Lula, nadando em dinheiro privado, quer impor aos outros o financiamento público de campanha

Publicado em 12/03/2013 22:49 e atualizado em 15/05/2013 14:54
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Lula, nadando em dinheiro privado, quer impor aos outros o financiamento público de campanha

Continuo encantado com o périplo mundo afora de Luiz Inácio Lula da Silva, tudo às expensas de empreiteiras. Reitere-se: fosse ele apenas um ser privado, ok. Poderia fazer de sua  vida o que achasse melhor. Mas é evidente que as coisas não são bem assim. Continua a ser um dos homens mais poderosos do Brasil — talvez o mais —, com forte influência no Palácio do Planalto. É ele que faz e desfaz candidatos no PT, organiza as alianças políticas do partido, deflagra e dá o ritmo do processo sucessório etc. Todos querem ser, claro!, seu amigo. Agora vem o mais interessante: este encantador de empresários, este verdadeiro burguês do capital alheio, tem um sonho: o financiamento público de campanha! Essa é uma bandeira do PT.

Lula é mesmo um senhor esperto. Sai por aí, financiado pelo grande capital, lota o próprio bolso e o caixa de seu instituto de dinheiro — nem mesmo precisa prestar contas, a não ser ao Imposto de Renda —, arrecada o quanto quiser, mas quer confinar os adversários na cafua do financiamento público. Pergunto: o que ele anda fazendo Brasil e mundo afora é ou não é política?

A resposta é óbvia. Não existe financiamento público de campanha que possa coibir as suas “palestras remuneradas”, certo? Se ele quer ser animador de negócios, lobista, porta-voz de conglomerados, o que seja, que vá fundo! O que não pode é impor aos outros uma prática que ele mesmo não segue. 

Por Reinaldo Azevedo

 

Onde se esconde o “Eles” satanizado por Lula? Ou: O discurso da pilantragem política bem remunerada

Há muitos anos invoco com um certo sujeito frequentemente atacado nos discursos logorreicos de Lula. Trata-se de um sujeito simples, mas oculto; presente, mas indeterminado, reconhecível, mas ausente. Vindo do Apedeuta, haveria de ser uma revolução da sintaxe. Não tem nome, mas pronome: “Eles” — eventualmente, há a variante “as elites”, mas o Babalorixá de Banânia tem recorrido menos a essa palavra. Ele gosta mesmo é de atacar um certo “eles”, caso em que temos, então, o objeto oculto, o objeto indeterminado, o objeto reconhecível, mas ausente.

Esse “Eles” é capaz das maiores maldades. O “Eles” está sempre conspirando contra o Brasil. O “Eles” tem sempre as piores intenções. O “Eles” atua em nome de uma agenda secreta. O “Eles” é contra os benefícios aos mais pobres…

Assim, ao longo desses anos, tenho indagado: “Mas, afinal de contas, quem forma esse ‘eles’?” Quais são os nomes designados por esses pronomes? Onde estão os “quens” que lhe conferem substância política? Como transformar esse pronome do caso reto em pronome interrogativo, em pronome relativo? Impossível!

Já lhes falei aqui, em 2010, sobre um livrinho chamado “Mitos e Mitologias Políticas”, do francês Raoul Girardet. É de fácil leitura e não traz nada de especialmente fabuloso. Sua virtude principal é sistematizar com muita clareza as características do discurso da manipulação política autoritária. Leiam, abaixo as suas características e depois me digam se vocês não reconhecem aí tipos como Chávez (agora Maduro), Cristina Kirchner, Rafael Corrêa, Evo Morales — e, é evidente, Lula! Notem como todos os tiranos do século passado também seguiram rigorosamente o roteiro. Segundo Girardet, os assassinos da razão política investem nos seguintes mitos:
– prometem a Idade do Ouro;
– apresentam-se como salvadores da pátria;
– apontam uma permanente conspiração de inimigos;
– sempre alertam para o risco representado pelos estrangeiros;
– demonstram que a luta contra os inimigos implica sacrifício pessoal;
– o que deu errado é sempre culpa desses inimigos.

Todos são assim?
Aí dirá alguém: “Ah, Reinaldo, todos são assim! Isso é próprio da política!” Bem, meus caros, o Brasil mesmo demonstra que isso não é verdade. Pegue-se o caso do político que chegou ao topo sem exercitar nenhuma dessas vigarices: FHC. Apontem uma só dessas pilantragens no discurso do ex-presidente, dentro ou fora do poder. Ao contrário até: o tucano é uma espécie de fanático da racionalidade, enxergando sempre conexões lógicas e necessárias entre passado, presente e futuro; entre o antes e o depois. Já ocorreu de ser generoso demais na leitura do tal “processo”, de sorte que já chegou a ver no próprio Lula o desdobramento da era tucana. Acho isso falso. Mas fica para outra hora.

Lula, ao contrário, cumpriu à risca o roteiro (os “estrangeiros” em sua fala, são os americanos; os “brancos de olhos azuis”), com ênfase na suposta e permanente conspiração dos inimigos — aquele “eles” sujeito, aquele “eles” objeto de demonização.

Quem paga a conta?
Pois é… Nesta quarta, o Globo informou que três empreiteiras arcam com os custos da viagem de Lula à África. Reproduzo trecho de texto publicado nesta quinta na VEJA.com (em vermelho). Volto em seguida:
Três construtoras com histórico de doações eleitorais para as campanhas presidenciais petistas e de execução de obras do governo federal custearam a viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a África, encerrada na terça-feira. Lula ficou seis dias no continente e passou por Gana, Benin, Guiné Equatorial e Nigéria.
Durante a viagem, fez duas palestras custeadas por empreiteiras. A primeira, em Gana, foi paga em conjunto pela Odebrecht e pela Queiroz Galvão, além de uma empresa de seguros local chamada SIC. A segunda foi bancada pela construtora Andrade Gutierrez, que doou mais de 2 milhões de reais a Lula quando ele concorreu à reeleição, em 2006. Naquele ano, a Odebrecht injetou cerca de 200 000 reais na campanha do petista. A Queiroz Galvão não fez doações.
Em 2010, a campanha da presidente Dilma Rousseff recebeu 9,38 milhões de reais da Queiroz Galvão, 15,7 milhões da Andrade Gutierrez e 2,4 milhões da Odebrecht. A informação de que a viagem fora paga pelas empreiteiras foi publicada nesta quarta-feira pelo jornal O Globo e confirmada pelo Instituto Lula, que, no entanto, não informou os valores pagos sob a alegação de que são dados “reservados”.
(…)

Voltei
Refaço a pergunta: que nomes, afinal de contas, se escondem no pronome “Eles”? Lula, por certo, não considera que os trabalhadores sejam os inimigos. Ao contrário: ele se quer seu porta-voz. As empreiteiras, ainda as maiores financiadoras de campanhas eleitorais, também são amigas de Lula. Os grandes industriais, hoje dependentes do BNDES e das bondades “desonerantes” de Guido Mantega, não perfilam com o tal “Eles”. O setor financeiro… Bem, esse não mesmo! Quem é esse “Eles”? Onde está esse “Eles”?

A prática não é nova. No dia 30 de agosto de 2011, Sérgio Roxo, no mesmo Globo, informava (em vermelho):
Depois de uma semana dedicada a articulações políticas para a eleição do ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retoma, a partir de hoje, a vida de palestrante internacional. Contratado pelas empreiteiras OAS e Queiroz Galvão, o petista irá à Bolívia, à Costa Rica e a El Salvador. Nos três países, o ex-presidente também terá atividades políticas e se encontrará com os presidentes locais.
O tema de todas as palestras será o mesmo: integração regional e o desenvolvimento social e econômico dos países da América Latina. Lula viaja em jatos particulares bancados pelas empreiteiras e acompanhado de assessores. Ele recebe cerca de US$ 300 mil por palestra no exterior.
O giro do ex-presidente começou ontem, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde participaria à noite, com o presidente boliviano Evo Morales, de uma reunião com movimentos sociais no estádio da cidade. Hoje de manhã, pago pela OAS, Lula falará a empresários, industriais, produtores rurais e integrantes da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos. A empreiteira brasileira é responsável pela construção no país de uma estrada de US$ 415 milhões (cerca de R$ 660 milhões), que enfrenta protestos por cortar uma área indígena.

Encerro
As viagens de Lula e quem lhe paga as contas não teriam a menor importância se o PT não fizesse do estado uma extensão do partido (e também o contrário). Isso tudo seria irrelevante se ele não se colocasse — e não fosse de fato — um condestável da República. Que se virasse lá com seus financiadores! Seria mesmo irrelevante se o Apedeuta fosse hoje, com efeito, apenas um homem privado, que não se imiscui nos assuntos de Estado nem dá as cartas no partido que está no poder; se não houvesse uma fatia enorme do governo que obedece mais a seu comando do que ao de Dilma.

Ocorre que nada disso é verdade. O Apedeuta se transformou num misto de chefe de estado informal e lobista — com a graça de que nem tem o ônus da governança.

Lula está no topo da cadeia alimentar da política. Não tem predadores naturais. Mesmo assim, vive apontando a conspiração dos gnus, das zebras, dos cervos… Sempre deixando claro que pode resolver tudo com uma patada na espinha ou uma mordida na jugular. E toda a savana lhe presta reverência.

Onde, afinal de contas, se esconde o tal “Eles”?

Texto publicado originalmente às 20h39 desta quinta

Por Reinaldo Azevedo

 

Em Duque de Caxias, moradias do “Minha Casa Minha Vida” inundaram. Foram construídas em área de mangue… Ainda que Deus fosse brasileiro, como quer Dilma, teria de lutar com as leis da física…

Vejam esta área inundada.

Reproduzi num post de ontem reportagem do Jornal da Globo sobre prédios do “Minha Casa Minha Vida” destinados aos antigos moradores do Morro do Bumba, em Niterói, que ameaçam desabar antes mesmo que a construção seja concluída. Pois é. O mesmo Jornal da Globo levou ao ar ontem reportagem de Flávia Januzzi sobre casas do programa, em Duque de Caxias, que… inundam!!! A ironia: aquelas pessoas só estão ali porque moravam em… áreas de risco. Vejam as imagens. Para assistir ao vídeo, clique aqui. Reproduzo texto que está no site do jornal. Volto em seguida.
*
A chuva do fim de semana inundou os condomínios no distrito de Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias. Quatro dias depois, os moradores ainda tentam recuperar o pouco que sobrou.

São 389 casas do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, destinadas a famílias que viviam em áreas de risco ou violentas.  O projeto saiu por R$ 17,5 milhões, segundo a Caixa Econômica Federal. Os moradores pagam prestações que variam de R$ 25 a R$ 120.

Além de algumas casas encherem durante as chuvas, algumas apresentam problemas estruturais. Em uma delas, há rachaduras por todo o quarto. É um problema muito antigo, segundo o próprio morador da casa, que teve que sair.

A Caixa informou que o terreno não tinha histórico de alagamento e classificou o volume de chuvas como extraordinário. “A Caixa já esta fazendo levantamento e vamos corrigir o que tiver que ser corrigido. Os moradores terão imóveis restabelecidos a plena condição de uso”, afirma Cláudio  Martins, superintendente regional da Caixa Econômica Federal.

Na quarta-feira, o Jornal da Globo também mostrou outro conjunto habitacional do programa Minha Casa, Minha Vida, em Niterói, que também tem problemas. Dois dos 11 prédios destinados às vítimas do deslizamento no Morro do Bumba, em 2010, estão com a estrutura comprometida e terão que ser demolidos.

Em Duque de Caxias, algumas casas, ainda alagadas, já começaram a ser abandonadas pelas famílias. “Vim para cá com esperança de ter uma vida melhor, de ter uma casa melhor. Não para vir e passar o mesmo problema”, diz a dona de casa Sidnéa Fonseca da Silva.

Voltei
Se vocês assistirem ao vídeo com a íntegra da reportagem, encontrarão lá o testemunho de Idalina da Silva, que é moradora da região há mais de 30 anos. Ela assegura: “Aqui é uma área de mangue. Eu moro aqui há mais de 30 anos. Sempre alagou”.

É isto mesmo que vocês entenderam: escolheram uma área de mangue, que sempre alagou, para construir as casas. Mas a Caixa não viu problema nenhum nisso e financiou. “Ah, Reinaldo, é melhor do que morrer soterrado…” Ah, é! Vista a coisa por esse ângulo, é mesmo!

Por Reinaldo Azevedo


Prédios do “Minha Casa Minha Vida” destinados a desabrigados do Morro do Bumba podem desabar

Prédios do “Minha Casa Minha Vida”: nem foram inaugurados e já ameaça cair; construção está atrasada

Do Jornal Nacional:

Cidadãos brasileiros que sobreviveram à tragédia do Morro do Bumba, em Niterói, no estado do Rio de Janeiro, há três anos, ainda não recuperaram um teto. A construção dos apartamentos que eles receberiam parou, simplesmente porque prédios do condomínio que custou R$ 22 milhões correm risco de desabar.

As imagens das rachaduras podem ser vistas do alto. De perto, não deixam dúvidas de que a construção está em risco. Elas aparecem em pelo menos dois dos 11 prédios do conjunto habitacional no bairro Fonseca, em Niterói. São obras do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, para onde irão vítimas das chuvas que atingiram a cidade há quase três anos.

São 454 famílias do Morro do Bumba, uma favela construída em cima de um antigo lixão que desmoronou, matando 47 pessoas. Algumas, até hoje, vivem em abrigos.

As obras deveriam ficar prontas em junho. Mas a empresa responsável informou que neste momento os trabalhos estão paralisados. Um gerente da empresa afirmou que dois prédios vão ser demolidos.

“O grande acúmulo de água acabou levando o solo e acabou causando trincas no empreendimento. A gente vai demolir os prédios e fazer novamente. Não vai nem fazer reforço, não vai fazer nada. Vai colocar o chão para poder fazer de novo essa situação para ter maior segurança”, declarou Waldemar Neto, gerente da Imperial Serviços LTDA.

Cada edifício custou R$ 2 milhões. A Caixa Econômica Federal, que financia o projeto, aguarda um laudo técnico para avaliar quem vai arcar com esses gastos.

“Se se caracterizar como acidente de obra, quem paga é um seguro, porque todas as obras da casa têm um seguro, e essa seguradora será chamada para botar o recurso necessário. Ou se tiver problema de vício da construção, a construtora, como responsável técnica, que paga”, disse José Duarte, vice-presidente de Governo e Habitação.

A Imperial Serviços disse que engenheiros estão avaliando se há riscos em outros edifícios. E ainda não tem um novo prazo para a entrega da obra. A prefeitura de Niterói declarou que três mil famílias que ainda estão sem casa recebem um aluguel social pago pelo governo do estado no valor de R$ 400.

Por Reinaldo Azevedo


Dilma deslocou para Roma a Corte de Dario; se Borat estivesse por lá, teria conseguido audiência

Se Borat estivesse em Roma, teria conseguido uma audiência com a Corte Persa de Brasília…

Democracia custa caro — ditaduras ainda mais… É claro que o deslocamento da presidente a Roma e alguns dias de estadia consomem uma boa grana dos cofres públicos. É do jogo. A questão é saber se estão gastando o razoável (ou “rasoavel”, segundo a nova ortografia da Escolinha do Professor Mercadante).

