‘O Quadragésimo Ministério’, por Carlos Brickmann

Publicado em 02/02/2014 08:33 e atualizado em 20/03/2014 15:39
no blog de Augusto Nunes, de veja.com.br

Opinião

‘O Quadragésimo Ministério’, por Carlos Brickmann

Publicado na coluna de Carlos Brickmann

Millôr Fernandes criou, em O Cruzeiro, o Ministério de Perguntas Cretinas. Havia perguntas como “xeque-mate pode ser falsificado?” e a resposta: “Com a vantagem de que o sujeito não acaba no xadrez. Já está”. Pois retomemos o Ministério, com perguntas (sem resposta) da jornalista Regina Helena Paiva Ramos:

1 ─ Chanceler brasileiro pode mentir? O nosso disse que a parada em Lisboa foi decidida no sábado e Portugal já estava informado desde quinta-feira.

2 ─ Dilma levou 45 pessoas. O presidente do Uruguai viaja com quantas?

 

3 ─ De onde saem as ordens para incendiar ônibus em São Paulo? Ainda não deu para a Polícia mais bem equipada do país saber o que ocorre, para agir?

4 ─ As mortes nos presídios do Maranhão continuam. Ninguém vai pedir o impeachment da governadora, que não tem controle da situação ─ ou, pior, tem?

5 ─ Quando a Sabesp, estatal paulista de saneamento, vai parar de botar anúncios na TV de que saneou o Litoral, e vai usar o dinheiro saneando o Litoral?

6 ─ Quando o prefeito paulistano, Fernando Haddad, vai retirar as faixas avisando que certos locais são sujeitos a enchentes, e tocar obras contra enchentes?

7 ─ Por que há dinheiro para construir um porto em Cuba e não há para dragar o porto de Santos? A profundidade de Santos é de 13 metros e deveria ser de 17, mas falta verba. O porto cubano tem verba nossa e nasce com 18 metros.

E as respostas? Não precisamos de um Ministério das Respostas Cretinas. As respostas a gente vive recebendo sem que seja criado o 41º Ministério.

Pergunta e resposta
Por que a presidente Dilma quis fazer uma escala em Portugal? Porque sim: isso não tem a menor importância. Mas a consequência é importante: por causa das fotos, em que a presidente não aparece em seus melhores ângulos, a ministra da Comunicação, Helena Chagas, sempre fiel à presidente, perdeu o posto.

Sem modos 1
O ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, criticou as prisões brasileiras e responsabilizou os políticos que não se preocupam com o tema. A crítica foi feita em palestra no Kings College, Londres. Violou a máxima impecável de Mário Henrique Simonsen: não se fala mal do Brasil em inglês. Tem críticas ao sistema penitenciário? Fale aqui, dentro do país.

Se bem que o desabafo de Barbosa não repercutiu muito. Seu próprio anfitrião, Richard Trainor, reitor do Kings College, dormiu por boa parte do discurso.

Sem modos 2
Vamos combinar que o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, nunca se notabilizou pelo refinamento (os alemães, que já o convidaram para visitar o país, se surpreenderam com sua, digamos, descontração). Nesta semana, festejando a vitória dos caças Grippen na concorrência da FAB, que levou os suecos a instalar uma fábrica em São Bernardo, com investimento de US$ 150 milhões e criação de mil empregos diretos, vangloriou-se, diante dos microfones: “Eu sou bom pra caralho!”

E pensar que Marinho, antes de ser prefeito, já tinha sido ministro.

Governo pra que? 
O Governo paulista acaba de ser surpreendido por um acontecimento extraordinário: o início das aulas (coisa inusitada, que só acontece uma vez por ano). Os alunos da rede estadual não receberam cadernos. E a explicação é fantástica: os cadernos, informam Suas Excelências, são apenas extensão do material escolar.

Claro: se o aluno pode escrever na mão e só lavá-la depois de decorar tudinho, para que caderno? E, melhor ainda, já pensou na economia de água e sabão?

Pra que Governo? 
A surpresa do Governo paulista com o inusitado início das aulas no início do ano trouxe outra consequência: não havia professores suficientes. Segundo o secretário da Educação, Herman Voorwald, faltou contratar a tempo os professores temporários. E por que isso aconteceu?

