Os heróis da porrada, adorados pela imprensa — por causa de seu viés de esquerda, não o contrário — estão de volta...

Publicado em 26/01/2014 06:17 e atualizado em 19/03/2014 15:33
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Os heróis da porrada, adorados pela imprensa — por causa de seu viés de esquerda, não o contrário — estão de volta. E aí, Dilma? Gilberto Carvalho vai continuar a piscar para eles?

Dilma e coraçãozinho: até quando? Pânico chega ao  Planalto

Dilma e coraçãozinho: até quando? Pânico chega ao Planalto

Nunca um clichê foi tão oportuno: depois de anos semeando vento — até anteontem, com os rolezinhos (já chego lá) —, o PT agora está desesperado, com medo da tempestade. Pois é… A baderna violenta havida em São Paulo no sábado já levou o pânico para as hostes do governo. Já chego ao ponto. Antes, algumas considerações.

Já há gente no governo federal querendo culpar a Polícia Militar de São Paulo pela elevação da tensão. Aliás, a imprensa paulistana faz a mesma coisa. A gente lê os relatos e tem a impressão de que, não fossem os PMs, tudo teria se dado da melhor forma possível. Nem parece que os policiais só entraram em ação porque vândalos incendiaram um carro, depredaram ônibus, bancos, lojas… “Ah, mas os policiais do choque estavam sem identificação”. Que se apure e se tomem as devidas providências. Atenção para o que vem agora — não justifica, mas explica e aponta para um problema sério, que terá de ter uma resposta da polícia e da sociedade. Conversei com um policial dia desses. Ele me disse que muitos retiram a identificação porque não querem ver seus respectivos nomes circulando em filmetes feitos por provocadores. Nas suas palavras: “O nome da gente fica na Internet e é visto por todo mundo, inclusive pelos bandidos”. É um problema? É, sim. Ou há alguma forma de um policial — que está cumprindo um dever desagradável — se sair bem reprimindo “manifestantes”? Acho que não. Bem, de junho pra cá, escrevi dezenas de textos abordando os riscos decorrentes desse processo de demonização das PMs Brasil afora. Sigamos.

É simplesmente mentira que é a reação da PM que açula esses trogloditas. “Como você sabe?” Porque tenho a história a meu favor. Voltem a junho: os três primeiros protestos — 6, 7 e 11 — em São Paulo foram notavelmente violentos, e a PM havia atuado apenas na contenção. Um policial foi praticamente linchado. A polícia só reagiu — de modo, então, meio atrapalhado — no dia 13. E aí foi o que se viu. Assim, ainda que fosse verdade que a “repressão” estimula o vandalismo, resta evidente que a não repressão também. Ou a PM fez algo de errado enquanto a manifestação seguia pacífica?

Essas coisas — ATÉ PORQUE TRATADAS COM SIMPATIA PELA IMPRENSA — têm um forte efeito imitação. Podem escrever: haverá outros protestos, e a disposição dos mascarados é partir para a briga; é enfrentar a PM. Há grupos achando que existem as precondições para reeditar junho, e isso deixa Dilma em pânico. No momento, ela está lá se divertindo no presídio mantido por Fidel e Raúl Castro. Quando voltar, quer fazer uma reunião com seus ministros para debater a questão. “Que resposta dar?”

Pois é… Até agora, a presidente só se referiu a esses episódios com a boca entortada pelo uso do cachimbo petista. É claro que governante que vai à TV choramingar por causa de protestos só excita a fúria de seus algozes. O ponto não é esse, não! Tem de falar de “autoridade” — de autoridade democrática. E, se for o caso, deixar claro que as leis disponíveis serão aplicadas para coibir a desordem.

Ao longo de sua história, mais do que tolerar, o PT é um estimulador de “movimentos” que só existem porque transgridem as leis por princípio, com incrível determinação. É o caso do MST. É o caso dos movimentos de sem-teto, em São Paulo, que agora estão nos calcanhares dos próprios petistas. É o caso da sublevação de índios em vários pontos do país — com a colaboração da Secretaria-Geral da Presidência, de Gilberto Carvalho. No caso dos rolezinhos, como apontei aqui muitas vezes, o PT, de novo, apelou ao perigo e passou a acusar severas maquinações racistas.

Entenderam o ponto? Embora seja um partido da ordem; embora seja uma legenda do establishment; embora esteja obrigado a se mover no espaço da legalidade, o PT não resiste à tentação de flertar com o perigo. Foram as esquerdas petistas e petizadas que tentaram conferir um rosto político aos rolezinhos — prática desmoralizada, creio, pela pesquisa Datafolha.

No caso da reedição — vamos ver se apenas episódica — das manifestações violentas contra a Copa, petistas entram em pânico, mas não dão a cara ao tapa de jeito nenhum! Alimentam, com seu discurso, a prática do vale-tudo. Na verdade, é o partido que carrega o DNA da mobilização não apenas contra a ditadura — que esta já acabou faz tempo —, mas também contra a ordem democrática. Alguma vez o partido hesitou em jogar seus “movimentos” — aqueles que Gilberto Carvalho chama “tradicionais” — contra as instituições, muito especialmente quando se trata de atacar um adversário político?

Existem os fatos, cada um deles com sua gênese, com sua cadeia de causalidades e suas consequências, e existe o tempo em que eles se dão. E esse tempo tem um espírito. E o espírito deste tempo é atropelar a legalidade — A DEMOCRÁTICA — para fazer justiça. Mas qual justiça? Ora, aquela que os donos da causa decidirem que é. Fim de papo. Então os índios fazem a justiça dos índios; o sem-terra fazem a justiça dos sem-terra; os sem-teto, a dos sem-teto; os rolezeiros, a dos rolezeiros, e os black blocs, a dos black blocs. Em todos os casos, a violência passou a ser a linguagem aceitável.

É claro que há alguma coisa muito errada quando a polícia está apanhando feito cão danado nos jornais de hoje, depois daquilo a que se assistiu no Centro de São Paulo. Calma lá! Aqueles facinorosos meteram fogo num carro com uma família de quatro pessoais ainda dentro. E daí? “Ah, mas não estamos defendendo isso; apenas atacando o despreparo da polícia, que entrou num hotel…” Aqueles que se acoitaram no estabelecimento tinham acabado de depredar uma concessionária de veículos. Há relatos de hóspedes que ficaram acuados em seus respectivos quartos, com gente dando porrada do outro lado da porta. Aí dizem os “especialistas” nos jornais: “A polícia jamais deveria ter entrado…”. Afirmar isso a frio, com o traseiro tranquilamente posto no sofá e depois do fato, é fácil. O problema é a resposta da hora, quando vândalos que estão quebrando tudo invadem um espaço onde trabalham e se hospedam pessoas.

Olhem aqui: a história informa — e não o chute ou esfera de sensações — que a não repressão não torna menos violentos esses que vão para as ruas com a determinação de quebrar e incendiar. Isso é bobagem. O que não se tem, aí sim, é uma lei eficaz para coibir e punir esse tipo de banditismo — a não ser uma: a de Segurança Nacional, que está em vigor. Mas aí o viés ideológico não deixa. Logo alguém diz: “Imaginem usar isso juto os 50 anos do golpe”…

E é claro que pode ficar pior. Vai que os PMs se cansem dessa brincadeira e façam como uma porta-voz da corporação no Rio que explicou por que havia um monte de jovens bandidos assaltando pessoas no Centro da cidade, sem interferência dos policiais. Segundo ela, aquele não era um caso de segurança, mas social e de saúde. Quem se dá mal com aqueles marginais nas ruas? Os pobres honestos que circulam por lá e são roubados todos os dias. Imaginem se a PM de São Paulo decide que protestos contra a Copa são políticos — e, pois, fora de sua alçada…

A Copa está chegando. Falta muito pouco. Dilma precisa decidir se investe na ordem ou se ela própria e seus ministros, muito especialmente Gilberto Carvalho, continuarão a dar piscadelas para a baderna.

Uma coisa é certa: os heróis da porrada, adorados pela imprensa — por causa de seu viés esquerdista, não o contrário —, estão de volta. Vento aqui, vento lá, vento acolá… Se planta, tende a colher.

