E o pibinho de 2012 não chega nem a 1%: fica em 0,9%

Publicado em 26/02/2013 22:51 e atualizado em 16/05/2013 15:55
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

E o pibinho de 2012 não chega nem a 1%: fica em 0,9%

Na VEJA.com. Comento no próximo post.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a presidente Dilma Rousseff encontraram-se na noite de quinta-feira para debater o fraco desempenho da economia brasileira no ano passado. Apesar de os dados oficias terem sido liberados apenas na manhã desta sexta-feira, Mantega afirmou que o resultado já não era novidade para ninguém – inclusive para a presidente, que cobrou da equipe econômica do governo um desempenho melhor a partir deste ano. O ‘pibinho’ de 0,9% confirmado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, segundo o ministro, é culpa do cenário externo. “O desempenho da economia, em momentos de crise, é fraco”, reforçou. “A crise toda foi produzida lá fora e a resposta do Brasil foi boa.”

O ministro tentou ficar imune às críticas pelo pífio desempenho da economia nos dois primeiro anos do atual governo. O biênio inicial de Dilma Rousseff só é melhor que o mesmo período de Fernando Collor de Mello, quando a economia brasileira estava em recessão. Para se defender, Mantega afirma que não é correto fazer comparação com o passado, principalmente porque desde 2003 os governos Lula e Dilma elevaram o patamar de crescimento médio da economia brasileira. “Criamos condições para que o crescimento volte ao patamar de 4%”, reforçou.

Bons ventos
Mantega demonstrou otimismo – em alguns momentos exagerado – com a situação atual da economia brasileira. Para ele, os dados preliminares do primeiro trimestre mostram um nível de atividade em recuperação, repetindo o desempenho do quarto trimestre. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) subiu 0,62% do terceiro para o quarto trimestre de 2012. O ministro espremeu os dados e reforçou que as vendas no varejo continuam em alta. O consumo foi o modelo de crescimento escolhido pelo governo para empurrar a expansão da economia brasileira nos últimos anos, mas a estratégia parece mostrar sinais de esgotamento. No segundo semestre do ano passado, houve uma perda constante no indicador, que aproximou-se de expansão de 0,5% em dezembro. Mesmo assim, fechou em 8,4% no ano, segundo o IBGE. Mas, como no início do ano passado, quando previu um crescimento robusto, o tal “pibão” que a presidente Dilma tanto cobra, Mantega repetiu o discurso agora. “O crescimento para este ano ficará entre 3 e 4%”, afirmou.

Para o consumidor, porém, a situação é oposta. O Índice de Confiança do Consumidor, da FGV, caiu pelo quinto mês consecutivo em fevereiro. Analistas do mercado financeiro e economistas também estão reticentes. A expectativa é de que o Copom promova uma alta na taxa Selic na reunião de abril. O juro básico da economia brasileira está em 7,25% ao ano. Além disso, a inflação é uma incógnita. Pressionada pelos preços, acumula 6,15% em 12 meses e tem dado sinais de resistência à queda. Alguns analistas aceditam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medidor oficial de inflação, fechará 2013 em 6,2%. Na última pesquisa Focus, a projeção do IPCA para este ano caiu para 5,7%.

Investimentos
A grande aposta de Mantega é na recuperação das taxas de investimento, que apresentaram forte queda no ano passado. Um primeiro sinal de recuperação, segundo ele, é o desempenho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no primeiro bimestre. Nesta semana, Luciano Coutinho, presidente do BNDES, disse em Nova York que os desembolsos superaram a expectativa nos dois primeiros meses do ano. “Estamos criando mecanismos para os bancos privados participarem junto com os bancos públicos do aumento do crédito para investimentos no país”, garantiu Mantega.

Para conseguir elevar novamente a Formação Bruta de Capital Fixo, que no ano passado recuou 4% com a queda na produção interna de máquinas e equipamentos, Mantega formou uma blitze para atrair investimentos privados para o setor de infraestrutura. Nos últimos dias, o ministro e uma comitiva oficial participaram de viagens para a Europa e os Estados Unidos para atrair o capital estrangeiro para a concessão de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. “Estamos oferecendo uma demanda garantida para o investimento no Brasil, com uma série de regras favoráveis”, afirmou Mantega. “As taxas são elevadas e vamos atrair primeiro os investidores brasileiros e depois os internacionais.” No entanto, o site de VEJA apurou que o governo modificou a comunicação das taxas de retorno para os investimentos em infraestrutura sem alterar o retorno.

Por Reinaldo Azevedo

 

Mantega é uma piada!

A imprensa brasileira, com as exceções costumeiras, está virando o território da falta de memória. Há muitos fatores que concorrem pra isso. Um deles, sem dúvida, é a velocidade com que as informações — e desinformações — são produzidas e postas para circular. Fica difícil reter alguma coisa se as pessoas a tanto não se dispõem. Some-se a isso o fato de que o PT é mais do que um partido tentando implementar um programa de governo. O que era inicialmente um ajuntamento ideológico foi transformado em torcida. Por que eu sou corintiano? Sei lá! Porque meu pai era? Pode ser. Mas eu não tenho uma razão racional pra isso. E tendo a achar, claro!, que meu time é injustiçado pela conspiração dos não-corintianos, que o juiz não gosta muito da gente etc. Assim é o petismo, também o das redações sem memória: está sempre tentando a se defender dos “adversários”, e isso implica lidar mal com a verdade. O tema e amplo e fica para outros textos. Por que trago a questão agora? Porque esse PIB ridículo de 2012, de 0,9% tem história, tem um marco importante, que precisa ser lembrado.

Em junho do ano passado, o Credit Suisse — que já vinha desafiando a, como direi?,  ciência de Guido Mantega, prevendo um PIB de apenas 2% — baixou a sua projeção para 1,5%. O ministro ficou furioso. É que a Mãe Dinah havia inaugurado aquele ano prevendo uma expansão da economia de 4,5%, depois dos magros 2,7% de 2011. Ali pelo início do segundo trimestre, ele decidiu baixar 0,5 ponto e se contentou com 4%.  No fim de junho, já não era tão preciso a respeito, mas uma coisa o homem assegurava: seria superior a 2011 — logo, rondando a casa dos 3%.

Como o PT tem o “dom de iludir”, para lembrar a bela música em que Caetano Velosa responde à belíssima “Pra que mentir?”, de Noel Rosa e Vadico, a reação irada de Mantega ganhou mais visibilidade até do que a projeção do Credit Suisse. Cumpre lembrar as palavras do ministro, então, quando confrontado com aquela projeção:
“É uma piada. Vai ser muito mais que isso!”
Como vocês viram, foi quase a METADE DISSO.

Mantega estava num hotel, na Barra, no Rio, onde se encontrava a delegação brasileira que participava da “Rio + 20”. Fazia-se acompanhar de Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Este senhor, nessa pasta, ainda renderá a Dilma Rousseff um Prêmio Jabuti na categoria “Ficção”. Ele foi um pouco mais ameno do Mantega. Deitou sobre a projeção do Credit Suisse um olhar caridoso, de latino-americano safo e superior, que encara com piedade e bonomia tupiniquins a ignorância dos bárbaros:
“Acho que a visão que os europeus têm é necessariamente negativa por ser influenciada pelo clima por lá. A situação do mercado financeiro na Europa é muito ruim. Não acompanho esse pessimismo do Credit Suisse. Acho que nós vamos crescer mais que isso”.

Ministros de estado não têm, claro!, de ficar fazendo previsões pessimistas. Mas também podem evitar o ridículo. Das duas, uma: ou Mantega e Pimentel ignoravam de forma absoluta a realidade brasileira — e isso é preocupante porque enseja decisões erradas — ou atuaram de forma consciente para enganar as pessoas.  O que é pior? A incompetência ou a mentira deliberada?

Mantega é uma piada!

Por Reinaldo Azevedo

Penas do mensalão serão executadas até 1º de julho, diz Joaquim Barbosa

No Globo:

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, disse que as penas dos 25 condenados no processo do mensalão serão executadas até 1º de julho. Para o processo ser encerrado, ainda é necessária a publicação do acórdão, uma espécie de resumo das decisões tomadas ao longo do julgamento. Depois, os réus poderão recorrer das decisões e, só depois de julgados os recursos, poderá haver prisão – isto é, se os pedidos de revisão forem todos negados em plenário. A declaração foi dada nesta quinta-feira em entrevista concedida a agências internacionais de notícias. “As ordens de prisão devem ser expedidas antes desta data”, afirmou à imprensa estrangeira.

Entre os condenados, estão o ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o operador das ilegalidades, Marcos Valério. Segundo o STF, eles desviaram dinheiro público para abastecer um esquema de compra de apoio político ao governo Lula no Congresso Nacional. Houve 22 condenações a prisão e três a penas alternativas.

Na entrevista, Barbosa considerou “baixíssimas” as penas impostas aos réus, diante da magnitude do caso. Ele ponderou que benefícios previstos em lei vão propiciar aos réus a redução do tempo atrás das grades. Para o ministro, esses benefícios são sintomas de um sistema penal “fraco”, que acaba ajudando os corruptos e reforçando a sensação de impunidade. Barbosa acrescenta que o mensalão apontou um caminho correto para a Justiça brasileira, e pode encorajar outros juízes a condenar políticos corruptos.

“A sociedade está cansada dos políticos tradicionais, dos políticos profissionais. Nós temos parlamentares aí que estão há 30, 40 anos no Congresso, ininterruptamente. E aqui ninguém jamais pensou em estabelecer “term limit” (limitar o número de mandatos)”, disse.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

O mandato de Dilma durou apenas dois anos. Os outros dois, agora, serão anulados tentando conseguir mais quatro. Ou: Ninguém sabe ser tão inescrupuloso quanto Lula

Mal saímos de uma campanha eleitoral, já estamos em outra. É o ritmo frenético que Lula impõe ao processo político. Não tem jeito. Ele não consegue descer do palanque. É o seu elemento. Isso mantém permanentemente mobilizadas as bases de seu partido e também força adversários e aliados a fazer escolhas precoces. Como estes não têm exatamente uma agenda própria e se colocam como meros caudatários dos comandos petistas — sim, vale também para  PSDB —, o Apedeuta pinta e borda.

Com dois ou três movimentos, Lula já colocou em xeque o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Estou entre aqueles que acham que seria saudável que se candidatasse à Presidência — embora eu também queira saber o que ele pretende e como vai dizer ao eleitorado que permaneceu por tanto tempo na barca petista até decidir romper. De toda sorte, vejo com simpatia — e isso não é segredo para ninguém — um eventual racha do condomínio liderado pelo PT. Mas, também já escrevi aqui, não aposto muito nisso.

Ocorre que Lula, de uma ignorância oceânica, é, não obstante, dotado de uma esperteza política sem concorrentes no país. Nesse particular, e só nesse, ele é dotado de mais recursos do que FHC, por exemplo. Não por acaso, já atraiu o seu adversário de divã — sim, o problema é freudiano — para o bate-boca eleitoral. Levou o PSDB a tentar antecipar a escolha, os tucanos agiram como patos, e o partido, anotem aí, ainda acabará assistindo a uma revoada de descontentes se continuar nessa marcha. Sabem por quê? Com perspectiva de poder, os políticos podem até aceitar certos atropelos e humilhações. Sem ela, por que aceitariam? E o viés, tudo contabilizado, não é exatamente de alta para o tucanato na esfera federal.

Lula chamou o PSDB para a briga, e alguém lá do ninho teve uma ideia: “Ah, vamos decidir agora, pronto! E quem não gostar que se dane!”. OU POR OUTRA: OS TUCANOS COMBINARAM TUDO COM O ADVERSÁRIO, MAS ESQUECERAM DE COMBINAR COM OS ALIADOS. Lula não aprendeu a fazer essas coisas na política partidária. Ele vem do sindicalismo, onde só há cobras criadas. Pior para quem cai na sua conversa.

