Mensalão: Lula tenta recuar, mas se enrola todo feito uma moreia...

Publicado em 26/06/2014 18:56 e atualizado em 16/07/2014 16:11
por Rodrigo Constantino, de veja.com.br

CorrupçãoEconomiaPolítica

Lula tenta recuar, mas se enrola todo feito uma moreia

Lula lingua

Não sei se o leitor é pescador, mas quem pesca sabe: quando uma moreia é fisgada no anzol, é um Deus nos acuda. A bicha vai se enroscando cada vez mais na tentativa de escapar, e se o pescador deixar a vara presa e for fazer outra coisa qualquer, quando voltar haverá um emaranhado de linha misturada com o peixe murenídeo, que mais parece uma cobra. Lula é uma moreia.

Não estou demonstrando ignorância biológica ao confundir o molusco com o peixe. Falo, claro, de nosso ex-presidente, que deu uma entrevista ao SBT ontem para tentar justificar o injustificável. Não tinha como não se enrolar todo. Defender o legado do PT e ainda tocar no assunto corrupção ao mesmo tempo é algo impossível, a menos que a cara seja realmente de pau maciço. Vejam o que Lula disse sobre o mensalão, por exemplo:

A minha tese é de que, possivelmente, esse tenha sido o processo que tenha sido julgado com a maior pressão de determinados setores dos meios de comunicação da história da humanidade. Nunca as pessoas envolvidas num processo foram condenadas com tanta antecedência. Não estou julgando os ministros e não vou julgá-los, mesmo que uma decisão ou outra não me agrade. Não é meu papel julgar a Suprema Corte. Agora, o que temos que fazer é recontar essa história. As penas desses companheiros já foram dadas. O que esses companheiros agora precisam conquistar é o direito de andar de cabeça erguida nas ruas desse país.

A “tese” de Lula já mudou muito com o tempo e a ocasião. Já foi a tese de traição, sem que ele jamais citasse quem era o Judas. Já foi a tese de que aquilo nunca existiu, e que ele iria dedicar sua “aposentadoria” para provar isso (não deu). Agora é a tese de que houve muita pressão da imprensa. Ah, a imprensa, sempre ela a culpada!

Nunca foram condenados com tanta antecedência, diz Lula. Foram “apenas” sete anos de espera, e a coisa só andou por conta da determinação de certo ministro, aquele de tez mais morena que vive sendo alvo do ódio petista. Não fosse Joaquim Barbosa para fazer a diferença e teríamos mais um caso de julgamento se arrastando ad infinitum.

Mas vejam bem! Lula não vai “julgar os ministros” (como se tivesse estatura e poder para tanto). Ele é muito benevolente. Ele quer apenas “recontar essa história”. Tudo pela narrativa. Pergunte se Lula se sente ainda traído por algum companheiro. Nada disso. Ele quer apenas que esses companheiros conquistem “o direito de andar de cabeça erguida nas ruas desse país”.

Já os milhões de brasileiros querem apenas que os criminosos cumpram suas penas como todos os criminosos, sem regalias (Dirceu já conseguiu mais uma agora que saiu Barbosa e entrou Barroso no processo). Os milhões de brasileiros não chamam os criminosos de “companheiros”. Aliás, diga-me com quem andas que te direi quem és…

Sobre as vaias e os xingamentos que Dilma sofreu na abertura da Copa, Lula tentou amenizar o ataque às “elites brancas”, que não pegou nada bem. O ministro Gilberto Carvalho já havia dado novo tom ao perceber que o tiro saíra pela culatra. Agora foi a vez de Lula, mas novamente se enrolando feito uma moreia:

As pessoas mais humildes, as pessoas que trabalham neste país, não têm a cultura de ofender as autoridades. Aqueles palavrões me cheirou a coisa organizada, o preconceito, a raiva demonstrada, possivelmente a gente tenha culpa de não ter cuidado disso com carinho. O PT não pode fazer uma campanha sem discutir o tema da corrupção, não podemos fazer como avestruz e enfiar a cabeça na areia e falar que este tema não podemos debater.

