Será que o Bolsa Família, ele sim, está virando uma cultura? Ou: O que querem os pobres? Ou: Pai, mãe, faxina, hora extra e ...
Será que o Bolsa Família, ele sim, está virando uma cultura? Ou: O que querem os pobres? Ou: Pai, mãe, faxina, hora extra e uma máquina de escrever
Vamos lá. Uma confusão a mais, uma a menos, que diferença faz? Adiante. Mandam-me um vídeo que já foi bastante visto no YouTube. Eu não o conhecia. Vejam. Volto em seguida.
Voltei
Quando eu era moleque, uns 8, 9 anos, começou o negócio da “calça liamericâna”. Era preciso ter uma calça “liamericâna”. Vim a saber algum tempo depois que se tratava, na verdade, de uma calça da marca Lee, americana.
Depois de algum tempo, fui contemplado com uma. Aquele brim me incomodou de tal maneira que só voltei a usar jeans aos, deixem-me ver, 47 anos. Como não tinha Bolsa Família, minha mãe decidiu fazer umas faxinas a mais e aumentar o ritmo da costura para oficinas de roupa. Tudo para satisfazer a vontade do filho. Depois minha mãe fez mais faxina, e meu pai, mais horas extras para comprar uma máquina de escrever Olivetti Studio 45. Eu os convenci de que só seria feliz se tivesse uma Olivetti Studio 45. Foi em 1974. Acho que cheguei a simular uma febre, não sei bem… Nem me orgulho nem me arrependo da pequena trapaça.
Ah, como é tediosa a vida dos pobres esforçados para os ricos “progressistas” que hoje pululam na política e até nas redações. Fico pensando naquele banqueiro de esquerda, cheio de desdém, e nos seus estafetas: “Por isso esse Reinaldo ficou assim reacionário…”. Marilena Chaui me odeia. Este pronome oblíquo não sou eu, Reinaldo Azevedo. Este “me” é uma legião de gente que nunca aceitou pedir.
“Ah, o Reinaldo gosta de pobre esforçado. Quer usar o próprio exemplo ou de seus pais…” É isso mesmo! Eu me orgulho deles! Como escrevi aqui dia desses, citando um poema de Drummond, sou contra o “vício de esperar tudo da oração” e o vício de esperar tudo do estado, uma droga pesada, que cria a pior de todas as dependências. Uma hora estudo isto, mas creio que vira uma espécie de dependência química também. Certamente produz efeitos neuroniais devastadores.
No primeiro ano de seu governo, quando insistia no Fome Zero, Lula dizia que o bolsismo deixava o povo preguiçoso; que, em vez de plantar macaxeira, ficava à espera de benefícios. Em parte ao menos, ele estava certo. Mas depois, como de hábito, preferiu o erro que era mais útil à sua carreira política.
É claro que existem pessoas que precisam efetivamente do Bolsa Família. Na forma como se dá o programa, no entanto, a questão é saber que Brasil se está construindo. Num país em que a política seguisse o molde da tradição democrática, isso estaria sendo debatido. Entre nós, no entanto, os partidos competem para saber quem quer tornar o povo ainda mais dependente da droga pesada do estado.
No dia 7 de janeiro, fez 13 anos que meu pai morreu. Não me deixou um só bem além dessa máquina de escrever. Mas sei o quanto lhe custou. Quando eu me for, além do afeto dos que amo, quero a Studio 45 perto de mim. Melodrama barato? Pode ser. Cada um tem o seu. Mas a única servidão que vale a pena é a que dedicamos a nossos amores.
Esse país de pedintes e reclamões (em todas as áreas; daqui a pouco falo sobre uma briga que meu amigo Gerald Thomas comprou) só tem passado, não tem futuro.
A fita, sem uso há uns bons 25 anos, não ajudou muito. Ali está escrito: “Com o Tio Rei desde 1974. Grana de faxina e horas-extras”. País decente transforma suor em letras
Por Reinaldo Azevedo
Não existe “cultura negra”. Não existe “cultura indígena”. Não existe “cultura indígena”. Isso tido é invenção de aproveitadores e pilantras. Ou: Logo, Ministério de Marta exigirá uma prova de que o sujeito é gay!
O que há em comum entre os ianomâmis, os bororos e os xavantes? Resposta: nada! São índios, mas nada os une. “Ah, pertencem ao mesmo tronco linguístico macro-jê”. Claro, claro… Nós e os iranianos temos o indo-eruopeu como raiz comum, não é mesmo? Não existe uma “cultura indígena”. Isso é invenção do cretinismo antropológico. Da mesma sorte, perguntem à África o que seria uma “cultura negra”… Os tutsis e hutus rejeitarão brutalmente essa reunião de desigualdades, e rejeitam, diga-se, cortando uns as pernas dos outros. O que une os brancos brasileiros aos brancos da Bulgária? Só a Dilma Rousseff… Não existe também uma cultura branca.
Esse negócio de “Mama África”, de cultura negra, de cultura indígena, de cultura sei lá o quê… É tudo, como dizia meu pai, “meio de vida”, uma forma de enganar os trouxas e, com frequência, de bater a carteira dos desavisados. Existe, e com muita boa vontade e largueza teórica, alguns traços gerais que podem, em razão da unidade linguística, da unidade territorial, da unidade política, constituir, depois de algum tempo, a “cultura de um país”. Mesmo assim, toda a graça está na diferença dos que supostamente são iguais.
Numa mesma cidade, há diferenças de valores, de hábitos, de recortes, a depender dos grupos que são mais ou menos influentes, mais ou menos capazes de impor a sua visão de mundo como uma referência. O acento da fala da Zona Sul do Rio não é o mesmo da Zona Norte, como o da Zona Leste de São Paulo se distingue do da Zona Oeste. E, por óbvio, os indivíduos, dentro dessas áreas, se unem em grupos distintos, que não se sentem representados por aqueles que são considerados representantes “típicos” da região. Será que os milhões de moradores da Zona Leste da capital paulista se sentem representados pelo RAP? Isso é uma tolice, uma forçação de barra, um preconceito! Então ninguém lê Camões em Guaianazes? Vão se danar os mistificadores!
Por isso é uma ideia estúpida, discriminatória já na origem, essa história de o Ministério da Cultura promover um “Prêmio Funarte de Arte Negra”. A razão é simples: também não existe uma “arte negra”, mas uma arte eventualmente feita por negros, brancos, japoneses, ciganos, índios, sei lá eu. A poesia, como se tornou conhecida no Ocidente — e todo o seu desenvolvimento — merece o epíteto de “arte branca”? Os sonetos de Cruz e Souza são o quê? “Arte branca” feita por um preto? E os romances de Machado de Assis? Prosa branca redigida por um mulato metido a branco?
Empulhação!
Mistificação!
Pilantragem!
A propósito, os caetés e tupinambás, quando comiam seus “irmãos”, estavam fazendo o quê? Digerindo alguém de sua própria “cultura”? No Sudão, os quase 600 mil mortos foram vítimas da “cultura negra”? A Segunda Guerra Mundial foi o quê? Uma revolta da “cultura branca” contra si mesma?
A proposta de Marta já e uma estupidez em si. E mais estúpida se torna quando se exige que os projetos sobre a “cultura negra” excluam a presença de brancos. A propósito: se houver algum indígena no grupo, a proposta também será recusada?
No seu programa de rádio, Marta disse que o ministério pretende fazer propostas só para mulheres, só para índios etc. Entendo. Então me responda, grande pensadora. No caso do “projeto só para as mulheres”, vão se distinguir as negras das brancas ou, nesse caso, a igualdade de gênero poderá conviver com a desigualdade da cor da pele? Ou, nesse caso, o gênero une o que a cor supostamente separa? E por que não, então, um outro só para homossexuais? Imaginem o sujeito tendo de provar para a Funarte que é, sim, gay e que não procedem as acusações de bichas invejosas que dizem que ele é um desses desprezíveis hetereossexuais que só estão atrás da grana do Estado…
É mesmo uma pena que não haja no Brasil partidos de oposição dignos desse nome. Existem, sim, políticos que resistem às empulhações racialistas. Cito o caso do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que se opôs à imposição das cotadas nas universidades federais, o que, de resto, feriu a autonomia universitária. Falo, no entanto, de voz partidária mesmo, que transforme esses descalabros petistas em debate político. Não há.
Ao contrário. Existe silêncio, neste e nos demais assuntos. O PSDB tem a ambição de uma dia voltar à Presidência da República fugindo ao confronto de valores, reduzindo a política a um confronto de administrativismos, enquanto o PT promove, ele sim, a guerra cultural de todos contra todos, para que possa triunfar como suposta voz do consenso possível.
Por Reinaldo Azevedo
Heil Maduro, mein Führer! Ditador anuncia agora a criação de milícias operárias armadas e uniformizadas!
O Führer da Venezuela saúda seus seguidores e anuncia a criação das novas milícias. Logo ele vai mudar o desenho do bigode… (Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
Nicolás Maduro, o ditador eleito (???) da Venezuela sempre pareceu muito ruim. Estávamos todos enganados. Ele é ainda pior. A crise interna no bolivarianismo está levando o homem celeremente para o delírio. Leiam o que informa a VEJA.com:
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Com a Venezuela dividida pelas acusações de fraude nas eleições de abril e ameaçado por cisões dentro da cúpula chavista, o pressionado Nicolas Maduro veio a público nesta quarta-feira para incentivar a criação de um novo grupo armado ligado ao governo, as “milícias operárias”. “Ordeno avançar, o mais rápido possível, com o estabelecimento e a organização das milícias operárias bolivarianas como parte das milícias nacionais”, bradou Maduro em um ato na Universidade Bolivariana de Trabalhadores Jesús Rivero, em Caracas.
Milícias
De clara inspiração fascista, a Milícia Nacional Bolivariana foi estabelecida por Hugo Chávez em 2009 para reunir e legitimar todos os grupos armados clandestinos que realizavam o trabalho sujo de intimidar os opositores do regime. O novo grupo proposto por Maduro faria parte desta milícia, que por sua vez é ligada às Forças Armadas venezuelanas, e seria composto principalmente por membros da classe trabalhadora em um esforço para “fortalecer a aliança operária-militar”.
“As milícias serão ainda mais respeitadas se tiverem 300 mil, um milhão, dois milhões de trabalhadores e trabalhadoras uniformizados e armados, prontos para a defesa da soberania e da revolução”, destacou Maduro. Segundo estimativas, o atual efetivo da Milícia Nacional Bolivariana é de 130 mil homens.
Golpe
O apelo do presidente acontece dias depois de a oposição venezuelana ter divulgado uma gravação que aponta uma conspiração dentro do governo contra Maduro. Em uma conversa com um agente do serviço secreto de Cuba, o popular apresentador de TV Mario Silva, personalidade ligada à cúpula chavista, acusa o chefe da Assembleia Nacional Diosdado Cabello de tramar um golpe contra o presidente venezuelano. Com bom trânsito no setor militar, Cabello teria a simpatia de parte das Forças Armadas, que estariam rachadas por divisões internas.
Por Reinaldo Azevedo
Corajoso, juiz suspende projeto racista de Marta Suplicy, e Marta Suplicy chama a decisão de… racista!
Está de parabéns o juiz José Carlos do Vale Madeira, da 5ª Vara da Seção Judiciária do Maranhão, que teve a coragem de defender a Constituição da República Federativa do Brasil. Vejam a que ponto chegamos: ter de parabenizar um juiz por… seguir a lei! O que Vale Madeira fez? Suspendeu editais do Prêmio Funarte de Arte Negra, do Ministério da Cultura, destinados apenas a projetos de “criadores negros”. Segundo o juiz, eles “abrem um acintoso e perigoso espectro de desigualdade racial”. Na mosca! O jornal O Globo não retrata a realidade ao afirmar que ele suspendeu os “editais de incentivo à cultura negra”. Errado! O problema não está em incentivar a cultura negra (na suposição de que ela exista, claro!, o que é falso). A odiosa discriminação — contra negros e não negros — está em restringir os projetos a pessoas que tenham uma determinada cor de pele.
A coisa é de tal sorte estúpida que a Funarte se recusou a receber o projeto de dez negros que, sob direção do dançarino Irineu Nogueira, também negro, tentaram inscrever o espetáculo “Afro Xplosion Brasil”. Ana Claudia Souza, diretora do Centro de Programas Integrados (CEPIN) da Funarte, informou que o grupo foi vetado porque está sendo representado pela Cooperativa Paulista de Dança, cujo presidente, o bailarino Sandro Borelli, é branco!!! Tratava-se de mera questão burocrática. O grupo apresentou a proposta por intermédio de uma pessoa jurídica para evitar o desconto de 27,5% do Imposto de Renda na verba pedida, de R$ 150 mil.
Marta Suplicy, a artífice genial da ideia, não teve dúvida: no programa “Bom Dia, Ministro”, desta quarta, classificou a decisão do juiz de “racista” e anunciou que o governo já recorreu. Essa grande pensadora institui um projeto que discrimina as pessoas pela cor da pele, em flagrante desrespeito à Constituição, mas chama de “racista” o ato que restabelece o império da lei.
O primeiro edital foi lançado no dia 20 de novembro do ano passado. O prazo teve de ser dilatado duas vezes porque os projetos não apareciam. No rádio, afirmou a preclara:
“No começo tivemos poucas pessoas apresentando projetos. Então nos demos conta de que os criadores negros não tinham acesso a esse edital. Quando pedimos para as regionais do Ministério da Cultura fazerem seminários, irem atrás das comunidades, das instituições negras, de 18 projetos chegamos a mais de dois mil (foram, no total, 2.827). Hoje temos o problema inverso, de selecionar para as poucas vagas que temos.”