O Apedeuta também leva outra vantagem sobre qualquer político: não tem nenhum escrúpulo. Não é o único. Mas ninguém é tão inescrupuloso, no que concerne aos hábitos políticos,  quanto ele. Ontem, por exemplo, como se fosse presidente da República, visitou as obras do Maracanã, acompanhado do governador do Rio, Sergio Cabral (PMDB), e do vice, o sr. Pezão. Falou aos operários. E qual foi o tema? Os 10 anos do PT no poder. Ou por outra: foi a um canteiro de obra pública para fazer proselitismo partidário — não sem elogiar fartamente o anfitrião, Cabral. PT e PMDB fluminenses estão em pé de guerra por causa de 2014. Mas o Apedeuta estava lá fazendo a conciliação. Assim como é muito difícil para Campos levar adiante o seu intento, a candidatura de Lindbergh não será muito fácil. Em seu discurso no estádio em obras, o ex-presidente excitou o ufanismo da massa e fez um desagravo de agravo que não houve: segundo ele, diziam (quem “diziam”?) que o Brasil não seria capaz de realizar a Copa do Mundo, mas estaríamos provando que é mentira etc. etc. etc. Bem, nunca ninguém disse isso. Lula vive atribuindo coisas a um sujeito indeterminado para que possa, então, afirmar o contrário. Está permanentemente em guerra.

De lá voou para Fortaleza para um dos eventos que marcam os dez anos da chegada do PT ao poder. Poucos estão se dando conta do quão autoritário é o espírito que anima essa comemoração. Os petistas tentam transformar o ano de 2003 numa espécie de data do calendário oficial, como se tivesse havido um rompimento da velha ordem em benefício da nova. Que velha ordem se rompeu? O Brasil já era um democracia plena, regido por uma Constituição elaborada por representantes do povo, eleitos livremente — Constituição que os petistas se negaram  homologar, destaque-se.

O PT comemora os 10 anos (tendo a certeza de mais dois que a lei já lhe assegura) como quem anuncia que virão mais quatro a partir de 2015, depois outros quatro a partir de 2019; em seguida, outro tanto…  E assim eternidade afora. “É normal, Reinaldo! Os partidos lutam para ganhar eleições!” Eu sei. Mas não é corriqueiro que transformem isso em marco inaugural. Fico cá a imaginar se os tucanos decidissem fazer seminário em São Paulo para exaltar as conquistas dos últimos 18 anos de poder PSDB — 20 em 2014…  O mundo viria abaixo na imprensa paulista: “Ora, onde já se viu?”. Aliás, nos setores “petizados” das redações, como sabem, a gente ouve falar na necessidade de “renovação”…

Essa “comemoração” liderada por Lula é um absoluto despropósito e foi só a maneira encontrada para deflagrar a campanha antes da hora — o que a Lei Eleitoral proíbe, é bom lembrar. Mas quem se importa? O inimputável pode fazer o que lhe der na telha, incluindo proselitismo partidário num canteiro de obra pública. Não reconhece instância que possa lhe botar freios.

“Ah, tudo vai às mil maravilhas com o Brasil, e fica esse Reinaldo Azevedo enchendo o saco…” Não! As coisas não vão às mil maravilhas, como sabe qualquer pessoa medianamente informada. Mas nem temos na oposição quem se disponha a pôr o guizo no pescoço do gato nem há na situação quem consiga pôr algum freio em Lula e sua turma. Ele pressentiu que começava a haver um acúmulo considerável de críticas às irresoluções e incompetências do governo. Animal político notável, deflagrou a campanha eleitoral.

O mandato de Dilma durou apenas dois anos. Os outros dois serão anulados pelas articulações políticas para conseguir outros quatro a partir de 2015.

Por Reinaldo Azevedo

 

Lula se compara a Lincoln e diz que seu sucesso incomoda

Lula se comparou a Lincoln. E isso tem a ver com o mensalão, acreditem. Leiam  que informa O Globo, por Silvia Amorim e Cassio Bruno. Comento em outro post.

Em discurso na festa de comemoração dos 30 anos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou-se aos adversários políticos e disse nesta quarta-feira que eles se sentem incomodados com o sucesso alcançado por ele. Lula dedicou parte do pronunciamento a críticas à imprensa e chegou a comparar-se ao ex-presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln.

“Nós sabemos o time que temos, sabemos o time dos adversários e sabemos o que eles estão querendo fazer conosco. Acho que a bronca que eles tinham de mim é o meu sucesso e agora é o sucesso da Dilma. Eles não admitem que uma mulher que veio de onde ela veio dê certo porque a onda pega. Daqui a pouco qualquer um de vocês vai querer ser presidente da República”, afirmou Lula.

Um dos fundadores da CUT, o ex-presidente orientou a atual diretoria da entidade a organizar-se para obter maior visibilidade na imprensa. Nesse momento, Lula fez diversas criticas à mídia, mas sem mencionar especificamente veículos de comunicação.

“Essa gente nunca quis que eu ganhasse as eleições. Nunca quis que a Dilma ganhasse as eleições. Aliás, essa gente não gosta de gente progressista. Esse dia eu estava lendo, eu ando lendo muito agora, viu, Gilberto (Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência), o livro do Lincoln e fiquei impressionado como a imprensa batia no Lincoln em 1860. Igualzinho bate em mim. E o coitado não tinha computador. Ele ia para o telégrafo esperando tic tic tic. Nós aqui podemos xingar o outro em tempo real. Quanto já estão tuitando aí? Eu estou naquela idade de parar de reclamar que aqueles que não gostam de mim não me dão espaço”, disse Lula.

O ex-presidente afirmou que não é preciso pedir favor a jornais. “Nós temos uma arma poderosa totalmente desorganizada e a gente não tem que ficar chorando porque não saiu no jornal tal. Não tem problema, a gente não tem que pedir favor. Pegue o espaço que temos e faça com que ele seja bem utilizado. Esse país teve formadores de opinião pública que era contra as Diretas Já. Só foram para a rua quando tinha 300 mil pessoas na praça da Sé. Essa gente não era contra a derrubada do Collor. Só foram para a rua quando a gente já estava na rua”, completou o ex-presidente.

Para Lula, a imprensa somente noticia quando o assunto é ruim para o governo. “Quantas vezes vocês fazem passeata em Brasília e não aparece (na mídia)? Se for contra o governo, aí vai aparecer na televisão e, se alguém xingar o governo, vai aparecer mais ainda (…) Nos anos 80 qualquer imbecil se achava formador de opinião pública. Falava meia dúzia de bobagens na televisão e já achava que mudou o mundo. Nunca disseram que o presidente da CUT era formador de opinião e nós mudamos esse conceito porque, apesar de a gente reclamar e do que, às vezes, fazem com a gente, eu não vivo reclamando do espaço que eles não me dão. Eu agora estou querendo saber o que falta eu fazer para ter o espaço que eu quero independente deles”, afirmou o ex-presidente.

Condenado no processo do mensalão, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares esteve no evento.Na tarde desta quarta-feira, já no Rio de Janeiro, o ex-presidente se reuniu, em um hotel de Copacabana, na Zona Sul, com a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ). Ao chegar no local, a parlamentar reafirmou o posicionamento do PT em lançar a candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo do estado do Rio de Janeiro.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Reale Júnior volta a fazer picadinho de proposta aloprada de novo Código Penal, e relator da estrovenga se abespinha. Tá bom! Então falemos de arrogância. Ou: Mate um feto de sete meses, mas cuidado com o filhote da tartaruga!

Lembram-se daquela proposta de reforma do Código Penal que foi elaborada por uma “comissão de notáveis” escolhida pelo então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP)? Trata-se de uma formidável coleção de sandices. Já escrevi uma penca de textos a respeito, conforme evidenciam os links abaixo.

Se aprovada, abandonar um animal, no Brasil, renderia uma pena superior a abandonar uma criança. O aborto seria legalizado (embora a Constituição proteja a vida desde a concepção). Haveria também a legalização do consumo de drogas e, na prática, do pequeno tráfico. A proposta foi elaborada com a sapiência dos arrogantes e a arrogância dos que se querem sábios. Um trabalho dessa dimensão não contou nem mesmo com o trabalho de uma comissão de revisão. Pra quê? Antes que prossiga, eis alguns dos textos que já escrevi a respeito.

27/06/2012
Concluída a aloprada proposta de reforma do Código Penal

28/06/2012
Proposta de Código Penal libera o aborto, faz a vida humana valer menos que a de um cachorro, deixa-se pautar pela Marcha da Maconha, flerta com o “terrorismo do bem” e entrega nossas escolas ao narcotráfico. Fernandinho Beira-Mar e Marcola não pensariam em nada mais adequado a seus negócios!

23/07/2012
Anedota búlgara: humaniza-se o animal ao mesmo tempo em que se animaliza o homem

25/07/2012
Novo Código Penal – Juristas querem pôr bandidos na rua e inventam a mentira de que o Brasil prende demais! Eu demonstro que prende de menos! Com números!

05/09/2012
O novo “Código Penal” do Sarney: abandonar uma criança: seis meses de pena; abandonar um animal: quatro anos! O destino deste texto é o lixo!

05/09/2012
Atenção, senadores! Atenção, brasileiros! Divulguem o fato. Caiu a máscara! Coordenador da reforma do Código Penal confessa: “NÓS RECONHECEMOS ORGULHOSAMENTE A LEGALIZAÇÃO DO ABORTO”. Ou: Matar um feto de sete meses dá seis meses de cadeia; matar um filhote de codorna, dois anos! Ou: A revolução dos tarados morais

06/09/2012
Pesquisa sobre drogas mostra quão aloprada é aquela comissão que acha mais grave abandonar um cachorro do que uma criança

29/09/2012
Cuidado! Vai que a nova comissão de Sarney meta você na cadeia e solte o Fernandinho Beira-Mar…

Voltei
Nesta quinta, Miguel Reale Júnior participou de uma reunião da comissão do Senado que cuida do assunto. Fez um picadinho impiedoso do texto. Tocou em alguns aspectos que abordei nos posts acima e expôs outras barbaridades. Reproduzo trechos de um texto publicado no Globo Online. Volto em seguida.

*
(…) O jurista Miguel Reale Júnior, ex- ministro da Justiça do governo de Fernando Henrique, voltou a atacar duramente nesta quinta-feira a proposta elaborada por uma comissão de juristas formada pelo Senado para reformar o Código Penal. Ele disse que a proposta contém absurdos, contradições graves e pode ser motivo de vergonha internacional para o Brasil. Criticou até mesmo erros de português do texto do anteprojeto, que foi aprovado pela comissão de juristas no ano passado e agora tramita no Senado como projeto de lei.
(…)
Entre outros pontos, ele criticou as restrições impostas ao livramento condicional e a instituição da barganha, em que uma das partes, após acordo judicial, concorda em cumprir uma determinada pena. “A barganha é manifestamente inconstitucional. A aplicação da barganha nos Estados Unidos mostra o grau de injustiça, de inocentes que, receosos de conseguir provar sua inocência na Justiça, aceitam a pena mínima imposta”, afirmou.
(…)
ele também criticou a forma como a eutanásia é tratada. “Prevê perdão de parente que mata independentemente de diagnóstico médico. Quem vai julgar o estado terminal é o parente que mata quem precisa se salvar do sofrimento. Quantos velhinhos vão olhar com desconfiança o suco de laranja que lhe oferecem?”.Também criticou a parte que trata dos crimes contra animais. “Entre uma criança e um cachorro, eu vou socorrer o cachorro, para não passar mais tempo na prisão.”

Após a fala de meia hora de Miguel Reale Júnior, o procurador regional da República e relator da comissão de juristas, Luiz Carlos Gonçalves, reagiu (…) Também bastante exaltado, o procurador negou temer críticas, mas exigiu respeito e disse que várias das observações de Miguel Reale Júnior estão erradas.
“Eu aprendi com meu pai que cordialidade e educação não são mera formalidade. Independentemente do que tenhamos feito ou dito, todas as pessoas são dignas de respeito”, afirmou Gonçalves, acrescentando: “Eu quero aqui de público fazer um desagravo a todos os membros da comissão. Nós não nos nomeamos. Não buscamos notoriedade. Fomos nomeados pelo Senado. Trabalhamos abnegadamente e intensamente e, por isso, não merecemos as palavras desonrosas e desairosas de Miguel Reale Júnior em várias entrevistas. Podemos estar errados, mas exigimos respeito.”

Voltei
O texto publicado no Globo, se lido na íntegra, é francamente simpático ao procurador, censurando, ainda que de modo mitigado, o comportamento de Miguel Reale em razão de suas supostas “frases de efeito”. Vamos ver. “Frase de efeito” não é problema se o efeito da frase é desnudar incoerências e erros de uma proposta.

