ok. Tá bom! Cinquenta mil morrem todo ano no Brasil, e isso não mobiliza nem mesmo um ministério… Mas vá lá.

Fez-se tal barulho que alguns figurões da imprensa estrangeria resolveram se interessar pela coisa. O tiro até saiu pela culatra. Jon Lee Anderson, biógrafo de Che Guevara, o Porco Fedorento, escreveu um textão na New Yorker. Jogou parte da responsabilidade pelas supostas execuções nas costas de Dilma — e, obviamente, acusou o novo Código Florestal, que demonstrou desconhecer.Esculhambei o mistificador.

Apuradas as mortes, tudo não passava de acerto de contas e rivalidades entre os próprios assentados. O caso mais espantoso foi mesmo o do “casal de ambientalistas”, como chamavam os cândidos, José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo. Os dois teriam sido assassinados pelos interesses do latifúndio, madeireiras etc e tal. O assassino, na verdade, era José Rodrigues Moreira, morador do mesmo assentamento. Tinha uma rixa com o casal. Mas o dado espetacular que surgiu da história foi outro. José Cláudio havia, ele próprio, participado de outro homicídio, o de um homem chamado Pelado. A polícia nem mesmo havia aberto inquérito a respeito. “Pelado” não era considerado do lado “do bem”…

Outro suposto “líder” morto era um bandido foragido do Maranhão, que usava nome falso…

E daí?
Os idiotas e analfabetos morais militantes lerão este texto e dirão: “Ah, o Reinaldo nega que haja mortes no campo!” Uma pinoia! O Reinaldo está informando — isto mesmo, INFORMANDO — que as mortes envolvendo lideranças, assentados e invasores do MST entram na conta dos ditos “latifundiários” e que isso esconde conflitos de outro natureza. Eu estou afirmando que o MST é o primeiro a jogar uma cortina de fumaça nas ocorrências e a impedir a devida apuração dos casos, como aconteceu em Campos com Cícero Guedes dos Santos. Eu estou dizendo que, com frequência, os mortos do MST escondem mortos que não são do MST e que não chegam a ser notícia porque essas outras vítimas não têm em mãos uma empresa de produzir mistificação e ideologia.

Vejam lá: o movimento acusou os latifundiários em Campos. Errado! O mandante é um sujeito que é funcionário público — o que faz ele numa invasão de terra? —, aliado de um traficante.

O que estou dizendo, meus caros, é que, na prática, João Pedro Stedile e seus comandados pretendem liderar uma espécie de estado paralelo. Quando morre alguém “da sua gente”, eles pretendem ter a última palavra sobre a natureza da ocorrência. A lógica me diz que, nesse universo dominado pelos ditos sem-terra, deve-se matar e morrer muito mais do que sabemos. Existe aí um Brasil subterrâneo. As mortes conhecidas, as que vêm a público, entram na conta dos conflitos com o latifúndio.

Não era verdade no caso do Pará, com todo aquele estardalhaço. Não é verdade no caso de Cícero, em Campos. E, suspeito, não deve ser verdade no caso de Regina dos Santos Pinho, a morta da hora.

O primeiro que chamou a minha atenção para esses acertos de contas feitos ao arrepio do estado, no ano 2000, foi um dos chefões do PT que andam por aí — informação passada em off, fora da entrevista. Ele temia, então, que, com a chegada do partido ao poder, que antevia como certa (e eu também), houvesse um recrudescimento desses casos. Como disse então, o PT controlava apenas parte das ações do movimento.

É um escândalo que o governo brasileiro permita que essas mortes fiquem sob o arbítrio de uma espécie de estado paralelo.

Por Reinaldo Azevedo

 

Ah, bom… Novo presidente da Câmara diz não haver hipótese de a Casa descumprir decisão do Supremo. Eu sabia!