A embaixada do Brasil em Roma está num período de troca de titular: o embaixador antigo saiu, e o novo ainda não chegou. Assim, informa Fabiano Maisonnave, na Folha, Dilma e parte de sua comitiva se hospedaram no luxuoso hotel Westin Excelsior, na Via Veneto. Só ali ocuparam 30 quartos. Outros 22 foram alugados em hotel próximo — 52 ao todo. A diária da suíte presidencial é de R$ 7.700; o quarto mais barato sai por R$ 910. Informa ainda a reportagem: “Já a frota alugada inclui sete veículos sedã com motorista, um carro blindado de luxo, quatro vans executivas com capacidade para 15 pessoas cada, um micro-ônibus e um veículo destinado aos seguranças.”

Caramba! E isso tudo porque Dilma, de fato, não tinha agenda nenhuma na capital italiana que não assistir à missa de entronização do papa Francisco no Vaticano. A comitiva fez um esforço para arrumar ocupação para a presidente: ela visitou uma exposição de Ticiano, encontrou-se com José Graziano, o pai do natimorto Fome Zero e hoje diretor-geral da FAO, esteve com Giorgio Napolitano, presidente da Itália, que está deixando o cargo. Tudo cortesia. Nesta terça, houve ainda um papo-relâmpago com Cristina Kirchner, que chegou sem avisar. E houve alguns minutinhos com o papa neste quarta.

Reitero: Dilma não tinha agenda de trabalho nenhuma em Roma, zero! Mesmo assim, leva tal comitiva junto que se faz necessário alugar 52 quartos e 14 veículos (segundo o Estadão, 17), o que inclui micro-ônibus, vans etc. Talvez só a Corte de Dario, no Império Persa, fosse menos modesta do que a Corte de Brasília.

Parafraseando Drummond, escrevo: “Pra que tanta gente?, pergunta o meu coração?” É bem verdade, e quase me escapa, que Dilma se reuniu também com Borut Pahor, presidente da Eslovênia, país de 2 milhões de habitantes. Só a Zona Leste da cidade de São Paulo abriga 3,6 milhões…

Os petistas classificam esse tipo de abordagem de “moralismo udenista”… Claro, claro! No dia em que Dilma se deslocar para assinar um tratado comercial verdadeiramente importante, quantos quartos serão necessários? Se, para não trazer um tostão ao país, 52 foram alugados, um acordo que nos rendesse R$ 1 já elevaria a necessidade de quartos ao infinito. Trata-se de um raciocínio puramente matemático, um saber que vai se tornando um exotismo reacionário no Brasil.

É…

A gente sabe como se dá o fenômeno da multiplicação de assessores. Vejam o caso: o ministro Antonio Patriota (Relações Exteriores) acompanhou a presidente. Faz sentido. Também estava lá Helena Chagas (Comunicação Social). Vá lá. Sempre há notícia… Mas o que fazia junto Gilberto Carvalho (secretário-geral da Presidência)? “Ah, é que é ele o católico da turma; consta que o ex-seminarista ficava explicando a Dilma os passos da missa papal”. Tá. E Aloizio Mercadante? Foi renovar os seus votos de notório militante católico? Sabem como é… Cada um desses grandes tem seus respectivos assessores, estafetas e coisa e tal. E assim vai se formando a Corte de Dario e seu séquito de eunucos…

O PPS anunciou que quer saber quanto se gastou nessa viagem. Deve solicitar informações, na verdade, sobre o custo dos deslocamentos de Dilma ao exterior. Uma das pechas que o PT colou em FHC é que ele passava tempo demais fora do Brasil…

Numa de suas primeiras manifestações públicas, o papa Francisco instou seus conterrâneos argentinos a não gostar dinheiro se deslocando para Roma. Pediu que doassem o valor correspondente aos pobres. Dilma deslocou a Corte de Dario até Roma e lá reiterou seu compromisso com os despossuídos.

Dilma esteve com o tal Borut, presidente da Eslovênia. Se o que quase xará,  Borat, estivesse em Roma, teria conseguido uma audiência com a presidente. Afinal, era preciso preencher o tempo…

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma deixou o “papa argentino” com inveja: “Deus é brasileiro!”. O custo do deslocamento da Corte de Dario

Já deveria ter escrito a respeito, mas sabem cumé… Assunto demais para Reinaldo de menos, hehe. Eu ainda estou cá a pensar na brincadeira — ela costuma ser pândega mesmo! — que a presidente Dilma Rousseff fez na quarta-feira, depois do encontro com o papa Francisco. Indagada por um jornalista sobre o que pensava do fato de Jorge Bergoglio ser argentino, ela mandou ver: “Vocês, argentinos, têm muita sorte. A gente sempre diz: ‘O papa é argentino, mas Deus é brasileiro’”. Tá.

A relação de Dilma com a língua é algo que me encanta desde o tempo em que ela foi anunciada como ministra das Minas e Energia. Chama a minha atenção aquele advérbio, o “sempre”. Hoje é apenas o nono dia do pontificado de Francisco, mas Dilma já fundou uma tradição… Assim, há longuíssimos NOVE DIAS, “a gente sempre diz” o besteirol de que o papa é argentino, mas Deus é brasileiro…

Quando a presidente fazia a sua graça, já passavam de 20 os mortos pela chuva em Petrópolis. Deus é brasileiro? Acho que não. Mas Dilma é. Sérgio Cabral é. As autoridades de Petrópolis são. O Nordeste assiste à pior seca dos últimos 40 anos — anunciadíssima, e parte do semiárido já está esfaimando. Deus é brasileiro? Acho que não. Mas todos aqueles que não tomaram as medidas preventivas para que a rotina de miséria se repetisse são brasileiros. Brasileira, mais uma vez, é Dilma, que prometeu na Paraíba o Bolsa Bode quando voltar a chover.

Eu sei que ela estava brincando, eu sei… Mas, definitivamente, é preciso parar com essa cafonice. Os brasileiros é que são brasileiros. Para o bem e para o mal, Deus não tem nada com isso.

O encontro com o papa deixou Dilma muito inspirada. Instada a dar a sua impressão pessoal sobre o Sumo Pontífice, aquela que havia viajado à Itália com uma corte maior do que a de Dario, filosofou: “Ele disse que está com o Brasil e com a América Latina. É um papa muito normal. Ele fala um portunhol e entende o português”. Entendi. De hoje em diante, para mim, o padrão da normalidade será falar portunhol e entender português. No segundo quesito ao menos, o MEC de Mercadante, o da tese-miojo, está cheio de pessoas anormais.

Tenho repetido aqui que o papa não é argentino — o então cardeal Jorge Bergoglio era. O papa é da Igreja Católica e, por definição e função, é universal, é de todo lugar. Mas eu mesmo sou tentado a achar que sobrou no Santo Padre uma ironia portenha com seus “hermanos” brasileiros.

A presidente contou que Francisco lhe deu um livro de presente com o resultado da 5ª Conferência-Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, que aconteceu em Aparecida, em 2007. Segundo a própria Dilma, ele lhe disse:“Você não precisa ler tudo porque você pode se aborrecer, então você pega o índice e vai nos assuntos que te interessam”.

O papa, pelo visto, conhece bem o espírito da turma. Deve ter-se lembrando de uma entrevista ou outra de Lula, antecessor de Dilma, que já afirmou que a leitura lhe dá sono. “É claro que esses brasileiros não vão ter paciência de ler um livro inteiro…”

Ela aproveitou o ensejo, também, para fazer campanha eleitoral. Afinal, é uma conterrânea de Deus. Afirmou ainda: “O papa é extremamente carismático e tem um compromisso com os pobres, o que torna a relação com o Brasil muito importante porque o governo brasileiro vem nos últimos dez anos focando a questão da superação da pobreza. Expliquei como é que estamos. Mas ele conhecia bem. Não houve surpresa, ele conhecia bastante bem”.

Excelente! Então esse papa tem compromisso com os pobres — os outros não tinham! E é isso que tornaria a relação com o Brasil “muito importante”. Se um dia não houver mais pobres no Brasil, a gente cassa a cidadania de Deus. Só nos últimos 10 anos — na gestão petista, portanto —, é que se travou a luta contra a pobreza. Antes, nada foi feito. Naquele tempo em que algumas forças políticas lutavam para acabar com a inflação, tendo de enfrentar a sabotagem petista, o que se fazia, claro!, era punir os pobres…

O deslocamento da Corte de Dario de Dilma Rousseff à Itália custou R$ 324 mil só em hospedagem. Coloquem aí todos os demais custos, a coisa passa fácil dos R$ 500 mil. Não foi inútil. Agora sabemos:
a: o papa é argentino, mas Deus é brasileiro;
b: o papa é uma pessoa normal porque fala portunhol e entende português;
c: o papa deu um livro a Dilma, mas apostou que ela não terá paciência para lê-lo;
d: o Brasil começou a combater a pobreza há apenas dez anos.

O papa já havia se encontrado com Cristina Kirchner e certamente achou aqueles vinte minutinhos com Dilma muito agradáveis…

Por Reinaldo Azevedo

27 mortos em Petrópolis e a dúvida de Dilma: “Se o camarada Stálin esvaziou a Chechênia inteira, por que a gente não consegue tirar à força alguns milhares de seus barracos?”

O PT sempre foi muito bom de gogó e ruim de serviço. Lá da Itália, Dilma sugeriu que é preciso ser mais duro e eficaz ao retirar os moradores das áreas de risco. Na prática, ela os culpou pela própria tragédia. Imaginem isso na boca de outro… O jornalismo politicamente correto e a Al Qaeda eletrônica fariam um carnaval nas redes sociais. Os tucanos, no entanto, estão ocupados em se destruir. Entendi que ela toparia fazer a coisa à força. Nesse hora, eu adivinho a alma desta ex-stalinista (ex?). Deve pensar: “Pô, santinho, o camarada Stálin esvaziou toda a Chechênia só porque aquele povo vivia enchendo o seu saco, e a gente não consegue dar um petelecos na orelha de uma turminha que mora em área de risco?” Ter de governar com democracia é uma zosta!

É… Dilma só esqueceu de cuidar das culpas do próprio do governo, da incúria, das promessas não-cumpridas. Não pensem que a oposição se sai melhor. Alguém se ocupou de acompanhar como iam os trabalhos na região serrana do Rio? Ninguém deu a menor pelota. E os parlamentares do estado, de qualquer partido? Andavam lá em ritmo de “o petróleo é nosso!” Os pobres que se virem. Já são 27 mortos em Petrópolis e mais de 1.500 desabrigados. No ano que vem tem mais. Para os 27 de agora (e há desaparecidos), é o fim da linha. Não terão tempo de ver o fim da miséria, extinta por decreto. Aliás, segundo os economistas “mudernos“, esses mortos todos eram da nova classe média…

Leiam reportagem de Branca Nunes, Cecília Ritto e Pâmela Oliveira, na VEJA.com:
Equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil procuram vítimas em Petrópolis, cidade na região serrana do Rio de Janeiro atingida pelas fortes chuvas dos últimos dias – Luiz Roberto Lima/Futura Press

Antes mesmo de recolher corpos, os gestores públicos têm, na ponta da língua, uma explicação para as tragédias na Região Serrana do Rio: chove muito, mais que o esperado. O “esperado” para este mês em Petrópolis, segundo a Defesa Civil do Estado do Rio, era de 270 milímetros de chuva. Em algumas áreas, como no bairro Quitandinha, entre o domingo e a segunda-feira foi registrado acúmulo de 390 milímetros. Na tarde de segunda, quando o número de mortos já se aproximava de duas dezenas, o governador Sérgio Cabral anunciou  a liberação de 3 milhões de reais para remediar os danos da tragédia. Para as vítimas das chuvas deste mês – e para os que sobreviveram à tragédia de 2011 – o discurso soou como a velha cantilena de outros verões.

Quando a chuva varreu as cidades de Petrópolis, Nova Friburgo e Teresópolis na madrugada de 12 de janeiro de 2011, soterrando mais de 1.000 pessoas em questão de algumas horas, as promessas também vieram com rapidez. Em Teresópolis, seria construído o bairro Parque Ermitage, com a instalação de 1.655 unidades habitacionais e quarenta unidades comerciais, além de um parque público. Em Petrópolis, o bairro Mosela seria brindado com 112 novos apartamentos e quatro unidades de comércio. Nova Friburgo, onde a chuva foi mais impiedosa, ganharia 4.309 casas, oitenta unidades comerciais e um espaço para a instalação de quarenta unidades industriais.

A situação, passados dois anos, é a seguinte: em Teresópolis, 3.580 famílias recebem o aluguel social, a maioria por causa do temporal de janeiro de 2011 e parte devido às chuvas de abril de 2012. O município é responsável pelo pagamento de 780 famílias, e o governo do estado desembolsa 500 reais para cada uma das 2.800 famílias que recebem o aluguel social. Em Petrópolis, 876 famílias recebem o aluguel social, segundo a secretaria estadual de Assistência Social. Em Nova Friburgo, 2.700 famílias recebem o benefício. Essa gente toda espera, há dois anos, pulando de casa em casa. Alguns resolveram a seu modo: voltaram para áreas interditadas exatamente pelo risco de deslizamento ou alagamento.

Segundo o relatório publicado pela Comissão de Acompanhamento da Recuperação da Região Serrana do Rio de Janeiro, elaborado pela Assembleia Legislativa do estado e publicado em dezembro de 2012, por mês são gastos 3,6 milhões de reais com o pagamento do aluguel social a 7.479 famílias – as 7.236 das três cidades e outras espalhadas pelo estado. Desde a catástrofe de 12 de janeiro, o montante ultrapassou a casa dos 86,4 milhões de reais. Com esse dinheiro seria possível construir mais de 1.515 casas populares. Até agora, nenhuma saiu do papel.

“O programa de reconstrução como um todo está bem aquém do desejado”, resume o deputado estadual Luiz Paulo Correa da Rocha (PSDB), presidente da CPI que investigou as causas da tragédia de 2011. “A única ação concreta foi a instalação das sirenes de alerta. A grande dificuldade ainda é encontrar terrenos para a construção das casas”, reconhece.

A presidente Dilma Rousseff afirmou, da Itália, que uma parte do problema é a insistência de algumas famílias para permanecer em locais perigosos. “Nós temos um sistema de prevenção, o problema é que muitas vezes as pessoas não querem sair”, analisou. “E é uma situação muito difícil, porque choveu quase o tanto que chove um ano em certas regiões do Brasil”, disse a presidente, insistindo na corrente que torna as chuvas de verão uma “novidade” para o poder público.

Em Teresópolis, o quadro atual é desanimador em relação às 1.655 unidades habitacionais que seriam construídas pela parceria entre governos estadual e federal. Segundo a secretária municipal de Desenvolvimento Social de Teresópolis, Maria das Graças dos Santos, depois de dois anos, a obra ainda vai começar. “O prazo para quando começarem a construir é de pelo menos um ano”, explica. Ou seja: não há perspectiva de melhora para o verão de 2014.

