Ué, mas a Dilma não ia enfrentar os banqueiros e reduzir os juros na marra?

Publicado em 26/08/2014 22:15 e atualizado em 28/08/2014 04:32
por Rodrigo Constantino, de veja.com

Roleta-russa, mesmo com cinco balas, ainda é melhor do que tiro certo na nuca

O que vai ser desse tiro no escuro?

Deu na coluna Radar de Lauro Jardim:

O  aguardadíssimo resultado da pesquisa Ibope que o Jornal Nacional divulgará hoje vai mostrar um novo avanço de Marina Silva. Pela pesquisa, Marina está empatada tecnicamente com Dilma Rousseff no primeiro turno, considerando a margem de erro de 2%.

A pesquisa mostrará Dilma Rousseff entre 31% e 32%, Marina entre 27% e 28% e Aécio Neves entre 18% e 20%.

No segundo turno, Marina aparecerá com dois dígitos à frente de Dilma.

A pesquisa foi feita pelo Ibope entre 23 e hoje. Foram entrevistados 2506 eleitores.

Aécio Neves, mais por torcida do que convicção, tem dito que isso tudo é apenas uma “onda”, e que daqui a algumas semanas ficará mais claro o quadro eleitoral verdadeiro. Não sei se será o caso, ou se a “onda” verde virará um tsunami.

Só sei que é cada vez mais factível a “imagem do inferno”: Dilma e Marina no segundo turno, uma bizarra escolha do eleitor brasileiro quando se tem Aécio Neves e uma equipe de primeira como alternativa razoável, mesmo para um liberal crítico dos tucanos como eu.

Reinaldo Azevedo escreveu um texto indicando que pretende anular seu voto caso essa tragédia ocorra, pois se nega a votar em quem paira “acima” da política com ar messiânico, proferindo sentenças incompreensíveis. Peço vênia para discordar de meu vizinho virtual, quem muito respeito e cujos argumentos compreendo. Mas creio que sua conclusão é equivocada nesse caso.

Minha linha de raciocínio é bem simples, e foi bem resumida por um banqueiro de investimentos que comparou Marina a uma roleta-russa, e Dilma a um tiro certo no alvo. Um amigo meu acrescentou: roleta-russa com cinco balas no tambor (de seis). Que seja! Ainda há a chance de não sair bala fatal alguma, ao contrário de mais quatro anos de Dilma.

Para Reinaldo, o inimigo de nosso inimigo não é necessariamente nosso amigo, o que concordo totalmente, lembrando, como ele fez, que não temos inimigos, e sim adversários (talvez muitos petistas configurem, sim, um quadro de inimigos, pois assim nos enxergam). Marina é uma incógnita, um tiro no escuro, um risco grande. Mas Dilma é a certeza do fracasso e de mais passos rumo ao bolivarianismo.

E aqui chego no cerne da questão: o aparelhamento da máquina estatal pelo PT nesses 12 anos de poder. Esse é o grande inimigo a ser derrotado! Não podemos permitir mais quatro anos de aparelhamento, de novos ministros do STF apontados por critérios partidários e ideológicos, de mais apaniguados mamando nas tetas estatais, ocupando todos os milhares de cargos disponíveis, tomando conta das agências, fundos de pensão, estatais etc. O Brasil precisa de uma desintoxicação do PT!

Mesmo com todos os riscos que Marina representa, ainda é melhor tal mergulho no escuro do que permitir o avanço do aparelhamento petista. Depois pode ser tarde demais. Só a “troca de guarda” já faria bem ao país, à democracia, pois o poder de estrago causado pelos golpistas pendurados em tudo que é órgão público tende a ser fatal com mais quatro anos. Vide Argentina. Vide Venezuela.

Dito isso, o que em minha opinião já configura razão suficiente para não anular o voto e demonstrar indiferença entre Dilma e Marina, há alguma chance de mudança para melhor, se Marina tomar juízo e acatar os conselhos de pessoas com algum bom senso ao seu redor (e estas existem). As sinalizações nesta direção já começaram, como reforçar a importância do tripé macroeconômico, falar até em independência do Banco Central e indicar uma aproximação com o agronegócio, tão demonizado pelos “marineiros”.