Ah, bom! Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) encontrou-se com Joaquim Barbosa, presidente do STF. Comentou o que a Casa pretende fazer no caso dos quatro deputados mensaleiros, que tiveram seus mandatos cassados pelo tribunal:

“Não há hipótese de não cumprir a decisão do Supremo. Nós só vamos fazer aquilo que o nosso regimento determina que façamos: finalizar o processo. Coisas de formalidade legal e ponto. Não há nenhuma possibilidade de confrontarmos com o mérito, questionar a decisão do Supremo”.

Ah, bom!!! É isso mesmo o que foi decidido, ora essa! O Supremo cassou o mandato de três mensaleiros (que se tornaram quatro depois que o suplente José Genoino assumiu como titular) com base do Artigo 55 da Constituição, a saber (atenção para os negritos):

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:

I – que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;

II – cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;

III – que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;

IV – que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;

V – quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição;

VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.

§ 1º – É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas.

§ 2º – Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

§ 3º – Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

Como se lê no Parágrafo 3º, a Mesa da Câmara tem providências a tomar, sim, para dar consequência ao que decidiu o Supremo, sem haver a menor chance de recusar ou mudar o mérito da decisão. Folgo em saber que o presidente da Câmara não esteja disposto a dar um, como posso chamar?, golpe de estado.

Assim que a sentença for declarada transitada em julgado, a Mesa oficializa, então, a cassação dos patriotas João Paulo Cunha (PT-SP), José Genoino (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT), com a devida suspensão dos direitos políticos.

O resto é histeria de bandido.

Por Reinaldo Azevedo

 

BNDES, a nova caixa-preta, agora vira banco social de varejo…

A oposição não fala nada, o jornalismo vai perdendo a noção do que está sendo noticiado, todo mundo só quer saber de ser bonzinho, ninguém se atreve a criticar medidas consideradas “socialmente justas”, e os absurdos vão se acumulando…

Na Folha de hoje, lê-se uma notícia em que, aparentemente, não há nada de errado. Parece tudo no lugar. Mas do que isso: tem aquela aparência, assim, de coisa do bem. Reproduzo. Vejam se, no curso da leitura, lhes ocorre alguma restrição. Volto depois.

Por Fernanda Odilla:
O governo quer intensificar o uso de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social em projetos de áreas desapropriadas para reforma agrária. A iniciativa ocorre num momento em que Dilma Rousseff é criticada por movimentos sociais por ser um dos presidentes após o fim da ditadura militar que menos desapropriou terras, perdendo só para Fernando Collor. No BNDES estão em fase de análise, aprovação ou contratação cinco projetos -no valor total de R$ 96,5 milhões- para os assentamentos.

Entre os projetos há duas propostas de R$ 30 milhões: uma de qualificação da estrutura produtiva de assentamentos gaúchos e outra de estruturação de empreendimentos produtivos coletivos. Nos últimos quatro anos, o banco apoiou diretamente cinco projetos com R$ 16,2 milhões e indiretamente outras 50 propostas com R$ 6 milhões, em 19 Estados.

Em 2011, por exemplo, uma cooperativa ganhou cerca de R$ 800 mil para promover a inclusão de famílias assentadas na cadeia produtiva do café com insumos, máquinas e equipamentos, veículos e a construção de uma unidade de beneficiamento do café. O BNDES diz que apoia projetos dos assentados em razão do grande número de beneficiados e de sua experiência na agropecuária.

Inaugurada ontem por Dilma, a usina de laticínios (iogurte, queijo, doce de leite) de uma cooperativa de mulheres do assentamento do MST em Arapongas (PR) é vista como um modelo. Ela obteve R$ 8 milhões do BNDES.

Voltei
E aí? Pois é… O BNDES, agora, virou um misto de banco de varejo com investimento social a fundo perdido. Atenção! O banco, em tese, não dá dinheiro para ninguém; não é um ministério que tem verba para investimento e custeio. Banco, mesmo quando dedicado ao “desenvolvimento social”, empresta dinheiro. O empréstimo faz supor que, um dia, o dinheiro volte. Digam-me cá: os recursos repassados para assentamentos voltarão algum dia? Ora… Até porque cabe indagar o óbvio: se o “empreendimento social” não pagar, acontece o quê? O governo vai lá e toma a coisa na marra?