Segundo a Secretaria de Obras do estado do Rio de Janeiro, órgão responsável pelas ações na Região Serrana, o grande obstáculo é encontrar terrenos apropriados para a construção das casas. Embora em abril de 2011, três meses depois da tragédia, Vicente de Paula Loureiro, subsecretário de Urbanismo Regional e Metropolitano da secretaria estadual de Obras, tenha dito que essas áreas já estavam definidas, tudo indica que a situação real era um pouco diferente. Em 2011, Loureiro estava mais otimista. “Os locais que avaliamos têm capacidade para receber cerca de 7.000 unidades”, observou em 2011. “Temos recursos para fazer 6.000, através do Governo Federal, e mais 1.000, referentes a doações das empresas. Estamos ainda averiguando áreas para conseguir avançar mais, pois a demanda pode ser maior, já que ainda precisaremos tirar algumas famílias de áreas de risco”.

Quase dois anos depois de garantir que todos os desabrigados da Região Serrana estariam “morando em suas novas residências até o fim de 2012”, Loureiro trabalha com uma nova data: o segundo trimestre de 2013 – isso para a entrega das primeiras unidades. Em vez da construção de 7.235 imóveis, como divulgado anteriormente, agora são prometidas apenas 4.702 residências. Encontrar o terreno é só a primeira fase da resolução do problema. “Após a escolha dos terrenos, é necessário aguardar o trâmite burocrático e os impasses jurídicos para a desapropriação dos terrenos disponíveis”, avisa a secretaria. Só depois é possível realizar os procedimentos para “a escolha das empresas que construirão as unidades habitacionais”.

Burocracia
Para Antônio Fagundes, subsecretário de Assistência e Desenvolvimento Social e Trabalho de Nova Friburgo, “a boa vontade esbarra na burocracia”. Em 2011, no comando de um dos sessenta abrigos de Nova Friburgo, ele enfrentava representantes dos ministérios públicos, de entidades ligadas aos Direitos Humanos e de instituições responsáveis por menores infratores para garantir o mínimo de conforto aos desabrigados. “Hoje, temos que vencer a burocracia da Caixa Econômica, dos governos estadual e federal e dos órgãos ambientais”, diz.

Em junho de 2011, Dilma Rousseff assinou um chamamento público para a construção de 6.874 empreendimentos na região (6.641 unidades habitacionais, 188 unidades comerciais e 45 industriais), além de contratos para a recuperação e reconstrução de pontes e contenção de encostas das áreas afetadas. A presidente anunciou também a revitalização de toda a rede de transporte, drenagem, abastecimento de água, esgoto, pavimentos, coleta de lixo e energia.

Enquanto no Japão a rodovia que liga Ibaraki a Tóquio, destruída no tsunami de 2011, demorou seis dias para ser reconstruída, as pontes da região serrana continuam implorando por socorro há 798 dias. Das quase 100 pontes que sofreram algum tipo de dano, apenas onze tiveram as obras de recuperação concluídas. “Em 30 dias foram restabelecidos a maioria dos acessos, devolvendo à população o direito de ir e vir”, explica a Secretaria de Obras. “Foram construídos caminhos alternativos e pontes provisórias, retomando o transporte público e o escoamento da produção agrícola”. Como não é raro no Brasil, o provisório corre sério risco de tornar-se definitivo.

Para tentar justificar tamanha demora, a secretaria informa que “a grande magnitude da tragédia alterou o curso e a vazão dos rios, impossibilitando a utilização de estudos existentes, o que não permitiu que as obras contratadas pudessem ser realizadas em 180 dias, que é o prazo das contratações emergenciais”. Além das onze pontes concluídas, o governo promete reconstruir outras 52. Desse total, nove estão em fase de conclusão. O resto permanece no estágio de “elaboração de projetos”.

Investimentos
Segundo a Secretaria de Obras, serão investidos mais de 2,2 bilhões de reais na Região Serrana do Rio, sendo 1,6 bilhão de reais de recursos federais e 600 milhões de reais de recursos estaduais – dinheiro que será aplicado em “ações emergenciais para a retomada da normalidade das cidades, pagamento de aluguel social, obras de contenção de encostas, dragagem de rios, reconstrução de pontes, construção de moradias, entre outros”.

Embora as promessas sejam bem mais contidas agora, o montante é três vezes o que foi anunciado nos meses que se sucederam à tragédia. Em junho de 2011, Dilma Rousseff anunciou um investimento de 699,12 milhões de reais, sendo 351,24 milhões de reais do Orçamento Geral da União, 277,87 milhões de reais do estado do Rio e 40 milhões de reais da iniciativa privada.

Por Reinaldo Azevedo

 

Paulo Bernardo vira alvo dos pterodáctilos da censura e da sujeira financiada por estatais

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que é petista desde 1984, transformou-se num alvo da ala heavy metal do PT. Nos bastidores, também dirigentes de alto coturno, como o presidente do partido, Rui Falcão, expressam a sua insatisfação. Motivo: o ministro não é um entusiasta das teses de controle da mídia. Os petistas, como está consignado em documento oficial, querem ter o poder até sobre o conteúdo das notícias.

Em entrevista ao Estadão, o ministro afirmou que seu próprio partido está misturando regulação da área de comunicação com investimentos e destacou que “não há e nunca vai haver marco regulatório para jornais e revistas”.

Pra quê!?!?!? Virou alvo dos setores mais radicais, está sendo criticado nos bastidores pela turma de Falcão e se transformou em alvo dos blogs sujos, financiados por estatais, que babam antegozando a possibilidade de um dia poderem censurar o jornalismo, como se faz em Cuba, na Venezuela, no Equador, na Bolívia… Cada um desses excluídos da grande imprensa em razão de seu padrão moral se imagina batendo o chicote nas botas e dando as ordens na Globo, na VEJA, na Folha, no Estadão… Já nãos lhes basta encher as burras de dinheiro fazendo proselitismo partidário, demonizando a oposição e atacando a imprensa livre. Querem mais. Querem é censura. Voltarei ao tema mais tarde.

Nos dois primeiros anos, Dilma não permitiu que os pterodáctilos lançassem dejetos sobre a sua cabeça — embora tenha mantido intocado o sistema de financiamento estatal daquela sujeira. Nos dois anos finais, com ambições de ser reeleita, não parece que vá ceder à voz das trevas nesse particular. “E se for reeleita em 2014, sabendo que não poderá disputar um terceiro mandato?” Ah, bem, aí não sei. Cumpre ficar vigilante caso se reeleja.

Em seu blog, Valter Pomar, da ala esquerda do partido e membro de sua direção nacional, evidencia seu inconformismo: “Se coubesse adotar o termo “incompreensível” utilizado pelo ministro, poderíamos dizer que incompreensível é postergar para um futuro incerto o marco regulatório”.

Os petistas, como se nota, ainda não desistiram. Voltarei ao assunto mais tarde para demonstrar como setores da própria imprensa estão endossando métodos de pressão que um dia poderão resultar no estreitamento da sua liberdade. Aguardem.

Por Reinaldo Azevedo

 

Na base do berro, da intimidação e da violência. Mas tudo em nome do bem! Ou: Os 13 mil votos de Jean Wyllys valem mais do que os 212 mil de Feliciano?

Vejam esta foto.

 

Já explico o que ela faz aí. Antes, algumas considerações.

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), resolveu pegar carona no processo de demonização do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) — que só está na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias por obra do PMDB e do PT — e lhe deu e a seu partido uma espécie de ultimato: tem de renunciar ao posto. Não há forma legal de tirar o deputado de lá. O PSC é que está sendo pressionado. Certamente o partido é alvo de ameaças de retaliação. Feliciano diz que não sai. Tendo a achar que será muito difícil resistir.

Também a ministra Luíza Bairros, da  Secretaria de Política de Promoção Social da Igualdade Racial, disse no programa “Bom dia, ministro”, que o PSC deve reavaliar a indicação: “Toda mobilização em torno da manutenção [de Feliciano no comando da comissão] coloca na mão do PSC uma decisão que é de reavaliar se é coerente com o histórico de direitos humanos no Brasil manter uma pessoa com as convicções do deputado na presidência de uma comissão tão importante”.

Certo! Luíza Bairros é aquela senhora que foi flagrada chegando em carro oficial a um encontro promovido pelo PT, conforme se vê na foto abaixo.

Farra motorizada – em sentido horário, a assessora da ministra Ideli Salvatti; Luiza Barros, da Secretaria de Igualdade Racial; a senadora Ana Rita e a prefeita Lucimar, de Valparaíso (GO). É o estado a serviço do poder feminino… do PT!

“O que uma coisa tem a ver com outra, Reinaldo?” Tudo. Parece que um grupo político, no Brasil, tem não só o monopólio dos direitos como também o das ilegalidades. E olhem que estão tentando tirar Feliciano da comissão por delito de opinião — se a opinião é imbecil ou errada, isso é outra coisa.

O futuro
Não adianta tentar me patrulhar, acusando-me de apoiar o pastor. É mentira! Aqui ninguém leva nada no grito, não! Deploro algumas falas de Feliciano e já deixei isso claro. Apontei até o seu erro numa citação bíblica. Mas o fato é que, no regime democrático e de direito, não existem monopólios de representação em comissões do Congresso. Apontem uma só ilegalidade que teria sido cometida na sua condução ao posto que ocupa. Zero! Nenhuma!

A imprensa que condescende gostosamente com a bagunça está fazendo uma opção: substituir uma decisão legal e democrática por uma imposição que se dá por meio da baderna. É evidente que os grupos descontentes com a permanência de Feliciano na comissão podem se manifestar, mas não da forma como vêm fazendo (veja sequência de fotos mais adiante).

Henrique Eduardo Alves, empenhado em ficar “de bem” com essa imprensa, que não o tem exatamente na conta de um Varão da República, resolveu pegar carona no linchamento. Se Feliciano for substituído, como está em vias de acontecer, estará dado um norte: bastam 30 ou 40 pessoas, profissionais da baderna, para decidir os rumos de uma comissão. O Congresso deixa de ser um Poder de representação e passa a funcionar na base da “ditadura direta” fantasiada de “democracia direta”, já que esses 30 ou 40 militantes — essa gente já tem a vida ganha? Não precisa trabalhar? — imporão a sua vontade a quem chegou lá pelo voto popular.

Digam-me aqui: os 212 mil votos de Feliciano valem menos do que os 13 mil de Jean Wyllys (PSOL-RJ)? Não! Não estou dizendo que o mais votado tem sempre razão. Fosse assim, Tiririca seria Schopenhauer. Estou afirmando que é preciso respeitar a representação popular. Ainda que a sociedade não possa e não deva se conformar apenas com esse processo formal, sem ele, é fato, não existe democracia digna desse nome. Partimos para a luta de todos contra todos.

As fotos
A foto que está lá no alto pertence a uma sequência publicada na Folha Online, de autoria de André Borges, da Folhapress.  Antes que aquele rapaz de amarelo exibisse aqueles dizeres, ele já havia se movimentado a valer, nesta quarta, na sala que abriga a comissão, que,  mais uma vez, não conseguiu levar adiante a sessão. Vejam.

 

Ele é só o elemento mais buliçoso do grupo que dá as cartas por ali. Ainda que não tenha sido eleito por ninguém, ainda que, segundo os critérios da democracia, não represente ninguém, ele se impõe sobre o voto popular, não é? Isso é evidente. Curioso o Congresso Brasileiro, de tantas e tão conhecidas maracutaias e sem-vergonhices! A população ignora boa parte dos temas que são debatidos por ali. São assuntos arcanos para a larga maioria. Uma Comissão de Direitos Humanos, no entanto, é entregue ao controle das “minorias” porque isso cria um arremedo de democracia direta.

“Democracia”? Leiamos os dizeres daquela folha exibida pelo rapaz de amarelo. Lá está escrito em maiúsculas: “CADÊ A ONU PARA FECHAR O CONGRESSO NACIONAL???” Duvido que ele tenha muita clareza sore a indagação que faz, mas é inegável que existe ali um conceito embutido: “Ou o Congresso faz o que nós, que estamos aqui, queremos, ou ele pode ser fechado”. Outra foto também chama a minha atenção. Vejam.

 

Embora a imagem sugira que o rapaz se comporta de modo educado (não estava lá e, portanto, não posso garantir), seu questionamento é mais interessante, talvez, do que ele mesmo imagine: “Maldição é ser desrespeitado por quem deveria nos representar”.

Pois é, meu jovem! O chato é que Feliciano, na democracia que ainda temos, “representa”, sim — não necessariamente os seus anseios, mas representa! O fato de que a pauta dele não seja a sua não o torna ilegítimo. E vou lhe explicar, meu bom jovem, por que isso é uma garantia também para você: ou bem se considera que toda representação, no escopo do estado de direito, da legalidade, é legítima no Congresso, ou bem se considera que certos grupos não têm o direito de existir.

Nesse segundo caso, rapaz, você abre as portas para que, amanhã ou depois, uma nova maioria ou uma nova “verdade influente” casse o seu próprio direito de se manifestar. Entendeu como funciona a democracia? O democrático não é o que eu quero; o democrático não é o que os outros querem; o democrático é haver regras pactuadas — também de forma democrática! — para que todos esses quereres possam se articular e conviver.

Impor-se na base do berro e da intimidação física não está entre as regras.

Encerro com uma pergunta ao deputado Henrique Eduardo Alves: a tolerância com a gritaria e a violência só vale para esse grupo que ora se manifesta, ou qualquer outro que resolva inviabilizar o funcionamento de uma comissão conta com o apoio da presidência desta Casa? Que tal, presidente, fazer uma espécie de manual listando os grupos que têm licença  especial para partir para a porrada e para a intimidação?

Por Reinaldo Azevedo

 

Com Dilma nos píncaros da glória, apesar de si mesma, corrigir os rumos do PSDB não é fácil nem difícil; é apenas inútil!

Escrevi aqui ontem de manhã um texto intitulado “PSDB vai cometendo erros em penca”. Chamava a atenção para as dificuldades do partido, a falta de clareza do jogo eleitoral, as dissensões internas, a lógica das imposições etc e tal. Alguns tucanos se zangaram. De leitores mineiros, chegaram algumas broncas: “Ah, você não quer o Aécio presidente da República porque é serrista…” Sempre essa história! Parte do tucanato é vítima — a palavra é essa — dessa falsa clivagem. Ainda que eu fosse serrista e me convertesse amanhã ao aecismo — uma coisa é falsa, e a outra não vai acontecer porque já sou católico e corintiano; em matéria de conversão metafísica, está de bom tamanho) —, pergunto: isso mudaria o quê?  Sou eu que elejo o presidente da República?

Eu sou uma pessoa muito prática em certos aspectos. Sempre que alguém exibe um grande empecilho para que se alcance um determinado fim, opto por um método de argumentação: “Muito bem! Façamos de conta que o empecilho não existe; tiremo-lo do cenário. E aí? Estaria tudo resolvido?” Se a resposta for afirmativa, aí se cuida de ver se é ou não possível remover o tal empecilho. Se for, todos podem sorrir satisfeitos.

Voltemos ao PSDB. As notícias que agitam os bastidores do partido dão conta da possibilidade de Serra deixar a legenda. Eu, se fosse político e no lugar dele, já teria caído fora há muito tempo. Por isso não sou, não é? Mesmo quando era o candidato óbvio à Presidência, era tratado em certas áreas como o… empecilho, o que é estupefaciente. Agora, decidiu-se que o candidato é Aécio. Poderia aqui fazer algumas digressões sobre a instância dessa decisão, como foi tomada, os métodos… Mas seria perda de tempo e excesso de minudências para o que, no fim das contas, não tem tanta importância. O que tem importância é outra coisa.

