Com uma única fala, presidente do PT ameaça Dilma e tenta ameaçar a oposição. Os petistas que se entendam, ora!

Publicado em 04/04/2014 08:33 e atualizado em 11/06/2014 16:44
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Com uma única fala, presidente do PT ameaça Dilma e tenta ameaçar a oposição. Os petistas que se entendam, ora!

Dilma precisa se benzer. Eu, no lugar dela, faria até uma novena. Neste quinta-feira, Rui Falcão, presidente do partido, resolveu mandar dois recados, tudo embalado numa espécie de ameaça — além de dizer uma porção de barbaridades. Vamos lá.

De saída, Falcão fez de conta que o eleitor não existe e que eleições são desnecessárias. Segundo disse, Luiz Inácio Lula da Silva, “se quiser”, pode voltar “com tranquilidade” em 2018. Fosse um democrata convicto, Falcão diria “voltar a ser candidato”. Mas não! Ele se refere à Presidência mesmo, sem escalas. Até parece que Lula tem mandato vitalício. Ainda que as pesquisas, hoje, possam indicar eventual vitória no primeiro turno se candidato fosse, quem disse que seria assim em 2018?

Mas esse não foi o centro da sua fala, não. Indagado se a candidatura da presidente Dilma é irreversível, com aquele ar peculiarmente sinistro, afirmou: “Irrevogável, irreversível, só a morte, mas não há nenhuma razão para supor que ela não será nossa candidata”. Ou, dito de outro modo, o PT trabalha, sim, com a possibilidade de que Dilma possa não se candidatar. Acrescente-se, de resto, o mau gosto de uma fala como essa referindo-se a alguém que se tratou de um câncer bastante grave não faz muito tempo. Poderiam dizer: “Ah, mas o Lula também!”. É verdade! Só que a presidente, no momento, é ela, não ele. Mais um pouco, e Falcão lamenta o bom estado de saúde da presidente.

Curiosamente, no mesmo dia em que ficou jogando urucubaca na presidente, Falcão se referiu ao caso Petrobras, depois de uma reunião com jovens, alguns deles envolvidos com os protestos de junho. Chamou de “impatriótica” o que considerou uma “campanha contra a Petrobras”. Vale dizer: o presidente do PT parece achar que a apuração de lambanças é falta de… patriotismo. Cumpre lembrar que a Polícia Federal, não a oposição, abriu três inquéritos para apurar operações suspeitas na estatal.

Falcão afirmou ainda: “É um ataque à Petrobras. São os mesmos que colocaram um ‘x’ na Petrobras para torná-la palatável ao mercado; que foram contra o regime de partilha”.

Vamos esclarecer. No governo FHC, fez-se um estudo para que a Petrobras passasse a se chamar “Petrobrax”. Considerava-se, não entro no mérito, que isso reforçaria o seu caráter de empresa de alcance global. O PT inventou a mentira deslavada de que isso era parte de uma operação para privatizá-la. Nunca aconteceu. Tanto é assim que a estatal criou, em 1976, a linha de produtos “Lubrax”, não “Lubras”. Esse, definitivamente, não é o “x” da questão. Quanto ao regime de partilha, a oposição é e tem de ser crítica mesmo! Está se revelando ruinoso para a estatal brasileira.

O “x” mesmo da questão é outro. Ao ligar os dois temas — a não irreversibilidade da candidatura de Dilma e a investigação das lambanças na Petrobras —, Falcão manda um recado tanto a Dilma como às oposições. Está dizendo a ela: “Não pense que nós a manteremos candidata caso seja grande o risco de derrota”. Aos adversários: “Não insistam no assunto Petrobras, ou a gente chama o Lula de volta”.

Bem, dizer o quê? Quem será o candidato do PT, convenham, é problema do PT. Lula e Dilma que se entendam. Que existe muito lulista vibrando com o calor que Dilma está passando com a Petrobras, ah, isso existe. O lulismo finge ignorar que a empresa se transformou na casa de horrores justamente no governo… Lula.

