Economia: Pé no freio. O medo da vaia esvazia a tribuna de honra do Maracanã: Lula refugiou-se na África e Dilma resolveu ficar
Pé no freio
Nos últimos dias, a economia do Brasil pisou no freio com força. Praticamente todas as decisões de grandes investimentos foram adiadas a espera de um céu menos nublado.
Por Lauro Jardim
Na “direção civilizatória”, mas…
Delfim: o povo quer mais mobilidade urbana e menos circo
Delfim Netto, com seu brilhantismo e poder de síntese habituais, resumiu a um interlocutor o motivo dos protestos: “Os governos não atenderam às prioridades da população. Ela queria metrô, não estádios. O povo recusou as prioridades dos governos. É tão simples quanto isso”.
Delfim é otimista (“O movimento das ruas está na direção civilizatória”), mas alerta que redução do preço das tarifas dos ônibus e trens e o congelamento do preço dos pedágios afugentam os investidores, já assustados com o Brasil. Diz Delfim: “Não chegou a ser um rompimento mas, assim, se levantam dúvidas sobre o cumprimento dos contratos”.
Por Lauro Jardim
Cuidado com a massa
Batedeira salgada
A Presidência da República publicou um edital de licitação para comprar três batedeiras para equipar as cozinhas do Palácio da Alvorada e da Granja do Torto. Vai pagar um total de 7 560 reais. Em uma das principais redes de varejo do país, a batedeira mais cara encontrada custa 638 reais.
Por Lauro Jardim
“Ô Dilma”
Dilma: conversa informal
A reunião entre Dilma Rousseff e os líderes do MPL, na semana passada, teve lances de informalidade absoluta, em pleno Palácio do Planalto. Lá pelas tantas, um deles, ao dirigir-se à presidente da República, sacou um “Ô Dilma…” e foi em frente.
Por Lauro Jardim
Seduzindo o capital
Planalto: mais reuniões nos próximos dias
Em busca de tentar recuperar a credibilidade da política econômica, Dilma Rousseff vai chamar nos próximos dias grandes empresários para reuniões no Palácio do Planalto. É uma espécie de repetição do que fez em janeiro — sem qualquer resultado palpável.
Por Lauro Jardim
O novo quadro
Santana: em campo para tentar entender o que está acontecendo
Na quarta-feira, João Santana deu a partida para uma nova rodada de pesquisas de avaliação do governo Dilma Rousseff. Será a primeira desde o início das manifestações. Espera-se que se façam as perguntas certas. Todas as pesquisas anteriores foram incapazes de detectar o mau humor geral da população.
Por Lauro Jardim
O medo da vaia esvazia a tribuna de honra do Maracanã: Lula refugiou-se na África e Dilma resolveu ficar escondida em casa
ATUALIZADO ÀS 18:17
Em silêncio sobre o caso Rose há 217 dias, faz 23 que Lula não abre a boca em público sobre as manifestações de rua que vêm ocorrendo em centenas de cidades desde 6 de junho. E vai continuar fugindo do assunto enquanto puder. Nesta sexta-feira, depois de permanecer enfurnado algumas semanas no Instituto Lula, o maior dos governantes desde Tomé de Souza tratou de afastar-se de problemas novos ou antigos a jato.
Jatinho, para ser mais preciso. A bordo de um deles, cedido por um dos patrões do camelô de empreiteiros, caiu fora do país que perdeu a paciência com os vendedores de fumaça que arquitetaram a farsa do Brasil Maravilha. Como informa a coluna do meu irmão Ricardo Setti, o palanque ambulante foi tapear plateias na África. Nos países explorados por ditadores companheiros, as balas que reprimem manifestações contra o governo não são de borracha.
Além de escondê-lo de perguntas sobre o caso de polícia em que se meteu ao lado da segunda-dama Rosemary Noronha, e de poupá-lo de caçar explicações para a onda de descontentamento que varre o paraíso imaginário, a viagem livrou o foragido do dilema que atormentou a presidente Dilma Rousseff, o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes: ir ou não ir ao Maracanã neste domingo.
Os três ases das urnas alegaram que, antes de anunciar o que fariam, precisavam saber o que pretendiam fazer os manifestantes que vão protestar nas ruas do Rio contra a afrontosa gastança do bando que surfa na Copa da Ladroagem. Conversa fiada: o que angustia os parceiros é a certeza de que nenhum escaparia da surra sonora aplicada por milhares de brasileiros que não embarcaram no conto da “pátria de chuteiras”.
