A selvageria contra Yoani e o método dos brucutus relatados por quem estava lá.

Publicado em 23/02/2013 06:17 e atualizado em 16/05/2013 16:55
POR REINALDO AZEVEDO,. DE VEJA.COM.BR

A selvageria contra Yoani e o método dos brucutus relatados por quem estava lá. Ou: “Eu sou fã do Stálin sim! Stálin matou um monte de alemão!”

Flávio Morgenstern é articulista do site Implicante e tradutor. Ele me envia, acompanhado de fotos e vídeo, um relato da baixaria que aquelas derivações teratológicas dos chimpanzés promoveram contra Yoani Sánchez nesta quinta-feira, na livraria Cultura. Leiam o seu relato.  Ah, sim: já vimos nos jornais e sites muitos cartazes contra Yoani. Os deste post são favoráveis à democracia.

*
Encontrei um pessoal da USP (daquelas pessoas que tomam banho e leem livros) e chegamos com uma hora e meia de antecedência e não havia muitas pessoas por ali. Pegamos nossas pulseiras e, enquanto conversávamos, uma moça se aproximou de nós e perguntou: “Vocês são do Solidariedade?”. Ignorante que sou, perguntei: “O Solidariedade da Polônia?”. Poxa, sou muito burro pra presumir que a cidadã falava do Solidariedade polonês, o movimento que acabou com o comunismo… Essa minha mania de achar que pessoas “politizadas” sabem quem é Leszek Kolakowski ou pelo menos o Lech Walesa… Ela virou as costas sem nem dar tchau.

Fui comprar o livro da Yoani (um imenso pecado! comprar livros! lê-los antes de criticar a blogueira que nenhum deles tentou ler antes de criticar! ter idéias e informações, essa coisa subversiva!), e quando voltei para a entrada da livraria, onde tudo acontecia, o caos já reinava.

Pegamos nossos cartazes e fomos também dar nossa voz.

O que ouvi foram pessoas gritando pela “liberdade” de Cuba. Estranho. Liberdade para quem? Para o Fidel? Para o Raúl? Não ouvi uma palavra sobre liberdade de voto para o povo cubano. Sobre liberdade de expressão. Sobre liberdade de um cubano usar um Facebook ou Twitter (esse regime deve ser tão frágil que tem medo até do Twitter, aquele negócio que serve pra todo mundo ficar comentando o Big Brother Brasil…). Sobre liberdade para… Yoani Sánchez.

Se é liberdade que querem, é liberdade para agredir o outro. Para impedir que alguém que não quer que a totalidade do poder político esteja concentrada unicamente nas mãos deles se manifeste.

Por isso levaram apitos e tambores. Cada vez que alguém pronunciava algo, tentava dar uma entrevista para um repórter ou simplesmente dizer: “Ei, peraí…”, era obtemperado com ruídos primitivos. Schopenhauer certamente tinha razão em determinar que pode averiguar o grau civilizatório de uma pessoa na razão inversa de sua tolerância a ruídos…

Não era só a expressão que tentavam vetar. Também se concentraram com força exatamente na entrada do Cine Livraria Cultura, onde aconteceria a palestra com Yoani, e impediam as pessoas de entrar, ou mesmo de passar pelo centro do corredor. Ora, é essa a “liberdade” que defendem? A liberdade de impedir pessoas de andarem por onde eles determinaram que não querem que elas andem?

Todavia, essa turma está acostumada ao fascismo de massas, em que andam em bando e nem a polícia pode fazer nada contra suas agressões, mas não com pessoas civilizadas, banhadas, vacinadas e usando desodorante, reclamando seus direitos óbvios de poderem existir, andar e falar sem serem impedidas. Gritávamos: “Ô Yoani, pode falar! Aqui não tem Fidel pra te calar!” – mas erramos um pouco. Fidel não estava. O PT, o PCdoB e o PCB estavam.

Aliás, por que essa turminha reclama de Yoani receber salário do El País e prêmios internacionais por criar o blog mais influente da raça humana se eles são financiados por fundos partidários milionários tomados à força do nosso bolso, sem que perguntem se apoiamos ditaduras e ditadores ou não?