Quem é que está exigindo “respeito”? Ah, é o procurador Gonçalves. Conheço Reale e duvido que ele tenha sido desrespeitoso. Tem sido, isto sim, duro e técnico nas críticas. E conheço Gonçalves também. Em setembro do ano passado, ele foi a um debate no programa “Entre Aspas”, da GloboNews, mediado pela jornalista Mônica Waldvogel, com a professora de direito da USP Janaína Paschoal. Escrevi um post a respeito. Lá estava o retrato da arrogância. Dei este título, certamente mais indignado do que Miguel Reale Júnior: “Atenção, senadores! Atenção, brasileiros! Divulguem o fato. Caiu a máscara! Coordenador da reforma do Código Penal confessa: “NÓS RECONHECEMOS ORGULHOSAMENTE A LEGALIZAÇÃO DO ABORTO”. Ou: Matar um feto de sete meses dá seis meses de cadeia; matar um filhote de codorna, dois anos! Ou: A revolução dos tarados morais”.

Sim, Janaina provou que, na proposta elaborada pela comissão, havia, na prática, a legalizaão do aborto, embora o Código Penal não possa fazê-lo porque a garantia à vida é matéria constitucional. Como se tivesse investido por algum poder divino, respondeu Gonçalves: “Nós reconhecemos [a legalização do aborto] orgulhosamente!”. E pontuava a cada pouco a fala de sua interlocutora com o advérbio: “Orgulhosamente, orgulhosamente…”. Vale dizer: ele se orgulhava, então, de um truque enfiado no projeto: a legalização do aborto pela via infraconstitucional. Por que alguém se orgulharia de enganar as pessoas?

A proposta de reforma do Código Penal que chegou ao Senado é uma coleção de sandices e tem de ser jogada no lixo. Se os que escreveram aquela estrovenga conhecem ou não direito, não serei eu a avaliar, que não sou especialista nem nada (Reale é). Mas não preciso ser um expert para considerar uma criança superior a um cachorro e um feto humano superior a um filhote de codorna.

O Globo informa que havia pessoas portando cartazes em favor do direito dos animais na galeria da Câmara. Que bom, né?  Será que voltaremos ao tempo em que será preciso evocar a Lei de Proteção aos Animais para preservar os humanos da morte?

Post publicado originalmente às 22h40 desta quinta

Por Reinaldo Azevedo

 

Defensor Público quer mandar para a cadeia mulher que salvou a vida do pai, tirando-o da Cracolândia. E ele certamente se acha um homem bom e justo, um verdadeiro humanista!

Cuidado, leitor!

Caso você esteja na contingência de ter de apelar a algum remédio para salvar a vida de seu pai, de seu filho, de algum ente querido, certifique-se de que não haja um “defensor público” no seu encalço, tentando mandá-lo para a cadeia. Do que falo? Antes, uma consideração prévia.

Sinceramente, eu detesto escrever determinados textos. Chega a me dar o famoso “bode”, um misto de indignação e nojo, mas aí lembro que me auto-outorguei não uma missão (que missionário não sou!), mas uma tarefa: denunciar a crueldade, especialmente quando ela enverga as vestes da defesa dos direitos humanos. “E por que essa questão em particular, Reinaldo?” Porque ela tem um alcance geral: foi em defesa “do homem”, de um suposto “homem emancipado do reino da necessidade”, que se cometeram as maiores brutalidades da história. Denunciar o falso humanista é um ato em favor da civilidade e da civilização.

É o que me ocorre lendo um impressionante material que me foi enviado por um leitor. Ele participa de uma grupo de debates do Yahoo intitulado “Fórum Permanente de Acompanhamento da Políticas Públicas para a População em Situação de Rua de São Paulo.” Certamente é gente boa, tanto é que está indignado também. Mas o nome do fórum é complicado. “População em situação de rua” é expressão que enfurece  o meu apreço pela linguagem e pelos fatos. Trata-se de uma tentativa, feita pelos bacanas “que NÃO estão em situação de rua”, de transformar pobres-coitados que nada têm numa categoria sociológica e, acreditem!, até política. Já há até movimentos nacionais (no plural; há mais de um!) de “populações em situação de rua”. A pergunta óbvia e sem resposta é esta: quem consegue organizar uma espécie de sindicato nacional dessa natureza não sai da rua por quê? Mas sigamos.

Participa desse fórum um defensor público de São Paulo chamado Carlos Weis. É um conhecido deste blog. Há aqui uma série de posts que resume a sua atuação na Defensoria Pública. Ele foi um dos líderes da resistência à retomada da Cracolândia, em São Paulo, pelo estado de direito. O artigo mais eloquente, publicado no dia 12 de janeiro do ano passado tinha o seguinte título:“Exploração dos desgraçados – Defensores cercam rua, armam tenda e tentam, na prática, recriar a cracolândia com um grupo de viciados, que estão consumindo crack; uma das defensoras levava no bolso convite para churrasco no local”. O líder da manifestação era… Carlos Weis!

A indignidade
CRATOD é
 o  Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas do Estado de São Paulo. É a entidade que deve ser inicialmente acionada para a internação involuntária de viciados em crack. Ali, como informo no post anterior, conjugam-se vários atendimentos: médico, jurídico e psicológico. Tudo devidamente acompanhado pelo Ministério Público. Desde o começo, a Defensoria Pública de São Paulo, sabe-se lá movida por qual ideologia ou saber específico, se opôs à retomada da Cracolândia e ao programa que, entendo — e entende a maioria dos especialistas —, tenta devolver à vida aqueles que dela já se despediram.

A droga não destrói apenas o viciado. Também causa severos traumas nas pessoas que com ele convivem. Como alertou em artigo no Globo, publicado no dia 26, o psiquiatra Rodrigo Godoy Fonseca, antes que o viciado em crack vá morar na rua, há um longo calvário de sofrimento seu e da família. Vale dizer: os que mantêm relações afetivas com ele são também vítimas; eu diria que também essas pessoas, em certo sentido, estão psiquicamente doentes, tal é seu sofrimento.

Comentei aqui a abordagem indigna que uma repórter fez da ação de uma senhora que foi buscar seu pai na Cracolândia, onde só a morte o esperava. O homem já vinha de períodos de abstinência e recaída na droga. Ela tentou convencê-lo a acompanhá-la até o CRATOD. Ele não quis. Então esta mulher corajosa contou que deu ao pai um comprimido de Lexotan. Ele se acalmou, e ela pôde, então, conduzi-lo para o tratamento. Título da indignidade publicada em jornal: “Filha dopa pai para tentar internação compulsória em SP”. Era evidente a tentativa do texto de demonizar a mulher.

E Carlos Weis com isso?

No tal fórum do Yahoo, ele vai lá, como diz, “prestar contas”, como se fosse aquele o ambiente adequado. Demonstra, basta atentar para o sentido das palavras, que não é mesmo admirador do programa que está em curso em São Paulo, mas vá lá, admite que a Defensoria acompanha o trabalho. Muito bem.

Weis reconhece que ninguém está sendo levado “à força” para o CRATOD. E cita como um espécie de exceção aquela pobre senhora que deu um Lexotan a seu pai para, na prática, livrá-lo da morte. Sabem o que quer este homem generoso, amante do povo, da bondade e da Justiça? Que ela seja processada com base no Artigo 148 do Código Penal. Weis quer que aquela mulher corra o risco de ficar até CINCO ANOS NA CADEIA. Transcrevo trecho do Artigo 148, que ele evoca:

Art. 148 – Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: 
Pena – reclusão, de um a três anos.
§ 1º – A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
I – se a vítima é ascendente, descendente ou cônjuge do agente;
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge do agente ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)
(…)

Para este defensor público, aquela filha “sequestrou” o pai. Weis fez parte do grupo de defensores públicos que chegaram a armar tendas na Cracolândia para impedir a ação da Polícia. Os traficantes, por óbvio, circulavam por lá livremente. Mas quer mandar para a cadeia uma filha que salvou a vida de seu pai. Reproduzo parte de sua mensagem no fórum. Retomo depois.

Antes e depois

Eu peço que vocês vejam uma reportagem do “Bom dia Brasil” (está aqui; infelizmente, A Globo não fornece código para incorporação). Vemos o estado em que Ana Paula — é o nome dela — encontrou seu pai na Cracolândia e como ele estava dias depois. Sem o efeito da droga, mostra-se um homem sereno, agradável até, que sente falta dos netos. A filha, num testemunho que chega a emocionar, diz estar com “saudade” do pai — do pai que ela teve, que, não obstante, está vivo. O crack é isto: a morte em vida. Nesse mesmo vídeo, uma doméstica de quatro filhos conta que a família se dispersou. Um deles, viciado, tomou conta da casa. Os outros três foram distribuídos em casas de parentes e vizinhos.

Mas Weis é um homem bom e quer mandar Ana Paula, aquela senhora que conseguiu salvar a vida do pai, para a cadeia, quem sabe com a pena máxima para o seu “crime”: cinco anos.

Ideologia? Crueldade? Equívoco simplesmente? Uma soma de todas essas coisas? Avaliem vocês. Eu, reitero, ao ler a mensagem daquele senhor, fiquei entre a indignação e o asco.

Por Reinaldo Azevedo

 

“Fatos que não correspondem à verdade” impõem indenização

Da coluna Radar, de Lauro Jardim. Volto depois:

Ali Kamel, o número 1 do jornalismo da Globo, obteve ontem uma vitória na Justiça do Rio de Janeiro contra o blogueiro e apresentador de programa de variedades da Record, Paulo Henrique Amorim.

De acordo com a sentença, Amorim terá que pagar uma indenização de 50 000 reais a Kamel. Motivo: Amorim escreveu diversos textos associando Kamel ao racismo. Diz o juiz Rossidelio da Fonte, da 35ª Vara Cível:

“Quando um jornalista como réu divulga fatos que não correspondem à verdade, ou envolve cidadão sem averiguar a procedência de suas fontes e a veracidade das informações, levando os leitores a concluírem que o autor é racista ou apoia práticas racistas, há evidente responsabilidade passível da obrigação de indenizar.”

Ainda cabe recurso à decisão.

Voltei
Publico a informação com a área de comentários fechada. Não quero dar azo a especulações as mais variadas sobre sentenças judiciais. A Justiça não é campo para manifestações dessa natureza. O que me interessa, nesse caso, é o trecho da sentença do juiz que expressa, a meu ver, o necessário norte ético.

Por Reinaldo Azevedo

 

PMDB sem medo de ser feliz

É…

O PMDB não é bolinho, não!

Foi ao ar há pouco o horário político gratuito do partido. Numa evidência inequívoca do grupo que está no comando, o destaque ficou com o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Em sua intervenção, afirmou não temer desafios. Numa referência às denúncias que envolveram o seu nome, citou uma frase que já foi repetida pela presidente Dilma Rousseff: disse preferir o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. Estava seguro. Pois é… Mensagem de algum modo incômoda para a petezada: mesmo sugerindo ter sido alvo de supostas injustiças, Renan deixa claro que seu partido não pensa em censura. Nesse particular, melhor assim, não é?

O programa como um todo certamente deixou os petistas irritados por muitos outros motivos. Aqui e ali, o nome da “presidenta” Dilma foi citado, sim, mas não muito. O PMDB chamou para a si a responsabilidade por todas aquelas supostas fabulosas conquistas de que os petistas tanto se orgulham. Sem o partido, ficou claro, o “novo Brasil” não seria possível.

Sem meios-termos, os peemedebistas disseram com todas as letras: “É o partido que mais apoia o governo”. E isso inclui o PT.

Por Reinaldo Azevedo

 

Deputados petistas imitam a corja que agrediu Yoani e partem para o confronto física com oposicionistas dentro da Câmara. Carvalho avisou: “O bicho vai pegar”

Vejam este homem.

É o deputado Amauri Teixeira, do PT da Bahia. Ele é valente. Muito valente. Seu ato de maior coragem, até agora, foi tentar expulsar aos berros, do plenário da Câmara, uma mulher muito perigosa, uma verdadeira ameaça à democracia brasileira: Yoani Sánchez. A gente via essa figura mirrada vociferando contra aquela gigante que é a blogueira cubana e pensava: “Que forja garantiu a têmpera de tamanha ousadia?”

Nesta quarta, Amauri, o Valentão contra Cubanas Indefesas, resolveu aprontar mais uma. Assim como seus sequazes, nas ruas, querem impedir os adversários de se manifestar na base da coerção e da força física, Amauri tenta impedir que os parlamentares de oposição digam o que pensam também na base da porrada. Não foi o único. O lulista fanático Devanir Ribeiro (PT-SP) também resolveu coagir fisicamente um deputado da oposição.