Texto originalmente publicado às 22h40 desta quinta

Por Reinaldo Azevedo

 

Minha coluna na Folha: “O samba-da-presidenta-doida”

Leiam trechos da minha coluna da Folha desta sexta:
Existe a revisão virtuosa da história. À medida que se descobrem novos documentos, que se apela a saberes não convencionais para as ciências humanas, que se estudam fontes de narrativas antes consideradas fidedignas, o passado pode ganhar novo contorno em benefício da precisão. É o oposto do que está em curso nestes dias, nos 50 anos do golpe militar de 1964. A memória histórica foi abolida em benefício da memória criativa e judiciosa. Dilma se tornou a personagem-símbolo desse saber que se erige como nova moral. Na solenidade de privatização do aeroporto do Galeão, resolveu apelar a Tom Jobim e citou o “Samba do Avião”. Segundo disse, a música ligava o Brasil de hoje ao do passado ao “descrever” a chegada ao país dos brasileiros que voltavam do exílio, depois da anistia, “após 21 anos”.

É o samba-da-presidenta-doida. A música é de 1962, o golpe foi desferido em 1964, e a Lei da Anistia é de 1979, quando os exilados, então, começaram a voltar –15 anos, portanto, depois do golpe, não 21. A canção faz uma evocação lírica do Rio; nada a ver com protesto. Ao contrário até: o narrador revela aquele doce descompromisso bossa-novista: “Este samba é só porque/ Rio, eu gosto de você”… Não havia nada de programático a ser interpretado: “A morena vai sambar” queria dizer que a morena iria sambar. Sugiro um estudo aos teóricos do Complexo Pucusp: o mal que o golpe fez à cultura metafórica brasileira.
(…)
Na quarta, um desenhinho animado da presidente, em sua página oficial no Facebook, dava “um beijinho no ombro” para “us inimigo”. Uma “Dilma Popozuda” é evidência de arrogância e descolamento da realidade, não de graça. Dilma Bolada está no comando.

Para ler a íntegra, clique aqui

Por Reinaldo Azevedo

 

“A Venezuela despertou”, diz deputada venezuelana em São Paulo

Por Diego Braga Norte, na VEJA.com:
Cassada sem ao menos ter tido o direito de se defender em plenário e por uma interpretação, no mínimo, enviesada da Constituição, a deputada opositora venezuelana María Corina Machado disse nesta quinta-feira, em São Paulo, que o processo revelou-se um tiro no pé para o governo de Nicolás Maduro. “Com a minha cassação, ele (Maduro) internacionalizou o nosso problema. Ganhei voz e uma janela de exposição no exterior”, disse.

Numa sala de um hotel em São Paulo, María Corina falou com a imprensa e depois foi recepcionada no lobby por dezenas de venezuelanos que moram na capital paulista, além de brasileiros que também estavam à sua espera. “No meu país, não me permitem entrar no Parlamento, mas, em Brasília, pude entrar e fui tratada como deputada. Mesmo sem poder entrar no Parlamento, sigo exercendo meu mandato. Eu sigo deputada dentro e fora do meu país”, afirmou a líder oposicionista.

Dois meses depois que os protestos ganharam força na Venezuela, María Corina crê que o saldo é positivo, apesar das mortes. “Todos pensavam que os venezuelanos estavam resignados, acomodados. Mostramos que somos um povo que não tolera abusos. A Venezuela despertou. Jovens e velhos, brancos e negros, pobres e ricos… é um movimento cívico”, afirmou. Na avaliação da deputada a insatisfação com a segurança – a Venezuela é um dos países com maior criminalidade no mundo – foi o dínamo que ativou todo o descontentamento da população. Depois que os jovens universitários passaram ir às ruas, outros setores da sociedade somaram-se às manifestações e a pauta de reivindicações aumentou: além da questão da segurança, os manifestantes protestam contra a inflação, o desabastecimento, e por maior liberdade de expressão e abertura política.

“Quando um povo é negado de seus direitos constitucionais, é direito do povo ir para rua. Com a fragilização da Justiça, da liberdade de expressão e do Legislativo, o governo nos deu duas opções: baixar a cabeça e nos resignar ou sair para as ruas para protestar”, disse a deputada, ressaltando que em nenhum momento os líderes estudantis e políticos opositores incentivaram ou aprovaram atos violentos.