Sim, não é de hoje que o banco dá um dinheiro aqui e ali… Há uma comunidade de quilombolas que já levou uma graninha. Uma delas estava sob investigação dia desses. O dinheiro que deveria ter sido destinado à produção rural foi usado para construir uma… pousada! Dilma acha o modelo bacana. Tanto é assim que há projetos estimados em quase R$ 100 milhões.

Quando o Tesouro repassa dinheiro ao BNDES, você paga porque a taxa de captação da grana no mercado é mais alta do que aquela do empréstimo. Quando empresta a fundo perdido, como é o caso, você paga de novo — ou não é evidente que esse dinheiro jamais voltará? Aliás, só se opta por essa instituição por essa razão, já que o estado dispõe do Banco do Brasil e da CEF caso queira emprestar dinheiro. Que se criasse, então, linha especial de crédito nessas instituições. Ah, mas aí esses bancos se encherão de créditos podres, e isso não é bom. Deixem que o fundo sem fundo do BNDES se encarregue da coisa.

“Ah, mas o BNDES está por aí financiando o grande capital privado, e você não fala nada!” Quem disse que não? Falo, sim! Virou uma farra. A Petrobras já foi a maior caixa-preta do país. Hoje, o BNDES lhe tomou o lugar. Virou pau para toda obra. “Ah, o Reinaldo, o conservador, é contra o BNDES dar benefício para os pobrezinhos!” Não! O Reinaldo acha que a tarefa desse banco é financiar os grandes projetos de desenvolvimento. O governo já dispõe de instituições para fazer empréstimos a cooperativas. As coisas estão obviamente fora do lugar.

E fora do lugar ficarão porque esse é o tipo de briga que não se compra, certo? Há sempre um cretino ou oportunista de plantão para justificar qualquer descalabro em nome do social.

Por Reinaldo Azevedo

 

Há quase seis anos, modelo de privatização de estradas de Dilma dá com os burros no buraco… Os desastres do governo petista nessa área são um sucesso!

O governo (ver post abaixo) anunciou nesta terça novas condições para a privatização de rodovias federais. Está nesse buraco — literalmente — há quase seis anos. E não consegue sair. O capital privado não comparece. Vamos lá, recuperando um pouco da história e chegando às medidas anunciadas hoje por Guido Mantega

Os leitores mais antigos do blog certamente se lembram do que eu chamaria “O Choque das Previsões”. Corria o ano da graça de 2007, mais precisamente outubro, e a então superministra, supermulher, supercompetente, supersuper (sabem como são aqueles setores da imprensa criadores de mitos…) anunciou um sistema de privatização de estradas que foi considerado, antes mesmo de sair do papel, uma revolução. Os petistas são assim: a coisa nem aconteceu, mas já é um sucesso de crítica. O de público vem depois, na esteira do marketing.

Falei em “Choque de Previsões”? Falei e documento. Elio Gaspari anunciou que o modelo de privatização de Dilma deixava no chinelo o dos tucanos, que só sabem fazer “privataria”. Dilma ainda não tinha atraído um centavo com a sua revolução, mas o jornalista já decretava a sua vitória técnica, intelectual e moral. E eu fiz o contrário e expliquei as diferenças entre o modelo de privatização em São Paulo — muito bem-sucedido — e o do PT. O texto está aqui. Para que vocês não tenham de se chatear visitando links, transcrevo em azul o que escrevi no dia 14 de outubro de 2007.

O PT e a ministra Dilma Rousseff não precisam fazer campanha política – quiçá eleitoral – com a privatização das estradas federais. Elio Gaspari faz por eles com muito mais competência e estilo, pondo a serviço dos companheiros o seu estoque de metáforas. Como sabemos, Gaspari resume a política a um conflito entre o andar de cima e o andar de baixo. É assim um Romeu Chap Chap da ideologia. Andou incomodando os petistas aqui e ali, é verdade, mas só o fez porque julgou que, no andar de baixo, estavam fazendo a política do andar de cima. Escreve na Folha e no Globo deste domingo um texto deplorável porque não vai além da propaganda. E, pior, desinforma o leitor. Segue em itálico um trecho. Volto depois.