Por Reinaldo Azevedo

 

O pau volta a comer em São Paulo. Incentivo à baderna vem hoje do Palácio do Planalto e do PT. E digo por quê

Carro particular é incendiado por vândalos durante protesto (Foto: Tiago-Chiaravalloti-Futura-ress-Folhapress)

Carro particular é incendiado por vândalos durante protesto (Foto: Tiago-Chiaravalloti-FuturaPress-Folhapress)

Sim, vou comentar a baderna que alguns bandidos disfarçados de manifestantes promoveram em São Paulo neste sábado, num protesto contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, que reuniu, segundo a PM, 1.500 pessoas. Como sempre, depredação de lojas e ônibus, um veículo incendiado confronto com a polícia. E, para não variar, lá estavam os mascarados. O texto vai ficar longo. Mas tempo não lhes falta neste domingão, certo? Vamos lá. No Rio também houve alguma confusão. Em outras capitais, a convocação não reuniu mais do que algumas dezenas. Para que trate do evento de ontem, no entanto, preciso recuperar algumas coisas. Terei de falar um pouco dos rolezinhos e da reação do governo federal e dos petistas ao fenômeno. Vamos lá.

Manifestante com um lança-chamas. Ninguém vai chamá-la de

Manifestante com um lança-chamas. Ninguém vai chamá-la de “pacífica” (Foto: Ivan Pacheco)

Escrevi neste blog meu primeiro texto sobre os rolezinhos no dia 13 de janeiro. É curto, meus caros, e vale a pena reproduzi-lo na íntegra. Mui modestamente, a minha bola de cristal antecipou o que viria com impressionante precisão. Releiam (em azul).
*
Esquerdistas bocós (existem os não bocós?) já estão de olho no “rolezinho”. Aqui e ali, noto a vocação ensaística de alguns dos meus coleguinhas na imprensa. Já há gente, assim, treinando o olhar para teorizar sobre mais essa erupção — e irrupção — da luta de classes. É fácil ser bobo. Fosse mais difícil, não haveria tantos bobalhões. Daqui a pouco o Gilberto Carvalho chama os teóricos dos “rolezinhos” para um bate-papo no Palácio do Planalto.
O “rolezinho”, que até pode ter começado como uma brincadeirinha irresponsável nas redes sociais, está começando a virar, vejam vocês!, uma questão política — ao menos de política pública. A coisa pode se tornar mais séria do que se supõe. Infelizmente, noto que muita gente, inclusive na imprensa, está tentando ver essas manifestações como se fossem uma espécie de justa revolta de jovens pobres contra templos de consumo da classe média.
Isso é uma tolice, um cretinismo. Os shoppings têm se caracterizado como os mais democráticos espaços do Brasil. São áreas privadas de uso público, muito mais seguras do que qualquer outra parte das cidades brasileiras. Os pais preferem que seus filhos fiquem passeando por lá a que façam qualquer outro programa, geralmente expostos a riscos maiores. É uma irresponsabilidade incentivar manifestações de centenas ou até de milhares de pessoas num espaço fechado. Ainda que parte da moçada queira apenas fazer uma brincadeira, é evidente que marginais acabam se aproveitando da situação para cometer crimes, intimidar lojistas e afastar os frequentadores.
Esse negócio de que se trata de uma espécie de revolta dos pobres contra os endinheirados é uma grossa bobagem. Boa parte dos shoppings de São Paulo, hoje em dia, serve também aos pobres, que ali encontram um espaço seguro de lazer. A Polícia precisa agir com inteligência para que se evite tanto quanto possível o uso da força. É necessário mobilizar os especialistas em Internet da área de Segurança Pública para tentar identificar a origem dessas convocações.
É preciso, em suma, chegar à raiz do problema. As redes sociais facilitam essas manifestações, como todos sabemos, mas é evidente que elas não são espontâneas. Há pessoas convocando esse tipo de ação, que pode, sim, como se viu no Shopping Metrô Itaquera, degenerar em violência.
No dia em que os shoppings não forem mais áreas seguras, haverá fuga de frequentadores, queda de vendas e desemprego. E é certo que estamos tratando também de um sério problema de segurança pública. Num espaço fechado, em que transitam milhares de pessoas, inclusive crianças, os que organizam rolezinhos estão pondo a segurança de terceiros em risco.
E que ninguém venha com a conversa de que se trata apenas do direito de manifestação num espaço público. Pra começo de conversa, trata-se, reitero, de um espaço privado aberto ao público, que é coisa muito distinta. De resto, justamente porque os shoppings têm essa dimensão pública, não podem ser privatizados por baderneiros que decidiram ameaçar a segurança alheia.
Encerro notando que o Brasil precisa ainda avançar muito na definição do que é público. Infelizmente, entre nós, muita gente considera que público é sinônimo de sem-dono. É justamente o contrário: o público só não tem um dono porque tem todos.

Retomo
Como se pode ver:
1: nego que os rolezinhos tenham um caráter político:
2: nego que os rolezinhos sejam fruto da exclusão social;
3: nem especulo sobre a possibilidade de ser uma criação do PT; é claro que não é!;
4: aponto o óbvio: shoppings são espaços que também servem aos moradores da periferia;
5: afirmo que têm de ser coibidos por uma questão de segurança.
6: O QUE CONDENO NO MEU TEXTO É A TENTATIVA DAS ESQUERDAS DE POLITIZAR O ROLEZINHO. É PRECISO SER MUITO BURRO PARA AFIRMAR QUE EU ATRIBUO ESSES EVENTOS ÀS ESQUERDAS. O diabo é que há gente burra aos montes — e outras tantas de má-fé.

E muitos outros textos se seguiram a esse. E não adotei tal ponto de vista apenas aqui, é claro! Afirmei a mesma coisa na Rádio Jovem Pan. Na Folha, na  coluna no dia 17, escrevi:
“Setores da imprensa e alguns subintelectuais, com ignorância alastrante, tentaram ver o “rolezinho” como manifestação da luta de classes.” Ou ainda: “Jovens que aderem a eventos por intermédio do Facebook não são excluídos sociais, mas incluídos da cultura digital, que já é pós-shopping, pós-mercadoria física e pós-racial.”
Mais:
“Não se percebia, originalmente, nenhuma motivação de classe ou de “raça” nessas manifestações. Agora, sim, grupos de esquerda, os tais “movimentos sociais” e os petistas estão tentando tomar as rédeas do que pretendem transformar em protesto de caráter político.”

Adiante.

Ônibus é depredado em SP: Carvalho não vai chamar o rapaz para um papinho (Foto Ivan Pacheco)

Ônibus é depredado em SP: Carvalho não vai chamar o rapaz para um papinho (Foto: Ivan Pacheco)

Por quê?
Mas por que evoco os rolezinhos? Porque o tratamento que a imprensa, alguns acadêmicos mixurucas e os “progressitas” lhes conferiram revela o espírito do tempo. Deixados os eventos por si mesmos, com a devida contenção quando se fizesse necessária, iriam esmorecer. Os shoppings da periferia são um espaço de lazer das famílias, parentes, amigos, vizinhos — a “comunidade”, enfim — dos rolezeiros. Mas como resistir ao, digamos, “cheiro conceitual dos pobres”? Assim, foram buscar LUTA DE CLASSES onde havia, e há, desejo de ascensão de classe, que é coisa muito distinta.

As justas e corretas mobilizações dos lojistas, das respectivas direções dos shoppings, dos consumidores e da própria polícia para coibir os eventos foram tachadas de discriminação racial e de classe. Se me pedissem para listar os três traços de caráter que mais abomino, um deles é a demagogia — sim, eu a considero um desvio de caráter. E, infelizmente, está contribuindo para rebaixar o caráter do país.

Carvalho
No primeiro parágrafo do meu primeiro texto sobre o rolezinho, leiam lá, antevejo que Gilberto Carvalho vai meter os pés pelos pés e fará besteira. Batata! Na semana passada, ele afirmou: “Da mesma forma que os aeroportos lotados incomodam a classe média. Da mesma forma que, para eles, é estranho certos ambientes serem frequentados agora por essa ‘gentalha’ (…). O que não dá para entender muito é a carga do preconceito que veio forte. (…) As pessoas veem aquele bando de meninos negros e morenos e ficam meio assustadas. É o nosso preconceito“.