O método deles é sempre o da “agressão mínima” – agridem sem partir pra porrada desabrida. Esperam que alguém revide. Eu discuti com um fascistóide que tentava me impedir de andar na frente da entrada. Enquanto isso, disfarçadamente, um menininho pequeno pisava no meu pé a intervalos regulares. Obviamente que a uma pisadinha minha de volta (que, admito, pelo tamanho do menino, deve tê-lo deixado mancado por meia hora), a pancadaria começou, vários chutes foram dados no ar, o empurra-empurra quase virou violência generalizada, até que a velha-guarda, acostumada a protestar só contra velhinhas da “burguesia”, apaziguou ânimos.

Tentei me aproximar mais uma vez. Um cidadão me barrou com o corpo e disse: “Sai daqui, pra cá você não vai vir”. Saquei o celular e comecei a filmá-lo. Lembrei-lhe: “Eu vou para onde eu quiser, por que eu vivo numa democracia, Fidel não vai me censurar aqui não!”. A resposta dele foi, disfarçadamente, dar uma cabeçada (que encostou no celular, mas não em mim, embora foi o momento da minha vida em que mais corri o risco de pegar piolho). Claro, esperava outra resposta. E agride no canto, escondido. Felizmente, filmei tudo.

O curioso é que as poucas pessoas que entraram para ver a palestra sofreram uma revista séria dos seguranças. “Cadê o cartaz? Levanta a camisa! Vira de costas!” Todavia, ao entrar no auditório, toda a turminha da UJS (braço de porrada do PCdoB estava lá, gritando, cheios de cartazes. Meu amigo Thomaz Martins reclamou com o segurança. Aí o discurso mudou: “Ah, a gente não pode fazer nada, você sabe…” Até a PM por lá apenas observava, mas não se mexeu muito nem nos momentos mais tensos.

Enfim, vi apenas fascistas que tentam proibir que o outro fale. Até um aprendiz de genocida com camiseta do Stálin. Outro partiu para cima de um amigo meu gritando: “Eu sou fã do Stálin sim! Stalin matou um monte de alemão!” (sic) Por mais que se odeie Hitler, parece estranho admirar alguém apenas pelas mortes causadas. Ou alguém aí é fã do Churchill por ele ter “matando um monte de alemão”?

Qual o argumento deles para isso? Bem, apitar, gritar e entoar coros como “Quem não pula é fascista!”, seguido de pulinhos. Reinaldo, o sr. está pulando? Pois, se não estiver, serei obrigado a desconfiar que o sr. é um fascista…

Num ponto hei de concordar com os moçoilos. Também gritavam: “A América Latina será toda socialista!”. É, de fato, um perigo. Vide o que diz o mocinho abaixo (para quem é da turma “Sou petista, mas…” e jura que a ditadura cubana não tem nada a ver com o modo de comprar poder político do mensalão petista, suas palavras falam pelo Partido):

Outro ponto em que sou obrigado a concordar com eles é sobre o embargo. Ora, há muitas razões para ele (inclusive a máfia cubana em Miami, que assassina dissidentes a rodo, e nunca vemos essas notícias por aqui quando lemos sobre Cuba). Mas livre comércio é paz. Bacana que algum dia acabem com o embargo. Poderiam instalar um sinal wi-fi gigantesco sobre Cuba, e sobrevoá-la jogando iPhones dos aviões. Quero ver quanto tempo dura essa ditadura.

Agora, por que são contra o embargo (mesmo que o país com o qual Cuba mais comercie hoje seja, justamente, a América! Basta acabar com o nome do negócio, mas essas pessoas também só entendem palavras, não o conceito real que designam)? Por que não são favoráveis logo ao comércio pacífico? Cuba é uma porcaria por causa do embargo? Taí a prova de que o comércio enriquece ao invés de explorar!

Reinaldo, o sr. está pulando? Ainda estou de olho…

Por Reinaldo Azevedo

 

UM VÍDEO IMPRESSIONANTE – O fortão, preparado para a briga, com um dos punhos protegido, avisa? “Delúbio! Sou mensaleiro!” Gilberto Carvalho bem que avisou!

Vejam isto. Volto em seguida.