Na tarde de terça-feira concluiu-se no salão da Bolsa de São Paulo um bonito episódio de competência administrativa e de triunfo das regras do capitalismo sobre os interesses da privataria e contubérnios incestuosos de burocratas. Depois de dez anos de idas e vindas, o governo federal leiloou as concessões de sete estradas (2,6 mil km). Para se ter uma medida do tamanho do êxito, um percurso que custaria R$ 10 de acordo com as planilhas dos anos 90, saiu por R$ 2,70. No ano que vem, quando a empresa espanhola OHL começar a cobrar pedágio na Fernão Dias, que liga Belo Horizonte a São Paulo, cada 100 quilômetros rodados custarão R$ 1,42. Se o cidadão quiser viajar em direção ao passado, tomará a Dutra, pagando R$ 7,58 pelos mesmos 100 quilômetros. Caso vá para Santos, serão R$ 13,10. Não haverá no mundo disparidade semelhante.Se essa não foi a maior demonstração de competência do governo de Nosso Guia, certamente será lembrada como uma das maiores. Sua história mostra que o Estado brasileiro tem meios para defender a patuléia, desde que esteja interessado nisso. Mostra também que se deve tomar enorme cuidado com o discurso da modernidade de um bom pedaço do empresariado. Nele, não se vende gato por lebre. É gato por gato mesmo.
(…)

Voltei
Gaspari sabe, mas finge ignorar (prefere falar, como ele costuma dizer, à choldra que também ignora) que o modelo de privatização das estradas paulistas difere do modelo federal. Em São Paulo, elas tiveram de pagar luvas ao estado. As federais saíram de graça. No preço do pedágio está embutido esse pagamento inicial.

O que é um preço abusivo de pedágio? Trafeguei neste sábado pelas exemplares Bandeirantes, Anhanguera, Washington Luiz e SP-225, duplicada e talvez a estrada mais bem-sinalizada do Brasil. Mesmo num sábado pós-feriado, estavam cheias. É caro andar nessas rodovias? Eu, por exemplo, não acho: avalio o que elas me oferecem em segurança; levo em conta as obras de duplicação – ou o novo trecho da Bandeirantes; considero a infraestrutura que está à disposição dos usuários.

No ano que vem, informa Gaspari, cada 100 quilômetros da Fernão Dias custará R$ 1,42. É verdade. Para o usuário andar no buraco, interrompido, às vezes, pelo asfalto. Quem disse que o modelo de Dilma já deu certo? Há, quando muito, uma expectativa gerada pela propaganda e pelos marqueteiros de ocasião. O consórcio vencedor vai tocar as obras de que a rodovia precisa? Em que velocidade? Não me lembro de nada parecido. Demoniza-se um modelo que, efetivamente, deu certo e se exaltam as glórias de uma escolha cujos resultados podem demorar ainda uma década. Como de hábito nos tempos de Lula, setores da imprensa acabam sendo os maiores aliados da empulhação e da vigarice.

Isto mesmo: declarar que o modelo de concessão das federais é superior àquele das concessões das rodovias paulistas é empulhação eleitoreira e vigarice intelectual. E a razão é simples: ninguém conhece o modelo federal na prática. Ademais, ainda que o leilão de Dilma venha a se mostrar uma revolução, as circunstâncias das concessões hoje são muito diferentes daquelas do passado.

Ora, bastava a Lula declarar bem-sucedida a sua escolha – ainda que ele não saiba no que vai dar – e pronto. Não! Ele e seu partido resolveram se dedicar a seu esporte predileto: demonizar quem veio antes. E, como se vê, com a ajuda de uma parte da imprensa.