É parolagem das grossas. Até os beneficiários do Bolsa Família (com suposta renda entre R$ 70 e R$ 140) têm acesso, como reconhece o governo, a telefone celular e redes sociais! São os excluídos sociais digitalmente incluídos, uma nova categoria criada pelo petismo, entendem?… Por que os “criadores negros” não teriam acesso aos editais? O que o governo fez foi buscar uma solução para o problema que ele próprio criou. Como os projetos não apareciam — e não porque negros sejam incapazes disso, é óbvio —, o ministério teve de dar um jeito de pari-los. E por que não apareciam? Porque o Brasil é menos racista do que o governo. País afora, apenas uma minoria extrema de criadores negros rejeita a presença de brancos.
De resto, “cultura negra”, assim como “cultura indígena” ou “cultura branca” são mistificações criadas pelo pensamento politicamente correto. Não existem! Mas deixo para outro post.
Por Reinaldo Azevedo
Quando a Comissão da Verdade, de Dilma, vai pôr frente a frente Orlando Lovecchio e os terroristas acusados de arrancar a sua perna? Ou essa acareação não interessa à Comissão da Mentira Oficial?
Vejam este homem.
Ele se chama Orlando Lovecchio. Como vocês notam, usa uma prótese do joelho para baixo na perna esquerda. A parte que lhe falta foi arrancada num atentado terrorista ocorrido em 1968. Já volto ao caso. Antes, algumas lembranças.
A Comissão da Verdade, agora presidida por Rosa Cardoso, que só está lá porque foi advogada da ex-militante terrorista Dilma Rousseff, decidiu fazer barulho na imprensa — que lhe fornece o megafone. Ontem, acusou a Marinha de ter omitido supostos documentos que comprovariam a morte de 11 militantes políticos dados como desaparecidos. Escrevi a respeito. Em nota oficial, a Força negou que esteja omitindo informações. Desde o princípio, os revanchistas queriam chegar aos militares da ativa. Maria Rita Kehl chegou a dizer que as Forças Armadas mancharam “as suas honras (sic)”. Rosa achou pouco. Falando em nome da grupo, disse que a Comissão vai, sim, recomendar, contra a Lei da Anistia e contra a lei que a instituiu, que os agentes do estado anistiados sejam criminalmente responsabilizados. Já há uma decisão do Supremo contra a revisão da Lei da Anistia. Rosa não está nem aí. Na sua concepção de verdade, não cabe a legalidade do estado democrático e de direito.
A comissão, nós já vimos há alguns dias, quer fazer sessões púbicas, promover acareações, submeter, enfim, os depoentes a um simulacro de julgamento e condenação sumários — mesmo que não possa realizar, ela mesma, a persecução penal.
Então volto agora a Lovecchio. Como já lhes contei em maio do ano passado, no dia 19 de março de 1968, o então jovem Orlando, com 22 anos, estacionou seu carro na garagem do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, em São Paulo, onde ficava o consulado americano. Viu um pedaço de cano, de onde saía uma fumacinha. Teve uma ideia generosa: avisar um dos seguranças; vai que fosse um reator com defeito… É a última coisa de que ele se lembra. Era uma bomba. A explosão o deixou inconsciente. Dias depois, teve parte da perna esquerda amputada.
Depoimento de um dos presos, Sérgio Ferro, indicou que o atentado havia sido praticado pela VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) e que seus autores seriam os terroristas Diógenes Oliveira e Dulce de Souza Maia. Muitos anos depois, Ferro afirmou que ele próprio participara do ataque terrorista; que ele era, na verdade, obra da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização liderada por Carlos Marighella, não da VPR, e que Diógenes e Dulce não participaram da ação.
Lovecchio, coitado!, se preparava para ser piloto. Marighella — ou Carlos Lamarca (que chefiava a VPR) — não deixou porque, afinal, queria mudar o mundo, como rezam os mistificadores. A Comissão de Anistia já fez uma homenagem ao líder terrorista e decidiu indenizar a sua família.
Não se sabe, com certeza, se foi a ALN ou a VPR que arrancou a perna de Lovecchio. O certo é que ele recorreu, sim, à Comissão da Anistia. Deram-lhe uma pensão mensal de… R$ 500!!! Marighella, no entanto, assumiu o panteão dos heróis. Não só isso: não se sabe também se o tal Diógenes participou ou não. Mas é fato que foi um dos terroristas que, no dia 26 de junho de 1968, lançou um carro-bomba com 15 quilos de dinamite contra o Quartel General do II Exército, em São Paulo. A explosão fez em pedaços o soldado Mário Kozel Filho, que tinha, então, 18 anos. Sim, a família de Kozel pediu indenização. Em 2003, a Comissão da Anistia decidiu pagar R$ 330!!! Esses valores, hoje, foram corrigidos.
Mas e Diógenes, que, comprovadamente, participou do assassinato de Kozel e de muitos outros crimes, restando a suspeita de que atuou também no atentado que mutilou Lovecchio? Ora, ele recorreu à mesma comissão que deu R$ 500 mensais por uma perna e R$ 330 pela vida de um jovem soldado e passou a ter direito, em 2008, a um mensalão de R$ 1.628. E ainda levou uma bolada de R$ 400 mil a título de atrasados.
Uma pergunta básica: quando é que a dona Rosa, a dona Khel e o Paulo Sérgio Pinheiro vão confrontar, num mesmo depoimento, Orlando Lovecchio, o que perdeu a perna, com Sérgio Ferro, o ex-terrorista que virou artista plástico de renome e diz ter praticado o atentado, e Diógenes Oliveira, apontado inicialmente como autor? Quando é que as vítimas, ou suas respectivas famílias, dos terroristas vão ser postas cara a cara com seus algozes? Em uma de suas viagens ao Brasil, Ferro disse que ajudou a pôr aquela bomba no consulado americano porque era contra as violências nos EUA no… Vietnã. Convenham: um brasileiro podia muito bem pagar com a própria perna a vontade que ele tinha de protestar contra os EUA, certo?
Atenção! A Comissão da Verdade não vai nem mesmo se dedicar a apurar, afinal de contas, se foi a VPR de, Carlos Lamarca, ou a ALN, de Carlos Marighella, que arrancou a perna de Lovecchio. Não vai porque os dois passaram a ser “anistiados”, com direito a reparação. Lovecchio, a família de Kozel e de outras 118 pessoas mortas pelos terroristas que se danem!
Às vezes, fico com a impressão de que a democracia brasileira é obra da VPR, da VAR-Palmares, da ALN, do Colina, do PCdoB e de outras organizações terroristas que decidiam, em seus “tribunais revolucionários”, quem deveria viver ou morrer.
Vejam estre vídeo.
O corajoso cineasta Daniel Moreno, hoje com 37 anos, fez um filme a respeito, intitulado “Reparação”. Acima, vai um trailer. Fica fácil saber quem é Lovecchio. Falam, entre outros, o professor Marco Antonio Villa, do Departamento de História da Universidade Federal de São Carlos (o que afirma que tanto a esquerda como a direita eram golpistas), e o sociólogo Demétrio Magnoli, o que lembra que uma significativa parte da esquerda “ainda não aprendeu que Stálin era Stálin”.
Esses são apenas fatos.
É mais uma contribuição à Comissão da Verdade!
É mais um alerta contra o photoshop da história!
Texto publicado originalmente às 4h57
Por Reinaldo Azevedo
Morre Ruy Mesquita. Pior para o jornalismo, para o pensamento liberal e para a pluralidade
Morreu nesta terça, aos 88 anos, o jornalista Ruy Mesquita em consequência de um câncer na base da língua, diagnosticado no mês passado. Pior para o jornalismo. Pior para o que resta de pensamento liberal no Brasil — que marcha, como é sabido, nesse e em outros particulares, na contramão do mundo que interessa. Ex-diretor de redação do extinto “Jornal da Tarde” e do Estadão, “Doutor Ruy” comandava, desde 2003, a seção de opinião deste jornal, que se manteve, sob a sua orientação, como um dos nichos da imprensa brasileira em que a clareza de ideias se casava com a excelência do texto. Os que se alinham com os fundamentos de uma sociedade democrática e de direito raramente se decepcionavam. Como será agora? Vamos ver. Enquanto “Doutor Ruy” estava lá, sempre torci para que, digamos, o ânimo do editorial iluminasse a Redação. Raramente, ainda bem!, percebi o movimento contrário.
O Estadão foi um dos principais alvos de duas ditaduras: a do Estado Novo, comandada por Getúlio Vargas, entre 1937 e 1945, quando chegou a ficar sob intervenção mesmo, e a militar, cujo prenúncio se deu em 1964, mas que chegou à sua plenitude com o AI-5, em 1968. O Estadão, a exemplo de boa parte da imprensa brasileira, apoiou o Movimento Militar que depôs João Goulart. Uma leitura honesta daquele período, evidentemente, não passará a chamar de “revolução” o que foi um golpe. Sim, foi um golpe! A questão é saber quem era e o que queria o que estava sendo golpeado.
O debate é longo — já tratei do assunto algumas vezes no blog —, mas o fato é que o ânimo que levou à deposição de Goulart era bem distinto daquele que resultou no AI-5. Chamar de “ditadura” os quatro primeiros anos do regime é pura licença história, quase poética. A partir de 1968, aí o bicho pegou mesmo. E o Estadão, que havia apoiado a deposição de Goulart, já havia se convertido num duro crítico do regime. Os, vá lá, liberais de uniforme já haviam perdido a batalha para a linha dura. Nota à margem: embora ele jamais tenha reconhecido, é claro que o apoio ao golpe, em 1964, foi um erro, o que não quer dizer que João Goulart fosse uma solução.
Sem jamais flertar com valores de esquerda, o Estadão passou a ser um duro crítico do regime e pagou caro por isso. Tornou-se um dos principais alvos dos censores. Em vez de maquiar o trogloditismo, o jornal o denunciava de maneira singular: trechos de “Os Lusíadas”, de Camões, substituíam as notícias cortadas pela censura; no “Jornal da Tarde”, entravam as receitas de bolo. Era uma forma de denunciar o que estava em curso.
Linha editorial
Em todo o mundo democrático, do pequeno Chile, bem pertinho, aos EUA, passando pelos países europeus e chegando ao Japão, há jornais alinhados com um pensamento mais liberal, dito “conservador”, e jornais mais à esquerda, que se querem “progressistas”. A isso se chama “linha editorial”, que não é apenas legítima, é também necessária. Com o afastamento de Ruy da redação, o Estadão caminhou para a indiferenciação, de sorte que os três grandes jornais brasileiros, hoje em dia, se distinguem na tipologia, no design, no destaque maior ou menor a determinadas seções, mas não nas categorias de pensamento. Ao contrário: parece haver uma espécie de competição para saber quem é mais “progressista” — ou, se quiserem, “esquerdista”, dada a esquerda possível hoje em dia. Essa esquerda já não lida mais com classes (como gostaria Marilena Chaui, cujo pensamento já morreu, embora ela finja não saber), mas com “movimentos” e “coletivos” de opinião, que vêm a ser justamente a negação de uma das aspirações do liberalismo, que é o apreço pelo indivíduo.
Doutor Ruy está morto, mas os valores que ele defendia estão vivíssimos mundo afora. Essa salada ideológica brasileira, que ele repudiava, felizmente, não faz escola nos centros relevantes de pensamento, ainda que a praga do politicamente correto tenha contaminado todas as democracias. Um amigo esteve com ele pouco antes de a sua doença ser diagnosticada. Lamentou, mas sem lamúrias, as dificuldades trazidas pela idade, mas estava absolutamente lúcido, ativo e, como sempre, indignado com a frequência com que, nestepaiz, escolhe-se o errado em vez do certo, o estado em vez do mercado, o coletivismo xucro em vez do indivíduo.
Aos 88 anos, morreu um homem moderno. Que os velhos de 40 ou 50 o tenham como exemplo e renunciem ao Brasil arcaico.
Por Reinaldo Azevedo
Chavista que acusou Cabello de conspirar contra Maduro perde programa de TV. Boa notícia: o chavismo está indo para o esgoto
Deem uma olhada neste tipo. Já volto a ele.
Escrevi nesta manhã um post sobre o começo do fim do chavismo — ou, vá lá, a continuidade do fim. O regime começou a morrer com a morte do tirano Hugo Chávez. Mario Silva, um delinquente disfarçado de jornalista que tem programa numa TV estatal, sempre foi um bate-pau de Hugo Chávez. A oposição tornou pública uma gravação em que Silva diz a um agente da polícia secreta cubana que Diosdado Cabello, que preside a Assembleia Nacional, planeja dar um golpe em Nicolás Maduro, o presidente do país, eleito com fraude. Os chavistas já estão se comendo, e isso é uma boa notícia.
Pois bem: nesta terça, numa mensagem gravada, Silva anunciou que deixou seu programa na TV estatal por tempo indeterminado. Seguindo a tradição das melhores ditaduras comunistas, o homem alegou “problemas de saúde”. No seu peculiar estilo cretino-dramático, afirmou: “Se tiver de me imolar em nome da revolução, o farei. Meu apoio é irrestrito às instituições e ao presidente Maduro”.
