O Brasil aprendeu no Dia da República que pode ser muito melhor se assim quiser...

Publicado em 18/11/2013 16:57 e atualizado em 20/02/2014 14:23
por Augusto Nunes (de veja.com.br), mais Lauro Jardim e articulistas...

História em Imagens

O Brasil aprendeu no Dia da República que pode ser muito melhor se assim quiser

Neste vídeo de 5:11 , o Implicante resumiu a enorme relevância histórica do 15 de Novembro de 2013 com uma sequência de contrapontos entre a luz e a treva, a verdade e a mentira, a honestidade e a corrupção, a honradez e a indecência, a Justiça e o crime. Arrogantes, presunçosos, atrevidos, os quadrilheiros apadrinhados pelos donos do poder só deixaram de confiar na perpétua impunidade ao lerem os mandados expedidos pelo ministro Joaquim Barbosa. Foi como se ouvissem a voz de prisão enfim gritada em coro por milhões de brasileiros que ─ apesar de tudo, apesar de tantos, apesar de todos ─ continuaram acreditando que ainda havia juízes no Brasil.

Nenhuma noite é suficientemente longa para assassinar a alvorada, constataram os integrantes da resistência democrática. Os que nunca perderam a fé compreenderam que valeu a pena. Os que sucumbiram a surtos de ceticismo redescobriram que o bom combate deve ser travado com vigor redobrado em tempos sombrios. Demorou oito anos. Mas os bandidos foram confrontados com a insônia numa cela. É muito mais opressiva. É especialmente perturbadora. E pode ser bastante pedagógica.

O vídeo ensina que o Brasil, obviamente, ainda não se tornou outro país neste 15 de Novembro: nenhuma nação é reconstruída em 24 horas. Mas aprendeu, no Dia da República, que será muito melhor se assim quiser.

(por Augusto Nunes)

 

O vídeo avisa: não há diferença entre o bando que uiva em defesa dos petistas presos e uma torcida de time de cadeia

ATUALIZADO ÀS 23:27

No vídeo gravado na noite de sexta-feira, o que o companheiro Rui Falcão chama de “a militância do PT” mostra a sua cara. Perto da entrada da sede da Polícia Federal em São Paulo, menos de 20 devotos da seita estão enfurecidos com a punição aplicada a José Dirceu e José Genoino. Além do resgate dos ídolos sessentões, querem a condenação à danação eterna dos  juizes que ousaram castigá-los. Tampouco admitem que a chegada dos pecadores do mensalão ao presídio seja noticiada ao vivo por profissionais da imprensa.

Os quadrilheiros que tramaram o assassinato do estado de direito imaginam que os brasileiros não passam de um bando de idiotas. Zombaram da Justiça e debocharam da imensidão de gente que presta. Mas não aceitam o tratamento dispensado a bandidos comuns. Filmá-los na traseira do um camburão é humilhação insuportável. para meliantes da primeira classe. Isso não se faz com “guerreiros do povo brasileiro”. que no momento tentam aprender a escalar beliches. São heróis perseguidos, deliram em coro os assombros da fauna destes trêfegos trópicos que vêm e vão diante da câmera.

Uns estão à  beira de um ataque de nervos, outros já se metamorfosearam num copo até aqui de cólera. Num brilho homicida no canto do olhar, é possível enxergar-se em toda a sua repulsiva inteireza a intolerância dos autoritários sem cura. É a face horrível. Num bemol perdido num uivo selvagem é possível ouvir nitidamente  os sons do primitivismo. É o ronco ancestral do brucutu das cavernas. A tribo da estrela foi dizimada pela necrose moral, e a agonia é irreversível. Os militantes do PT, quem diria, agora parecem torcedores de time de cadeia. Parecem e são.

(Augusto Nunes)

 

Opinião

Reynaldo-BH: Nunca antes neste país foi tão necessário que eles continuem a mentir

REYNALDO ROCHA

“Eles são honestos: não mentem sem necessidade”. (Tchekhov)

Foram honestos até o fim, na visão cética e aética. O punho erguido no ar, as cartas dirigidas aos lulopetistas ensandecidos – embora endereçadas à nação.

A mensagem é pior que o mensageiro. Fala em nome da esquerda brasileira como se um João Amazonas fosse da mesma laia de um José Dirceu. Ou um Genoíno tivesse a dignidade de um Gregório Bezerra. Ambos personagens da história do Brasil por motivos que, se não comungo, aceito. Respeito a verdadeira honestidade, mesmo que estejam ligadas a ideologias e regimes que não me seduzem. Nenhum dos dois tem o nome incluído em condenações definitivas por corrupção e roubo.