Gilberto Carvalho afirmou no ano passado: “Em 2013, o bicho vai pegar”. Pelo visto, o PT já superou a fase da luta pacífica para chegar ao poder. Pelo visto, chegou a hora da porrada. Leiam o que informa Gabriel Castro e Marcella Matos, na VEJA.com.

O que era para ser um ato de protesto da oposição se transformou em tumulto — mais um — na Câmara dos Deputados. O DEM resolveu incluir, em frente ao painel que lembra os 33 anos do PT, uma referência ao escândalo do mensalão, já que o ano de 2005 foi excluído na exposição montada nos corredores da Casa para marcar o aniversário da sigla. A imagem elaborada pelo DEM reúne capas de jornais e revistas na época do escândalo e contém uma breve descrição do episódio.

Mas a manifestação irônica não durou muito. Segundos após o pano vermelho que cobria a placa ser descerrado, enquanto os parlamentares da oposição ainda posavam ao lado ao painel, o deputado Amauri Teixeira (PT-BA) resolveu retirar o estandarte do lugar. Com a ajuda de José Márcio Ribeiro da Costa, chefe de gabinete da liderança do PT, ele removeu o painel.

O petista, que, na semana passada, havia tentado expulsar, aos berros, a blogueira cubana Yoani Sánchez do plenário, ainda quis tirar satisfações com assessores, que, em meio ao tumulto, o chamaram de “mensaleiro”. Os deputados Felipe Maia (DEM-RJ) e Edson Santos (PT-RJ) quase partiram para as vias de fato, em meio ao empurra-empurra. Cláudio Cajado (DEM-BA) também se desentendeu com Amauri Teixeira.

“Nós sempre respeitamos qualquer manifestação que tenha nesse corredor. Estou retirando [o painel da oposição] da frente do painel do PT. Na frente, nós não aceitamos”, disse Amauri, enquanto removia a placa. Mas, em vez de apenas retirar o painel do corredor, o deputado e seu assessor esconderam o objeto na liderança do PT, em outro andar.

Ao site de VEJA, após esconder a placa, José Márcio da Costa reagiu com ironia: “O painel sumiu”. O líder do DEM, Ronaldo Caiado, não pretende resgatar o objeto causador da discórdia: “O painel foi dado como presente para que o PT coloque na sala do líder”, ironizou. Minutos após a confusão, o mensaleiro José Genoino (PT-SP) passou pelo local. Cabisbaixo, ele se fez de desentendido quando indagado a respeito da controvérsia.

Plenário
O vergonhoso bate-boca protagonizado em frente à exposição do PT continuou no plenário na Câmara dos Deputados. Primeiro a se manifestar, o deputado Sibá Machado (PT-AC) tentou amenizar o ato do correligionário Amauri Teixeira passando a culpa adiante: afirmou que foram os democratas que criaram o tumulto ao “colocar um material apócrifo” e que foram eles que quase partiram para a agressão contra parlamentares petistas.

O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) interveio: “Não é apócrifo, não. Foi reprodução de capas de revistas do ano de 2005, porque a exposição [a feita pelo PT] esquece o inconveniente ano de 2005”, ressaltando que não houve ataques por parte dos democratas. Enquanto o democrata falava, mais uma cena de agressão. O deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) deu um tapa no microfone, tirando-o de Lorenzoni.

Ignorando os episódios, o líder do PT José Guimarães preferiu não comentar as atitudes de Teixeira e Ribeiro — e ainda disse estar ofendido: “Hoje nós sofremos o assédio de uma ação que nos leva ao constrangimento, como nunca fizemos com outro partido”.

Por Reinaldo Azevedo

O que há de igual e o que há de diferente entre os mensalões mineiro e petista. Ou: Único poupado até agora é Lula!

Escrevi aqui certa feita um post em que condenava uma expressão amiúde usada por aí: “É tudo a mesma coisa”. É a frase símbolo de quem não quer aprender nada. O interlocutor exibe as diferenças entre A e B, e o outro insiste em ignorar as particularidades. É claro que o que se dedica a exibir as características peculiares de uma coisa no cotejo com a outra pode estar sofismando. Mas pode estar dizendo a verdade. O primeiro passo da pessoa inteligente e prudente é ficar atento para ver se as distinções fazem sentido.

Assim é com o “mensalão mineiro”. O PT propagou na imprensa — e muita gente comprou a versão — de que “é tudo a mesma coisa”. Verdade conveniente essa para o partido do poder. Se é assim e se aquele mensalão precedeu o petista, então estaria na sua origem. Errado! Crimes também foram cometidos naquele caso e têm de ser punidos, mas NÃO SÃO A MESMA COISA.

Uma das características mais graves do mensalão petista foi a compra de votos, de apoio político, a tentativa de fraudar a democracia. A corrupção ativa, a corrupção passiva, o peculato, a formação de quadrilha, a evasão de divisas, essa porcariada toda foram os meios empregados.

VEJA.com entrevistou o promotor João Medeiros Neto, que cuida do caso. Ele explica o que há em comum entre o “mensalão mineiro” e o “mensalão petista, mas destaca também o que há de diferente. É evidente que, na eleição de 2014, os petistas tentarão provar que todos os partidos se igualam nos desfeitos — e só eles, ora vejam!, se destacam nas qualidades.

Reitere-se: crimes foram cometidos em Minas e pedem punição exemplar. Mas não estamos, nem de longe, falando sobre a mesma coisa. Noto, finalmente, nesta minha introdução, que há, ademais, uma diferença essencial, sim, mas que beneficia escandalosamente os petistas: Eduardo Azeredo, então governador de Minas, que concorria à reeleição, é um dos réus do processo do mensalão mineiro. A lógica é a seguinte: ele seria o beneficiário do esquema. Ora, aplicando-se critério isonômico, deem uma razão para que Lula não seja réu no processo do mensalão petista. Vale dizer: ao contrário do que sustenta o PT, se alguém foi poupado nessa história toda, até agora, esse alguém atende pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva.

A íntegra do texto e entrevista de Laryssa Borges com o promotor João Medeiros Neto está aqui. Leia a conversa:

A denúncia contra os réus do valerioduto mineiro foi apresentada ao STF somente em 2007, nove anos depois dos crimes atribuídos aos réus terem acontecido. Existe risco de prescrição?
Se as penas-base forem baixas, pode haver prescrição. Mas o Ministério Público não trabalha com essa lógica. Vamos sustentar não só a condenação, mas que as penas não sejam baixas. Isso é possível, porque as penas máximas para os crimes de lavagem de dinheiro e peculato são, respectivamente, de dez anos e doze anos de reclusão.

As condenações no processo do mensalão têm influência nas penas que podem ser aplicadas aos réus do valerioduto mineiro?
O rigor do Supremo no julgamento do mensalão, o fato de ter de enxergado os agentes políticos como pessoas que atraem para si uma censura maior pelos desvios de comportamento, isso tudo vai ser importante no caso do valerioduto mineiro. Entendeu-se que esses crimes contra a administração pública são muito graves, não são coisa corriqueira. 

É provável que, a exemplo do que ocorreu no mensalão, os réus tentem resumir o caso a caixa dois de campanha?
O Ministério Público vai buscar o precedente do Supremo, de que nada do que aconteceu nesses crimes de peculato e lavagem de dinheiro é corriqueiro, é comum. Nada disso é pequeno.

Em alguns casos, o procurador-geral da República na época da denúncia, Antonio Fernando de Souza, entendeu que os beneficiários dos recursos do valerioduto mineiro praticaram só o crime de caixa dois.

Essas pessoas viraram testemunhas e não se tornaram réus porque receberam o dinheiro e não declararam para fins eleitorais. O crime de caixa dois está prescrito e fora de discussão.

O desmembramento do valerioduto mineiro, deixando no STF apenas os dois réus com foro privilegiado, ajuda ou retarda a conclusão do caso?
Todas essas testemunhas que estamos ouvindo na Justiça estadual estão sendo ouvidas também na Justiça federal. Por determinação do Supremo, os juízes da Justiça federal em Minas estão fazendo o mesmo trabalho. Muitas vezes se ouve o comentário de que a mesma pessoa prestou depoimento para falar as mesmas coisas. Tem de ser assim, é fruto do desmembramento. Se ele não houvesse acontecido, o trabalho seria menor, porque não se ouviriam duas vezes as mesmas testemunhas, para falar as mesmas coisas.

O julgamento do mensalão tinha mais réus e agora vai ter publicado o acórdão com as decisões do STF. Por que o caso do valerioduto mineiro está tão demorado?
Aqui esse caso é um processo criminal comum. Ele está lá na vala comum. É um processo a mais. Houve uma concentração dos esforços lá no Supremo para julgar o mensalão, mas aqui não existe essa possibilidade. É um processo que trata dos crimes de peculato e lavagem de dinheiro como outros tantos que existem. Do ponto de vista processual, é um processo a mais. Está tramitando dentro do que é possível, considerando o nosso volume de trabalho.

O esquema do valerioduto foi apontado como o laboratório para os crimes praticados posteriormente no escândalo do mensalão. Quais são, afinal, as semelhanças?
O caso mineiro não tem a mesma característica do mensalão federal. Em comum há as empresas de publicidade e seus sócios, e a lavagem de dinheiro. Em Brasília, a questão era compra de apoio político, crime de corrupção, vantagens indevidas. Ao passo que em Minas trata-se de desvio de recursos de empresas estaduais e lavagem de dinheiro.

A estratégia de lavar dinheiro com agências de publicidade é a mesma.
O know-how para o crime foi colocado em prática aqui. Tentou-se e, de certa forma, se conseguiu, porque o esquema foi descoberto bastante tempo depois, manobrar recursos públicos por meio de agências de publicidade. Até então, o uso da estrutura de agências de publicidade para desvios não era muito comum. A gente sempre ouviu falar em empreiteiras, que seriam os maiores ralos. Mas como publicidade é difícil de se medir, essa estratégia de usar empréstimos para lavar dinheiro, misturar dinheiro lícito ou ilícito, foi repetida no mensalão.

O Ministério Público trabalha com a possibilidade de penas altas para os condenados. As provas são robustas contra todos os réus?
As penas do mensalão serão precedente para as penas do valerioduto. Isso é mais um motivo para o MP não cogitar daquela ideia de que a prescrição vai se dar porque as penas não têm como ser altas. Claro que têm como ser altas. E o Ministério Público não tem a menor dúvida da culpa dos réus. As provas são suficientes.

Por Reinaldo Azevedo
 

Delacroix resolve pintar Lula: A Ignorância Guiando o Povo! Ou: O dia em que o Apedeuta e Collor mandaram seus adversários “calar a boca”

“Elite”, como grupo social a ser vencido, não é um conceito marxista. É só um chavão petista. E o petismo é uma derivação tardia, oportunista e rebaixada da teoria revolucionária. Já escrevi muito a respeito. Do bolchevismo, o PT herdou apenas a tara autoritária, que pode ser aplicada, e eles estão tentando, também num regime capitalista. “E se herdasse tudo? Seria melhor?” É claro que não! Mas isso seria impossível. O socialismo como alternativa econômica acabou, morreu. Restaram o amor pela ditadura e esses idiotas que saem por aí ameaçando desafetos nas ruas com sua mordida hidrófoba. Mas volto ao ponto.

Lula está cumprindo ao menos uma de suas promessas mirabolantes: acabar com a elite brasileira — com qualquer uma, em qualquer área. Está em curso uma evidente marcha do emburrecimento, da qual, nem poderia ser diferente, ele é o líder. Eu o imagino no quadro de Delacroix em lugar da Liberdade, que carrega uma bandeira, com os seios nus. Título: A Ignorância Guiando o Povo. O rebaixamento a que esse sujeito submete a política e a sua contribuição à deseducação democrática ainda não mereceram a devida atenção científica — dos cientistas sociais; daquela parcela que ainda resiste à ditadura intelectual do partido. Por que isso tudo?

Nesta terça, tivemos um dia realmente exemplar do espírito do tempo. As personagens de destaque foram o próprio Lula e o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Vamos ver.

Numa manobra vexaminosa — contando com a pressurosa ajuda de seu aliado petista Tião Viana (AC), que presidia a Mesa —, Collor conseguiu aprovar, na quinta-feira passada, um requerimento para que o TCU investigue a compra de 1.200 iPads feita pela Procuradoria Geral da República. O alvo, mais uma vez, é Roberto Gurgel. O impichado tenta vingar-se do procurador-geral, de quem é desafeto, fazendo a vontade também do PT, para quem opera hoje quando não está cuidando exclusivamente de questões pessoais ou paroquiais.