Em primeiro lugar, o preconceito não vai embora: quer dizer que para Lula só as pessoas mais “humildes”, isto é, pobres em sua concepção, é que trabalham neste país? Lula está afirmando que a classe média e alta é formada por vagabundos? Lula acha que rico não trabalha? Nem todos são petistas ou vivem de esmolas estatais, Lula! Vamos parar com esse discurso ridículo e ofensivo aos trabalhadores brasileiros de todas as classes sociais!

Dito isso, e sem retirar a “tese” de vaia orquestrada, Lula admite que há parcela de culpa do PT por “não ter cuidado disso com carinho”. Sim, é uma mensagem cifrada, estranha, obscura, mas é um claro indício de que a pura vitimização não colou e Lula sabe disso. A narrativa de vítima tem algum apelo, mas não é suficiente para ganhar eleição.

Aliás, gostaria de ser um mosquito para ver a reação dos “jornalistas” chapas-brancas lendo isso, depois que endossaram com veemência a “tese” da culpa absoluta da tal “elite branca”. O próprio Lula e o ministro Gilbertinho assumem que o PT é culpado! A turma da ESPN, “emissora estadunidense” (como ironiza Reinaldo Azevedo), virá soltar alguma nota de arrependimento? Juca Kfouri? José Trajano?

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Voltemos à corrupção, que parece infindável quando se trata do PT. Lula afirma que os petistas não podem fazer como um avestruz e enfiar a cabeça na areia. É bicho demais, eu sei, mas vamos lá: o que o PT vai fazer então? O que significa isso? Que vai discutir os escândalos todos de corrupção que vieram à tona nos últimos 12 anos?

Que piada! Não faria outra coisa da vida, e sabemos que um petista nunca assume de verdade seus erros ou “malfeitos”. O que Lula pretende é culpar o “sistema”, ou seja, jogar a responsabilidade para o modelo político e debater “reformas” para resolver o problema. Falar da Petrobras transformada em “padaria” cujo caixa vaza bilhões por todo lado? Isso o PT vai fazer no dia de São Nunca!

Por fim, Lula volta a falar de economia, outro tema indefensável para o PT. Após criticar a equipe de Dilma, eis o que ele diz agora:

Tivemos uma crise econômica mundial. Se compararmos o Brasil de 2013, de 2014 com o de 2010, a gente estava crescendo a 7,5% e estamos crescendo a 2%. Não temos que comparar com 2010. Tem que comparar com 2002, como a gente pegou o país porque o processo é o projeto de construção que está em vigor neste país.

Que piada! Ele quer comparar o quadro medíocre de hoje com 2002, o ano em que o “risco Lula” afetou profundamente nossa economia e o mercado financeiro, justamente porque o PT era o favorito para chegar ao poder. Já 2010 foi um ponto totalmente fora da curva, pois o governo abriu as comportas dos estímulos para eleger Dilma, e foi isso justamente que colaborou para produzir o quadro de inflação hoje existente.

A economia deve ser avaliada como uma tendência sim, não pontualmente, e sempre comparada com o cenário mundial. O fato inegável é que o PT pegou a era de ventos externos mais favoráveis das últimas décadas. Os países emergentes todos cresceram bastante, muito mais do que o Brasil na média. Na América Latina mesmo, para não falar da Ásia que seria covardia, temos os países mais responsáveis, como Chile, Colômbia e Peru, crescendo bem mais do que a gente e com inflação bem menor.

Tentar retirar a responsabilidade do governo desse resultado econômico patético é algo que só um petista teria a cara de pau de fazer. A estagflação é 100% “made in Brazil”, é produto caseiro, fermentado pelo próprio governo. Seria menos constrangedor se Lula fizesse como um avestruz e simplesmente escondesse a cabeça na areia, em vez de fazer como uma moreia e se enrolar todo na linha…

Rodrigo Constantino

 

CulturaDemocraciaPolítica

O PT me faz ser uma pessoa pior

No filme “Melhor É Impossível”, de 1997, há uma cena interessante em que a personagem de Helen Hunt pede ao personagem intragável de Jack Nicholson, misantropo que sofre de transtorno obsessivo-compulsivo, para que lhe faça um elogio, um só elogio. Após algum tempo pensando, ele diz: “Você me faz querer ser uma pessoa melhor”.