Retorno a 2013. Ou: Fiasco
Gaspari errou, e eu acertei. Não porque eu seja melhor do que ele no papel de Mãe Dinah ou porque seja mais inteligente. É que operei com a lógica, e ele com a torcida. Também não dei a esperança no futuro como fato consumado. O modelo maravilhoso de Dilma revelou-se uma fraude. No dia 14 de abril de 2010, escrevi um post intitulado O MODELO DILMA DE PRIVATIZAÇÃO DAS ESTRADAS VAI PARA O BREJO, O BURACO, O DESMORONAMENTO… RÉGIS BITTENCOURT CONTINUA A SER “A ESTRADA DA MORTE”. MATA, SIM, GENTE, MAS O PEDÁGIO PARA O CÉU É BARATINHO.

Sabem o que é mais impressionante? Em 2010, Aloizio Mercadante concorreu ao governo de São Paulo descendo o sarrafo nos pedágios. Amplos setores da imprensa compraram a sua pauta, ainda que o modelo Dilma não tivesse conseguido duplicar 100 metros de estrada. Os petistas ofereciam os seus buracos com pedágio baratinho como alternativa ao modelo que conseguiu ter 9 das 10 melhores estradas do país. Quem cruza a fronteira do estado indo ou voltando sabe quando está entrando ou saindo de São Paulo por causa das… estradas! Isso é apenas um fato.

Em agosto de 2012, cinco anos depois daquele milagre, o governo RELANÇOU o seu modelo de concessão de estadas. Escrevi então post com este título: O megapacote de Dilma. Ou: Gaspari e eu nas estradas esburacadas, porém baratinhas, da governanta!

Só prazer de pegar no pé? Amor pela picuinha? Não! É que estou com o saco cheio desse método petista de anunciar o grande sucesso do que ainda não aconteceu; de tratar o mero desejo e a mera conversa mole como era inaugural. É claro que não se faz isso sem a conivência de amplos setores da imprensa.

O modelo de 2013
Quase seis anos depois daquele milagre de 2005 e seis meses depois do “megapacote de infraestrutura”, Mantega anuncia novas medidas para tentar privatizar as estradas, já que o capital privado não apareceu. As medidas incluem:
– alteração no prazo das concessões: de 25 para 30 anos;

– ampliação no prazo de financiamento dos empréstimos de dinheiro público para as concessionárias: de 20 para 25 anos;
– o patrimônio líquido das emprestas que contraírem os empréstimos não mais precisará corresponder a, no mínimo, 1,3 vez o valor emprestado; basta 1;
– o governo baixou a previsão de elevação do tráfego de 5% ao ano para 4%. Por que isso é importante? Porque interfere no valor do pedágio.

Segundo o ministro Guido Mantega — aquele que prevê o crescimento da economia brasileira com margem de erro de 3,5 pontos para mais —, a taxa de retorno desses empreendimentos é excelente, da ordem 10% ao ano. É mesmo? E por que os interessados não aparecem? Será que os empresários brasileiros não gostam de ganhar dinheiro?

As reportagens que tratam da privatização das estradas ignoram a questão do pedágio, que é central nessa história. Serviu ao proselitismo vagabundo do PT nas eleições de 2010. Muito bem: o governo federal não cobra pela concessão, como fez o governo paulista durante um bom tempo (o modelo já sofreu alterações), e estimula as empresas a competir pelo pedágio mais barato. Como isso não atrai ninguém, cria facilidades para conceder empréstimo de dinheiro público e é menos rigoroso nas garantias e na exigência das obras de reparação e duplicação… Entendam: a variável do ajuste do suposto “pedágio socialmente justo” é a deficiência de infraestrutura. Nessa marcha, sabem quando uma rodovia federal vai se equiparar às melhores estaduais de São Paulo? Nunca!

É isso aí: entre a eficiência rigorosa e a ineficiência supostamente generosa, os petistas escolhem o segundo modelo. É por isso que a infraestrutura brasileira está na pindaíba em que está. 