Reproduzo agora os dois últimos parágrafos da minha coluna na Folha desta sexta (em azul):
Enquanto a fala indecorosa do ministro circulava, uma turba fechou algumas ruas na Penha, em São Paulo, para um baile funk. A polícia, chamada pela vizinhança, acabou com a festa. Um grupo de funkeiros decidiu, então, assaltar um posto de gasolina, espancar os funcionários, depredar um hipermercado contíguo e roubar mercadorias. Na saída, um deles derramou combustível no chão e tentou riscar um fósforo. Tivesse conseguido… O “Jornal Nacional” relacionou o episódio à falta de lazer na periferia. Pobre, quando não se diverte, explode posto de gasolina, mas é essencialmente bom; a falta de um clube para o funk é que o torna um facínora. Sei. É a luta entre o Rousseau do Batidão e o Hobbes da Tropa de Choque.
Os maiores adversários do PT em 2014 não são as oposições, mas a natureza do partido e os valores que tornou influentes com seu marxismo de meia-pataca e seu coitadismo criminoso. A receita pode, sim, desandar.

Sabem qual era o primeiro parágrafo dessa coluna? Este (em azul):
“O pânico voltou a bater às portas do Palácio do Planalto, que dá como inevitáveis novos protestos durante a Copa. O PT já convocou o seu braço junto às massas, uma tal Central de Movimentos Populares (CMP), para monitorar o povaréu.”

Pronto! Com o parágrafo acima, chego aos confrontos deste sábado, em São Paulo, depois de ter caracterizado o AMBIENTE INTELECTUAL em que acontecem.

Olhem o black bloc aí, o dono da rua, certo de que não vai acontecer nada com ele (Foito: Ivan Pacheco)

Olhem o black bloc aí, o dono da rua, certo de que não vai acontecer nada com ele(Foto: Ivan Pacheco)

Direitos e limites
É evidente que as pessoas têm o direito de não querer a Copa do Mundo no Brasil e de expressar esse ponto de vista. Mas não o de sair quebrando tudo por aí. Se vocês observarem, até agora, o governo federal não disse uma palavra firme a respeito. Ao contrário até: em seus discursos, dentro e fora do Brasil, Dilma passou a citar as manifestações como exemplos de democracia. Não são!

Dia sim, dia também, movimentos de sem-teto, por exemplo, paralisam áreas da cidade. E o que eles querem? Que parte das casas construídas pelo poder público seja destinada a seus militantes — e, atenção!, será. É evidente que isso é um despropósito e caracteriza uma espécie de desvio de recursos púbicos para entidades que são, não dá para fingir que não, de caráter privado. Ao ceder a pressão, o que se faz é endossar um método.

A desordem e o confronto estão se transformando em métodos aceitáveis de expressão, seja da alegria, seja da reivindicação política. Não! Não antevejo o caos; não acho que o Brasil caminhará para o buraco por isso; não acredito que estaremos nas cavernas daqui a pouco — não sou, em suma, apocalíptico. ATÉ PORQUE, LEITOR, O APOCALIPSE NÃO CHEGA — nem no Haiti ou no Sudão. Mas é claro que se vai construindo, com determinação e método, as condições de um atraso perene.

“Se o Brasil fosse menos desigual, isso não aconteceria”, repetem por aí. Bobagem! As manifestações violentas havidas no país a partir de junho não tiveram — como não teve o evento de ontem —, caráter popular. Foram lideradas por radicais mais ou menos endinheirados.

O que não existe no país — aí, sim — são líderes políticos que tenham a coragem de falar em defesa da ordem. De qual ordem? A da democracia e do estado de direito! O que lhes parece? Ao contrário: incentiva-se a desordem. Vejam o caso da ação do Denarc na Cracolândia. O prefeito Fernando Haddad convocou uma entrevista coletiva para atacar a polícia e não disse uma única palavra de solidariedade aos policiais que foram agredidos por um bando de dependentes. Atenção! Estava cumprindo o seu dever:: foram lá prender traficantes.

Amarro as pontas para quem, eventualmente, até aqui, ainda não uniu os vários fios deste texto: o incentivo à desordem no país vem hoje de homens e mulheres que ocupam posição de relevo nos Poderes Constituídos, seja por meio de palavras irresponsáveis, como a de Gilberto Carvalho, seja pelo silêncio. E não é diferente com entidades da sociedade civil que já chegaram a se destacar pela defesa da ordem democrática.

A OAB-RJ e a Comissão de Direitos Humanos da OAB nacional exerceram um papel detestável, vergonhoso, na proteção aos tais black blocs no Rio, por exemplo. Quando policiais de São Paulo enquadraram, por bons motivos, dois indivíduos na Lei de Segurança Nacional — que deixou de ser “coisa da ditadura” quando foi, na prática, recepcionada pela Constituição democrática (ou não foi?) —, fez-se uma gritaria dos diabos. Alguns vagabundos vão para as ruas para quebrar tudo na certeza de que nada vai lhes acontecer — e, de fato, nada tem acontecido.

Encerrando
Começo a concuir lembrando que, até que se chegasse àquele confronto do dia 13 de junho do ano passado em São Paulo, que, por assim dizer, “nacionalizou” as manifestações, houve três protestos violentos, com depredações, coquetéis molotov e incêndio a ônibus: nos dias 6, 7 e 11 de junho. A arruaça correu solta, e a Polícia Militar só apanhou dos “manifestantes”. Quando reagiu, vocês sabem o que aconteceu. É história. Fiz uma pequena memória daqueles dias aqui.

Não! O PT não inventou junho nem inventou os rolezinhos — e, obviamente, não será o criador de possíveis novos distúrbios na Copa. O que o partido e seus capas-pretas fizeram e fazem é flertar com a desordem — quando não a insuflam. Nunca é demais lembrar que os petistas Gilberto Carvalho e Luíza Bairros (ministra da Integração Racial) não hesitaram um minuto em jogar “negros e morenos” (Como disse Carvalho) contra brancos no caso dos rolezinhos. Convenham: é preciso ser de uma espantosa irresponsabilidade para brincar assim com o perigo.

O incentivo à desordem no país vêm hoje do Palácio do Planalto e do PT — ainda que o problema possa cair no colo do partido e do governo. Ocorre que essa gente, como o escorpião, tem uma natureza.

Por Reinaldo Azevedo

 

Pronto! O vandalismo já reivindica de novo a condição de vítima

Santa Casa

Vejam o mapa acima. O círculo azul marca o lugar em que um homem de 22 anos foi baleado pela Polícia Militar no sábado à noite. O balãozinho vermelho indica a Santa Casa, onde ele está internado. Você entenderão por que abro o post com essa imagem.

Pronto! Tudo como o diabo gosta. Vocês viram a baderna promovida no Centro de São Paulo no sábado, não? Entre outras delicadezas, agências bancárias, lojas e ônibus depredados e um veículo particular incendiado. Atenção, meus caros! Os ditos “manifestantes” jogaram um colchão em chamas contra um Fusca com quatro pessoas dentro, inclusive uma criança. Tiveram de sair correndo para não morrer torrados. Sabem como é… Os vândalos querem mudar o mundo e têm pressa. Um pouco mais tarde, depois de uma perseguição policial, um rapaz de 22 anos foi baleado por PMs. Ele está internado em estado grave. A Corregedoria investiga a ação policial. Infelizmente, quase não se encontra na imprensa censura à ação dos baderneiros, mas a polícia já começou a apanhar.

Uma câmera de segurança registrou a ação. Não fosse ela, a esta altura, os policiais já estariam sendo massacrados antes de qualquer apuração. O Fantástico levou ao ar as imagens (clique aqui para assistir).

Dá para ver dois PMs perseguindo Fabrício Proteus Nunes Fonseca Mendonça Chaves, este é o nome do rapaz. De repente, Fabrício para e se volta contra os policiais. Um deles cai, e o jovem, então, se joga em cima dele. Levou dois tiros. É um bom desdobramento? É evidente que não! Mas não resta a menor dúvida de que ele decidiu enfrentar os PMs. Qualquer polícia do mundo — no Brasil, na Suíça ou no Cafundó do Judas, atira em circunstâncias assim.