Protestos
María Corina segue acreditando que o povo nas ruas vai conseguir uma maior distensão do governo e uma maior abertura política, mas não gostaria de ver seu país penalizado por sanções econômicas, como alguns congressistas dos Estados Unidos já propuseram. “Isso (as sanções) iria penalizar ainda mais nossa economia e nosso povo. A ajuda internacional tem de ser pela condenação e pela pressão para Maduro respeitar nossa Constituição”, disse. Enquanto o governo não dá sinais que vá ceder em sua escalada repressora, a deputada cobra dos países vizinhos e da Organização dos Estados Americanos (OEA) uma condenação enfática dos abusos contra dos direitos civis. “Os países da região e a OEA reagiram rapidamente durante as crises políticas de Honduras e do Paraguai, mas nada dizem da nossa que é muito mais violenta”, afirmou.

Para a parlamentar independente, a cassação unilateral e arbitrária só descortina ainda mais o caráter autoritário e repressor do governo comandado por Maduro. A Constituição venezuelana estabelece quatro mecanismos pelos quais um deputado pode ser cassado e resumidamente são eles: por morte, por renúncia por um referendo convocatório da Assembleia Nacional ou por uma sentença da Suprema Corte do país. Maria Corina não se encaixa em nenhuma dessas categorias.

Cassação
O chavista Diosdado Cabello, presidente da Assembleia, determinou que Maria Corina não é mais deputada e perdeu a imunidade parlamentar – o primeiro passo para uma eventual prisão, também arbitrária. Para justificar seu ato, Cabello afirmou que ela violou a Constituição ao tentar discursar sobre a repressão na Venezuela durante uma reunião da OEA, no dia 21 de março. O espaço para que ela se pronunciasse foi cedido pela delegação do Panamá, país com o qual Maduro rompeu relações.

Cabello anunciou que ao aceitar a cortesia do Panamá, Corina havia violado os artigos 191 e 197 da Constituição, que determinam que os deputados “não poderão aceitar ou exercer cargos públicos sem a perda de seu mandato, salvo em atividades docentes, acadêmicas, acidentais ou assistenciais”, e estão obrigados a cumprir sua tarefa com “dedicação exclusiva”. O presidente da Assembleia também citou o artigo 149 que estabelece que “os funcionários públicos não poderão aceitar cargos, honras ou recompensas de governos estrangeiros sem a autorização da Assembleia Nacional”.

María Corina não fez nada disso. Um país ceder temporariamente a cadeira a um representante de outro é prática conhecida na OEA, a própria Venezuela já fez isso em pelo menos duas oportunidades. María Corina revelou que, em uma conversa com o senador Eduardo Suplicy, nesta quarta, em Brasília, ele lhe contou que, pouco antes de encontrá-la, participou de um ato solene em homenagem aos parlamentares que foram cassados pouco após o golpe de 1964 – todos eles arbitrariamente e sem o direito de defesa. “É triste que, na Venezuela, 50 anos depois, estejam fazendo a mesma coisa”, disse Suplicy à deputada.

Desde 12 de fevereiro, a Venezuela tem protestos diários contra o governo. As manifestações deixaram 39 mortos e mais de 450 feridos. Os manifestantes protestam contra a inflação, o desabastecimento, a violência e por maior liberdade de expressão. Maduro considera que os protestos são uma tentativa de golpe de Estado orquestrado pela oposição em aliança com os Estados Unidos e a Colômbia.

Por Reinaldo Azevedo

 

Documentos provam que cláusulas polêmicas não estavam em resumo executivo e que Petrobras já havia proposto, por conta própria, pagar mais de US$ 1 bilhão por refinaria de Pasadena

O Jornal Nacional acaba de levar ao ar uma reportagem sobre a compra da refinaria de Pasadena que endossa o post das 16h23. E vocês verão por quê. O JN teve acesso a dois documentos relativos à operação.