Em 1992, como todos sabem ou se lembram, os petistas ajudaram a incendiar o país contra “o caçador de marajás”, que não resistiu. Hoje, são companheiros de jornada, parceiros, amigos. Quem mudou? Nem um nem outro. Ambos seguem sendo o que sempre foram.

Pois bem. Gurgel, acusado por Collor, fez o óbvio: defendeu-se. Chamou de risíveis as suspeitas. E como reagiu aquele senhor que dava murros no peito na década de 90 e dizia ter “aquilo roxo”? Ora, saiu ofendendo e vociferando, como é de seu feitio. Arrancou a pistola retórica, que traz sempre na cinta — não deixa de ser um avanço moral no seu caso —, e disparou:
“Ele [Gurgel] tem que calar a boca. Ele e a sua trupe corporativista de êmulos [rivais]. Agora é o Senado que quer saber de tudo. Por isso, cale a boca e espere o TCU dar a palavra final. Só ele é capaz de dizer se o senhor prevaricou ou não. Se cometeu mais um ilícito a acrescentar ao seu portfólio criminoso”.

Collor é valentão assim porque tem a imunidade parlamentar. Age como um pivete inimputável, que traz de cor e salteado trechos do Estatuto da Criança e do Adolescente para cometer crimes impunemente. É, nesse caso, um pivete ético. Quais são os crimes, afinal, do procurador-geral da República? Que seja Collor a se comportar como o seu Catão, eis uma ironia macabra. Esse é mais um dos vampiros do republicanismo aos quais o PT garantiu farto suprimento de sangue. Por quê? Porque quiseram as circunstâncias históricas e políticas, não sem a colaboração de setores da oposição e, sim!, da imprensa, que o velho e o novo patrimonialismos se estreitassem, como disse o poeta, “num abraço insano”.

No mesmo dia, a mesma fala!
Collor não foi o único a mandar um desafeto calar a boca. Nesta mesma terça, referindo-se ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Lula afirmou:
“Eu acho que o Fernando Henrique Cardoso deveria, no mínimo, ficar quieto. O que ele deveria fazer é contribuir para a Dilma continuar a governar o Brasil bem, ou seja, deixa ela trabalhar.”

Então ficamos assim: o PT lança um livreto eivado de mentiras sobre o governo do antecessor, e Lula acha que ao agredido não cabe nem mesmo o direito de defesa. Notem: para ele, FHC deveria “no mínimo, ficar quieto”. Ou por outra: essa é a menor das coisas que ele espera do antecessor: o silêncio obsequioso. Imagino a noção que deve ter do “máximo”. Mais: o presidente de honra do partido de oposição, segundo o Apedeuta, tem é de “contribuir” com o governo. Claro! É o que Lula sempre fez quando estava na oposição, certo? Impressionante!

Impressionante, mas não inesperado. Se há alguém “nestepaiz” que tem defendido, ao longo dos anos, que a oposição diga a que veio, este alguém é este escriba. Mas me parece evidente que os tucanos cometeram um erro e morderam a isca ao responder ao embate de caráter eleitoral proposto por Lula desde agora. Esse é o ambiente do Apedeuta. Fica mais feliz do que pinto no lixo. Pode sair por aí, distribuindo suas caneladas e rearrajando precocemente as forças governistas (ver post a respeito). As ineficiências do governo perderam lugar no noticiário para o embate eleitoreiro com quase dois anos de antecedência. Quem ganha com isso? Não é o povo!

Por Reinaldo Azevedo

 

Ciro Gomes nos convida a ficar com o lado que abriga um “ajuntamento de assaltantes”?

Ai, ai… Ciro Gomes é mesmo um político singular. Hoje tirei o dia para tratar de singularidades… Karl Marx — sim, o velho barbudo e furunculoso, aquele… — tinha uma relação de amor e ódio com Ferdinand Lassale (1825-1864). Tinham lá suas diferenças sobre os rumos da social-democracia. Acho que foi num texto de Edmund Wilson que li uma definição de Marx sobre o seu amigo-desafeto: “caos de ideias claras”. Marx era um bom frasista, e a expressão, admitamos, é boa pra chuchu. Quantas vezes, ouvindo alguém de quem discordamos no conjunto, podemos isolar verdades parciais, que, no entanto, não compõem um todo coerente?

Sempre adaptando a frase às circunstâncias, é evidente!, Ciro Gomes pode, na melhor das hipóteses, ser definido como um “caos de ideias claras”  — às vezes, também as ideias são confusas, é bom deixar claro.

Muito bem! Ele foi convidado a dar uma palestra a empresários baianos. Como é de seu feitio — informa Nelson Barros Neto, na Folha Online —, falou de tudo um pouco, enxergou o mundo de cima pra baixo e foi sentencioso. Reiterou que Eduardo Campos, governador de Pernambuco e chefe máximo de seu partido, o PSB, não está preparado para disputar a Presidência. E ele o fez onde? Na Bahia, maior colégio eleitoral do Nordeste, região em que Dilma perdeu prestígio e em que, por óbvio, Campos pretende crescer antes de tomar uma decisão. Ser um caos de ideias claras não quer dizer ausência de cálculo. Ciro estava trabalhando.

Muito bem. O que disse ele?

Afirmou que a presidente Dilma Rousseff, cuja reeleição ele apoia, dificilmente escapará de uma aliança com o PMDB de Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves. “Se escapar, eu quero o santo dela para trocar o da minha devoção. Eu não acredito que escape”, afirmou nesta terça, antes da palestra. Sobre o partido, ele já afirmou não faz tempo: “Hoje, quem manda no PMDB não tem o menor escrúpulo: nem ético, nem republicano nem compromisso público. Nada! É um ajuntamento de assaltantes”.

Muito bem! Lula já bateu o martelo e decidiu que Michel Temer será, de novo, o candidato a vice na chapa de Dilma. Então ficamos assim: a serviço da dupla Lula-Dilma, Ciro ataca um possível candidato de seu próprio partido em favor da coligação que engloba o que ele próprio chama da “ajuntamento de assaltantes”.  Para mostrar, no entanto, que não condescende com ninguém — o que é falso —, faz a crítica ao PMDB. Mesmo em companhia do “ajuntamento de assaltantes”, ele disse que a presidente está “qualificada para concorrer à reeleição”.

Assim, leitor, você pode estar entre aqueles que concordam com Ciro no juízo que faz do PMDB, certo? Mas, quando ele se junta a Dilma, apesar disso, como concordar??? Quando ele acusa aquele partido, expressa uma opinião — que, admita-se, não é só dele. Quando, ainda assim, ele diz “é com essa que eu vou”, aí já nos propõe uma saída ética, não? “Mesmo com ajuntamento de assaltantes, estou nessa!” Alguma falha lógica no que escrevo?

Vamos seguir.

Segundo a reportagem, ele insistiu que Campos não tem propostas para o país. Marina Silva e Aécio Neves padeceriam do mesmo mal, embora ele reconheça nos três “todos os dotes e qualificações pessoais”.

Vamos tentando ver para onde nos leva o caos de eventuais ideias claras de Ciro Gomes. Ele certamente considera Dilma dotadas dessas mesmas virtudes pessoais. Como está com a presidente, suponho que entenda ter ela uma “proposta para o país”. Tá… Não obstante, terá, se reeleita, a exemplo do que ocorre hoje, sempre segundo Ciro, de dividir o poder com um “ajuntamento de assaltantes”. Disso deriva que, para podermos ter um governo viável (sempre acompanhando o Lassale de Sobral), é preciso que nos entreguemos a um “ajuntamento de assaltantes”. Seríamos, na visão de Ciro, reféns de criminosos mais ou menos como acontece nos morros e nas periferias das grandes cidades.

Adiante.

Reserva estas palavras para Marina Silva:
“A Marina pegou o lugar que era nosso [do PSB]. Só por essa negação, essa ética católica, essa posição evangélica, enfim… Tem uma turma aí que está desacreditada da política. Ela quer explorar isso, né”.

Hannn… Marina, se levada a sério pela maioria do eleitorado, seria perigosa não por causa da “ética católica” ou “evangélica” (se é que sei do que fala Ciro), mas do que propõe (a parte compreensível ao menos) para o Brasil. É claro que ela explora o mal-estar provocado pelos pistoleiros — ocorre que os pistoleiros existem. Ou não?

Sobre Aécio Neves, diz que o tucano pretende “aproveitar a estrutura orgânica do conservadorismo brasileiro”. Como alguém que torce pela derrota do PT, exclamo: “Quem dera!!!” Nem Aécio nem o PSDB como um todo querem conversa com o “conservadorismo”. Numa democracia em moldes tradicionais, e a nossa não é, essa análise poderia fazer sentido, e não haveria mal nenhum nisso — partidos, em todos os países democráticos, se organizam para falar aos conservadores também. Mas esse não é o PSDB.

Até porque, se Ciro fosse colocar um pouquinho de economia em seus juízos de valor, teria de dizer quem são e onde estão os “conservadores” brasileiros. É o capital industrial? Os potentados estão com o PT (porque o PT está com o BNDES…). É o capital financeiro? Os outros potentados estão com o PT porque o PT oferece, sendo genérico e sintético, as melhores taxas. Quem são os “conservadores”, Ciro Gomes?

Nota-se, assim, como o dito, que o caos de ideias claras de Ciro Gomes abriga, também, ideias confusas.

Por Reinaldo Azevedo

 

Patriota vai ao Senado tentar explicar dossiê contra Yoani

Na VEJA.com:
Governo e oposição fecharam um acordo nesta terça-feira para que o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, compareça ao Senado para explicar a participação de um assessor da Presidência da República na reunião em que foi discutido um plano para tentar desmoralizar a blogueira Yoani Sánchez durante sua visita ao Brasil. Patriota confirmou a líderes de partidos governistas que irá ao Congresso, mas a data ainda não foi definida.

Conforme revelou VEJA, militantes do PT, PCdoB e filiados à CUT participaram de uma reunião na embaixada de Cuba em Brasília, no início do mês, e receberam instruções do embaixador Carlos Zamora Rodríguez para tentar desqualificar a ativista. O coordenador-geral de Novas Mídias da Secretaria-Geral da Presidência da República, Ricardo Poppi Martins, participou do encontro e também recebeu um dossiê contra ela.

Durante a passagem pelo país, Yoani enfrentou protestos de baderneiros em São Paulo, Pernambuco, Brasília e na Bahia. Ao deixar o país, após uma visita de dois dias ao Rio de Janeiro, a blogueira ironizou as manifestações no Twitter: “Por dois dias, não houve manifestantes contra mim. Não se manifestaram no Rio de Janeiro. O que houve? Não pagaram a passagem para eles?”, escreveu.

Por Reinaldo Azevedo

 

O que o senador Suplicy não escreveu e o que escreveu

Pois é… Dizem que pego no pé do senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Bobagem! Eu não pego no pé de ninguém. Digo o que penso — pode acontecer, às vezes, de ser até a favor… “Mas nunca a favor da esquerda, né?” Huuummm… Vamos ver. Dilma é de esquerda? Ela assina a MP dos Portos, por exemplo. Eu sou favorável. A favor de Dilma e da esquerda? Não! Da MP dos Portos, que privilegia a eficiência. Sigamos.

Recebi aqui uma mensagem atribuída ao senador Suplicy que desancava Yoani Sánchez em termos que me pareciam inaceitáveis. Eu discordo, e já deixei isso claro, da sua abordagem sobre a blogueira, mas entendi que ele jamais teria escrito aquele troço, que me pareceu indigno. Fosse de sua lavra, eu teria, com a velocidade de uma metáfora, avançado no pescoço dele.

Liguei pra ele para tirar a dúvida. Tudo tinha sido uma confusão. O jornal “O Dia”, do Rio, segundo ele me disse (e está lá no site), havia pedido a ele um pequeno texto sobre a visita da blogueira cubana. E fez a mesma encomenda a alguém muito mais à  sua esquerda —  o autor, então, das indignidades. Nota à margem: é a forma que a pluralidade toma nos nossos dias: esquerda X extrema esquerda. Que coisa! Adiante.