Por Reinaldo Azevedo

 

Ainda levará algum tempo para que Petrobras metabolize herança maldita da dupla Gabrielli-Lula

Pelo visto, vai demorar um pouco até que a Petrobras consiga metabolizar a herança maldita deixada pela dupla José Sérgio Gabrielli-Luiz Inácio Apedeuta da Silva. Leiam o que informa Ramona Ordoñez, no Globo:
A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, reconheceu que a Petrobras vai ter um 2013 difícil. Segundo ela, além dos reajustes dos preços de combustíveis ainda não terem sido suficientes para recuperar as perdas com a defasagem internacional, a produção de petróleo terá queda neste ano. A estatal também não incluiu projetos novos entre os investimentos previstos. No mercado acionário, as ações despencavam. “Será um ano mais difícil que 2012, que já foi extremamente difícil. É um desafio muito grande. Não vamos abrir mão das necessárias manutenções das plataformas”, disse.

A presidente da estatal afirmou ainda que a empresa vai manter o mesmo patamar de produção em 2013, com a variação de 2% para cima e para baixo. “Se vocês me perguntarem, eu diria que é 2% negativo. Não tem condição de fazer produção adicional porque não tem condição física para isso. A produção só cresce no segundo semestre.”

A presidente da Petrobras disse ainda que os reajustes nos preços de gasolina e diesel ainda não foram suficientes para eliminar a diferença entre o mercado interno e externo em apresentação. Segundo Graça, o diesel registrou reajuste de 16% e a gasolina, de 14,9%. De acordo com a Petrobras, a diferença dos preços dos derivados no Brasil e no exterior é de 17%. “Os reajustes não foram suficientes para eliminar a diferença entre os preços. Esses repasses trarão melhoria no caixa, mas não o suficiente para recompor essa diferença.”

A área de abastecimento, com a alta de 102% das importações de gasolina e de 16% do diesel em 2012, registrou perdas de R$ 22,9 bilhões em 2012. Segundo a presidente da estatal, Graça lembrou ainda que a estatal perdeu R$ 7 bilhões em poços secos em 2012. Para 2013, a previsão é de R$ 6 bilhões. A executiva disse ainda que o pré-sal respondeu por 10,5% da produção da estatal em dezembro, com 231 mil barris por dia. Ao todo, a companhia produziu 2,032 milhões e barris por dia. No ano passado, o pré-sal respondeu por 7% do total.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

O secretário de Haddad que fala javanês. Ou: Divirtam-se com a história do repórter que tenta saber o que o entrevistado não sabe explicar: Ou: O Arco do Futuro terminou na calçada da padaria

O arquiteto Fernando de Mello Franco, secretário de Desenvolvimento Urbano da cidade de São Paulo, concede uma entrevista à Folha desta sexta. Há tempos, confesso, não me divertia tanto lendo jornal. Quando vi, reagi como o jacaré da piada que espera entrar na festa do céu e exclamei: “Obaaaa!!!”. Acho que, desta vez, eu entendo o que é o tal Arco do Futuro, o grande projeto com que Fernando Haddad seduziu a intelligentsia paulistana, em especial o jornalismo do eixo Alto de Pinheiros-Vila Madalena… Finalmente, Fernando Mello Franco iria explicar, pensei, alguma coisa, e eu poderia começar a formar uma opinião…

Mas quê… Mello Franco está querendo roubar no meu coração o lugar reservado a Marina Silva, que vence todos os concursos que faço para ver quem mais consegue falar sobre o nada com aparência de profundidade, despertando nos  interlocutores a suspeita de que, se não compreenderam, idiotas são eles. Não, não foi desta vez que eu entendi o que é o tal “Arco do Futuro”. O secretário também faz uma revelação realmente surpreendente: o tal Arco depende de grana do governo do Estado e do setor privado. A Prefeitura não tem. Seja lá o que for que Haddad tenha prometido, foi com o chapéu alheio.

Não deixem de ler na íntegra a entrevista feita por Mario Cesar Carvalho, que, na introdução, dá um bule de chá de presente a Mello Franco, afirmando que “O Arco é uma tentativa de reinventar São Paulo: visa levar empregos para a periferia e trazer moradores para o centro, entre outras metas.” Nada menos do que reinventar São Paulo. Isso certamente quer dizer — e não pode querer dizer outra coisa — que aquele troço que começou em 1554 não serve mais. Quatrocentos e cinquenta e nove anos depois, Haddad é o novo Padre Anchieta, e Mello Franco, o Manoel da Nóbrega. Quem cuida dos indiozinhos, tadinhos!, é o padre Júlio Lancelotti… Mas vamos lá. Estou ansioso para reproduzir as palavras do arquiteto, que é professor da USP.