O primeiro roubo cometido pela quadrilha de mensaleiros foi justamente contra a própria esquerda histórica brasileira. Roubaram-lhe os ideais e as ideias. Substituíram a história pela mentira. A decência pelo escárnio. Dirceu, Genoíno e Delúbio usam a luta de antes para cometer os crimes de hoje. E o ícone desta quadrilha é Lula, que já afirmou inúmeras vezes não ser “de esquerda”.

Então como Dirceu, Genoíno e Falcão ousam falar em “ataque às esquerdas”? Essas prisões nada mais são do a execução das penas que bandidos comuns, quando pegos, cumprem depois de serem condenados em última instância.

Não dá para aceitar o roubo da história nem o uso de rótulos para justificar roubos. Minha indignação não nasce de partidos ou ideologias fósseis, nasce do meu passado e do passado de tantos outros. Não sou “ista” de qualquer natureza. A única tatuagem que tenho é a da defesa do estado de direito. Esta me basta. Inclui a liberdade de expressão e o respeito às leis e às garantias constitucionais.

No meio de um comunismo de slogans, Dirceu e o bando resolvem continuar mentindo afirmando ser de esquerda e creditando a isto a condenação. É inimaginável que qualquer um deles faça uma autocrítica, admita a tentativa de atentar contra a democracia, comprando votos e consciências com o nosso dinheiro. Afinal, é disto que se trata.

“Eles são honestos: não mentem sem necessidade”. Nunca antes neste país foi tão necessário que eles continuem a mentir.

 

Opinião

‘Por trás das notícias’, de Carlos Brickmann

Publicado na coluna de Carlos Brickmann

OK, Mensalão, prisões, corrupção ─ chega! Noticiário político virou noticiário policial e esta coluna cansou. O mais importante é o que a fumaça da ladroeira encobre: que um assalto muito maior esfola o cidadão. O total de impostos pagos neste ano já superou R$ 1,4 trilhão. Esse monumental volume de dinheiro entregue aos governos reduz a capacidade de investimentos das empresas e a possibilidade de compra dos indivíduos; desestimula a iniciativa individual ─ pois, num bom número de casos, ganhar mais significa receber menos, já que o imposto dá um salto. É tanto dinheiro que permite gastos públicos injustificáveis ─ dos milhares de funcionários do Congresso à gigantesca frota de carros para governantes e políticos em geral, de recursos para o mensalão às mordomias oficiais.

No ano passado o Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo levou 12 dias a mais para atingir R$ 1,4 trilhão. São os impostos crescendo, ano a ano.

Corrupção? Café pequeno, mesmo sendo muita. No excelente Blog do Noblat do dia 15, além do mensalão, há cinco casos de corrupção, envolvendo diversos partidos, diversos Estados e Municípios, diversos níveis de poder. O ministro Luís Roberto Barroso diz que “a corrupção não tem partidos (…) Nestes poucos meses, explodiram escândalos em um Ministério, em um importante Estado e em uma importante prefeitura”.

É muita corrupção e combatê-la é importante. Mas não tão importante quanto a Grande Esfola Tributária, mãe de todos os casos de ladroeira governamental.

Lá…
O ex-presidente alemão Christian Wulff está sendo julgado em Hannover. Motivo: um amigo, produtor de cinema, pagou sua visita à Oktoberfest de Munique e sua conta de hotel, no alor total de R$ 2.170 (700 euros). É pouco? Por isso, Wulff teve de renunciar à Presidência e abandonou os planos de candidatar-se a primeiro-ministro, na sucessão de Angela Merkel. Os promotores lhe ofereceram um acordo, desistindo da acusação se admitisse a culpa e pagasse € 20 mil de multa.

Wulff recusou: disse que preferia ser julgado e defender sua honra.

…e cá
Sete deputados federais brasileiros, para cumprir três compromissos em Nova York nesta segunda, 18, viajaram na última quarta, recebendo diárias pelo período integral. Henrique Alves (PMDB) tem direito a US$ 550 por dia; Fábio Faria (PSD), Márcio Bittar (PSDB), Esperidião Amin (PP), André Figueiredo (PDT), Danilo Fortes (PMDB) e Eduardo da Fonte (PP) recebem US$ 428 de diária. Os sete pegaram jatinho da FAB de Brasília para São Paulo, seguindo então, sempre por conta da Câmara, para Nova York. Todos foram com as esposas ─ estas sem diárias. Dois assessores viajaram antes, para preparar tudo.