Voltei

Não se viam tipos assim na ação política há muitos anos. Este rapaz estava lá, exibindo seus músculos e batendo no peito para exibir sua valentia, para impedir a fala de uma única mulher. O que ela estava pregando? Golpe de estado? A morte de Fidel? A prisão de Raúl Castro? Não! Só um pouquinho de democracia na ilha.

E tome bumbo, apito, gritaria! Estavam cumprindo a determinação da embaixada cubana e o que fora combinado na presença de um assessor de Gilberto Carvalho.

É para onde caminhamos: quem concorda com eles pode falar; quem não concorda será espancado.

Não são originais.
Mussolini fez isso antes deles.
Hitler fez isso antes deles.
Stálin fez isso antes deles.
Mao Tse-Tung fez isso antes deles.

Por Reinaldo Azevedo

 

Encontro cancelado e uma nota pífia, que esconde a violência

Um leitor deste blog recebeu o seguinte e-mail da Editora Contexto, que publica o livro “De Cuba, com Carinho”, de Yoani Sánchez, e cuida de sua agenda no Brasil.

Em função da proporção que tomou a passagem da blogueira cubana Yoani Sánchez no Brasil, a Saraiva optou por cancelar o evento programado na sua loja do Shopping Pátio Higienópolis no dia 23/02/2013, às 16h, para garantir a segurança de seus convidados e clientes.

Voltei
Intencionalmente ou não, o texto é incompatível com a gravidade do fato e indigno da história que está sendo vivida. “Em função da proporção”??? O que isso quer dizer? Cadê as palavras “agressão”, “violência”, “intimidação” ou qualquer um dos seus sinônimos?

“Proporção”???

Esse texto serviria caso a presença da blogueira cubana tivesse atraído milhares de pessoas que fossem lá para aplaudi-la. E olhem que o encontro na Saraiva seria com Eduardo Suplicy e Gilberto Dimenstein.

O jornalista, aliás, em sua coluna, escreve o que segue sobre os brucutus:
“Esses grupos mostram um culto à repressão de ideias — e, na prática, acabam involuntariamente dando razão a quem critica Cuba pela falta de liberdade.”

Pode não parecer à primeira vista, mas é um juízo torto. Não é preciso que essa canalha saia por aí, ameaçando espancar as pessoas, para que aqueles que criticam Cuba pela falta de liberdade tenham razão. Eles a teriam ainda que os vagabundos estivessem debaixo da cama.

Por Reinaldo Azevedo

 

Uma simples blogueira cubana, os fascistas, as oposições e o risco da irrelevância. Ou: 2014 agora??? Viva a Batalha de Itararé!

Há dois dias, talvez um tanto amuada pela chatice do noticiário de Brasília, a imprensa brasileira decidiu antecipar para 2012 a disputa de 2014, fazendo, querendo ou não, o jogo do PT, em especial de Lula. Os petistas decidiram escolher “o” adversário com dois anos de antecedência — o PSDB — e o candidato desse adversário; no caso, Aécio Neves (nem ele próprio se atribui ainda tal condição, que eu saiba). Trata-se de uma tentativa de criar desde já aquele que se lhes afigura o melhor cenário. O pior é outro, que contasse com as candidaturas de Dilma, Eduardo Campos, Marina, Aécio e, como o mundo é dinâmico, J. Pinto Fernandes, “o que não havia entrado na história”, como no poema de Drummond. Quem é ele? Sei lá eu! Pode acontecer, não pode? Lula e Dilma querem o Fla x Flu,  a melhor garantia para que tudo fique como está. Quanto mais candidatos, maiores as chances de um segundo turno e, por óbvio, maiores os riscos. O jornalismo fez aborrecidamente o esperado: relatou a Batalha de Itararé.

O repertório do lulo-petismo não parece esgotado, no sentido de não ter novidades, só na economia — se ainda funciona eleitoralmente, esse é o outro departamento. Também se esgotou o repertório político. A carta que os petistas têm na manga é a mesma de 2002, de 2006 e 2010: demonizar FHC. O livreto lançado pelo partido traz de novo aquela cascata do “nós” contra “eles”. O “nós” deles sempre faz tudo certo; o “eles”, tudo errado. Os tucanos reagiram com mais adjetivos e exclamações do que com números — A INCAPACIDADE DESSE PARTIDO DE PRODUZIR DADOS OBJETIVOS E DIVULGÁ-LOS É UM ESPANTO!