Estadão informa que Aécio esteve nesta segunda em São Paulo para conversar com Serra. O tucano otimista, numa percepção convencional, diria: “Pô, que coisa boa! Finalmente eles tentam se entender”. Bobagem! Enquanto a conversa corria por aqui, o próprio Estadão preparava uma reportagem — e isso não se faz sem as fontes, certo? — que mereceu o seguinte título: “Mineiros negam ceder o comando do PSDB a Serra”. Eu não sei se Serra quer ou não o comando do PSDB… No lugar dele, eu cantaria como o Chico Jabuti: “Pai, afasta de mim esse cálice, paaaaiiii… “  Mas uma coisa eu sei: ou bem se negocia com as pessoas ou bem se negocia por intermédio dos jornais e de algumas fontes anônimas, tão anônimas como um gato escondido com o rabo de fora. Huuummmm… Se ele decidir sair do partido, só não vale chamá-lo de desagregador, não é mesmo?

Hora de entregar as batatas
Eu, há muito, em lugar de Serra, teria pronunciado a divisa do Humanitismo de Quincas Borba: “Ao vencedor, as batatas!” Na hipótese de que elas tenham sido conseguidas meio na cotovelada, não me obrigaria mais a participar do jogo. Mas este sou eu; não sou e jamais serei político. Não lido bem com certas exigências para a função.

Assim, reitero, enquanto uma conversa com vistas ao futuro se travava, a imprensa paulistana estava sendo devidamente pautada contra… Serra. Mas não era só isso que fermentava nos bastidores, não. Havia mais. A política não é o terreno privilegiado da lealdade, mas ela é impossível sem um mínimo de… lealdade.

Pesquisa Ibope
Também se ultimavam os preparativos para divulgar a mais recente pesquisa CNI/Ibope sobre a popularidade do governo Dilma. Novos recordes, tudo é o “ó” do borogodó. Acham seu governo ótimo ou bom 63% dos entrevistados; nada menos de 85% aprovam seu jeito de se conduzir à frente da Presidência. E isso com a economia crescendo menos de 1%. Até porque a base é ridiculamente baixa, duvido que cresça menos de 3,5% neste 2013 — e olhem que não sou Guido Mantega…

O governo, gostem ou não, é um sucesso apesar dos seus insucessos. E vem pela frente jornada de inaugurações ligadas à Copa do Mundo. Se a gestão Dilma cumprir um terço do que prometeu, já será coisa de encher a propaganda. Reproduzo alguns dados da pesquisa (em vermelho) que estão no Estadão. Volto em seguida:
A CNI/Ibope identificou que, de maneira mais geral, a população está mais satisfeita com o governo. Em relação ao combate à fome e à pobreza, a taxa subiu de 62% para 64%. Sobre o meio ambiente, o avanço foi de 52% para 57%. No quesito combate ao desemprego a alta foi um pouco mais tênue, de 56% para 57%. A política de combate à inflação recebeu aprovação de 48% da população, ante 45% visto na pesquisa anterior. Sobre educação, a taxa de aprovação subiu de 43% para 47% e em relação à taxa de juros, de 41% para 42%.
Apenas três quesitos da pesquisa estão com taxa de desaprovação acima de 60%. Um deles é a cobrança de impostos, que está exatamente em 60%. Houve melhora nesse item, pois no levantamento anterior a desaprovação era de 65%. Em relação à segurança pública, também houve queda na desaprovação, passando de 68% para 66%. O maior problema da presidente, na avaliação da população, ainda é a saúde, mas mesmo assim a taxa de desaprovação recuou, de 74% para 67%.

Retomo
Digam-me: é ou não é hora de os tucanos se ocuparem de suas questões bizantinas? Ah, tenham paciência! Os números acima têm implicações óbvias, não é mesmo? Dilma voltou a ganhar fôlego no Nordeste, área preferencial de atuação, até agora, de Eduardo Campos. Em princípio, ele parece se importar pouco com o desempenho da petista nas eleições, seja qual for. Até onde a vista alcança, deve achar que é mesmo muito difícil se eleger em 2014. O pleito servirá para nacionalizar seu nome com vistas a 2018. É jovem, pode esperar e não tem aquela certa obrigação de ganhar que sempre pesa sobre os ombros do candidato de oposição. De todo modo, cumpre ficar atento: se Campos perceber que pode receber uma votação mirrada demais, coisa de nanico, talvez caia fora do pleito. Insisto numa questão de que já tratei aqui várias vezes: sem ele e sem Marina Silva na disputa, as chances de haver um segundo turno são remotas.

Juro! Se eu fosse psiquiatra, teria um interesse verdadeiramente clínico pelo PSDB. Os que hoje dão as cartas no partido se comportam como se a legenda fosse a bola da vez, como se a disputa fosse pule de dez, como se tudo estivesse preparado para correr para o abraço, uma barbada mesmo, daí tantos disputando os futuros despojos! Daria um daqueles filmes dirigidos por Monty Python, em  que uma seita minoritária entra numa guerra fratricida para ver quem reina sobre o nada.

“Ah, Reinaldo não quer que Aécio se eleja…” Errado! Eu até posso querer. Quem não quer são os zés-manés que ficaram plantando fofoca na imprensa ao mesmo tempo em que Aécio “negociava” com Serra… Não há FHC que dê jeito, não é? É o fim da picada! Enquanto isso, 85% dos brasileiros aprovavam uma presidente que comanda uma economia que cresce menos de 1%. A síntese é uma só: o governo, como governo, pode ser ruim de doer, mas a oposição, como oposição, é muito pior!

Cumpre citar o trecho ampliado sobre as batatas que ficam com os vencedores. Vamos lá, ao sexto capítulo de “Quincas Borba”, de Machado de Assis (em azul):
Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.

Encerro
As batatas no PSDB já têm dono certo? Agora resta aos tucanos esperar a compaixão do PT.

Por Reinaldo Azevedo


Grave é a agressão à nossa humanidade, que não pode ser mascarada pela militância racialista, de gênero, de sexualidade, de costumes. Ou: Contra a sindicalização do espírito!

Na Universidade Federal de São Carlos, um grupo de estudantes promove um desfile chamado “Miss Bixete”. As calouras são instadas a mostrar, numa espécie de passarela, os seios e a bunda para a macharia se divertir. É evidente que se trata de um absurdo, e ninguém precisa estar contaminado pelo pensamento politicamente correto para se indignar. Um grupo de “feministas” resolveu protestar. Dois marmanjos reagiram tirando a calça; um deles simulou masturbação em público. Fotos postadas no Facebook nesta segunda do trote promovido, na sexta, por alunos da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais estão gerando protestos na rede. Há cenas grotescas de estudantes fantasiados de Hitler, fazendo a saudação nazista etc. E está lá a imagem que vocês veem abaixo. Um rapaz prende numa corrente as mãos de uma estudante com o corpo coberto por tinta preta. Ela traz pendurada no pescoço a inscrição: “Caloura Chica da Silva”, numa alusão à escrava alforriada que foi amante de João Fernandes de Oliveira, um rico contratador de diamantes, com quem teve 13 filhos. Chica fez história em Diamantina. O suposto algoz sorri. É tudo brincadeira? É claro que é tudo brincadeira. Duvido que haja por ali nazistas ou racistas militantes. Avancemos.

Vejam esta foto. Pensem a respeito

É de um estudante de direito da Universidade Federal de Minas Gerais. A garota, com o corpo pintado com tinta preta, é uma caloura. As coisas óbvias que essa foto diz não são boas. As não óbvias são ainda piores. Volto daqui a pouco para reafirmar, sim, o óbvio. Mas só vou dedicar meu tempo à questão porque tenho a dizer a respeito o não óbvio.

(volto ao texto anterior:)

Os representantes do Centro Acadêmico já se manifestaram, segundo leio no Globo. “Nossa posição é de total repúdio ao machismo, racismo e homofobia”, afirma Leonardo Custódio , que é vice-presidente do Centro Acadêmico de Direito. Ele diz que o CA não participou da organização do trote. A entidade decidiu convocar uma reunião para tratar do assunto. Também no caso de São Carlos, houve protestos contra os “ismos” e as “fobias” — naquele caso, deu-se especial combate ao “machismo”.

Pois é. Em menos de uma semana, o papa Francisco se fez a imagem e o porta-voz da esperança. Suas primeiras palavras — e é certo que o tempo dirá se os augúrios se confirmam — nos lembram de um humano intransitivo, que merece respeito, que tem de ser preservada a sua indignidade, sua intocabilidade, pouco importando sexo, origem social,  religião…  Francisco fala de um Deus que “não se cansa de perdoar” — nós é que costumamos nos cansar de pedir perdão, ele notou. E nem por isso a Igreja haverá de anuir com o que considera pecado. Não que essa mensagem seja estranha à Igreja. Não é! Nesse caso, o que importa é o acento conferido pelo Sumo Pontífice à importância da misericórdia. Fala-se, então, de um Deus que abraça em vez de excluir.

As esquerdas, especialmente as latino-americanas, mostram-se visivelmente preocupadas. Se a essência do cristianismo é o amor redentor, os esquerdistas acreditam mesmo é no ódio que redime, aquele que, nas palavras de seu “cristo” mixuruca, Che Guevara, “ faz do homem uma eficaz, violenta, seletiva e fria maquina de matar”.  Che, aliás, reescreveu, na teoria e na prática, a Oração da Paz, de São Francisco — homenageado agora pelo novo papa. A versão trevosa é assim:
Senhor! Fazei de mim um instrumento de matar.
Onde houver amor, que eu leve ódio.
Onde houver perdão, que eu leve a ofensa.
Onde houver união, que eu leva a discórdia.
Onde houver a fé, que leve as dúvidas.
Onde houver a verdade, que eu leve o erro.
Onde houver a esperança, que eu leve o desespero.
Onde houver a alegria, que eu leve a tristeza.
Onde houver a luz, que eu leve as trevas.

Em boa parte do planeta, esse tipo de luta não é mais possível. Em seu lugar, promove-se a guerra cultural de todos contra todos. Os valores de um grupo, dos “idênticos entre si”, tomam o lugar dos valores universais — e, em alguns casos, ousam subtrair direitos da maioria em nome ou da proteção às minorias ou da reparação de injustiças históricas. É evidente que esse é o espírito contrário à mensagem essencial do cristianismo. A vasta literatura esquerdista chama esse “homem universal” de mera fantasia do discurso ideológico “conservador”, “de direita”,  que busca mascarar as desigualdades para eternizá-la. Horacio Verbitsky, a pena armada contra o papa a serviço de Cristina Kirchner, já escreveu que Francisco está aí para dar alguns pitos nos ricos e pregar conformismo aos pobres da América Latina, contra, ele sugere, os governos ditos “populares” — refere-se  a tipos como a própria Cristina, Hugo Chávez, Rafael Correa, Evo Morales…

“Endoidou, Reinaldo?  O que isso tudo tem a ver com os episódios lamentáveis da Universidade Federal de São Carlos ou de Minas?” Tem tudo a ver. Explica até a reação e a cobertura dispensada ao caso tétrico do rapaz que teve seu braço decepado na Avenida Paulista, em São Paulo.

Esses episódios se tornam notícias e mobilizam a imprensa não porque direitos fundamentais do homem estejam sendo agredidos, mas porque as minorias sindicalizadas acusam o ataque a um dos seus, ainda que de maneira simbólica. O QUE ESTOU DIZENDO, MEUS CAROS, É QUE, SE O MAIS NÃO NOS CAUSAR INDIGNAÇÃO, NÃO SERÁ POR INTERMÉDIO DO MENOS QUE VAMOS NOS SALVAR. Os pretos são menos do que “o” humano. Os brancos são menos do que “o” humano. As mulheres são menos do que “o” humano. Os cristãos são menos do que “o” humano. Os judeus são menos do que “o” humano. Os homossexuais são menos do que “o” humano. Os ciclistas são menos do que “o” humano…

Compreendo, sim, que haja expressões de todos esses grupos a apontar discriminações específicas, particulares, que existem. Ou serei eu a negar o racismo, o antissemitismo, a cristofobia, a homofobia, o machismo? Todas essas manifestações de estupidez estão por aí. A questão é saber com quais valores e com quais instrumentos nós vamos combatê-las. Eu estou absolutamente convencido de que a militância particularista, que pede leis especiais de proteção para minorias — em vez de cobrar que as leis que garantem a igualdade sejam efetivamente aplicadas — contribuem para o enfraquecimento daquilo que um dia já se chamou “humanismo” em benefício desses particularismos.

A expressão muitas vezes exacerbada de uma pauta específica, que diz respeito a uma comunidade em particular, acaba gerando reações também indesejáveis, ainda que não se trate de uma escolha política. Eu duvido que aquele tonto que segura a caloura pintada de preto seja um racista; duvido que os idiotas que promovem a Miss Bixete tratem mães, namoradas ou irmãs, que mulheres são, como prostitutas. É muito provável que não. Esses atos estúpidos não chegam nem mesmo a ser sinceros; são uma espécie de contrafação, de falsa resistência àquela exacerbação militante. “Já que as feministas ficam tão bravas, então tome Miss Bixete; em tempos de cotas, tome Chica da Silva acorrentada”… Não! Não são os “fascistas” se manifestando, como querem alguns tontos; tampouco se trata da “direita”, dos “reacionários”…

Trata-se de reações imbecis, que se pretendem bem-humoradas, num quadro, vejam que coisa!, de decadência dos valores gerais do humanismo e de triunfo dos particularismos. Não há, por exemplo, discurso racional possível que suporte, em nome do feminismo, a defesa da legalização do aborto. Não há como. O que atenta contra a vida não pode ser em favor da “mulher” como categoria; em situações excepcionais, atenção!, a vida de “uma” mulher, não de “A mulher”, pode estar numa relação opositiva com a do feto — e, para tanto, a legislação brasileira tem uma resposta. Proteger ou ampliar os direitos dos gays, dos negros, dos índios, de quem quer que se sinta discriminado, não convive, não numa ordem racional ao menos, com a agressão a fundamentos da democracia e do humanismo.

Deploro os imbecis que se manifestaram daquela forma em São Carlos ou em Minas; repudio todos esses atos de degradação da pessoa humana, ainda que sob o pretexto da brincadeira e da galhofa; jamais convivi bem com esses rituais de humilhação que agridem a natureza exclusiva do homem (“que diabo é isso, Reinaldo?”); nem mesmo estou entre aqueles que condescendem tranquilamente, a exemplo de certa antropologia do miolo mole, com “variantes culturais” em que certas práticas violentas são consideradas “normais”. Sim, se fosse missionário, também eu tentaria impedir certas tribos de enterrar vivos seus bebês deficientes… Também nesse sentido, sou muito “jesuítico”. A propósito: é próprio e exclusivo da natureza humana ter consciência de si; também é próprio e exclusivo da natureza humana ter consciência da existência do “outro”. Portanto, o que é vivo no homem é intocável, ainda que ele próprio já não possa mais responder por si mesmo; ainda que ele próprio pedisse para morrer — para que pedisse, forçoso seria que vivo estivesse; não me cumpriria lhe tirar a chance do arrependimento. O homem não é Deus. Também a eutanásia é uma abominação.  