E quais os compromissos tão importantes? Na segunda, encontrarão o presidente da Assembleia Geral da ONU, John Ashe, e o presidente do Conselho de Segurança, Liu Ji-ey. E darão entrevista à Rádio ONU. Cada passagem custa R$ 19 mil, ida e volta.

Festa macabra… 
A exumação do corpo do ex-presidente João Goulart foi preparada como uma festa política (a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, é candidata ao Senado no ano que vem, pelo PT). Uma empresa de promoção de eventos, a Capacitá, de Porto Alegre, foi contratada para organizar as cerimônias em São Borja, onde estava o corpo, e Brasília, para onde foi levado; cinco cerimonialistas prestaram serviços. A ministra exigiu a montagem de um palanque e pediu à Prefeitura a decretação de feriado. Doze peritos foram designados para exumar e examinar o corpo, em busca de indícios de assassínio. O neto de Goulart, João Marcelo, estuda Medicina em Havana (sem vestibular, indicado pelo PDT); e fez questão de trazer um professor cubano de quem gosta, Jorge Perez, para ajudar.

Deu tudo errado: num jazigo com oito corpos, por duas vezes os peritos do Governo retiraram caixões errados. Procuraram então o coveiro que fez o enterro; já tinha morrido. Mas tinha contado ao filho os detalhes do sepultamento. Foi o filho do coveiro que indicou à comissão internacional de peritos qual o caixão certo.

E foi o dono de uma funerária local que emprestou as ferramentas para retirar o caixão, já que a comissão internacional de peritos não as tinha levado.

…mas exclusiva
Decidida a exumação, o Ministério Público e o Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul convocaram a PUC para retirar o corpo e examiná-lo. A ministra Maria do Rosário os afastou do caso: queria porque queria comandar a cerimônia.

E a comandou do seu jeito, de cima do palanque. Pois é.

Vinde a mim as criancinhas
Eduardo Gaievski, primeiro-assessor da ministra Gleisi Hoffmann, cotadíssimo para coordenar sua campanha ao Governo do Paraná pelo PT, preso pela acusação de pagar meninas pré-adolescentes para sessões de sexo, contratou um advogado famoso, Elias Mattar Assad. Assad tenta, na quinta, liberar seu cliente para passar Natal e fim de ano em casa, ao lado da família.

Ou de parte da família: seus irmãos Edmundo e Francisco foram presos preventivamente, acusados de pressionar testemunhas para obrigá-las a retirar suas denúncias.

 

Opinião

‘O Brasil emperrado e a tese de Nelson Rodrigues’, um artigo de Rolf Kuntz

Publicado no Estadão 

ROLF KUNTZ

Se toda unanimidade for mesmo burra, como escreveu Nelson Rodrigues, respeitados economistas nacionais e estrangeiros devem estar errados, porque as avaliações negativas da economia brasileira estão ficando quase unânimes. A Standard & Poor’s, uma das principais agências de classificação de risco, poderá mudar a nota do país antes das eleições de 2014, se a situação das contas públicas continuar piorando, disse em Nova York, na quarta-feira, o diretor responsável pelo acompanhamento do Brasil, Sebastian Briozzo. Ele também revelou a previsão de crescimento econômico para este ano e para 2014, em torno de 2,5%. Um dia antes o Conference Board, organismo especializado em estudos macroeconômicos, havia indicado uma projeção pouco menor para o próximo ano, 2,3%. Estimativas semelhantes haviam sido divulgadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): expansão de 2,2% neste ano, 2,5% no próximo e 3,1% em 2015. Os cálculos anteriores, publicados no primeiro semestre, haviam sido mais otimistas ─ 3% para 2013 e 3,6% para 2014. Mas essas estimativas são apenas uma parte ─ e a menos preocupante ─ da unanimidade em formação.

As coincidências mais importantes referem-se à qualidade da política econômica, ao ambiente de negócios e ao fiasco brasileiro no cenário internacional, sintetizado recentemente na capa da revista The Economist pela queda do Redentor-foguete. Na pesquisa da OCDE, as economias emergentes e em desenvolvimento continuam perdendo impulso, mas ainda devem crescer em média 4,5% em 2013, 5% em 2014 e 5,3% em 2015. A zona do euro continuará em marcha lenta, mas a recessão vai ficando para trás. Os Estados Unidos, mesmo com a trava nos gastos públicos, devem manter-se em aceleração.