Sabemos que Marina é imprevisível, e que seus assessores do PSB não falam necessariamente em seu nome. Sabemos, ainda, que o PSB vem tentando, com a própria Marina, mitigar o medo que os investidores e empresários têm dela. Por fim, sabemos que o discurso político pode mudar de acordo com o público. Dito tudo isso, Walter Feldman palestrou para investidores hoje cedo em evento do Itaú, e um amigo que estava lá me mandou o seguinte resumo:

- Volta do tripe macroeconômico.  Não faltam nomes e alguns anúncios serão feitos em breve, uma boa escolha de equipe faz toda diferença nesse momento, pois querem credibilidade.

- Falou que vê a democracia em risco com tudo que foi feito por esse governo.

- Usou o termo “cupinização”, disse que o governo é corrupto e atua em todas as áreas e que a Petrobras é um excelente exemplo disso.

- Acreditam na capacidade de governar porque o projeto é de um Brasil melhor, com diálogo permanente e são essas as mudanças que a população quer.

- Reforma política (essencial, pois mudanças estruturais com o atual modelo são pouco factíveis), tributária e fiscal são importantes e deve haver empenho para que ocorram.

- Acreditam na meritocracia, veem pessoas competentes em todos os partidos, mas para integrar o novo governo não basta ser competente, tem que ser ético e ter o mesmo pensamento de governar para os interesses do povo e não interesses partidários ou individuais. 

- Dia 29 serão apresentadas as linhas gerais dos  programas, pediram um pouco de paciência pois Marina como cabeça de chapa tem duas semanas.

- Em caso de vitória, acreditam que transição não será fácil porque a fotografia de irregularidades e maquiagens hoje é muito feia. Logo, demoraria 3 meses para fazer avaliação, em 6 meses começam a tomar as rédeas com base nas avaliações e em 12 meses tem total domínio do governo.

- Falaram não só em independência do BC, mas também de um BC de primeira linha, e não um BC de segunda linha, que sanciona as vontades da presidente e não faz o que tem que ser feito.  Questionaram também o papel do Tesouro Nacional em relação ao financiamento do BNDES.

- Acúmulo de medidas pontuais e especificas geraram um alto desalinhamento no atual governo. Tem que ter choque de credibilidade na política econômica. Credibilidade leva a ganho de tempo. Situação não vai se resolver numa única tacada dado o tamanho dos desajustes.

Em linhas gerais foi isso.  Muitos participantes animados com a queda da Dilma.  A maior parte ainda vê Marina como a única com chances de derrotá-la num eventual segundo turno.

A própria reação do mercado em geral corrobora com essa visão mais otimista, como podemos ver pelo desempenho recente do Ibovespa:

Ibovespa. Fonte: Bloomberg

Ibovespa. Fonte: Bloomberg

Claro que o “mercado” pode errar, não é infalível. Aconteceu antes, com o próprio Lula e também com Dilma. A turma demorou muito para acordar. Mas não deixa de ser um conforto saber que milhões de investidores do Brasil e do mundo interagindo livremente têm expressado uma visão de esperança com a crescente possibilidade de derrota de Dilma. Estou com eles nesse aspecto: nada pode ser pior do que mais quatro anos de Dilma! E não custa mencionar, a favor de Marina, que um tipo caricato como Emir Sader já a “acusa” de ser a “nova direita” (risos).

Cheguei a brincar, parafraseando Churchill em relação a Hitler, que se fosse para derrotar o PT eu falaria até uma coisa ou outra positiva sobre o próprio Diabo. A prioridade é retirar a corja atual do poder e trocar a “gerentona” que, com sua arrogância e viés ideológico nacional-desenvolvimentista, com certeza irá afundar o Brasil de vez se for reeleita. Que coloquem as cinco balas no tambor e apertem o gatilho logo de uma vez!

PS: Vale lembrar que ainda é cedo para cantar a vitória de Marina, e que o fenômeno pode, sim, ser uma onda passageira. Ainda fecho com uma digressão otimista de mais longo prazo. O Brasil precisou suportar 12 anos de PT para cair o mito do ex-operário salvador da Pátria, e hoje o PT é visto como o partido mais corrupto de todos, como de fato é. Talvez precise enfrentar agora quatro anos da seringueira pobre que quer salvar o planeta para cair a ficha de mais um mito boboca. Como o pepino econômico é grande e o abacaxi terá de ser digerido nos próximos anos, em 2018 o caminho ficará mais fácil para Aécio Neves, ou mesmo um candidato mais liberal de algum partido NOVO!

Rodrigo Constantino

 

Ué, mas a Dilma não ia enfrentar os banqueiros e reduzir os juros na marra?