Porque, para voltar a trabalhar no dia 27 de janeiro, conforme previsto há mais de um ano, deveriam ter entrado em férias até 18 de dezembro. Esqueceram disso. E, lembremos, exatamente para não esquecer essas coisas, há uma Secretaria de Estado da Educação, há Diretorias de Ensino, há diretores nas escolas. Há alunos, também ─ mas quem se preocupa com alunos?

Pelo jeito, em São Paulo, aluno é apenas um detalhe. E incômodo.

Vem, dinheirinho! 
A vaquinha promovida pelo mensaleiro condenado Delúbio Soares para pagar a multa que faz parte de sua pena rendeu mais que o dobro do necessário: a multa é de R$ 466.888 reais e a arrecadação chegou a R$ 1,013 milhão.

Delúbio, que antes do Mensalão cuidava as finanças do PT, continua ótimo para arrecadar.

Os doadores
Mas seria interessante verificar quem foram os doadores, se pagaram os impostos referentes à doação, se seus bens são suficientes para sacrificar-se pelo companheiro necessitado. Delúbio é muito querido no PT: logo depois do Mensalão, foi expulso, mas acabou voltando. Mesmo em desgraça, jamais deixou de andar em bons carros, modernos, amplos, possantes.

E, sabe como é, blindados.

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Opinião

‘Supostos e suspeitos na ordem do dia’, um artigo de Deonísio da Silva

Publicado no Globo

DEONÍSIO DA SILVA

Vários profissionais estão desconcertados com o português de boa parte da mídia, mas não apenas com erros de ortografia, mais leves; ou de sintaxe, mais graves, por ferirem a lógica e confundirem os leitores. Sua perplexidade é com ataques absurdos como o seguinte: o bandido é flagrado com arma na mão, confessa o crime diante de câmeras e microfones, sem nenhum tipo de coação, e, às vezes, reconhece, orgulhosamente, que o sujeito filmado pelos sistemas de vigilância de lojas ou residências é ele, sim, o meliante. E ainda assim boa parte da mídia o denomina “suposto assaltante”, “suspeito de crime” e outras delicadezas.

Escrever bem começa pelo seguinte: dar às coisas o nome que as coisas têm. E não é só em relação a assaltantes e gatunos, não. São assustadoras as indulgências concedidas a esses políticos corruptos. Elas são mais perigosas do que aquelas dadas aos bandidos comuns. Quando vão parar nos presídios, irrompe na cena a cara de pau adicional de simular esmolas recebidas para lhes custear as multas aplicadas pela autoridade competente. Esmolas de meio milhão de reais! O Brasil acaba de criar o mendigo de elite, que é o bandido político.

Gozam dos benefícios dos eufemismos citados também políticos de outros países. “Suposto” e “suspeito” vêm sendo palavras curingas e têm servido para tudo, principalmente para substituir o que significa outra coisa.

Suposto quer dizer admitido por hipótese. Deixamos a palavra ali embaixo de “posto”, aguardando que a verdade seja apurada. Suspeito tem o significado de alguém do qual desconfiamos, que tenha feito algo que ele até pode negar. Porém, quando supostos e suspeitos admitem ou confessam, sem coação nenhuma, que foram os autores do que lhes é atribuído, eles não são mais suspeitos nem supostos.

Podemos fazer pouco, mas podemos ao menos contar ao distinto público as coisas como as coisas são. E para isso as palavras são outras, a sintaxe é outra, a lógica é outra.

É preciso que profissionais da fala e da escrita voltem aos bancos escolares ou ao menos façam algumas oficinas que lhes ensinem a escrever! Eles lidam com uma ferramenta, já caracterizada também como arma, cujos poderes foram reconhecidos por generais que se destacaram em batalhas memoráveis, algumas das quais mudaram o mundo. Eles diziam temer mais a pena do que a espada!