Sem a clareza da inviolabilidade da vida e da intocabilidade do outro, a convivência se degrada. Durante a Revolução Cultural na China, e não era brincadeira naquele caso, pessoas eram realmente amarradas, exibiam cartazes no peito se confessando traidoras e eram expostas à humilhação. Intelectuais de esquerda mundo afora aplaudiam aquele “novo homem”…

Quem sabe ler entendeu que não estou minimizando aqueles episódios lamentáveis nas universidades. Eu estou, na verdade, afirmando que são mais graves do que parecem e que nossa reação de indignação não pode ser seletiva nem pautada pelos sindicalistas do espírito.

Por Reinaldo Azevedo


Em matéria de desrespeito à lei, as “mulheres do PT”, vejam só!, são iguaizinhas aos “homens do PT”. Alguém esperava outra coisa?

As mulheres do PT se acham dotadas de alguma particularidade política no cotejo com os homens do PT. Por isso elas decidiram fazer um “Encontro Nacional de Mulheres Eleitas do PT”. Foi uma beleza. Segundo informa Fernanda Krakovics, no Globo, foi um verdadeiro desfile de carros oficiais para uma evento que é… partidário. Em matéria de ilegalidade e desculpa esfarrapada, as “mulheres do PT” são idênticas aos “homens do PT”. Vejam fotos e leiam texto.

Farra motorizada – em sentido horário, a assessora da ministra Ideli Salvatti; Luiza Barros, da Secretaria de Igualdade Racial; a senadora Ana Rita e a prefeita Lucimar, de Valparaíso (GO). É o estado a serviço do poder feminino… do PT!

Apesar de ser um evento partidário, o Encontro Nacional de Mulheres Eleitas do PT teve um festival de carros oficiais transportando autoridades. No intervalo de 30 minutos, uma ministra, uma assessora especial do governo federal, uma senadora e uma prefeita chegaram ou foram embora em veículos custeados pelo poder público. O evento transcorreu durante todo o dia de ontem, em um hotel de Brasília, e prosseguirá hoje. Um dos objetivos é orientar prefeitas, vice-prefeitas e vereadoras petistas, eleitas no ano passado, a desenvolver programas federais nos municípios.

Uma das que compareceram ao evento a bordo de um carro oficial foi a ministra Luiza Bairros (Igualdade Racial). Para o encontro, fechado à imprensa e organizado pelo PT, só foram convidados ministros do partido, e as participantes eram exclusivamente petistas. “Fui convidada como ministra, então estou cumprindo a minha função. Podia ser qualquer partido”, disse a ministra.

Representante da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Paula Ravanelli, que é assessora especial da Subchefia de Assuntos Federativos, chegou em carro com o adesivo “Uso exclusivo a serviço da Presidência da República”, placa JJV 0019. Indagada sobre a pertinência da utilização do veículo naquela ocasião, ela não quis responder.

A Resolução 7 de 2002, que regula a participação de autoridades em atividades de natureza político-eleitoral, estabelece, no artigo 2º, que a autoridade pública não poderá participar de reuniões de partidos políticos durante o horário normal de expediente e veda a utilização de veículos oficiais.

Já o Código de Conduta da Alta Administração Federal, ao responder à pergunta “Pode ministro de Estado utilizar veículo oficial em todos os seus deslocamentos?”, diz que “o uso de carros oficiais por ministros de Estado é matéria tratada por normas administrativas que levam em conta a criação das condições necessárias, sobretudo de segurança, para todos os seus deslocamentos”.

A senadora Ana Rita (PT-ES), que participou da mesa “O modo petista de governar e legislar”, afirmou que estava usando carro oficial porque voltaria para o Senado para trabalhar: “Se não, teria que vir de táxi”.

Mais tarde, a assessoria de imprensa da senadora telefonou para dizer que Ana Rita usou o carro do Senado porque estava em uma atividade do mandato. Os senadores têm direito ao uso de um veículo oficial em Brasília. A cota diária de combustível é de dez litros de gasolina ou 14 litros de álcool, de segunda a sexta-feira.

Já a prefeita de Valparaíso de Goiás, cidade a 36 km de Brasília, Professora Lucimar (PT), justificou que foi ao encontro do partido no carro da prefeitura porque aproveitou a ida à capital para visitar órgãos federais e tratar de interesses de seu município: “A gente até debateu isso ontem (anteontem) lá. Como eu vim participar de outros compromissos oficiais, vim no carro da prefeitura.”

Por Reinaldo Azevedo


Marina, o peso, as medidas, o sapo cururu e o caminhar sobre a política

Marina Silva, a guia espiritual da “Rede”, aquele não-partido que pretende disputar uma não-eleição para eleger uma não-presidente, sempre desperta em mim a paixão para o debate. Começo comentando uma questão em que ela está, digamos, moralmente certa, mas com palavras erradas. Há um projeto de lei em tramitação que cria dificuldades para a criação de novos partidos, uma vez que a legenda original conservaria o tempo de TV e a verba do fundo partidário.  Na raiz dessa proposta, está o PSD, de Gilberto Kassab. A Justiça entendeu que, dada a legislação em vigor, o novo partido tinha direito às duas coisas. O projeto busca evitar a repetição do “efeito PSD”. Curiosamente, o partido do ex-prefeito de São Paulo é agora majoritariamente favorável às restrições… Se o texto fosse aprovado, é claro que seria ruim para o pessoal da Rede. Indagada a respeito, informa a Folha, disse Marina:

“Vemos com preocupação, do ponto de visita da postura democrática. Outros partidos foram criados, e, para eles, não foi colocada essa cláusula de barreira. Estão sendo usados dois pesos e duas medidas conosco”.

Bem, bem, bem…

Estivessem sendo usados dois pesos e duas medidas, estimada líder, estaria tudo certo, tudo no lugar. O que caracteriza a injustiça é, atenção!, o uso “de um peso e duas medidas”, aí, sim. Essa talvez seja a expressão, ou chavão, de sentido mais deturpado da “língua brasileira”. Essas coisas sempre são curiosas porque a pessoa acaba dizendo o exato contrário do que pretende. O Brasil tem partidos demais! Considero esse negócio de “Rede” bem perto do ridículo. A turma da “sustentabilidade” de Marina poderia ser a ala verde do PT, por exemplo. Não há razão nenhuma, exceto o personalismo desta não-líder, para que exista um “partido”. De toda sorte, no caso em espécie, a reclamação pode proceder, mas só em parte. O chororô de Marina só faz sentido se o PSD votar a favor da proposta que cria dificuldades para novos partidos. DEM, PSDB e algumas outras legendas, justiça se faça, se opuseram à criação do PSD.

Sigamos com a Guia Genial da Nova Era.  Leio na Folha (em vermelho):
Marina criticou ainda a “antecipação” da disputa presidencial. “Acabamos de ter uma disputa para prefeito e já anteciparam a eleição para presidente. A gente tem que ganhar mais tempo discutindo propostas e ideias do que a engenharia eleitoral”, afirmou. Para ela, as atividades da Rede não se incluem na antecipação. “Estamos discutindo programa, não estamos participando dessa antecipação.”

Voltei
Então… É aí que eu enrosco com Marina. Como leitor, mero observador da cena política ou indivíduo que escreve sobre o tema, acho que ela está só tentando me levar no bico. Quer dizer que as movimentações do PT, do PSDB e mesmo do PSB são “antecipação” da disputa, algo pouco virtuoso, que desdoura o processo político e coisa e tal?… E a movimentação dela é o quê? O que Marina está tentando me dizer? Que os outros só pensam no poder, e ela, no sapo cururu?

Pronto! Neste ponto, alguém se zanga: “Lá está o Reinaldo a fazer caricatura da Marina, tentando ridicularizá-la…” Não! Ela é que tenta agredir a minha inteligência, com essa mania de querer andar sobre a política como Cristo andava sobre as águas. Marina se comprometa, então, a não ser candidata em 2014, assegurando (e cumprindo) que vai se encarregar apenas de criar a nova não-legenda, e aí as coisas mudam um pouco de figura. Mas é evidente que ela não o fará.

E que conversa é essa de “discutir ideias”? Sim, todos temos de discuti-las. Quais são as de Marina? Acho essa abordagem curiosa porque ela faz parecer que, por diferentes das suas, as ideias ou práticas alheias não existem. Podem até ser ruins, erradas, sei lá o quê, mas estão por aí, não é?

Há nesse tipo de formulação uma mal disfarçada visão autoritária da política. Se eu perguntar em qual instância — física mesmo, em que espaço, em que lugar — Marina gostaria de discutir essas “ideias” (as suas e as dos outros), o que ela me responderia? “Ih, isso, hoje em dia, não é mais necessário; a gente debate na rede…” Claro, claro! O sujeito, lá na sua poltrona ou no seu sofá, cisma, por exemplo, que Belo Monte implica um desastre ecológico gigantesco, e eu, do lado de cá, tento provar que não é bem assim… Esse debate virtual pode ter a sua graça como força de mobilização de torcida, não mais do que isso.

Refaço a pergunta: qual é o fórum de debate das “ideias”? Deveríamos criar uma espécie de “conselho de sábios” para pré-selecionar “ideias”, levando depois ao povo só as que estiverem muito bem debatidas?

Marina não precisa explicar muita coisa porque muito pouco lhe é perguntado. Até porque suas respostas para o mundo desde o fim independem das perguntas. Sugiro que prestem atenção a suas entrevistas. A pergunta não faz a menor diferença. Se a gente indagar como ela responderia à demanda por energia no curto prazo, tendo em vista um país que crescesse, sei lá, 4% ao ano durante uma década (isso, nessa área, é curto prazo), obteria a mesma resposta se lhe dirigisse um simples “E aí, Marina?”. Vi, com atraso, a sua entrevista ao Roda Viva. Huuummm… A cada pergunta, vinha uma espécie download do divino, depois de copidescado pela ecologia holística. Mas reconheço, sim, a força de sua figura. Acho encantador que milhares, milhões até, de pessoas tenham a ousadia de achar que entenderam do que ela está falando.

Por Reinaldo Azevedo

Petrobras desiste de vender refinaria nos EUA, que comprou a um preço escandaloso. Pois é: dos males, o maior!

Ah, tá… Lembram-se daquela operação escandalosa da Petrobras, que comprou uma refinaria sucateada em Pasadena, nos EUA? Pois é… A empresa tinha decidido passar a estrovenga nos cobres, mas isso só evidenciaria a barbaridade cometida durante a gestão de José Sérgio Gabrielli, que hoje é secretário de Planejamento da Bahia — coitados dos baianos! Gabrielli deixou para a sua sucessora na estatal, Graça Foster, uma herança mais do que maldita. Relembro o caso aqui. Volto em seguida para demonstrar que desistir de vender é, a esta altura, dos males, o maior.

1: Em janeiro de 2005, a empresa belga Astra Oil comprou uma refinaria americana chamada Pasadena Refining System Inc. por irrisórios US$ 42,5 milhões. Por que tão barata? Porque era considerada ultrapassada e pequena para os padrões americanos.

2: ATENÇÃO PARA A MÁGICA – No ano seguinte, com aquele mico na mão, os belgas encontraram pela frente a generosidade brasileira e venderam 50% das ações para a Petrobras. Sabem por quanto? Por US$ 360 milhões! Vocês entenderam direitinho: aquilo que os belgas haviam comprado por US$ 22,5 milhões (a metade da refinaria velha) foi repassado aos “brasileiros bonzinhos” por US$ 360 milhões. 1500% de valorização em um aninho. A Astra sabia que não é todo dia que se encontram brasileiros tão generosos pela frente e comemorou: “Foi um triunfo financeiro acima de qualquer expectativa razoável”.

3: Um dado importante: o homem dos belgas que negociou com a Petrobras é Alberto Feilhaber, um brasileiro. Que bom! Mais do que isso: ele havia sido funcionário da Petrobras por 20 anos e se transferiu para o escritório da Astra nos EUA. Quem preparou o papelório para o negócio foi Nestor Cerveró, à frente da área internacional da Petrobras. Veja viu a documentação. Fica evidente o objetivo de privilegiar os belgas em detrimento dos interesses brasileiros. Cerveró é agora diretor financeiro da BR Distribuidora.

4: A Pasadena Refining System Inc., cuja metade a Petrobras comprou dos belgas a preço de ouro, vejam vocês!, não tinha capacidade para refinar o petróleo brasileiro, considerado pesado. Para tanto, seria preciso um investimento de mais US$ 1,5 bilhão! Belgas e brasileiros dividiriam a conta, a menos que…

5 a menos que se desentendessem! Nesse caso, a Petrobras se comprometia a comprar a metade dos belgas — aos quais havia prometido uma remuneração de 6,9% ao ano, mesmo em um cenário de prejuízo!!!

6: E não é que o desentendimento aconteceu??? Sem acordo, os belgas decidiram executar o contrato e pediram pela sua parte, prestem atenção, outros US$ 700 milhões. Ulalá! Isso foi em 2008. Lembrem-se que a estrovenga inteira lhes havia custado apenas US$ 45 milhões! Já haviam passado metade do mico adiante por US$ 360 milhões e pediam mais US$ 700 milhões pela outra. Não é todo dia que aparecem ou otários ou malandros, certo?

7: É aí que entra a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, então presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Ela acusou o absurdo da operação e deu uma esculhambada em Gabrielli numa reunião. DEPOIS NUNCA MAIS TOCOU NO ASSUNTO.

8: A Petrobras se negou a pagar, e os belgas foram à Justiça americana, que leva a sério a máxima do “pacta sunt servanda”. Execute-se o contrato. A Petrobras teve de pagar, sim, em junho deste ano, não mais US$ 700 milhões, mas US$ 839 milhões!!!

9: Depois de tomar na cabeça, a Petrobras decidiu se livrar de uma refinaria velha, que, ademais, não serve para processar o petróleo brasileiro. Foi ao mercado. Recebeu uma única proposta, da multinacional americana Valero. O grupo topa pagar pela sucata toda US$ 180 milhões.

10: Isto mesmo: a Petrobras comprou metade da Pasadena em 2006 por US$ 365 milhões; foi obrigada pela Justiça a ficar com a outra metade por US$ 839 milhões e, agora, se quiser se livrar do prejuízo operacional continuado, terá de se contentar com US$ 180 milhões. Trata-se de um dos milagres da gestão Gabrielli: como transformar US$ 1,204bilhão em US$ 180 milhões; como reduzir um investimento à sua (quase) sétima parte.

11:Graça Foster, a atual presidente, não sabe o que fazer. Se realizar o negócio, e só tem uma proposta, terá de incorporar um espeto de mais de US$ 1 bilhão.

12: Diz o procurador do TCU Marinus Marsico: “Tudo indica que a Petrobras fez concessões atípicas à Astra. Isso aconteceu em pleno ano eleitoral”.

13:Dilma, reitero, botou Gabrielli pra correr. Mas nunca mais tocou no assunto.

Voltei
Percebam: o rombo — ou eu deveria escrever “roubo”? — de US$ 1,204 bilhão já aconteceu. A Petrobrás já pagou um preço absurdo pela refinaria, e é isso que tem de ser apurado. O Ministério público investiga a operação. Se Graça Foster vendesse a empresa, teria de realizar aquele prejuízo de mais de US$ 1 bilhão.