Na sondagem de clima econômico, realizada pelo instituto alemão IFO em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a projeção de crescimento para o Brasil nos próximos três a cinco anos ficou em 2,6%, número modestíssimo quando confrontado com aqueles previstos para Chile (3,8%), Colômbia (3,9%), Equador (4,1%) e Peru (5%). Na avaliação do clima econômico o Brasil aparece em 9.º lugar numa lista de 11 latino-americanos. Os principais problemas detectados nas entrevistas são três faltas: de confiança na política econômica, de competitividade internacional e de mão de obra qualificada.

Bem conhecidos no país, esses pontos negativos se tornaram lugares-comuns nas avaliações divulgadas por entidades internacionais públicas e privadas, como a OCDE, o Banco Mundial, o Fórum Econômico Mundial e as agências de classificação de risco.

A quase unanimidade internacional a respeito das más condições do país tem sido alimentada por informações e avaliações também de entidades oficiais brasileiras. O Banco Central (BC) tem chamado a atenção, há um bom tempo, para as limitações do lado da oferta, para o desajuste no mercado de trabalho, para a demanda de consumo perigosamente aquecida e para a inflação resistente, mas a cúpula do Executivo continua agindo como se o grande entrave ao crescimento brasileiro estivesse do lado dos consumidores. Como consequência, o governo tem queimado dezenas de bilhões de reais em estímulos fiscais ao mercado, com pouquíssima ou nenhuma resposta da indústria. Mesmo o dinheiro do Tesouro entregue aos bancos públicos para financiar o investimento produziu efeitos abaixo de pífios nos últimos anos. O valor investido pelo governo e pelo setor privado continua na vizinhança de 19% do produto interno bruto (PIB), uns cinco pontos abaixo da média latino-americana.

Os sinais de estagnação continuam pipocando. O mais recente é o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB. O número de setembro foi 0,01% inferior ao de agosto e 2,68% maior que o de um ano antes na série com ajuste sazonal. O índice do terceiro trimestre foi 0,12% inferior ao do segundo e o acumulado em 12 meses chegou a 2,48%.

A estimativa do PIB atualizada até o período de julho a setembro só deve ser divulgada no começo do próximo mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por enquanto, os levantamentos indicam um resultado muito fraco. Isso inclui o crescimento industrial de apenas 1,1% nos 12 meses até setembro, segundo os últimos dados do IBGE.

Enquanto isso, a alta dos preços ao consumidor continua em aceleração, mesmo com a acomodação dos preços no atacado (IPA). O IGP-10 de novembro subiu 0,44%, freado por seu componente de maior peso: o IPA, com elevação de 0,4%, avançou bem menos que no mês anterior (1,48%). Mas os preços ao consumidor, também cobertos pela pesquisa, aumentaram 0,61%, com variação de 5,44% em 12 meses. Em outubro haviam subido 0,33%. A nova apuração mostrou alta de preços em seis dos oito grupos de bens e serviços pesquisados, com destaque, novamente, para os serviços – mais um forte sinal de excesso de demanda.

Toda unanimidade pode ser burra, mas pode causar muito prejuízo antes de ser descoberta a burrice. A movimentação no mercado financeiro já tem mostrado os efeitos da desconfiança em relação à política fiscal, muito frouxa, e às possibilidades de crescimento econômico nos próximos anos. Além disso, restam dois motivos de preocupação. Primeiro: talvez haja algum exagero na tese de Nelson Rodrigues. Nesse caso, pelo menos algumas unanimidades poderão ser fundamentadas. Segundo: mesmo avaliações defeituosas podem motivar profecias autorrealizáveis. Pelo sim, pelo não, a presidente Dilma Rousseff deveria pensar nessas possibilidades, para tentar garantir nos próximos anos uma economia mais bonitinha e menos ordinária.

 

Opinião

‘Tardou, mas não falhou’, editorial do Estadão

Publicado no Estadão deste domingo

Todos os dias a Justiça manda para a cadeia pessoas que têm contas a acertar com a sociedade. É uma rotina na qual pouco se presta atenção. Mas isso deixa de ser corriqueiro, é claro, quando os condenados são altos dirigentes partidários, parlamentares, banqueiros, publicitários, enfim, gente que a polícia não costuma abordar na rua para pedir documentos. É compreensível, portanto, que exatamente no dia em que a República comemorava o seu 124.º aniversário, e mais de oito anos depois da denúncia, todas as atenções da Nação, marcadas por um predominante sentimento de alívio e esperança, se voltassem para as notícias de que o Supremo Tribunal Federal emitira uma primeira leva de mandados de prisão contra uma dúzia de condenados no processo do mensalão. Entre eles os mais notórios, porque gente graúda do Partido dos Trabalhadores (PT): José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares.