É evidente que Cabello exigiu que Maduro lhe desse a cabeça de Silva — e o presidente ilegítimo não teve outra saída: teve de ceder. O jornalista não é um só um palhaço do regime. Apresentava havia nove anos o programa noturno La Hojilla (A Lâmina) na Televisión de Venezuela (VTV), uma das emissoras estatais. É um dos fundadores do Partido Socialista Unido da Venezuela. O símbolo do programa é aquilo que chamamos, por aqui, por metonímia, uma “gilete”.
Encerro
O caso é mais importante do que parece. O chavismo está se desconstituindo. Silva, um figurão midiático do regime, é o primeiro a cair. Na conversa com o agente cubano, acusou Cabello de corrupto. O presidente da Assembleia é um pouco mais do que isso, como demonstrei nesta manhã. Um juiz desertor do Supremo Tribunal de Justiça, que fugiu para os EUA, acusa Cabello, que controla o setor de Inteligência do país e as milícias bolivarianas, de envolvimento com o narcotráfico. E não que esse juiz — Eladio Ramón Aponte Aponte — livre a própria cara. Ele próprio afirma ter atuado em favor dos narcotraficantes quando estava no Supremo Tribunal de Justiça por determinação do governo Chávez.
A explosão do crime, diga-se, é um dos fatores de desconstituição do chavismo. A Venezuela é hoje um dos países mais violentos do mundo. São 75 homicídios por grupo de 100 mil habitantes. No açougue brasileiro, para ter um padrão de comparação, essa taxa é de 26 por 100 mil. Em Caracas, esse número passa dos 100 homicídios por 100 mil.
É o Socialismo do Século 21!
Por Reinaldo Azevedo
Criação de vagas em abril é a pior para o mês desde 2009
Na VEJA.com:
O Brasil criou 196.913 novos empregos com carteira assinada em abril, aumento de 0,49% em relação ao mês anterior, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Apesar da alta, é o pior resultado para o mês de abril desde 2009. O número divulgado pelo Caged corresponde à diferença entre as admissões e as demissões no período.
No acumulado do ano, o emprego cresceu 1,39%, acréscimo de 549.064 postos de trabalho. Nos últimos 12 meses esse patamar alcança 1.087.066 novas vagas, expansão de 2,79% no número de empregos. Em abril, pela primeira vez no ano, os oito setores da economia tiveram crescimento na criação de emprego. Contudo, o setor de serviços liderou a criação de vagas, com 75.220 no período, alta de 0,46%. Em segundo lugar vem a indústria, com 40.603 novos postos (+0,49%), a construção civil com 32.921 (+1,03%) e a agricultura com 24.807 (+1,59%).
Regiões
O Sudeste foi a região com maior criação de emprego, com 127.210 vagas (+0,59%), e a Região Sul, com 39.294 (+0,54%). Também tiveram expansão as regiões Centro-Oeste, com 29.978 empregos (+0,98%), e Norte, com 2.059 (+0,11%). Já a região Nordeste foi a única em que foi registrada queda do número de vagas em abril, de 1.628 (-0,03%). De acordo com o MTE, a retração foi provocada pela sazonalidade do setor sucroalcooleiro no período. A variação percentual corresponde à diferença entre o saldo de criação de vagas de abril com o mês de março.
“Os números são otimistas, pois demonstram crescimento em praticamente todos os setores da economia”, avaliou o ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, em comunicado emitido pelo MTE. A expectativa do ministério é de que o país gere 1,5 milhão de vagas este ano.
Por Reinaldo Azevedo
Os miseráveis não podem acreditar em tudo o que leem no Facebook e no Twitter!!! Ou: Cai o vício em Deus; aumenta o vício no estado
Se também o humor brasileiro não estivesse contaminado pelo engajamento — no Brasil, até os palhaços querem ter a “marca social”; em breve, haverá o Bolsa Palhaço… —, haveria fartíssimo material para que, por meio do riso, se moralizassem os costumes: “ridendo castigat mores”. Mas quê… Também os que fazem graça agora decidiram ser professores de educação moral e cívica do politicamente correto. Há gente talentosa que começou a se perder: está mobilizando na Internet, já dá para perceber, a militância política, não os que estão em busca do riso. Quem só vê graça em desconstruir as fantasias de um lado do espectro ideológico já não faz mais humor, mas política. A turma do Casseta & Planeta, que já vinha de longe, ficou no ar 20 anos porque seu humor lidava com os preconceitos de todos os lados — tanto os “progressistas” como os “conservadores”. Não tinha agenda, e nisso estava a sua força. Tá bom, leitor! Fiz aqui um pequeno nariz de cera. O tema central é outro, mas continua no universo da piada. O governo anuncia agora que vai passar informações aos beneficiários do Bolsa Família por celular e que vai incrementar as informações nas redes sociais…
Ah, bom ! Então tá certo! Como os engajados do jornalismo e do humor não veem nisso nada de, digamos assim, contraditório, resta para um “reacionário”, um “conservador” e “direitista” como este escriba exclamar: “Que país do balacobaco este!”. O governo dá um dinheirinho às famílias muito pobres, com renda per capita entre R$ 70 e R$ 140, para, acho eu, evitar a exclusão social, essas coisas. Mas, pelo visto, admite que uma parcela dos beneficiários já não é composta de excluídos digitais, né? A média do benefício do Bolsa Família é de R$ 155 — supunha eu que fosse um dinheiro essencial para o sujeito suprir suas necessidades básicas.
Pelo visto, isso é “menas verdade”, como dizia o gramático Lula até outro dia. Nota: ninguém vai dar bolsa no Brasil para exclusão gramatical porque se decidiu que, nestepaiz, o que interessa é que “nós pega os peixe”… Já temos os “excluídos sociais” incluídos no Facebook e no Twitter, com o seu celular e coisa e tal. As telefônicas, suponho, apoiariam a ideia de cada miserável ter direito a um crédito mensal de, sei lá, R$ 20… O que lhes parece?
“Ontem [20] nós iniciamos um serviço também de mensagem para os beneficiários do Bolsa Família que têm telefone. Estamos avaliando a possibilidade de termos esse serviço para que a gente chegue rapidamente, com informações precisas, ao beneficiário do Bolsa Família. Hoje muita gente tem celular (…) A família tem telefone [celular]? Nos passe essa informação. Ontem nós mandamos informação para as famílias, dando a informação sobre o calendário [de pagamento], tranquilizando as famílias.” A fala é de Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social, segundo leio na Folha.
Bolsa BNDES
Sim, dá para debater — tanto os políticos como os humoristas poderiam fazê-lo; no jornalismo, as minhas esperanças já são menores… — se o governo não gasta muito mais com o Bolsa BNDES para os amigos do regime do que gasta com o Bolsa Família. O tema é bom. É claro que gasta! Vai se consolidando uma cultura em que pobre só aprende a ser pobre no Brasil com a ajuda do estado; e o rico só sabe ser rico com a ajuda desse mesmo estado. A única que não recebe prebenda nenhuma e ainda paga a conta é a classe média, aquela gente que Marilena Chaui “odeia”, entenderam? A classe média, coitada!, não tem nem Bolsa Juros Subsidiados nem Bolsa Facebook. E ainda é chamada de “fascista” pela Descabelada Engajada.
Num poema de 1970, “Prece do Brasileiro”, reproduzindo uma suposta fala de Jesus, que dava uma bronquinha no sujeito que, ao rezar, pedia a intervenção divina para acabar com a seca no Nordeste, escreveu Carlos Drummond de Andrade:
“(…)
Você, meu brasileiro,
não acha que já é tempo de aprender
e de atender àquela brava gente
fugindo à caridade de ocasião
e ao vício de esperar tudo da oração?
(…)”
O Nordeste continua seco — apesar das antevisões de Luiz Inácio Antonio Conselheiro Lula da Silva. Talvez o mar vire sertão, sei lá eu, mas o fato é que o sertão não virou um mar de água doce. O Brasil mudou. Já não existe o vício de esperar tudo da oração. Que bom! Agora se tem o vício de esperar tudo do Deus Estado. Esse estado precisa ensinar o brasileiro até a ser pobre — sim, ele sempre foi um excelente professor para indicar a alguns espertalhões o caminho da riqueza.
Na VEJA desta semana, leio que o PSDB fez uma pesquisa de opinião e decidiu que vai, parece, disputar com o PT a paternidade dos programas sociais. Já deveria tê-lo feito há muito tempo, acho eu. Mas será esse o busílis? O que há de mais notável no país, de estupefaciente mesmo, o que torna o Brasil um caso único nas democracias de todo o mundo, é não haver um partido que converse com quem paga a conta, com aqueles que Marilena Chaui, a Descabelada, considera “reacionários”, “fascistas” e “ignorantes” — sim, eles pagam também o salário de… Marilena Chaui.
Então… Parcela dos pobres que recebem o Bolsa Família (suponho que seja significativa, já que a ministra resolveu tratar do assunto) precisa, caro leitor, fazer aquilo que nós todos recomendamos a nossos filhos, sobrinhos, netos, alunos: deixar um pouco o Facebook e o Twitter de lado, né? Vão dizer que não há nisso algo de tragicamente engraçado — para voltar ao humor, de onde parti.
Por Reinaldo Azevedo
Cardozo, o garboso, sabe como conter invasão de propriedade no campo: prendendo os proprietários! Os padrecos pintados de urucum e o papa
No post anterior, falo sobre a ruindade da ministra Maria do Rosário e afirmo que a concorrência é dura. E é mesmo. Tem como competidor, por exemplo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, o garboso. Ele já sabe como resolver o conflito no campo entre índios invasores e proprietários legítimos das terras invadidas: PRENDE AS VÍTIMAS. Parece piada? Forçação de barra argumentativa? Não é, não. Foi exatamente isso que se deu.
Na quarta-feira, escrevi um post a invasão da fazenda Buriti, em Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul, pertencente a Ricardo Bacha. Há lá o vídeo de um programa do Canal Rural em que Jucimara, mulher de Ricardo, relata ao vivo, ao entrevistador, a ação violenta dos índios.
Muito bem! No sábado, a Justiça concedeu uma liminar garantindo a reintegração de posse da fazenda aos proprietários legítimos. E o que aconteceu então? Ora, não só índios não deixaram o local como invadiram também a sede da fazenda, o que não haviam feito até então. A Polícia Federal estava lá.
Os donos da área, segundo relata a Folha, se recusavam a deixar a sua casa. Sabem o que aconteceu? Receberam voz de prisão da Polícia Federal: “Me socaram dentro de um carro. Fomos expulsos da nossa casa como se nós fôssemos os bandidos”, afirmou Ricardo ao jornal.
É isto: nestes novos tempos, aquele que tem a sua propriedade invadida acaba preso, ainda que a Justiça tenha expedido uma ordem de reintegração de posse contra o invasores.
Leiam este outro trecho de reportagem da Folha (em vermelho):
Bacha diz que os índios invadiram a propriedade atirando. “Corremos para dentro da nossa casa para nos proteger. Eles quebraram janelas, jogaram bombas e cortaram a energia”, afirmou.
De acordo com ele, os indígenas agem sob orientação do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), entidade ligada à Igreja Católica.
O conselho disse que os seguranças do fazendeiro também atiraram, mas ninguém ficou ferido. O Cimi negou que houve depredação da fazenda e afirmou que os indígenas vistoriaram o imóvel junto com a Polícia Federal para evitar acusações de dano à casa.
Retomo
Ah, entendi. Agora invasor faz vistoria em companhia da Polícia Federal para provar que não há depredação… Daqui a pouco, estarão fazendo as leis, garantindo a ordem, fundando, enfim, um novo estado.
Entidades como o Cimi respondem pela decadência da Igreja Católica no Brasil. É o lado aloprado da instituição e o que restou de genuíno da Teologia da Libertação — genuíno, bem entendido, tanto quanto se possa confundir o sangue da cruz com tinta de urucum… De católico, essa gente não tem nem o credo. Basta lembrar que o Cimi jamais levantou a voz contra o infanticídio, prática ainda corrente em pelo menos 20 etnias Brasil afora. Os padrecos vermelhos estão muito ocupados para cuidar da alma dos anjinhos. Estão dedicados à revolução indígena. Sabem que não terão o mesmo destino do bispo Sardinha porque os índios, agora, já contam com cesta básica… Qual é a Bíblia dessa turma? O papa virá ao Brasil. Os produtores rurais tem de se organizar para entregar a Sumo Pontífice um dossiê com os crimes cometidos pela turma de batina — ou que deveria usá-la…
O Cimi nega que seja a mão a mover a ação dos índios, mas seu conselheiro na região, um certo Flávio Vicente, acusou a PF de ter tomado “o equipamento” de seu assessor de imprensa, que acompanhava a ação… Entenderam? O Cimi não tem nada com isso, mas seu assessor de imprensa (???) estava lá, filmando tudo…
Por Reinaldo Azevedo
Chavistas já estão em pé de guerra. O bom é que o vencedor será fatalmente o derrotado seguinte. Podre, o regime começa a se esfarelar
Não deu tempo de o tirano Hugo Chávez ser pendurado pelos pés em praça pública, como observei aqui no sábado, mas outros poderão ainda representar o papel de Mussolini tropical na Venezuela. Os candidatos mais cotados são Nicolás Maduro, o presidente duas vezes ilegítimo (porque assumiu na vacância de Chávez contra a Constituição e porque sua eleição foi fraudulenta), e Diosdado Cabello, que preside a Assembleia Nacional, o Parlamento unicameral do país. São hoje os dois homens fortes do regime. E não! Eles não se entendem. Numa gravação tornada pública pela oposição, um jornalista amigo do regime — um desses vagabundos que prosperam em regimes dessa natureza; no Brasil, há vários candidatos — denuncia um suposto complô para derrubar Maduro. E o líder seria justamente Cabello. Já chego lá, para tratar, inclusive, das circunstâncias surrealistas da conversa. Antes, é preciso lembrar algumas coisinhas.