Deixa-me ver melhor essa taxa de juros. Jesus! O que foi que eu fiz???

Deu na Veja.com: Juro para pessoa física atinge recorde de 43,2% em julho

Em sua nota de Crédito e Política Monetária, o Banco Central (BC) informa que a taxa média de juros do crédito para pessoas físicas atingiu em julho 43,2% ao ano, contra 43% em junho. É o maior número desde o início da série histórica, em março de 2011. Com juros altos, as pessoas ficam cada vez mais endividadas e sobram menos recursos para o consumo e a poupança.

Os números se referem ao segmento livre, crédito que pode ser emprestado para qualquer destino – diferente do direcionado, que tem um fim específico, como, por exemplo, financiamento de imóveis ou agronegócio.

Segundo o BC, para pessoa jurídica, ainda em recursos livres, a taxa subiu de 22,6% para 23,1% entre junho e julho. Ainda neste segmento (livre), levando em consideração pessoas e empresas, a média subiu de 32% para 32,3%.

Engraçado, poderia jurar que vi a presidente Dilma em cadeia nacional de televisão e rádio anunciar com muita fanfarra e celeuma que as taxas de juros iriam cair para todos os brasileiros, pois ela enfrentaria os banqueiros. O que aconteceu? A gerentona é uma fracote? Ou será que não bastava “vontade política” para tal feito?

Em 2012, Dilma destacou o que chamou de “marcha inédita de redução constante e vigorosa” dos juros, que levou a taxa Selic a chegar em cerca de 2% ao ano em termos reais. A presidente citou ainda a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) que baixou para menos de 1% ao ano, também descontada a inflação.

Apesar disso, Dilma lançou novamente um recado claro aos bancos, que ainda cobram spreads elevados aos tomadores de crédito. “(A queda dos juros) me alegra, mas confesso que ainda não estou satisfeita, porque bancos, financeiras e, de forma muito especial, os cartões de crédito podem reduzir ainda mais as taxas cobradas ao consumidor final, diminuindo para níveis civilizados os seus ganhos. Sei que não é uma luta fácil, mas garanto a vocês que não descansarei enquanto não ver isso se tornar realidade“, enfatizou a presidente.

Sob pressão política, os bancos efetivamente reduziram suas taxas no primeiro momento. Mas só mesmo uma economista com mentalidade (de)formada na Unicamp poderia achar que é assim que se derruba taxa de juros de forma sustentável. Será que Dilma descansou e abandonou a pressão, ou será que taxa de juros é um preço de mercado que não pode ser impunemente manipulado?

O triste disso tudo, além de ver o alto custo para o país pelos equívocos cometidos pelo governo Dilma, é constatar que as lições importantes não serão aprendidas, nem mesmo com mais esse exemplo de fracasso do “voluntarismo” estatal. A turma vai continuar culpando a ganância dos banqueiros pelos altos juros, e demandando um presidente “corajoso” para enfrentar esses “inescrupulosos e insensíveis”. Até quando?

Rodrigo Constantino

 

Discernimento e liberdade: João e o gênio da lâmpada mágica

Por Luan Sperandio, publicado no Instituto Liberal

“Não é preciso mágica para escolher lutar pela liberdade.”

João era um homem comum, trabalhador, feliz e tinha orgulho de ao longo de sua vida ter “lutado por uma sociedade mais justa e um mundo melhor”.

Um dia João tropeçou em uma lâmpada mágica e de lá saiu um gênio, lhe concedendo direito a três desejos.

Os dois primeiros desejos foram feitos: “saúde e discernimento”. João não soube mais o que pedir e prometeu ao fim da semana dizer o terceiro desejo.

Na manhã seguinte, ao ler o jornal como rotineiramente fazia, João percebeu que já não era tão feliz.

Havia uma notícia de aumento do salário mínimo. Antes ele sempre pensou que isso era ótimo para “a classe trabalhadora explorada”.

Mas naquele dia não: João percebeu que aquilo tinha um custo, que o salário era a valorização que a sociedade atribuía a seu trabalho, todavia, isso somente funcionava quando não havia um poder central determinando isso.

João refletiu que a classe trabalhadora menos qualificada seria prejudicada, sobretudo os que não produzissem mais que aquele valor determinado pelo Estado como mínimo a ser pago. Esses trabalhadores migrariam para o mercado informal, ambiente já comum a mais de um quinto dos brasileiros.