O sentimento de alívio e esperança se deve à confirmação de que a Ação Penal 470 pode estar realmente anunciando o início do fim da impunidade dos poderosos. Que a corrupção, mesmo aquela praticada em nome do “bem maior”, dá cadeia. E esse sentimento se inspira também no fato tão raro quanto auspicioso de que veio de cima, afinal, um bom exemplo. Um exemplo que todos esperam que se dissemine pelas instâncias inferiores do aparelho Judiciário.

A consciência cívica brasileira teve, portanto, mais do que o aniversário da República a comemorar no dia 15 de novembro. Pode dedicar-se também à comemoração serena, sem rancores, de um passo importante para a consolidação entre nós do império da lei. Pois, mais do que uma desastrada tentativa de cooptar pelo suborno os tais “300 picaretas” que Lula, com toda razão, disse nos anos 90 que infestavam o Congresso, o caso do mensalão é emblemático da mentalidade de que ao governo ─ ao deles, claro ─ tudo é permitido.

Não surpreende, portanto, a lamentável reação da elite petista à decretação das prisões, tanto por parte daqueles que se sentiram na obrigação de prestar solidariedade pública aos camaradas encarcerados quanto a dos próprios condenados. É sabido que quem não está com os petistas está contra eles ─ que consideram ter inimigos, não adversários. E esse maniqueísmo se aplica, também ─ como mostram à farta as manifestações da elite do PT ─, ao tratamento que dão aos meios de comunicação, às leis do país e ao funcionamento do Judiciário. Lei boa e merecedora de respeito é aquela que os favorece. Vale exatamente o mesmo para as sentenças judiciais.

A prisão dos mensaleiros ativou a síndrome de perseguição dos companheiros de Lula. Para José Dirceu, a sentença que o condenou é “espúria”. Num longo manifesto, repleto de lugares-comuns e frases feitas que lembram antigos discursos de agitação estudantil, Dirceu acusa ministros da Suprema Corte de terem votado sob pressão da “grande imprensa”. E protesta: “É público e consta dos autos que fui condenado sem provas”. Não faz a menor cerimônia para fabricar sua própria versão dos acontecimentos.

Por sua vez, o presidente do PT, Rui Falcão, instruído a manter o partido o mais longe possível dessa história, para não passar totalmente em branco, requentou uma nota oficial que divulgara um ano atrás, em solidariedade aos “companheiros injustiçados”, acrescentando que a ordem de prisão dos petistas “constitui casuísmo jurídico e fere o princípio da ampla defesa”. E, sem deixar claro o que tem em mente, conclamou a militância de seu partido a “mobilizar-se contra as tentativas de criminalização do PT”.

Lula, que anunciara que após deixar a Presidência da República se dedicaria a “desmontar a farsa do mensalão”, hoje está mais interessado, com seu habitual pragmatismo, a virar rapidamente essa página, para que ela não se reflita negativamente no pleito de 2014. Solicitado a se manifestar sobre a prisão dos companheiros, fez-se de modesto: “Quem sou eu para fazer qualquer insinuação ou julgamento da Suprema Corte?”.

Mas, se para ele é melhor deixar a “farsa do mensalão” para lá, para os cidadãos de bem deste país ficou patente que lugar de delinquente ─ por mais poderoso que seja ─ é na cadeia.

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Fonte:
Blog Augusto Nunes (veja.com.br)

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1 comentário

  • wilfredo belmonte fialho porto alegre - RS

    Este l5 de novembro é um divisor de águas, uma data

    em que as novas gerações irão aprender que a velha polí

    tica de que os meios justificam os fins, o poder a qual

    quer custo em que só os ladroes de galinha é que vão pa

    ra a cadeia. Uma data em que a justiça realmente é cega

    em que a lei deva ser a norma de conduta de uma socieda

    de de bem, em que todos os brasileiros que vivem e amam

    esta terra estão protegidos pelo manto da justiça e das

    leis e que sabem que terão que prestar contas a socieda

    de de seus atos adversos ao tentar burlar as Leis.

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