A vida privada não pode ser pauta da mídia, mas, quando está em questão o dinheiro público ou o interesse público, daí é bom lembrar que no passado os políticos tinham ao menos vergonha na cara. Um destes casos resultou no filme Escândalo (1989). Na Inglaterra dos anos 60, John Profumo era ministro da Guerra e namorava a modelo e corista Christine Keeller, que dormia também com o adido militar russo naquele país, Yevgeny Ivanov. Alertado pelo Serviço Secreto Inglês, Profumo deu fim ao caso, escrevendo à amante.

Ela seguiu sua vida. Posou pelada para uma revista e ganhou algum dinheiro. E aconteceu uma coisa curiosa: quem ficou mais famosa e vendeu bastante dali por diante foi a cadeira em que ela foi fotografada, a chaise 3107, do arquiteto e decorador dinamarquês Arne Jacobsen, por esconder seios e baixo ventre da moça e assim respeitar os códigos da censura daquela época. Ele renunciou à política e foi trabalhar de faxineiro em serviços comunitários.

Hoje não seria assim. Depois de receber mesadas vindas do dinheiro público, amantes de políticos influentes, do Executivo e do Legislativo, seguem gozando dos benefícios da impunidade. Delas mesmas e de seus protetores. Eles, quando ameaçados de perder o mandato, renunciam. E depois voltam ao antigo posto ou a um novo, consagrados pelo voto! A culpa é dos eleitores? Não é só deles. É de boa parte da mídia, que em muitos casos não contou as coisas como as coisas foram.

O tempora, o mores (que tempos, que costumes!), exclamou o orador Cícero, de quem no passado todos sabíamos de cor o seguinte trecho de um de seus discursos contra o senador Catilina: “Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?” (Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?).

Resposta: todos os Catilinas do Brasil vão continuar abusando sempre, ao que parece. Mas aparência e essência não são a mesma coisa. Se fossem, a ciência seria desnecessária e nós não precisaríamos saber de nada!

Tags: Deonísio da Silvaimprensaorigem das palavrassupostosuspetio

 

Opinião

‘Não fui eu’, por J. R. Guzzo

Publicado na edição impressa de VEJA

J. R. GUZZO

Nada como o fracasso para trazer à luz do sol alguns dos defeitos mais desagradáveis que o ser humano esconde nos subúrbios distantes da sua alma. Diz-me como lidas com teus fracassos, e eu te direi quem és ─ eis aí o resumo da ópera, numa adaptação do velho provérbio sobre as más companhias. De fato, é quando as coisas complicam que fica mais fácil dividir o bom do mau caráter. Personalidades construídas com material de primeira qualidade sabem que o fracasso, em si, não é fatal; é apenas o resultado dos erros de julgamento de todos os dias, e, portanto, deve ser enfrentado com a disposição de fazer mudanças, adquirir mais conhecimento, ouvir mais gente e assim por diante. Mas sabem, também, que o fracasso pode ser um pecado mortal quando o seu autor não admite que fracassou, ou nega que tenha havido realmente um fracasso, ou, pior que tudo, põe a culpa do fracasso nos outros. Seu mandamento principal é uma frase muito ouvida nas salas de aula infantis: “Não fui eu”. São pessoas fáceis de encontrar. Um dos seus habitats é o governo.

A presidente Dilma Rousseff, por exemplo, não perde nenhuma oportunidade de dizer “não fui eu”. O ano de 2013, para ir direto ao assunto, foi uma droga. O PIB cresceu abaixo de 2,5% ─ quase metade do que o governo tinha prometido no começo do ano. O saldo da balança comercial teve o pior resultado desde 2000, com uma queda de quase 90% em relação a 2012. Num tipo de molecagem contábil cada vez mais comum, registrou-se como “exportação” a venda de equipamento que nunca saiu do território nacional. Em dólar, mesmo, não entrou um centavo no Brasil. Mas no papelório oficial consta o ingresso de quase 8 bilhões, sem os quais, aliás, teria havido déficit na balança de 2013. Outros truques parecidos fazem do Brasil um aluno promissor da Escola de Contabilidade Cristina Kirchner.