João compreendeu que o melhor era estimular a produtividade para os aumentos salariais porque uma “canetada” em Brasília garantia uma “conquista” insustentável e era obtida com o comprometimento do futuro: os netos de João sequer eram nascidos, porém já estavam endividados.

Aquele senhor ficou mais triste ao folhear o impresso e ler que a previdência social estava com um rombo de mais de 50 bilhões de reais anuais. Compreendeu se tratar de bomba-relógio que explodirá nas mãos dos trabalhadores. Entretanto, como isso não ocorrerá amanhã, os governistas fingiam não ver: é “impopular” e pode prejudicar “a reeleição”.

“Mas como ninguém percebia isso? A mídia não é livre e o país democrático para denunciar esse atentado contra o trabalhador causado pela má-gestão governista?” Em seguida João leu que a liberdade de imprensa no Brasil ocupava tão somente o 111º lugar no ranking da RSF e o principal motivo era o próprio Estado. O país tinha despencado de posição na última década. Afinal, a imprensa era tendenciosa para quem?

Mas o que fazer com os que não tiveram as mesmas oportunidades? João regozijava. “Os indivíduos têm o poder de fazer as próprias oportunidades se forem livres para tanto”, concluiu.

Mas e a desigualdade? Era preciso redistribuir a riqueza, sempre argumentou, repetindo o que a professora da escola do ensino secundário lhe ensinou. Mas João ficou confuso: como fazer isso com recursos escassos? Ele ganhava R$ 10 mil mensais e seu vizinho, José, R$ 10.500,00. Isso é desigualdade também. O problema é a desigualdade ou a pobreza? O fato de José ganhar mais não era a conseqüência dele ganhar menos, José não era mais rico porque ele era mais pobre, deduziu.

João chorou copiosamente. Percebeu que tinha defendido coisas que pareciam ser as melhores para as pessoas de seu país, um discurso bonito, veemente, mas na verdade era o mesmo que jogar gasolina no fogo.

Desesperou-se.

Descobriu ter sido um idiota útil, foi usado. Outras pessoas se aproveitaram de sua persuasão durante anos. Sua ignorância não era falta de inteligência. O estado de ignorância que estava antes de conhecer o gênio não lhe causava dor, mas agora estava inquieto porque não era possível ser feliz e conformista com a atual situação das coisas.

Tremia.

João, com seu novo discernimento, percebeu que havia outro caminho para buscar o mesmo fim que lutou por tantos anos e com resultados melhores.

Acalmou-se e invocou o gênio novamente ao final daquela semana. Seu terceiro desejo? Pediu coragem para defender a liberdade porque a luta era inglória e eterna, mas todos os esforços em prol dela valiam a pena.

(por Rodrigo Constantino)

Democratas fundamentalistas: quando o excesso de “democracia” mata a liberdade

Com a crescente possibilidade de um segundo turno entre Dilma e Marina, ambas defensoras do Decreto 8.243, que supostamente pretende “ampliar” nossa democracia criando os tais “conselhos populares”, trago aos leitores uma vez mais uma resenha que escrevi sobre o instigante livro de Bryan Caplan sobre os eleitores irracionais.

Não custa lembrar que Lula afirmou haver “excesso de democracia” na Venezuela de Chávez. O texto mostra como a própria democracia, se tiver um escopo ilimitado, acaba politizando tudo e destruindo nossas liberdades. Seguem os argumentos do autor para nossa reflexão:

Democratas fundamentalistas

“Em uma era secular, a política e a economia substituíram a religião como o ponto focal para uma convicção passional e dogmática.” (Bryan Caplan)

Uma das premissas mais difundidas no meio econômico é que indivíduos são seres racionais em busca da maximização de resultados. Mesmo os economistas que apontam as falhas de governo costumam partir desta premissa, mostrando apenas que os incentivos no meio político levam a escolhas ruins, ainda que tomadas por seres racionais. Mas Bryan Caplan, em seu instigante livro The Myth of Rational Voter, questiona a própria premissa em si, alegando que eleitores não são máquinas de cálculo racionais, e sim pessoas com crenças enviesadas que acabam potencializadas no mecanismo democrático.