O jornal fez besteira e atribuiu ao senador o texto que não era dele. Assim, ofensas a Yoani que circulam na rede, atribuídas a Suplicy, não são de sua autoria. O texto do parlamentar petista é o que segue em vermelho. Leiam. Volto depois.
*
A visita de Yoani Sánchez ao Brasil, como resultado da nova Lei de Migrações de Cuba, poderá se constituir num sinal muito importante para que o presidente Barack Obama caminhe para encerrar o embargo à ilha e enfim fechar a Prisão de Guantánamo. Eis por que considero erro grave as ofensas contra ela na passagem por Recife, Salvador, Feira de Santana, Brasília e São Paulo, não tanto no Rio, com a finalidade de impedir que expressasse seu ponto de vista sobre o que se passa em Cuba.

Enquanto alguns manifestantes tentavam impedir que ela falasse para número muito maior de pessoas que queriam ouvi-la, fazendo com que a visita acabasse tendo muito mais repercussão, ela o fez com tranquilidade, sem jamais ofender. Rebateu a denúncia de que seria gente da CIA, pois de outro modo nem poderia andar normalmente em Cuba. Explicou que sua viagem foi paga pelos que quiseram ouvir seu testemunho.

Para todos, como eu, que participamos da fundação do PT e que desde o início defendemos uma sociedade justa e com direitos à cidadania para todos, é fundamental que digamos aos amigos cubanos que lá se lute por democracia e liberdade de expressão. Ao ler as crônicas de Yoani sobre o cotidiano em Cuba, sobre o que se passa com o fornecimento de produtos e serviços ou, no campo cultura, observo que as suas críticas são muito menos ferinas do que os discursos que diariamente escuto os senadores da oposição no Brasil.

Yoani foi convidada a visitar os EUA. Será a oportunidade para que Barack Obama e os congressistas possam ouvir os argumentos expressos por Yoani de por que não faz mais sentido continuar o embargo.

Senador pelo PT-SP

Voltei
Há coisas certas no texto, como a defesa da liberdade de expressão. E há coisas muito erradas. A visita de Yoani não guarda qualquer relação com a questão do embargo ou o fechamento da prisão de Guantánamo. Certamente sem querer,  o senador afirmou que considera um “erro grave” as ofensas a ela dirigidas porque, entende-se, ela seria uma espécie de símbolo ou porta-voz de ideias boas e/ou progressistas. Eu estou entre aqueles que acreditam que devem ter direito de falar mesmo as pessoas de cujas ideias discordamos.  O senador deve conhecer o que disse Rosa Luxemburgo quando percebeu que Lênin (sim, com o apoio de Trostky) iria passar o trator sobre os que divergiam dele, ainda que favoráveis à revolução: “: “Liberdade é, apenas e exclusivamente, a liberdade dos que pensam de modo diferente”. Assim, ainda que Yoani viesse aqui defender o embargo, deveria ter sido ouvida com respeito. E, se fosse o caso, contestada.

Também não é verdade que as dificuldades de abastecimento vividas pelo povo cubano guardem relação com o embargo. Hoje, ele é mera questão simbólica. Cuba pode importar papel higiênico do Brasil se quiser, para ficar num exemplo abaixo da linha de cintura do prosaico, e os EUA nada poderiam fazer. O ponto é outro. Se o embargo acabar amanhã e persistir o modelo político e econômico em curso, nada muda na vida de ninguém.

“Pô, Reinaldo, por que você não critica a outra opinião, aquela que não era de Suplicy,  da qual você discorda na totalidade?” Porque não passa de um delírio estúpido, que justifica as violências de que ela foi vítima. Espantoso é que a grande imprensa dê curso a teses que tentam transformar manifestações fascistas em atos aceitáveis.

Está aí. Ajudei o senador a se livrar de absurdos que não escreveu e contestei parte do que ele de fato escreveu e falou. Nessa madrugada, fiz isso com FHC. É assim que as coisas funcionam na democracia.

Por Reinaldo Azevedo

 

FHC está certo. Mas também nunca esteve tão errado. Ou: Ainda sem eixo, PSDB morde a isca lulista

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou nesta segunda, no seminário “Minas Pensa o Brasil”, promovido pelo PSDB, que a presidente Dilma Rousseff “é ingrata” e que “cospe no prato em que comeu”. Disse mais, segundo leio no site do PSDB (transcrevo em vermelho):

“É preciso que o PSDB seja o partido do carinho, o partido do amor, é preciso ouvir o povo”, disse. A postura tucana, de acordo com o ex-presidente, serve de contrapartida à gestão petista, mais preocupada com o Produto Interno Bruto (PIB) do que com o atendimento aos cidadãos.

Ai, ai, ai… Vamos ver.

Este blog vai completar sete anos no dia 24 de junho. Ao longo desse tempo, está aí o arquivo, quantas vezes se apontou aqui o estelionato eleitoral do PT? Mil, duas mil, três mil? Sei lá. São 37.779 posts e 2.005.307 comentários publicados enquanto escrevo. E não me limitei apenas a acusar o estelionato — isto é, as muitas vezes em que o PT negou o seu próprio discurso e seu próprio programa. Também apontei com constância, regularidade e método a apropriação indébita — o roubo mesmo! — das propostas e de programa do adversário. Os petistas fazem isso com uma sem-cerimônia faminta, glutona, gulosa. Tomam o programa do outro, saem dançando no sapatinho e sobem no palanque. Logo no começo do governo Lula, escrevi, fazendo uma ironia, que os petistas ainda tentariam tomar para si o Plano Real. A ironia virou história. Não reivindicaram a marca porque aí já teria sido descaramento demais. Mas tomaram, sim, para si a bandeira da estabilidade. Querem outro exemplo, mais localizado? Dilma sequestrou o programa de ensino técnico que José Serra apresentou em 2010. O Bolsa Família, e isto é história, é a soma das bolsas concedidas no governo FHC. Tudo isso é apenas matéria de fato.

A regularidade da minha crítica, nesses anos, valeu-me a pecha de “tucano”, embora boa parte dos tucanos, justiça se lhes faça, fizesse questão de deixar claro, mais até do que eu próprio (que não dou bola para o que dizem a meu respeito), que eu não era, não! A maioria deles se quer mais “progressista” do que eu, à minha esquerda. Talvez até seja verdade. De toda sorte, de fato, não tenho vínculo nenhum com o partido, zero! Se certamente passou do milhar os textos em que acusei o estelionato do PT, é possível que, em quantidade idêntica, eu tenha apontado a anemia do discurso oposicionista. De fato, nunca soube zelar pela sua própria herança — e esse é apenas um dos aspectos do embate. Mas, sobretudo, se negou, em horas cruciais, a fazer política.

Pegue-se o exemplo recente da eleição para a Presidência do Senado. Todos sabiam que Renan Calheiros (PMDB-AL) venceria. O PSDB poderia ter feito qualquer coisa, menos trair o senador Pedro Taques (PDT-MT), que aceitou enfrentá-lo. E é evidente que houve traições, não é?

“Minas pensa o Brasil” em 2013? Ok. Mas o PSDB de Minas estava abraçado a seu principal adversário até outro dia na Prefeitura de Belo Horizonte, e isso era apontado como um novo jeito de fazer política. O arquivo de toda a imprensa está aí… Chegou-se mesmo a dizer que a polarização PT-PSDB refletia uma realidade paulista. Ainda me lembro de Ciro Gomes — que agora afirma que Aécio não está preparado para ser presidente — num agradável bate-papo com o então governador de Minas, a sustentar, no fim das contas, que o mal do Brasil era São Paulo; que a clivagem entre os dois partidos só interessava a este estado. Chegou-se mesmo a criar uma expressão para o cruzamento da vaca com o jumento: “Brasil pós-Lula”. À época, como vocês se lembram, cheguei a apontar a tentativa de se criar no Brasil o “Partido Único”, o PUN…

Questões relevantíssimas passaram pelo Congresso ao longo desses anos sem que se ouvisse das oposições, na esfera federal, mais do que uma voz entre administrativista e burocrática. Nos grandes embates, o PSDB, como PSDB, não compareceu para o debate. Não faz tempo, o estado de São Paulo — que é governado por um tucano, certo? — entrou no radar da pauleira petista por causa de um surto de violência e da correta política de combate ao crack. Se eu for escarafunchar, vou encontrar tucanos tentando tirar uma casquinha, criticando a gestão Alckmin…

Apear o PT
Todos sabem que considero uma necessidade democrática apear o PT do poder por intermédio das urnas. Acharia péssimo, se isso fosse possível, que uma Marina Silva o fizesse porque não troco obscurantismo por ainda mais obscurantismo. Se Aécio Neves ou qualquer outro puder fazê-lo, vou achar bom. Mas acho que as coisas estão começando muito mal, por um caminho estupidamente errado.

O seminário que, parece, serve de pré-lançamento da candidatura de Aécio se chama “Minas pensa o Brasil”.  Ok. “Minas”, tornada, então, uma categoria dotada de pensamento, tem um país na cabeça, é isso? O normal, se é para ficar nas prosopopeias, é que o Brasil pensasse Minas e… as demais 26 unidades da federação. FHC falou em “modernidade”, segundo li, na sua intervenção. A ideia de que uma onda comece num estado — eu sei que não há mar em Minas; estou metaforizando — e varra um país como um tsunami virtuoso, vênia máxima ao ex-presidente, um homem muito inteligente, é uma coisa velha. Essa entonação discursiva ficou no passado.

Nesse caso, está faltando que o sociólogo dê um puxão de orelha teórico nos seus aliados. Lula começou na política falando a linguagem da luta de classes para, depois, diluí-la na luta dos “nós” (eles) contra “eles” (nós). A sua geografia era, então, inicialmente, classista (afinal, o PT se dizia socialista) e passou a ser de “valores”, ainda que boa parte deles seja constituída de maus valores. Nesse caso, meus caros, não é sem lamentar que constato — e o faço há quase sete anos só neste blog (há muito mais tempo em outros veículos) —, os petistas deram um fabuloso olé em seus adversários. Sim, com estelionato eleitoral; sim, com mentiras; sim, com apropriação indébita… Com todas essas malandragens, não obstante, o partido não se descuidou de fazer política.

Um seminário em que “Minas pensa o Brasil”, promovido pelo PSDB, faz supor uma de duas coisas: ou toda Minas é hoje tucana, ou também pensam o Brasil os que tucanos não são. Na hipótese de que possam ser petistas — e os há, certo? —, ou estão fora desse pensamento ou perderam a sua, sei lá como chamar, “cidadania”. O PSDB pensando o Brasil, em Minas, talvez ficasse melhor, hipótese em que o leque de lideranças presente deveria ter sido ampliado.

Já sei que alguns vão mandar comentários me esculhambando e coisa e tal. Estou acostumado. Mas, se acho que desse mato não sai coelho, tenho de dizê-lo. Se a questão é “modernidade”, presidente Fernando Henrique Cardoso, não é possível que um estado pense o Brasil. Fico cá a imaginar um seminário chamado “São Paulo pensa o Brasil”… O mínimo que se diria é que os paulistas se querem donos do mundo.  Está errado.

Polarização
Constitui, ademais, erro grave, entendo, aceitar, neste momento, a pauta proposta pelo petismo. Aparecer nas páginas de política “polarizando” com o PT movimenta, quando muito, os setores interessados nos bastidores da política. Essa falsa gesta não mobiliza ninguém. As pilantragens teóricas do governo federal, que manipula, sem resistência e sem massa crítica, os números sobre a miséria promovem uma razia na inteligência.

Eis aí: o que pensa o PSDB sobre a suposta extinção da miséria no Brasil — renda per capita de pelo menos R$ 70 — e sobre a nova classe média, formada por pessoas com renda acima de R$ 300? Afirma-se isso por aí com uma espantosa sem-cerimônia. Esses pobres desgraçados desabrigados pela chuva ou tangidos pela seca, senhores, são, segundo as considerações oficiais, “classe média”! Um ou outro na imprensa ironizam os patamares de renda definidos para a classificação, mas os políticos pulam fora. Os tucanos nada dizem porque alguns de seus economistas compartilham das mesmas teses. Uma campanha eleitoral decente, entre outras coisas, teria de mostrar onde e como mora “a classe média” dos R$ 301 per capita e o “não miserável” dos R$ 70. Mas não vai acontecer.