Segundo os policiais, Fabrício já tinha sido abordado e, na revista de sua mochila, foi encontrado um artefato explosivo. Ele conseguiu fugir. Ao tentar contê-lo, um PM teve o braço torcido. Na sequência, segundo essa versão, o rapaz investiu com um estilete contra os PMs. Teve início a perseguição, com os desdobramentos conhecidos.

É claro que se deve apurar tudo direito para saber se as coisas se deram mesmo assim. Uma coisa, no entanto, a câmera evidencia com clareza: disposição para o confronto, Fabrício, sem dúvida, tinha. Quando ele para, não faz o que seria o normal nesses casos: render-se — hipótese em que se deve erguer as mãos ou pô-las na cabeça. É um gesto universal. Nada disso! Ele parte para cima de um dos policiais.

Socorro
Há ainda uma tentativa de crucificar os policiais porque eles levaram o rapaz ao hospital. Com a devida vênia, é um absurdo! Há, de fato, uma portaria da Secretaria de Segurança Pública — da qual sou crítico — que impede a PM de prestar socorro. É obrigada a esperar o Samu. Ocorre que, segundo testemunhas, depois de meia hora, a ambulância ainda não havia chegado. Como ele perdia muito sangue — um ferimento no tórax e outro na virilha —, os policiais o encaminharam ao hospital da Santa Casa. Atenção, leitor, volte ao mapa.

Entre o local da ocorrência e o hospital, deve haver uns 200 metros, se tanto. Se o estado do rapaz é mesmo grave — e tudo indica que sim —, a demora no socorro poderia significar a sua morte. Será que os policiais merecem ser crucificados também por isso?

Vejam o filme. É importante. O Estadão Online traz isto aqui (em vermelho):
Um morador da região que não quis se identificar disse que estava chegando em casa quando presenciou a ação. ‘Eram três policias descendo a rua correndo atrás do menino. Depois dos tiros, o rapaz saiu cambaleando e um policial ainda deu um empurrão nele em cima da árvore’, relatou. Uma poça de sangue se formou em frente a um dos prédios da Rua Sabará, mas neste domingo só havia rastros de sangue no canteiro em que Chaves ficou esperando para ser socorrido.

Encerro
Não era um menino, mas um homem de 22 anos, que estava resistindo à polícia. Observem que o relato do morador — que não quer se identificar — ignora o momento em que Fabrício para e se volta contra os policiais. Entre as imagens e o “relato de alguém que não quer se identificar”, parece que o razoável é escolher a câmera. E fica aqui a minha dúvida: será que, em casos dessa natureza, o “relato” de um anônimo deve ser reproduzido sem uma apuração mínima? Imaginem se a câmera não estivesse lá…

Texto publicado originalmente às 3h19

Por Reinaldo Azevedo

 

Maria do Rosário emitirá uma nota por Bruno, um trabalhador de 18 anos espancado até a morte? Ou: Os mortos do crack

Ultimamente, já contei aqui, eu sinto um misto de raiva e nojo de ter de escrever certos textos, de fazer determinados comentários, de abordar alguns temas. Por volta das 6h40 de ontem, um jovem de 18 anos, Bruno Borges de Oliveira, foi espancado por ladrões até a morte na rua Herculano de Freitas, na Bela Vista, região central de São Paulo.

O que queriam roubar de Bruno, um garoto pobre, auxiliar administrativo, que arrumara emprego havia pouco tempo? Atenção! Um par de tênis, um cartão de bilhete único de ônibus e um celular — que, como se sabe, não é mais objeto de luxo. Tudo isso aconteceu à luz do dia.

São Paulo está longe de ser a capital mais violenta do país. Na verdade, os dados indicam ser uma das menos. Mas e daí? Isso já não tem importância para Bruno e sua família. Atenção, leitores! Maria do Rosário, a ministra dos Direitos Humanos, não vai emitir uma nota. Não haverá ONGs se manifestando nem se farão protestos no centro da cidade.

Há pouco menos de duas semanas, por conta de um homicídio que não aconteceu — um jovem havia se suicidado —, fez-se um escarcéu danado. Afinal, a vítima era gay e se tentou ver ali o que chamam de “crime de ódio”. Maria do Rosário aproveitou para fazer proselitismo sobre o cadáver. E o assassinato de Bruno? É o quê?

Não tenho as circunstâncias do caso, mas sou obrigado a lidar com a lógica e com os fatos que nos cercam. Reparem como os viciados em crack, que vagam pela ex-cracolândia, hoje Haddadolândia, em suma maioria, estão descalços. Sabem por quê? O tênis é a principal moeda no tráfico do crack. Tênis vira “pedra”.

Outra moeda, para quem conhece o assunto, é justamente o cartão de bilhete único de transporte. E, obviamente, os celulares também fazem parte desse mercado.

A explosão do consumo de crack coincide com essas ocorrências horripilantes, como pessoas queimadas vivas ou espancadas até a morte. Infelizmente, São Paulo convive hoje com um programa aloprado, coordenado pela Prefeitura, que faz da cracolândia uma espécie de país com leis próprias.

Que fique claro: não estou dizendo que os assassinos de Bruno saíram necessariamente de lá. Isso, não sei. Mas estou afirmando, sim, que o escambo — tênis por droga — é uma prática corriqueira na área.

Não sejamos ingênuos: não há policiamento, por mais ostensivo que seja, que consiga responder às demandas criadas numa cidade que incorpora o crack como realidade plausível e faz de consumidores e traficantes pessoas acima da lei.

Sim, os culpados pela morte de Bruno, obviamente, são seus assassinos. Mas esse rapaz também é vítima de um tempo que decidiu flertar com mal.

Texto publicado originalmente às 4h12

Por Reinaldo Azevedo

 

Eleição vai ao segundo turno, já admite PT

Por João Domingos, no Estadão:
O cenário econômico ruim e a expectativa do retorno dos protestos populares durante a Copa do Mundo fazem com que o governo federal, o PT e partidos aliados deem como certo que a eleição presidencial deste ano só será decidida no 2.º turno. Somam-se a esses fatores o desgaste da máquina do governo, que vai completar 12 anos sob o comando petista, além do surgimento de novas candidaturas nunca antes testadas pelo eleitor em nível federal, como as do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e a do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). ”A disputa será muito difícil. Não temos expectativa de vencer no primeiro turno. Por isso, o patamar dessa campanha é vencer a eleição”, afirmou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, em recente reunião para tratar da campanha petista.

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, por intermédio de sua assessoria, foi na mesma linha de Gilberto Carvalho: disse que não trabalha com a possibilidade de vitória no primeiro turno. O cenário também tem sido traçado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas conversas que vem mantendo com a direção do PT e aliados. O mesmo declarou o vice-presidente da Câmara, deputado André Vargas (PT-PR). “O PT trabalha com o 2.º turno. Mesmo quando o governo Lula deslanchou, em 2006, houve 2.º turno, o que se repetiu na eleição da presidente Dilma Rousseff. O natural é que haja 2.º turno”.
(…)
Muito diferente, portanto, do levantado pelo marqueteiro João Santana, em outubro, em entrevista à revista Época. Na ocasião, ele previu uma vitória fácil da presidente porque, segundo ele, “ocorrerá uma antropofagia de anões”. Procurado pelo Estado para falar sobre a possibilidade de vitória de Dilma no primeiro turno, por telefone e por e-mail, Santana não respondeu se suas previsões ainda se confirmavam.

É justamente esse cenário indefinido que faz com que Lula tenha orientado Dilma a, desde já, amarrar as alianças políticas, por meio da reforma ministerial e da concessão de espaço nos Estados, para que nenhum dos atuais aliados possa trocar o PT pelas candidaturas adversárias. Nos últimos dias, Rui Falcão pegou a estrada para resolver pendências em Brasília, Recife, Natal, João Pessoa e Vitória.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Brasil

Estado de alerta

Preocupação à vista

Sudeste: consumo recorde e importações

Quem acompanha de perto o setor elétrico está preocupado com certos sinais. Eis alguns – apenas alguns:

* Os reservatórios do Sudeste continuam baixando mesmo no período chuvoso.

*O Sudeste desde o dia 2 continua importando uma média diária de 2.372 megawatts da região Norte.