“E a blogueira cubana, Reinaldo?”

Pois é… Há dez anos, tenho perguntado às oposições — e não só eu!: “Onde estão os valores?”. Há dez anos tenho escrito, e não só eu, que não se enfrentam eleições só com administrativismo. Uma gestão desastrada certamente cria embaraços a quem disputa, mas uma gestão virtuosa pode ser derrotada nas urnas se não produz o que há anos chamo de uma “narrativa” — ou, como diria Padre Vieira, uma “história do futuro”. E, claro!, é preciso ter a devida história do passado.

Sim, o PSDB deveria ter respondido aos ataques feitos pelo PT, é evidente — com mais ênfase nos dados objetivos, reitero. Mas, enquanto se ficava fazendo a disputa sobre o passado, o presente estava vivo e ardendo. Uma simples blogueira cubana, que está longe de ser um furacão político, até bastante cordata e lhana, estava sendo xingada, ameaçada, intimidada… Fascistoides organizados pela embaixada cubana, com o beneplácito da Secretaria-Geral da Presidência da República, elevavam a intolerância a níveis inéditos depois da redemocratização.

As oposições convidaram Yoani para ir ao Congresso, é verdade. Mas só! Imediatamente após a sua chegada ao Brasil, sendo alvo de ataques já no aeroporto de Recife, uma comissão de parlamentares deveria ter sido criada para acompanhá-la. Isso teria excitado ainda mais a fúria de seus algozes morais? É possível! Mas as oposições estariam explicitando o seu repúdio à violência, à brutalidade, à agressão aos fundamentos básicos do regime democrático.

Essa era a batalha desses dois ou três dias, não aquela disputa sobre o passado. Reitero: era importante, sim, responder, mas sem cair no truque armado pelo petismo. “Olhem o Reinaldo… O povão nem sabe quem é essa tal Yoani…” É verdade! E também não tem a menor ideia do que sejam Taxa Selic, taxa de investimentos, Lei de Responsabilidade Fiscal etc. Entende, sim, aquela conversa mole de Dilma sobre o fim da miséria, outra armadilha meramente retórica da qual as oposições até agora não souberam sair. A linguagem com que respondem às agressões do petismo é, literalmente, incompreensível para as massas.

Há uma dificuldade enorme de falar diretamente com as pessoas e com os eleitores, sejam maiorias ou minorias. Em vez de ficar batendo boca com os petistas de gabinete e palanque, os oposicionistas deveriam é estar batendo boca, sim, com os fascistas nas ruas. Não para arrebanhar e arrebatar multidões, que isso não aconteceria. Mas para deixar claro que há no país forças organizadas que repudiam aquele comportamento miserável.

Não, meus caros! Eu não estou sugerindo ou inferindo que isso conquistaria votos. Eu nem mesmo pensei nisso. O ponto é outro: estou constatando que uma oposição, para existir, TEM DE EXISTIR POLITICAMENTE. Vai esperar para fazer isso só em 2014? Aqui e ali, ouço intervenções mais ou menos assim: “Nós não vamos nos comportar como eles porque somos diferentes dele…”. Ok, o fundamento está correto. “Não se comportar como eles”, no entanto, não pode significar deixar de enfrentá-los.

Temos uma oposição que parece destituída de um centro nervoso. Ora, é preciso que se tenha um núcleo de valores capaz de reagir quando agredido: “Não! Isso é inaceitável”. Parece-me que os ataques a Yoani passaram do limite do aceitável, não é?, em qualquer regime democrático — e isso inclui o nosso. Se o governismo nada faz porque, de modo objetivo, integra as forças do linchamento, quem há de fazê-lo? O senador Eduardo Suplicy, que vive cobrando, na prática, que Yoani prove não ser agente da CIA?

Caramba! Há, se não me engano, 80 deputados da oposição. No Senado, salvo engano, há 17 — um deles é do PSOL e não sairia em defesa de Yoani. Agem segundo a sua própria cabeça ao menos três da base governista. Assim, há um grupo aí de 99 políticos que, no papel ao menos, se opõem a governo. Essa gente, com uma exceção ou outra, não se deu conta da gravidade do caso. Nem mesmo era necessário aplaudir Yoani. Bastaria evidenciar que os fascistas não queriam deixá-la falar. Os parlamentares de oposição deveriam estar lá, entre outras coisas, para cobrar a presença ativa da Polícia Federal, especialmente depois que ficamos sabendo que agentes cubanos estão no seu encalço aqui no Brasil.