As oposições não conseguem, insisto nesta tecla há anos, criar valores. Sem isso… Olhem como se dão as disputas nas outras democracias do mundo. Supor que se vai conseguir transformar numa ideia-força o dito “choque de gestão” de Minas, exaltado por FHC, segundo informa o site do PSDB, me parece ingenuidade. Melhor ensinar Schopenhauer para as massas.

Parece que baixou um Chalita rápido em FHC. Esse negócio de que o PSDB “tem de ser o partido do amor”, em contraposição à gestão petista, “mais preocupada com o PIB”, francamente, é bobagem. Coloco na conta do discurso feito para animar a militância. Até porque, fosse essa a clivagem, fosse mesmo uma disputa entre “o amor” e o “PIB”, eu seria petista de olhos fechados, pela simples, óbvia e boa razão de que, com PIB, a gente produz amor em penca, mas não há amor que consiga produzir PIB…

“Ih, Reinaldo está dilmando”
“Tá vendo? O Reinaldo é paulista, não gosta do Aécio, está Dilmando…” Fiquem calmos! Ainda que este “paulista” se atrevesse a “pensar o Brasil”, sou candidato apenas a ter leitores, hehe… Só votaria em Dilma Rousseff, já disse aqui, caso houvesse o risco do obscurantismo marinista chegar ao poder. Mas Deus certamente não vai me considerar digno de passar por essa provação. Votarei, com a exceção declarada, em quem se propuser a apear o PT do poder. Mas este sou eu.

Eu estou preocupado, isto sim, é com a falta de rumo do principal partido de oposição. Se eu achasse que esse discurso tem futuro, estaria mais tranquilo. Mas, sinceramente, acho que não tem. Hoje, entendo, dada a natureza do jogo, só a multiplicação de candidaturas tira de Dilma a eleição no primeiro turno.

Esse negócio de o PSDB morder a isca e apostar, desde já, na polarização só interessa a Dilma. Minas pode pensar o Brasil o quanto quiser. O problema é que tem gente que já está com o jogo mais avaçando e está “pensando”, ainda que à sua maneira torta e detestável, todo o Brasil, incluindo Minas…

Para encerrar: Dilma nem é ingrata nem cospe no prato em que comeu. Os seus ataques de agora a FHC são um método. Como eram um método os elogios feitos há dois anos. Ela o elogiou, independentemente da justeza, porque queria consolidar a imagem da soberana acima das mesquinharias. E agora começou a atacá-lo porque tem uma eleição pela frente.

Por Reinaldo Azevedo

 

Acusador de Chalita diz ter visto “malas de dinheiro”. Ou: “Ética relativa e semiótica”

Por José Ernesto Credendio e Mario Cesar Carvalho, na Folha:
O analista Roberto Leandro Grobman, 41, afirmou em entrevista à Folha ter presenciado a chegada de malas de dinheiro ao apartamento do deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP) em 2005, quando ele era secretário da Educação de São Paulo. As malas, diz ele, foram levadas ao apartamento pela advogada Marcia Alvim, uma das principais assessoras de Chalita. Na época, Grobman mantinha relacionamento com ela. “Vi Marcia trazendo malas de dinheiro. Jogava o dinheiro no chão e separava.” A Folha revelou no sábado que o Ministério Público instaurou 11 inquéritos para investigar Chalita por enriquecimento ilícito, corrupção e fraude em licitação a partir de depoimentos de Grobman. Ele diz que era assessor informal de Chalita na secretaria, com telefone, e-mail e cartão do Estado. Apresentou fotos de viagem oficial que fez com Chalita e Marcia a Paris, para evento da Unesco.

O início
Montei a empresa Interactive com Nilson Curti, superintendente do COC [grupo educacional privado], em 1999. Em 2003, fui apresentado por Chaim Zaher [ex-dono do grupo COC] a Chalita. Fui trabalhar na secretaria e tinha sala, e-mail e cartão do governo.

Estratégia
Chaim colocou pessoas de sua confiança em cargos estratégicos. O Milton Dias Leme, na diretoria da Fundação para o Desenvolvimento da Educação [FDE], o Farid Mauad, diretor da COC, no Conselho Estadual da Educação, e eu na secretaria. Era para a gente direcionar contratos do governo com o COC.
(…)
As malas
Eu ficava no apartamento de Higienópolis acompanhando a reforma. Vi a Marcia Alvim trazendo malas de dinheiro, eram malas de propagandista, de couro, grandes, grossas. Ficavam guardadas no armário espelhado em frente ao banheiro. Jogava o dinheiro no chão e separava, pagava o estúdio do programa de TV. Também levavam o dinheiro na sala do Paulo Barbosa [braço direito de Chalita, adjunto na época] na secretaria. Ele guardava num cofre verde do lado esquerdo da mesa.

O rompimento
Ele já tinha feito toda a reforma no apartamento [em Higienópolis] com dinheiro do empresariado. Eu fazia vista grossa, mas aí a Márcia me falou que ele tinha comprado o apartamento no Rio. Foi o que me fez brigar com ele. Eu fui falar que não era ético e ele respondeu que a ética é relativa, que podia provar isso para mim pela semiótica, que eu deveria calar a boca. Me senti humilhado.
(…)

Chalita nega
A assessoria de Gabriel Chalita diz que é falsa a informação de que uma assessora do deputado, Marcia Alvim, recebia dinheiro em malas. Em nota, Chalita diz que Roberto Grobman não apresentou esse dado nos depoimentos que deu aos promotores. Segundo a nota, “isso mostra que esse senhor está desesperado, já que não apresentou nenhuma prova nos quatro depoimentos já prestados. Ele será processado civil e criminalmente por mais essa acusação”. Mais aqui.

Por Reinaldo Azevedo

 

Três dias depois de Ciro Gomes ter atacado Eduardo Campos, Dilma recebe Cid, o irmão, no Palácio

No Estadão:

Em estratégia articulada com seu padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff começa a atuar para minar as pretensões do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, de se tornar seu possível adversário em 2014. Em meio a confrontos explícitos de duas alas do PSB, Dilma recebe hoje o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), no Planalto.

O encontro ocorre quarenta e oito horas depois das declarações do ex-ministro Ciro Gomes, que é irmão de Cid e criticou Campos (PSB), dizendo não ver nele um político preparado para comandar o Brasil. Lula também vai se reunir com Cid, na quinta-feira, em Fortaleza. Quer o apoio do governador para a reeleição de Dilma.

“Eduardo Campos, Aécio e Marina não têm nenhuma proposta, nenhuma visão”, afirmou o polêmico Ciro Gomes à rádio “Verdes Mares” no sábado, desqualificando também o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e a ex-ministra Marina Silva (Rede Sustentabilidade), outros potenciais adversários de Dilma.

Apesar de muito irritado, Campos preferiu não polemizar com o correligionário. “Discordo da opinião dele e essa não é a opinião do partido”, reagiu o presidente do PSB ontem, depois de fazer palestra na abertura de seminário promovido pela revista Carta Capital, no Recife, com o tema “Nordeste: como enfrentar as dores do crescimento”.

“Isso não é nenhuma novidade. Ele (Ciro) vem falando isso, só que desta vez falou em relação a Dilma, a Aécio, a Marina, a todos”, desconversou Eduardo Campos. O vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, lamentou o que definiu como “opinião desinformada” de Ciro sobre Eduardo Campos.

Indagado se o caminho de Ciro será a saída do PSB, Campos observou que o partido é democrático e as pessoas têm o direito de ter suas opiniões. “Mas o debate sobre o que o partido vai fazer ou deixar de fazer deve ser travado no momento certo, nas instâncias certas”, ponderou.

Apesar de a cúpula do PSB classificar a crítica de Ciro como “voz isolada no partido”, há uma ala da legenda dominada pelos irmãos Gomes. Nesse cenário, a ação de Lula e Dilma dá força política a Cid e Ciro justamente no momento em que Eduardo Campos começa a se movimentar para a sucessão de 2014.

O jogo, porém, não é tão simples assim. Dois ministros ouvidos pelo Estado consideraram arriscada a estratégia de prestigiar os irmãos Gomes como contraponto ao governador de Pernambuco e disseram que Lula e a presidente vão agir “no fio da navalha” para não melindrar nenhum dos lados do PSB, que integra a base aliada.
(…) 

Por Reinaldo Azevedo

 

Casos de dengue triplicam em 2013, mas ministro do PT, que é nosso “brother”, não tem nada com isso…

Definitivamente, não vivemos tempos convencionais. Há fatos que parecem se dar numa realidade paralela. A ligeireza com que os petistas, com o beneplácito da imprensa, se livram de suas responsabilidades e transferem culpas é um troço assombroso. O exemplo que chega às raias da poesia é Fernando Haddad. Ele já decidiu que não vai mostrar a cara enquanto chover na cidade de São Paulo. Seus secretários vêm a público, culpam Gilberto Kassab, que é seu aliado — parece parte de uma combinação, o que explica o ex-prefeito não reagir —, e prometem soluções. Haddad, de fato, não faz chover. Mas por que a culpa seria do outro?  “Ah, porque faltaram obras…” Quando é que todas as obras contra enchentes serão feitas? Para “resolver”, só fazendo Stálin voltar do inferno para forçar que alguns milhões, debaixo de porrete, como era de costume, deixassem áreas inundáveis e de risco. Mas não quero me perder nesse particular.

Os casos de dengue triplicaram em 2013. O combate à infestação tem, sim, uma dimensão municipal. Todos sabem disso. Mas a coordenação é, como também é sabido, federal. Logo, constatado o desastre, o mínimo que se deve fazer é cobrar uma providência do governo. É o que faz com qualquer partido. O PT está no poder há dez anos. Quem não se lembra dos “mata-mosquitos” perseguindo o tucano José Serra em 2002? A situação era muito menos grave do que agora, e a imprensa foi a primeira a jogar os casos de dengue nas costas do Ministério da Saúde — e do candidato.

Vi Alexandre Padilha no Jornal Nacional. Ele está abaixo, numa notícia do Estadão. Para falar o quê? Para nos advertir. Como quem não tivesse nada a ver com o peixe nem com o mosquito, ele advertiu que a coisa está só no começo, dando a entender que vai piorar. No fim das contas, voltamos àquele padrão: é culpa do vasinho, do pneu, da caixa d’água…

Sim, isso tudo conta, mas é evidente que há uma supestimação desses fatores. Ainda que se zerem dos quintais os criadouros de mosquito, eles estarão logo ali, na aguinha que fica parada nas plantas, nas poças d’água que se formam. E os malditos voam, não é? É CLARO QUE AINDA NÃO SE CONSEGUIU FAZER UM TRABALHO ADEQUADO DE SAÚDE PÚBLICA NESSA ÁREA. Mas nada se deve cobrar de Padilha. Fosse tucano, estaria no paredão. Ele é nosso mano, é nosso “brother”, também está preocupado. Se lastimo o tratamento da imprensa, parabenizo o ministro pela eficiência de sua assessoria. Vi a reportagem, li alguns textos, e me senti tentado a achar que eu sou mais responsável pelo combate à dengue do que ele próprio. Isso é que é exercício de cidadania! 

Leiam o que informa o Estadão Online, por Lígia Formenti:
O número de casos de dengue triplicou em 2013 quando comparado com o mesmo período do ano passado. Até agora, foram confirmados 204.650 pacientes com a doença. Em 2012, foram 70.489. A epidemia já atinge os Estados do Acre, Tocantins, Mato Grosso do Sul , Mato Grosso e Goiás.

“A luta está só começando”, advertiu o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Além do aumento de casos, o Ministério da Saúde alerta que o número de cidades com criadouros do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti, cresceu de forma significativa.

O mais recente Levantamento de Índice Rápido de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa) mostra que em janeiro 267 municípios apresentavam situação de risco para a dengue. Ano passado, 146 estavam nesta situação. O número de municípios classificados como em nível de alerta também subiu de 384 para 487.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Ah, agora entendi o que a OAB estava fazendo enquanto silenciava sobre as violações ao estado de direito…

Então…

Vejam este índio num lixão.

 O que ele faz aí?  Já chego lá.

Eu sou mesmo mau como um pica-pau. E injusto. Critiquei aqui o silêncio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que viu a Constituição ser rasgada nas ruas pelos idiotas que foram hostilizar Yoani Sánchez e se calou. Pior: constatou que um funcionário graduado do governo participou da conspiração para difamá-la e se calou também. Mais grave ainda: ficou sabendo que o embaixador cubano no Brasil confessou que agentes do regime comunista da ilha atuavam livremente por aqui, ao arrepio da lei, e se calou mais uma vez. Eis a OAB, de tão gloriosas tradições em defesa da democracia. Mas agora entendi tudo: a Ordem estavam muito ocupada. No sábado, em Roraima, estava empenhada na criação da Comissão que vai cuidar dos direitos dos indígenas. A sua presidente, já é empossada, é a advogada Joênia Bastista de Carvalho — que é de origem indígena.