Regime se esfarelando
No dia 7 de janeiro deste ano, escrevi aqui um texto sobre o impasse na Venezuela. Por quê? Chávez, que agonizava em Cuba, teria de tomar posse no dia 10 daquele mês. Estava na cara que não conseguiria. Segundo a Constituição, se isso não acontecesse, uma nova eleição teria de ser marcada. Jogaram o texto no lixo. O Tribunal Supremo de Justiça (o STF de lá), coalhado de bolivarianos, decidiu adiar a posse. Escrevi, então, nesse post:
“Tudo bem pensado, há uma boa notícia nesse imbróglio: os chavistas tentam adiar ao máximo as eleições não porque estejam unidos, mas porque estão divididos. Não é da oposição que têm medo, mas de si mesmos. Não é só o tirano que agoniza, mas também o movimento que ele inspirou. É por isso que a ditadura tenta dar um golpe em si mesma.”
O golpe em si mesmo, bem entendido, era o adiamento da posse. Depois houve outro, com a presidência interina conferida a Maduro e, finalmente, a eleição fraudada. A procrastinação tinha um único objetivo: apaziguar Cabello, que se negava a reconhecer a liderança do ungido por Chávez. Muito bem. Leiam agora trechos de texto publicano nesta segunda na VEJA.com. Volto em seguida.
*
A oposição venezuelana divulgou nesta segunda-feira um registro de áudio que revela uma conspiração dentro do governo contra o presidente Nicolás Maduro. O conluio seria coordenado pelo chefe da Assembleia Nacional e vice-presidente do partido governista, o PSUV, Diosdado Cabello. A gravação registra a conversa do apresentador de TV Mario Silva com Aramis Palacios, um dos chefes do G2, o serviço secreto cubano, e seria destinada ao ditador cubano, Raúl Castro.
No áudio, Silva explica que Cabello, um ex-tenente que participou ao lado do coronel Hugo Chávez do fracassado golpe de Estado de 1992, controla vários órgãos de segurança, entre eles o Serviço Bolivariano de Inteligência. Acrescenta que o que “interessa a ele são o dinheiro e o poder”. “A única forma de deter Diosdado é mostrar que ele é um corrupto e que exista uma prova confiável de que o comandante [Chávez] sabia disso”, adverte Silva.
O jornalista acrescenta que Maduro está preso em uma “armadilha” e corre o risco de perder o controle das Forças Armadas para Cabello, o que poderia levar a um golpe de Estado. “Têm que se sentar com Maduro e dizer a ele as coisas. Quase disse a Maduro (que) há uma conspiração, mas não sei qual vai ser a sua reação, pode ser contraproducente”. O apresentador também alertou sobre divisões entre militares e sobre a desconfiança da primeira-dama, Cilia Flores, em relação ao ministro da Defesa, Diego Molero, por acreditar que ele pretende dar o golpe.
Silva também acusa o presidente da Assembleia Nacional de corrupção e de lavagem de dinheiro por meio de “empresas de fachada”. “Há ministros aqui que não sabem sequer o que fazer. E o mais provável é que estejam roubando, Palacios, porque acham que isto vai desmoronar”.
(…)
Voltei
Mario Silva não passa de um estafeta asqueroso do regime. Embora o Brasil seja uma democracia, existem muitos tipos assim por aqui — tão bem pagos quanto seu congênere bolivariano… É um pulha, mas conhece o governo por dentro. Não por acaso, ele discute o complô, imaginem vocês!, com um agente cubano. Tornada pública a fita, ele sabe que está em maus lençóis. Cabello é um tipo perigoso, e Maduro não vai segurar a sua onda. Restou ao, digamos, jornalista afirmar que a fita é uma montagem e que tudo não passa de um complô da CIA e do Mossad, o serviço secreto israelense. Os bolivarianos são fanaticamente antissemitas, é bom não esquecer. O país de referência na cúpula do governo venezuelano é o… Irã!
Narcotráfico
A suspeita mais grave contra Cabello nem é a de enriquecimento ilícito. Há coisa muito mais grave: envolvimento com o narcotráfico. Era o candidato natural à sucessão de Chávez, mas o coronel, contam-me venezuelanos que conhecem o regime, o considerava uma ameaça. O Beiçola de Caracas chegou a pensar em se livrar do antigo “companheiro” golpista, mas descobriu que, nesse caso, quem corria o risco de cair era ele próprio. Diosdado tem o apoio de parte significativa da ala militar bolivariana, que também se beneficia das práticas mafiosas do governo.
Diosdado exigiu — e Maduro cedeu — áreas significativas do governo. Era o preço do apoio. E ele demonstra fidelidade à sua maneira. No dia 30 do mês passado, no comando da Assembleia, viu os deputados bolivarianos socando a cara dos opositores e não moveu uma palha. Ao contrário: ele estimulou a pancadaria. Além de ser o chefe do serviço de Inteligência do regime, é também o homem forte das milícias armadas. O mais grave, no entanto, é a suspeita de envolvimento com o narcotráfico.
O juiz Eladio Ramón Aponte Aponte, ex-presidente do Tribunal Supremo de Justiça, era o braço de Chávez no Judiciário. Ainda há uma página sobre ele na Internet, do tempo em que era uma estrela da Justiça.
Pois bem. O homem fugiu do país no fim de março e se tornou um delator protegido pelo DEA, a agência antidrogas dos EUA. Ele admitiu ter prestado favores a uma rede de narcotraficantes da América do Sul a pedido do governo Chávez. E listou, então, os chavistas da cúpula que lucravam com o tráfico de drogas: o ministro da Defesa, general de brigada Henry de Jesús Rangel Silva; o vice-ministro de Segurança Interna e diretor do Escritório Nacional Antidrogas, Néstor Luis Reverol; o comandante da IV Divisão Blindada do Exército, Clíver Alcalá; o ex-diretor da seção de Inteligência Militar Hugo Carvajal e… o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello!!!
Olhem Cabello ali. Segundo a Constituição, ele é que deveria ter assumido a Presidência interina do país quando ficou claro que Chávez não tomaria posse no dia 10 de janeiro. Mas parte da cúpula bolivariana, especialmente aquela mais próxima de Cuba, temia que se lançasse candidato.
A gravação que vem a público agora revela o que já se sabia nos meios políticos venezuelanos: a retórica exacerbada de Maduro é o grito desesperado de um presidente fraco, que sabe que tem pelo menos metade do país contra o regime que lidera e que pode ter minada a sua autoridade pelos próprios “companheiros”.
Se Maduro não derrubar Cabello, Cabello ainda acaba derrubando Maduro. Qualquer das duas coisas é boa para o povo venezuelano porque será um tiranete a menos. Aí será preciso se livrar do outro.
Por Reinaldo Azevedo
Maduro, o papel higiênico, as ameaças, as mentiras e a verdade dos números...
Escrevi certa feita que Hugo Chávez ainda terminaria pendurado de cabeça pra baixo, em praça pública, como um Mussolini bolivariano. Outro destino o colheu primeiro. Talvez seja Nicolás Maduro a cumprir a predição. A parvoíce agressiva deste senhor impressiona. Na quarta-feira, ele afirmou que o governo tinha a lista, com os respectivos números de documentos, de 900 mil pessoas que não tinham comparecido para votar. Se falou a verdade, péssimo. Se mentiu, péssimo também. É claro que se trata de uma tentativa de intimidar a população. A economia venezuelana está em frangalhos. Falta tudo nas gôndolas dos supermercados. A última medida estrepitosa de Maduro foi determinar a importação de papel higiênico. A falta de produtos de higiene é um clássico dos regimes ditos socialistas. Isso deve querer dizer alguma coisa. Em Cuba, por exemplo, a população se vira com o jornal Granma mesmo… É também uma forma de responder ao jornalismo oficial anti-higiênico, dando em troca o que ele merece…
O regime bolivariano começou a se desconstituir. E a quase derrota de Maduro nas eleições o evidenciou. Na quinta, ao entregar um lote de casas populares, um programa lançado em 2011 por Hugo Chávez, o presidente anunciou que o governo começará a cobrar pelas moradias. “Como vamos sustentar o gasto e os investimentos nas moradias dos próximos anos? Faremos mágica?” Pois é… A pergunta tem de ser feita ao regime que ele lidera.
O patético presidente venezuelano teve ainda uma outra grande ideia, conforme informa VEJA.com. Leiam trecho. Volto em seguida.
*
Na semana em que foi concluída a venda da Globovisión, último canal crítico ao governo venezuelano, o presidente Nicolás Maduro confirmou que vai se encontrar com donos de outros dois canais privados de televisão para orientá-los a fazer mudança na grade de entretenimento. O herdeiro político de Chávez quer acabar com o que ele diz ser “antivalores do capitalismo” transmitidos pelos veículos de comunicação.
“Já chega de narconovelas e de séries de televisão que promovem o uso de drogas, o culto às armas. Por que as novelas têm de promover a deslealdade, a traição, o narcotráfico, a violência, a cultura das armas, a vingança?”, defendeu Maduro. Na segunda-feira, ele afirmou que vai propor a criação de uma televisão “muito diferente” da que é feita hoje na Venezuela, em reunião com Omar Camaro e Gustavo Cisneros, proprietários da Televen e da Venevisión, respectivamente.
(…)
Voltei
Pois é… A Venezuela é hoje um dos países mais violentos do mundo, obra inequívoca do “Socialismo do Século 21” de Chávez — e, agora, de Maduro. Atenção! Houve no ano passado 21.692 assassinatos no país, segundo o Observatório Venezuelano da Violência. O país tem 29 milhões de habitantes. Isso significa, meus caros, uma taxa de 75 homicídios por 100 mil. Só para que vocês comparem: a do Brasil, que já é uma carnificina, é de 26 por 100 mil. Mata-se três vezes mais no paraíso chavista. Em Caracas, a taxa é superior a 100 — para comparação: em São Paulo, é de 11 por 100 mil!!! Maduro já sabe como responder ao problema: dará fim às telenovelas!
Mas os venezuelanos não sabem de nada. Quem realmente sabe o que se passa por lá é este homem:
Por Reinaldo Azevedo
Para Financial Times, otimismo no Brasil é “fachada”
Na VEJA.com:
Em seu editorial na edição desta segunda-feira, o jornal britânico Financial Times disse que o otimismo dos brasileiros com relação à economia é “de fachada”. A publicação começa o texto enumerando as boas-notícias que o país recebeu nos últimos dias, como a ascensão do diplomata Roberto Azevêdo à presidência da Organização Mundial do Comércio (OMC), a emissão bem-sucedida de títulos da Petrobras, a oferta pública de ações (IPO, na sigla em inglês) de 11,4 bilhão de reais da BB Seguridade – a maior do ano -, além do leilão de blocos de petróleo, promovido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) na semana passada. “Contudo, a aparente sensação de bem-estar é uma fachada”, afirma o conceituado periódico na sequência.
O FT destaca que a economia brasileira cresce menos do que o Japão neste ano, depois de ter expandido apenas 1% ano passado, e lembrou que a inflação alta tem erodido a confiança do consumidor. “Há um senso de mal-estar e a raiz dele é a desaceleração dos investimentos, que começou em 2011 e permanece“, diz o editorial. “Mais investimentos é exatamente o que o Brasil precisa para manter os empregos e tornar-se a potência global que ele quer ser”, acrescenta, citando que os investimentos representam 18% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, contra 24% da América Latina e 30% das potências asiáticas.
Na opinião do jornal, a culpa pela desaceleração de investimentos é de Brasília, uma vez que o modelo econômico extravagante cujo motor é o consumo, firmado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está esgotado, enquanto o modelo de Dilma, mais centralizador, acaba tornando lentas as decisões econômicas.
Outra crítica é a ajuda pontual para os setores preferidos do governo, em vez de uma ampla reforma estrutural para os mercados. Um exemplo citado é a questão da infraestrutura, com investimentos necessários em portos, aeroportos, ferrovias e rodovias. Para o FT, há interesse de empresários e investidores de participar desses setores, mas o marco regulatório ainda não viabiliza a construção de uma nova infraestrutura. “Brasil precisa desesperadamente de mais investimentos. O baixo nível da poupança nacional significa que o dinheiro terá de vir de fora. Hoje o capital está barato, mas não estará para sempre. Brasil tem uma boa janela de oportunidades e a senhora Rousseff e seu governo precisam fazer as coisas acontecerem enquanto ela ainda está aberta”, finaliza o texto.
Por Reinaldo Azevedo
O curso superior de Medicina do MST… Ou: Vamos combater vírus, bactérias e fungos com discurso socialista!
O Ministério da Saúde vai importar médicos de Cuba, como já está claro. Atuarão no país sem qualquer crivo, exame, nada. Não poderão participar de determinados procedimentos, mas quem se importa, não é mesmo? Também se fala em trazer médicos da Espanha e de Portugal para tentar, hipocritamente, tirar o caráter de exceção do caso cubano.