O primeiro é o resumo executivo que foi fornecido aos conselheiros. Desse documento, de fato, não constam as duas cláusulas polêmicas: 1) a Marlim, que garantia ao grupo belga Astra Oil uma lucratividade de 6,9% ao ano independentemente das condições de mercado; 2) a Put Option, que obrigava a empresa brasileira a comprar a outra metade da refinaria caso os dois grupos se desentendessem.

Um segundo documento é o depoimento de Alberto Feilhaber à Justiça americana. Quem é ele? Trata-se de um ex-executivo da Petrobras, que deixou a empresa em 1995 e se transferiu justamente para o escritório da Astra Oil, nos Estados Unidos. Foi ele quem negociou com a empresa brasileira em nome do grupo belga.

Feilhaber contou que, já em 2005, a Petrobras demonstrou interesse em comprar 70% da refinaria de Pasadena, oferecendo nada menos de US$ 332,5 milhões por essa fatia. Nota: naquele mesmo ano, os belgas haviam adquirido 100% do empreendimento por meros US$ 42,5 milhões. A proposta foi recusada. Em dezembro, a direção da Petrobras mandou bala: propôs US$ 359 milhões por apenas 50% da refinaria. Ponderando tudo, no prazo de alguns meses, a estatal brasileira elevou a sua oferta em 50%. Como os belgas nunca tinham encontrado antes brasileiros tão bonzinhos, toparam na hora. Em fevereiro de 2006, efetivou-se a compra.

Parou por aí? Não! Em novembro de 2007, a Petrobras ofereceu mais US$ 700 milhões pelos outros 50%. Notem: antes mesmo de a questão ir parar na Justiça americana, a Petrobras já havia aceitado pagar mais de US$ 1 bilhão.

Aí, sim, o conselho vetou a operação, teve início a disputa judicial e o que já se sabe. O custo final para a Petrobras foi de US$ 1,3 bilhão. Então vamos às constatações:

1: De fato, quase todos os conselheiros decidiram sem saber da existência das cláusulas;

2: José Sérgio Gabrielli, presidente da empresa e conselheiro, este sempre soube de tudo; acompanhou cada etapa do processo;

3: a direção executiva da Petrobras, igualmente, estava ciente da operação;

4: tudo indica que Dilma ficou sabendo da existência das cláusulas bem antes de 2007. Fez o quê? Nada! Era a chefe do setor energético;

5: como presidente da República, permitiu que Cerveró assumisse a direção financeira da BR Distribuidora.

O ex-diretor diz que quer falar ao Congresso. Tem de falar mesmo! Mas eis um depoimento que precisa ser visto com muito cuidado. Na Petrobras, ele integrava a turma que estava sob o comando de José Sérgio Gabrielli, que pertence à tropa de choque de Lula. Digamos que conselheiros possam requisitar este ou aquele documentos oficiais e coisa e tal. Ocorre que, em situações assim, parte-se do princípio de que a direção executiva da empresa tomou as devidas medidas prudenciais. Não dá para ele usar essa possibilidade para se proteger: Cerveró tem de explicar por que omitiu as cláusulas e quem, com ele, tomou as decisões.

E, mais importante do que tudo, é preciso que Dilma explique por que se omitiu e ainda recompensou depois o ex-diretor. Tudo isso se deu, insisto, no ano eleitoral de 2006, quando há uma busca desesperada por recursos de campanha.

Por Reinaldo Azevedo

 

PT transforma a CPI da Petrobras numa pantomima, que viola o regime democrático

O PT conseguiu. Transformou a CPI da Petrobras numa farsa. A cada dia, fica-se mais longe da apuração das circunstâncias políticas em que se deram as lambanças. O negócio, agora, é apostar que o Ministério Público faça o seu trabalho e que a Polícia Federal encontre espaço para trabalhar com independência nos três inquéritos que foram abertos. Os petistas conseguiram descaracterizar e desmoralizar a CPI. De agora em diante, o caminho está dado nas três esferas do Poder Legislativo: sempre que a oposição conseguir assinaturas para uma comissão de inquérito, basta a situação usar a sua maioria e contra-atacar com um pedido de investigação da minoria. Não tem jeito: o PT e a democracia são como água e óleo; não se misturam.