Neste sábado, Dilma enfim revogou a bravata recitada no mesmo dia em que a multidão aglomerada no Mané Garrincha mostrou o que acha do seu desempenho. Vai ver pela TV o jogo entre o Brasil e a Espanha. Foi aconselhada a ficar em casa pelas lembranças do vexame na abertura da Copa das Confederações, pelo clamor das ruas e pela pesquisa divulgada pelo Datafolha.
Como também aconselhou a chefe a manter distância da zona perigosa, é provável que Sérgio Cabral prefira torcer pela Seleção em companhia da família — e convide Eduardo Paes para dividir um sofá. Dias atrás, os desertores enxergavam a oitava maravilha do mundo no estádio reformado por absurdos 1,2 bilhão de reais. Se soubessem da fuga planejada por Lula, todos teriam disputado a pontapés uma vaga no jatinho.
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, será vaiado sozinho. No Maracanã superlotado, a tribuna de honra terá lugar sobrando. É mais uma prova contundente de que os governantes lulopetistas e seus comparsas só protagonizam demonstrações de bravura em combate quando enfrentam a lei, a ética e os cofres públicos. Longe de multidões sem medo.
(por Augusto Nunes)
‘A conta vai para o povo’, um texto de Carlos Alberto Sardenberg
PUBLICADO NO GLOBO
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
Que tal um aumento de 15% na conta de luz a partir da semana que vem? Pois é o que os consumidores do Paraná deveriam pagar se o reajuste não tivesse sido cancelado pelo governador do estado, Beto Richa.
A rigor, ele não poderia fazer isso, mesmo sendo uma estatal estadual a principal distribuidora de energia, a Copel. A empresa é pública, tem ações negociadas na Bovespa e o reajuste foi determinado pela Agência Nacional de Energia Elétrica, a Aneel, conforme a estrita regra do jogo.
Mas, sabe como é, 15% na conta de luz quando os manifestantes contra as tarifas de ônibus nem voltaram para casa? Conversa daqui e dali, todo mundo quebrou o galho.
A Aneel não poderia revogar a nova tarifa, mas topou suspender seu “efeito financeiro”, eufemismo para cobrança. A empresa, cujas ações despencaram quando saiu essa notícia, garantiu ao mercado que será ressarcida de algum modo, não sabendo quando, nem como.
Acontece que os custos da Copel efetivamente subiram ─ e não por culpa dela. A inflação fez uma parte do estrago, mas o custo maior veio da compra de energia mais cara.
Foi o seguinte: choveu pouco, os reservatórios das hidrelétricas ficaram em níveis muito baixos e o Operador Nacional do Sistema, órgão federal que administra o setor, mandou ligar as usinas térmicas, movidas a carvão, diesel e gás, cujo produto é mais caro.
Em resumo, por causa da seca, a energia elétrica ficou mais cara no Brasil ─ e isso logo depois de a presidente Dilma ter feito a maior propaganda com a redução que havia imposto nas contas de luz.
Deu a maior confusão, uma sucessão de prejuízos: as hidrelétricas não puderam gerar, mas tinham que entregar energia, por contrato; distribuidoras tiveram que pagar mais caro.
A conta deveria ir para os consumidores, mas a presidente não queria. Assim, inicialmente, arrumaram um arranjo financeiro, com prejuízos para geradoras e distribuidoras, mas uma hora a conta deveria ser passada aos consumidores finais, empresas e residências.
Era agora. Além da Copel, nada menos que 17 distribuidoras, divididas por 13 estados, têm reajustes agendados no calendário oficial da Aneel para julho e agosto. (A Light, só em 7 de novembro.)
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética, estatal federal que planeja o setor, Mauricio Tolmasquim, disse que não há orientação do governo para suspender os aumentos tarifários. Ou seja, a Aneel continuaria a formalizar os reajustes.
Mas ninguém acredita que serão aplicados, ainda mais depois do precedente da Copel. Caímos assim em um caso clássico: tarifas congeladas por razões políticas, mas custos em alta por causa da inflação e de falhas do sistema. Se continuar assim, a consequência também é clássica: param os investimentos e o serviço piora.
Os governos ─ federal e estaduais ─ podem assumir parte da conta, deixando de recolher os impostos. O maior imposto na conta de luz é o ICMS, estadual. (Nada menos que 29% no Paraná, por exemplo.)
Acontece que os governos também estão sob pressão popular para, numa ponta, aumentar gasto em transporte, educação e saúde, e, na outra, reduzir impostos.