O mais tragicamente engraçado nisso tudo é que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou, no dia 22 de março, a suspensão de 100 novos cursos de direito. Alegou questão de qualidade. Para obter o diploma, os estudantes terão agora de fazer estágio em órgãos públicos ou escritórios privados de advocacia que atuem em órgãos públicos. A OAB concordou. Seria uma forma de qualificar os formandos e evitar a reprovação em massa no exame da ordem. É só uma medida autoritária e irrelevante, mas que passa a impressão de que algo está sendo feito…
É claro que advogados com formação deficiente podem fazer mal a seus clientes e coisa e tal, mas convenham: raramente são um caso de vida ou morte. Já com os médicos… Pois é.
Não só os médicos de Cuba virão ao Brasil como, é evidente, os brasileiros que foram cursar medicina na Ilha da Fantasia voltarão ao país. Abaixo, vocês veem depoimentos colhidos para propagandear as bolsas concedidas pelo regime cubano a estudantes de medicina brasileiros. Assistam. Volto em seguida.
Voltei
Alguma dúvida sobre os critérios de seleção empregados? Acho que não. Em breve, tudo indica, teremos centenas, quem sabe milhares, de médicos preparados para combater vírus, bactérias, fungos, perebas, malária, desnutrição, dengue e melancolia com… discurso socialista.
Por Reinaldo Azevedo
Mergulhado em escândalos – Governo Obama grampeou telefones e interceptou e-mails de jornalista da Fox News!
É… Vai mal o companheiro Barack Obama, presidente dos EUA. Escrevi ontem um texto afirmando que o escândalo da perseguição a inimigos políticos por intermédio do Fisco é mais grave do que o escândalo de Watergate. Muitos protestaram. Pois é…
Agora se descobre, no caso de espionagem do trabalho de jornalistas, que o episódio atinge também um profissional da Fox News. Obama está apenas no primeiro ano do segundo mandato, e os escândalos começam a se amontoar à sua porta. Leiam o que informa a VEJA.com.
*
Ao escândalo da interceptação de registros telefônicos de mais de vinte linhas usadas por repórteres e editores da agência de notícias The Associated Press juntou-se nesta semana outro caso de agressão do governo americano a um pilar da democracia – a liberdade de imprensa. Desta vez, o Departamento de Justiça vasculhou e-mails e interceptou registros telefônicos de James Rosen, correspondente da rede de televisão Fox News em Washington, em mais um caso de abuso de poder da administração Barack Obama. O jornal The Washington Post revelou que Rosen foi classificado pelo FBI como “cúmplice de conspiração” após obter e publicar informações de documentos confidenciais em um caso de vazamento no Departamento de Estado americano.
A investigação que envolveu o jornalista está relacionada a um episódio que tinha como protagonista o então conselheiro de segurança do Departamento de Estado, Stephen Jin-Woo Kim. Ele é acusado de ter vazado em junho de 2009 um documento confidencial do governo que dizia que a Coreia do Norte provavelmente lançaria um teste nuclear, em resposta a uma resolução da ONU condenando testes anteriores. Rosen publicou a informação em 11 de junho do mesmo ano.
O FBI, então, conseguiu um mandado para obter toda a correspondência entre Rosen e Kim, além da troca de e-mails pessoais e ligações do jornalista, segundo o Washington Post. A autorização foi dada com base em suspeitas do agente Reginald Reyes, que viu no simples fato de Rosen tentar obter documentos para escrever a reportagem indícios de conspiração e descumprimento da lei antiespionagem. “Desde o início da relação (com Kim), o repórter pediu, solicitou e encorajou o sr. Kim a liberar documentos internos dos Estados Unidos e informação de inteligência sobre o país estrangeiro (a Coreia do Norte)”, escreveu Reyes em seu relatório.
A polícia federal americana chegou até a controlar as visitas do correspondente ao Departamento de Estado – o que não estava previsto na autorização judicial. “Nós estamos indignados por saber que James Rosen foi denominado um criminoso e cúmplice de conspiração por simplesmente fazer o seu trabalho como repórter”, disse nesta segunda-feira em comunicado o vice-presidente da Fox News, Michael Clemente. “Nós vamos defender seu direito de trabalhar como membro do que sempre foi até agora uma imprensa livre”.
Segurança nacional
No caso envolvendo a agência AP, investigadores federais obtiveram secretamente dois meses de registros telefônicos, incluindo telefones residenciais e celulares. Sabe-se que o governo estava investigando o vazamento de informações oficiais sigilosas dando conta de que a CIA desbaratara o plano de um grupo terrorista do Iêmen de explodir um avião. Ninguém assumiu a responsabilidade por ordenar a espionagem contra a agência. O presidente Obama negou-se a pedir desculpas, com a justificativa de que “vazamentos em questões de segurança ameaçam a vida de agentes de inteligência”. Na zona de sombra entre os imperativos da segurança nacional e a garantia às liberdades civis, o governo americanotem o direito legal de obter registros telefônicos de jornalistas, mas só quando esta for a última alternativa e de modo limitado. Os casos ligados à imprensa também trazem à tona o tratamento que o governo democrata dá aos inimigos. A administração Obama tem sido implacável com os vazadores. O número de acusados de vazamentos no atual governo já é mais que o dobro de todos os governos anteriores somados.
Blindagem
O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, repetiu na noite de segunda o discurso usado para o caso da AP ao ser questionado sobre a espionagem contra o correspondente da Fox. Disse que “compartilha totalmente, como a maioria dos americanos, a convicção do presidente de que devemos ter uma imprensa que seja capaz de fazer um jornalismo investigativo e que devemos defender a Primeira Emenda da Constituição que consagra a liberdade de expressão”. E, para dar sequência à tese defendida pelo governo, ressaltou em seguida a importância de “não tolerar esse tipo de vazamento, que pode colocar vidas em perigo e ameaçar a segurança nacional”.
Carney estava mais preocupado em blindar a imagem de Barack Obama em relação a outro escândalo, o da perseguição do Fisco a grupos conservadores. O porta-voz confirmou que funcionários da cúpula da administração democrata, incluindo o chefe de equipe da Casa Branca, Denis McDonough, souberam no mês passado da investigação do Departamento do Tesouro sobre as irregularidades. Mas eles não informaram o presidente, disse o assessor, em uma tentativa desesperada de salvar a imagem de Obama em meio ao lamaçal dos escândalos que atingem seu segundo mandato.
Por Reinaldo Azevedo
O “liberal fascismo” do companheiro Barack Obama. Ou: O Apedeuta ilustrado dos americanos também tem seus aloprados
O governo do companheiro Barack Obama foi pego no pulo em dois casos gravíssimos de ataque a valores fundamentais da democracia — especialmente da democracia americana. Órgãos de estado, como a Internal Revenue Service (IRS, o equivalente da nossa Receita Federal), foram flagrados numa operação escandalosa de perseguição política. Os alvos: as entidades conservadoras ligadas ao Partido Republicano, especialmente aquelas mais próximas do Tea Party, a ala mais à direita do partido. O escândalo já derrubou Steven Muller, chefe do IRS. Mas pode e deve arrastar mais gente. E como se dava essa perseguição?
Entidades de apoio aos republicanos, que solicitavam ao Fisco isenção de impostos (na legislação americana, isso é permitido), passavam por avaliação especial e por critérios bem mais severos do que aqueles aplicados para analisar os pedidos de congêneres democratas. O IRS não foi a única agência a incomodar os conservadores com regras excepcionais. Leiam trecho de texto publicado na VEJA.com (em azul). Escandalizem-se. Volto em seguida.
Para complicar a vida de organizações contrárias à reeleição do presidente, os fiscais as submetiam a questionamentos absurdos. Em Iowa, por exemplo, um grupo contrário ao aborto foi instado a detalhar “o conteúdo de suas orações”. Em Ohio, a Receita levou apenas 34 dias para processar as informações da fundação Barack H. Obama, enquanto a documentação de grupos conservadores ficou retida por mais de um ano nessa peculiar malha-fina. No Texas, a perseguição não se limitou ao Fisco. Uma organização que conta com simpatizantes do Tea Party, a ala mais conservadora do Partido Republicano, foi alvo tanto do IRS como das agências de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo (ATF), Saúde e Segurança Ocupacional (OSHA) e até do FBI, a polícia federal americana.
E será que os braços-direitos de Obama sabiam de tudo? Narra o texto de VEJA.com:
A cúpula do governo de Barack Obama foi informada em junho do ano passado, a cinco meses da eleição presidencial, de que havia uma investigação em andamento sobre a perseguição do Fisco americano a grupos conservadores que solicitaram isenção de impostos. A revelação foi feita nesta sexta-feira por J. Russell George, inspetor-geral do Tesouro americano para a administração de impostos. Em uma audiência no Congresso, ele disse ter informado o secretário-adjunto do Tesouro, Neal Wolin, sobre a investigação, mas não sobre seus resultados. Wolin, número dois do Tesouro, nomeado por Obama, deverá testemunhar na próxima semana no Congresso.
Retomo
Obama, o ilustrado, a exemplo de nosso Apedeuta, diz que não sabia de nada e promete apuração rigorosa. Pois é… Você sabem que não gosto do discurso do presidente americano e da forma como ele entende e opera a política. Infelizmente para mim — que fico quase sem companhia nesse particular —, onde muitos veem a expressão da modernidade e do progressismo, eu vejo manifestação de atraso. Considero o discurso de Obama, com alguma frequência, perigosamente próximo do de alguns demagogos da América Latina (já volto a esse ponto).
No que concerne à questão criminal, é importante, claro!, saber se Obama tinha ou não conhecimento da perseguição. Caso se evidencie que sim, ele pode até — e não há exagero nenhum nisto — perder o mandato. Mas há também a questão política. E, nesse caso, não há como escapar: ainda que Obama não conhecesse detalhes da operação, há um clima político no seu governo que convida os aloprados à ação. Volto-me um pouco ao título deste post.
Fascismo de esquerda
“Liberal fascism” é o nome de um livro publicado pelo jornalista americano Jonah Golberg, traduzido no Brasil com o nome de “Fascismo de Esquerda”, publicado pela Editora Record. Goldberg demonstra com riqueza de exemplos e de evidências como os “liberais americanos” (a esquerda possível por lá) recorrem a táticas e valores do fascismo para calar os adversários. O livro foi publicado em 2007, pouco antes da primeira eleição de Obama. Dou um pulinho no Brasil.
Escrevi ontem aqui post sobre o que chamo de microfascismos em curso no Brasil, praticados por minorais que não querem vencer o adversário, mas eliminá-lo da batalha por intermédio da desqualificação pura e simples e da cassação da sua palavra. Esses grupos, hoje em dia, no Brasil ou nos EUA, atuam em parceria com organismos do estado. Vejam a verdadeira perseguição que a Funai empreende aos produtores rurais. Um organismo de estado, em parceria com a Secretaria-Geral da Presidência, incentiva invasões de propriedade e joga a legalidade no lixo. Por quê? Ora, porque eles estão convictos de que estão do lado do bem. E, em nome do bem, tudo é permitido.
É claro que há diferenças de história, de estilo e, em muitos casos, de valores entre a gestão democrata de Barack Obama e a do petismo no Brasil. Mas há semelhanças inegáveis: nos dois casos, os respectivos governos se entendem como aglutinadores de vanguardas que apelam à engenharia social (ou reengenharia) para civilizar os brutos e promover a felicidade geral. Obama, não custa lembrar, recorreu invariavelmente à imprensa e às redes sociais sempre que teve um embate com os republicanos. E, mais de uma vez, ele não os tratou como adversários políticos que têm direito a uma voz, mas como sabotadores da República e expressão do atraso. E a sua versão correu o mundo. Na imprensa e no colunismo brasileiros, por exemplo, o Tea Party é tratado como uma súcia de reacionários, que pretendem levar os EUA à Idade das Trevas. Até críticos do lulo-petismo caem nessa conversa: cobram uma oposição mais ativa aqui, mas criminalizam os adversários do Demiurgo nos EUA.
O que estou querendo dizer, meus caros, é que, soubesse Obama ou não o que faziam os aloprados do governo americano, uma coisa é certa: eles respiram um ambiente que lhes diz que aquilo está certo. Eles respiram um ambiente que lhes diz que o adversário é um inimigo que restou de um passado que tem de ser superado; eles respiram um ambiente que aplica à política uma espécie de linha evolutiva que vê no adversário apenas a expressão de uma obsolescência. E parte da imprensa americana também lhes disse que, contra os reacionários republicanos, tudo era permitido.
A imprensa ajudou
No dia 8 de novembro do ano passado, escrevei aqui um artigo sobre a reeleição de Obama e as críticas que se fizeram ao Partido Republicano. Apontava, no texto, justamente a tendência de demonização da divergência, como se não fosse ela a definir a democracia. Reproduzo trecho em azul.
*
Os valores democráticos, ao menos como os conhecemos, estão em declínio. E, se a democracia já não é mais como a conhecemos, então democracia não é, mas outra coisa, ainda a ser definida.
(…)
Os republicanos perderam a eleição. E daí? Atribui-se a derrota — como se ela tivesse sido vexaminosa, submetendo o partido ao ridículo, o que é uma piada — a suas convicções, que seriam ultrapassadas, conservadoras, reacionárias. Escolham entre esses e outros adjetivos aquele que lhes parecer mais depreciativo. Mas é isso o que dizem, afinal de contas, os fatos???