O PT tem o efeito contrário em mim. Se este é um dos mais belos elogios já feitos no cinema, então podemos concluir que a pior crítica é alguém nos fazer ser uma pior pessoa. Como diria Roberto Jefferson ao José Dirceu: “Vossa excelência provoca em mim os instintos mais primitivos”.

O cuidado que deve ter quem convive demais com o monstro, mesmo que para combatê-lo, é não se tornar um também. Policiais que combatem o crime e se infiltram no tráfico sabem bem disso. Como disse Nietzsche: “Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”.

Pensei nisso ao ler a resposta que o humorista Marcelo Madureira deu aos petistas que tentam intimidar os formadores de opinião críticos ao governo. Disse ele: “Àqueles que querem nos amedrontar com ameaças e intimidações, continuaremos respondendo a cada dia, a cada hora, a cada minuto, com as nossas únicas e legítimas armas: as palavras, as ideias e os princípios”.

Eis o desafio de todos aqueles que não aguentam mais o PT disseminando ódio e mentiras pelo país, apelando para baixarias, golpes baixos: não responder na mesma moeda, com ódio; preservar nossos valores e princípios; insistir na construção de um Brasil realmente democrático, com respeito às diferenças (dentro dos limites da própria sobrevivência da tolerância), sempre de forma civilizada.

Entendo que nem sempre é fácil. O PT, como já disse, desperta em muitos os “instintos mais primitivos”, e nos leva muitas vezes a reagir com o fígado. Mas esse é o único caminho. Ao menos o único em que o PT não vence, pois se tivermos que jogar como ele, aceitar a premissa de que os fins nobres justificam quaisquer meios, então o país já perdeu.

Em época de Copa do Mundo, faço uma analogia com o futebol: há quem, aderindo à “ética da malandragem”, só se importa com a vitória, custe o que custar. Outros não. Outros não aceitam isso, acham que como se vence faz toda a diferença do mundo. Faço parte do segundo grupo. Defendo o “fair play”.

O PT seria, ao contrário, o time que não devolve a bola após ela ser colocada para fora de propósito para o atendimento de um jogador machucado. Seria o jogador que morde o adversário, ou que faz gol de mão, ou simula escancaradamente um pênalti. E faz tudo isso com o orgulho do “malandro”, com o regozijo do “esperto”, que sempre quer tirar vantagem em cima dos demais.

Os nervos de muitos brasileiros estão à flor da pele. Há risco concreto de caminharmos na direção bolivariana, como fizeram Venezuela e Argentina, cujos governos são camaradas do PT. Nesse quadro, é tentador partir para medidas desesperadas, ficar muito paranoico, agressivo. Tem gente clamando por intervenção militar já, o que seria a morte definitiva da nossa democracia.

É preciso resistir, lutar, mas dentro dos nossos valores, respeitando as regras do jogo. Se o outro lado chuta a canela o tempo todo e mete a mão na bola, não é por isso que vamos jogar da mesma forma. Um pacto mefistofélico desses, de aceitar o “vale tudo” em prol de uma meta louvável, é um caminho escorregadio sem volta. O abismo sorri de volta, e lá no fundo dá para ver o reflexo de um monstro.

Concluo de volta ao começo: o PT me faz ser uma pessoa pior muitas vezes, pois a raiva e o desprezo dificilmente são bons conselheiros. O segrego é tentar fazer do limão uma limonada: justamente por ser o PT assim, devemos lutar ainda mais para ser sempre alguém melhor e, com isso, ajudar a construir um país também melhor, contrário em todos os aspectos àquilo que o PT representa. Eis a reação mais admirável que se pode ter ao lulopetismo.

Rodrigo Constantino

 

 DemocraciaPolítica

A nova lista do PT: caça às “bruxas” é retaliação autoritária

Após a “lista negra de “inimigos da pátria” criada pelo vice-presidente nacional do PT, para intimidar formadores de opinião críticos ao governo, foi a vez de o PT criar nova lista, agora com o nome de todos os membros do PMDB que participaram do lançamento da chapa ‘Aezão’, união entre Pezão e Aécio Neves.