Nada! Estavam todos cumprindo a agenda estabelecida por Lula: “Olhem aqui: nós vamos atacar o FHC e vocês tratem de defender. Queremos disputar 2014 com essa plataforma de novo. E nós os escolhemos como ‘os’ adversários”. Não, não! Assim, só a irrelevância os espreita.

“Ah, esse papo de Yoani já encheu!”  Errado! Esse “papo de Yoani” é uma amostra do que acontece quando uma força política se hipertrofia no regime democrático sem, no entanto, acatar os valores da democracia.

Por Reinaldo Azevedo

 

Silêncios vergonhosos.

Vocês leram o que disse a direção da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) sobre os atos covardes perpetrados contra a blogueira Yoani Sánchez? Não? Compreendo. É que a ABI não disse nada. Na última vez em que a entidade frequentou o noticiário, tinha cedido seu auditório no Rio para José Dirceu comandar um ato com o Poder Judiciário Brasileiro. Estava presente, desrespeitando a lei, o embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arveláiz.

Vocês leram o que disse a direção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sobre as ações ilegais que constrangeram a cubana no Brasil? Viram o que afirmou o Conselho Federal sobre o fato de uma embaixada organizar atos de caráter político e confessar que espiões de um país estrangeiro transitam livremente pelo país? Não? Compreendo. É que a OAB não disse nada. Na última vez em que frequentou o noticiário, o comando da entidade enunciou que estava disposto a verificar se a delação premiada é mesmo inconstitucional, como pretendem dois doutores que trabalham para mensaleiros: o notório Kakay (Antonio Carlos de Almeida Castro) e José Luiz de Oliveira Lima (o querido “Juca” de alguns jornalistas), que tem como cliente José Dirceu, aquele que comandou um ato contra o Judiciário em pleno território da ABI.

Essas duas ausências dão conta do estado miserável do que já se chamou “sociedade civil” no Brasil. As duas omissões são igualmente graves porque os ataques à blogueira remetem mesmo à razão de ser de cada uma delas. A principal tarefa da ABI é zelar pela liberdade de expressão e pela preservação dos valores éticos da profissão de jornalista. A filóloga Yoani Sanchez é também jornalista. A palavra é a sua matéria-prima. Em Cuba, luta por um regime de liberdades democráticas, por pluralismo politico, por respeito aos direitos humanos. Esses valores constituem a essência da história da associação. A única ABI que expressou seu repúdio às agressões foi a Associação Baiana de Imprensa. A Federação Nacional dos Jornalistas, conforme o esperado, também se calou. Nem poderia ser diferente. A Fenaj tentou criar no país o Conselho Federal de Jornalismo, que colocaria  o trabalho da imprensa sob censura, a exemplo do que ocorre em Cuba, que essa gente ama tanto.

O que dizer, então, da OAB? É a entidade que, em tese, vigia, em nome da sociedade, a, por assim dizer, saúde jurídica do país. Não tem função meramente cartorial. Ao contrário: a Ordem sempre foi um organismo político, buscando zelar, como expressão da sociedade civil, pela qualidade do estado democrático e de direito. Os constrangimentos a que s arruaceiros — PAREM, SENHORES DA IMPRENSA, DE CHAMAR PESSOAS QUE PROMOVEM AQUELA BAIXARIA DE “MANIFESTANTES”! — submeteram Yoani até agora desrespeitam a ordem legal, violam-na. Como é que a OAB ousa — a palavra essa! — ficar muda?

Eis mais um sintoma de uma sociedade em que um campo ideológico está hipertrofiado (tenha ele o nome que se queira dar: esquerda, vigarice, oportunismo —, em prejuízo de outro, que está acuado. Que “outro” é esse? O dos defensores da democracia representativa, da ordem legal e democrática, do estado de direito. OAB e ABI já se manifestaram sobre casos com muito menos gravidade do que esse.