*O consumo médio  diário no Brasil está em torno de 72 000 megawatts, um recorde histórico

Por Lauro Jardim

 

Reportagem do JN mostra que a PM já pensa como boa parte dos jornalistas. E quem sofre é o povo pobre. Ou: Por que o Centro de SP não merece o mesmo tratamento do Centro do Rio?

Que coisa! O Jornal Nacional acaba de mostrar uma reportagem sobre um bando de adolescentes que assalta pessoas no centro do Rio, à luz do dia, com tranquilidade, com desassombro, sem temer nada nem ninguém. A reportagem mostra que policiais militares estão por ali e não fazem nada. Em seguida, os jovens aparecem cheirando solvente, a poucos metros, informa o JN, do Tribunal de Justiça.

O JN foi ouvir a polícia. Uma porta-voz da Polícia Militar resolveu tocar música para os ouvidos politicamente corretos: afirmou que o problema dos jovens não era de segurança, não era de polícia, mas um, atenção!, “problema social”, de “saúde pública”. E convidou os assaltados a fazer boletim de ocorrência. É mesmo? Para quê? Observem: a porta-voz da PM esqueceu, em sua fala, que havia pessoas sendo assaltadas. Ao falar, ela se referiu apenas aos assaltantes.

Está acontecendo o pior — e eu mesmo alertei para isso num post desta tarde: as forças policiais estão incorporando o discurso da imprensa, das ONGs, dos politicamente corretos, do governo federal, dos petistas.. “Roubo é problema social”. “Droga é problema social e de saúde.”Ora, se é, polícia para quê?

Os policiais sabem muito bem que, se partirem para a repressão, com ou sem abusos, terão de responder por… abusos! A imprensa cai de pau. O Ministério Público cai de pau. A OAB cai de pau. As ONGs caem de pau. “Nem vem, Reinaldo, isso só acontece quando há violência!” Mentira! Vejam a ação do Denarc na Haddadolândia nesta quinta. Não há evidências de violência, mas o Ministério Público já avisou que quer que a ação seja investigada.

Por que em São Paulo sim?
Achei boa e objetiva a abordagem do Jornal Nacional sobre o Centro do Rio de Janeiro. Estava tudo ali, não? Adolescentes fortões, muitos sob o efeito de drogas, assaltando livremente, sem repressão. A população, como a gente viu, fica à mercê da turma.

Pergunto ao JN: e na Cracolândia, em São Paulo? O Centro da maior capital do país não merece essa mesma abordagem? Ou será que cidadãos comuns podem hoje transitar pela região? O prefeito Fernando Haddad transformou a área numa espécie de zona livre do tráfico e do consumo de drogas. Ou ainda: entendi que, ao se evidenciar que adolescentes estão consumindo droga a poucos metros do Tribunal de Justiça, o que se está a sugerir é que isso deveria ser coibido, não?

Venham cá: se a Prefeitura do Rio passar a hospedar esses jovens — tá, os maiores de idade — em hotéis, fornecendo-lhe comida e moradia gratuitas, além de um salário fixo, que pode financiar o vício (e talvez desestimular os assaltos), tudo bem? Será que a mesma régua que está sendo usada para medir a desordem no Centro do Rio está sendo usada para avaliar a desordem no Centro de São Paulo, patrocinada por Haddad e sustentada com teoria capenga por Roberto Porto, o buliçoso secretário de Segurança do município?

“Ah, mas, na Haddadolândia, a gente não vê cordões sendo arrancados dos pescoços das mulheres…” Não mesmo! Os cidadãos comuns, não vinculados às drogas, quase não circulam mais por ali. E os que são obrigados a passar pela região para chegar às suas respectivas casas, já apurei, andam sem relógios, alianças, nada… Os mais jovens evitam usar tênis, que são uma moeda influente entre os consumidores, que pode ser facilmente trocada por droga.

Encerro
Para mim, o que sobra dessa reportagem do JN, além da diferença de tratamento dispensado aos respectivos Centros de São Paulo e Rio, é a postura oficial da Polícia Militar do Rio. Finalmente, o discurso da carência social (e das drogas como um problema médico) chegou aos brasileiros de farda — que já não veem mais razão para agir porque sabem que não há como eles se darem bem no noticiário. Até vagabundos que tentam explodir postos de gasolina são tratados como… carentes. Por que a polícia agiria? A ação do Denarc na cracolândia, na quinta, vai na contramão dessa postura. E o Denarc apanhou da imprensa.

Não age mais. E, como se nota pela reportagem do Jornal Nacional, quem paga o pato não são os mais endinheirados, que nem circulam por ali. Quem paga o pato pela inação da polícia é a população pobre.

Texto publicado originalmente às 21h14 desta sexta

Por Reinaldo Azevedo

 

Uma suruba ideológica no Leblon

Leitores me convidam a escrever sobre um vídeo que já circulou muito por aí. O busílis é o seguinte. No domingo, haviam marcado um rolezinho no Shopping Leblon — um desses de protesto. O shopping fechou as portas, e os “conscientes da Zona Sul” ficaram do lado de fora, falando em nome dos “pobres”, que não compareceram ao evento. Entre os rolezeiros, estava um rapaz fantasiado de Batman, figura frequente nos protestos no Rio desde junho.

Sempre chega a hora em que o Batman tem de enfrentar o Pinguim, materializado, no caso, na figura corpulenta do cineasta Dodô Brandão, que decidiu bater boca com o mascarado. Aí outras pessoas entraram no embate. Era uma verdadeira suruba de conceitos políticos e ideológicos mal compreendidos — tudo ali, na esquina das avenidas Ataúlfo de Paiva e Afrânio de Melo Franco, no Leblon. Com câmera na mão, a equipe de uma TV francesa tentava entender por que o representante dos jacobinos e o dos girondinos estavam brigando…

Segue o vídeo. Volto depois.

Vamos entender Dodô Brandão
É a encarnação da esquerda do Leblon. Como ele mesmo confessa, “ganha muito dinheiro” — se for numa atividade privada e à custa do seu talento, devemos aplaudi-lo por esse particular. Mesmo bem-sucedido no regime capitalista brasileiro, ele é um homem consciente, certo? Não gosta do capitalismo e menos ainda do “capitalismo americano”, do qual o Batman, segundo ele, seria um “símbolo”.

Dodô certamente vem daquele tempo em que fazia sucesso entre as esquerdas um livreco chamado “Para Ler o Pato Donald”, escrito por Ariel Dorfman e Armand Mattelard, que denunciava as terríveis manipulações ideológicas nas personagens de Walt Disney. Para ele, pois, tudo o que vem daquele país está carregado de uma carga de ideologia imperialista.

É claro que Dodô não estava bravo com o Batman da hora por causa disso. A sua preocupação é outra. Trata-se, como fica claro, de um governista entusiasmado. Assim, protestos que, para ele, acabarão por desestabilizar o governo são negativos. E, ora, ora, além de chamar o outro de “idiota”, não lhe ocorreu ofensa maior do que classificá-lo de “direita”. Uma senhora reagiu. “Não é direita, não”. Falo dela daqui a pouco.

Vamos entender o Batman
O Batman certamente pertence à mesma classe social de Dodô, percebe-se pelo vocabulário e pela sintaxe, mas não tem os mesmos compromissos intelectuais que tem o adversário da hora — embora também ele fale em nome do povo. Leiam o que diz: “Eu venho para as ruas combater. A quantos protestos você veio? Quantas vezes você para as ruas lutar PELA população? Eu luto PELO meu povo. E você, luta por quem?”.

O Batman integra a categoria dos “conscientes” da zona Sul que avaliam que basta sair às ruas e declarar seu amor à justiça social para fazer a sua parte.

“Eu sou de direita”
O Batman rolezeiro não estava fazendo sucesso. Uma senhora, com uma, digamos, dignidade conservadora lhe diz: “O Carnaval ainda está longe, rapaz, e você está com essa palhaçada!”. Enquanto o bate-boca avançava, outra mulher gritava contra o Batman: “Manipulado, manipulado, manipulado!”. Será que ela estava com Dodô? Não exatamente.

Ao tentar se explicar à equipe de TV Francesa, o cineasta começou a recitar a cartilha do PT: “Esses caras são uns caras de direita, que não querem ver que o país avançou, que tem emprego…”.