Mitt Romney teve seu nome sufragado por 48,1% daqueles que foram votar, contra 50,4% de Obama. Não foi pequeno o risco de se ter, mais uma vez, um presidente vitorioso nas urnas que, não obstante, perde no colégio eleitoral. A regra, nos EUA, é o presidente conquistar a reeleição, não o contrário. A excepcionalidade de Obama, havendo uma, está em tê-lo conseguido com uma das mais baixas margens da história — apenas 2,3 pontos de vantagem. Do primeiro ano do século 20 até agora (incluindo-se o segundo mandato do atual presidente), os republicanos foram governo por 15 mandatos; os democratas, por 14. Considerado só o século passado, o placar é de 13 a 12 a favor dos primeiros. Neste século, chegarão ao empate: dois a dois. Os democratas ficaram 20 anos no poder (de 1933 a 1952). Seus líderes chegaram a namorar com tentações fascistoides, mas o regime democrático acabou triunfando. Nas eleições deste ano, não custa lembrar, os republicanos mantiveram o controle da Câmara.
Por que, afinal, analistas de lá — dos EUA — e daqui insistem em apontar o que seria uma derrota histórica do partido (???), havendo mesmo quem anteveja, santo Deus!, até a sua extinção?
Vamos lá
Embora Obama tenha sido eleito e reeleito segundo as regras vigentes na democracia americana, é visto, por deslumbrados de lá e daqui, não como um procurador daqueles valores, mas como um seu reformador. Em certa medida, algo análogo acontece, no Brasil, com o lulo-petismo. Como a “igualdade e o bem-estar social” (aquilo que a China também promove…) tomaram o lugar da liberdade como valor essencial da democracia, e como o presidente é visto como a encarnação desses valores, opor-se a ele fugiria da esfera da luta democrática. Os republicanos, assim, não seriam representantes de uma parcela da população americana — simbolicamente, nesta eleição, a metade! — que discorda de suas medidas, de suas políticas, de suas escolhas! Nada disso! Seriam apenas porta-vozes do atraso, sabotadores, defensores de privilégios, insensíveis sociais que não estariam atentos ao novo momento.
Se os EUA se fizeram (e até Obama lembrou isso no discurso da vitória) articulando suas diferenças e divergências — e falamos de um povo que fez uma das guerras civis mais cruentas da história —, esse momento da democracia vigiado por minorias militantes, por alcaides do pensamento e por censores bem-intencionados excomunga o contraditório. À oposição, assim, não cabe nem mesmo o papel de vigiar as escolhas de Obama — muito menos de recusá-las. A ela estaria reservado o silêncio obsequioso, já que o mandato deste presidente não viria apenas das urnas, mas também dessa espécie de encarnação de utopias coletivas e igualitárias.
A VEJA.com publicou ontem uma boa síntese do que escreveram sobre o resultado das eleições alguns jornais americanos. O Wall Street Journal vislumbra severas dificuldades para os republicanos (com, reitero, 48,1% dos votos totais!!!) porque o partido teria sido escolhido, principalmente, pela população branca e mais velha — que está em declínio. Poderia ter incluído também “os homens”. Assim, este seria o retrato da “reação” na América: macho, branco e coroa. Newt Gingrich, derrotado por Romney nas primárias, não perde a chance de embarcar no equívoco. Afirmou que seu partido enfrenta um “grande desafio institucional”: descobrir como se conectar com os eleitores das minorias que compõem uma parcela cada vez maior da sociedade americana. “O Partido Republicano simplesmente tem de aprender a parecer mais inclusivo para as minorias, particularmente hispânicos.” Repete, mais ou menos, o juízo asnal de alguns tucanos no Brasil, que estão convictos de que o PSDB deve disputar o eleitorado cativo do PT… “Ah, mas um dia os brancos serão minoria, e aí…” Bem, é preciso ver se os descendentes dos latinos, em 20 ou 30 anos, continuarão seduzidos pela pauta democrata, não é?
Os republicanos construíram, eis a verdade, uma alternativa real de poder — refiro-me à questão política; no conteúdo, os dois candidatos foram sofríveis, especialmente nos temas internos. E o fizeram, no que concerne aos valores, sendo quem são. Os números e a história demonstram que a virtude da democracia americana, ao contrário do que tenho ouvido por aí, está justamente na polarização. “Mas os republicanos quase levam os EUA ao calote, Reinaldo!” Não! Os republicanos se utilizaram de uma garantia constitucional para não permitir que o Executivo impusesse a sua vontade. Obama foi obrigado a negociar, e eis aí o homem reeleito.
O New York Times (aquele jornal que aceita anúncio conclamando católicos a deixar de ser católicos, mas recusa o que conclama muçulmanos a abandonar a sua religião) foi mais longe. Viu na reeleição de Obama “um repúdio à era Reagan” no que diz respeito ao corte exagerado dos impostos e às políticas de “intolerância, medo e desinformação”. Uau! É um triplo salto carpado dialético e tanto, não sei se já sob a influência de Mark Thompson, ex-chefão da BBC e contratado para ser o chefão do jornal americano. Na empresa britânica, ele se tornou célebre por declarar que, por lá, permitia-se zombar de Jesus, mas não de Maomé. Evoco essas questões laterais porque elas compõem a metafísica de um tempo. Então vamos ver. Talvez eu não tenha entendido direito o “raciossímio” do Times. Em 1980, Reagan venceu Carter em 44 estados — o democrata ficou com apenas 6 (50,7% dos votos a 41%). No Colégio, o placar foi de 489 a 49. E Carter era presidente! Em 1984, o republicano foi reeleito de forma humilhante para os democratas: sagrou-se vitorioso em 49 estados (58,8% a 40,6%). Deixou apenas um para o adversário; no colégio, 525 a 13! O presidente fez o seu sucessor, Bush pai, que triunfou em 40 estados (426 a 111): 53,37% a 45,65%. Não obstante, a era Reagan teria sido repudiada agora, e a evidência estaria na vitória de Obama em apenas 26 estados (contra 24 do adversário), por um placar com 2,3 pontos de diferença. Clinton venceu em 33 estados na primeira eleição (1992) e em 32 na segunda (1996). E manteve os fundamentos da economia da era Reagan. Eis a verdade traduzida em números da afirmação feita pelo jornal.
Que fique claro!
A mim me importam menos as respectivas pautas de cada candidato do que essa cultura de aversão à democracia que vai se espalhando. E que, por óbvio, não nos é estranha. Também entre nós o exercício da oposição, agora que “progressistas” estão no poder, vai se tornando algo malvisto, mero exercício de sabotagem e de oposição àqueles que seriam os interesses do povo. Dou um exemplo evidente: as cotas raciais foram impostas às universidades federais sem nem mesmo debate no Parlamento. A simples crítica à medida é apontada como ódio aos pobres, às minorias, aos oprimidos — todas aquelas tolices fantasiosas que compõem o estoque de agressões dos autoritários.
Os republicanos? Ah, eles tiveram a coragem de enfrentar o tal “Obamacare”, o que parecia, à primeira vista, suicídio político e, mais uma vez, obrigaram o governo a negociar. E sabem por que o fizeram? Porque tinham mandato de seus eleitores para fazê-lo. E agiram dentro das regras estabelecidas pela democracia americana. “Ah, mas olhe aí o resultado!” Sim, olho e vejo um partido que era uma real alternativa de poder. E só o era — e como as emissoras de TV suaram frio desta vez, não é? — porque, em vez de aderir à pauta do adversário — que, afinal, do adversário é —, fez a sua própria ao longo dos quatro anos de mandato de Obama.
Reitero: não entro no mérito; talvez, nos EUA, eu apoiasse o plano de saúde de Obama. O ponto não é esse: estou advogando o direito que tem a oposição de ser contra ele. Se é por bons ou por maus motivos, isso o processo político evidencia. Chega a espantoso que muitos cobrem da oposição brasileira coragem para enfrentar o PT, mas adiram alegremente à satanização dos republicanos porque estes fazem lá — reitero: não estou tratando de conteúdo — o que a oposição brasileira não aprendeu a fazer aqui.
Fala-se, finalmente, de um país dividido. É? Melhor do que outro em que um partido, com pretensões hegemônicas, recorre a expedientes criminosos para eliminar a oposição. Os “decadentes” republicanos terão, por exemplo, o domínio da Câmara. Não existem PMDB e PSD nos EUA, aqueles que não são “nem de esquerda, nem de direita, nem de centro”. Os derrotados do dia anterior não são os vitoriosos do dia seguinte — ou, para ficar na espécie (como diria Marco Aurélio), derrotados e vitoriosos num mesmo dia… O que se chama um “país rachado” é um país que reconhece, ainda!!!, instituições por meio das quais se articulam essas divergências.
O valor exclusivo da democracia é a liberdade. E a característica exclusiva da liberdade é poder dizer “não”.
Volto a hoje e encerro
O governo Obama tentou, isto é inegável, usar o aparato do estado para intimidar a oposição. Estivesse no poder um presidente “reacionário”, a imprensa liberal americana estaria pedindo a sua cabeça. Como se trata de Obama, já há artigos na imprensa americana afirmando que os republicanos estão querendo se aproveitar do episódio para fazer política. Como se a perseguição que estava em curso não fosse um caso de política — e de polícia!
Texto publicado originalmente às 5h55
Por Reinaldo Azevedo
Barbosa, o homem errado dizendo as coisas certas
Palavras certas ditas pelas pessoas erradas em erros se transformam. Isso é tão verdadeiro que o contrário é impossível: pessoas certas dizendo coisas erradas não tornam acertos os erros. Reflitam um pouco. Não se trata de mero jogo de palavras. Isso vale para ministros do Supremo a opinar sobre assuntos que estão fora de sua alçada — ainda que digam as coisas certas — ou, sei lá, para médicos ou sacerdotes. Querem ver? Eu, católico que sou, acho que a oração faz bem. Rezar é um jeito de limpar a sua crença da fuligem do dia, que a vai turvando, de rever seus próprios valores, de repensar suas próprias atitudes. Assim, digo eu, aos que creem: rezem que faz bem! Mas me parece impróprio, ainda que, segundo penso, correto em si, que um médico diga a seu paciente, ao se despedir: “E olhe, trate de rezar bastante!”. É o que chamo de coisa certa na boca errada. NOTA À MARGEM SÓ PARA NÃO DEIXAR PASSAR – “E exemplo do segundo caso, Reinaldo, de gente certa dizendo a coisa errada? Tem?” Tenho. Pegue-se o mesmo sacerdote. É a pessoa certa para recomendar que alguém faça as suas orações. Mas seria um erro danoso que ele recomendasse aos fiéis que dispensassem o tratamento médico, confiando na oração.
Por que isso? Joaquim Barbosa, ministro do Supremo e presidente do tribunal, proferiu uma palestra a estudantes. Disse coisas certas, em si. Segundo ele, os partidos brasileiros são frágeis e distantes do eleitorado. Leiam reportagem de Laryssa Borges e Marcela Mattos, na VEJA.com. Afirmou:
“Nós temos partidos de mentirinha. Nós não nos identificamos com os partidos que nos representam no Congresso, a não ser em casos excepcionais. Eu diria que o grosso dos brasileiros não vê consistência ideológica e programática em nenhum dos partido”. Segundo ele, nem os partidos políticos nem os próprios dirigentes partidários “têm interesse em ter consistência programática ou ideológica”. E resumiu: “Querem o poder pelo poder”.
Está essencialmente certo, embora eu discorde dessa história de “poder pelo poder”. Fosse assim, eu estaria mais tranquilo. Com frequência, querem o poder para cuidar dos próprios interesses e dos de sua turma. Barbosa também defendeu o voto distrital, com o que concordo:
“O Poder Legislativo é composto, especialmente a Câmara dos Deputados, que é a mais numerosa, em grande parte por representantes pelos quais não nos sentimos representados por força do sistema eleitoral adotado no Brasil, que trunca as eleições, que não contribui para que tenhamos uma representação clara, legítima (…) A solução seria a adoção do voto distrital, voto em que, para a Câmara dos Deputados, teríamos que dividir o país em 513 distritos, e cada cidadão residente em um distrito iria votar em uma pessoa que ele conheça, de quem ele possa cobrar”.
Diagnóstico, até onde foi nesse particular, impecável! A questão, no entanto, é esta: é ele o homem certo para dizer essas coisas? A resposta é “não”. Cria mais calor do que luz; mais confusão do que clareza; mais contratempos do que soluções.
“Ah, o fato de ele ser ministro do Supremo não o impede de ter uma opinião.” Repetirei o mesmo que disse sobre a ministra Maria do Rosário: se Barbosa opinar que é melhor dividir em dois o biscoito recheado, ninguém tem nada com isso. Os temas sobre os quais falou, no entanto, são de interesse público, dizem respeito a outro Poder e fatalmente acabarão esbarrando em votos que terá de dar um dia. Nesse caso, convém calar-se ou ser mais genérico: “Caberia ao país discutir a questão da representação…”. Há, enfim, modos de fazer a coisa.
Barbosa expressou ideias em si corretas, mas com erro de pessoa. Especialmente porque está na Presidência de um Poder. Aplaudo o conteúdo do que disse, mas aponto a inoportunidade de pessoa.
Por Reinaldo Azevedo
Comissão da Verdade – Os revanchistas não descansam enquanto o Brasil não virar uma bagunça argentina!
Os membros da dita “Comissão da Verdade” decidiram compensar a irrelevância com a polêmica. Além de transformar as audiências em simulacros de julgamento, voltam à tese da responsabilização penal de agentes do estado que cometeram crimes durante o regime militar. Só dos agentes do estado. Os terroristas de esquerda continuariam livres de qualquer persecução penal — muitos deles recebendo, claro!, prebendas do estado por conta de seus supostos atos heroicos. Qual é o problema dessa tese? Além da questão moral — usar uma Comissão da Verdade para fazer revanche, punindo apenas um dos lados do conflito —, há uma penca de questões legais;
– a Lei da Anistia continua em vigência e impede a punição;
– o Supremo Tribunal Federal já se pronunciou a respeito e reiterou a sua higidez;
– a lei que criou a própria Comissão da Verdade, como demonstrei na quinta-feira, tem como pressuposto a vigência da Lei da Anistia.