Nesta quinta, a base do governo protocolou o quarto pedido de CPI — no caso, de CPI Mista. A exemplo do que fez no Senado, esta também abarca os casos cabeludos da Petrobras e supostas irregularidades havidas em obras nas gestões tucanas de São Paulo e Minas e durante a administração de Eduardo Campos, em Pernambuco. O jogo é explícito, é arreganhado, não tem disfarces. O objetivo é não investigar nada mesmo.

Ora vejam: o governo tem, desde sempre, a maioria parlamentar mais ampla de todo o mundo democrático. Poderia ter proposto as CPIs que quisesse. E por que não o fez? Porque, na cabeça dessa gente, uma comissão de inquérito não serve para investigar, mas para retaliar. Imaginem vocês se uma comissão vai conseguir apurar as lambanças na Petrobras — a cada dia, há uma novidade — e eventuais irregularidades em São Paulo, Minas e Pernambuco. Ainda que o propósito fosse honesto, não haveria condições técnicas para isso.

Mas a honestidade passou longe desse debate. Na terça-feira, a CCJ do Senado se pronuncia sobre as duas CPIs que foram protocoladas na Casa. A decisão da comissão será submetida ao plenário. O mais provável é que, ora vejam!, triunfe a CPI do governo. Ou por outra: com um impressionante estoque de escândalos na Petrobras, quem corre o risco de ser investigada é a oposição.

É claro que isso perverte o sentido da democracia. Em tempos normais, a questão iria parar no Supremo. Estamos diante de um claro cerceamento do direito de fazer oposição.

O discurso do governo se torna mais virulento quanto mais cadáveres vão saindo do armário. Agora, um terceiro inquérito da Polícia Federal investiga a venda, pela estatal brasileira, de uma refinaria na Argentina para o grupo do empresário Cristóbal López, uma espécie de faz-tudo de Cristina Kirchner. Os próprios compradores chegaram a oferecer US$ 50 milhões pela refinaria, que acabou vendida por apenas US$ 36 milhões. Também essa operação se deu no ano eleitoral de 2006, quando a Petrobras comprou os 50% da refinaria de Pasadena.

Por Reinaldo Azevedo

 

Lambança na Petrobras: para não perder o foco

É impressionante a facilidade com que os descalabros havidos na Petrobras, como posso dizer?, saem do eixo, deslocando-se para lateralidades, falsas questões, guerras de versões. Não se enganem: há, por trás disso, os chamados “gerenciadores de crise”. São profissionais especializados em plantar versões na imprensa. Atenção! Eu recorri à palavra “versões”, não “mentiras”. Nesse contexto, a “versão” rearranja as verdades para inventar uma narrativa que não aconteceu, mas que é favorável a quem contratou o serviço.

No post anterior, vocês leem uma reportagem de Daniel Haidar, publicada na VEJA.com. Ali se informa que Edson Ribeiro, advogado de Nestor Cerveró — que Dilma Rousseff considera o responsável pelo memorial técnico omisso, que resultou na compra da refinaria de Pasadena —, afirma não ter provas de que a documentação sobre a operação tenha chegado ao Conselho de Administração com 15 dias de antecedência. Segundo diz, fez essa afirmação porque é praxe em casos assim.

Eis aí. É mesmo a praxe. Ocorre que, no caso de Pasadena, houve uma exceção: a diretoria tomou a decisão no dia 2 de fevereiro de 2006 e já mandou para a consulta do conselho no dia 3. Pois é. É importante não perder o eixo na guerra de versões. Vamos lá.

1: José Sérgio Gabrielli, homem de Lula na Petrobras, é presidente da empresa. Já está demonstrado que ele sabia de tudo, de cada item do acordo. Participou de reuniões para decidir a compra da empresa. Ele não era um conselheiro como os outros.

2: Igualmente evidente é que a direção executiva da Petrobras também sabia de tudo. Ou vocês acham que Nestor Cerveró atuava ao arrepio dos seus pares, Gabrielli especialmente?