Não vendendo, tem de ficar com um prejuízo permanente. Além do dinheiro que já foi jogado fora, não se conseguem nem mesmo os US$ 180 milhões que topam pagar por ela e ainda se tem o custo operacional de manter lá aquela sucata.

Assim, dos males, a Petrobras escolheu o maior só pra evitar se expor ao vexame e ser obrigada a registrar aquele rombo em seu balanço. Também pesou na decisão o fato de que o TCU decidiu apurar as circunstâncias da venda.

É a herança maldita da dupla Lula-Gabrielli.

Texto originalmente publicado às 6h10

Por Reinaldo Azevedo

A imprensa e a democracia. Ou: Sou um extremista

A cobertura que a imprensa ocidental fez da morte de Hugo Chávez, a nossa também — e vocês conhecem as exceções —, foi asquerosa. Mais uma vez se voltou àquela fraude moral e intelectual que consiste em opor como termos ou permutáveis ou mutuamente compensáveis a ditadura e a melhoria das condições de vida da população. Assim, não estava claro se alguns coleguinhas consideravam que “Chávez era um ditador, mas melhorou a vida dos mais pobres” ou se “Chávez melhorou a vida dos mais pobres, mas era um ditador”. O sujeito que diz a primeira frase é só um admirador ainda envergonhado de ditaduras. Um dia perde a vergonha e solta a louca chavista que existe em seu interior. O segundo é só um crítico envergonhado de ditaduras. Teme que a patrulha de vagabundos o tome por reacionário, então fica com essas adversativas compensatórias, com receio de dizer claramente que ditadura, como método de governo, é injustificável e ponto final.

O primeiro tipo é, sem dúvida, mais asqueroso, de convivência impossível, com quem não se pode partilhar nem mesmo um café. O segundo já passa por boa-praça; é, na verdade, até bem-intencionado. Mas é também inútil para a causa democrática. Tenho, em verdade, mais desprezo intelectual pelo segundo do que pelo primeiro. Aquele que, sabendo mais e tendo mais clareza do processo, condescende com regimes de força e acaba se esforçando para buscar neles alguma virtude é pior do que o idiota que nem sabe direito o nome do que defende.

É por isso que, entre certos bananas e oportunistas, este escriba ficou com a fama ou de “exagerado” ou de “radical demais”. Radical em quê? Na defesa da democracia, na defesa da pluralidade, na disposição de chamar ditadura de “ditadura”, mesmo quando vem com o embrulho da consulta democrática? A grande desgraça, a grande porcaria, também no nosso jornalismo, é que ele está de tal sorte contaminado pelo pensamento politicamente correto que alguns tontos nem se dão mais conta do que escrevem. Já volto à Venezuela. Antes, algumas outras considerações.

Vimos a imprensa brasileira espalhar, por exemplo, a calúnia asquerosa do jornalista Horacio Verbitsky, um palhaço do kirchnerismo, contra o papa Francisco. Ele não tem nenhuma evidência, prova ou indício de que o agora Sumo Pontífice colaborou com a repressão. Há não mais do que a impressão e o achismo de um jesuíta então preso. Ao contrário: o que está devidamente evidenciado é que o Jorge Bergoglio atuou para tentar libertar alguns encarcerados. E isso ensejava contatos com a cúpula militar — o mesmo aconteceu no Brasil. Muito bem! A esmagadora maioria dos veículos que tratou do assunto omitiu o fato — NOTEM: É FATO, NÃO BOATO — de que Verbitsky foi um terrorista montonero. Um pouco de honestidade intelectual lhe resta: admite o fato — até porque não teria como negá-lo. Foi apresentado como “próximo” da Cristina Kirchner, a Louca da Casa Rosada. Errado! É um propagandista do governo, do regime. Mais do que isso: é um assessor informal da presidente que persegue abertamente a imprensa.

Mas quê… O suposto passado colaboracionista do agora papa é exposto, ainda que a informação seja atribuída a Verbitsky, mas sobre o passado do próprio jornalista, nada! Que critério é esse? Então a vida pregressa do terrorista e o presente do áulico têm de ser escondidos dos leitores, dos internautas?  O que aconteceu com os editores de alguns grandes veículos? Passam o dia tomando café, pensando na morte da bezerra, administrando borderôs? Estou cobrando apenas apreço aos fatos. Por que é assim? Só pode ser porque, no fim das contas, se considera que ser montonero era estar “do lado certo da batalha”. A explicação alternativa é a burrice pura e simples. Mas, como sempre se é burro de um lado só, considero que é método demais para tão pouca inteligência. A burrice metódica vira uma escolha ideológica — além de ser uma sabotagem aos interesses do leitor, do telespectador, do ouvinte, do internauta.

O mesmo se dá com a cobertura, que já ultrapassou o limite da baixaria, da pressão contra o deputado Marco Feliciano (PSC-SP). Duvido que alguém faça a ele mais restrições de natureza intelectual, política e até bíblicas do que eu. Não penso o que ele pensa. Não comungo de suas ideias. Mas é uma barbaridade, um acinte ao bom senso, uma ofensa aos fatos, afirmar que ele foi racista ou homofóbico em suas declarações. A acuação de racismo consegue ser a mais exótica. E se ele tivesse certado na referência bíblica e se referido aos cananeus, descendentes de Canaã, amaldiçoado por Noé? Quem deveria estar acusando o pastor de “racista”? Santo Deus! A mãe deste senhor é negra. Ele próprio é negro segundo os critérios dos racialistas. Seria contemplado pela lei das cotas que esses ditos “progressistas” defendem.

Lamento! A cobertura de certa imprensa lembra uma matilha hidrófoba. Do que é mesmo que acusam o deputado? De intolerante? Por isso não o deixam falar? De agressivo? Por isso não aceitam seu pedido de desculpas? De resto, se a Comissão existe apenas para homologar as reivindicações dos grupos militantes, que seja dada, então, por extinta e as matérias aprovadas sem exame. Esse tipo de procedimento emburrece gerações. Não são poucos os veículos de comunicação que estão abrindo mão, de forma clara e lastimável, da pluralidade e até do direito de defesa. EU SEMPRE SOU MUITO CLARO E MUITO DURO COM O PENSAMENTO QUE REPUDIO. MAS JAMAIS ATRIBUO, MESMO À PESSOA MAIS DETESTÁVEL, O QUE ELA NÃO FEZ OU DISSE. SE DETESTÁVEL MESMO, CERTAMENTE ENCONTRAREI RAZÕES PARA CONTESTÁ-LA POR AQUILO QUE FEZ E DISSE. “Ah, é que você pega leve com os evangélicos.” Pego? Perguntem a Edir Macedo.

Não é assim, não! Há uma perda quase generalizada de referências. Este blog existe porque a Internet está aí. Mas a imprensa não pode ser mera caudatária desse processo, até porque, há muito tempo, também as redes sociais não são livres. Estão sendo monitoradas por grupos organizados, por difamadores profissionais, por militantes a soldo.  O que entendemos por democracia? É a força de quem grita mais? Ninguém precisa testar a sua tolerância com pessoas com as quais concorda, não é mesmo?

Quais são, no fim das contas, os valores que orientam esse jornalismo?

Volto à Venezuela
Sempre fico muito irritado quando leio um tonto ou outro a afirmar que, afinal, a Venezuela não pode ser considerada uma ditadura porque há oposição, porque funciona um Parlamento, porque há eleições… Bem, então não houve ditadura militar no Brasil. Simples assim. Não houve???

Nicolás Maduro, ex-motorista de ônibus, resolveu voltar a seu passado de “trabalhador”. Afinal, o marqueteiro de Lula e Dilma, João Santana, está lá e é seu orientador. Conduziu pessoalmente um grupo de eleitores para uma solenidade de entrega de 352 casas. Também estreou num programa de televisão. A oposição, evidentemente, não tem acesso à TV e não pode participar da entrega de prebendas. “Quase ditadura”? “Democracia diferente?” Não! A Venezuela é uma ditadura, e são, portanto, delinquências políticas estas duas frases:
“Chávez era um ditador, mas melhorou a vida dos mais pobres”;
“Chávez melhorou a vida dos mais pobres, mas era um ditador”.

Até porque essa melhoria consistiu na distribuição de alguns caraminguás do petróleo. Cobrou um preço por isso: o controle do Legislativo, o controle do Judiciário, o fim da imprensa livre — décadas serão necessárias para recuperar o país desse desastre. “E as elites antigas, que nunca distribuíram nem os caraminguás?”, poderá indagar alguém. Sua estupidez não justifica a miséria política a que o ditador conduzir o país.

Encerro assim
Em matéria de defesa da democracia, só um ponto de vista é moral: o extremista.

Por Reinaldo Azevedo

MP dos Portos – Sindicatos, PDT, PSB e PC do B já chamaram de inconstitucional estrovenga do atraso que agora defendem. O que os fez mudar de ideia? Ou: O que faz aqui Marlon Brando?

 

O que faz Marlon Brando aí acima? Já explico. 

Leitor, vamos sair do século 21 — se bem que, no Brasil, nunca esteja muito certo disso — e voltar às primeiras décadas do 20, quem sabe aos estertores do 19? Tio Rei não tem simpatia pelo PT, não mesmo! Acha o partido autoritário e arrogante, com pretensões totalitárias. Acha ainda que o governo Dilma é fraco e sem rumo. E se diverte com as previsões de crescimento de Guido Mantega, mais elásticas do que certas pesquisas eleitorais, com margem de erro (com a licença da ironia original, de Sandro Vaia) de três pontos — no caso de Mantega, sempre pra mais (e a economia pra menos)… Também acredita que essa gente tem de ser posta fora do poder pelas urnas. Dito isso, vocês sabem também que, quando aprovo uma proposta, não olho muito de onde vem: se gosto, digo “sim”. Se não, não. E digo “sim” à MP 595, a dos Portos, que busca justamente tirar o Brasil do século XIX nesse particular ao menos.

Numa lista de 142 países nessa área, Banânia ocupa a 130ª posição no quesito eficiência. Os portos brasileiros têm infraestrutura precária, um serviço lastimável e estão dominados pelo corporativismo mais brucutu — tanto o de trabalhadores como o de empresários.  A MP corrige vários atrasos no setor. Mas há um em particular que chama a minha atenção.

Boa parte da mão de obra do porto é avulsa, não regulada pela CLT. Consta que tem de ser assim porque há sazonalidades e coisa e tal. Nesse setor, vejam a ironia, os sindicatos sempre preferiram o que, em outros, eles chamam  “precarização da mão de obra”. Por quê ? Porque isso lhes garantia mais poder. Até a Lei 8.630, de 1993, eram eles que decidiam, sozinhos, quem trabalhava e quem não trabalhava, o que dava a chance a todo tipo de arbitrariedade. Quem era da turma estava dentro; quem não era… Formava-se uma espécie de máfia de fazer inveja ao filme “Sindicato de Ladrões” (On the Waterfront), dirigido pelo genial e injustiçado Elia Kazan e estrelado por Marlon Brando. A foto lá no alto é desse filme. Mostra como o crime organizado dominava a zona portuária. Brando é um vilão que, vocês verão, se vê confrontado com a chance de fazer a coisa certa. Adiante.

Muito bem, em 1993, a Lei dos Portos criou outra jabuticaba para substituir os empregados-patrões que mandavam nos trabalhadores. Era uma alternativa melhorzinha do que a anterior, mas igualmente perversa: o troço tem nome de ET de filme infantil: Ogmo (Órgão Gestor de Mão de Obra). O que é um Ogmo? É uma entidade civil de utilidade pública criada pelos operadores dos portos. Sim, o troço, na prática, é privado. É obrigatório que cada porto público tenha o seu, que organiza a fila da estiva e fornece a mão de obra. É ele que determina a quantidade de trabalhadores e o valor do serviço.

Os sindicatos não gostaram. Afinal, o controle absoluto da mão de obra lhes dava um poder fabuloso. Não gostaram e recorreram ao Supremo. Não estavam sozinhos. ATENÇÃO! Também assinaram a Ação Direita Direta de Inconstitucionalidade, que ainda tramita no Supremo, o PSB (do governador de Pernambuco, Eduardo Campos), o PDT (do deputado Paulinho da Força) e o PCdoB. Vejam a prova aqui.

Qual era a argumentação de toda essa gente, como se poderá ver abaixo? A turma sustentava que o tal ET criado pela Lei 8.630 era inconstitucional. E elencava ali os motivos — fracos, a meu ver. Afinal, reitero, o Ogmo, mesmo ruim, ainda era melhor do que o poder absoluto que tinham os sindicatos. Vejam trecho da argumentação. Volto em seguida.

 

Voltei
Pois bem, a Adin ainda está lá no Supremo. Passa o tempo, e chegamos aos dias de hoje, precisamente à MP 595, a dos Portos. Por algum milagre que só os porões do sindicalismo e certa política explicam — mais escuros do que o dos navios —, toda aquela gente que achava o ET Ogmo inconstitucional passou a ser sua defensora radical. Não é mesmo linda essa conversão? O PDT agora passou ser fã do modelo. O PSB também. O PCdoB, idem. Os sindicalistas, então, nem se fale… O que mudou? Infelizmente, não dá para ressuscitar Eliza Kazan, morto em 2003, e Marlon Brando (em 2004) para fazer um novo filme, não é?

O escândalo
O que é mais escandaloso nesse caso é que a MP não põe fim aos Ogmos. Ficam lá onde estão. Ao extinguir a Lei 8.630, o texto apenas permite que as operadoras de portos privados possam contratar livremente os trabalhadores, segundo as suas necessidades e segundo o que rege a CLT. Ora, o que os partidos e os sindicatos argumentavam na Adin? Que, por serem públicos, os portos não poderiam ter a mão de obra gerenciada pelos tais órgãos, que dizem ser privados — e são mesmo! Ocorre que o mal não é esse!

O mal está em que estes organismos logo estabeleceram, como direi?, uma relação mutualista com os sindicatos, entenderam? Paulinho da Força e seu PDT, que foram ao Supremo contra o ET, querem agora que o Ogmo se estenda também aos portos privados. O PSB de Eduardo Campos rejeita a MP por causa do porto de Suape, que não quer ver transferido para a gestão federal. Mas acabou se juntando ao deputado pedetista e aos sindicalistas na defesa do mais escancarado atraso. Atenção! Ao defender a permanência dos Ogmos e sua ampliação para os portos privados, o que se está a fazer é um, lamento pelos termos, descarado lobby em favor de meia dúzia de empresários. A isso chamam “defesa dos trabalhadores”? 

Reitero: a Medida Provisória não extingue os Ogmos dos portos públicos — como, aliás, seria o certo! Isso já é uma concessão brutal ao atraso e à ineficiência. Apenas permite que os portos privados possam ser operados por um novo modelo. Não! A vanguarda do retrocesso não aceita. Não quer perder a gestão de um setor que movimenta uma soma fabulosa de dinheiro. E, nesse caso, olhem que espetáculo!, empresários que já estão no setor e o sindicalismo brucutu se uniram e se estreitaram num abraço insano, como diria o poeta.