Pela primeira vez em dez anos, caíram as vendas de carros. O contribuinte pagou 1,7 trilhão de reais em impostos ─ a maior soma de todos os tempos. Os brasileiros gastaram cerca de 25 bilhões de dólares no exterior, quatro vezes mais do que os estrangeiros gastaram aqui ─ e qual a surpresa, quando ficou mais barato comprar um enxoval em Miami do que em Botucatu? A maior empresa do Brasil, a Petrobras, teve um desempenho calamitoso: em apenas um ano, de 2012 a 2013, foram destruídos 40 bilhões de reais do seu valor de mercado. O Brasil (que Lula, em 2006, proclamou “autônomo” em petróleo, e já pronto para “entrar na Opep”) importou 40 bilhões de dólares em petróleo e derivados em 2013.

A presidente, cada vez mais, dá a a impressão de estar passeando num outro planeta. Segundo Dilma, 2013 até que foi um ano bem bonzinho, e o que pode ter acontecido de ruim não foi culpa dela, e sim da “guerra psicológica” que teria sofrido. Foram condenados, também, os “nervosinhos” ─ gente que, segundo o ministro Guido Mantega, fez cálculos pessimistas para as contas públicas de 2013. Veio, então, com uns miseráveis decimais acima das tais previsões ─ que, de qualquer forma, ficaram muito abaixo da meta prometida. Os juros foram a 10,5% ao ano, a inflação voltou a roncar e o Brasil pode perder o seu sagrado “grau de investimento” em 2014.

A estratégia econômica resume-se hoje a repetir a ladainha de sempre sobre o desemprego de “apenas 4,6%”, que na verdade parece ser de 7%, e o aumento de renda que levou “milhões de brasileiros” a sair da miséria e subir à “classe média”. Chega a ser piada de humor negro misturar dados de desemprego no Brasil e em países do Primeiro Mundo, para vender a ilusão de que “estamos melhor que eles”. O que adianta isso, quando o abismo entre nosso bem-estar e o do mundo desenvolvido continua igual? Da “subida social” dos brasileiros, então, é melhor nem falar. Falar o quê, quando o governo decidiu que faz parte da classe média todo cidadão que ganha de 291 reais por mês a 1 019? A presidente quer que acreditemos no seguinte disparate: a pessoa entra na classe média se ganhar menos da metade do salário mínimo por mês; se ganhar 1 020 reais, já fica rica.

A presidente Dilma daria um enorme passo adiante se deixasse entrar na própria cabeça a ideia de que um fracasso é apenas um fato, e não um julgamento moral. Ninguém se torna um ser humano melhor porque acerta, ou pior porque erra. Mas no Brasil o que vale não é enfrentar o fracasso lutando pelo sucesso. Melancolicamente, o que funciona é negar a derrota e chamar a marquetagem para dar um jeito nas coisas. O resultado são anos como 2013.

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Se a economia vai mal, mude-se a comunicação

por ROLF KUNTZ - O Estado de S.Paulo

O governo gastou demais, desperdiçou bilhões com incentivos errados, ajeitou as contas com receitas extraordinárias e chega a fevereiro sem meta fiscal e com perspectiva de mais um ano de baixo crescimento, inflação alta e resultado pífio no setor externo. Mas a presidente mostra-se muito menos preocupada com a qualidade e os resultados da administração federal do que com a imagem de sua política e, é claro, com os arranjos eleitorais. Todos os ministros substituídos, exceto um, saem do governo para cuidar de suas candidaturas. A exceção é a ministra Helena Chagas, da Secretaria de Comunicação (Secom). Seu sucessor será o atual porta-voz do Executivo, Thomas Traumann, escolhido, segundo se informa em Brasília, para enfrentar com mais vigor as notícias negativas e cuidar melhor dos interesses partidários. Esta mudança é a mais, com perdão da palavra, emblemática. A ideia, tudo indica, é transformar a Secom num Ministério da Imagem. Os principais condutores da fracassada política econômica permanecerão nos postos.

É cedo para dizer como funcionará no dia a dia o novo Ministério da Imagem, como serão distribuídas as verbas publicitárias, como serão orientados os blogueiros chapa-branca e como se apresentará o próprio ministro, mas um ponto é certo: nenhum esforço de comunicação será suficiente para neutralizar os efeitos reais de uma política econômica abaixo de medíocre. Não há como imputar à ministra Helena Chagas a inflação de 5,91%, o déficit em conta corrente de US$ 81,4 bilhões, a estagnação da indústria, o investimento ainda inferior a 20% do produto interno bruto (PIB) e a baixa disposição dos empresários, indicada em pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), de investir neste ano.