Não se trata de superestimar o caso Yoani. A rigor, nem cumpre falar em assegurar a “pluralidade” porque mal se ouviu o que ela tinha a dizer. A questão é ainda anterior: trata-se de assegurar o direito à voz. Se esses vândalos fazem isso agora com uma visitante de um país estrangeiro, não tarda, e estarão fazendo também com os nacionais. 

Por Reinaldo Azevedo

 

Gilberto Carvalho prometeu: “Em 2013, o bicho vai pegar!” Hoje, eles só nos xingam; Amanhã, começarão a nos espancar. E certo jornalismo dirá: “Normal! Lado e outro lado! O lado que bate e o lado que apanha. É a democracia!”

Está em curso uma evidente degradação da democracia brasileira — e, com ele, estão em pleno naufrágio setores importantes da imprensa. É espantosa a quantidade de barbaridades que se leem, veem e ouvem quando cotejadas com os fundamentos de uma sociedade democrática. Desde que me interesso por isso — comecei a ler jornais aos 14 anos —, não me lembro de nada parecido. Já vou tratar da questão de fundo. Vamos ao fato que me empurrou para ele. Ontem, no fim da tarde e começo da noite, a blogueira cubana Yoani Sánchez  deveria ter feito um bate-papo com blogueiros na Livraria Cultura da Paulista, em São Paulo, mediado pela jornalista Barbara Gancia, e depois autografar exemplares do livro “De Cuba, com carinho”. Mais uma vez, o evento se frustrou.

Lá estavam os militantes do PC do B, do PT e afins para impedi-la de falar. O evento teve de ser cancelado pela simples e óbvia razão de que os brucutus não a deixavam falar. Um dos idiotas que babavam levantou um cartaz: “Cuba, único país com vacina contra o câncer”. Deve ser aquela que foi ministrada a Hugo Chávez… É com esse tipo de imbecis que estamos lidando. A embaixada de Cuba em Brasília deve estar satisfeita. O funcionário de Gilberto Carvalho deve estar satisfeito. O próprio Gilberto Carvalho deve estar satisfeitíssimo. Desta vez, o PT não devolveu a Fidel Castro, como fez em 2007, dois dissidentes cubanos. Desta feita, uma crítica do regime cubano foi agredida aqui mesmo. É claro que as pessoas responsáveis pela passagem de Yoani pelo Brasil merecem o troféu “Incompetentes do Ano” — e talvez seja coisa ainda pior do que incompetência; já chego lá. Quero me ater agora à imprensa.

Ando com a impressão de que, com as exceções de sempre, desapareceu dos jornais, sites, revistas etc. a figura do editor. O que faz um editor — sem que isso deixe de ser, também, tarefa do repórter? Zela pela qualidade da informação, pelo rigor da apuração jornalística e, é evidente!, pela linha editorial do veículo no qual trabalha. “Que linha editorial é essa?” Cada um tem — e deve ter — a sua. No geral, os veículos da grande imprensa, incluindo as TVs, estão comprometidos, ao menos dos seus princípios declarados, com o regime democrático, a pluralidade, a economia de mercado, os direitos individuais, essas coisas. Mas podem ser, e são, infiltrados. Quantas vezes, na minha vida de editor, recusei reportagens que estavam nitidamente pautadas por lobbies ideológicos! Na maioria das vezes, não se tratava de má-fé do repórter. É que as esquerdas são muito hábeis em mobilizar jornalistas. Por quê? Porque sabem mexer com seu senso de “justiça social”. Cabia ao editor corrigir rumos. Hoje… Parece que vivemos o tempo do “escreveu, publicou”, pouco importa o quê. A principal degradação é de valores.

Voltemos a Yoani. Cansei de ver nas TVs e de ler em jornais e sites que as manifestações têm dois lados: os que são contra a blogueira e os que são a favor dela, mais ou menos como forças legítimas e iguais, porém de sinal trocado, que se expressam democraticamente. Alto lá! As coisas não são assim! Eis a degradação de valores. Eis a degradação da democracia. Apoiar alguém que tem o direito de falar e impedir o exercício desse direito não são posturas análogas  opostas.