Às 11h32m do último dia 12, um assessor da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República (SRI), Cássio Parrode Pires, enviou uma mensagem à assessoria de imprensa do PMDB no Rio. No e-mail, ele pedia a lista de presença no almoço de lançamento da aliança, na Barra da Tijuca, ocorrido na véspera. Eis a mensagem de email que o assessor do Palácio do Planalto enviou ao PMDB local:

O ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, tentou justificar a “caça às bruxas” como algo absolutamente normal:

Prefeito negocia com todo mundo. Enviamos o e-mail para saber quem eram (os prefeitos) e chamá-los para almoçar. Prefeito, quando você chama para almoçar, para conversar sobre algum assunto, ele vem. O Picciani pode falar o que quiser, mas isso é do jogo.

Só se for aquela parte das dentadas, mão na bola ou canelada fora do campo. No modelo “federalista” brasileiro, sabemos bem como a coisa funciona. Com a União concentrando o grosso do orçamento público, os prefeitos acabam reféns do governo federal, e precisam “passar o chapéu” para mendigar verbas, especialmente em ano eleitoral.

É por isso, aliás, que o prefeito carioca Eduardo Paes tem sustentado a nefasta aliança com o PT, alegando que é imprescindível a parceria entre governos federal, estadual e municipal. Tese esdrúxula, pois, por tal ótica, jamais uma prefeitura poderia ser independente ou de oposição.

Mas quando é o PT no governo central, sabemos que a pressão das verbas será usada e abusada como moeda de troca política. Existem vários casos de liberação de verbas, de compra de produtos locais, entrega de tratores ou caminhões, obras do PAC, tudo voltado para o favorecimento desproporcional dos aliados do governo central. É a velha mistura abjeta entre estado, governo e partido, que o PT não criou, mas pratica como nenhum outro.

Aécio Neves, após brincar que muitos aliados do PT já debandaram e o governo não percebeu, disse:

A presidente Dilma se desdiz. Jogou pela janela o discurso que fez há quatro dias na convenção que referendou sua candidatura. Está deixando explícito que a sua nova fórmula para a mudança é essa, a pior de todas, é a mercantilização da política.

A nova lista do PT é exatamente para isso: aprimorar o instrumento de mercantilização da política, ver quem ainda pode ser comprado, e quem deverá ser retaliado de forma autoritária e pouco republicana, por ter apoiado a oposição. A coisa pública fica em último plano quando o estado é tratado somente como “cosa nostra”.

Rodrigo Constantino

 

EconomiaFilosofia política

O fracasso venezuelano é culpa do rentismo capitalista, afirma economista do BNDES

“Como o povo é otário!!!!” hahahaha

A capacidade de inverter a realidade é a marca registrada da nossa esquerda, que jamais assume a responsabilidade pelos constantes fracassos de suas medidas. A Venezuela chavista, nunca é demais lembrar, recebeu o elogio de inúmeros membros dessa esquerda. Agora, diante do retumbante fracasso de seu modelo, eis que a mesma turma culpa… o capitalismo!

Parece piada, mas foi isso que fez Marcelo Miterhof, economista do BNDES, em sua coluna de hoje na Folha. Analisando um livro organizado por um professor da UFRJ, Miterhof conclui que a maldição da Venezuela é seu petróleo, que teria causado a famosa “doença holandesa”, desindustrializando o país e gerando o rentismo do capital.

Para piorar o quadro, diz o autor, houve a abertura financeira dos anos 1970, levando o país a acumular dívida externa elevada sem necessidade. Ou seja, exportar petróleo para os americanos foi ruim para o país, assim como atrair investidores dispostos a financiar seus gastos públicos. Culpa dos consumidores! Responsabilizar os governos perdulários nem pensar…

O texto analisado por Miterhof não entra na era Chávez, “em razão de alto grau de ideologização que o cerca” (???). Ainda assim, diz o economista do BNDES, “é possível notar que Hugo Chávez trouxe mudanças na forma como a renda do petróleo é repartida na sociedade, favorecendo a população mais pobre, o que evidentemente é bom para o país”. Mesmo?