Vocês conhecem Joênia. Ela fez parte da banca que defendeu a expulsão dos arrozeiros de Raposa Serra do Sol. Em sua homenagem, escrevi, no dia 28 de agosto de 2008, o texto Joênia morena, Joênia, você se pintou.  Reproduzo em azul só um trechinho para voltar a 2013:

Quando vi Joênia Batista Carvalho no STF com o rosto pintado, advogada e “índia”, confesso que também senti uma coisa: acídia! Não sabem o que é? Procurem por “acédia” no Houaiss. Uma certa moleza, prostração… Uma wapichana chamada Batista Carvalho já renderia um pequeno tratado sobre o processo de colonização e miscigenação no Brasil. Eu não sabia se acendia uma fogueira na sala e começava a bater o pé no chão para acordar os mortos (as danças festivas são diferentes: nesse caso, você deve bater o pé no chão…) ou se pegava a Constituição. Na dúvida, fiquei ali, inerte, mesmerizado por aquele espetáculo. Era uma representação brechtiana, ciente de sua farsa? Era um troço stanilavskiano, com a personagem realmente completamente dentro do papel? Ou era só Arrelia?
Joênia advogada é fruto da chegada à região da detestável “civilização”, já que é formada em direito pela Universidade Federal de Roraima. Os índios de Raposa Serra do Sol não vivem mais da pesca, a não ser aquela que se faz nas águas turvas e perturbadas da antropologia da reparação. Mandou bala: “A terra indígena não é só a casa onde se mora, é o local onde se caça, onde se pesca, onde se caminha. A terra não é um espaço de agora, mas um espaço para sempre”. Nem que tivesse combinado com o ministro Ayres Britto, relator da questão, teria havido tamanha identidade: ele disse que a “terra indígena” é um ente. E exaltou, em nossos silvícolas, que ele chama “aborígines”, a harmonia entre homem e natureza.
Tanto Joênia quanto Britto — além da parcela “indianista” da imprensa — querem nos fazer crer que os ditos índios de Raposa Serra do Sol vivem como… índios. Pois é… Alguns mentem de caso pensado porque obterão benefícios se a farsa prosperar. Outros embarcam numa ilusão porque acreditam estar fazendo, de algum modo, justiça histórica.
O país dá, assim, curso a uma fantasia de resultados desastrosos. Reitero: o país reserva 13% do território nacional a, no máximo, 750 mil índios (0,41% da população) — boa parte já integrada à nossa cultura. E quais são os benefícios dessa política? Por acaso os índios conquistaram algum forma de autonomia econômica? Conseguem viver por seus próprios meios? Não! Mas, ao menos, preserva-se a terra onde estão? Também não. Boa parte delas acaba sendo invadida por madeireiras, garimpeiros e toda sorte de bandoleiros — e com a conivência dos índios.
(…)

Volto a 2013
A reivindicação para que os arrozeiros e brancos no geral deixassem a região — e eles foram expulsos de lá, inclusive casais mistos, formados de brancos e índios! — era de uma parcela radicalizada dos índios, diga-se, que estava sob a influência do Conselho Indigenista Missionário e de uma ONG financiada por entidades estrangeiras, com destaque para a Fundação Ford. Hoje em dia, não se produz mais arroz por lá. As fazendas foram abandonadas. Uma parcela dos moradores da reserva deixou o local por falta de trabalho e foi morar numa favela em Boa Vista.

Em maio de 2011, VEJA voltou a região e constatou o desastre. Há índios trabalhando num lixão, como Adalto da Silva, aquele da foto. Morava na reserva. Com o fim dos arrozais, teve de ir embora. Hoje, mora na favela. E daí? A Fundação Ford está feliz. Os padrecos do Conselho Indigenista Missionário estão felizes — afinal, para eles, basta que todos sejam igual e miseravelmente “filhos de Deus”; esse Deus, lamento!, é Anhangá!!! Os ongueiros estão felizes, e os novos coronéis de um belo pedaço do território nacional estão felizes. E a AOB? Direitos de famílias que estavam na região havia mais de 200 anos foram para o lixo. A entidade não moveu uma palha. Ao contrário: continua a pintar o rosto e a botar na cabeça um cocar da 25 de março e a se apresentar para o carnavalização do politicamente correto.

Mandando a lógica ir tomar um café na esquina, afirmou o presidente da OAB: “O objetivo é dar atenção especial às minorias, já que proteger os direitos fundamentais da pessoa humana é uma das missões da OAB”. Como é que é, doutor? Essa lógica vem de onde? Vamos tentar de novo: então o objetivo é dar atenção ESPECIAL às minorias JÁ QUE proteger os direitos etc. é uma das missões da OAB????  O que faz, doutor, a LOCUÇÃO CONJUNTIVA CAUSAL “já que” em sua frase? Sou paciente. Também procuro ser didático.

Atentem para esta frase:
“O objetivo é dar atenção especial às MAIORIAS, já que proteger os direitos fundamentais da pessoa humana é uma das missões da OAB”.
Essa frase faz sentido, presidente? Respondo: Não! A exemplo da sua. Os direitos “fundamentais da pessoa humana”, doutor, se fundamentais são, não se restringem a “maiorias” ou “minorias”. Sem querer chateá-lo demais, proponho uma questão: agredir os direitos fundamentais de uma “maioria” em benefício de uma “minoria”, na sua opinião, é o quê?
a) agressão a direitos fundamentais;
b) uma poesia humanista.

Não sei se me fiz entender. Acho que sim.

Na origem desse conversa toda está a PEC 215, que tramita na Câmara, que torna competência do Congresso a demarcação de terras indígenas. Uma outra, a 38, que está no Senado, atribui tal função àquela Casa. Segundo a Constituição, a tarefa hoje é do Poder Executivo, por intermédio da Funai.

Bem, bem, bem…  José Eduardo Cardozo já andou dizendo que tais PECs são inconstitucionais. Parece que a OAB também vai entrar nessa. A sigla PEC quer dizer justamente “Proposta de Emenda Constitucional”. A menos que elas agridam uma das cláusulas pétreas da Constituição, e não parece ser o caso, é o instrumento adequado para mudar o que está na Carta.

Nada menos de 13% do território brasileiro estão hoje destinados a reservas indígenas — pouco mais de 700 mil pessoas. Uma boa parcela vive fora dessas áreas. É uma quantidade de terra fabulosa. A esmagadora maioria dos índios, no entanto, está na miséria. E a grande reivindicação, no fim das contas, é para que tudo fique como está, mas com ainda mais terras. E que se acrescente: os grandes responsáveis pela invasão das reservas por madeireiras e pelo garimpo ilegal são os próprios índios. E não! Não é por ignorância! Trata-se de negócios mesmo!

Não! Não tenho nada contra, em si, a que a OAB faça comissões disso e daquilo. Eu critico, isto sim, alguns juízos tortos, como aquele expresso pelo presidente da entidade. Eu critico, isto sim, o que chamo de apego preguiçoso, já que irrefletido, a uma causa porque, afinal, compõe o coquetel do politicamente correto.

Uma OAB digna deste nome formaria uma comissão para saber em que resultou a intervenção feita em Raposa Serra do Sol. Respondo: miséria, agressão a direitos adquiridos e, acreditem!, racismo! Casais mistos tiveram de deixar suas respectivas casas ou, então, se separar. Depois das correntes que querem achar o direito na rua, a OAB decidiu achar o direito na taba. Continuo firme no propósito de achar o direito na lei.

Por Reinaldo Azevedo

 

da coluna Direto ao Ponto, de Augusto Nunes:

Depois do pobre que vira classe média sem sair da pobreza, o Brasil Maravilha inventou o ex-miserável que continua paupérrimo. Vai acabar inventando o mendigo magnata

Para o governo, os mendigos de São Paulo estão acima da classe média

Às vésperas da celebração dos 10 anos da Descoberta dos Cofres Federais, a presidente da República animou a quermesse do PT com outra notícia assombrosa: falta muito pouco para a completa erradicação da miséria em território nacional. “Mais 2,5 milhões de brasileiras e brasileiros estão deixando a extrema pobreza”, informou Dilma Rousseff em 17 de fevereiro.

Eram os últimos indigentes cadastrados pelo governo federal. Graças aos trocados distribuídos pelo programa Brasil Carinhoso, todos passaram a ganhar R$ 71 por mês. E só é miserável quem ganha menos de R$ 70. Passou disso, é pobre. Nesta segunda-feira, depois de cumprimentar-se pela façanha, Dilma reiterou que o miserável-brasileiro só não é uma espécie extinta porque cerca de 500 mil famílias em situação de pobreza extrema estão fora do chamado Cadastro Único de Programas Sociais.

Como nem sabe quem são, quantos são e onde moram esses miseráveis recalcitrantes, o governo ainda não pôde transferi-los para a divisão superior. “O Estado não deve esperar que essas pessoas em situação de pobreza extrema batam à nossa porta para que nós os encontremos”, repetiu no Café com a Presidenta. Até dezembro de 2014, prometeu, o governo encontrará um por um.

Queiram ou não, estejam onde estiverem ─ num cafundó da Amazônia ou no mais remoto grotão do Centro-Oeste ─, todos serão obrigados a subir na vida. Enquanto isso, perguntam os que não perderam o juízo, que tal resolver a situação dos incontáveis pedintes visíveis a olho nu, o dia inteiro, nas esquinas mais movimentadas de todo o país?

O que espera a supergerente de araque para estender os braços do governo às mãos de crianças que vendem balas, jovens com malabares, adultos que limpam parabrisas sem pedir licença, mulheres que sobraçam bebês, velhos hemiplégicos e outros passageiros do último vagão? Porque não são miseráveis, informam os especialistas em ilusionismo estatístico a serviço dos farsantes no poder.

Desde maio de 2012, por decisão do Planalto, vigora a pirâmide social redesenhada pelo ministro Wellington Moreira Franco, chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Segundo esse monumento ao cinismo, a faixa dos miseráveis abrange quem ganha individualmente entre zero e R$ 70 reais. A pobreza vai de R$ 71 a R$ 250. A classe média começa em R$ 251 e a acaba em R$ 850.

Os que embolsam mais de R$ 851 são ricos, e é nessa categoria que se enquadram milhares de seres andrajosos que se plantam de manhã à noite nos principais cruzamentos. Em São Paulo, esmolando oito horas por dia, cada um ganha de R$ 35 a R$ 40. Quase todos rondam os R$ 1.200 por mês. São, portanto, pedintes de classe média. Caso melhorem a produtividade, logo serão mendigos milionários.

Os analfabetos são quase 13 milhões, há mais de 30 milhões de analfabetos funcionais, a rede de ensino público está em frangalhos. Metade da população não tem acesso a serviços básicos de saneamento, o sistema de saúde pública é indecente. As três refeições diárias prometidas por Lula em fevereiro de 2003 nunca desceram do palanque, um oceano de desvalidos tenta sobreviver com dois reais e alguns centavos por dia.

De costas para o mundo real, os vigaristas no comando seguem fazendo de conta que o Primeiríssimo Mundo é aqui. O pior é que uma imensidão de vítimas do embuste parece acreditar na existência do Brasil Maravilha registrado em cartório. E vota nos gigolôs da miséria com a expressão satisfeita de quem vive numa Noruega com muito sol e Carnaval.

Essa parceria entre a esperteza e a ignorância faz milagres. Depois de inventar o pobre que sobe para a classe média sem sair da pobreza, inventou agora o ex-miserável que não tem onde cair morto. Vai acabar inventando o mendigo magnata.

(por Augusto Nunes).

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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2 comentários

  • Edison tarcisio holz Terra Roxa - PR

    sera que no tempo de lincom havia mensalão ou rose ou tanta corupsão como essa do pt ou tanta enrolasão ou tanta falcidade

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Se você não se importa com a corrupção no govêrno e acha natural, que todo mundo faria o mesmo?

    Se você pensa assim, não é parte da solução. Você faz parte do problema. [Parece que 96% dos brasileiros são deste tipo... ingenuamente]

    Pense nisso!!!

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