O ponto de partida de Caplan é que os eleitores não são somente ignorantes acerca da política; eles são irracionais. Diversas crenças acompanham os eleitores desde cedo, e tais crenças prevalecem porque, de certa forma, fazem com que eles se sintam bem ao defendê-las. Muitos economistas justificam a ignorância voluntária sobre política com base no argumento de que um voto não faz diferença e, portanto, seria racional ignorar a política. Caplan vai um passo além e questiona: por que os eleitores controlariam suas reações emocionais e ideológicas, o que demanda bastante esforço e reflexão dolorosa muitas vezes, se o voto não altera o resultado?

A visão de Caplan é que a democracia falha porque ela atende aos anseios das pessoas. Winston Churchill cunhou a famosa frase em defesa da democracia, alegando que se trata da pior forma de governo, exceto todas as demais já tentadas. Mas esta defesa nada diz sobre oescopo da democracia. Talvez, para muitas coisas públicas, o método democrático seja mesmo o menos pior. Mas e se inúmeras outras decisões simplesmente não precisarem transitar pelo meio político, por que não cabe à maioria decidir? A alternativa à democracia não precisa ser a ditadura; pode ser muito bem mais mercado.

Muitos defendem a democracia com base no conceito de teoria dos grandes números, assumindo que os erros individuais acabam eliminados quando agregados. O problema, segundo Caplan, é quando ocorrem erros sistemáticos dos eleitores. E eis justamente um dos principais pontos do livro: a maioria dos eleitores possui crenças enviesadas. Há um claro viés antimercado, por exemplo: poucos compreendem e aceitam o conceito abstrato de “mão invisível” dos mercados, com sua capacidade de harmonizar interesses privados em prol de um bem público. Adam Smith mesmo sabia que era algo contraintuitivo, e por isso escreveu um grande livro para defender sua visão.

As pessoas gostam de pensar que valorizam a verdade por si própria, mas existem impulsos concorrentes, como o medo, a preguiça de raciocinar, a vaidade, os preconceitos. Da mesma forma que acontece com crenças religiosas, muitos suspendem a razão quando alimentam sua fé ideológica. O desejo de acreditar é mais forte que a busca pela verdade. Muitos encontram em suas visões políticas modernas o conforto semelhante ao das religiões no passado. Para muitos, por exemplo, atacar os estrangeiros, como se o comércio fosse uma batalha de soma zero, produz certo conforto e orgulho. Estas mesmas pessoas podem expressar nas atitudes de seu cotidiano algo diferente, quando compram produtos importados de acordo com seu julgamento de custo e benefício. Mas no momento do voto, acabam sucumbindo ao prazer mental de defender o protecionismo.

Como um voto não muda o resultado, os eleitores acabam optando pela busca de prazer ideológico, mesmo que o resultado agregado desta postura seja prejudicial à maioria. O custo individual de acreditar politicamente naquilo que mais lhe dá prazer é muito baixo. Caplan acredita, inclusive, que os eleitores votam genuinamente de acordo com aquilo que percebem ser o melhor para o coletivo. O problema é que poucos adotam o passo seguinte, de questionar seriamente se tais meios são os mais eficientes para entregar os resultados esperados. O erro pode ser sedutor, e os políticos que oferecem a ilusão se tornam mais populares.

A imprensa não cria tais ilusões, que já existiam antes do surgimento dos meios de massa. Mas elas podem atuar como catalisadores, servindo aos interesses dos líderes populistas. A audiência já está predisposta a ouvir aquilo que a imprensa e os políticos oferecem. As pessoas são perfeitamente capazes de se enganar sem a ajuda de jornalistas. Podemos analisar o exemplo do viés pessimista para ilustrar o ponto. David Hume já sabia que o hábito de condenar o presente e idealizar o passado estava bastante arraigado na natureza humana.

A despeito do avanço material fantástico dos últimos séculos, muitos costumam temer um futuro apocalíptico para a economia, com fim de recursos, miséria, desemprego etc. A Bíblia, Nostradamus, Malthus, o Clube de Roma, a lista de previsões sombrias é vasta, e o público parece inclinado a buscá-las. A imprensa, na missão de atender a demanda do público, faz um excelente trabalho de recortes pessimistas, criando uma sensação de pânico. Os políticos se aproveitam deste ambiente, que subestima o progresso econômico e superestima os riscos e problemas.

Se eleitores são irracionais, por que consumidores não seriam também? Caplan entende que os incentivos são bastante diferentes nos dois casos. Na democracia há total incentivo para agir de maneira a gerar a maior satisfação mental com as escolhas, uma vez que seu voto não altera o resultado. Já no mercado, os consumidores são incentivados a agir de forma mais racional. Isso não é garantia de racionalidade, naturalmente. Mas quando o consumidor precisa colocar nos atos suas palavras, é ele quem paga o preço.