Pelo que podemos notar, não foi nada bom para o país, especialmente para os pobres, tal populismo elogiado pelo economista do BNDES. A inflação disparou, a miséria cresceu, e o país mergulhou em uma crise econômica e social sem precedentes. Mas Miterhof tem mais elogios a Chávez: “Também houve nova tentativa de induzir a industrialização”. Sério?

Para os nacional-desenvolvimentistas, cabe ao estado “induzir” tudo, escolher “campeões nacionais”, agir feito a locomotiva do progresso. É justamente o que o BNDES sob Luciano Coutinho vem tentando fazer no Brasil, sem sucesso. Miterhof acha que Chávez acertou ao tentar fazer isso na Venezuela. A esquerda insiste nos mesmos erros com uma obsessão doentia. Mas se tudo deu errado – como até Miterhof tem que assumir – então não foi culpa de seu modelo, mas… do capitalismo!

“Entretanto, não houve rompimento com o caráter de longo prazo da política econômica”, afirma Miterhof. Chávez não mudou a política econômica venezuelana??? Pelo visto, não. E temos aí, finalmente, o grande culpado: “As dificuldades do desenvolvimento da Venezuela são duradouras. O rentismo não é uma condenação, mas não é fácil de se desamarrar dele. Por isso, me compadeço”.

Esqueçam o populismo, os gastos públicos fora de controle, toda a demagogia por meio da PDVSA, o intervencionismo estatal na economia, a insegurança jurídica, as quebras de contrato, a inflação estimulada pelo governo, a retórica anticapitalista e os ataques aos investidores. Nada disso tem a ver com a crise venezuelana. Esta se deve ao modelo antigo, capitalista e rentista. Chávez está protegido das críticas. Bolas, ele até tentou romper esse ciclo perverso e vicioso do capital…

Rodrigo Constantino

 

Filosofia políticaSocialismo

O lucro socialista

Por João César de Melo, publicado noInstituto Liberal

A quase totalidade das pessoas compartilha o desejo de viver com conforto e usufruir de algum luxo. As diferenças estão nas estratégias utilizadas.

O agente capitalista opta por construir sua vida a partir de seus próprios talentos e esforços, empreendendo negócios ou investindo numa profissão na qual enxerga a possibilidade de obter as recompensas que atenderão suas necessidades e seus desejos.

Para tanto, um empresário terá que administrar muito bem seu negócio para pagar salários, encargos, impostos e fornecedores e para oferecer bons produtos à sociedade, só então obterá o lucro que precisa para sustentar a família e a si mesmo, cujo nível de luxo dependerá única e exclusivamente de sua capacidade administrativa. Um empregado também terá que trabalhar cada vez mais e melhor para obter as recompensas que deseja.

Do outro lado, puxando a corda no sentido contrário, estão os socialistas. O socialista acredita que as recompensas dos esforços (o lucro) alheios devem ser distribuídas arbitrariamente entre todas as pessoas a partir de um conceito moral de “justiça social” – aquilo que não existe em nenhum lugar da natureza.

Sendo assim, o militante socialista investe na carreira de intermediário dessa distribuição, cobrando que uns devem trabalhar pelos outros, porém, escondendo seu real interesse: que todos trabalhem para ele e para seu partido. Ironicamente, é através da mais valia de Marx que melhor desmascaramos a demagogia socialista.

Segundo Marx, o valor de um produto e de um salário deve ser calculado em função do esforço nele empregado. Comparemos, então, os esforços empregados por um líder socialista e por um empresário para obterem seus confortos e luxos.

Em que medida o primeiro participa da produção das recompensas que usufrui?  Na medida de sua gerência sobre as relações sociais e trabalhistas? Se for, ele se iguala teoricamente a um empresário, este, que também é responsável por relações sociais e trabalhistas, já que sustenta famílias com os salários que paga. Podemos, então, enxergar que o líder socialista é um explorador, já que desfruta de recompensas desproporcionais aos seus esforços se o compararmos aos demais trabalhadores?