Aí a que gritava o: “Não é de direita, não!”. Responde Dodô: “De direita, fascista!”. Ela retoma: “Fascista, sim, mas de direita, não! Porque eu sou de direita e não faria isso.” Alguém pergunta, também com uma câmera na mão: “Por que ele é manipulado, senhora?”. E ouve a seguinte resposta: “Porque esse movimento já foi desmascarado. Existe, sim, um plano comunista, totalitarista no país. Será que ninguém vê isso?”.

Talvez fosse a única com alguma razão. Enquanto isso, ao fundo, ouve-se o petista: “Eu lutei contra a ditadura, eu lutei pela democracia neste país, continuo lutando… Tem que ter conteúdo. Esse cara vem dizer que o Batman vai salvar o Brasil? Esse merda vestido de Batman?”.

Aí se dá um momento muito interessante. Um dos franceses, justificando o rolezinho, diz que, no Rio, há discriminação contra as pessoas das “comunidades [leia-se: favelas], que querem fazer coisas como qualquer um”. Dodô e a mulher que se diz “de direita” negam. Ela reage primeiro: “Só na cabeça de estrangeiro mal informado, tá? Estão fomentando o ódio entre irmãos aqui”. O dilmista concorda: “Não tem discriminação nenhuma! O que esse cara faz é fomentar a separação. Não tem discriminação nenhuma! Muito pelo contrário”.

Aí Dodô deu o seu entendimento da integração de classes: “Eu moro aqui… Se você for ali em frente à delegacia, tem a Cruzada [um conjunto habitacional popular da região]. Nós estamos ali, bebendo, tudo junto. Eu sou um cara que ganhou muito dinheiro, eu sou um cineasta, eu faço cinema, eu sou bom assalariado. Eu estou bebendo ali com os caras que moram na Cruzada, são nossos amigos”.

O outro francês quer saber se ele não acha que o dinheiro da Copa deveria ser investido na favela, não numa infraestrutura que vai beneficiar os ricos. Dodô diz que isso é uma “grande besteira”. E se atrapalha ao tentar explicar que a grana da Copa e a do Orçamento não se misturam. Ao fundo, grita a mulher de direita: “O legado será dívida”. O governista segue adiante, afirmando que o mundial será financiado por um certo “dinheiro da Fifa”. Sabem como é… Cineastas costumam ter muitas ideias na cabeça mesmo quando outros estão com uma câmera na mão.

O Batman se aproxima, sem máscara, e ainda tenta responder. Recebe uma sonora vaia dos presentes. Um homem afirma: “Vai procurar emprego!”. Alguém pergunta com ironia se um rolezinho só de gente de classe média e classe alta seria aceitável. Um senhor presente diz a coisa certa e óbvia: “shopping não é lugar para isso”.

Querem saber?
Essa história de Dodô de que o Batman é um símbolo do imperialismo é uma grande tolice. O mascarado até brinca: “Queria que fosse um Supertupã?”. Suas explicações sobre a separação dos dinheiros é também capenga — há, sim, uma montanha de recursos públicos na Copa do Mundo, embora ele tenha razão ao dizer que são orçamentos distintos. O que não diz é que o governo incompetente que ele defende é incapaz de gastar de forma eficiente até a grana que está à disposição porque faltam projetos e capacidade operacional.

Mas não está de todo errado quando aponta o caráter estúpido dos rolezinhos — não os originais, que a molecada fazia em São Paulo e eram apenas imprudente —, mas esses outros, de protesto, que são uma invenção das esquerdas cretinas e dos descolados que se querem conscientes e pretendem falar em nome do povo.

Aliás, a gente nota, parte do “povo” parou para ouvir. E vaiou o Batman. Esse militantismo doidivanas, que se diverte atrapalhando a vida alheia, criando dificuldades para que as pessoas organizem sua rotina, seu cotidiano, já começa a provocar fastio também nos pobres.

Um tanto certa está aquela senhora que aponta a existência de um “plano” — só não digo que ele seja comunista; totalitário é. Não sei qual é do “Batman”. Mas não creio que ele seja, como acusa Dodô, um agente do Garotinho. Acho que não. Ele é filho, isto sim, da cultura petista da reclamação, que sempre estimulou esse tipo de manifestação.

Dodô, como bom petista (simpatizante, ao menos, com certeza, ele é), classifica como “de direita” tudo aquilo de que ele não gosta e tudo aquilo que ele não entende. É claro que está errado. Os rolezinhos políticos — não os originais — são, ao contrário, um fruto da cultura de esquerda, que nunca viu mal nenhum em atropelar a legalidade em nome de uma “causa”. Antes de os amigos de Dodô chegarem ao poder, faziam exatamente isso. E atenção! Ainda fazem quando a baderna é útil à sua causa. Os ditos sem-teto — um movimento umbilicalmente ligado ao PT — tem feito rolezinhos violentos São Paulo afora dia sim, dia também. E não estão usando a máscara do Batman. Será que, nesse caso, Dodô acha a ação “progressista”? Quanto ao tal Batman, dizer o quê? Rolezinho no Leblon??? O senso de ridículo, até onde sei, também pode ser desenvolvido por mascarados.

Por Reinaldo Azevedo

 

Os uniformizados do crack da Haddadolândia. Ou: A Dancinha da “Pedra”

A máquina publicitária da Prefeitura agora divulga imagens dos uniformizados do crack da Haddadolândia. Beneficiários do programa Braços Abertos — a Bolsa Crack — aparecerão fazendo dancinhas, felizes da vida; será mostrado o interior, sempre asseadíssimo, claro!, dos hotéis onde estão hospedados. Finalmente, alguém — Fernando Haddad — encontrou a solução que o mundo buscava para resolver o problema das drogas: salário e casa e comida de graça!

Kim Jong-un, o anão tarado que governa a Coreia do Norte, não cuidaria melhor da propaganda — com a diferença de que, lá, a TV é estatal. Huuummm… Em certa medida, aqui também! A outra diferença é que, naquela tirania, as pessoas aparecem chorando, e, em São Paulo, elas aparecerão sambando. É a  Dancinha da “Pedra”.

“Não vai parar com esse assunto, não, Reinaldo?”

Não vou.

Por Reinaldo Azevedo

 

Primeira grande conquista do Bolsa Crack: a droga dobrou de preço na Haddadolândia! Os traficantes estão em festa e certamente defenderão a reeleição do prefeito em 2016

Haddad, o mestre em economia, enfrentando o crack

Haddad, o mestre em economia, enfrentando o crack

O prefeito Fernando Haddad, saudado durante a campanha eleitoral e nos primeiros meses de governo como um verdadeiro gênio da raça, é formado em direito. Depois fez mestrado em economia e doutorado em filosofia. É tratado em certas áreas como um “intelectual”. A sua maior contribuição ao pensamento, até agora, é ter escrito que o sistema soviético era “moderno”. Já chegou também a declarar a superioridade de Stálin sobe Hitler porque, especulou, o Bigodudo, à diferença do Bigodinho, pelo menos lia os livros antes de matar os autores. É mesmo um senhor capaz de coisas impressionantes. Seu último feito mais notável é o Bolsa Crack.

A Folha traz hoje uma reportagem muito interessante de Fabrício Lobel e Aretha Yarak. Reproduzo trecho:
“O preço da pedra de crack chegou a dobrar já no primeiro dia de pagamento dos 302 usuários da cracolândia que trabalham no programa Braços Abertos, da prefeitura. A pedra, que custava R$ 10, sofreu variação de preço na tarde de ontem e chegou a custar até R$ 20, segundo relatos de usuários à Folha no fluxo (local de venda e consumo). De acordo com a prefeitura, 302 usuários receberam, em dinheiro, R$ 120 pela semana de trabalho na varrição de praças e ruas.”

Não me digam! O único que não sabia disso, pelo visto, era o mestre em economia Fernando Haddad. Que coisa, né? Vejam o que fez este gigante: transformou a Haddadolândia numa zona livre para o consumo de droga e entregou dinheiro na mão de um grupo de viciados. Como a oferta, bem ou mal, não consegue suprir a demanda e como passa a circular mais dinheiro na região, qual seria a consequência óbvia: inflação!