O repórter também quer saber o que é o Arco. É natural! Até dá uma mãozinha para o professor e já embute parte da resposta na primeira pergunta. Não estava preparado, acho, para um embate de natureza, como direi?, ontológica. Leiam (perguntas sempre em vermelhito). Vou de azul.

Folha – O Arco do Futuro busca criar empregos na periferia e reocupar o centro. O que dá para fazer em quatro anos?
Fernando de Mello Franco
- O Arco está iniciado a partir do momento em que a gente o revela. O primeiro passo é toda a revisão da parte regulatória. Isso será feito no primeiro ano.

Se você, em algum momento, nestes 39 dias, sentiu algum arrepio a lhe percorrer a espinha, não tendo sido algo mais prazeroso, leitor, era o começo do Arco, que se manifestava como coisa em si. O que o arquiteto quis dizer é que definir o que é o Arco corresponde a diminuí-lo, entende? Preencher o Arco com conteúdo, com obras, com coisas, amesquinha a sua essência.

Nessas horas, o repórter fica aflito, qualquer um: “Caramba! Não tenho nem título nem lead por enquanto. Vou tentar de novo”. E Carvalho tenta. Vejam que divertido:
Que tipo de mudança?
A revisão do plano diretor, com novo zoneamento e código de obras. O Arco não é um conjunto de obras, é uma visão estratégica de como a gente pode usar o território. Ao identificar um território estratégico, o plano busca ver não como a gente transforma a cidade com viadutos e avenidas, mas como renovar as formas de uso desse espaço. Por isso o plano é tão abrangente. No entanto, ele será pontuado por projetos estratégicos que possam ser equacionados em uma gestão.

Não estava lá nem pretendo ser um narrador onisciente. Mas, cá na minha narrativa, brinco de captar o fluxo de consciência do repórter, que já vislumbra o desastre: “Isso não vai acabar bem. Vou escrever o quê? Já sei: ‘Secretário diz que Arco do Futuro é uma visão estratégica’. Não funciona! Que tal ‘Para secretário, Arco não são obras’? Mas então é o quê, pô?  E isto: ‘Secretário diz que Arco renova formas do uso de espaço’? Fica parecendo tese do Departamento de Geografia da USP.” Mesmo um repórter entusiasmado com o Arco (especialmente quando souber o que é) fica um tanto impaciente. Carvalho emitiu quatro sílabas:

Que projetos?
Há um programa de requalificação da área central que tem a habitação como uma perna estruturante. É um convênio entre a prefeitura e o governo do Estado e vai colocar de 12 mil a 28 mil unidades de habitação de interesse social na área central.

Ah, mas essa não é aquela proposta que já estava e está em curso, uma parceria iniciada pela gestão anterior com o governo do Estado? É, sim! O Arco do Futuro tem ao menos esta coisa positiva, concreta mesmo: um programa do… passado! Na entrevista, ele deixa claro que espera que o governo do estado dê a grana. A Prefeitura não tem. Haddad só promete a mágica. Depois será preciso usar a varinha de alguém. Carvalho, ainda sem título, ainda sem lead, ainda sem saber, como qualquer pessoa, que diabos vem a ser o tal Arco do Futuro, tem sede de detalhe. Tenta de novo:

Que tipo de intervenção urbana será feita na periferia?
Não é para colocar uma escola aqui, uma creche ali e um campo de futebol acolá. Queremos organizar os equipamentos existentes em redes e concentrá-los de forma que eles passem a ser elementos de estruturação dos bairros. Na nova versão que está sendo pensada dos CEUs [Centros Educacionais Unificados], ele surge da articulação das estruturas preexistentes. Estamos estudando 18 núcleos que partem de estruturas esportivas para serem transformados em CEUs.