3: Gabrielli, então, bateu os olhos num resumo executivo incompetente e permitiu que os demais conselheiros decidissem no escuro?

4: Dilma também não era uma conselheira comum. Era a czarina da infraestrutura e a Senhora dos Raios do setor energético. Aliás, foi a sua fama de sabichona na área que a catapultou para a Casa Civil, quando José Dirceu caiu em desgraça. A área era considerada estratégica.

5: Dilma, sim, como presidente do conselho, contava com uma equipe técnica para assessorá-la. A questão é saber por que não recorreu a ela.

6: Assim, não havia como Gabrielli não saber; não havia como a direção da Petrobras não saber e, considerando que a empresa virou uma extensão do quintal petista, parece-me evidente que não havia como Dilma não saber, sendo quem era — ainda que, oficialmente, tenha recebido, como os outros, um resumo executivo maquiado, para decidir a toque de caixa.

7: Não bastasse isso, há o que veio depois. Dilma, COMO MINISTRA DA CASA CIVIL E PRESIDENTE DO CONSELHO, ficou sabendo das tais cláusulas “Marlim” e “Put Option” pouco depois. Fez o quê? A resposta é escandalosamente óbvia: NADA!

8: Não só não fez como permitiu que Nestor Cerveró assumisse, na sua gestão, um dos cargos mais ambicionados do país: diretor financeiro da BR Distribuidora.

9: No seu pronunciamento de rádio, Guido Mantega, atual presidente do conselho da Petrobras, defendeu a operação e tentou dividir a responsabilidade com os conselheiros da Petrobras. Pois é: a) nem Dilma tem coragem de assumir essa posição; b) o ministro tenta usar o conselho para diluir responsabilidades.

10: O que se fez nessa operação, definitivamente, não é coisa de amadores, não. Síntese:
a: José Sérgio Gabrielli, desde sempre, sabia de tudo;
b: Dilma, sendo quem era no governo, tinha como saber de tudo;
c: na hipótese de, como conselheira, ter sido também ludibriada, não tardou para que, como ministra, tivesse em mãos as informações necessárias para agir e não agiu;
d: abrigou Cerveró, o pai do resumo executivo, na BR Distribuidora.

11: E finalmente: José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, o que sempre soube de tudo, não era e nunca foi ele próprio. Gabrielli sempre foi Lula. Gabrielli sempre foi PT.

Por Reinaldo Azevedo

 

No ano da satanização dos militares, o poder civil foi bater à porta dos quartéis

Um estrangeiro que ignorasse a nossa história, mas conseguisse ler a nossa imprensa, certamente chegaria à conclusão de que este é um país que padece de uma doença social rara, talvez única, nativa mesmo, como a jabuticaba. O nome dessa doença é esquizofrenia histórica.

Como sabemos, nestes 50 anos do chamado “golpe”, nunca os militares foram tão demonizados como agora. Alguns poderão dizer que não é bem assim; que as críticas são dirigidas aos desmandos e aos excessos havidos durante a ditadura, mas a gente sabe que isso não é verdade. Os militares são tratados como intrusos. Passa-se adiante a impressão de que tudo caminhava às mil maravilhas no mundo civil; de que o governo João Goulart era um exemplo de democracia e disciplina, e aí chegaram os gorilas fardados para nos tirar no paraíso. Notem: é evidente que eu acho que militares não têm de se ocupar da política. Mas acho também que as pessoas que se ocupam da história devem se ater aos fatos. E é fato que foi o governo civil de 1964 que criou as condições para a golpe militar. Negá-lo é fazer pouco caso das evidências — e nada disso impede que se reconheçam os desmandos havidos, porque é certo que os houve. Ponto parágrafo.

O Brasil é governado por civis desde 1985. Embora as primeiras eleições diretas para presidente, depois do ciclo militar, tenham ocorrido só em 1989, chamar de “ditadura” o governo vigente em 1982, por exemplo, é um pouco mais do que licença poética — é mentira mesmo. Mas nem me atenho a isso agora. O fato é que, depois de quase três décadas, quando se precisa de uma referência de confiabilidade, de seriedade, de incorruptibilidade e de eficiência, eis que se apela às… Forças Armadas.