Basta pensar no exemplo do protecionismo: ele pode comprar um produto nacional, pior e mais caro, para se sentir bem como um patriota; mas isso poderá lhe custar caro. O efeito é direto sobre ele. É justamente por isso que vemos tanta contradição entre discursos políticos e práticas consumistas. Os mesmos que atacam o progresso tecnológico como destruidor de empregos em seus discursos, entendem que fazer mais com menos em seus trabalhos é algo positivo, pois sobra mais tempo para investir em outras atividades, como o lazer. O custo individual de ser um ludista na política é quase nulo, enquanto o custo individual de rejeitar o avanço tecnológico no mercado é absurdamente elevado.

Muitos economistas são acusados de “fundamentalismo de mercado”. Caplan acredita que a acusação é uma caricatura. À exceção de alguns poucos libertários mais fanáticos, a imensa maioria dos economistas aceita a existência das falhas de mercado. Os próprios economistas costumam apontar tais falhas e praticar a autocrítica. Milton Friedman, por exemplo, era o primeiro a reconhecer diversas falhas no funcionamento dos mercados, e sabia que a alternativa muitas vezes era entre o menor dos males. Quase ninguém afirma que os mercados são perfeitos, e ninguém do “mainstream” de economia o faz. A questão, porém, é partir desta premissa verdadeira, de falha dos mercados, e concluir que a alternativa será sempre desejável e melhor. Os que agem assim, segundo Caplan, são os “democratas fundamentalistas”, que pensam que qualquer defeito econômico pode ser resolvido com mais democracia.

Para Caplan, estes fundamentalistas não são ridicularizados porque existem em grande número. Se alguém atacar Zeus numa reunião, ninguém vai reclamar; mas se atacar Cristo, poderá despertar a revolta de muitos. De forma similar, ridicularizar o “fundamentalismo de mercado” é fácil, pois seus adeptos são muito escassos. Mas atacar os “democratas fundamentalistas” costuma gerar forte reação, pois eles existem em grande quantidade. Acontece que a democracia não é uma panacéia, e como mostra Caplan, ela pode incentivar o comportamento irracional dos eleitores, produzindo resultados ineficientes. Isso não quer dizer que a solução seja uma ditadura.

No passado, a religião sempre foi assunto de Estado, ou seja, sujeito à escolha da maioria e depois imposto aos demais. Atualmente, vimos a despolitização da religião, que passou a ser da esfera individual. A maioria não mais controla a crença religiosa de todos. Assim como a religião, muitos outros assuntos poderiam ser despolitizados, ou seja, retirados da esfera pública e transferidos para o âmbito particular. Só porque alguma democracia é necessária para certos assuntos públicos, isso não quer dizer que não devemos ter menos democracia quando o tema em questão não diz respeito ao público em geral. A mistura ótima entre mercado e governo não depende nas virtudes absolutas do mercado, mas sim de suas virtudes comparadas àquelas do governo. Politizar tudo é o caminho da ineficiência e da servidão.

Rodrigo Constantino

 

Coreia do Norte: a realidade que desafia a ficção (e que comunistas brasileiros querem para o Brasil)

A Coreia do Norte é realmente um espanto. Faz as distopias mais criativas de regimes totalitários parecerem ingênuas. O último grande ícone do comunismo – agora que até Cuba está flertando com algumas concessões ao “maldito lucro” e à “pecaminosa propriedade privada” – é uma aberração completa. Mas mais aberração ainda é ter “gente” que ainda prega isso, em pleno século 21!

Sim, há partidos comunistas oficiais no Brasil – o que já é um espanto, pois ninguém aceitaria um partido nazista – que enaltecem abertamente o “companheiro” Kim, líder supremo da Coreia do Norte, o mesmo que fuzila pessoas pelo “crime” de ter uma Bíblia.

Em entrevista a Fernando Moreira hoje no GLOBO, o escritor José Luís Peixoto relatou sua experiência bizarra no “paraíso” comunista:

Coreia do Norte

É realmente chocante. Tudo voltado para a máquina de propaganda do regime. Uma imprensa bem “democratizada”, como adoraria Franklin Martins e sua trupe petista. Tudo isso seria até cômico, de tão surreal, não fosse a tragédia para milhões de vítimas do comunismo coreano. Era em nome desta utopia, vale lembrar, que aquela turma lutava nos anos 1960. Heróis da democracia? Conta outra!