Outro ponto que escancara a demagogia e a cretinice do socialista profissional é sua rejeição à responsabilidade, não assumindo seus fracassos e não admitindo redução de seu lucro (salário e privilégios) a despeito de qualquer circunstância – considerando que eles sempre são mantidos, direta ou indiretamente, com dinheiro público. Pior: Comparando os confortos e luxos tanto de um líder capitalista quanto de um líder socialista veremos que são os mesmos, porém, como conforto e o luxo do primeiro sendo pagos por ele mesmo e o conforto e o luxo do segundo, sendo pagos pela sociedade – o primeiro trabalha para usufruir; o segundo manda os outros trabalharem para que ele usufrua.

O maior líder socialista brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva, construiu sua fortuna acumulando pensões e “rendas extras” obtidas como recompensa pela “gerência de demandas sociais”.  Há vinte anos, Lula passa a maior parte de seu tempo em aviões, hotéis e restaurantes pagos pela sociedade, o que faz sua renda ser praticamente livre de gastos. Resultado: Ficou milionário. Acumulou dinheiro e patrimônio dignos apenas dos maiores empresários. Obteve lucros proporcionais ao esforço empregado só comparado ao de traficantes de drogas e de exploradores de prostituição.

O que ameaça os confortos e luxos de Lula? Nada. Seja qual for o resultado de seus mandos e desmandos na política brasileira, continuará recebendo todas as pensões do Estado. O que ameaça os confortos e luxos de um empresário? As instabilidades do mercado, as arbitrariedades do governo, uma dúzia de Black Blocs ou mesmo alguma bobagem administrativa que ele próprio faça.

O que representa o padrão de vida e o extrato bancário de um grande empresário sob a ótica da mais valia de Marx? Exploração da classe trabalhadora.

O que representa o padrão de vida e o extrato bancário de Lula sob a ótica da mais valia de Marx? Exploração da classe trabalhadora. Opa! Nesta hora, a lente socialista converte Lula num representante popular que obteve justas recompensas pelo quanto melhorou a vida da humanidade ao organizar greves e sabotagens, ao incitar o ódio entre raças e classes, ao incentivar a perseguição e intimidação a indivíduos independentes eao aparelhar o Estado, a imprensa, a cultura e até a Justiça em benefício de seu partido. Eis um líder socialista de sucesso!

Outros exemplos de obtenção justificável (sob o ponto de vista socialista) de altos lucros são os artistas e intelectuais que têm patrocínios e verbas garantidas (a despeito da qualidade de seus trabalhos) por defenderemo governoou as dezenas de milhares de líderes da militância socialista espalhados em cada canto do país, que também recebem suas recompensaspelo engajamento partidário.

Todos eles rejeitam responsabilidades. Todos eles desrespeitam o trabalho alheio. Todos eles sustentam seus confortos e luxos sobre os esforços da sociedade que sistematicamente sabotam.

Resumindo: Nenhum agente capitalista obtém lucros maiores e mais injustos do que os lucros obtidos pelos socialistas.

*Arquiteto e artista plástico. Autor do livro Natureza Capital.

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Filosofia política

Fome de poder

Por Leonardo Correa, publicado noInstituto Liberal

Se chegarmos ao cerne dos embates político-ideológicos, teremos dois grupos claros: (I) o dos famintos pelo poder; e, (II) o dos amantes da liberdade. No final das contas, ao que parece, essa é a divisão fundamental. Do primeiro grupo, surgem totalitaristas, ditadores e coletivistas de todos os matizes. Do segundo, liberais (clássicos), libertários e conservadores. Há, também, o meio do caminho, normalmente representado pelos socialdemocratas. Mas, aparentemente, estes últimos vêm se aproximando de liberais nos últimos tempos, desde que seus “welfare states” começaram a eclodir por toda a Europa. É uma esperança…

Qual seria a diferença central entre os defensores da liberdade e aqueles, que, a todo custo, pretendem reduzi-la? Defensores das liberdades, de um modo geral, querem um Estado mínimo, o império das leis, condições para a livre competição no mercado e meritocracia. Eles acreditam que esta filosofia seja capaz de expandir as oportunidades para todos, indistintamente.

Não se trata, portanto, de ser contra pobres. Não (!), é justamente o contrário. Em um ambiente livre – sem a influência excessiva de um Estado agigantado e dos famosos “amigos do rei” – o cidadão terá mais chances de alcançar seus objetivos, sejam eles quais forem. Alguns podem estar dispostos a gerar mais riquezas, outros imbuídos de alcançar uma vida mais tranquila. A escolha é uma das facetas da liberdade. Todavia, a liberdade para perseguir seus interesses gera consequências e responsabilidades.