Fraude intelectual
A fraude intelectual e política é de tal sorte que, no texto daquela Adin, sindicatos e partidos admitem que a Lei  8.130 já permite, na prática, a gestão dos portos por um outro modelo, ainda que tratem dele em tom crítico, é claro. Vejam. Volto em seguida.

A MP, então, simplesmente disciplina o que eles próprio admitem já ser permitido. Assim, não é que os críticos da medida queiram apenas impedir a eficiência. Eles querem mesmo é fazer o país andar para trás.

Os senhores parlamentares fiquem atentos. De saída, deveriam se perguntar por que partidos políticos e sindicatos se opõem com tanta energia à chegada da CLT aos portos. Sim, a natureza do setor exige mão de obra temporária. Mas também ela pode passar por uma regularização. Ocorre que, hoje, mesmo trabalhadores que poderiam estar na CLT são obrigados a ficar no filão do Ogmo.

Paulinho deveria vir a público para explicar por que o crítico feroz da estrovenga se tornou agora seu defensor. Entre uma posição e outra, aconteceu algum fato novo? O governador Eduardo Campos, que entrou no lado errado dessa batalha, deveria nos explicar por que acha que o atraso é melhor do que o progresso nessa matéria. A sua defesa de Suape não justifica a parceria infeliz. Ainda voltarei a essa MP. A única crítica que se pode fazer ao PT é ter demorado 10 anos para cuidar do assunto.

E, como dica cultural, não deixem de assistir ao brilhante “Sindicato de Ladrões”.

Por Reinaldo Azevedo

O surrealismo brasileiro – Uma entrevista de Jorge Gerdau

O empresário Jorge Gerdau concede uma entrevista a Fernando Rodrigues e Armando Pereira Filho, publicada na Folha desta sexta. É mais uma evidência do surrealismo brasileiro. Leiam trechos. Pensem a respeito. Conversaremos mais tarde.

O empresário Jorge Gerdau acha que o Brasil precisa “trabalhar com meia dúzia de ministérios” e não com as 39 pastas da administração de Dilma Rousseff -no fim do governo do tucano Fernando Henrique Cardoso eram 24. O inchaço se dá por contingências políticas, mas “tudo tem o seu limite”, diz o presidente da Câmara de Políticas de Gestão da Presidência. Em entrevista à Folha e ao UOL na terça-feira, ele completou: “Quando a burrice, ou a loucura, ou a irresponsabilidade vai muito longe, de repente, sai um saneamento. Nós provavelmente estamos no limite desse período”. Em uma de suas raras entrevistas, Gerdau disse conversar sobre esse assunto com a presidente da República, a quem elogia. “Eu já dei um toque na presidenta.” Embora enxergue avanços na gestão do país, suas previsões são de longo prazo. “Para deixar o país com planejamento competitivo em todas as frentes”, um prazo de “dez anos é pouco”. A seguir, trechos da entrevista com Gerdau.

Folha/UOL – Há quase dois anos à frente da Câmara de Políticas de Gestão, o que foi possível avançar?
Jorge Gerdau
- O trabalho mais pesado que nós fizemos foi na Casa Civil. Com o PAC, que era uma estrutura que trabalhava dentro da Casa Civil. Foi para o Ministério do Planejamento. Foi necessário fazer uma reorganização para dar condições de administração para que a presidente pudesse acompanhar todos os projetos. Fez-se toda uma estrutura de informática. Avançamos em várias coisas. No Ministério da Saúde, na área de logística, compra de remédios etc. Trabalhamos na pasta dos Transportes.

Algum resultado objetivo?
Na área de logística. [O Ministério da Saúde] Tinha capacidade de atendimento de 40% da demanda. Até junho, nós vamos atingir um ritmo de atendimento de 80%. Outro exemplo foi em Guarulhos. O aeroporto tinha uma capacidade de atendimento de 900 pessoas por hora. De 2011 para 2012, nós conseguimos atingir um número próximo a 1.500. O que foi? Pequenas coisas. Ampliar o número de balcões, o atendimento dos passaportes e do controle da bagagem. Pequenas mudanças no layout.

O sr. diria que a política atrapalha a gestão?
[Longa pausa] Dentro da estrutura brasileira, o conceito de política atrapalha bastante a gestão. Mas… [pausa] A gente tem que encontrar os caminhos dentro das realidades que cada país tem. Você tem que separar os três níveis: as funções e interesses de Estado, as de governo e as de administração. País civilizado troca de ministro e muda duas, três pessoas de relação pessoal. A administração não muda. A estrutura de governança pode ter modificações de decisão política. Muda o partido, a cabeça do líder. No Brasil, só tem quatro ou cinco instituições em que a estrutura de meritocracia e profissionalismo funcionam.

Quais são elas?
Banco do Brasil, Banco Central, Itamaraty e Exército. Tem ainda o BNDES.

O Brasil acaba de ganhar, agora, o seu 39º ministério. O Brasil precisa ter 39 ministérios?
Não. Deveria trabalhar com meia dúzia.

O número de partidos vai aumentar. A gente vai ter cada vez mais ministérios?
Diria o seguinte: tudo tem o seu limite. Quando a burrice, ou a loucura, ou a irresponsabilidade vai muito longe, de repente, sai um saneamento. Nós provavelmente estamos no limite desse período.

Do jeito que está, a presidente teria poder para reduzir o número de ministérios?
Poder, tem. Mas como o número de partidos vai crescendo cada vez mais, é quase impossível. O que a presidente faz? Ela trabalha com meia dúzia de ministérios realmente chave. O resto é um processo que anda com delegações de menos peso.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

Dilma promete o “Bolsa Bode” em Alagoas; sairá em ano eleitoral. Ou: Um TSE recheado de advogados do PT! Ou ainda: eis o pacote “do diabo”...

A presidente Dilma Rousseff prometeu nesta terça, em Alagoas, um programa de recomposição do rebanho para o pequeno produtor nordestino. Mas não já, é claro. Só quando voltar a chover. Naquele estilo bem didático que ele vem aprimorando, elencou, segundo informa o Estadão: “É um programa de retomada. Quando a seca passar, não basta chover. Vai ter de recuperar rebanhos, bode, cabra, bovino, galinhas. O governo federal está atento a isso. Não posso recuperar quando tem seca porque vai morrer outra vez, mas quero assegurar ao pequeno produtor que teve a sua cabrinha morta, seu boizinho, que o governo federal vai recuperar isso”.

Não sei por que razão — e me lembro o quanto isso me irritava ali pela adolescência —, algumas pessoas mais abastadas falam com os pobres no diminutivo, infantilizando-os. Dilma prometeu, como chamou com propriedade a reportagem do Estadão, a “Bolsa Bode”. Comecem a fazer as contas. Até que venham as chuvas, que se estruture o programa, que se consigam os recursos, que se crie a logística para comprar o bodinho, a cabrinha, o boizinho, bingo! Estaremos em 2014. Dilma sairá distribuindo bodes em ano eleitoral, E, claro!, ninguém terá a coragem de se opor, sob pena de ser acusado de querer matar os pobres de fome. Afinal, como confessou a própria presidente num momento de singular clarividência, para se eleger, “a gente (eles!) faz o diabo!”

Aliás, espero que a ministra Carmen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, tenha ouvido direitinho a confissão de Dilma Rousseff, não é mesmo? Durante parte, ao menos, de 2014, estará à frente do tribunal. Vai sucedê-la — e estará na presidência do TSE durante a eleição de 2014 — o ministro Dias Toffoli, que despontou para a política, sabemos todos, como advogado do PT.

Aquela confissão da presidente não mereceu, insisto, a devida atenção da imprensa e dos meios políticos. Os petistas, sabemos, fazem mesmo “o diabo” em ano eleitoral e não estão nem aí. Por muito menos, prefeitos foram cassados pela Brasil afora. Em 2008, quatro meses antes das eleições municipais, Lula reajustou o Bolsa Família. No governo, quem deu parecer favorável à medida, mesmo em ano eleitoral, foi justamente Dias Toffoli, que era, então, advogado-geral da União. Três dias antes do fim de 2007, diga-se, ele já tinha decidido beneficiar com um bônus de R$ 30 os adolescentes de 16 e 17 anos — o limite, até então, para receber esse dinheiro era 15. Fez a mudança por meio de MP para vigorar em… 2008.

Em 2010, Lula repetiu o expediente. Com o aumento do salário mínimo, do seguro-desemprego e das aposentadorias, tudo decidido na reta final de 2009, levou para 2010 um custo fiscal da ordem de R$ 26 bilhões. Boa parte disso, como vocês sabem, virou mesmo foi voto. Naquele mesmo 2009, a um ano da eleição, voltou a reajustar o Bolsa Família em 10%. Alguém duvida de que o Bolsa Bode de Dilma será estruturado no fim de 2013 para começar a vigorar nos começo de 2014, no período das chuvas?

Ao longo de 2009 e 2010, Lula usou descaradamente a máquina pública em favor de sua candidata. Contrariando a lei — foi multado mais de uma vez — associava no palanque a inauguração de obras ao nome de Dilma. Numa solenidade ocorrida no Itamaraty em 14 de julho de 2010, a menos de três meses do primeiro turno, ele aprontou um das suas, na presença do então presidente do TSE. Reproduzo em azul um pequeno post que escrevi então:
Numa cerimônia no Itamaraty, à qual estava presente Ricardo Lewandowski, presidente do TSE, Lula resolveu “se desculpar” por ter cometido ontem um crime eleitoral, ao cantar as glórias de Dilma Rousseff na solenidade do Trem Bala Fantasma. Atenção! Ele se desculpou à moda Lula. Negando que tivesse a intenção de desafiar a lei, explicou-se assim: “É que fiquei com a obrigação moral de dizer que quem começou o trem-bala foi a companheira Dilma. Foi ela que começou, trabalhou, organizou …”
Ainda que esse trem bala não fosse um trem fantasma, mais uma das fantasias de Lulópolis, o planeta imaginário em que vive este senhor, Dilma teria apenas cumprido a sua função no governo. Ainda que o trem bala já fosse uma realidade, deveríamos ser gratos a ela por ter feito o trabalho para o qual era paga?
Ao “se desculpar”, Lula pisa na lei novamente. Está fazendo o TSE de palhaço, numa cerimônia a que estava presente ninguém menos do que o presidente do Tribunal. Está deixando muito claro que não reconhece a autoridade do Judiciário e que ele faz o que bem entende. Outros podem estar subordinados à lei; ele não está.

Retomo
É bom a oposição ficar atenta. Quem admite fazer “o diabo” para se eleger corre mesmo o risco de… fazer o diabo!!! Limites, convenham, eles não têm. É bom ficar atenta e acionar o TSE, cobrando que a Justiça Eleitoral tenha com os chefes do Executivo federal a mesma dureza exibida com prefeitos e até com governadores.

O TSE de Dilma
No mês passado, Dilma nomeou a advogada Luciana Lóssio, 38 anos, como titular do Tribunal Superior Eleitoral, no lugar de Arnaldo Versiani. Ela ocupa a vaga destinada aos advogados. No tribunal de sete pessoas, que será presidido, em 2014, por Toffoli, um ex-advogado do PT, cumpre lembrar quem é Lóssio. A presidente já a havia nomeado ministra-substituta, em outubro de 2011, em lugar de Joelson Dias, que poderia ter sido reconduzido para um novo mandato de dois anos — era a praxe. Por razões que entendo bem pouco misteriosas, não teve o mandato renovado. Escrevi, então, o que segue (em azul)

Luciana foi nada menos do que a advogada da candidata Dilma Rousseff na eleição de 2010! Não, senhores! Aí não dá! O país não pode continuar a ser governado contra não só a essência do que é a impessoalidade, mas também contra a sua aparência. Por que Joelson não foi reconduzido? O que terá ele feito de errado? Pois é… Eu não conheço o ex-ministro. Na verdade, já critiquei aqui decisões suas. Vocês sabem como sou: discordo de muita gente; quando gosto, digo “sim”; se não gosto, digo “não”. Estou entre aqueles que acham que obedecer a Justiça é um dever, mas discutir suas decisões é um dever e também um direito garantido pelas sociedades livres.

Assim, não tenho motivo especial para defender Joelson — como fica claro, ele já decidiu contra aquilo que eu achava o certo. Acontece, E AQUI ESTÁ O BUSÍLIS, que ele tomou também um monte de decisões na eleição passada CONTRA AQUILO QUE O PT, LULA E A ENTÃO CANDIDA DILMA ROUSSEFF ACHAVAM O CERTO. Em suma, Joelson decidiu ora a favor de pleitos da oposição, ora de pleitos do petismo. Conversei ontem à noite com pessoas que transitam nessa área, nos corredores dos tribunais propriamente. O homem entrou na lista negra do PT. Passou a ser considerado um inimigo. Sendo o partido o que é, e sendo os petistas quem são, essas nobres almas consideraram que Joelson fez Justiça todas as vezes em que atendeu aos petistas e praticou tucanismo todas as vezes em que não atendeu. Eles são assim.

Mas poderiam, em nome do bom senso, do bom gosto e de uma afetação da virtude — já que lhes parece impossível o decoro sincero —, escolher, então, para o seu lugar, para remeter a um poema de Drummond, o J. Pinto Fernandes, aquele “que não havia entrado na história”, um nome neutro, que não estivesse envolvido com a narrativa eleitoral passada. Mas quê… Se assim procedessem, não seriam petistas. Decidiram fazer o contrário: decidiram deixar clara a censura a Joelson, escolhendo para o seu lugar nada menos do que aquela que atuou na banca de Dilma. Fosse ela advogada pessoal da cidadã Dilma Rousseff, já seria um tanto escandaloso. Não! Luciana Lóssio foi sua ADVOGADA na eleição; advogou para a candidata.
(…)
Vivemos dias um tanto estupidificados pelo politicamente correto. Aqui e ali se noticiou a nomeação de Luciana Lóssio destacando-se que ela é “a primeira mulher indicada para esse cargo…” Ora, tenham paciência!!! E daí? Nomear o amigo do rei para um cargo é coisa tão velha quanto a história do poder! Luciana Lóssio pode ser competentíssima e digna de todos os louros. Mas a sua nomeação para o TSE é uma vergonha que depõe contra a República. Ainda que venha a ter uma atuação impecável — e espero que sim, para o bem do Brasil —, a mácula na forma como se deu a escolha permanece nas instituições. Dilma Rousseff está perdendo a mão. Anotem aí.

Volto a 2013
Os adversários do PT que se cuidem. Os nossos bolivarianos light ainda não desistiram de controlar a imprensa, o Judiciário e a Justiça Eleitoral. É parte do pacote permanente “do diabo”.

Por Reinaldo Azevedo

Vocês querem exemplo de “ética” na política? Então fiquem com este: petistas derrubam pedido para ouvir Marcos Valério no Senado...

Por Gabriela Guerreiro, na Folha. Volto em seguida:
Senadores aliados do governo conseguiram impedir nesta terça-feira a convocação do empresário Marcos Valério para prestar depoimento na Comissão de Fiscalização Financeira do Senado.

Em maioria na comissão, os parlamentares do PT, aliados com outros governistas, derrubaram requerimento para Valério falar sobre depoimento dado à Procuradoria-geral da República em setembro do ano passado no qual liga o ex-presidente Lula ao esquema do mensalão. No depoimento, o operador do mensalão diz que o ex-presidente sabia da existência do esquema do mensalão e que recursos movimentados por suas empresas teriam custeado despesas pessoais do petista. De autoria dos senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), os parlamentares pediam que Valério fosse convocado para para detalhar do que disse aos procuradores.