Assim, o programa de Haddad, que já é um fracasso, não é, ao menos, inócuo. Está contribuindo para elevar o preço da “pedra”. Como vocês sabem, antevi aqui as consequências óbvias da equação, não? Aliás, quantas vezes escrevi neste blog que a descriminação do consumo de drogas, sem a descriminação do tráfico, tem como resultado fatal a… inflação no setor? É o paraíso dos traficantes! O que pode acontecer de melhor para eles do que estimular a demanda num ambiente de oferta reprimida?

Parabéns, prefeito! Lula prometeu que Haddad seria um administrador como a cidade nunca viu antes. Acho que o vaticínio, à sua maneira, está se cumprindo, não é mesmo?

A matéria da Folha traz uma informação que é tragicômica. Reproduzo em vermelho:
“O preço da pedra na cracolândia é R$ 10 há pelo menos dez anos, diz Bruno Ramos Gomes, presidente da ONG É de Lei, que atua na região. Ele não acredita que a inflação tenha sido causada pelo pagamento da prefeitura. ”Talvez ela esteja relacionada com a dificuldade de chegar pedra na área, dada a repressão policial”, diz.

O que é da lei?  O crack? Será que faz dez anos que o Bruno cuida do assunto, com os resultados que a gente vê? Notem: repressão ao tráfico na Cracolândia sempre houve. A pedra não dobrou de preço nem quando houve a retomada da área pelo estado de direito, e o tráfico, de fato, foi muito prejudicado. O que aconteceu de novo desta vez? Ora, há mais dinheiro circulando. Os traficantes sabem disso. Também não ignoram que os consumidores não podem ficar sem o produto.

Consequência óbvia: boa parte do dinheiro que a Prefeitura repassou aos viciados já foi confiscada pelo tráfico. Se Haddad depositasse na conta dos traficantes, e eles só passassem distribuindo a porcaria, daria na mesma. Isso quer dizer, leitor amigo, que o Bolsa Crack também é o Bolsa Traficante.

Faço ainda aqui um outro vaticínio, ancorado, deixem-me ver, na história humana. Circulam na Haddadolândia uns dois mil dependentes. Só 300 terão, por enquanto, aquela grana a mais. Ainda que o programa dobrasse de tamanho, o que não vai acontecer, mais de metade continuaria fora. Outro desdobramento lógico, pois, da ação da Prefeitura será a criação das “classe sociais das drogas”. Se a pedra sobe de preço, os que não tiverem os benefícios da Prefeitura terão de se degradar ainda mais para conseguir o dinheiro.

Eu realmente não me canso de admirar a obra de Fernando Haddad.

Por Reinaldo Azevedo

 

Promotor abre inquérito para apurar ação na cracolândia. Ou: Elaine Biasoli — Há quem prefira um homem suave a uma mulher firme

Milhares de moradores e de frequentadores da região central de São Paulo — onde ficava a cracolândia e hoje fica a Haddadolândia — estão tendo aviltados o seu direito de ir e vir; estão vendo seu patrimônio ser fumado nos cachimbos de crack; estão tendo seus filhos e familiares expostos a riscos que não são pequenos. E o Ministério Público fez o quê? Como se sabe, nada. Agora leiam o que informa a Folha. Volto em seguida.
*
O Ministério Público abriu um inquérito nesta sexta-feira para investigar a operação do Denarc (Departamento de Narcóticos) que terminou em confronto, ontem (23), na região da cracolândia, no centro de São Paulo. Segundo a Polícia Civil, a ação ocorreu para a prisão de um traficante. Usuários de droga teriam então jogado pedras e pedaços de pau contra os policiais, que retornaram em cerca de dez carros e jogaram bombas de efeito moral contra as pessoas que estavam no local. “Foi uma ação muito diferente de tudo que já vi do Denarc, fechando ruas e atirando bombas. As operações [do departamento] geralmente são feitas com muita discrição. Agora queremos saber qual a razão. Foi uma ação muito nebulosa, esquisita, estranha”, afirmou o promotor Arthur Pinto Filho.

O promotor afirmou que já pediu as imagens das câmeras da prefeitura na região e os documentos da ação, e marcou oitivas com a delegada Elaine Maria Biasoli, diretora do Denarc, com o delegado Osvaldo Naoki Miyazaki, da Corregedoria, e com o secretário de Segurança Urbana, Roberto Porto. O promotor afirmou que após a apuração deve entrar com “uma ação para que a Polícia Civil fique impedida de praticar ações bárbaras”.

“O que ocorreu com a PM, agora ocorreu com a Polícia Civil”, comparou o promotor se referindo a uma ações da PM, feita em 2012, que gerou uma liminar da Justiça impedindo “ações que ensejem situação vexatória, degradante ou desrespeitosa” aos usuários de drogas.

Confrontos
O governo paulista disse hoje que as operações policiais na cracolândia não devem parar, mas ressaltou que não haverá mais confrontos. “As ações de inteligência continuam. Mas reforçamos, depois de ontem, que se houver a possibilidade de um confronto a operação não deve ser feita”, disse Edson Ortega, assessor do Estado que atua na cracolândia. Ortega visitou a cracolândia no começo da tarde de hoje. Ele estava acompanhado do chefe da Casa Civil do governo Alckmin, Edson Aparecido, e do 1º Tenente Willian Thomaz, responsável pela região da Nova Luz. Segundo Aparecido, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) pediu que ele comandasse mais de perto todas as ações do governo no local.

“Há um cuidado em mostrar que existe sim um empenho por parte do governo na parceria com a prefeitura”, disse. Segundo ele, o governador pretende fazer do confronto de ontem apenas um episódio isolado. “Queremos deixar explícito que vamos reforçar a parceria com a prefeitura”.

Comento
Não gosto do tom do governo de São Paulo — ainda que possa apontar os motivos para ser assim. Como a imprensa é majoritariamente favorável ao programa aloprado de Haddad e comprou a versão vigarista de que o erro, nesta quinta, foi da polícia, busca-se evitar qualquer coisa que lembre confronto, hipótese em que o estado poderia aparecer como o mauzinho, e a Prefeitura, como a boazinha.

Entendo, mas mesmo as escolhas políticas precisam ser feitas com um pouco mais de habilidade. O tom do governo do estado — pelo menos o que vai acima — é defensivo, tímido, timorato, acuado, como se fosse o governador Alckmin a dar dinheiro para viciados em droga. Que eu saiba, ele está oferecendo tratamento, não é isso? “Ah, mas a imprensa não reconhece…” Eu sei. Mesmo assim, é preciso cuidado com as palavras.

“As ações de inteligência continuam. Mas reforçamos, depois de ontem, que se houver a possibilidade de um confronto, a operação não deve ser feita.” A fala é de Edson Ortega, assessor do governo do Estado para a Cracolândia. Então tá! Basta que os traficantes se organizem, então, para o confronto, e a polícia ficará de mãos atadas, certo, Ortega? A partir de hoje, fica definido que a polícia só será dura com bandidos pacíficos. Faz sentido.

Aí diz o promotor: “Foi uma ação muito diferente de tudo que já vi do Denarc, fechando ruas e atirando bombas. As operações [do departamento] geralmente são feitas com muita discrição. Agora queremos saber qual a razão. Foi uma ação muito nebulosa, esquisita, estranha”. Tá. Quantas vezes os agentes do Denarc foram antes cercados com paus e pedras e tratados na porrada?

Abaixo, publico um texto sobre a fala de uma representante da PM no Rio, que explicou por que assaltantes do Centro não estavam sendo reprimidos: segundo ela, não é problema de segurança, mas social e de saúde. O promotor diz ainda que pretende agir para impedir a Polícia Civil de praticar “ações bárbaras”. O que houve de “bárbaro” ontem na operação do Denarc? Cadê as evidências? O Brasil caminha para ter uma polícia que, sob o pretexto de deixar de ser violenta — e não pode ser mesmo, a menos que seja necessário —, terá de garantir a proteção dos criminosos.