No intuito de distorcer esse pensamento, os famintos pelo poder apresentam a seguinte lógica: os homens vão “explorar” uns aos outros, e, assim, o Estado deve intervir de modo a tornar as relações socialmente mais “justas”. Eles não explicam, contudo, em que consistiria essa “exploração”; nem, tampouco, como o Estado faria essa “justiça social”. Pior ainda. Por que razão o Estado e os governantes seriam tão magnânimos e mais eficientes do que a colaboração individual de cidadãos livres?

O primeiro ponto que eles escondem, avaramente, é que governantes são pessoas que passaram a vida toda buscando ter poder sobre os demais. Esse fato, ao menos, já os coloca em posição de dúvida. Por que essas pessoas, após alcançarem o poder, prefeririam buscar o bem-comum ao invés de perseguir seus próprios objetivos? Não há qualquer razão. A rigor, prevalece a regra básica: todos buscam, intrinsecamente, maximizar os seus interesses particulares. O segundo aspecto, consequência do primeiro, consiste em um embate: centralizar ou descentralizar?

A descentralização do poder é elemento fundamental para o exercício da liberdade. Por ocasião da Revolução Americana, os “Founding Fathers” entenderam isso muito bem, preservando a soberania dos estados membros. Daí surgiu um Federalismo real, muito diferente do que temos por aqui. Lá, cada Estado abriu mão de uma parcela de sua soberania em prol da União; cá – especialmente após a Constituição Federal de 1988 (esse texto não permite uma digressão histórica sobre o Brasil) – a União Federal relegou uma parcela diminuta de poder para os estados e municípios. Não é preciso conhecimento jurídico ou político para concluir que diversas questões seriam definidas de forma mais eficaz no âmbito estadual ou municipal.

Coletivistas, eminentemente centralizadores, precisam da concentração do poder para alcançar seus objetivos. Para tanto, não têm pudor em limitar as liberdades e manter as rédeas curtas. Como isso é feito? Por que os cidadãos aceitam as restrições em suas liberdades? Não é difícil responder.

Em grande parte isso é fruto da complacência e insegurança humanas. Cidadãos tendem a esperar por “salvadores da pátria” que vão solucionar os seus problemas. Além disso, é mais fácil colocar a culpa no coletivo do que assumir sua própria responsabilidade ou inércia. Totalitaristas, portanto, se alimentam da insegurança dos indivíduos e do “medo de perder”.

Após conquistar certas coisas, o indivíduo é tomado por um verdadeiro pavor de perder. Esse quadro faz com que ele se esqueça dos fundamentos que lhe permitiram alcançar seus objetivos. Assim, ele não se incomoda com a supressão de liberdades, desde que suas “posses” sejam aparentemente preservadas. O raciocínio é ilusório. Nada vai garantir a manutenção das conquistas, muito menos um Estado superpoderoso. Aliás, é muito provável que esse ente usurpe os “cofrinhos” dos indivíduos. Então, sem as liberdades de outrora, como reconstruir o seu “castelo”?

Defender a liberdade, portanto, é resultado do desapego, da autoconfiança e da consciência de que as soluções não vêm “de cima para baixo”. A colaboração individual é o elemento fundamental para uma sociedade próspera. Todavia, ela não é criada por decreto, mas, sim, de forma espontânea em um ambiente livre com baixos índices de regulamentação.

O sonho de um totalitarista é uma caneta poderosa com uma pilha de papel para ele legislar sobre tudo, conduzindo a sociedade por sua pena. O sonho dos amigos da liberdade, ao seu turno, consiste em diversas canetas e papéis distribuídos por todos em prol da criação e colaboração, bastando, apenas, um conjunto de regras comum aos cidadãos, com instituições sérias e firmes. Sejam protagonistas de seus próprios destinos, ao invés de coadjuvantes dos famintos pelo poder.

Tags: Leonardo Correa

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Blog Rodrigo Constantino (VEJA)

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