Garantir a segurança pública é tarefa precípua dos civis, é evidente. Sim, o artigo 142 da Constituição reconhece às Forças Armadas papel subsidiário na manutenção da lei e da ordem, mas essa não é sua tarefa primeira. Não obstante, a partir de sábado, 2050 homens da Brigada de Infantaria Paraquedista e 450 da Marinha vão ocupar o Complexo da Maré, no Rio. Lá ficarão, no mínimo, até 31 de julho — sim, leitores, a Copa do Mundo acontece nesse intervalo.

Pessoalmente, já disse, nada tenho contra a intervenção das Forças Armadas no combate ao narcotráfico. Há quase 30 anos, já disse, escrevi meu primeiro texto defendendo tal ação. Ocorre que não estou entre aqueles que saem por aí a defender uma tal desmilitarização da polícia — seja lá o que isso signifique — ou que tratam os militares como espantalhos.

E notem: no Complexo da Maré, o Exército e a Marinha não se limitarão a fazer um trabalho de apoio, não. Vão mesmo exercer função de polícia. Segundo o general Ronaldo Lundgren, chefe do Centro Operacional do Comando Militar do Leste, os homens estão autorizados a realizar patrulhamento ostensivo, revista e prisões em flagrante.

Todo cuidado é pouco. A chance de haver problemas é gigantesca. O narcotráfico costuma mobilizar agentes provocadores para incitar uma resposta violenta dos soldados e, assim, jogar a comunidade contra os militares. Lundgren afirmou, durante entrevista coletiva no Palácio Duque de Caxias, no Centro do Rio, que haverá um telefone para que os moradores da Maré possam denunciar eventuais abusos de autoridade.

Nos 50 anos do golpe, o poder civil foi bater à porta dos quartéis. Como se vê, as Forças Armadas não são intrusas, mas parte da história do Brasil.

Por Reinaldo Azevedo

 

Forças Armadas levarão 2.500 homens para ocupar Complexo da Maré no sábado

 Por Pâmela Oliveira, na VEJA.com. Volto no próximo post.
A participação das Forças Armadas na ocupação do Complexo da Maré, prevista para este sábado, vai mobilizar 2.500 militares. O conjunto de favelas na Zona Norte do Rio deverá permanecer ocupado por tropas federais até 31 de julho, segundo previsto no decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) assinado pela presidente Dilma Rousseff.

As Forças Armadas substituição policiais militares do Rio, que ocuparam no último domingo conjunto de favelas. A operação terá a participação de 2.050 militares da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército e 450 homens da Marinha. Serão mantidos no local 200 policiais militares.

De acordo com o general Ronaldo Lundgren, chefe do Centro Operacional do Comando Militar do Leste, as Forças Armadas estão autorizadas a realizar patrulhamento ostensivo, revista e prisões em flagrante. O general afirmou, durante coletiva de imprensa no Palácio Duque de Caxias, no Centro do Rio, que a o Exército disponibilizará um telefone para que os moradores da Maré possam fazer denúncias de abusos cometidos por militares.

“A tropa vai agir de acordo com as regras. Além disso, não teremos soldados atuando isoladamente. Todos atuarão em pequenos grupos para reduzir o risco de problemas. Não digo que não possam ocorrer falhas, mas estamos preparados para tomar as providências que são cabíveis caso as falhas ocorram”, afirmou Lundgren.

De acordo com o general, por questões estratégicas, o horário do início da operação não será divulgado. De acordo com o decreto que estabelece a GLO, as tropas federais podem entrar no conjunto de favelas a partir de 0h do dia 25. É provável, no entanto, que a operação comece nas primeiras horas do sábado.

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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1 comentário

  • Joacir A. Stedile Passo Fundo - RS

    Reinaldo,

    Se o Governo Federal tivesse, anos atrás, dado de presente, não privatizado, a Petrobras juntamente com os funcionários e as dívidas, a situação hoje seria diferente para toda a sociedade brasileira.

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