Quando você pergunta a alguém o que pretende fazer, e ele começa a responder o que pretende não fazer, é batata: ele não sabe é o que fazer. Se as palavras têm sentido, ele está dizendo que não haverá obras novas e que as velhas vão passar por uma “releitura”. Parece que saímos da ontologia para o campo da semitótica. A coisa tá feia. “Cadê o título”, pergunta-se o repórter nesta minha narrativa. A gente vê que Carvalho tem certa ânsia não de monumentalidades, de projetos faraônicos… Certamente não! Mas alguma coisa relevante, qualquer uma… Como não rendeu nada até agora, vai para a micropolítica, a nanopolítica.

A prefeitura vai passar a cuidar das calçadas?
A gente tem de mudar o cotidiano mais banal das pessoas, fazer essa cidade ficar aprazível. Tem de requalificar as calçadas. O caminho até a padaria é fundamental. Há estudos, sim, sobre o enterramento da fiação. Isso é fundamental para se fazer uma arborização significativa, porque os fios impedem as árvores de crescer.

“O caminho até a padaria é fundamental.” Como disse o poeta, “Nunca me esquecerei desse acontecimento/ na vida de minhas retinas tão fatigadas”.No caminho da padaria tinha uma calçada. Tinha uma calçada no caminho da padaria… Atenção, leitor! Lá no começo, Mario Cesar Carvalho anunciou que o Arco do Futuro quer reinventar 459 anos da história. E eis que estão falando de enterrar fios e do caminho até a padaria…

Há outras perguntas que não reproduzi, vejam lá. Se entenderem o que é o tal Arco, vocês me contam — ou comecem a cobrar pela informação. Caminhando para o fim, Carvalho consegue, finalmente, o lead e o título, quase arrancados a fórceps:
Em frente ao seu escritório há uma pichação que diz: “O urbanista de São Paulo é o capital”. Dá para mudar isso?
O investimento da prefeitura é baixíssimo. É evidente que a gente vai depender de um pacto com as forças do capital. A questão é como operar projetos de investimento de forma que o poder público possa se apropriar de parte do ganho gerado.

Hein? Ganho gerado exatamente com quê? E, sim,  folgo em saber que, para tirar o plano do papel, seja ele qual for, é preciso contar com as “forças do capital”. A expressão parece indicar algo, assim, mais denso do que a inciativa privada. Bem, Carvalho conseguiu o título ao menos, e isso é o que importa: “Arco dependerá de parcerias, diz secretário”. A sede de dados do jornalista ainda não estava plenamente aplacada. Encerra com uma pergunta direta:
Dá para se ter uma ideia de quanto o Arco custará?
A questão não é de onde vem o investimento, mas como a gente captura o ganho gerado por ele. Em títulos negociados na Bolsa, as parcerias podem gerar mais de R$ 5 bilhões.

Como? A questão não é “de onde vem” um investimento que ainda não existe, cuja fonte é desconhecida porque as parcerias para o que quer que seja essa estrovenga nem existem? Encerro com um concurso, aberto a todos os leitores, inclusive aos petralhas, que podem acionar seus especialistas. Se alguém explicar o sentido desta frase — “Em títulos negociados na Bolsa, as parcerias podem gerar mais de R$ 5 bilhões” —, merecerá o pódio reservado aos gênios da raça.

Não! Mais um dia termina, e outro começa sem que a gente saiba o que é esse tal “Arco do Futuro”. Seja o que for, depende de dinheiro do governo do estado e das “forças do capital”. Embora eu não faça parte dessas forças, mas sendo um fanático da iniciativa privada, fico mais tranquilo em saber que “em títulos negociados na Bolsa, as parecerias podem gerar mais de R$ 5 bilhões”.

Não me lembro se Mello Franco estava naquela reunião que Lula fez com Haddad e com secretários para dar algumas ordens. Está na hora de o Apedeuta baixar na Prefeitura de novo. A primeira medida é proibir que os secretários do Supercoxinha falem javanês.

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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