Não é legítimo nem legal impedir que o outro fale. Ao contrário: trata-se de um constrangimento previsto no Código Penal e de uma afronta ao Artigo V da Constituição brasileira. Tolerar que arruaceiros, que baderneiros, que brucutus, que vigaristas impeçam o exercício de um direito é ser conivente com um crime. Uma coisa é eventualmente discordar de Yoani; outra, distinta, é impedi-la de falar. Eu os convido a ler com atenção algumas notícias. Eu os convido a ficar atentos a certas abordagens dos noticiários de TV.

Não estamos diante de uma partida de futebol, em que é legítimo que os dois lados disputem a bola. Mesmo assim, só existe jogo porque há regras — ou os contendores sairiam na porrada, não é? E há juiz para aplicá-las. E todos reconhecem a sua autoridade. Nesse caso, um dos lados não tem legitimidade nenhuma porque seu objetivo é impedir a partida.

Desordem
Quem quer que tenha cuidado da agenda de Yoani no Brasil — e espero que ela tenha mais sorte nos demais países; certamente terá — cometeu uma série de erros e mesmo de desatinos, especialmente depois que VEJA noticiou, já desde a manhã de sábado, que uma súcia, com apoio objetivo de um auxiliar de Gilberto Carvalho, estava organizando a baderna.


A blogueira cubana jamais deveria ter sido exposta à agressão desse bando. Os mecanismos que fazem do Brasil uma democracia de direito deveriam ter sido acionados para assegurar a ela o direito de falar. Afinal, era evidente que vagabundos que defendem corruptos, ladrões, peculatários e quadrilheiros se organizassem para constranger pessoas de bem. Em parte, isso se explica porque houve um esforço para despolitizar a figura da blogueira cubana, tentando fazer dela alguém também palatável às esquerdas — daí o fato de o senador Eduardo Suplicy aparecer como um cicerone. Acontece que os nossos “cubaneiros”, bucaneiros da ideologia, não têm certas sutilezas.  

A vacina contra o câncer — este realmente sem cura — da intolerância é a imposição da lei.

Como disse o professor Marco Antonio Villa num e-mail que me enviou, Gilberto Carvalho está cumprindo uma promessa. E o ministro prometeu: “Em 2013, o bicho vai pegar”.  Hoje, eles apenas nos xingam. Amanhã, começam a nos espancar. E é bem capaz de certo jornalismo noticiar tudo na base do “lado” e “outro lado”, o lado que bate e o lado que apanha… Tudo coisa da democracia…

Por Reinaldo Azevedo

 

Yoani critica silêncio do governo brasileiro sobre agressão a direitos humanos em Cuba. Finalmente, ela consegue falar sem ser atacada por vagabundos

Por Branca Nunes, na VEJA.com:
A blogueira Yoani Sánchez criticou o silêncio do governo brasileiro com relação à questão dos direitos humanos em Cuba. “Há muito silêncio”, disse a cubana. “Recomendaria uma posição mais enérgica”. A declaração foi feita na manhã desta quinta-feira, quatro dias depois de Yoani desembarcar no país, durante um debate realizado na sede do jornal O Estado de S. Paulo. Com a voz levemente rouca e uma pulseira do Senhor do Bonfim no braço direito, esta foi a primeira vez que a blogueira crítica ao regime ditatorial dos irmãos Castro conseguiu expor suas opiniões sem ouvir gritos de protestos nem sofrer agressões verbais.

“Não me surpreenderam”, disse, ao comentar os protestos. “Os blogs oficiais do meu país já haviam avisado que eu teria uma ‘resposta contundente’ durante a viagem. Todos têm direito de manifestar sua opinião. O que me surpreendeu foi a violência física. Nunca imaginei que me impediriam de falar”.

A blogueira aproveitou o evento para responder parte das críticas que os defensores dos irmãos Castro fazem a ela. Ao ser questionada sobre quem está financiando sua viagem – Yoani percorrerá mais de dez países em 80 dias –, a cubana respondeu que o dinheiro vem de diversas instituições, como a Anistia Internacional, universidades e blogueiros. “Não tenho milhões de dólares, mas tenho milhões de amigos”. Um dos objetivos de Yoani é receber os prêmios (que somam mais de mais de 300 000 reais) que recebeu ao longo dos últimos anos pelo trabalho em Generación Y.