Para quem quiser mergulhar mais nesse mundo paralelo e infernal do comunismo na prática, recomendo o livro Fuga do Campo 14, de um jovem que passou sua vida toda até pouco mais de 20 anos dentro de um campo de concentração comunista, e depois conseguiu fugir para a Coreia do Sul, aquela livre e próspera, pois capitalista.

Seria algo incompreensível e inadmissível termos em pleno século 21 um partido defendendo abertamente o nazismo. O estranho é que não aconteça o mesmo em relação ao comunismo, que adotou métodos similares e matou bem mais gente. Inclusive, ambos se encontram em muitos aspectos, pois hoje é o PSTU de esquerda que prega abertamente o fim de Israel, bandeira antissemita que denota todo o ódio desses bárbaros…

Rodrigo Constantino

 

O Brasil precisa se abrir para o mundo

Por Mateus Maciel, publicado no Instituto Liberal

É comum economistas, jornalistas e, principalmente, políticos defenderem as exportações em detrimento das importações. No Brasil, o modelo de substituição de importações, que visava produzir cada vez mais produtos em solo nacional ao invés de importá-los, foi adotado durante várias décadas. Com isso, quando o Brasil começou a se abrir para o mundo, a partir do governo Collor, a indústria brasileira estava profundamente dependente de medidas protecionistas, atrasada e produzindo produtos caros e de baixa qualidade.

A partir da década de 1990, houve uma melhora grande nesse quadro. Contudo, nos últimos anos, o governo parece estar repetindo a história, protegendo cada vez mais setores da indústria, com o objetivo de não exportar empregos. Dessa forma, devido a tais políticas, as indústrias brasileiras vêm novamente se tornando dependente de medidas protecionistas, uma vez que são incapazes de competir com as estrangeiras.

De fato, os industriais reclamam da alta carga tributária, encargos trabalhistas, baixa qualificação da mão de obra e taxa de câmbio. Entretanto, ao invés de utilizarem seu poderoso lobby em Brasília para tentar reverter essa situação, os empresários acabam pedindo por mais intervenções do governo na economia. A mão do Estado, porém, acaba agraciando os grandes conglomerados industriais, ao passo que pune as pequenas e médias empresas quem não são capazes de arcar com os custos de mais protecionismo.

Tal custo para o Brasil (que é o país mais fechado do G-20) e para as pequenas e médias empresas é tremendo. Um exemplo é a política de conteúdo nacional imposta pelo governo, que obriga os produtos produzidos internamente a terem uma porcentagem mínima de conteúdo nacional. Com isso, os burocratas visam gerar mais empregos em solo brasileiro.

O problema é que, como os fornecedores nacionais operam em regime de monopólio (pois são poucos), a qualidade dos componentes acaba sendo ruim e o preço alto, se comparado aos componentes importados. Os brasileiros, no final, acabam tendo que adquirir produtos ruins e caros. Nossos automóveis (reprovados em inúmeros testes de qualidade) são o melhor exemplo disso.

O Brasil, portanto, precisa se integrar às cadeias globais de valor. As indústrias passariam a ter liberdade para poder importar componentes para produzir seu produto final. Os brasileiros não teriam que ir até Nova York ou Miami para ter acesso a produtos mais baratos e de melhor qualidade, podendo adquiri-los em um shopping perto de sua casa.

É evidente que as indústrias que não fossem capazes de competir com as estrangeiras iriam à falência e vários empregos seriam perdidos, no curto prazo. Entretanto, como os brasileiros passariam a ter mais dinheiro sobrando, pois passariam a pagar menos pelos produtos importados ou que usam competentes de fora, e poderiam comprar outros produtos. A demanda por produtos de outros setores da economia iria aumentar, fazendo que mais mão de obra fosse demandada. Com isso, em longo prazo, o desemprego gerado pela abertura econômica seria reduzido.

Nem é preciso mencionar que uma abertura teria que ser acompanhada de uma reforma fiscal e trabalhista, sem falar que o câmbio precisaria ser flutuante (leia-se livre de manipulações por parte do Banco Central). Dessa forma, a abertura não comprometeria as contas públicas e os encargos das indústrias com impostos e funcionários seriam reduzidos.

(por Mateus Maciel, do Instituto Liberal)

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Blog Rodrigo Constantino (VEJA)

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