Muita gente acha que basta eliminar a corrupção e lucros excessivos das empresas para que todos os objetivos sejam alcançados. Infelizmente não é assim. Há corrupção, certamente, e deve haver gorduras em muitas tarifas de diversos setores, mas o problema maior é a falta de investimentos e de produtividade. Ou seja, é preciso colocar dinheiro novo em todo o setor de infraestrutura.
O governo federal e muitos estaduais decidiram-se pelas privatizações exatamente em busca de capital e eficiência. Mas é claro que o setor privado vai agora pensar muito antes de entrar em qualquer negócio, considerando a pressão popular e política contras as tarifas ─ a receita do setor.
Eis a difícil situação em que estamos nos metendo. As pessoas estão certas na sua bronca: pagam caro (nas tarifas e nos impostos) por serviços ruins. Não aconteceu por acaso, mas por anos de gestão pública ruim — com gastos elevados em custeio, pessoal e previdência e muito baixos em investimentos, sem abertura de espaço para o investimento privado.
Acrescente a inflação que o governo federal deixou escapar e, para o problema ficar completo, só falta o festival de gastos que o Congresso está preparando. Derrubar tarifas é politicamente inevitável. Mas do jeito que está sendo feito, vai levar a mais déficit público, juros maiores, mais inflação e menos crescimento. Ou seja, a conta vai de novo para o povo.
(Carlos Alberto Sardenberg - O Globo)
‘Amanhã vai ser o mesmo dia’, por Carlos Brickmann
PUBLICADO NA COLUNA DE CARLOS BRICKMANN
CARLOS BRICKMANN
Na primeira metade do século 19, a Inglaterra, maior potência militar da época, exigiu que o Brasil elaborasse leis que impedissem o tráfico de escravos. O Brasil fez todas as leis que os ingleses pediram e continuou a traficar escravos. As leis, sabiam todos, não eram para valer. Eram apenas para inglês ver. A expressão ficou até hoje em nossa língua, como sinônimo de enganação.
Transparência? O jornal O Globo , com base na Lei de Acesso à Informação, pediu o extrato dos gastos da servidora federal Rosemary Noronha, que se dizia amiga de Lula, denunciada pelo Ministério Público por tráfico de influência, corrupção passiva e falsidade ideológica. O Governo se negou a dar a informação. Motivo: poderia colocar em risco “a segurança do presidente e do vice-presidente da República e respectivos cônjuges e filhos”. Então, tá.
Menos gastos? Cada vez que vai à TV, Dilma faz penteado e maquiagem, o que é normal. Mas penteado e maquiagem custam R$ 3.125 ─ número oficial. No salão de Celso Kamura, o cabeleireiro de Dilma, penteado e maquiagem saem por R$ 680. Nas primeiras vezes em que Dilma foi à TV, o custo foi de R$ 400.
Planejamento? Histórias para inglês ver não são exclusivas do Governo Federal, nem do PT. Em Goiás, governado pelo tucano Marconi Perillo, o mesmo cartaz, da mesma obra, sofreu pequena modificação: onde se lia que o custo seria de R$ 54 milhões, surgiu outro número, R$ 111 milhões. Segundo o Governo goiano, foi erro da empresa que fez a placa e colocou o custo de um só trecho. Pois é.
Cortar custos, só dos outros
O Congresso aprovou em alta velocidade projetos que, embora estivessem há anos nas gavetas, nem tinham sido discutidos. Mas a Proposta de Emenda Constitucional que reduz o número de deputado de 513 para 380 (PEC 170), que provocaria uma economia de quase R$ 13,5 milhões por mês, apresentada em 1999, esta ficou no caminho. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara deu esta semana, após 14 anos, seu parecer contrário.
Mexer no deles, nem pensar.
Crime e castigo
Só Câmara? Não seja injusto. O Senado transformou delitos de servidores públicos em crimes hediondos, com aumento de pena. Ótimo ─ desde que alguém identifique e julgue os hediondos criminosos. O pessoal do Mensalão, acusado desse tipo de crime, levou sete anos para ser julgado. E a pena não foi aplicada.
O tempo passa
Pode ser para inglês ver, mas o brasileiro ainda vai demorar a ver o endurecimento das penas. O projeto tem ainda de ser aprovado pela Câmara e sancionado pela presidente. O parecer favorável à aprovação já tinha um ano de gaveta.
(Carlos Brickmann)
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