Yoani aproveitou para salientar que as pessoas que a ajudam com o blog (traduzido para 18 idiomas) são voluntários espalhados pelo mundo. “Quem traduz meus textos para o inglês, por exemplo, é uma motorista de ônibus de Nova York de 65 anos”, conta. “Mas o governo não acredita mais na espontaneidade. Quando eles querem algo, ordenam, pagam”.

Nesta quinta-feira, às 18h, Yoani participará de um evento com blogueiros na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, e, em seguida, autografará o livro De Cuba, com carinho. A blogueira permanece na capital paulista até sábado, quando embarcará para a Republica Checa.

Veja abaixo alguns dos temas comentados por Yoani Sánchez no debate desta quinta-feira:

Internet
A internet é para os cubanos uma plataforma de liberdade. Um campo de treinamento para o que algum dia pode se tornar realidade. Ela possibilita que mais pessoas possam se tornar o epicentro da informação. É um espaço democrático, com pessoas boas e más.

Fidel e Raúl Castro
O governo de Raúl nasceu de um pecado original: ele não foi eleito. As reformas econômicas que tem feito estão na direção correta, mas num ritmo absurdamente lento e sem profundidade. O governo de Fidel Castro, por sua vez, queria controlar cada aspecto da vida dos cubanos, desde o que vestíamos ao café que tomávamos. Sobre a repressão, Fidel fazia dela um espetáculo, com grandes julgamentos e punições exemplares. No governo de Raúl, a repressão é velada.

Comunismo e capitalismo
Tenho uma relação ruim com as ideologias. Sou uma pessoa pós-moderna, que cultua a liberdade. Não creio que em Cuba haja um socialismo e muito menos um comunismo. Classificaria o governo cubano como um capitalismo de estado. O patrão é o governo.

Educação e saúde
A estrutura física e a extensão da rede de ensino e de saúde em Cuba são aspectos positivos. Existem escolas e postos de saúde em cada bairro. Porém, existe um colapso material. Os professores ganham menos de trinta dólares por mês, o que diminui a qualidade. São pessoas despreparadas.

Economia
Cuba vive hoje uma esquizofrenia monetária. Existe o peso cubano e o peso conversível. O cubano acorda todos os dias com um objetivo: o que fazer para conseguir pesos conversíveis e alimentar sua família. Existem algumas alternativas. Caso ele seja um cozinheiro de um grande hotel, por exemplo, pode roubar um azeite ou um pedaço de queijo para vender no mercado negro. Também pode se prostituir, trabalhar clandestinamente ou pedir que parentes que emigraram enviem dinheiro. Quem não tem nenhum desses caminhos passa mal. O salário não é mais a principal fonte de renda.

Embargo econômico
Há uma teoria que diz que o embargo é uma caldeira. O fogo geraria precariedade econômica e material, o que levaria as pessoas à rua. Mas o embargo não resulta em rebeldia, mas na imigração dos cubanos. Outro motivo pelo qual sou contra o embargo é o fato de que ele embasa os argumentos do governo cubano que diz que não há batatas, não há tomates, não há comida por causa do império. Sem essa desculpa, quem eles vão culpar?

Protestos internos
Desde pequenos, os cubanos recebem uma série de informações e propagandas que fazem com que eles acreditem que o país não lhes pertence. Pertence a uma geração histórica, que foi a protagonista da revolução. Isso cria uma apatia grande. Além disso, tem uma paralisia provocada pelo medo. Não um medo da morte, mas um medo da delação. Você acha que será denunciado pelo seu vizinho. Isso leva muitas pessoas a tentarem resolver os seus problemas individualmente. Mas existe uma oposição hoje de jovens que se manifesta artisticamente, via internet, que procura divulgar as informações de forma ampla.

Manifestações no Brasil
Muitas dessas pessoas que protestaram contra mim nunca estiveram em Cuba. Outras estiveram por duas semanas fazendo turismo. É uma visão muito superficial. Para os mais velhos, acredito que seja difícil assumir que aquilo em que eles tanto acreditaram está morto, não seu certo. O governo cubano cria uma realidade distorcida. Eles propagam uma Cuba que não existe, uma cidade utópica, de esperança, onde todos têm chances. Quando meu filho era criança chegou em casa da escola dizendo que antes de Fidel Castro não havia universidades em Cuba. Isso é mentira.

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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