No Estadão desta segunda, lá está Paulo Sérgio Pinheiro, o “moderado” da turma, a flertar com processos penais. Diz não saber ainda se a comissão vai ou não recomendar em seu relatório final que se jogue a Lei de Anistia no lixo e lembra — praticamente estimula — que caberá ao Ministério Público cuidar da questão tão logo o relatório fique pronto. É um troço surrealista. Votou-se uma lei em 1979, que permitiu ao país fazer a transição pacífica da ditadura para a democracia — e “anistia”, não custa lembrar a lição de Paulo Brossard, é perdão (na esfera da Justiça), não absolvição ou esquecimento; votou-se uma lei para criar a Comissão da Verdade (que tem como pressuposto aquele texto de 1979); o próprio STF já se pronunciou a respeito… Nada disso basta!
Pois é… Por ocasião da criação dessa comissão, observei aqui tratar-se de mera patranha. Parecia-me claro que era apenas a primeira etapa da revanche. Fui, é evidente, muito criticado por isso; acusaram-se de estar de má-vontade e de ficar fazendo exercício de adivinhação. Eis aí… Eu quero que torturadores se danem. Meu desprezo por eles não poderia ser maior. Mas eu desprezo igualmente os terroristas; deploro do mesmo modo os que matam pessoas inocentes em nome de sua “causa libertadora”. A democracia brasileira não deve um centavo a nenhum deles. Aliás, a democracia que aí está não deve nada nem ao Brilhante Ustra nem à Dilma Rousseff do passado. A tese que prosperou, que vingou, que venceu não foi nem a dele nem a dela — já que nem ele nem ela queriam democracia. Ou queriam? Ora…
O STF se pronunciou de forma muito eloquente na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 153, em que a corte rejeitou o pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para que a Lei da Anistia (6.683/79) fosse revista. E o que se fez ali foi declarar a vigência da Constituição. A questão está encerrada. Mas não para aqueles — ou herdeiros intelectuais daqueles — que perderam a batalha, mas insistem em aplicar a punição aos vencedores. Sim, é disso mesmo que se trata. Explico. Entre anistiados, de um lado e de outro, não há nem vencidos nem vencedores. Todos receberam o perdão. Se é para mudar a história, como querem fazer, então é preciso mudar também as categorias. É uma questão até de honestidade intelectual. E, nesse caso, convenham: quem perde não aplica a punição a quem ganha. Por isso mesmo, é preciso tirar o debate desse lodaçal teórico.
Falso debate
Os cretinos, já notei aqui, querem transformar essa questão numa disputa entre os que defendem torturadores e os que querem a sua punição. Vigarice! Trata-se de um confronto de posições, este sim, entre os que defendem as regras do estado democrático e de direito e os que acham que podem buscar atalhos e caminhos paralelos para fazer justiça fora da letra da lei.
A Lei 6.683, da anistia, é clara:
Art. 1º É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares.
§ 1º – Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política.
A própria Emenda Constitucional nº 26, de 1985, QUE É NADA MENOS DO QUE AQUELA QUE CONVOCA A ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE, incorporou, de fato, a anistia. Está no artigo 4º:
Art. 4º É concedida anistia a todos os servidores públicos civis da Administração direta e indireta e militares, punidos por atos de exceção, institucionais ou complementares.
§ 1º É concedida, igualmente, anistia aos autores de crimes políticos ou conexos, e aos dirigentes e representantes de organizações sindicais e estudantis, bem como aos servidores civis ou empregados que hajam sido demitidos ou dispensados por motivação exclusivamente política, com base em outros diplomas legais.
§ 2º A anistia abrange os que foram punidos ou processados pelos atos imputáveis previstos no “caput” deste artigo, praticados no período compreendido entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979.
Anistia, reitero, não é absolvição, mas perdão político. Há quem pretenda que o Brasil siga os passos da Argentina — embora, já disse, as duas ditaduras não sejam nem remotamente comparáveis — e fique eternamente preso ao passado, destroçando as instituições do presente e inviabilizando as do futuro, como faz hoje Cristina Kirchner. Sob o pretexto de rever o passado, ela está levando o país para uma crise institucional.
Torturadores? O diabo a quatro? Não tenho nada a ver com essa gente, e eu mesmo tive problema com o regime quando contava com míseros 16 anos. Não quero é ver o país refém do passado para satisfazer o desejo de vingança de meia dúzia. Como não quiseram a Espanha e a África do Sul, que viveram circunstâncias muito mais graves.
Um filme
Já recomendei o filme “O Segredo dos Teus Olhos”, de Juan José Campanella, e volto a fazê-lo. Não poderia haver melhor retrato da Argentina moderna. Vejam lá. Um homem passa uma vida sendo refém daquele que foi algoz de sua mulher, deixando, ele próprio, de viver. A Argentina kirchnerista, com a sua tara por encruar o passado — Cristina decidiu até criar um departamento só para rever fatos históricos e recontá-los à luz do… kirchnerismo! —, está destroçando as instituições. Não consegue sair da lógica do confronto, da revanche, da vingança. E quem está pagando o pato é a democracia.
É uma mentira escandalosa que o país vizinho esteja à frente do Brasil no que diz respeito às instituições. Falso como os índices oficiais da inflação argentina. Falso como a tolerância com a divergência na Argentina. Falso como o amor do kirchnerismo pela democracia. É o que querem para o Brasil? Pelo visto, sim! Não faltam injustiças presentes com as quais promotores e buscadores da verdade deveriam se ocupar. Não obstante, ao arrepio das leis e de uma clara e inequívoca manifestação do Supremo, tentam nos jogar no passado que nunca passa.
Atenção! Na Argentina ou no Brasil, quem muito luta para encruar o passado está em busca de licença para ser autoritário no presente. Não por acaso, boa parte da esquerda brasileira que está no poder justifica seus crimes — inclusive os financeiros — lembrando a sua condição de “amiga do povo”.
No Estadão desta segunda, um desses defensores da revisão a Lei da Anistia fala numa tal “justiça de transição”… O que seria uma “justiça de transição”? Seria aquela que extingue o “transitado em julgado”, de modo que uma decisão pode sempre ser revista, jogando no lixo a segurança jurídica, base da democracia?
O Brasil — por intermédio de todas as forças políticas que se empenharam na transição, a democrática — decidiu não ficar refém dos algozes da democracia, estivessem estes de um lado ou de outro. Se a Lei da Anistia, a lei que criou a comissão e a lei que criou a Constituinte e a decisão do Supremo podem ser ignoradas, então qualquer outra também pode. Será isso a tal “justiça de transição”, aquela sempre sujeita às vontades dos poderosos da hora? É isso o que a Comissão da Verdade entende por Justiça? Forças que nada entendiam de democracia no passado e ajudaram a escrever a história do horror não podem, agora que o regime democrático está aí, violar seus termos uma vez mais. Isso que chamam de “justiça de transição” nada mais é do que arbítrio.
Essa gente já perdeu a “luta” uma vez para um arbítrio adversário. E vai perder agora para a democracia, de quem continua adversária.
Por Reinaldo Azevedo
Ela nos odeia. Ela nos abomina. Ela quer o nosso fim! Ou: Por que Marilena não nos conta quanto ganha com os livros didáticos adotados pelo MEC?
O sociólogo Emir Sader, emérito torturador da língua portuguesa, é organizador de um livro de artigos intitulado “10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil: Lula e Dilma”. Não li os textos, de vários autores (dados alguns nomes, presumo o que vai lá). O título é coisa de beócios. Para que pudesse haver esse “depois”, forçoso seria que tivesse havido o “antes”. Como jamais houve liberalismo propriamente dito no país — o “neoliberalismo” é apenas uma tolice teórica, que nunca teve existência real —, a, digamos assim, “obra” já nasce de uma empulhação intelectual. Pode até ser que haja no miolo, o que duvido, um artigo ou outro que juntem lé com lé, cré com cré, o que não altera a natureza do trabalho. Quem foi neoliberal? Fernando Henrique? Porque privatizou meia dúzia de estatais? A privatização de aeroportos e estradas promovida por Dilma Rousseff — e ela o fez mal e tardiamente — é o quê? Expressão do socialismo? Do “neonacional-desenvolvimentismo”? Sader se orienta no mundo das ideias com a mesma elegância com que se ocupa da sintaxe, da ortografia e do estilo.
Na terça-feira passada, um evento no Centro Cultural São Paulo marcou o lançamento do livro. Luiz Inácio Lula da Silva (quando Sader está no mesmo texto, eu me nego a chamar Lula de “apedeuta”!) e Marilena Chaui estavam lá para debater a obra. Foi nesse encontro que a professora de filosofia da USP mergulhou, sem medo de ser e de parecer ridícula, na vigarice intelectual, na empulhação e na pilantragem teórica. Se eu não achasse que estamos diante de um cárater típico, seria tentado a tipificar uma patologia. Republico o vídeo. Volto em seguida.
Voltei
Trata-se de uma soma estupefaciente de bobagens — sim, há método em tudo isso — de que me ocupo daqui a pouco, embora Marilena não merecesse muito mais do que farei neste parágrafo e no próximo: pegá-la no pulo. Os livros didáticos e paradidáticos de filosofia desta senhora são comprados pelo MEC e distribuídos a alunos do Brasil inteiro. Quanto dinheiro isso rende à nossa socialista retórica, que só se tornou uma radical de verdade quando ser radical já não oferecia nenhum perigo? Marilena é professora da USP desde 1967. É só no começo dos anos 80, com o processo de abertura em curso — lembrem-se de que, em 1982, realizaram-se eleições diretas para governos de estado —, que se ouve falar da tal Chaui. E não! Ela não exercia ainda esse esquerdismo xucro, mixuruca, bronco. Seu negócio era falar de Merleau-Ponty, dos frankfurtianos, de Espinoza, confrontando a ortodoxia marxista… À medida que foi se embrenhando na luta partidária, tornou-se uma proselitista vulgar, “intelectual” demais para ser um quadro dirigente do partido, partidária demais para ser considerada uma intelectual — cuja tarefa principal, sim, senhores!, é pensar com liberdade.
Marilena poderia revelar à classe média que ela odeia quanto dinheiro ganhou com os seus livros didáticos e que nobre destino deu à grana. E acreditem: não é pouco. Autores que têm a ventura de ser incluídos na lista do MEC podem ficar ricos. Socialista que é, ortodoxa mesmo!, impiedosa com a “classe média”, não posso crer que ela tenha se conformado com os fundamentos reacionários do processo de herança, enriquecendo filhos e netos. O dinheiro amealhado deve ter sido doado a alguma entidade revolucionária, a algum sindicato, a alguma ONG que lute contra as desigualdades. Não posso crer que Marilena se conforme em transformar aquela bufunfa em consumo, viagens ou bens imóveis.
Pilantragem intelectual
Vamos ver. Foi o PT quem mais se beneficiou politicamente com a suposta existência da tal “nova classe média”, conceito que já ironizei aqui, mas por motivos diversos dos da destrambelhada que fala acima. A rigor, essa é uma criação da marquetagem partidária.
Inventou-se uma tal classe média que já corresponderia a 54% da população brasileira. E que classe é essa? Segundo a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), são as famílias com renda per capita, atenção!, entre R$ 300 e R$ 1.000. Um casal cujo marido ganhe o salário mínimo (R$ 678) — na hipótese de a mulher não ter emprego — já é “classe média” — no caso, baixa classe média (com renda entre R$ 300 e R$ 440). Se ela também trabalhar, recebendo igualmente o mínimo, aí os dois já saltarão, acreditem, para o que a SAE considera “alta classe média” (renda per capita entre R$ 640 e R$ 1.020). Contem-me aqui, leitores, como vive e onde mora quem tem uma renda per capita de R$ 640? O aluguel de um único cômodo na periferia mais precária não sai por menos de R$ 250… Assim como decretou que a maioria dos brasileiros está na classe média, o governo petista está prestes a decretar o fim da miséria — governo, insista-se, de que Marilena é mero esbirro.
Logo, à diferença do que sugere a sem-remédio que fala no vídeo, a “nova classe média” não é uma invenção da “direita”, dos “conservadores” e dos “reacionários”, que ela também odeia, mas do lulo-petismo, que ela tanto adora.
Confusão
Marilena faz uma confusão estúpida entre a separação das “classes” por renda e o conceito marxista de “classe”. A primeira é só uma divisão estabelecida segundo faixa de renda e padrão de consumo. Não é nem nunca foi uma abordagem política. Assim, a sua diatribe segundo a qual a “nova classe média” seria, na verdade, “classe trabalhadora” é manifestação da mais alvar burrice. Ora, um operário especializado que ganhe R$ 5 mil deve ser tão “trabalhador” quanto outro que receba o salário mínimo. Há, no que concerne a renda e consumo, diferenças importantes entre ambos, não?, embora Marilena certamente sonhasse em ver os dois irmanados no mesmo projeto socialista. E isso explica o seu “ódio” — que, no fundo, é ódio de sua própria falência como intelectual.