Para muitos desses empresários, a ministra Helena Chagas e seu sucessor devem ser figuras desconhecidas ou vagamente lembradas. Mas com certeza todos são capazes de citar o nome do ministro da Fazenda, dos presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) e do Banco Central (BC) e de outras personagens associadas, para o bem ou para o mal, às condições, em geral ruins, da economia brasileira. Os muito atentos talvez até se lembrem do assim chamado ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Mas quem vinculará os percalços econômicos do País à Secom?

Há, de fato, problemas de imagem e de credibilidade, associados, por exemplo, à famosa contabilidade criativa, à promiscuidade entre o Tesouro e os bancos federais, ao desastrado controle de preços e de tarifas e ao uso - discutibilíssimo, embora legal - das exportações fictícias de plataformas de petróleo para reforçar o saldo comercial. Sem esse expediente o resultado do comércio de 2013 teria sido um déficit de US$ 5,18 bilhões, em vez de um superávit de US$ 2,56 bilhões. A perda de credibilidade expõe o Brasil ao risco de rebaixamento de sua nota de crédito. Essa é uma das preocupações evidentes da presidente Dilma Rousseff e foi uma das motivações de sua viagem a Davos, depois de três anos esnobando o Fórum Econômico Mundial.

Mas nenhuma estratégia de informação ou propaganda apagará os números publicados pelo governo ou descobertos por analistas ou repórteres atentos. O último relatório do BC sobre as contas fiscais, divulgado na sexta-feira, confirma a redução do superávit primário do setor público de 2,39% do PIB em 2012 para 1,9% em 2013, a menor proporção da série iniciada em 2001. O déficit nominal (incluída, portanto, a conta de juros) aumentou de 2,48% para 3,28% do PIB.

As contas do Tesouro divulgadas no dia anterior são igualmente ruins. O resultado primário de R$ 77,07 bilhões só foi obtido com grande volume de receitas extraordinárias, ou atípicas, como R$ 22,07 bilhões correspondentes a bônus de concessões. A soma de todos os extras chega a 79% do superávit primário, isto é, do dinheiro destinado ao pagamento de juros da dívida pública. Não houve, de fato, economia para a geração desse resultado. A despesa do governo central foi 13,6% maior que a do ano anterior, enquanto a receita líquida, isto é, descontadas as transferências a Estados e municípios, cresceu 12,5%.

Funcionários do Ministério da Fazenda têm consultado especialistas do mercado financeiro sobre a meta fiscal desejável e crível para este ano. Um superávit primário equivalente a 2% do PIB deve parecer adequado, segundo avaliações divulgadas nos últimos dias. Mas ainda é incerto se a presidente Dilma Rousseff estará disposta a assumir um compromisso dessa proporção.

Ao tomar a decisão, a presidente levará em conta, quase certamente, as agências de classificação de risco, os interesses eleitorais e os perigos associados às novas condições do mercado financeiro, resultantes da redução gradual dos estímulos monetários nos Estados Unidos. A política de comunicação poderá influenciar uma parte do eleitorado. Mas dificilmente afetará as avaliações dos especialistas e do público mais informado. Além do mais, as informações - espera-se - continuarão disponíveis.

Parte dessas informações é de origem oficial. O BC continua prevendo inflação bem acima da meta pelo menos até o próximo ano. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fornecerá, se nada mudar, informações mensais sobre produção industrial, emprego, renda e consumo, e a cada trimestre deverá atualizar os dados do PIB. Especialistas do setor privado serão consultados semanalmente pelo BC sobre suas previsões. Por enquanto, são ruins: crescimento econômico próximo de 2%, inflação perto de 6% e contas externas fracas. O governo da presidente Cristina Kirchner tem sido mais direto. Além de pressionar a imprensa e proibir a divulgação de cálculos privados de inflação, interferiu nas estatísticas oficiais. Deve haver em Brasília defensores desse modelo. Terão sucesso?

JORNALISTA

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Blog Augusto Nunes (VEJA)

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