Ao perceber que o requerimento seria colocado em votação pelo presidente da comissão, senador Blairo Maggi (PR-MT), os senadores do PT se mobilizaram para comparecer à comissão — esvaziada antes da votação. Com maioria, os governistas derrubaram o requerimento e fizeram críticas à tentativa de convocação de Valério.

“Esse senhor não tem autoridade de seguir mentindo Brasil afora. Se ele quisesse falar a verdade, falaria sobre a origem do mensalão, não o do PT, algo que nunca falou”, disse o senador Jorge Viana (PT-AC), numa referência ao caso do mensalão do PSDB em Minas Gerais, que ainda não foi julgado no STF (Supremo Tribunal Federal).

Irritado com os ataques dos petistas, Aloysio reagiu. “Se o Supremo condenar [tucanos], não vamos passar a mão na cabeça de ninguém. O que queremos é que esse cidadão venha aqui falar sobre irregularidades que teriam acontecido. Ninguém quer questionar o julgamento do Supremo, dizer que foi midiático, nada disso. Apenas queremos esclarecimentos”, disse o tucano.
(…)

Voltei
Não! Não há a menor chance de esses petistas irem parar no Avaaz. Os “financiadores” do site de Pedro Abramovay (ver post anterior) não deixariam.

Por Reinaldo Azevedo

 

O bolivarianismo de butique de Abramovay. Ou: Somos todos obrigados a fazer as vontades dos financiadores de uma ONG multinacional?

Num dos posts desta manhã e no imediatamente anterior a este, tratei do tal site Avaaz, chefiado, no Brasil, pelo petista  Pedro Abramovay. Trata-se de uma entidade americana, hoje espalhada pelo mundo.

Sua entrevista ao Estadão desta segunda demonstra que o Brasil está mergulhado no surrealismo, inclusive setores consideráveis da imprensa, que se tornou mera caudatária de redes sociais e do bochicho da Internet. Se a causa é politicamente correta e junta alguns milhares, então é necessariamente boa. E o estado de direito que se dane! Vamos ver.

Ao Estadão, Abramovay diz que o site Avaaz, onde ele decreta quem vive e quem morre, é financiado por doações. Sei. De quem? Seja como for, trata-se de uma entidade que se orienta como empresa privada. Logo, um grupo de financiadores escolhe os seus alvos. E não é pouco dinheiro. Quem tem recursos para financiar pesquisas do Ibope está bem de caixa. Ele não diz quanto custou. A transparência tem um limite. Ele se quer a voz da sociedade, mas só conta uma parte.

Vejam que curioso! Eu aposto que Abramovayzinho está entre aqueles que defendem financiamento público de campanha eleitoral. Assim, entende-se que este rapaz, que setores da imprensa confundem com um pensador, é contra o que eu chamaria “financiamento positivo”. O financiamento positivo, nesta acepção, é aquele em que entes privados doam recursos a um partido em favor de uma causa. Mas o “menininho malvado” do petismo é favorável ao “financiamento negativo”: ele defende o suposto direito que tem o Avaaz de receber dinheiro de terceiros para satanizar pessoas. É com essa mesma lógica clara, lúcida, cristalina, iluminada, que esse rapaz queria descriminar no Brasil o que chama de “pequeno tráfico”.

Corolário: se você não quer ter o seu nome demonizado no Avaaz, concorde com Abromovay. Na prática, o site se tornou uma espécie de chantagista moral, ideológico. Não fosse assim, as preferências disputariam espaço livremente no site. Mas não! Ele não deixa. Corta as petições — sempre com o apoio da maioria do “grupo” — com as quais não concorda. Por que falei em “chantagem moral e ideológica”? Ou você pensa o que eles pensam ou corre o risco de ir para o paredão. É a mesma lógica do sequestro: ou paga o resgate ou morre — o resgate cobrando por Abramovay e sua turma é, reitero, moral e ideológico.

Este rapaz está tentando criar uma espécie de Parlamento paralelo. Então ficamos assim: o Congresso que existe não faz a sua parte e vai pedir socorro ao Supremo, chorando como um bebê que está com a fralda molhada. E vai tomando o seu lugar o “Parlamento do teclado”, o “Parlamento do sofá”, que tem um presidente, que, por sua vez, tem um partido. Curioso: enquanto os petistas do Parlamento fechavam com Renan Calheiros, os da Internet pediam a cabeça de Renan Calheiros… Sim, eu sei: não foram só eles. Muita gente pediu. Essa gente é hábil para fazer o mal se imiscuir no bem.

Tratem, senhores parlamentares, de fazer as vontades dos financiadores do Avaaz — ou “eles” pedirão a sua cabeça. Ou criem vergonha na cara e reajam às práticas chantagistas que selecionam alvos.

Não, senhores! Não vou condescender com esse bolivarianismo de butique do senhor Abromovay! A Venezuela chegou àquele estado miserável usando as boas causas a serviço da pistolagem ideológica.

Por Reinaldo Azevedo

 

Aloysio Nunes: “Vento está batendo na vela do Eduardo Campos”

Por Thiago Herdy, no Globo:

Aos 67 anos, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) conheceu recentemente a sensação de pular de paraquedas. “Tem uma hora que bate um vento e enche a vela. É nessa hora que você tem que correr e se lançar”, explica o senador, para logo em seguida explicar: “Eu acho que o vento tá batendo na vela do Eduardo Campos”. Mas e na de Aécio Neves, virtual pré-candidato do seu partido à Presidência?, pergunta O GLOBO. “Ainda é muito cedo para roçar, não vamos deixar que seja tarde para carpir”, responde o principal interlocutor de José Serra (…). “Vamos deixar nossas coisas do PSDB para depois da convenção (marcada para maio). São coisas que estamos discutindo dentro do partido ainda. A alternativa não será apenas nossa, será do conjunto das oposições”, completa Nunes, demostrando que a negociação interna pela candidatura do mineiro não está sacramentada. Nesta entrevista ao GLOBO, o senador tucano critica a reorganização do Congresso de acordo com “interesses setoriais” em detrimento da organização partidária. Ataca a falta de liderança política de Dilma, que há dois anos chegou ao cargo prometendo uma agenda de reformas a ser criada a partir do diálogo com a oposição, mas muito pouco conseguiu.”Agora está tarde, a preocupação com o curto prazo se exacerba porque tudo está submetido à lógica da campanha eleitoral”, afirma o senador, um dos poucos que se posicionaram pela manutenção do veto presidencial na lei dos Royalties e que acusa os outros estados de promoverem “bullying federativo” contra RJ e ES.

O ex-presidente Lula lançou Dilma à reeleição, a oposição deve fazer o mesmo?
Não. Mas eu não vou falar sobre sucessão em matéria de oposição. Vamos tratar na convenção partidária, é outro capítulo. Evidentemente quem antecipou a campanha foi a presidente.

Não é uma estratégia para forçar a oposição a lançar seu candidato?
Eu acho que não, acho que é uma estratégia para exorcizar o fantasma do Lula e a insegurança política dela, porque havia a especulação de que o Lula poderia ser candidato. E também faz isso diante das dificuldades reais que o governo dela está vivendo.

Quais são?
O povo está consumindo, os empregos estão sendo criados, mas são empregos ruins, basicamente no setor
de serviços. Os salários são baixos, as famílias estão se endividando, estamos consumindo mais do que estamos produzindo. Todo mundo está vendo que essas coisas não vão durar muito tempo, acelerar o calendário eleitoral é uma fuga para adiante.

(…)
Há espaço para atrair o PSB ao projeto do PSDB?
Acho que não. O PSB caminha para ter uma candidatura própria e que não vai se colocar no campo da situação. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar. E eu não vejo o Eduardo Campos sendo o vice da Dilma, nem a presidente cometendo a insensatez de chutar o PMDB. Eu cometi a insensatez de fazer um voo de paraglider, sabe o que é isso?

Sim.
Então, paraglider é um seguinte: tem uma hora que bate um vento e enche a vela. É nessa hora que você tem que correr e se lançar. Eu acho que o vento da batendo na vela do paraglider do Eduardo Campos. Imagino que ele quer ser candidato. A Marina é candidata, o PSDB será igual, teremos o nosso.

Mas o vento ainda não bateu e encheu a vela do Aécio?
Ainda é muito cedo para roçar, não vamos deixar que seja tarde para carpir. Pra roçar ainda está um pouquinho cedo. Vamos soltar no tempo certo.

(…)
Há dois anos Dilma assumiu propondo um diálogo para reformas fundamentais…
Não existe. Quando assumiu o Lula chamou a oposição para um diálogo em torno da reforma da previdência. E só por isso a reforma foi concluída naquele momento. Há um diálogo entre governo e oposição, mas em torno de questões tópicas. Uma proposta de agenda de reformas não se propõe. Agora está tarde. A preocupação com o curto prazo se exacerba porque tudo está submetido à lógica da campanha eleitoral. E começa a falar besteira.

Por exemplo?
Não herdamos nada de ninguém”. “Fazemos o diabo em eleição”. É um linguajar do Lula sem a graça do Lula. Foram dois anos perdidos do ponto de vista da gestão econômica, agora são mais dois anos perdidos também porque ela vai continuar espremendo este limão até o final.

Falta habilidade política?
Não é habilidade, é visão estratégica, é compreender o peso da Presidência. Ela está vivendo na gordura acumulada do governo Lula e fazendo uma operação de cabotagem sem enfrentar os problemas reais. Só fala: “vamos fazer a reforma tributária”. Cadê? E a reforma política? Se vc afastar as questões muito, polêmicas, chega em pontos que todos estão de acordo. Por que o governo que tem a liderança da maioria, não toma a iniciativa? Porque tem uma visão de curto prazo, não abre um diálogo real com as forças políticas do país. É um governo balofo e fraco.

(…)
Na sessão dos royalties falou mais alto o interesse regional…
Os líderes do governo não deram nenhuma palavra, ficaram ali quietinhos. Virou uma bagunça isso, vaca não conhece bezerro. A falta de intervenção para resolver essas questões federativas, aliada à centralização de receitas e desoneração de impostos às custas de estados e municípios, são coisas que tornam os conflitos federativos muito exacerbados. A presidente finge que não é com ela. Deixou chegar a este ponto, tão grave que seus líderes não tiveram condições de se pronunciar em defesa dos vetos dela.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Jabuticaba, maior pororoca da Terra e Orçamento com três meses de atraso

Pra que serve a peça orçamentária no Brasil? Pra nada! É por isso que os nossos ufanistas tanto criticam o sistema americano. O nosso é muito melhor! Naquela democracia atrasada, só se governa com orçamento aprovado pelo Congresso e só se alteram os limites estabelecidos, muito especialmente o de endividamento, com a aprovação dos digníssimos parlamentares. Há, sim, confrontos políticos, como vemos a cada ano em que se busca evitar o abismo fiscal. Mas nem se concebe a esculhambação de um governo administrar o país sem a definição do Orçamento.

Os EUA não sabem o que é ter jabuticaba e a maior pororoca do mundo… Na noite desta terça, o Congresso Nacional aprovou, finalmente, o Orçamento de 2013. Com três meses de atraso. Leiam reportagem de Gabriel Castro, na VEJA.com.

O Congresso Nacional aprovou na noite desta terça-feira o Orçamento da União para 2013. Na semana passada, os deputados já haviam aprovado a proposta, que prevê despesas de 2,28 trilhões de reais e salário mínimo de 678 reais. Faltava o aval do senadores. Foram 53 votos favoráveis, um contrário, duas abstenções e uma obstrução.

O senador Romero Jucá (PMDB-RR), relator do Orçamento, deu o único voto contrário – mas disse que o registro foi feito de forma equivocada. Os tucanos não participaram da votação porque defendiam a apreciação dos vetos presidenciais antes do Orçamento.

O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), tentou nesta terça submeter o tema ao plenário em votação simbólica. Mas senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) pediu verificação de quórum, o que obrigou os parlamentares a registrar o voto individualmente.

O Orçamento deveria ter sido aprovado em 2012, mas, na reta final do ano legislativo, uma decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF) – mal interpretada pelo Congresso – impediu a apreciação. Atendendo a um pedido da bancada do Rio de Janeiro, que pretendia adiar a apreciação dos vetos presidenciais ao projeto que trata dos royalties do petróleo, o ministro disse que os vetos precisavam ser analisados em ordem cronológica. Na ocasião, os presidentes da Câmara e do Senado entenderam que o Orçamento não poderia ser votado enquanto os mais de 3.000 vetos engavetados fossem votados pelo Congresso. Quando a confusão foi desfeita, não havia tempo para a apreciação da proposta em 2012.

Os gastos de custeio, com salários e aluguéis, são garantidos pela legislação. A cada mês, o governo pode gastar 1/12 do montante previsto para o ano mesmo sem um Orçamento em vigor. Para evitar a paralisia de obras e investimentos, o governo elaborou uma Medida Provisória liberando um quinto dos investimentos previstos para 2013 – cerca de 42 bilhões de reais.

Já em março deste ano, o STF decidiu que nem mesmo a ordem cronológica era necessária: os vetos poderiam entrar em pauta de acordo com a decisão do presidente do Congresso, Renan Calheiros.

Ainda assim, o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), protestou: ele defendia a votação de todos os vetos, iniciando pelos mais antigos, antes que o Orçamento fosse votado. Foi por causa da falta de acordo que os senadores não votaram a proposta orçamentária já na semana passada. Agora, o tucano ameaça recorrer ao Supremo.

Por Reinaldo Azevedo

 

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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1 comentário

  • Maurício Carvalho Pinheiro São Paulo - SP

    Reinaldo, seja inteligente por inteiro. Nâo fique esper neando contra os passos do PT. Politica é assim. E, mentir e enganar, principlamente da parte de safados é uma praxe. Ainda mais esse partideco que em sacanagens e picardia é MBA !!! A maioria é de safados e malandros, e a base aliada, principalmente do PMDB, em sua parte podre e safada também (Sarney,Renan, nosso vice-pre), só prometem sempre lá pra frente, e não fazem nada. Para combater essas coisas tem que fazer tipo a Avaaz, e alcançar o povão, botando terminais de votação nas ruas, metro, pontos de onibus, etc., submetendo a comentários causticos contra essas coisas, senão na eleição, junto com pesquisas fajutas de "Popularidade", compradas, que visam simular "Aprovação" vão ser usadas à larga para influenciar o voto dos semi-analfas que são 70% do eleitorado (obrigados a votar sem saber no que), junto com essa do Bode,e outras tipo pré-sal que para achar petróleo a mais de 5.000 metros vai ter que gastar US$ 600 bilhões (que não temos), antes, para saber se vale a pena, e que só vão saber da verdade a hora que não puderem nem comer, nem pagar as contas, nem pagar combustíveis para ir ao trabalho, isto sim, servirá para acabar com essa festa de incompetencia, cabidaço de empregos, promessas, contos do vigário e desvios de grana e abreviar o tempo de provação que teremos passar até sumir essa corja do cenário do país !! para que esperar que isso aconteça ??? Onde está a inteligencia ??

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