O ódio
A forma como Marilena se dirige à plateia reproduz, acreditem, o método que emprega em suas aulas. Sei porque já vi. Ela busca, nas suas exposições, o momento da apoteose, do aplauso. Depois de ter feito uma salada entre “classe social”, segundo a visão marxista, e uma mera divisão segundo faixa de renda, ela mesma pergunta:
“E por que é que eu defendo esse ponto de vista?”
Hábil manipuladora de plateias, treinada nas salas de aula para fazer com que seus próprios preconceitos pareçam pensamentos e para confortar a ignorância daqueles que a ouvem embevecidos, ela ainda criou um certo suspense, descartando respostas que seriam óbvias:
“Não é só por razões teóricas e políticas.”
SUSPENSE!
Nesse momento, até o público presente, que estava lá para aplaudi-la, pouco importando a bobagem que dissesse, deve ter ficado à espera de um aporte teórico novo ou de uma chave que abrisse as portas da compreensão. Afinal, estavam diante de uma das mais incensadas professoras de filosofia do país, um verdadeiro mito da universidade nos tempos da barbárie intelectual petista. Se as restrições que fazia ali não estavam fundadas nem na teoria nem na política, o mais provável é que se estivesse prestes a ouvir uma revelação. E Marilena, ao menos para os padrões da academia, não decepcionou. Compareceu com uma categoria de pensamento nova.
“É porque eu odeio a classe média. A classe média é um atraso de vida. A classe média é a estupidez. É o que tem de reacionário, conservador, ignorante, petulante, arrogante, terrorista. É uma coisa fora do comum a classe média (…) A classe média é a uma abominação política porque ela é fascista. Ela é uma abominação ética porque ela é violenta. E ela é uma abominação cognitiva porque ela é ignorante”.
Aplausos e risos
Sua teatralidade bucéfala lhe rendeu aplausos entusiasmados. Não há nada mais degradante do que levar uma plateia de idiotas a rir de si mesma na suposição de que idiotas são os outros. Afinal de contas, a oradora e aqueles que a aplaudiam são o quê? Pobres? Marxistas revolucionários? Ah, mas aí vem o truque principal dos vigaristas intelectuais que ouvem e da vigarista intelectual que fala.
É certo que operários não são. É certo que são da “classe média”, só que se distinguiriam daqueles a quem “abominam” porque supostamente dotados de uma consciência superior. O filho revolucionário do banqueiro, nessa perspectiva, não teria o menor pudor de chamar de “classe-média reacionário” o gerente do banco do pai — enquanto, como diria Fernando Pessoa, “mordomos invisíveis administram a casa”.
Marilena teme que um trabalhador de classe média perca o seu natural pendor revolucionário, como se o natural pendor revolucionário dos trabalhadores não fosse, no fim das contas, uma ilusão de intelectuais de… classe média! No fundo, Lula e Dilma, celebrados no livro que reuniu a turma, evidenciam a falência do pensamento da sedizente filósofa. O modelo petista está ancorado na expansão do consumo, e Marilena acha profundamente reacionário que alguém possa se interessar mais por uma geladeira nova do que por suas ideias abstratas de justiça. É que, quase sem exceção, os que fomentam ideias abstratas de justiça já têm geladeira nova.
Lula estava presente. Consta que riu, com a mão cobrindo o rosto. Teria dito depois que, agora que é de classe média, começam a falar mal da dita-cuja. As bobagens de Marilena Chaui não são irrelevantes. Servem para criar a mística de que o PT ainda é um partido de pendor revolucionário — ainda que a revolução possível. Besteira! O que ele é, sim, é um partido autoritário, que não é avesso, se as condições forem favoráveis, à violência institucional. Está em curso, por exemplo, a pregação em favor do controle da mídia e do controle do Judiciário. Marilena, com sua picaretagem teórica e intelectual, faz crer que esses são desígnios da progressista classe operária.
Achei que essa senhora, a quem voltarei mais tarde, já tinha chegado ao fundo do poço durante a campanha à Prefeitura, no ano passado. Ainda não! Ela demonstrou que seu abismo intelectual não tem fim. Eu não odeio Marilena. Chego a sentir pena. Deve ser muito triste chegar a essa idade carente desse tipo de aplauso. Em vez da serenidade madura que instrui, a irresponsabilidade primitiva que desinforma. Pena, sim! Menos de sua conta bancária.
Por Reinaldo Azevedo
A Comissão da Verdade ignora a lei que a criou. Ou: Não vão exumar também o corpo de Carlos Lacerda?
A Comissão da Verdade resolveu compensar com declarações e ações que rendem títulos da imprensa a sua irrelevância. Ou, pior do que a irrelevância, a zona cinzenta de legalidade em que se move, tentando uma instância intermediária entre a Lei da Anistia, que está em vigor, e o revanchismo, que não está disciplinado em lei nenhuma. Sem poder mandar os “inimigos” para o banco dos réus, busca-se o seu achincalhamento por meio da exposição pública e de simulacros de julgamento. Hoje faz um ano que o grupo foi instalado. A única novidade propriamente é a decisão de exumar o corpo de João Goulart, que morreu no dia 6 de dezembro de 1976, para investigar a hipótese de assassinato, o que não passa de um delírio ridículo.
Goulart morreu há quase 37 anos em decorrência de problemas cardíacos conhecidos. Do corpo, restam ossos e cabelo. Andei fazendo algumas consultas. Haveria resquícios no cabelo e nos ossos de uma suposta droga que tivesse induzido o ataque cardíaco? Quem conhece a área diz ser improvável ainda que tivesse acontecido. Estão tentando pôr o selo de um legista numa hipótese conspiratória. Goulart estava desconectado de qualquer movimento “de resistência” na América Latina — ou como queiram chamar. Nem sequer era um político popular no Brasil, como Juscelino Kubitschek, que morrera num acidente de automóvel quatro meses antes, no dia 22 de agosto de 1976. Não custa lembrar: no dia 21 de maio de 1977, um infarto também matou Carlos Lacerda, o terceiro membro da “Frente Ampla” formada contra o Regime Militar. E seu corpo? Não será exumado? Bem, Lacerda, o “reacionário”, não se encaixa do perfil dos “heróis” da comissão.
Nesta sexta, Rosa Maria Cardoso, que foi advogada da presa política Dilma Rousseff, assume a presidência rotativa da comissão. Só nessa informação objetiva já há algo de incômodo. Dilma deveria ter feito de tudo para que a questão não parecesse pessoal, mas de estado. E ela não fez. O fato de sua advogada estar lá e ser a figura mais estridente do grupo diminui a seriedade e a objetividade do trabalho. Rosa está hoje no Estadão. Acusa os militares — sim, os da ativa — de criar obstáculos ao trabalho do grupo. Reproduzo um trecho da trecho, em vermelho de resprtagem publicada hoje no Estadão. Volto em seguida. Se Rosa quer falar de leis, então falemos de leis.
A advogada, que assume amanhã a função da coordenadora da comissão, não adiantou quais caminhos a comissão usará para chegar aos documentos. Uma das possibilidades seria esgotar todas as estratégias legais para entrar nas salas dos centros de inteligência. Reservadamente, já se chegou a discutir um pedido legal de busca e apreensão.
Legislação. A Lei 12.528, que criou a comissão, destaca que o grupo pode requerer ao Judiciário acesso às informações. A mesma lei ressalta que é “dever dos servidores e dos militares colaborar com a comissão”.
A comissão já tentou de diferentes maneiras convencer os comandos militares a cumprir a determinação. Em junho do ano passado, o ministro da Defesa, Celso Amorim, chegou a sinalizar, em entrevista – tendo ao lado de membros da comissão -, que as Forças Armadas cumpririam a lei e abririam os arquivos dos centros de inteligência. “A lei diz que nós temos todo o dever de cooperar. Em termos gerais, tudo estará aberto”, disse na ocasião o ministro.
Voltei
Então vamos falar de leis. Aqui vai o link com a íntegra daLei 12.528, que criou a Comissão da Verdade. Será que a própria comissão está cumprindo o que determina o texto? Então vamos ver.
Diz o Artigo 1º da Lei (em azul)
Art. 1o É criada, no âmbito da Casa Civil da Presidência da República, a Comissão Nacional da Verdade, com a finalidade de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas no período fixado no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional.
E qual é o período a que se refere o Artigo 8º das Disposições Transitórias? Transcrevo, também em azul:
“Art. 8º. É concedida anistia aos que, no período de 18 de setembro de 1946 até a data da promulgação da Constituição, foram atingidos, em decorrência de motivação exclusivamente política (…)”
Logo, cumpriria à Comissão restabelecer “a verdade” (a coisa já é um absurdo em si) sobre violações de direitos humanos entre 1946 e 1988. A turma, no entanto, já decidiu que só interessa o período de 1964 para cá. ESTÁ DESRESPEITANDO A LEI QUE A CRIOU.
O parágrafo 1º do Artigo 2º da lei que criou a comissão define (em azul):
§ 1º Não poderão participar da Comissão Nacional da Verdade aqueles que:
II – não tenham condições de atuar com imparcialidade no exercício das competências da Comissão;
A própria Rosa, advogada da militante Dilma Rousseff, que havia pertencido a três grupos terroristas, se encaixa no perfil da imparcialidade necessária para o exercício da tarefa? E a militante petista Maria Rita Kehl? Ora… E ROSA VEM FALAR EM NOME DA LEI QUE A PRÓPRIA COMISSÃO IGNORA?
Estabelecem os Incisos I e II do Artigo 3º da lei que criou a comissão (em azul)
Art. 3o São objetivos da Comissão Nacional da Verdade (em azul):
I – esclarecer os fatos e as circunstâncias dos casos de graves violações de direitos humanos mencionados no caput do art. 1º;
III – identificar e tornar públicos as estruturas, os locais, as instituições e as circunstâncias relacionados à prática de violações de direitos humanos mencionadas no caput do art. 1o e suas eventuais ramificações nos diversos aparelhos estatais e na sociedade;
Volto
Ora, os crimes a que se refere o Artigo 1º são aqueles definidos no Artigo 8º das Disposições Transitórias: ocorridos entre 1946 e 1988. A turma mandou esse artigo à zerda e diz que só investigará os havidos depois de 1964. Como deixa claro o Inciso II, a Comissão tem a obrigação de apurar também as violações de direitos humanos cometidas “na sociedade”, não apenas pelo aparelho de estado — e isso quer dizer que os atos criminosos, e foram muitos, praticados pelas esquerdas (incluindo os das três organizações terroristas a que Dilma pertenceu) também deveriam ser objeto da comissão. Pelo menos três membros do grupo — Maria Rita Kehl, Paulo Sérgio Pinheiro e a própria Rosa — já disseram que os crimes da esquerda não serão investigados e ponto final. Evidenciaram que se trata mesmo é de uma comissão de revanche. Segundo o especioso raciocínio, não faria sentido uma “comissão da verdade” que apurasse também os crimes dos “oprimidos”. Nota: nem a África do Sul, que superou o Apartheid, escolheu esse caminho. Até nesse país os crimes cometidos pelo Congresso Nacional Africano, o partido de Nelson Mandela, foram evidenciados.
Assim, a comissão descumpre a lei também nesse particular. Recapitulo: ignora o próprio texto que a criou quando se limita a investigar as violações de direitos humanos apenas 1964 a 1988; quando é composta de pessoas que, obviamente, não são isentas e quando se nega a apurar também as transgressões cometidas pelas esquerdas. E vem agora a Rosa, uma das não isentas do grupo, falar em nome da lei? Eu, hein, Rosa?!
Caminhando para o encerramento
Finalmente, lembro que a lei que criou a Comissão da Verdade tem também um Artigo 6º, de que transcrevo trecho:
“Art. 6o Observadas as disposições da Lei no 6.683, de 28 de agosto de 1979, a Comissão Nacional da Verdade poderá atuar de forma articulada e integrada com os demais órgãos públicos (…)”
A Lei 6.683 é a Lei da Anistia. Ela impede que ex-extremistas de um lado e de outro terminem no banco dos réus, em processos criminais. Membros da comissão já deram a entender, por exemplo, que consideram aquela lei de 1979 uma “autoanistia” — esquecendo-se de que ela beneficiou, por exemplo, terroristas. Mas sabem, de todo modo, que não podem encaminhar processos criminais. Como não podem, resolveram optar por simulacros de julgamentos públicos.
Alguns se divertiram ao ver Brilhante Ustra — anistiado, é bom deixar claro! — lá naquele banco informal de réus. “Merecido para um torturador!” Certo! Mas me digam uma só razão, que não seja de natureza ideológica, para que assassinos de esquerda não sentem também naquela cadeira. Alguém dirá (e já ouvi isto): “Eles já pagaram caro por isso!”. Há aí duas mentiras: a) nem todos “pagaram” porque muitos não foram presos ou processados; não obstante, alguns recebem pensão; b) ainda que assim fosse, a tal comissão é “da verdade”, não de responsabilização criminal. Assim, esta questão não obsta aquela. A “verdade”, então, continua a exigir reparação.
Rosa quer fazer um debate sobre o conteúdo da lei que criou a Comissão da Verdade? Nos argumentos, ela vai perder. Numa plateia selecionada de amigos, ela vence, como sempre acontece nesses casos.
Por Reinaldo Azevedo
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ou nós agricultores comesamos fazer baderna trancando estradas pontes a circulasão dos alimentos ou o brasil vai pagar carro por esses desmandos que o governo de gilbertto carvalho esta fazendo porque ele esta mandando mais que dilma e gleisi junto vamos ter medicos de cuba que se for igual o socialismo serão pior que nossos veterinarios não queremos isto pra nós