Nesse imbróglio todo, até agora, só uma pessoa não tremeu o lábio nem demonstrou a consistência de uma gelatina: a chefe do Denarc, Elaine Biasoli. Temo que ainda acabem considerando que um homem mais suave ficaria melhor no seu cargo…

Por Reinaldo Azevedo

 

Carvalho no Fórum Social: em junho, governo achou que o povo foi “ingrato”. Ou: Os sem-cura

Gilberto Carvalho, o Gravata-Vermelha, não se emenda

Gilberto Carvalho, o Gravata-Vermelha, não se emenda

Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e segundo homem mais importante no PT, falou, mais uma vez, no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Desta feita, na verdade, o evento se chama “Fórum Social Temático”, mas se trata apenas de uma derivação do FSM. Em sua intervenção de 2012, no dia 27 de janeiro, no mesmo evento, este senhor fez declarações que geraram um quiproquó danado. Segundo ele, o PT deveria:
a: disputar a chamada “Classe C” com os evangélicos para impedir que ela migrasse para o conservadorismo. O “raciossímio” de Carvalho era este: o PT tirou essa gente da pobreza e agora não pode permitir que ela faça suas próprias escolhas. Mais: este gênio da razão, obviamente, tomava a política como uma religião e seu partido como uma igreja.
b: defendeu também que se criasse uma “mídia estatal” para a tal Classe C. Segundo disse, “essa gente não pode ficar à mercê da ideologia disseminada pelos meios de comunicação”.

Eis Carvalho. Os evangélicos foram pra cima dele. O homem teve de recuar, dizer que era tudo um mal- entendido. Marcou reuniões com lideranças religiosas e coisa e tal para assegurar que não era bem daquele jeito. Nota: do jeito como andam as coisas, o PT não precisa criar uma “mídia estatal” porque já tem uma.

Neste 2014, Carvalho foi menos confiante do que há dois anos e resolveu chamar o povo de “ingrato”. Afirmou, segundo informa a Folha“Quando acontecem as manifestações de junho, da nossa parte, houve um susto. Ficamos perplexos. Quando falo ‘nós’, é o governo e também todos os nossos movimentos tradicionais. [Houve] uma certa dor, uma incompreensão, e quase um sentimento de ingratidão. [Foi como] dizer: ‘fizemos tanta por essa gente e agora eles se levantam contra nós’.”

Ainda que o tom de fala indique que aquele era um sentimento a ser superado, eis aí a revelação plena da relação que o PT mantém com o povo: o partido vê os brasileiros como seus devedores. A exemplo de todo partido de esquerda, não se conforma em ser uma força política que, de vez em quando, vence eleições para governar segundo os marcos institucionais que herdou — e, se for para mudá-los, apelar ao Congresso para isso. Não, não! O partido, para eles, substitui a sociedade, toma o seu lugar. Assim, um movimento de protesto que se volte contra o governo que eles lideram só poder ser visto como ingratidão ou traição.

Esse era o mesmíssimo sentimento que tinha um Stálin ou um Mao Tsé-tung. A sorte da brasileirada é que Carvalho e seus amigos são obrigados a governar segundo as regras da democracia — com as quais, de todo modo, eles não se conformam, daí coisas como o mensalão, por exemplo.

Ingratidão?
Ingratidão, é? Sei. Certamente esse foi o sentimento, mas só quando os protestos atravessaram as fronteiras paulistas, saltando rapidamente para o Rio, dali para toda parte, inclusive Brasília. Aí os petistas se deram conta da besteira que haviam feito quando, na prática, insuflaram os protestos em São Paulo, com a preciosa colaboração de José Eduardo Cardozo — e do próprio Carvalho, é bom deixar claro. Enquanto parecia que tudo não passava de uma disputa entre jovens líricos e a polícia de São Paulo, o PT estava lá, atiçando as ruas.

Na minha coluna na Folha de hoje, comento uma outra declaração infeliz deste senhor, segundo quem a reação negativa aos rolezinhos partiria da classe média racista, que não se conforma em ver um “bando de meninos negros e morenos”. Sim, ele usou a palavra “bando”.

Em Porto Alegre, voltou a se referir aos rolezinhos, de modo especialmente esquizofrênico. Reconheceu que os estabelecimentos já são espaços de lazer dos rolezeiros e falou em oferecer “alternativas”. Sim, sim… Alternativa de quê? O shopping não poderá dar uma boa escola. O shopping não poderá dar uma boa saúde. O shopping oferece o que lhe cabe oferecer: espaços de consumo e lazer — que têm de ser ocupados segundo regras que os frequentadores habituais, inclusive os agora rolezeiros, já conheciam e respeitavam.

Não tem jeito, não. Essa gente não tem cura. Não há remédio para certas doenças do espírito. Ah, sim: o pau voltou a comer nas ruas de Porto Alegre nesta quinta. A polícia assistiu a tudo, pacificamente. Fica para outro post.

Por Reinaldo Azevedo

 

A última da rede petralha financiada por estatais

Curto e rápido porque não merece mais do que isso. A subimprensa financiada por estatais ensaiou fazer um escarcéu com a “liberação” — por Ricardo Lewandowski — do Inquérito 2474, conduzido pela Polícia Federal, sobre as fontes de financiamento do mensalão. Por alguma razão “inexplicada” e inexplicável, venderam a coisa como a prova de que não teria havido mensalão. Aí a gente vai ler o dito-cujo. Prova que o dinheiro da Visanet não era público? Claro que não — afinal, era! Prova que Marcos Valério não recebeu dinheiro do fundo Visanet e que não participava do esquema ilegal de repasses gerenciado por Delúbio? Prova justamente o contrário. A rede petralha acusa Joaquim Barbosa de ter escondido o inquérito, como se isso fosse possível. Não dá! Esse assunto é velho. Se tiverem curiosidade, leiam o tal inquérito: ele só lembra outros aspectos sórdidos do mensalão dos quais a gente se esquece às vezes.

Ah, sim: a peça ridícula de resistência é que não pode ter havido “mensalão” porque, afinal, os pagamentos não eram mensais… Aí já estamos no terreno da piada. Se mensal, bimestral ou semestral, pouco importa. O fato é que uma estrutura criminosa resolveu financiar a atividade de políticos da base aliada. E traficando dinheiro e interesse público. Lixo! 

Por Reinaldo Azevedo

 

Rombo nas contas externas cresce 50% e fecha 2013 com recorde

Na VEJA.com:
O resultado das contas externas de 2013 teve um déficit recorde, de 81,374 bilhões de dólares. Segundo anúncio do Banco Central (BC) nesta sexta-feira, o déficit ficou acima da projeção da instituição, de 79 bilhões de dólares. O resultado de 2013 é recorde para a série histórica do BC, iniciada em 1947, e também é 50% maior do que o verificado em 2012, quando o saldo negativo atingiu 54,249 bilhões de dólares. O déficit em conta corrente ficou em 3,66% do Produto Interno Bruto (PIB). O pior porcentual tinha sido visto em 2001, de 4,19%. No ano de 2013, a balança comercial registrou um superávit de 2,558 bilhões de dólares, enquanto a conta de serviços ficou negativa em 47,523 bilhões de dólares. A conta de renda também ficou deficitária em 39,772 bilhões de dólares.

Em relação ao mês de dezembro, o resultado das transações correntes ficou negativo em 8,678 bilhões de dólares. A balança comercial registrou um superávit de 2,654 bilhões de dólares, enquanto a conta de serviços ficou negativa em 4,248 bilhões de dólares. A conta de renda também ficou deficitária em 7,484 bilhões de dólares.

Investimentos estrangeiros
Os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) somaram 6,490 bilhões de dólares em dezembro e 64,045 bilhões de dólares em todo o ano de 2013, informou o BC. No acumulado do ano, foi o resultado mais fraco dos últimos três anos (66,7 bilhões de dólares em 2011 e 65,3 bilhões de dólares em 2012).

Lucros e dividendos
O saldo de remessas de lucros e dividendos no ano passado ficou negativo em 26,045 bilhões de dólares. O resultado é maior do que os 24,112 bilhões de dólares de 2012. No último mês de 2013, esse saldo ficou no vermelho em 4,829 bilhões de dólares, um saldo negativo maior do que os 4,383 bilhões de dólares, também negativos, registrados em dezembro de 2012.

O BC informou também que as despesas com juros externos somaram 14,244 bilhões de dólares em 2013 ante 11,847 bilhões de dólares de 2012. Só em dezembro, o resultado negativo foi de 2,711 bilhões de dólares – de – 2,205 bilhões de dólares no mesmo mês de 2012

Por Reinaldo Azevedo

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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